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1 2 AULA 5: FASE DE FRAGMENTAÇÃO DO DIREITO INFRACONSTITUCIONAL 3 INTRODUÇÃO 3 CONTEÚDO 4 A SEGUNDA FASE DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO 4 A PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO, A LEGISLAÇÃO DE EMERGÊNCIA E A FORMAÇÃO DE MACROSSISTEMAS AUTÔNOMOS 7 CARACTERÍSTICAS DO ESTADO EXECUTIVO DE DIREITO (WELFARE STATE) 19 ATIVIDADE PROPOSTA 23 REFERÊNCIAS 24 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 25 CHAVES DE RESPOSTA 28 ATIVIDADE PROPOSTA 28 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 28 3 Introdução Com o advento do Estado Social Democrático de Direito a partir da crise do Estado Liberal de Direito, surgem inúmeras demandas legislativas nas relações jurídicas privadas, das quais o Código Civil não dava mais conta, resultando daí o que se denomina legislação de emergência, isto é, o legislador começa a fazer diferentes leis de modo pontual e aleatório, sem englobar um corpo único de normas reguladoras. Surge assim a fase de fragmentação do direito infraconstitucional. Na presente aula, nosso objetivo acadêmico é investigar tal fase, cuja dinâmica interpretativa é exatamente a formação de diversos universos legislativos que se colocam lado a lado com o Código Civil no que tange às relações privadas, daí a designação de fragmentação do direito infraconstitucional para caracterizar esta segunda fase do fenômeno da constitucionalização do direito. Na sequência dos estudos, o conteúdo programático desta aula está focado no exame do chamado Estado Executivo de Direito (Welfare State), paradigma atrelado à eficácia de direitos estatais prestacionais. Sendo assim, esta aula tem como objetivo: 1. A compreensão do processo de constitucionalização do direito na sua segunda etapa (fase de fragmentação do direito infraconstitucional), 4 bem como analisar as características do Estado Executivo de Direito (Welfare State). Conteúdo A Segunda Fase da Constitucionalização do Direito O grande objetivo acadêmico da presente aula é compreender a segunda fase do fenômeno da constitucionalização do direito, que é uma etapa 5 intermediária entre a fase de mundos apartados e a atual fase de filtragem constitucional. Como visto na aula anterior, foi com a eclosão da Revolução Francesa de 1789 ou com a Declaração de Virgínia de 1776, que se cimentou o espírito iluminista-racionalista, materializado no fenômeno do constitucionalismo liberal que, por sua vez, edificou as bases do Estado legislativo de Direito. De fato, ideais libertários e codificação mesclaram-se com o intuito de afirmação do individualismo jurídico, daí a concepção do constitucionalismo como imposição de fronteiras de atuação do Estado e do poder político e a ideia-força de Codificação como meio de ampliação do espaço jurídico da autonomia individual, com destaque ao campo econômico. Como visto amplamente, a crise do Estado legislativo de Direito tem sua origem nesta compartimentagem de conteúdos jurídicos materiais, na qual as Constituições restringiram-se a regular a delimitação da estatalidade mínima e os Códigos, fazendo uso desse garantismo constitucional, seguiam regulando independentemente as relações entre cidadãos dotados de patrimônio, colocando-os livre do controle público e consagrando a hegemonia do mais forte economicamente, sem nem cogitar a justiça social. Ora, como é de sabença geral, o regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais não se constrói, nem evolui através de saltos, mas de lutas e conquistas da sociedade como um todo. É nesse diapasão que exsurge a evolução para uma nova versão de Estado de Direito e que é o Estado social de Direito (Welfare State). Tal modelo nasce a partir da dura lição aprendida com codificação liberal garantista e sua falta de visão mais ampla que estabeleceram, infelizmente, condições favoráveis à exploração dos mais fracos (hipossuficientes) pelos mais fortes economicamente, culminando por polarizar reações e situações conflituosas, geradoras do Estado social de Direito. 6 Não resta nenhuma dúvida sobre a evolução trazida pelo Estado liberal de Direito quanto à conquista da liberdade, porém seu arquétipo constitucional possibilitou a exploração desta liberdade pelos atores detentores de poder econômico e de poder social. Portanto, urgia, com o fito de mitigar tais distorções, viabilizar um novo modelo constitucional com o condão de projetar a proteção dos hipossuficientes para o plano jurídico. Nasce, assim, a Constituição-dirigente com o papel emancipador de estabelecer programas nos campos da ordem econômica, social, cultural e trabalhista. Assim, para além da limitação do poder político, o Estado social de Direito busca também limitar o poder econômico e o poder social com o objetivo de alcançar a igualdade material ou real. Projeta-se, por via de consequência, um novo corpo constitucional focado na proteção dos direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas, lado a lado com os direitos civis e políticos. Em consequência, meio ambiente, cultura, saúde, trabalho, educação, saneamento básico, seguridade social etc. passam a compor e contar com regulação jurídica que garantam sua efetividade ou eficácia social. É nesse contexto que se opera a transição do Estado legislativo de Direito para o Estado executivo de Direito (Welfare State) e que se caracteriza pela necessidade da participação do Estado na garantia de uma nova plêiade de direitos fundamentais. Enfim, este é o espectro temático que vamos em seguida examinar, uma vez que a transição para o Estado social de Direito tem diversos e importantes desdobramentos que repercutem na publicização do direito privado, na fragmentação do direito infraconstitucional e na edição da assim chamada legislação de emergência e sua respectiva formação de universos legislativos autônomos em substituição à insuficiência do Código Civil na regulação das relações jurídicas privadas. 7 A Publicização do Direito Privado, a Legislação de Emergência e a Formação de Macrossistemas Autônomos É importante agora começar a investigar as implicações e os desdobramentos da passagem do Estado liberal de Direito para o Estado social de Direito, também conhecido como Welfare State. Como já visto, as conquistas do constitucionalismo liberal e, na sua esteira, do Estado legislativo de Direito não tiveram o condão de garantir a dignidade da pessoa humana, ainda que em sua expressão mínima. Com efeito, restou indubitável que a conquista da igualdade formal perante a lei, a crença no mito da força reguladora invisível do mercado e a rígida separação entre Estado e sociedade civil foram incapazes de criar as condições mínimas necessárias para garantir vida digna para todos os cidadãos e não, apenas, os proprietários e contratantes, detentores do poder econômico. Com efeito, a rígida separação entre Estado e sociedade civil produziu assimetrias socioeconômicas insuperáveis, que Boaventura de Souza Santos, com agudeza de espírito, destaca com precisão quando preleciona que tal separação rígida entre Estado e sociedade civil tinha a função latente de imunizar a esfera das relações econômicas do poder político diante do gradual incremento do sufrágio universal.1 Enfim, observe com atenção o interesse burguês que subjaz à conquista da igualdade formal e ao sufrágio universal, ou seja, tais elementos democráticos deveriam ser garantidos e eram, porém, não poderiaminterferir na dominação burguesa de proprietários e detentores do poder econômico. Ao revés, criavam as condições de possibilidade de legitimação democrática da exploração capitalista, sem amparo para os hipossuficientes. 1 SARMENTO, Daniel. Os direitos fundamentais nos paradigmas liberal, social e pós-social (pós-modernidade constitucional?), p. 384. 8 Em outras palavras, a garantia da igualdade de todos perante a lei e a democratização do poder político com espeque no sufrágio universal não deveriam afetar a esfera privada, como, aliás, não o fizeram efetivamente até a crise do Estado liberal. Na lição magistral de Paulo Bonavides: Aquela liberdade conduzia, com efeito, a graves e irreprimíveis situações de arbítrio. Expunha, no domínio econômico, os fracos à sanha dos poderosos. O triste capítulo da primeira fase da Revolução Industrial, de que foi palco o Ocidente, evidencia, com a liberdade do contrato, a desumana espoliação do trabalho, o doloroso emprego de métodos brutais de exploração econômica, a que nem a servidão medieval se poderia, com justiça, equiparar. Em face das doutrinas que na prática levavam, como levaram, em nosso século, ao inteiro esmagamento da liberdade formal, com a atroz supressão da personalidade, viram-se a Sociologia e a Filosofia do liberalismo burguês compelidas a uma correção conceitual imediata da liberdade, um compromisso ideológico, um meio-termo doutrinário, que é este que vai sendo paulatinamente enxertado no corpo das Constituições democráticas.2 De clareza meridiana, pois, a insuficiência da mera igualdade formal perante a lei, uma vez que tratar igualmente desiguais gera desigualdades ainda maiores no âmbito de uma sociedade plural e complexa. Eis aqui a pedra angular que cimenta a transição do Estado liberal de Direito para o Estado social de Direito: a busca da igualdade material ou real, sem abandono da igualdade formal. Em outros termos, a ideia de igualdade material ou real, própria do Estado social de Direito, reclama, ao contrário da igualdade jurídica do liberalismo, a atuação positiva do Estado, seja na remoção das desigualdades sociais, seja na proteção da dignidade humana de todos, inclusive dos hipossuficientes. Pelo princípio da igualdade material, cabe ao Estado garantir a justiça social e 2 BONAVIDES, Paulo. Do estado liberal ao estado social. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 59. 9 os benefícios de uma sociedade democraticamente avançada. Tal igualdade material não será concretizada através da pura e simples abstenção/negatividade estatal, ao revés, vai exigir sua intervenção no domínio econômico e privado. Nesse sentido, a tão propalada “mão invisível” do mercado de Adam Smith será afastada em prol do princípio da igualdade material ou real. Com efeito, a atuação livre do mercado sem nenhum controle estatal nada mais faz senão agravar o ciclo da pobreza na periferia do sistema internacional de Estados nacionais e seu consectário mais danoso: a exclusão social.3 Consequentemente, é legítimo afirmar que o direito constitucional liberal (dogmático, escrito, absenteísta, minimalista, negativo, sintético, ortodoxo e garantista) protegia, em última instância, a burguesia proprietária e não o homem comum do povo, desprovido de proteção estatal. Tendo como epicentro jurídico a garantia do livre jogo dos negócios e a proteção do patrimônio, o constitucionalismo garantista liberal regeu um contexto histórico burguês em que os institutos civilísticos eram interpretados segundo a primazia da autonomia privada e da propriedade absoluta. É por tudo isso que não tardou a aparecer a reação advinda dos grandes movimentos sociais, sindicais e trabalhistas, que resultaram na lenta e gradual dissipação do modelo liberal. No âmbito do constitucionalismo ocidental, sem nenhuma dúvida há que se destacar a Constituição mexicana de 1917 e, em especial, a de Weimar, de 1919, na Alemanha, como grandes 3 Ao elaborar a introdução da clássica obra de RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. p. 11, Vamireh Chacon destaca que a “mão invisível” smithiana tinha mais sensibilidade social do que o assacado (expressão usada pelo autor) por seus inimigos posto que o Adam Smith defendia a tese de que pequenas fazendas operadas por seus donos seriam mais eficientes que o sistema de latifúndio na época utilizado. 10 marcos delimitadores da constitucionalização dos direitos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais.4 Lentamente, a elaboração teórica do pensamento liberal burguês vai sendo superada pelo constitucionalismo dirigente do Estado social de Direito, um novo arquétipo que nega a negatividade do Estado, seja pela ideia de publicização do direito privado, seja pela ideia de despatrimonialização das relações privadas, ambas as ideias advindas da projeção do princípio da dignidade da pessoa humana sobre todo o sistema jurídico pós-liberal. Ora, um dos elementos fundantes da fase de predominância cêntrica do Código Civil era exatamente essa noção de patrimonialização das relações privadas, que deslocava para o centro do direito civil a proteção do patrimônio de proprietários, empregadores e locadores contratantes, sem nenhuma consideração acerca de hipossuficientes, tais como consumidor, locatário, trabalhador etc. Até mesmo na esfera do direito de família, predominava o elemento fundante de conteúdo patrimonializante, como por exemplo, a previsão legal acerca da desigualdade dos filhos que não levava em consideração a proteção da pessoa humana, mas, sim, do patrimônio familiar. Nesta mesma toada hermenêutica, a regulação dos Códigos acerca dos impedimentos matrimoniais que também não levavam em consideração a condição da pessoa humana, mas, também, a proteção dos patrimônios dos cônjuges. Lado a lado com a patrimonialização das relações privadas, reinava inconteste a “despublicização do direito privado”, vale explicitar a desvinculação da autonomia privada de qualquer elemento jurídico da ordem pública. Ou seja, nos códigos, a hegemonia irrespondível da autonomia da 4 Não ser pode olvidar, porém, que as primeiras manifestações de matiz social se deram na verdade com a Constituição jacobina de 1891, em que foram positivados pela primeira vez direitos sociais. 11 vontade afastava qualquer intromissão do Estado na área jusprivatista, nem mesmo a dignidade da pessoa humana superava tal perspectiva. Portanto, é o advento do Estado social de Direito que, com espeque nos valores atrelados à dignidade da pessoa humana, irá desenvolver, paulatinamente, os fenômenos da publicização do direito privado e da despatrimonialização ou repersonalização das relações privadas. Ambos os fenômenos têm como fundamento jurídico-constitucional a transposição da dignidade da pessoa humana para o centro do direito privado. Com efeito, o fenômeno da publicização do direito privado foi desenvolvido ao longo do século XX, sob a égide do welfarismo constitucional (Estado social de Direito e a sua cosmovisão crítica da estatalidade mínima) e simboliza o início da derrocada do reino absoluto da autonomia da vontade, vale dizer, as relações entre particulares começa a ser influenciada pelas normas de ordem pública, destinadas a garantir o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana, que por sua vez projeta a proteção dos hipossuficientes e a buscaincansável da igualdade material ou real. Assim sendo, a fase hegemônica do Código Civil começa a ser desconstruída pela irradiação do princípio da dignidade da pessoa humana, que se desloca para o centro do direito privado e faz avançar tanto a publicização do direito privado (dirigismo constitucional intervencionista possibilita a publicização do direito privado) como a repersonalização ou despatrimonialização das relações privadas (os institutos civilísticos também passam a ser interpretados à luz da dignidade da pessoal humana). Sob os influxos de um novo tipo de constitucionalismo, agora dito constitucionalismo welfarista ou dirigente, começa a ruir a predominância cêntrica do Código Civil, na medida em que já não dá mais conta dos novos imperativos normativo-constitucionais da sociedade pós-liberal, seja para proteger o hipossuficiente (consumidor, locatário, empregado, criança, 12 adolescente, idoso etc.), seja para realizar o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana (ofertar as condições mínimas de vida digna para todos os cidadãos). Dessarte, no campo infraconstitucional, a reengenharia welfarista exige a edição de novas leis infraconstitucionais que concretizem os direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas, daí a necessidade de formular leis de emergência atinentes à proteção dos hipossuficientes. É a proteção desses hipossuficientes que obriga a que se transite pelos novos universos legislativos (novos microssistemas jurídicos autônomos), tais como a lei de proteção do consumidor, o estatuto da criança e adolescente, o estatuto da terra, a lei de locações, o direito de família etc. Progressivamente, as relações jurídicas deixam de se reguladas pelo Código Civil e passam a ser reguladas por tais leis de emergência, assim denominadas tendo em vista seu caráter pontual e assistemático. É bem de ver que estas leis de emergência serão depois consolidadas, como, por exemplo, a Consolidação das leis trabalhistas (CLT). Assim sendo, com respaldo na Constituição do tipo dirigente,5 começavam a despontar, a um só tempo, os fenômenos da “publicização do direito privado” e da “repersonalização ou despatrimonialização das relações privadas”. Nesse sentido, precisa a lição de Luís Roberto Barroso, não somente com relação à perda de posição hegemônica do Código Civil e, portanto, da constatação da publicização do direito privado, mas, também, da formação de diversos microssistemas que, pouco a pouco, vão ganhando autonomia até, 5 No que diz ao conceito de constituição dirigente, vale reproduzir as palavras de Daniel Sarmento in verbis: O conceito de constituição dirigente foi desenvolvido com maestria na obra de CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador: contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas, reimp., Coimbra: Coimbra ed., 1994. Tal obra teve enorme influência no pensamento jurídico brasileiro, tendo penetrado de modo profundo na Constituição de 1988. Com o colapso do Welfare State e o apronfudamento do processo de globalização, porém, a ideia de Constituição dirigente também entra em crise, havendo quem preconize o retorno ao figurino constitucional pré-weimariano. SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na constituição federal. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2003. p. 64. 13 finalmente, se transformarem em subsistemas jurídicos circunsolares em relação à própria Constituição. São suas palavras: Essas transformações redefiniram a posição da Constituição na ordem jurídica brasileira. De fato, nas últimas décadas, o Código Civil foi perdendo sua posição de preeminência, mesmo no âmbito das relações privadas, onde se formaram diversos microssistemas (consumidor, criança e adolescente, locações, direito de família). Progressivamente, foi se consumando no Brasil um fenômeno anteriormente verificado na Alemanha, após a Segunda Guerra: a passagem da Lei Fundamental para o centro do sistema. “À supremacia até então meramente formal, agregou-se uma valia material e axiológica à Constituição, potencializada pela abertura do sistema jurídico e pela normatividade de seus princípios”.6 Por sua vez, Pietro Perlingieri 7 preleciona que o "Código Civil certamente perdeu a centralidade de outrora. O papel unificador do sistema, tanto nos seus aspectos mais tradicionalmente civilísticos quanto naqueles de relevância publicista, é desempenhado de maneira cada vez mais incisiva pelo Texto Constitucional". Maria Celina Bodin de Moraes Tepedino, embora concordando com a perda de hegemonia do Código Civil em função do intervencionismo estatal na economia, não atribui tal fato exclusivamente ao fenômeno da publicização do direito privado, mas, sim, de uma mudança estrutural interna do próprio direito civil: Diante de um Estado intervencionista e regulamentador, que dita as regras do jogo, o direito civil viu modificadas as suas funções e não pode mais ser estimado segundo os moldes do direito individualista dos séculos anteriores. Todavia, parece questionável que tamanha mutação tenha advindo, exclusivamente, da chamada “publicização” do direto privado como comumente se atribui. Diversamente, talvez 6 Cf. “Fundamentos Teóricos e Filosóficos do Novo Direito Constitucional Brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo)”, p. 43-44. 7 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil, 1997, p. 6. 14 haja decorrido de uma mudança interna, na própria estrutura do direito civil, tornando alteradas, desse modo, suas relações com o direito público. (...). O intervencionismo estatal e, na sua esteira, o papel que a regulamentação jurídica passou a desempenhar na economia e, de uma forma geral, na vida civil podem, então, ser encarados como elemento interagente – ao invés de razão primordial – das profundas mudanças ocorridas no direito privado. O novo peso dado ao fenômeno importa em rejeitar a ideia de invasão da esfera pública sobre a privada, para admitir, ao revés, a estrutural transformação do conceito de direito civil, ampla o suficiente para abrigar, na tutela das atividades e dos interesses da pessoa humana, técnicas e instrumentos tradicionalmente próprios do direito público como, por exemplo, a aplicação direta das normas constitucionais nas relações jurídicas de caráter privado. 8 De tudo se vê que é o dirigismo contratual, caracterizado pela intervenção do Welfare State, que consolida a publicização do direito privado. Com rigor, o conteúdo material dos institutos básicos do direito civil, nomeadamente a família, a propriedade e o contrato, não são mais interpretados à luz do individualismo jurídico e da ideologia liberal. Ao contrário, a transição para o Estado social de Direito tem desdobramento essencial na compreensão do direito civil, uma vez que se opera mudança radical no seu destinatário, qual seja afasta-se o indivíduo proprietário, substituindo-o pelo hipossuficiente e a garantia de sua vida digna. Daí todo o processo de evolução dogmática que se observou na área do direito de família, da função social da propriedade e da função social do contrato. Em outras palavras, já não mais se admite a postura liberal de se ler a Constituição a partir do Código Civil. É o contrário, vale dizer, a legislação civil deve ser interpretada à luz dos princípios e regras constitucionais. 8 TEPEDINO, Maria Celina B. M. A caminho de um direito civil constitucional. In: Revista de direito civil, v. 65,p.66-67. 15 Em síntese, a transição para o Welfare State trouxe no seu bojo a criação de um conjunto de leis especiais que regulavam, de maneira setorial, as relações jurídicas privadas, e.g., o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Arbitragens, a Lei de Direitos Autorais, a Lei de Locação Urbana, etc. Tais leis formavam a chamada legislação de emergência, vez que engendradas para um determinado setor não regulamentado pelo Código Civil, bem como para regular situações concretas em diversos ramos da vida civil, chegando, muitas vezes, até mesmo a legislar acerca de normas de direito processual, administrativo e penal. 9 Gustavo Tepedino, um dos principais doutrinadores acerca do tema, demonstra,10 no entanto, que, pouco a pouco, o monossistema, representado pelo Código Civil, foi sendo substituído pelo polissistema, formado pelos estatutos que se transformaram em verdadeiros microssistemas do direito privado, ao lado do próprio Código Civil. Na verdade, tais microssistemas, pela sua independência temática em relação à antiga Constituição do direito privado, constituíam universos legislativos autônomos, com princípios específicos e, muitas vezes, contrários ao próprio Código Civil. 9Cf. TEPEDINO, Gustavo. “O velho Projeto de um revelho Código Civil”, In: Temas de Direito Civil. Rio: Renovar, 2000. p. 437 e ss. 10 Cf. “Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil”. In: Temas de direito civil. p. 11-12. 16 A figura abaixo sintetiza tal ideia-força. Em linhas gerais, a formação de universos legislativos autônomos em relação ao Código Civil, antigo astro sol jusprivatista configura a chamada fase de fragmentação do direito privado que significa, em última instância, a coexistência de um sistema jurídico multifacetado com subsistemas autônomos e com princípios próprios que são contrários entre si em diversas situações reais. De fato, nesta fase intermediária, ainda não temos a Constituição no centro do sistema jurídico, porém já não há mais aquela hegemonia inexorável do Código Civil. Trata-se, portanto, de uma fase na qual vigora um sistema multipolar com diversos microssistemas jurídicos independentes e, agora, sem aquele farol norteador do antigo Código Civil no seu papel de Lex Fundamentallis da esfera privada. 17 Com rigor, opera-se uma inversão no papel unificador do Código Civil, isto é, nesta fase intermediária, perde-se a unidade do sistema jurídico privado como um todo, na medida em que o Código Civil passa a desempenhar papel secundário, vale explicitar, já não é mais o astro rei dono do monopólio legislativo jusprivatista, ao revés, somente será aplicado de modo residual nas hipóteses de matéria não regulada pelas leis especiais de emergência (subsistemas jurídicos autônomos). Ora sem a força hegemônica unificadora do Código Civil, o direito privado fragmenta-se; divide-se em partes. Caberá à Constituição, na última fase do fenômeno da constitucionalização, reassumir este papel unificador do sistema jurídico privado. Portanto, somente na fase final de filtragem constitucional, a Constituição da República tornar-se-á o único documento normativo capaz de reunificar o sistema fragmentado jusprivatista. Isto significa dizer, por outras palavras, que as antinomias e tensões entre princípios de diferentes subsistemas jurídicos autóctones somente serão pacificadas à luz do texto constitucional. Assim sendo, sem unicidade, o direito privado seguia fragmentado e dividido em espaços normativos independentes gestados pela legislação infraconstitucional emergencial, feita pontualmente e segundo a orientação de princípios próprios relativos às respectivas matérias que regulavam. Enfim, o "ocaso do código civil" deu azo à proliferação de microssistemas legislativos genuínos que retiraram da “Constituição do Direito Privado” sua força hegemônica e unificadora, resultando daí a fragmentação do sistema jurídico infraconstitucional, agora com espaços circunsolares, e.g., a Lei do Direito Autoral, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor e a Lei das Locações, Estatuto da Terra, Estatuto do Idoso, Consolidação das Leis Trabalhistas etc. Assim, é forçoso reconhecer que a fase intermediária de fragmentação do direito infraconstitucional assume definitivamente a coexistência de espaços jurídicos advindos de pressões sociais setoriais manifestadas como reação ao 18 liberalismo garantista. À fragmentação e falta de unidade presentes nesta fase intermediária corresponde, todavia, a inexorável evolução do regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais. Com efeito, à fragmentação do direito infraconstitucional deve ser reconhecido o papel de constituir-se como um dos fenômenos mais importantes da busca de efetividade dos direitos de segunda dimensão (direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas). É imperioso, portanto, compreender o papel que desempenha na evolução da perspectiva civil-constitucional, ou seja, a partir desta fase estudar o direito civil passou a significar estudar leis infraconstitucionais que concretizam direitos fundamentais negativos e positivos. Em outro dizer, muito embora ainda distante da plenitude da perspectiva civil-constitucional que consolida a leitura de todos os ramos do direito à luz da Constituição, a fase de fragmentação configura notável avanço tendo-se em vista a criação de princípios protetores que, muito embora insculpidos em normatividade infraconstitucional, visa a consagrar princípios e valores constitucionais. Em suma, não se pode negar a relevância da perspectiva sistemático- normativa que se desenvolve sob os influxos desta fase intermediária, que deu grande avanço ao fenômeno da constitucionalização do direito civil. Em seu horizonte maior, tal fase fez a ressistematização de um direito civil hegemônico, dominado pelo ideal burguês liberal e voltado para os interesses do empregador proprietário. Como amplamente visto, é a formação de um polissistema composto de leis extravagantes especiais com princípios próprios que selam uma nova dimensão da exegese civilística, seja pela publicização do direito privado, seja pela despatrimonialização das relações privadas. Esse novo perfil da perspectiva civil-constitucional é fruto da passagem do Estado legislativo de 19 Direito para o Estado executivo de Direito (welfare State), daí a importância de estudar tal transição como a seguir far-se-á. Características do Estado Executivo de Direito (welfare state) Neste segmento temático, colima-se examinar a passagem do Estado legislativo de Direito para o Estado executivo de Direito (Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social). Vale, pois, começar com os ensinamentos de García-Pelayo: “O conceito de Welfare State se refere basicamente a uma dimensão da política estatal: a finalidade de produzir Bem-Estar Social. É um conceito mensurável em função da distribuição das cifras do orçamento destinadas aos serviços sociais e de outros índices”.11 Nesse sentido, como já examinado alhures, as conquistas democráticas do Estado legislativo de Direito e, na sua esteira, a ideia-força de constitucionalismo garantista-formalista-absenteísta-minimalista que lhe dava suporte não tiveram o condão de garantir a igualdade material que se materializa na criação de condições mínimas de vida digna e da igualdade de oportunidades paratodos. É bem de ver, pois, que o Estado executivo de Direito rejeita veementemente tal perspectiva e impõe a reconsideração do conceito de sociedade como um conjunto de indivíduos livres e iguais. Com rigor, é a visão inversa que impele o Welfare State na direção da estatalidade positiva para a superação dessas desigualdades e para a promoção do Bem-Estar Social, benefício que deve ser compartilhado por toda a sociedade. Assim, o Estado social de Direito tenta remediar as condições sub-humanas de vida das camadas mais pobres da população a partir da formulação de políticas públicas afirmativas. Trata-se, assim, de uma verdadeira estratégia nacional. 11 Cf. As transformações do Estado contemporâneo, p. 2. 20 No entanto, é importante compreender aqui que a formulação dessa estratégia nacional, percebida como o conjunto total de políticas públicas formuladas pelo poder político do Estado, aí incluídas logicamente as ações afirmativas de proteção dos hipossuficientes, encontra um grande óbice advindo das relações internacionais. Vale explicar melhor: com o objetivo de alcançar seus próprios interesses nacionais, a estratégia dos países industrializados (gerentes da economia mundial) se projeta sobre o constitucionalismo, notadamente nas esferas trabalhista e comercial, dos países periféricos, que atuam muitas vezes de modo direcionado a tais interesses em detrimento do próprio objetivo nacional. Como exemplo, podemos citar as implicações do assim chamado Consenso de Washington, que praticamente obrigou a periferia do sistema mundial a flexibilizar suas leis trabalhistas protetivas, bem como a desregulamentar sua economia em prol das grandes empresas multinacionais. Esta temática será examinada com maiores detalhes na aula 8, por ora, basta compreender que a intervenção do Estado no domínio privado também é influenciada por fatores externos. Destarte, é importante destacar bem a conexão direta entre os conceitos de Estado executivo de Direito e constitucionalismo welfarista ou dirigente. Pelo menos no campo jurídico-constitucional, a Constituição-Dirigente é concebida como um corpo de normas de cunho programático que traçam metas e programas de ação a serem implementados pelo legislador ordinário e pelo Poder Executivo.12 12 Em plano dogmático, a constituição dirigente procura contornar a falta de consenso entre as diferentes forças políticas mediante a técnica de estabelecer comandos constitucionais abertos, de pouca densidade normativa, deixando para as futuras gerações a decisão final acerca de pontos controvertidos. Predominam, por conseguinte, as normas meramente programáticas que necessitam de interpositio legislatoris para ganharem efetiva sindicabilidade. 21 Não se trata apenas de regular a organização estatal e as relações entre o público e o privado, mas, principalmente, de garantir as condições mínimas de vida digna dentro de uma perspectiva de igualdade material, cabendo ao Estado suprir o déficit econômico e social das classes menos favorecidas. Os reflexos desse tipo de intelecção no campo dogmático são significativos, sendo importante destacar dois grandes edifícios axiológicos do Estado executivo de Direito: A ideia de que a dignidade da pessoa humana serve como referencial ético da própria ordem constitucional; A ideia de que é necessário estabelecer eficácia positiva para o assim chamado “mínimo existencial”, isto é, cabe ao Estado garantir as condições essenciais para uma vida digna independentemente de legislação ordinária. Contrariamente ao que acontecia no âmbito do Estado legislativo de Direito, a postura do Estado executivo de Direito é a de intromissão no domínio privado. Em termos simples, cabe ao Estado fomentar a economia atuando diretamente na esfera das relações jurídicas privadas. Seu grande símbolo é induvidosamente a política progressista do New Deal de cunho keynesiano de Franklin Delano Roosevelt, que buscava dar maior proteção aos trabalhadores, bem como acreditava na importância do papel ativo do Estado na condução de sua vida econômica. A política estadunidense do New Deal surgiu como reação à grande depressão de 1929 (quebra da Bolsa de Valores de Nova York) e tinha como objetivo remover os efeitos danosos desse período negro, seja através do afastamento da ideia de “mão invisível” do mercado de Adam Smith, seja na garantia de direitos fundamentais do cidadão. 22 Assim, a elaboração teórica do pensamento welfarista acaba desenvolvendo um socialismo democrático que García-Pelayo capta com precisão quando preleciona: Portanto, o Estado Social não é Socialista, ainda que dentro dos seus marcos se possam desenvolver políticas cuja acumulação e interação terminem por conduzir a um Socialismo democrático. Em realidade, é uma forma estatal que corresponde historicamente com a etapa do neocapitalismo ou capitalismo tardio, do mesmo modo que o Estado absolutista se relacionou com as fases iniciais do capitalismo e o Estado Liberal com o alto capitalismo.13 De tudo se vê, por conseguinte, que o Welfare State é o modelo que protege o cidadão, independentemente de sua classe social, atribuindo ao Estado o dever de proteger seus direitos a partir de atitude interventiva do Estado. Com efeito, o Estado executivo de Direito deve garantir níveis mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação etc. No seu epicentro jurídico-normativo, um catálogo de direitos fundamentais positivos que deve ser garantido ao cidadão comum pelo próprio Estado. Com base na densificação do princípio da igualdade em sentido material, o Estado executivo de Direito busca atender às reivindicações sociais e econômicas dos hipossuficientes, notadamente, da classe operária em relação à classe empregadora. Como bem destaca Nelson Saldanha, os desmandos do capitalismo acabaram por “desnaturar a ideia de liberdade e por dar a deixa para a famosa pergunta de Proudhon: ‘Où est la liberté du non proprietaire?’ (Onde está a liberdade do não proprietário?)”.14 Em conclusão, o modelo constitucional do Welfare State refuta a concepção negativista de Estado, protetora do proprietário burguês e não do homem comum do povo. Nesse sentido, traça um novel conjunto de direitos estatais 13 Cf. Transformações do Estado contemporâneo, p. 53. 14 SALDANHA, Nelson. O que é o liberalismo. In: Estado de direito, liberdades e garantias (estudos de direito público e teoria política). São Paulo: Sugestão Literária, 1980. p. 89. 23 prestacionais focado no trinômio igualdade real-dignidade da pessoa humana- dirigismo constitucional. 15 Com rigor, o Estado executivo de Direito não pode ser compreendido apenas em termos de direitos fundamentais sociais, mas, também no controle da incidência das atividades estatais no campo do mercado e em todos os ramos do direito privado, inclusive no direito de família. Com rigor, não se pode falar em Estado de Bem-Estar Social sem falar em formulação de políticas públicas intrusivas de inspiração keynesiana. Não há como dissociar o trinômio igualdade real-dignidade da pessoa humana-dirigismo constitucional. Em essência, agrega novas dimensões ao conceito de constitucionalização do direito, deixando clara sua importância na quebra da força hegemônica do Código Civil e talhando o legado da dignidade da pessoa humana no âmbito do capitalismo liberal burguês. Para além disso, cria as condições de possibilidade deformulação de estratégias macroeconômicas autóctones em relação ao jogo de poder do sistema econômico internacional, ao mesmo tempo em que favorece o estabelecimento de um clima de solidariedade nacional que se estriba na busca de uma sociedade livre com igualdade de direitos e oportunidades. Atividade Proposta São características da fase de fragmentação do direito infraconstitucional, EXCETO: a) A formação de núcleos normativos autônomos com relação ao Código Civil como, por exemplo, o direito do consumidor e do trabalhador. 15 Cotejando-se os impactos negativos da revolução industrial com os graves problemas sociais do Estado Liberal, extrai-se o substrato material que informa a formação do Estado Social. É nesse sentido que o pensamento de Robert Peel, já no século XIX, concebia os primeiros comandos jurídicos de cunho social com o desiderato de proteger os trabalhadores e minimizar os nefastos impactos da Revolução Industrial sobre a classe operária. Cf. Os direitos fundamentais nos paradigmas Liberal, Social e Pós-Social-(pós-modernidade constitucional?), p.387. 24 b) A predominância cêntrica do Código Civil. c) Criação de novas normas jurídicas de cunho social e que começam a ser desenvolvidas sob o pálio do dirigismo constitucional. d) Rejeição da concepção negativista de Estado, paradigma constitucional protetor do proprietário burguês e não do homem comum do povo. Referências BONAVIDES, Paulo. Do estado liberal ao estado social. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. DANTAS, David Diniz. Interpretação constitucional no pós-positivismo. Teoria e casos práticos. São Paulo: Madras, 2004. PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. SALDANHA, Nelson. O que é o liberalismo. In: Estado de direito, liberdades e garantias (estudos de direito público e teoria política). São Paulo: Sugestão Literária, 1980. STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso. Constituição, hermenêutica e teorias discursivas. Da possibilidade à necessidade de respostas corretas em direito. 3. ed., rev, atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. TAVARES, André Ramos. Paradigmas do judicialismo constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. 25 Exercícios de Fixação Questão 1 Leia o trecho abaixo e assinale a alternativa correta: “A despeito do acendrado movimento neoliberal e dos ventos da globalização que estremeceram o ocaso do século XX, os pilares do Estado Social não foram abalados, mantendo-se ainda mais acentuada a necessidade da ordem econômica e social, consubstanciando direitos e garantias de um novo perfil da cidadania através de normas reguladoras das relações de consumo. Enquanto a Constituição assumia evidente identidade social no plano jurídico-econômico, permanecia o Código Civil, em descompasso com esta realidade, conservando suas feições de tradição liberal-patrimonialista, e como necessária à realização da pessoa, à propriedade como elemento central dos demais interesses privados”. A partir da leitura acima, analise as assertivas abaixo: I. Com o advento do Estado Liberal, há uma maior participação estatal nos negócios privados, o que leva à publicização do Direito Civil. II. Foi com a eclosão da Revolução Francesa que crismou o nascimento da fase de publicização do direito privado, caracterizado por um processo de constitucionalização dos ideais libertários de afirmação do individualismo jurídico. III. Ao longo do século XX, com o advento do Estado social e a percepção crítica da desigualdade, o direito privado começa a deixar de ser o reino absoluto da autonomia da vontade. Somente é CORRETO o que se afirma em: a) I b) II e III c) III d) I e III 26 Questão 2 São características da fase de fragmentação do direito infraconstitucional, EXCETO: a) O deslocamento do Código Civil para a centralidade do sistema jurídico; b) A formação de microssistemas autônomos com a fixação de novos princípios jurídicos, muitas vezes contrapostos ao próprio Código Civil; c) A criação de normas de ordem pública, destinadas, sobretudo, a proteger o lado mais fraco: o consumidor, o locatário, o empregado; d) O dirigismo contratual que consolida a publicização do direito privado. Questão 3 É característica da fase de publicização do direito privado: a) A leitura moral da Constituição; b) A filtragem constitucional; c) A força normativa da Constituição; d) A formação de diversos microssistemas (consumidor, criança e adolescente, locações, direito de família). 27 Questão 4 Analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: I. Nas últimas décadas, o Código Civil foi perdendo sua posição de preeminência, mesmo no âmbito das relações privadas, onde se formaram diversos microssistemas (consumidor, criança e adolescente, locações, direito de família). II. As demandas sociais começam a reduzir a hegemonia do Código Civil mediante a elaboração das chamadas leis de emergência, vale dizer, as novas normas jurídicas de cunho social e que começam a ser desenvolvidas sob o pálio do dirigismo constitucional. a) As duas assertivas são falsas; b) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; c) Ambas as assertivas são verdadeiras; d) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. Questão 5 São características da fase de fragmentação do direito infraconstitucional, EXCETO: a) A elaboração da legislação de emergência de cunho social. b) A prevalência do código civil sobre o direito do consumidor e do trabalhador. c) A autonomia do direito de família, do locador e da criança e do adolescente. d) Perda de hegemonia do código civil em função do intervencionismo estatal. 28 Atividade Proposta Resposta B Exercícios de fixação Questão 1 - C Justificativa: As assertivas I e II estão erradas, primeiro porque, com o advento do Estado Liberal, desponta a estatalidade mínima e absenteísta e não maior participação estatal nos negócios privados e, segundo, porque a eclosão da Revolução Francesa crismou o nascimento da fase de mundos apartados e não de publicização do direito privado. Questão 2 - A Justificativa: A alternativa A é a única que não se coaduna com a fase de fragmentação do direito infraconstitucional. O deslocamento do Código Civil para a centralidade do sistema jurídico é característica da fase de mundos apartados. Questão 3 - D Justificativa: A alternativa D é a única que se coaduna com a fase de fragmentação do direito infraconstitucional. As demais (leitura moral da Constituição, filtragem constitucional e força normativa da Constituição) são características da atual fase. Questão 4 - C Justificativa: Ambas as assertivas são verdadeiras. Na transição para o Welfare State, o Código Civil foi perdendo sua posição de preeminência e dando origem à fragmentação do direito e, na sua esteira, consolida-se a formação de microssistemas autóctones (consumidor, criança e adolescente, locações, direito de família). Da mesma forma, foram as demandas sociais – 29 em reação ao liberalismo – que motivaram a elaboração das chamadas leis de emergência, que, paulatinamente, foram afastando a hegemonia do Código Civil. Questão 5 - B Justificativa: A alternativa B é a única que não se coaduna com a fase de fragmentação do direitoinfraconstitucional. As demais (elaboração da legislação de emergência de cunho social, autonomia do direito de família, do locador e da criança e do adolescente e perda de hegemonia do Código Civil em função do intervencionismo estatal) são características da fase de fragmentação do direito infraconstitucional. Atualizado em: 22 jun. 2014
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