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ELABORAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS AULA 4 Profª Daniella Pereira Barbo 2 CONVERSA INICIAL Olá! Como vai o seu processo de aprendizado? Nesta vamos voltar o nosso olhar para o processo de elaboração de roteiros no âmbito da esfera pública. Vamos buscar entender qual é o papel das estâncias governamentais nesse processo e qual é o caminho histórico percorrido até aqui para que a roteirização pudesse ser implantada e gerasse impacto positivo nas comunidades envolvidas no processo. Ao final desta aula, esperamos que você tenha entendido o processo de construção da estratégia de roteirização e a importância dela para a diversificação dos produtos turísticos brasileiros. Tenha uma ótima aula! CONTEXTUALIZANDO Você já pensou em seguir carreira pública e trabalhar em prol do desenvolvimento turístico do nosso país? Se você tem esse desejo, esta aula será bastante útil, uma vez que vamos ter a chance de conhecer instrumentos de governança fundamentais para a organização e o desenvolvimento do turismo em território nacional. Vamos partir do princípio que diz que não pagamos nada para sonhar, não é? Imagine que você foi convidado para ser gerente de projetos no órgão público responsável pelo turismo no seu estado de origem. Isso mesmo, a partir de hoje, você é o cara ou a mulher responsável por coordenar os projetos turísticos do seu estado. Você saberia o que fazer? Qual seria o seu projeto prioritário? Para facilitar a sua missão como gerente de projetos turísticos, vamos dar aquela mãozinha na escolha das prioridades. Como, professora? Apresentando como funciona a estratégia de roteirização! A partir de então você poderá pensar em um novo roteiro para o seu estado ou em um projeto para melhorar um roteiro institucional que já existe. E aí, gostou da ideia? Mãos à obra! TEMA 1 – ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA A roteirização turística está diretamente ligada à oferta turística de uma região. Segundo o Ministério do Turismo (MTur, 2007), o processo de roteirização tem início a partir da identificação e da potencialização dos atrativos 3 de uma região, de modo que a oferta turística se torne mais rentável e comercialmente viável. A oferta turística se torna mais rentável quando a sua organização é capaz de gerar mais empregos, postos de trabalho e circulação de dinheiro, e comercialmente viável quando as condições para se desenvolver o turismo em determinadas localidades são levadas em consideração, sendo o potencial dos atrativos turísticos aproveitados a partir do planejamento da atividade turística, gerando desenvolvimento econômico para a região. A roteirização confere realidade turística aos atrativos que estão dispersos através de sua integração e organização (MTur, 2007). Esta tem como objetivo contribuir para a diversificação da oferta turística, uma vez que auxilia o processo de identificação, elaboração e consolidação de novos roteiros turísticos, bem como aponta a necessidade de aumento dos investimentos em projetos já existentes, seja na melhoria da estrutura atual, seja na qualificação dos serviços turísticos oferecidos. Sendo assim, o processo de roteirização pode contribuir para o aumento do número de turistas que visitam uma região e do seu prazo médio de permanência nos destinos, estimulando a circulação da riqueza ali gerada (MTur, 2007). Para alcançar o objetivo proposto, a construção de parcerias deve ser prioridade no processo de roteirização turística. As parcerias são importantes para aumentar as oportunidades de negócios nas regiões turísticas, podem ser estabelecidas nos níveis municipal, regional, estadual, nacional e internacional. 1.1 Objetivos gerais, específicos e resultados esperados da roteirização turística Objetivos gerais: estruturar, ordenar, qualificar e ampliar a oferta de roteiros turísticos de forma integrada e organizada. Objetivos específicos: Fortalecer a identidade regional; incentivar o empreendedorismo; estimular a criação de novos negócios e a expansão dos que já existem; ampliar e qualificar serviços e equipamentos turísticos; facilitar o acesso das pequenas e microempresas do mercado turístico, regional, estadual, nacional e internacional; consolidar e agregar valor aos produtos turísticos; identificar e apoiar a organização de segmentos turísticos e promover o desenvolvimento regional. 4 Figura 1 – Roteirização turística Fonte: Adaptado de Ministério do Turismo, 2007. Resultados esperados: fortalecimento da identidade regional; aumento da visitação, da permanência e do gasto médio do turista; desfrute de experiências genuínas por parte dos turistas; atuação de pequenas e microempresas no mercado turístico; criação e ampliação de postos de trabalho; aumento de geração de renda e melhoria na sua distribuição; favorecimento da inclusão social e redução das desigualdades regionais e sociais; inclusão de municípios nas regiões e roteiros turísticos; consolidação de uma estratégia de desenvolvimento regional; consolidação de roteiros turísticos mais competitivos; ampliação e diversificação da oferta turística. TEMA 2 – POLÍTICAS DE ROTEIRIZAÇÃO Para entendermos como a roteirização turística funciona na prática, é importante conhecermos as políticas públicas que deram origem a esse processo de roteirização. As primeiras políticas públicas voltadas ao turismo no Brasil foram desenvolvidas tendo como foco os municípios. Stefani (2014) lembra que o município é a base da cadeia produtiva do turismo, no sentido de que as atividades econômicas acontecem dentro desse território e geram divisas para ele a partir de impostos. Portanto, desde o início, políticas públicas foram pensadas para os municípios com o objetivo de atender às necessidades dos mercados locais, dos turistas e das comunidades residentes, utilizando-se recursos naturais e culturais sem comprometer o usufruto dos moradores locais ao longo das gerações futuras, ou seja, promovendo a sustentabilidade dessas localidades. 5 O primeiro passo nessa tarefa de planejar o turismo nos municípios foi dado em 1994, com o lançamento do Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), realizado na época pelo Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, sob a coordenação do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Stefani (2014, citado por MTur, 2003) lembra que, naquela época, a Embratur ainda tinha a função de promover o desenvolvimento, a normatização e a regulamentação da atividade turística em território nacional. Foi somente a partir de 2003 que o instituto passou a ser uma autarquia responsável pela promoção, divulgação e apoio à comercialização dos produtos, serviços e destinos turísticos do Brasil no mercado internacional. Segundo Bezerra (2003), o PNMT surgiu tendo como principal meta a realização do planejamento de ações em conjunto com a comunidade, bem como a priorização e o acompanhamento de atividades econômicas, ambientais, políticas, sociais e culturais do município em que havia atividade turística em desenvolvimento. Antes da implementação do Ministério do Turismo (MTur), em 2003, as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da atividade turística no país aconteciam por meio de iniciativas isoladas. A criação do MTur é um marco no desenvolvimento do turismo no Brasil, pois levou a integração de ações institucionalizadas em prol do turismo, que aconteciam independentes umas das outras, e permitiu a construção de uma política pública oficial única a favor do desenvolvimento do setor de turismo como um todo.Em abril daquele ano, o MTur lançou o Plano Nacional de Turismo (PNT), com diretrizes para o período de 2003 a 2007. Desde o lançamento da sua primeira versão, o PNT vem sendo o nosso principal instrumento de política pública, tendo como premissa a gestão descentralizada do turismo. Segundo Stefani (2014), para o seu cumprimento, as unidades da Federação, por meio dos seus respectivos órgãos estaduais responsáveis pela atividade turística, devem traçar projetos de acordo com cada realidade e com os recursos disponíveis. Em 2018, o PNT ganhou a sua quarta versão. De tempos em tempos, o MTur lança um documento atualizado com as diretrizes e estratégias para a implementação da Política Nacional de Turismo. Segundo o MTur (2018), o objetivo principal do PNT 2018-2022 é ordenar as ações do setor público, 6 orientando o esforço do Estado e a utilização dos recursos públicos para o desenvolvimento do turismo. É importante observar que, a cada atualização, o documento do PNT incorpora termos distintos, sua estrutura se modifica, porém, é possível traçar um quadro comparativo para avaliar o progresso das iniciativas propostas. Em suas primeiras versões, o PNT era composto por macroprogramas. Na versão 2013-2016, os macroprogramas foram substituídos por ações. Já na versão mais atual do documento, o PNT 2018-2022 fala em linhas de atuação. Quadro 1 – Evolução Plano Nacional de Turismo Plano Nacional de Turismo Macroprogramas Ações Linhas de atuação 2003-2007 2007-2010 2013-2016 2018-2022 1. Gestão das relações institucionais 1. Planejamento e gestão 1. Conhecer o turista, o mercado e o território 1. Ordenamento, gestão e monitoramento 2. Fomento 2. Informação e estudos turísticos 2. Estruturar os destinos turísticos 2. Estruturação do turismo brasileiro 3. Infraestrutura 3. Logística e transportes 3. Fomentar, regular e qualificar os serviços turísticos. 3. Formalização e qualificação no turismo 4. Estruturação e diversificação da oferta turística 4. Regionalização do Turismo 4. Promover os produtos turísticos 4. Incentivo ao turismo responsável 5. Qualidade do produto turístico 5. Fomento à iniciativa privada 5. Estimular o desenvolvimento sustentável da atividade turística 5. Marketing e apoio à comercialização 6. Promoção e apoio à comercialização 6. Infraestrutura pública 6. Fortalecer a gestão descentralizada, as parcerias e a participação social 7. Informações turísticas 7. Qualificação dos equipamentos turísticos e serviços turísticos 7. Promover a melhoria de ambiente jurídico favorável. 8. Promoção e apoio à comercialização. Fonte: Adaptado de PNT, 2019. Saiba mais Para conhecer o Plano Nacional de Turismo 2018-2022 na íntegra, basta acessar: <http://www.turismo.gov.br/2015-03-09-13-54-27.html>. Acesso em: 15 out. 2019. Você deve estar se perguntando: “qual é a relação do PNT com o processo de roteirização?”. Muito bem, se essa dúvida passou pela sua cabeça, saiba que esse é um questionamento importante. Olhe novamente o 7 Quadro 1. Observe que o embrião do processo de roteirização foi o Macroprograma 4 do PNT 2003-2007, que se refere à diversificação e à ampliação da oferta turística. A partir das diretrizes desse macroprograma, foi lançado, em abril de 2004, o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT). No próximo tema vamos ver como funciona o PRT em detalhes e qual é a sua contribuição para o desenvolvimento do turismo brasileiro desde então. É importante ressaltar aqui que o PRT é um avanço do PNMT, citado anteriormente, na medida em que prevê a parceria, a cooperação e o fortalecimento das relações entre municípios na composição de regiões turísticas. Stefani (2014) afirma que o PNMT se desenvolveu e ampliou seus objetivos por meio do PRT, que defende a região e não mais apenas o município como importante destino competitivo na atividade turística. A roteirização turística foi a estratégia utilizada a partir do PRT para organizar e integrar a oferta turística do país, com produtos rentáveis e viáveis comercialmente. Segundo Stefani (2014), a roteirização é voltada para a construção de parcerias e para o adensamento de negócios, além do resgate da preservação dos valores socioculturais e ambientais da região. 2.1 Competências e responsabilidades Bem, já que fizemos a contextualização histórica da evolução das políticas públicas voltadas para o turismo, agora vamos reforças o que é papel de quem, ou seja, qual é a responsabilidade de cada ator envolvido no processo de roteirização turística. Saber as competências e responsabilidades de cada um dos atores envolvidos, principalmente das instâncias de governança, é fundamental no processo de planejamento da atividade turística. 8 Quadro 2 – Competências e responsabilidades no processo de roteirização Atores envolvidos/ Competências Responsabilidades Ao Ministério do Turismo, com o apoio do Conselho Nacional de Turismo e, especificamente, da Câmara Temática de Regionalização, compete: • elaborar e disponibilizar material didático e orientações para a elaboração de roteiros turísticos; • articular, junto às diversas instituições governamentais e não governamentais, ações e programas convergentes, em âmbito federal; • prestar apoio técnico e financeiro às UFs no processo de roteirização, conforme disponibilidade; • induzir e apoiar o processo de roteirização junto às UFs; • apoiar a promoção, divulgação e comercialização dos roteiros turísticos; • definir parâmetros de qualidade dos serviços turísticos. Aos Órgãos Estaduais de Turismo, com o apoio do Fórum Estadual de Turismo, compete: • divulgar orientações e disponibilizar material didático para a elaboração de roteiros turísticos, feitos pelo Ministério do Turismo; • articular, junto às diversas instituições governamentais e não governamentais, ações e programas convergentes, em âmbito estadual; • monitorar e avaliar o processo de roteirização, com base nos modelos de indicadores disponibilizados pelo Ministério do Turismo; • induzir e apoiar o processo de roteirização nas regiões turísticas do Estado; • apoiar a promoção, divulgação e comercialização dos roteiros turísticos. À Instância de Governança Regional, com o apoio do colegiado local, compete: • promover a integração e mobilização dos agentes; • monitorar e avaliar os roteiros turísticos; • oferecer apoio técnico ao processo de roteirização, conforme disponibilidade; • induzir e apoiar o processo de roteirização na região turística. Ao Órgão Municipal de Turismo, compete: • mobilizar e integrar os agentes locais para a participação no processo; • oferecer apoio técnico e financeiro, conforme disponibilidade; • levantar e disponibilizar informações atualizadas sobre o município; • dotar e zelar pela infraestrutura turística e de apoio ao turismo do município; • regular e ordenar a atividade turística, em âmbito municipal. Aos Parceiros, compete: • capacitar empresários de micro e pequenos empreendimentos turísticos; • contribuir para a inovação e adequação tecnológica dos produtos turísticos, promovendo a captação de investimentos; • estimular a criação e consolidação de novos roteiros turísticos; • fomentar ações para a promoção da cultura; • apoiar a elaboração e promoção de roteiros; • desenvolver programas de qualificação e valorização de produtos e serviços ligados à cadeia produtiva do turismo; • qualificar a oferta turística, ajustando-a às exigências da demanda. À IniciativaPrivada, compete: • criar redes de ações com empresários do setor e do poder público; • elaborar e gerenciar os roteiros; • promover e comercializar os roteiros turísticos; • qualificar seus produtos e serviços. Fonte: Adaptado de Ministério do Turismo, 2007. 9 TEMA 3 – POLÍTICAS DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO O Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT) é uma política pública estratégica para a execução da Política Nacional de Turismo. Lançado em abril de 2004, passou por uma avaliação participativa em âmbito nacional, o que possibilitou sua reformulação. Em 2013, suas novas diretrizes foram instituídas pela Portaria MTur n. 105, de 16 de maio de 2013. Segundo o Ministério do Turismo (2013), o PRT é um programa estruturante, que trabalha a convergência e a interação de todas as ações desempenhadas pelo MTur com estados e municípios brasileiros. Seu objetivo principal é o de apoiar a estruturação dos destinos, a gestão e a promoção do turismo no país, a partir de oito eixos estruturantes com vistas à promoção do desenvolvimento regional. Figura 2 – Eixos do Programa de Regionalização do Turismo Fonte: Adaptado de Ministério do Turismo, 2017. O programa foi desenhado para promover a integração e cooperação intersetorial, de modo que haja sinergia entre os atores envolvidos no desenvolvimento da atividade turística nas diversas regiões. O trabalho coletivo resulta em benefícios para os municípios envolvidos e para a consolidação do turismo como uma atividade capaz de gerar empregos e renda, diminuindo as desigualdades regionais e promovendo a inclusão social (MTur, 2017). Dentro do PRT, foi desenvolvido um instrumento para orientar a atuação do Ministério do Turismo no desenvolvimento das políticas públicas, o Mapa do Turismo Brasileiro, lançado em dezembro de 2013. Segundo o MTur (2017), o 10 mapa define a área – o recorte territorial – que deve ser trabalhada prioritariamente pelo Ministério. O mapa é atualizado bienalmente, e sua última versão, de 2017, conta com 3.285 municípios, divididos em 328 regiões turísticas. Os municípios que compõem o mapa foram indicados pelos órgãos estaduais de turismo em conjunto com as instâncias de governança regional, a partir de critérios construídos em conjunto com o Ministério do Turismo (MTur, 2017). Saiba mais Para facilitar o acesso ao mapa e aos municípios por ele contemplados, o Ministério do Turismo investiu numa plataforma online. Vale a pena dar uma olhada. Acesse aqui: <http://www.mapa.turismo.gov.br/mapa/init.html#/home>. Acesse o link e conheça a categorização dos municípios das regiões turísticas do mapa do turismo brasileiro apresentado em 2018. <http://www.regionalizacao.turismo.gov.br/images/pdf/RelatorioCategorizacao_ 2018.pdf>. Assista à animação e entenda como o Mapa do Turismo Brasileiro é construído: <https://www.youtube.com/watch?v=JuSBs71BbBw>. TEMA 4 – ROTEIROS INSTITUCIONAIS Ao estudarmos os componentes de um roteiro turístico anteriormente, vimos que as etapas de precificação, promoção e comercialização de produtos turísticos são feitas pela iniciativa privada, ou seja, pelas operadoras e agências de viagens. No entanto, os órgãos governamentais podem divulgar roteiros com o intuito de promover a localidade (Stefani, 2014). Quando isso acontece, somente algumas partes da roteirização são executadas e há a inclusão somente de atrativos turísticos ou atividades no roteiro. Sendo assim, os equipamentos e serviços necessários para a operacionalização e prática não são levados em consideração. Os municípios e estados podem buscar recursos junto ao Governo Federal para implantar roteiros turísticos em seus territórios, lembrando mais uma vez que, nesse caso, o processo de elaboração do roteiro terá como foco a criação ou agrupamento de atrativos turísticos para atrair a visitação de turistas. A gestão desses atrativos pode ser executada pela administração pública ou 11 concedida à iniciativa privada, porém, a comercialização desses roteiros ou produtos deles derivados só poderá ser feita pela iniciativa privada. A melhor forma de entender isso é olhando como tudo funciona na prática. Em meados de 2018, o Governo do Estado de Goiás inaugurou o Caminho de Cora Coralina, um roteiro destinado aos amantes de trilhas, contato com a natureza, aventura, história e cultura. O roteiro começa na cidade de Corumbá e se estende por 300 quilômetros até a antiga capital do estado, a Cidade de Goiás, terra da poetiza Cora Coralina. A trilha cruza oito cidades goianas, incluindo Pirenópolis, Jaraguá, Itaguari e Itaberaí. Ao longo do trajeto, existem áreas de descanso e pontos de apoio, em que os visitantes encontram textos de Cora Coralina e de poetas das cidades visitadas, o que completa a integração do roteiro com foco na poesia, na paisagem natural e na culinária goiana. O Caminho de Cora Coralina é um exemplo de roteiro institucional, uma vez que sua concepção e todo o trabalho técnico necessário para que o projeto saísse do papel foi de responsabilidade da Goiás Turismo, o órgão estadual que responde pelo turismo no Estado. O Caminho de Cora Coralina é divulgado pelo Estado de Goiás como uma opção de atividade a ser feita em Goiás, mas o Governo não comercializa esse produto. Porém, há empresas que oferecem produtos turísticos relacionados ao Caminho de Cora. O roteiro pode ser percorrido a pé, a cavalo, de bicicleta ou motocicleta. Tendo em vista o potencial turístico do roteiro, empresas oferecem passeios a cavalo ou guiamento para quem deseja percorrer a trilha, por exemplo. Portanto, são essas empresas que comercializam o roteiro como parte integrante de outro serviço turístico. 12 Figura 3 – Mapa Caminho de Cora Coralina Fonte: Goiás Turismo, 2018. Saiba mais O Caminho de Cora Coralina foi inspirado no famoso Caminho de Santiago de Compostela. O trajeto foi desenhado com base em relatos de viagens realizadas em território goiano desde o Século 18. Confira a matéria do Correio Brasiliense sobre a inauguração do roteiro e saiba mais detalhes sobre ele em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/04/13/i nterna_cidadesdf,673307/caminho-de-cora-coralina-deve-ser-inaugurado-na- proxima-sexta-feira.shtml>. Acesso em: 15 out. 2019. TEMA 5 – PLANEJAMENTO TURÍSTICO PARTICIPATIVO O planejamento participativo tornou-se peça-chave na validação de muitos projetos em diferentes áreas. Na atualidade, a participação dos atores envolvidos tem sido requisitada pela comunidade acadêmica e por algumas iniciativas governamentais, com o objetivo de inseri-los nas discussões e debates em torno de questões fundamentais para a melhoria da qualidade de vida local (Richter et al., 2016). No turismo, a participação de agentes da 13 comunidade local é muito importante, uma vez que os benefícios e os impactos da atividade turística afetam diretamente a rotina da comunidade receptora. No que tange ao processo de roteirização turística, o MTur (2007) afirma que ele já tem um caráter participativo e, por isso, deve estimular a integração e o compromisso de todos os protagonistas envolvidos, não deixando de desempenhar seu papel de instrumento de inclusão social, resgate e preservação dos valores culturais e ambientais existentes. O planejamento turístico participativo é um componente importante para o desenvolvimento de um turismo sustentável, que tem como princípio o envolvimento da comunidade, no qual os próprios moradores são os informantes ideais acerca de suas condicionantes, indicando o que é melhorpara o desenvolvimento local (Richter et al., 2016). Ainda segundo Richter et al. (2016), a comunidade local deve participar das decisões a serem tomadas como forma de garantir a integridade e a inclusão social. Devem ser levadas em conta as características de cada localidade, a fim de que se possa destacar suas principais qualidades e torná-la um atrativo a ser desenvolvido pelo turismo de forma organizada. Negligenciar a opinião e o posicionamento da comunidade local na implantação de um roteiro ou de qualquer outro empreendimento turístico que poderá gerar um forte impacto naquela comunidade pode gerar conflitos e tornar a relação com os moradores delicada. É importante que o profissional do turismo tenha sempre em mente a importância do planejamento participativo e encontre mecanismos que de fato levem em consideração as demandas da comunidade receptora. TROCANDO IDEIAS No trocando ideias de hoje, vamos analisar um caso real de como se dá a relação roteirização turística e o planejamento participativo, por meio da leitura do artigo acadêmico “Turismo comunitário e inclusão social: análise do roteiro turístico de base comunitária do Projeto Boas Práticas na Serra do Brigadeiro – MG/Brasil”. O artigo apresenta um roteiro elaborado envolvendo o núcleo de turismo de base comunitária do Boné, que é parte integrante do Projeto Boas Práticas no Território da Serra do Brigadeiro, em Minas Gerais. Segundo os autores, o 14 objetivo do trabalho foi sistematizar as ações operacionalizadas para a formatação de roteiros desse segmento turístico que o referido projeto utilizou. Durante a leitura, procure identificar como foi o desenvolvimento do roteiro proposto e como se dá a relação dos visitantes com a comunidade local que os recebem. Encontre o texto na íntegra aqui: <http://www.each.usp.br/turismo/publicacoesdeturismo/ref.php?id=24930>. NA PRÁTICA Em maio de 2019, o Ministério do Turismo, em parceria com a Embratur e o Sebrae, lançou o Programa Investe Turismo. O objetivo do programa é acelerar o desenvolvimento, aumentar a qualidade e a competitividade em 30 Rotas Turísticas Estratégicas do Brasil, com foco na geração de empregos. O investimento inicial será de R$ 200 milhões. Segundo o Ministério do Turismo (2019), as rotas turísticas selecionadas receberão ações organizadas em quatro linhas de trabalho que vão desde o fortalecimento da governança, por meio de uma agenda estratégica entre setor público e privado; melhoria dos serviços e atrativos turísticos, com foco especial nas micro e pequenas empresas; marketing e apoio à comercialização, por meio de campanhas, produção de inteligência mercadológica e participação em eventos estratégicos; até a atração de investimentos e o apoio ao acesso a linhas de crédito e fontes de financiamento. Os projetos visam ao aumento da qualidade da oferta turística nas rotas selecionadas em todas as regiões brasileiras. A sua missão, neste encontro, é acessar a Cartilha do Programa Investe Turismo, analisar o documento e montar um quadro, similar ao que apresentamos no Tema 2 da presente aula, destacando os 4 eixos estratégicos apresentados no programa e quais são as principais ações propostas dentro de cada um desses eixos prioritários. Acesse a cartilha aqui: <http://www.turismo.gov.br/images/Investe%20Turismo/mtur-cartilha-investe- turismo.pdf>. FINALIZANDO Nesta aula, para entender o processo de roteirização turística e como ele se aplica na prática, foi preciso fazer um apanhado das políticas públicas destinadas ao turismo desde a década de 1990 para identificarmos em que 15 momento e onde nasce o conceito de roteirização, a evolução do processo ao longo dos anos, além de como ele vem contribuindo para o desenvolvimento turístico dos destinos. Abaixo, deixamos uma cronologia com as principais ações relacionadas às políticas públicas voltadas ao turismo que estudamos ao longo da aula. Figura 4 – Histórico das principais políticas públicas voltadas ao turismo no Brasil Esperamos que, ao final desta aula, você tenha em mente qual é o papel de cada um dos atores envolvidos no processo de roteirização e consigam pensar, de forma estratégica, como a roteirização pode contribuir para o desenvolvimento do turismo na sua região. Lembra-se da missão dada no início da aula, para que você se colocasse no lugar de um gerente de projetos turísticos. A tarefa, agora, ficou muito mais simples, não é? Esperamos que o conteúdo da aula tenha contribuído para que você se imagine como gestor público e seja capaz de assumir essa posição caso tenha a oportunidade. O futuro do turismo no Brasil depende de gestores qualificados, que entendam a dinâmica da atividade turística, que sejam criativos e estejam dispostos a fazer a diferença no setor. 16 REFERÊNCIAS BEZERRA, D. Programa Nacional de Municipalização do Turismo: análise de uma política pública em desenvolvimento. In: BAHL, M. Turismo: enfoques teóricos e práticos. São Paulo: Roca, 2003. MINISTÉRIO DO TURISMO. Mapa do turismo brasileiro. Brasília: Ministério do Turismo, 2017. MINISTÉRIO DO TURISMO. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Coordenação Geral de Regionalização. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. Módulo Operacional 7: roteirização turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2007. RICHTER, M. et al. Elaboração de roteiros: volume único. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2016. STEFANI, C. de. Elaboração de roteiros turísticos: do planejamento a precificação. Curitiba: InterSaberes, 2014.