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Normas para Pesquisas com Seres Humanos

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TEMÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA – NP2
TEXTO 1: RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde (...), e 
Considerando o respeito pela dignidade humana e pela especial proteção devida aos participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos;
Considerando o desenvolvimento e o engajamento ético, que é inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico; (...) 
Considerando que todo o progresso e seu avanço devem, sempre, respeitar a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano;
Considerando os documentos que constituem os pilares do reconhecimento e da afirmação da dignidade, da liberdade e da autonomia do ser humano, como o Código de Nuremberg, de 1947, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948;
(...) resolve:
Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:
I - DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
A presente Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado.
Projetos de pesquisa envolvendo seres humanos deverão
atender a esta Resolução.
II - DOS TERMOS E DEFINIÇÕES
A presente Resolução adota as seguintes definições:
II.1 - achados da pesquisa - fatos ou informações encontrados pelo pesquisador no decorrer da pesquisa e que sejam considerados de relevância para os participantes ou comunidades participantes;
II.2 - assentimento livre e esclarecido - anuência do participante da pesquisa, criança, adolescente ou legalmente incapaz, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação. Tais participantes devem ser esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa lhes acarretar, na medida de sua compreensão e respeitados em suas singularidades;
II.3 - assistência ao participante da pesquisa:
II.3.1 - assistência imediata - é aquela emergencial e sem ônus de qualquer espécie ao participante da pesquisa, em situações em que este dela necessite; e
II.3.2 - assistência integral - é aquela prestada para atender complicações e danos decorrentes, direta ou indiretamente, da pesquisa;
II.4 - benefícios da pesquisa - proveito direto ou indireto, imediato ou posterior, auferido pelo participante e/ou sua comunidade em decorrência de sua participação na pesquisa;
II.5 - consentimento livre e esclarecido - anuência do participante da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após esclarecimento completo e pormenorizado sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar; (...)
II.17 - protocolo de pesquisa - conjunto de documentos contemplando a descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais e as informações relativas ao participante da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e a todas as instâncias responsáveis;
II.18 - provimento material prévio - compensação material, exclusivamente para despesas de transporte e alimentação do participante e seus acompanhantes, quando necessário, anterior à participação deste na pesquisa;
II.19 - relatório final - é aquele apresentado após o encerramento da pesquisa, totalizando seus resultados;
II.20 - relatório parcial - é aquele apresentado durante a pesquisa demonstrando fatos relevantes e resultados parciais de seu desenvolvimento;
II.21 - ressarcimento - compensação material, exclusivamente de despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais como transporte e alimentação;
II.22 - risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer pesquisa e dela decorrente;
II.23 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE - documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar;
II.24 - Termo de Assentimento - documento elaborado em linguagem acessível para os menores ou para os legalmente incapazes, por meio do qual, após os participantes da pesquisa serem devidamente esclarecidos, explicitarão sua anuência em participar da pesquisa, sem prejuízo do consentimento de seus responsáveis legais; e
II.25 - vulnerabilidade - estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida ou impedida, ou de qualquer forma estejam impedidos de opor resistência, sobretudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido.
III - DOS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes.
III.1 - A eticidade da pesquisa implica em:
a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida;
b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos;
c) garantia de que danos previsíveis serão evitados; e
d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária.
III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres humanos, deverão observar as seguintes exigências:
a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades concretas de responder a incertezas; (...)
h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar do participante da pesquisa, devendo o(s) pesquisador(es) possuir(em) capacidade profissional adequada para desenvolver sua função no projeto proposto;
i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômico-financeiros; (...)
III.3 - As pesquisas que utilizam metodologias experimentais na área biomédica, envolvendo seres humanos, além do preconizado no item III.2, deverão ainda: (...)
d) assegurar a todos os participantes ao final do estudo, por parte do patrocinador, acesso gratuito e por tempo indeterminado, aos melhores métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos que se demonstraram eficazes:
d.1) o acesso também será garantido no intervalo entre o término da participação individual e o final do estudo, podendo, nesse caso, esta garantia ser dada por meio de estudo de extensão, de acordo com análise devidamente justificada do médico assistente do participante.
IV - DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas as etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida.
IV.1 - A etapa inicial do Processo de ConsentimentoLivre e Esclarecido é a do esclarecimento ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá:
a) buscar o momento, condição e local mais adequados para que o esclarecimento seja efetuado, considerando, para isso, as peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e sua privacidade;
b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando- se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e autonomia dos convidados a participar da pesquisa; e
c) conceder o tempo adequado para que o convidado a participar da pesquisa possa refletir, consultando, se necessário, seus familiares ou outras pessoas que possam ajudá-los na tomada de decisão livre e esclarecida.
IV.2 - Superada a etapa inicial de esclarecimento, o pesquisador responsável, ou pessoa por ele delegada, deverá apresentar, ao convidado para participar da pesquisa, ou a seu representante legal, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que seja lido e compreendido, antes da concessão do seu consentimento livre e esclarecido.
IV.3 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá conter, obrigatoriamente:
a) justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, com o detalhamento dos métodos a serem utilizados, informando a possibilidade de inclusão em grupo controle ou experimental, quando aplicável;
b) explicitação dos possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participação na pesquisa, além dos benefícios esperados dessa participação e apresentação das providências e cautelas a serem empregadas para evitar e/ou reduzir efeitos e condições adversas que possam causar dano, considerando características e contexto do participante da pesquisa;
c) esclarecimento sobre a forma de acompanhamento e assistência a que terão direito os participantes da pesquisa, inclusive considerando benefícios e acompanhamentos posteriores ao encerramento e/ ou a interrupção da pesquisa;
d) garantia de plena liberdade ao participante da pesquisa, de recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma;
e) garantia de manutenção do sigilo e da privacidade dos participantes da pesquisa durante todas as fases da pesquisa;
f) garantia de que o participante da pesquisa receberá uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
g) explicitação da garantia de ressarcimento e como serão cobertas as despesas tidas pelos participantes da pesquisa e dela decorrentes; e
h) explicitação da garantia de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa.
IV.4 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido nas pesquisas que utilizam metodologias experimentais na área biomédica, envolvendo seres humanos, além do previsto no item IV.3 supra, deve observar, obrigatoriamente, o seguinte:
a) explicitar, quando pertinente, os métodos terapêuticos alternativos existentes;
b) esclarecer, quando pertinente, sobre a possibilidade de inclusão do participante em grupo controle ou placebo, explicitando, claramente, o significado dessa possibilidade; e
c) não exigir do participante da pesquisa, sob qualquer argumento, renúncia ao direito à indenização por dano. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido não deve conter ressalva que afaste essa responsabilidade ou que implique ao participante da pesquisa abrir mão de seus direitos, incluindo o direito de procurar obter indenização por danos eventuais.
(...)
V - DOS RISCOS E BENEFÍCIOS
Toda pesquisa com seres humanos envolve risco em tipos e gradações variados. Quanto maiores e mais evidentes os riscos, maiores devem ser os cuidados para minimizá-los e a proteção oferecida pelo Sistema CEP/CONEP aos participantes. Devem ser analisadas possibilidades de danos imediatos ou posteriores, no plano individual ou coletivo. A análise de risco é componente imprescindível à análise ética, dela decorrendo o plano de monitoramento que deve ser oferecido pelo Sistema CEP/CONEP em cada caso específico.
V.1 - As pesquisas envolvendo seres humanos serão admissíveis quando:
a) o risco se justifique pelo benefício esperado; e
b) no caso de pesquisas experimentais da área da saúde, o benefício seja maior, ou, no mínimo, igual às alternativas já estabelecidas para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento.
V.2 - São admissíveis pesquisas cujos benefícios a seus participantes forem exclusivamente indiretos, desde que consideradas as dimensões física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual desses.
V.3 - O pesquisador responsável, ao perceber qualquer risco ou dano significativos ao participante da pesquisa, previstos, ou não, no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, deve comunicar o fato, imediatamente, ao Sistema CEP/CONEP, e avaliar, em caráter emergencial, a necessidade de adequar ou suspender o estudo.
V.4 - Nas pesquisas na área da saúde, tão logo constatada a superioridade significativa de uma intervenção sobre outra(s) comparativa( s), o pesquisador deverá avaliar a necessidade de adequar ou suspender o estudo em curso, visando oferecer a todos os benefícios do melhor regime.
(...)
V.7 - Os participantes da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, têm direito à indenização, por parte do pesquisador, do patrocinador e das instituições envolvidas nas diferentes fases da pesquisa.
VI - DO PROTOCOLO DE PESQUISA
O protocolo a ser submetido à revisão ética somente será apreciado se for apresentada toda documentação solicitada pelo Sistema CEP/CONEP, considerada a natureza e as especificidades de cada pesquisa. A Plataforma BRASIL é o sistema oficial de lançamento de pesquisas para análise e monitoramento do Sistema CEP/ CONEP.
(...)
XI - DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL
XI.1 - A responsabilidade do pesquisador é indelegável e indeclinável e compreende os aspectos éticos e legais.
XI.2 - Cabe ao pesquisador:
a) apresentar o protocolo devidamente instruído ao CEP ou à CONEP, aguardando a decisão de aprovação ética, antes de iniciar a pesquisa;
b) elaborar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; 
c) desenvolver o projeto conforme delineado;
d) elaborar e apresentar os relatórios parciais e final;
e) apresentar dados solicitados pelo CEP ou pela CONEP a qualquer momento;
f) manter os dados da pesquisa em arquivo, físico ou digital, sob sua guarda e responsabilidade, por um período de 5 anos após o término da pesquisa;
g) encaminhar os resultados da pesquisa para publicação, com os devidos créditos aos pesquisadores associados e ao pessoal técnico integrante do projeto; e
h) justificar fundamentadamente, perante o CEP ou a CONEP, interrupção do projeto ou a não publicação dos resultados. (...)
TEXTO 2: Manual para a Elaboração de Projetos e Relatórios de Pesquisa
II. O Projeto de Pesquisa e o Relatório de Pesquisa 
O primeiro item da Introdução é o TEMA (Revisão da Literatura). Antecede a definição do problema que será estudado na pesquisa. Ele serve para a composição do pano de fundo conceitual a partir do qual serão definidos e construídos os problemas, objetivos e métodos que caracterizam a pesquisa. 
Vale ressaltar que na apresentação do Tema o autor deve deixar claro para o leitor quais as suas afiliações científicas e filosóficas, em outras palavras, qual a concepção de homem que oferece ponto de partida para a construção da Pesquisa, informação que irá propiciar a avaliação da coerência, entre outros, entre a definição do problema de pesquisa e a escolha da metodologia utilizada para investigá-lo. 
No item OBJETIVOS são apresentados os objetivos gerais da pesquisa e, a critério do autor, os objetivos específicos que se pretende sejam investigados ali. A função dos objetivos é estabelecer as metas que o pesquisador irá perseguir e o lugar a que desejachegar ao fim do trabalho. Os objetivos assim construídos e apresentados não garantem que o pesquisador tenha sucesso em alcançá-los, mas permitem que sua proposta seja seguida pelo pesquisador e acompanhada pelo leitor. Permitem, ainda, a confrontação, com facilidade, ao final da pesquisa, com os resultados obtidos.
As HIPÓTESES, apresentadas numa hierarquia decrescente quanto à sua importância, fazem referência especificamente às questões que a pesquisa deve responder a partir de seu desenvolvimento e são associadas aos objetivos específicos já apresentados. Elas são as respostas prováveis para o problema investigativo, são afirmativas que serão testadas no desenvolvimento da pesquisa. As hipóteses serão postas à prova empiricamente, no caso das pesquisas experimentais, e serão guias para a investigação no caso da pesquisa qualitativa. O levantamento de hipóteses para a pesquisa qualitativa não deve ser visto como uma regra, mas como uma possibilidade. Por exemplo, se no caso de uma pesquisa exploratória as hipóteses não apresentam utilidade, o mesmo não pode ser dito em relação a um estudo de campo ou a um estudo de caso, nos quais há claramente uma pergunta a ser respondida. 
Finalmente, através da JUSTIFICATIVA o autor tem a oportunidade de recorrer à literatura pesquisada (o interesse da pesquisa para outros investigadores), às circunstâncias institucionais (o interesse na formação do aluno) e às circunstâncias sociais (o interesse da pesquisa para a comunidade, especialmente aquela relacionada diretamente à pesquisa) para defender a relevância teórico-científica e a importância social e acadêmica daquilo que vai ser investigado.
 IV. Aspectos institucionais e éticos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa => Por aspectos éticos aqui se quer referir ao compromisso do pesquisador com o bem-estar e a proteção dos sujeitos que se dispõem a participar de uma determinada pesquisa, tanto durante a realização da mesma – a coleta de dados – quanto adiante, na divulgação dos resultados da pesquisa para a comunidade científica e para a sociedade. As recomendações de caráter ético que são indicadas a seguir se dirigem especialmente às pesquisas realizadas no âmbito do Curso de Psicologia, tendo em vista suas características e necessidades. Vale ressaltar que em outros ambientes institucionais, outras recomendações podem se fazer necessárias.
ANOTAÇÕES DE AULA:
- Todo Tema => fazemos um levantamento da bibliografia relativa ao tema (estado da arte: estado em que se encontra o conhecdimento no momento atual). 
- Objetivos => Diretos e Factíveis.
- Objetivo Específico => é uma “abertura” do Objetivo Geral (reduz, e não estende).
- HIPÓTESES (se for na Fenomenologia: Não existem) => Colocar ou descrever que não existem hipótese porque a metodologia de trabalho não comporta. Elas são criadas a partir do diálogo com a literatura (não criar hipóteses “do nada”).
- JUSTIFICATIVAS => Relevância do Projeto de Pesquisa. “Finalmente, através da justificativa o autor tem ... ser investigado”. 
TEXTO 3: O DESAFIO DA PESQUISA SOCIAL - MINAYO
1. Ciência e cientifícidade
Do ponto de vista antropológico, podemos dizer que sempre existiu preocupação do homo sapiens com o conhecimento da realidade. A ciência é apenas uma forma de expressão dessa busca, não exclusiva, não conclusiva, não definitiva.
As explicações históricas da hegemonia da ciência sobre outras formas de conhecimento não cabe aqui aprofundar. Mencionaremos duas razões: a primeira, de ordem externa a ela mesma, está na sua possibilidade de responder a questões técnicas e tecnológicas postas pelo desenvolvimento industrial. A segunda razão, de ordem interna, consiste no fato de os cientistas terem conseguido estabelecer uma linguagem fundamentada em conceitos, métodos e técnicas para compreensão do mundo, das coisas, dos fenômenos, dos processos e das relações. 
O campo científico, apesar de sua normatividade, é permeado por conflitos e contradições. E para nomear apenas uma das controvérsias que aqui nos interessa, citamos o grande embate sobre cientificidade das ciências sociais, em comparação com as ciências da natureza. Há aqueles que buscam a uniformidade dos procedimentos para compreender o natural e o social como condição para atribuir o estatuto de "ciência" ao campo social. Há os que reivindicam a total diferença e especificidade do campo humano.
A interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra em várias questões. A primeira diz respeito à possibilidade concreta de tratarmos de uma realidade da qual nós próprios, enquanto seres humanos, somos agentes: - essa ordem de conhecimento não escaparia radicalmente a toda possibilidade de objetivação?
Em segundo lugar, será que, buscando a objetivação própria das ciências naturais, não estaríamos descaracterizando o que há de essencial nos fenômenos e processos sociais, ou seja, o profundo sentido dado pela subjetividade?
Por fim, e em terceiro lugar, que método geral nós poderíamos propor para explorar uma realidade tão marcada pela especificidade e pela diferenciação? Como garantir a possibilidade de um acordo fundado numa partilha de princípios e não de procedimentos?
Em resumo, as ciências sociais hoje, como no passado, continuam na pauta de plausibilidade enquanto conhecimento científico. Seu dilema seria seguir os caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto? Ou encontrar seu núcleo mais profundo, abandonando a ideia de cientificidade?
A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos. A história da ciência revela não um "a priori", mas o que foi produzido em determinado momento histórico com toda a relatividade do processo de conhecimento.
Poderíamos dizer que o labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se para certas direções privilegiadas. E ao fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da historicidade, da colaboração e, sobretudo, revestem-se da humildade de quem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído.
Ora, se existe uma ideia de devir no conceito de cientifícidade, não se pode trabalhar, nas ciências sociais, apenas com a norma da cientificidade já construída. A pesquisa social se faz por aproximação, mas, ao progredir, elabora critérios de orientação cada vez mais precisos. 
O OBJETO das Ciências Sociais é HISTÓRICO. Isto significa que cada sociedade humana existe e se constrói num determinado espaço e se organiza de forma particular e diferente de outras. Por sua vez, todas as que vivenciam a mesma época histórica têm alguns traços comuns, dado o fato de que vivemos num mundo marcado pelo influxo das comunicações. Igualmente, as sociedades vivem o presente marcado por seu passado e é com tais determinações que constroem seu futuro, numa dialética constante entre o que está dado e o que será fruto de seu protagonismo. 
Como consequência da primeira característica, é importante dizer que o OBJETO de estudo das ciências sociais possui CONSCIÊNCIA HISTÓRICA. Não é apenas o investigador que tem capacidade de dar sentido ao seu trabalho intelectual. O nível de consciência histórica das Ciências Sociais está referido ao nível de consciência histórica da sociedade de seu tempo, embora essas criações humanas não se confundam.
Em terceiro lugar, é preciso ressaltar que nas Ciências Sociais existe uma IDENTIDADE ENTRE SUJEITO E OBJETO. A pesquisa nessa área lida com seres humanos que, por razões culturais de classe, de faixa etária, ou por qualquer outro motivo, têm um substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos, como lembra Lévy-Strauss: "Numa ciência, onde o observador é da mesma natureza que o objeto, e o observadoré, ele próprio, uma parte de sua observação". 
Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente ideológica. Na verdade, não existe uma ciência neutra. Toda ciência - embora mais intensamente as Ciências Sociais - passa por interesses e visões de mundo historicamente criadas, embora suas contribuições e seus efeitos teóricos e técnicos ultrapassem as intenções de seus próprios autores. 
Por fim, é preciso afirmar que o OBJETO das Ciências Sociais é ESSENCIALMENTE QUALITATIVO. A realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. Essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto, os códigos das ciências que por sua natureza são sempre referidos e recortados são incapazes de conter a totalidade da vida social. 
Este pequeno livro trata do caráter especificamente QUALITATIVO das Ciências Sociais e da metodologia apropriada para reconstruir teoricamente os processos, as relações, os símbolos e os significados da realidade social.
2. Conceito de metodologia de pesquisa
Entendemos por METODOLOGIA o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). A metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está referida a elas. Dizia Lenin que "o método é a alma da teoria”, distinguindo a forma externalizada com que muitas vezes é abordado o processo de trabalho científico. 
Nada substitui, no entanto, a criatividade do pesquisador. Feyerabend observa que o progresso da ciência está associado mais à violação das regras do que à sua observância. "Dada uma regra qualquer, por mais fundamental e necessária que se afigure para a ciência, sempre haverá circunstâncias em que se torna conveniente não apenas ignorá-la como adotar a regra oposta". Em Estrutura das revoluções científicas (1978).
Pesquisa
Entendemos por pesquisa a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. 
Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento geralmente se vincula a conhecimentos anteriores ou demanda a criação de novos referenciais.
Teorias
Os conhecimentos que foram construídos cientificamente sobre determinado assunto, por outros estudiosos que o abordaram antes de nós e lançam luz sobre nossa pesquisa, são chamados teorias.
A teoria é construída para explicar ou para compreender um fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e processos. Este conjunto constitui o domínio empírico da teoria (ou seja, a dinâmica da prática que ela explica ou interpreta). A teoria propriamente dita sempre será um conjunto de proposições, um discurso abstrato sobre a realidade. Com certeza todos já ouviram falar em positivismo, marxismo, teoria da ação, compreensivismo. Essas são as principais grandes teorias das ciências sociais. 
Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, dá conta de explicar ou interpretar todos os fenômenos e processos. Por vários motivos. Primeiro porque a realidade não é transparente e é sempre mais rica e mais complexa do que nosso limitado olhar e nosso limitado saber. Segundo, porque a eficácia da prática científica se estabelece, não por perguntar sobre tudo, e, sim, quando recorta determinado aspecto significativo da realidade, o observa, e, a partir dele, busca suas interconexões sistemáticas com o contexto e com a realidade. Teorias, portanto, são explicações da realidade. Ela é feita de um conjunto de proposições. 
Proposições
Proposições são declarações afirmativas, são hipóteses comprovadas sobre fenômenos ou processos sobre os quais interrogamos. As proposições que compõem uma teoria devem ter características básicas:
(a) Serem capazes de lançar luz sobre questões reais.
(b) Serem claras e inteligíveis.
(c) Apresentarem com precisão as relações abstratas entre elementos, fatos e processos que buscam explicar ou interpretar.
Ao estabelecer um conjunto de proposições logicamente relacionadas, a teoria constrói um discurso com as seguintes características: ordenação do que é principal e do que é derivado ou secundário, apresentação sistemática, organização do pensamento e sua articulação com o real concreto. A proposta de uma teoria é ser compreendida pelos membros de uma comunidade acadêmica que tem formação para entender e seguir o raciocínio da reflexão e sua vinculação com o mundo da vida.
Conceitos
Os termos mais importantes de um discurso científico são os conceitos. Conceitos são vocábulos ou expressões carregados de sentido, em torno dos quais existe muita história e muita ação social. Por exemplo, o conceito de mudança: ele não é apenas uma palavra. Nele se concentra muita teoria, muitas representações da realidade, muita posição e muita história. A teoria positivista define mudança de um jeito totalmente diferente da teoria da ação social ou da teoria marxista.
Em seu aspecto cognitivo, o conceito é delimitador e focalizador do tema em estudo. Costumamos aconselhar aos que se aventuram a fazer um projeto de pesquisa que, quando formulam um objeto de estudo, a seguir, conceitue, detalhadamente, cada um dos termos que o compõem. Vamos a um exemplo. Vou estudar o "comportamento dos adolescentes masculinos, futuros pais, quando descobrem que sua namorada ficou grávida”. Este é o objeto. Este o problema de pesquisa. 
Quando delimitado, todo conceito deve ser valorativo, pragmático e comunicativo. Valorativos, no sentido de que o pesquisador precisa explicitar a que corrente teórica os conceitos que adotou estão filiados. Pragmáticos, no que se refere a sua capacidade de serem operativos para descrever e interpretar a realidade. Comunicativos, ou seja, claros, precisos, abrangentes e ao mesmo tempo específicos para serem entendidos pelos interlocutores da pesquisa.
3. Pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. 
O universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. Por isso NÃO existe um continuum entre abordagens quantitativas e qualitativas, colocando uma hierarquia em que as pesquisas quantitativas ocupariam um primeiro lugar, sendo "objetivas e científicas". E as qualitativas ficariam no final da escala, ocupando um lugar auxiliar e exploratório, sendo "subjetivas e impressionistas". 
A diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade social é de natureza e não de escala hierárquica. Enquanto os cientistas sociais que trabalham com estatística visam a criar modelos abstratos ou a descrever e explicar fenômenos que produzem regularidades, são recorrentes e exteriores aos sujeitos, a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo dos significados.Esse nível de realidade não é visível, precisa ser exposta e interpretada pelos próprios pesquisados.
Os dois tipos de abordagem e os dados delas advindos, porém, não são incompatíveis. Entre eles há uma oposição complementar que, quando bem trabalhada teórica e praticamente, produz riqueza de informações, aprofundamento e maior fidedignidade interpretativa. Mas essa é uma opinião nossa, e tal afirmação tem muitas controvérsias entre teóricos e pesquisadores. As divergências quase sempre ocorrem no debate entre correntes de pensamento e as principais serão citadas a seguir.
Positivismo
A principal influência do positivismo nas ciências sociais consiste na utilização da filosofia e dos conceitos matemáticos para a explicação da realidade. Sua consequência é a apropriação da linguagem de variáveis para especificar atributos e qualidades do objeto de investigação. Os fundamentos da pesquisa quantitativa nas ciências sociais são os próprios princípios clássicos utilizados nas ciências da natureza: (...)
Objetividade
No cerne da defesa do método quantitativo como sendo suficiente para explicar a realidade social está a discussão da objetividade. Para os positivistas, a análise social é objetiva quando é realizada sobre uma realidade concreta ou pela criação de modelos matemáticos (altamente abstratos) por instrumentos padronizados pretensamente "neutros". 
Compreensivismo
Em oposição ao positivismo, a chamada Sociologia Compreensiva responde diferentemente à questão qualitativa. Essa corrente teórica coloca como tarefa mais importante das Ciências Sociais a compreensão da realidade humana vivida socialmente. Em suas diferentes manifestações - fenomenologia, etnometodologia, interacionismo simbólico – SIGNIFICADO é o conceito central da investigação.
Num embate direto com o positivismo, a Sociologia Compreensiva propõe a subjetividade como o fundamento do sentido da vida social e defende-a como constitutiva do social e inerente à construção da objetividade nas Ciências Sociais. 
Os autores compreensivistas não se preocupam em quantificar e em explicar, e sim em compreender, este é o verbo da pesquisa qualitativa. Compreender relações, valores, atitudes, crenças, hábitos e representações e a partir desse conjunto de fenômenos humanos gerados socialmente, compreender e interpretar a realidade. O pesquisador que trabalha com estratégias qualitativas atua com a matéria-prima das vivências, das experiências, da cotidianeidade e também analisa as estruturas e as instituições, mas entendem-nas como ação humana objetivada. Ou seja, para esses pensadores e pesquisadores, a linguagem, os símbolos, as práticas, as relações e as coisas são inseparáveis. Se partirmos de um desses elementos, temos que chegar aos outros, mas todos passam pela subjetividade humana.
Marxismo
O marxismo enquanto abordagem que considera a historicidade dos processos sociais e dos conceitos, as condições socioeconômicas de produção dos fenômenos e as contradições sociais é uma outra teoria sociológica importante. Enquanto método, propõe a abordagem dialética que teoricamente faria um desempate entre o positivismo e o compreensivismo, pois junta a proposta de analisar os contextos históricos, as determinações socioeconômicas dos fenômenos, as relações sociais de produção e de dominação com a compreensão das representações sociais.
Várias críticas têm sido feitas às teorias acima descritas e, como já dissemos, essas críticas têm como base o fato de que nenhuma delas consegue explicar a realidade que é mais rica que qualquer discurso construído sobre ela. 
Pessoalmente, advogamos a importância de trabalhar com a complexidade, a especificidade e as diferenciações internas dos nossos objetos de pesquisa que precisam ser, ao mesmo tempo, contextualizados e tratados em sua singularidade. Acreditamos na relação fértil e frutuosa entre abordagens quantitativas e qualitativas que devem ser vistas em oposição complementar. Este livro tratará apenas dos instrumentos de pesquisa qualitativa. 
4. Ciclo da pesquisa qualitativa
A pesquisa é um trabalho artesanal que não prescinde da criatividade, realiza-se fundamentalmente por uma linguagem baseada em conceitos, proposições, hipóteses, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular. A esse ritmo denominamos Ciclo de pesquisa, ou seja, um peculiar processo de trabalho em espiral que começa com uma pergunta e termina com uma resposta ou produto que, por sua vez, dá origem a novas interrogações.
Para efeitos bem práticos, dividimos o processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa em três etapas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e documental.
A fase exploratória consiste na produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos necessários para preparar a entrada em campo. É o tempo dedicado - e que merece empenho e investimento - a definir e delimitar o objeto, a desenvolvê-lo teórica e metodologicamente, a colocar hipóteses ou alguns pressupostos para seu encaminhamento, a escolher e a descrever os instrumentos de operacionalização do trabalho, a pensar o cronograma de ação e a fazer os procedimentos exploratórios para escolha do espaço e da amostra qualitativa.
O trabalho de campo consiste em levar para a prática empírica a construção teórica elaborada na primeira etapa. Essa fase combina instrumentos de observação, entrevistas ou outras modalidades de comunicação e interlocução com os pesquisados, levantamento de material documental e outros. Ela realiza um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação e refutação de hipóteses e de construção de teoria. 
A Análise e tratamento do material empírico e documental, diz respeito ao conjunto de procedimentos para valorizar, compreender, interpretar os dados empíricos, articulá-los com a teoria que fundamentou o projeto ou com outras leituras teóricas e interpretativas cuja necessidade foi dada pelo trabalho de campo. Podemos subdividir esse momento em três tipos de procedimento:
(a) ordenação dos dados; + (b) classificação dos dados; + (c) análise propriamente dita.
O tratamento do material nos conduz a uma busca da lógica peculiar e interna do grupo que estamos analisando, sendo esta a construção fundamental do pesquisador. Ou seja, análise qualitativa não é uma mera classificação de opinião dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações. A busca da compreensão e da interpretação à luz da teoria aporta uma contribuição singular e contextualizada do pesquisador.
O ciclo de pesquisa não se fecha, pois toda pesquisa produz conhecimento e gera indagações novas. Mas a ideia do ciclo se solidifica não em etapas estanques, mas em planos que se complementam. Essa ideia também produz delimitação do processo de trabalho científico no tempo, por meio de um cronograma. Desta forma, valorizamos cada parte e sua integração no todo. E pensamos sempre num produto que tem começo, meio e fim e ao mesmo tempo é provisório. Falamos de uma provisoriedade que é inerente aos processos sociais e que se refletem nas construções teóricas.
ANOTAÇÕES DE AULA:
Cientificidade:
	- Eficaz para as Ciências Naturais (resultados reproduzíveis e objetivos)
- E para as Ciências Sociais? O ali produzido pode ser considerado Ciência? Ela diz que SIM (o saber nela construído é também científico).
1- Dois conhecimentos diferentes que vão se aproximar: Ciência e Cientificidade.
2- Nas Ciências Sociais => não exaurimos os fenômenos estudados (não existe nenhuma Teoria que dê conta de toda uma realidade; o que fazemos é uma aproximação, um recorte 
3- Objeto das Ciências Sociais: é o objeto Histórico. Existe uma semelhança entre o entrevistador e o entrevistado.
Pesquisas Qualitativas:
	- 1- Positivismo => reprodutibilidade; observáveis
	- 2- Compreensivismo => significado; compreender
-3- Marxismo => olha tanto para a materialidade (questão objetiva) quanto para o sujeito (questão subjetiva).
TEXTO 4: Cap. 2 - PROJETO DE PESQUISA COMO EXERCÍCIO CIENTÍFICO E ARTESANATO INTELECTUAL
1. Introdução
Um projeto de pesquisa constitui a síntese de múltiplos esforços intelectuais que se contrapõem e se complementam: de abstração teórico-conceitual e de conexão com a realidade empírica, de exaustividade e síntese, de inclusões e recortes, e, sobretudo, de rigor e criatividade. 
O projeto é construído artesanalmente por um artífice através do trabalho intelectual. É, portanto, um artefato. O que queremos dizer com isso?
Primeiro que o projeto de pesquisa não surge espontaneamente, unicamente pela vasta experiência ou pelo grande compromisso social de um pesquisador em relação a certa temática. Embora esses quesitos também sejam muito importantes e presentes, pois como dizia o sociólogo americano Wright Mills os pensadores mais admiráveis não separam seu trabalho de suas vidas, "encaram a ambos demasiado a sério para permitir tal dissociação, e desejam usar cada uma dessas coisas para o enriquecimento de outra". Entretanto, se torna necessário o trabalho sistemático para o domínio de teorias e métodos justamente para que o pesquisador possa ser criador, evitando o "fetichismo do método e da técnica" para que possa usá-los artesanalmente, adequando-os, reinventando os caminhos próprios para sua investigação.
Segundo é que, ao construir um projeto, fabricamos também uma ferramenta, um artefato, cuja materialidade não se apresenta somente no número de páginas escritas ou num arquivo de um editor de textos, mas que se concretizará na realização do trabalho investigativo. Artefato porque tanto é fruto da mão de obra humana, intencionalmente criado, quanto no sentido de ser resultado do uso de métodos particulares em pesquisa. 
Podemos ponderar que esta ferramenta-guia não se limitaria à metáfora do prumo de um pedreiro, que se destina a corrigir a retidão do ângulo de uma parede, evitando rigorosamente os desvios. Melhor talvez fosse pensar através da metáfora de outras ferramentas-guia, tais como o astrolábio e o sextante, instrumentos utilizados pelos antigos navegadores para se lançarem em mares desconhecidos, desafiadores e fascinantes.
2. Dimensões de um projeto de pesquisa
Quando escrevemos um projeto, estamos definindo uma cartografia de escolhas para abordar a realidade (o que pesquisar, como, por que, por quanto tempo etc.). Isso porque o projeto científico trabalha com um objeto construído e não com o objeto percebido, nem com o objeto real.
O objeto percebido é aquele que se apresenta aos nossos sentidos pela forma de imagens, é o que vemos e sentimos e que, na maioria das vezes se apresenta como "real", natural e transparente (aquele que se nos apresenta, que está posto). Em pesquisa social sabemos o quanto estas percepções sofrem influências das nossas visões de mundo, possuidoras de uma historicidade, portanto, em nada "naturais".
O objeto real diz respeito à totalidade das relações da existência social. Suas fronteiras e complexidade, porque dinâmicas e constantemente reinventadas, excedem a apreensão do conhecimento científico (inapreensível).
O objeto construído, por sua vez, constitui uma tradução, uma versão do real a partir de uma leitura orientada por conceitos operadores. É resultado de um processo de objetivação teórico-conceitual de certos aspectos ou relações existentes no real (fazemos um recorte do real a partir do nosso conhecimento, teoria, numa visão conceitual). Este é um ponto muito caro às ciências sociais. Marx já afirmava que a ciência se apropria da totalidade do social pelo pensamento, por abstrações conceituais que se debruçam sobre o concreto, Weber postulava que a ciência social não trabalha com as conexões reais entre coisas, mas com conexões conceituais entre problemas e Durkheim, que, assim como Marx, lembrava a importância de realizar uma ruptura com o senso comum, com as percepções imediatas.
Ao elaborarmos um projeto científico estaremos lidando, ao mesmo tempo, com pelo menos três dimensões importantes que estão interligadas. 
A dimensão técnica, que trata das regras reconhecidas como científicas para a construção de um projeto, isto é, como definir um objeto, como abordá-lo e como escolher os instrumentos mais adequados para a investigação. Sendo que técnica sempre diz respeito à montagem de instrumentos, o projeto de pesquisa é visto neste sentido como um instrumento da investigação.
A dimensão ideológica se relaciona às escolhas do pesquisador. Quando definimos o que pesquisar, a partir de que base teórica e como pesquisar, estamos fazendo escolhas que são, mesmo em última instância, ideológicas. Hoje, mesmo os cientistas naturais reconhecem que a neutralidade da investigação científica é um mito.
Não estamos, é certo, nos referindo a uma visão maniqueísta, onde o pesquisador reconstrói a realidade com "segundas intenções políticas". Estamos, sim, falando de uma característica intrínseca ao conhecimento científico: ele é sempre histórico e socialmente condicionado. O pesquisador opera escolhas (mesmo sem ter a percepção clara disto), tendo como horizontes sua posição social e a mentalidade de um momento histórico concreto.
A dimensão cientifica de um projeto de pesquisa articula estas duas dimensões anteriores.
A pesquisa científica busca ultrapassar o senso comum (que por si é uma reconstrução da realidade) através do método científico. Como já dito, o método científico permite que a realidade social seja reconstruída enquanto objeto do conhecimento, através de um processo de categorização (possuidor de características específicas) que une dialeticamente o teórico e o empírico.
3. Os propósitos e a trajetória de elaboração de um projeto de pesquisa
 “O projeto de pesquisa é o desfecho de várias ações e esforços do pesquisador. Ele culmina uma trajetória anterior marcada por atividades e atitudes:
(1) De pesquisa bibliográfica + (2) De articulação criativa + (3) De humildade.
Considerando-se os vários ciclos de uma pesquisa, esta etapa é reconhecida como a fase exploratória e é, sem dúvida, um de seus momentos mais importantes. Compreende várias fases da construção de uma trajetória de investigação, tais como:
a) escolha do tópico de investigação + b) delimitação do objeto + c) definição dos objetivos + d) construção do marco teórico conceitual + e) seleção dos instrumentos de construção/coleta de dados + f) exploração de campo.
4. Os elementos constitutivos de um projeto de pesquisa
O projeto de pesquisa deve, fundamentalmente, responder as seguintes perguntas: 
• O que pesquisar? (Definição do problema, hipóteses, base teórica e conceitual.)
• Para que pesquisar? (Propósitos do estudo, seus objetivos.)
• Por que pesquisar? (Justificativa da escolha do problema.)
• Como pesquisar? (Metodologia)
• Por quanto tempo pesquisar? (Cronograma de execução.) 
• Com que recursos? (Orçamento)
• A partir de quais fontes? (Referências)
O que pesquisar? A construção do objeto de pesquisa
Definição do tema e escolha do problema
O tema de uma pesquisa indica a área de interesse ou assunto a ser investigado. Trata-se de uma delimitação ainda bastante ampla. Por exemplo, quando alguém diz que deseja estudar a questão "exploração sexual de crianças e adolescentes", está se referindo ao assunto de seu interesse. Contudo, é necessário para a realização de uma pesquisa um recorte mais preciso deste assunto.
Este encontro com o tema é o primeiro passo para o trabalho científico. Sugere-se que o pesquisador faça três indagações sobre o tema eleito: se lhe agrada e motiva; se possui relevância social e acadêmica; e se há fontes de pesquisa sobre ele.
Ao formulamos perguntas ao tema estaremos construindo sua problematização. Um problema decorre, portanto, de um aprofundamento do tema. Ele é sempre individualizado e específico.
O apoio de revisões bibliográficassobre os estudos já feitos ajuda a mapear as perguntas já elaboradas naquela área de conhecimento, permitindo identificar o que mais tem se enfatizado e o que tem sido pouco trabalhado. Construir um diário pessoal de perguntas e questionamentos sobre o tema também é útil. A escolha de certas variáveis também auxilia a delimitação do problema. 
FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
As HIPÓTESES são afirmações provisórias ou uma solução possível a respeito do problema colocado em estudo. Entretanto, as hipóteses não constituem os pressupostos de estudo, porque estes já estão confirmados pela literatura, constituindo o acervo de evidências prévias sobre a questão.
A HIPÓTESE é também um diálogo que se estabelece entre o olhar criativo do pesquisador, o conhecimento existente e a realidade a ser investigada.
Por fim, vale lembrar que os estudos de natureza exploratória, devido a sua característica de sondagem de relações, fatos e processos muito pouco conhecidos dispensam a elaboração de hipóteses, porque os pesquisados não têm ainda os subsídios de comparação para elaborá-las.
Definição do quadro teórico
O quadro teórico de um projeto representa o conjunto de princípios, definições, conceitos e categorias que articulados entre si formam um sistema explicativo coerente. 
A definição teórica e conceitual é um momento importante da elaboração do projeto científico. É sua base de sustentação e rigor, orientando as formas de análise do objeto. Envolve escolhas e mesmo concordância ideológica do pesquisador com as explicações contidas no quadro teórico apresentado.
Remetendo este item a uma dimensão técnica, devemos dizer que é imprescindível a definição clara dos pressupostos teóricos, das categorias e conceitos a serem utilizados. Ainda que hoje as conexões teóricas de diferentes origens sejam bem-vindas, há que se ter domínio sobre as implicações explicativas de tais articulações, mantendo uma unidade lógica e coerente na abordagem proposta.
Devemos tomar cuidado para não reescrevermos a obra dos autores que embasam o quadro teórico escolhido, reconstruindo um verdadeiro tratado e certamente de menor qualidade. Muitos trabalhos confundem a base teórica do estudo com uma revisão da literatura. A primeira busca mapear o que é dito, por quem e quando. A base teórica já estabelece um foco sobre o que adotamos como as balizas de nosso estudo. Devemos, então, ser sintéticos e objetivos, estabelecendo, primordialmente, um diálogo entre a teoria e o problema a ser investigado. (...) FIM
ANOTAÇÕES DE AULA:
- o trabalho metodológico NÃO é uma camisa de força, mas é fundamental haver um método, uma sistematização. Ex.: definir cronograma de execução de tarefas
OBJETO PERCEBIDO: é o que surge aos nossos olhos; OBJETO REAL: Objeto na sua Totalidade. Não se consegue chegar à essência da realidade (esgotar o tema).
- Objeto de Pesquisa é diferente de Sujeito
- MARCO TEÓRICO CONCEITUAL => pode constar abordagens diferentes, desde que se saiba articular os conceitos (e não deixar a impressão de que foi uma escolha ingênua).
TEXTO 5: O QUE É ÉTICA EM PESQUISA - Dirce Guilhem e Débora Diniz
A HISTÓRIA DA ÉTICA EM PESQUISA
O tema da ética em pesquisa acompanha a história da pesquisa médica no século XX. O s avanços alcançados durante a Segunda Guerra Mundial, tais como a descoberta de vacinas e de novos métodos cirúrgicos e de tratamento, foram desafiados por inúmeros questionamentos éticos sobre como incluir participantes nas pesquisas científicas. No caso de pesquisas conduzidas durante a guerra, em particular das que incluíram abusos cometidos por médicos e pesquisadores nazistas, as controvérsias éticas foram ainda mais intensas.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - ENTRE ALEMÃES E JAPONESES, OS PARTICIPANTES DAS PESQUISAS
O fim da Segunda Guerra Mundial foi um marco no debate sobre ética em pesquisa. Entre as denúncias dos crimes de guerra, estavam os cruéis experimentos dos médicos nazistas. A expressão "cobaias" passou a ser utilizada para descrever a condição de vulnerabilidade dos participantes nesses experimentos, e não mais apenas o uso de animais não-humanos em pesquisas científicas.1 As "cobaias humanas" de Joseph Mengele, o principal mentor do projeto médico e científico alemão durante a guerra, eram grupos oprimidos e segregados pelo ideário nazista: judeus, testemunhas-de-jeová, ciganos, minorias raciais e pessoas portadoras de deficiência.2
As "cobaias humanas" eram compulsoriamente recrutadas nos campos de concentração, ou seja, eram pessoas sob o comando do regime nazista, as quais não escolhiam voluntariamente participar dos experimentos. Os centros de pesquisa de Mengele estavam espalhados em diferentes campos de concentração, formando um complexo experimental, o que facilitava a seleção compulsória ou mesmo a substituição de quem morria durante as pesquisas. Diferentes tipos de investigação foram realizados: desde pesquisas para atender às necessidades das frentes de batalha até experimentos relacionados a doenças infecciosas, estudos para testar novos medicamentos e programas de operação e dissecação de pessoas sem anestesia. Não é exagero afirmar que todos esses eram procedimentos humilhantes e dolorosos. Muitos participantes morriam durante os testes.
Alguns experimentos foram amplamente divulgados após o término da guerra, abrindo uma extensa discussão sobre a ética em pesquisa. Prisioneiros de guerra foram forçados a beber água salgada para que se testasse a sobrevida sem água potável. Outros foram mantidos em tanques de água com baixíssimas temperaturas a fim de que se verificasse por quanto tempo sobreviveriam; em seguida, eles eram aquecidos para que se observasse sua recuperação termodinâmica. Cada experimento tinha uma justificativa no projeto nazista: o teste de termodinâmica, por exemplo, visava salvar os pilotos da Luftwaffe que, abatidos em vôo, sobreviviam à queda, mas morriam por hipotermia nas águas geladas.
As crianças também não foram poupadas dos abusos dos experimentos nazistas. A fim de que se conhecesse a história natural de doenças, crianças saudáveis foram infectadas com o vírus da hepatite, por exemplo.4 Outras foram submetidas a cirurgias experimentais sem anestesia para que se observassem reações a estímulos. Entre os procedimentos cirúrgicos, realizaram-se operações para mudança de sexo, castração, remoção de órgãos e membros. Um dos experimentos mais abusivos da história da medicina nazista foi também conduzido com crianças: a injeção de anilina nos olhos de gêmeos idênticos para testar a mudança de cor. 
Houve ainda casos de pessoas que foram deliberadamente fendas e que tiveram agentes infecciosos injetados em seus ferimentos a fim de que, posteriormente, fossem testados medicamentos. Em tais testes, essas pessoas eram divididas em dois grupos: as que recebiam tratamento e as que não o recebiam. O objetivo era conhecer a eficácia do tratamento estudado, simulando situações de ferimento e infecção comuns nos campos de batalha. No entanto, experimentos abusivos em nome do progresso científico não foram conduzidos apenas pelos médicos alemães sob o regime nazista. Durante a ocupação japonesa na China e na Coréia na Segunda Guerra, pessoas foram submetidas a experiências realizadas com armas químicas e biológicas, o que levou à morte pelo menos trezentos mil seres humanos. 
Ao contrário do caso alemão, os japoneses utilizaram poucas "cobaias prisioneiras", pois o alvo principal era a população civil.5 A equipe de pesquisa era composta por milhares de médicos, cientistas, técnicos auxiliares e enfermeiros que trabalhavam intensamente em vários centros. A missão desses cientistas e sua equipe era a de disseminar epidemias em diferentes regiões, uma forma de guerra biológica disfarçada, porém com grande eficácia. Além da população civil, visava-se atingir plantações, de modo a causar a fome e aumentar a exposição das pessoas às epidemias. Em laboratórios bem equipados, eram realizadas vivissecções sem anestesia nos camponeses.
Os centrosde experimentação ficaram conhecidos como "fábricas de morte". Uma delas, a Unidade 731, na Manchúria, guarda histórias de tortura. A rotina de pesquisa consistia em oferecer boa alimentação e exercícios físicos regulares às pessoas envolvidas. O objetivo desse tratamento cuidadoso era garantir que os participantes estivessem em excelentes condições de saúde, pois seriam dissecados vivos e teriam suas cabeças abertas para avaliação da massa encefálica. Assim como muitos procedimentos nazistas, essas eram práticas realizadas sem qualquer anestesia.
No entanto, durante quarenta anos. esse foi um dos mais importantes segredos da guerra entre os oficiais japoneses. A descoberta dos crimes ocorreu de uma forma pouco usual: um estudante encontrou as anotações de um oficial em uma loja de livros usados. O anúncio gerou uma série de protestos dos sobreviventes, o que provocou tensão diplomática entre os países envolvidos. Em meio às controvérsias éticas, estava a pergunta sobre se os resultados dessas pesquisas poderiam ter sua validade científica reconhecida e serem utilizados pela comunidade internacional.5 Os pesquisadores deveriam ter sido julgados por crime de guerra, mas o tribunal que realizou o julgamento desses crimes em Tóquio não os colocou na pauta.
O JULGAMENTO DE NUREMBERGUE
A cidade de Nurembergue, na Alemanha, foi o centro de uma série de julgamentos realizados por uma corte internacional - o Tribunal de Nurembergue. Esse tribunal resultou de um acordo assinado em Londres, em agosto de 1945, por representantes dos quatro países vencedores da guerra: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e a então União Soviética. A corte era composta por juízes e promotores dessas quatro nações e foi presidida pelo promotor estadunidense Robert Jackson. No primeiro julgamento, os principais líderes da Alemanha nazista foram acusados de crimes contra a humanidade e contra o direito internacional. Dos vinte e dois réus, entre os quais altos funcionários nazistas, como Hermann Goering e Rudolf Hess, dezenove foram condenados e três absolvidos. As penas eram variadas: de dez anos de prisão a prisão perpétua ou pena de morte por enforcamento.
Entre 1945 e 1949, foram efetuados doze julgamentos. O primeiro deles foi o que analisou as pesquisas médicas com seres humanos nos campos de concentração nazistas. Os pesquisadores alemães responsáveis pelos experimentos abusivos estavam agora no banco dos réus. Foram oito meses de julgamento entre a acusação e a sentença. A principal tese do tribunal contra os alemães foi a de que as pessoas envolvidas nas pesquisas estavam em situação de extrema fragilidade, não dispondo de quaisquer possibilidades de defesa ou exercício da vontade. Elas foram compulsoriamente utilizadas pela medicina nazista como "cobaias prisioneiras". 
O julgamento teve enorme repercussão internacional. Países com grande concentração de vítimas do regime nazista estavam atentos aos fatos. Israel, por exemplo, sentenciou à forca Adolf Eichmann, um dos carrascos nazistas. Seu julgamento foi um dos mais noticiados internacionalmente após o Tribunal de Nurembergue.10 Esse conjunto de fatos e, o mais importante, sua ampla divulgação mundial após a Segunda Guerra levaram à elaboração de diretrizes internacionais para a pesquisa científica com pessoas. O objetivo era garantir que princípios dos direitos humanos – em particular a dignidade da pessoa humana e a autonomia da vontade - seriam o ponto de partida de qualquer pesquisa científica envolvendo pessoas." Foi nesse marco da gênese da cultura dos direitos humanos que, em 1947, se elaborou o Código de Nurembergue.
O CÓDIGO DE NUREMBERGUE
O Código de Nurembergue representa a entrada definitiva de princípios da cultura dos direitos humanos na pesquisa científica. Composto por dez artigos, um número simbólico para a tradição ocidental, o documento tinha como objetivo ser claro e sintético na orientação ética das pesquisas. O primeiro artigo era uma resposta imediata aos julgamentos de guerra: "o consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial". Desde então, o consentimento individual para a inclusão em um estudo vem sendo uma questão-chave no campo da ética em pesquisa, assim como noções de equilíbrio entre risco e benefício ou medidas de proteção à saúde e dignidade dos participantes.
Sob a ótica totalitária e opressora do nazismo, as pesquisas abusivas dos campos de concentração se justificavam em nome do bem comum: algumas pessoas morreriam ou sofreriam danos irreversíveis, mas a ciência avançaria. O Código de Nurembergue impôs restrições definitivas a essa matriz utilitarista perversa, uma vez que os participantes não poderiam ser instrumentos para o avanço científico, mas sempre pessoas protegidas pelos direitos humanos e com interesses particulares a serem respeitados. Todos os artigos do documento corroboram essa redefinição da pesquisa científica: o participante tem o direito de abandonar o estudo sem represálias, o ensaio em humanos deve ser precedido de experimentações em animais não-humanos, e pesquisas com risco de morte devem ser evitadas.
Um fenômeno inesperado, no entanto, se sucedeu à divulgação do Código de Nurembergue. O documento ficou conhecido como uma peça do julgamento dos crimes de guerra e, portanto, como um discurso ético sobre as atrocidades nazistas. Pelo fato de ter sido uma resposta imediata ao pós-guerra, poucos pesquisadores o entenderam como um guia orientador dos estudos com pessoas fora das situações de guerra. O resultado foi um silêncio em torno das pesquisas científicas e de quais princípios éticos as norteariam. Houve uma falsa presunção de que apenas os criminosos da guerra deveriam ser chamados à reflexão ética, sendo esse um tema secundário às pesquisas de países democráticos e livres.
A DECLARAÇÃO DE HELSINQUE
O Código de Nurembergue foi um documento elaborado em resposta às denúncias dos crimes de guerra. Seus autores foram juristas e médicos militares, e seu marco de referência, os direitos humanos. Como principais alvos de crítica, estavam os pesquisadores médicos nazistas. Isso representava uma mudança simbólica de prestígio social pouco confortável para os médicos. Foi exatamente na tentativa de reaproximar ética, medicina e opinião pública que a Associação Médica Mundial propôs a Declaração de Helsingue, em 1964. O documento é um desdobramento de alguns dos preceitos éticos do Código de Nurembergue, porém com objetivos mais concretos de intervenção na prática de pesquisa biomédica. Desde sua edição, a Declaração de Helsinque já passou por várias revisões (Tóquio, 1975; Veneza, 1983; Hong Kong, 1989; Somerset West, 1996; Edimburgo, 2000; Estados Unidos,2002; Tóquio, 2004).
O objetivo de devolver dignidade à prática médica era tão claro no documento que seu primeiro artigo afirmava: "a missão do médico é salvaguardar a saúde das pessoas. O conhecimento e a consciência são dedicados a atingir essa missão".15 A ambição do texto, no entanto, não se restringia à pesquisa médica mas abrangia todas as áreas de saúde; por isso, ele se referia à biomedicina. A primeira versão da Declaração de Helsinque consistia em um texto breve, composto de três seções: 1) princípios básicos; 2) pesquisa médica combinada com cuidados em saúde; e 3) pesquisa biomédica sem fins terapêuticos. A primeira seção é a que mais diretamente dialoga com o Código de Nurembergue, reafirmando a importância de princípios éticos, como o consentimento, a dignidade e a integridade dos participantes.	
As versões subsequentes da Declaração de Helsinque foram tentativas de acompanhar o debate sobre ética em pesquisa no campo médico. Dada a legitimidade que o documento alcançou internacionalmente, e não apenas no universo da pesquisa biomédica, os processos de sua revisão foram objeto de intensa controvérsia. Temas como a importância dos comitês de ética em pesquisa, os estudos multicêntricos ou o acesso a tratamentos de saúde tiveram sua entrada definitiva na agenda de debates internacionais sobreética em pesquisa. Por isso, mesmo sendo de uma única associação profissional, a Declaração de Helsinque constitui, hoje, uma das peças de reflexão ética fundamentais nesse debate.
HENRY BEECHER E A VIRADA ÉTICA
A proposição de documentos na esfera da ética em pesquisa foi um dos passos iniciais para a consolidação da cultura dos direitos humanos na ciência biomédica. No entanto, o espanto causado por uma publicação de Henry Beecher mostrou que era preciso ir além das regulamentações internacionais e avançar em campos mais sólidos para a mudança de valores e práticas na pesquisa." Em 1966, Beecher escreveu um artigo de revisão sobre dezenas de estudos conduzidos com pessoas publicados em periódicos de grande prestígio internacional. O objetivo era avaliar quais critérios éticos haviam sido utilizados pelos investigadores para realizar pesquisas com populações vulneráveis, tais como crianças, deficientes ou idosos.
Esse artigo analisou vinte e dois estudos conduzidos nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, muito embora mais de cinquenta tivessem sido recuperados na pesquisa documental. A metodologia de avaliação examinou seções-chave dos artigos para o debate ético: objetivo da pesquisa, população envolvida, financiadores e resultados. A principal constatação de Beecher foi sobre quem eram os participantes das pesquisas de maior risco - internos em presídios e instituições asilares, crianças com deficiência mental e idosos com demência. Ou seja, eram pessoas que, apesar de muito diversas entre si, comungavam da condição de vulnerabilidade já anunciada como delicada para o envolvimento em pesquisas científicas pelo Código de Nurembergue e pela Declaração de Helsingue.
Alguns estudos foram apresentados em detalhes, uma forma de desnudar o quanto a pesquisa cientifica estava distante de valores humanistas e preceitos éticos já acordados internacionalmente. E importante lembrar que todas as pesquisas tinham sido realizadas fora do contexto da guerra, ou seja, diferente dos experimentos nazistas, eram agora pesquisadores de sociedades democráticas que haviam levado pessoas à morte por não administrar tratamentos, por oferecer placebo ou por inocular vírus para conhecer a evolução de doenças contagiosas. Além disso, grande parte dos estudos foi financiada por instituições públicas de pesquisa, o que indica que os investigadores não estavam sozinhos na elaboração do desenho metodológico de seus experimentos.
O artigo de Beecher deve ser entendido como uma peça que, por se destinar a analisar a realidade da pesquisa científica afastada das circunstâncias de guerra, permitiu a aproximação entre discursos ainda distantes - a ética e a prática científica. Mais importante do que as declarações internacionais, foi esse estudo que provocou a abertura do debate sobre ética em pesquisa dissociada do contexto do nazismo e dos abusos da guerra. Um dos pontos de vanguarda de Beecher foi a defesa do termo de consentimento livre e esclarecido para a participação de pessoas em pesquisas científicas. Ainda hoje, esse é um dos requisitos fundamentais em grande parte dos experimentos com seres humanos, em particular com populações vulneráveis.
CASOS
A ética em pesquisa se fortaleceu com os debates públicos nos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980. Após a publicação do artigo de Beecher, dois casos foram decisivos para a agenda de discussões políticas e acadêmicas sobre o tema. O primeiro foi um experimento clínico realizado com o objetivo de conhecer a história natural da sífilis, e o segundo foi um estudo na área da psicologia para verificar a interação entre grupos e suas reações em situações hierárquicas.
I. O ESTUDO TUSKECEE
Esse é um dos casos mais discutidos na história da ética em pesquisa nos últimos quarenta anos. O cenário é um estudo sobre sífilis financiado pelo governo dos Estados Unidos e conduzido com seiscentos homens negros agricultores, residentes no estado do Alabama. O objetivo era conhecer o ciclo natural de evolução da doença e, para isso, os participantes foram divididos em dois grupos: duzentos homens receberam o tratamento para a sífilis disponível na época e quatrocentos foram incluídos no grupo-controle, ou seja, não receberam nenhum tratamento. Todos os participantes eram jovens, e o critério de inclusão era já ter a doença há pelo menos cinco anos. A pesquisa foi conduzida entre 1932 e 1972, sendo que em grande parte desse período o principal tratamento para a sífilis, a penicilina, já havia sido descoberto. Foi somente com a denúncia do caso na capa do jornal The New York Times que se interrompeu o estudo.
Uma das controvérsias centrais do Estudo Tuskegee era sobre como seiscentos homens foram convencidos a participar da pesquisa. Na verdade, chegou-se à conclusão de que eles não foram informados de que se tratava de uma pesquisa médica, mas iludidos de que estariam recebendo tratamento contra a sífilis. Naquele momento, essa era a "doença do sangue ruim", e era conhecida a sua letalidade. De fato, as investigações sobre a pesquisa mostraram que aqueles homens não consentiram em participar e, muito menos, em não obter tratamento no grupo-controle. Durante o estudo, eles recebiam atenção da equipe de pesquisadores, mas esses serviços ou cuidados, tais como vitaminas e consultas médicas, eram secundários ao tratamento da doença. 
Antes da denúncia pela imprensa, alguns artigos foram divulgados na comunicação científica sobre o caso, mas nenhum atingiu a opinião pública e provocou o debate ético. Do total de participantes, apenas setenta e quatro sobreviveram. Mas o impacto do caso deve ser entendido para além dos equívocos científicos e éticos da pesquisa. Não restam dúvidas de que não se deve utilizar placebo em contextos em que há tratamento eficaz para uma doença; ficou evidente, também, que não se pode ludibriar os participantes sobre o verdadeiro objetivo do estudo. No entanto, o principal legado do Estudo Tuskegee foi ter permitido aproximar a pesquisa médica do debate público sobre ética, ao demonstrar que a ética em pesquisa deveria ser uma questão discutida não apenas pelas agencieis de financiamento ou comunidades científicas, mas principalmente pela sociedade.
2. A PESQUISA DA PRISÃO STANFORD
A novidade desse caso foi o deslocamento do debate sobre ética em pesquisa do campo médico para outras áreas da pesquisa biomédica, em particular a psicologia. O estudo foi coordenado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, em 1971, e simulava a organização social de um presídio. Situado no marco dos estudos comportamentais, ele tinha como objetivo analisar a reação das pessoas a simulações de situações hierárquicas com restrição de liberdade. Os participantes foram recrutados após uma chamada no jornal, em que se ofereciam cento e quarenta reais por dia de participação, uma quantia convidativa aos alunos da universidade. A pesquisa seria realizada em duas semanas, e vinte e quatro estudantes foram selecionados para ocupar o papel de guardas e de prisioneiros em uma penitenciária simulada na Faculdade de Psicologia.
O critério de seleção dos participantes baseou-se em testes psicológicos e médicos, visando encontrar aqueles que se adequavam ao perfil idealizado pela metodologia. A preparação para a simulação dos papéis de guardas e presos se deu em uma única reunião, quando foram feitas recomendações de segurança, tais como o não-uso da violência, e explicadas algumas regras de funcionamento das relações sociais no presídio. Uma das primeiras ações de pesquisa foi simular o registro dos participantes-presos na polícia para a tomada de impressões digitais, a guarda dos pertences pessoais e a leitura dos direitos. Não se simulou a delegacia; em vez disso, para garantir o senso de realidade necessário ao estudo, estabeleceu-se uma parceria com o Departamento de Polícia, e policiais reais colaboraram nessa fase. Transportados para o presídio fictício, os participantes receberam uma nova identidade.
O desafio da pesquisa teve início quandoos participantes assumiram seus novos papéis e identidades. De um jogo de representação social, o estudo adquiriu contornos não previstos pelos coordenadores. Os participantes no papel de guardas adotaram posturas abusivas e violentas, as quais foram inicialmente aceitas por aqueles no papel de prisioneiros. No entanto, à medida que a simulação ganhava força, os participantes que atuavam como prisioneiros decidiram se rebelar, e os coordenadores da pesquisa interromperam o estudo antes do prazo previsto. O risco de uma verdadeira rebelião com uso incontrolável de violência estava no cenário de decisões da equipe. 
O resultado foi desolador: os objetivos da pesquisa não foram alcançados, e os participantes que ocuparam o papel de prisioneiros sofreram severas alterações emocionais. Além dos equívocos metodológicos e éticos, um ponto extensamente discutido no desenho do estudo foi o papel do coordenador da pesquisa, pois, em vez de um observador da simulação, ele atuou como diretor do presídio sendo um participante do estudo.
O RELATÓRIO BELMONT
A divulgação desses casos de pesquisa científica com participantes em situações extremas permitiu a abertura do debate sobre ética em pesquisa. Foi nesse novo cenário de debates que, em 1974, o governo dos Estados Unidos instituiu a Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e Comportamentais. Durante quatro anos, o objetivo da comissão foi pensar os desafios éticos da pesquisa biomédica e comportamental, a fim de propor diretrizes para os estudos futuros. Entre os compromissos da comissão, estava o de que seriam cuidadosamente ponderadas as pesquisas com populações vulneráveis, em particular as que incluíssem crianças, internos em presídios e pessoas com deficiência. O resultado foi a publicação do Relatório Belmont, em 1978, um marco para as regulamentações nacionais de diversos países nas décadas seguintes.
Não é uma tarefa simples traduzir a complexidade do raciocínio ético para o universo dos desafios lançados pela pesquisa biomédica. E preciso um esforço de tradução do debate filosófico para o campo da ética aplicada. Foi nesse espírito de resolução de problemas e antecipação de novas dificuldades que o Relatório Belmont propôs três princípios norteadores da ética em pesquisa: respeito pelas pessoas, beneficência e justiça. Os autores do documento justificaram a indicação desses três princípios em razão de sua presença na tradição filosófica e cultural de grande parte dos países onde o debate sobre ética em pesquisa se estruturava. Além disso, tais princípios tinham sido os fundamentos dos documentos internacionais já propostos sobre o tema: 
1) Respeito pelas pessoas: reconhece que os indivíduos são autônomos e devem ter liberdade e independência em suas decisões. Esse princípio é um dos fundamentos do termo de consentimento livre e esclarecido;
2) Beneficência: princípio com larga tradição na história da prática médica, assume que fazer o bem é maximizar os benefícios e não causar danos. O principal desafio é balancear noções coletivas e privadas de bem perante os riscos e benefícios de uma pesquisa;
3) Justiça: também conhecido como equidade nas pesquisas, tem o objetivo de garantir a igual distribuição de riscos e benefícios. Com base nesse princípio, especial atenção vem sendo dada à seleção dos participantes.
O documento teve grande repercussão. Por um lado, era uma das iniciativas pioneiras de países democráticos em assumir que o tema da ética em pesquisa não era matéria exclusiva de crimes de guerra. Esse fato representou uma guinada importante no debate internacional, impulsionando a reflexão em diferentes países. Por outro lado, o compromisso do documento com a clareza e a instrumentalidade permitiu que o raciocínio sobre ética em pesquisa ultrapassasse os limites dos departamentos de humanidades e atingisse a prática da pesquisa científica. O resultado imediato foi a publicação de Princípios da ética biomédica, uma das obras de referência da bioética. Nela, os três princípios foram discutidos e reformulados, o que levou a teoria dos quatro princípios ou teoria principialista.
A partir desse marco, foram elaborados e divulgados outros documentos para subsidiar o processo de revisão ética das pesquisas, com o objetivo de promover a proteção, o bem-estar e a segurança dos participantes. Essas diretrizes determinam que os estudos não devem ser iniciados antes de sua avaliação por um comitê de ética em pesquisa. Conhecer alguns desses documentos é importante, pois a maioria dos países os utiliza como referência para a elaboração de suas normas e legislação nacionais. Podem ser citados: (...) FIM
GLOSSÁRIO
BOAS PRÁTICAS CLÍNICAS (DO INGLÊS GCP) => GCP é o padrão internacional aceito para delineamento, condução, desenvolvimento, monitoramento, auditoria, obtenção de dados, análise e divulgação de ensaios clínicos que proporciona credibilidade e precisão aos resultados das pesquisas. O uso desse padrão garante a integridade e a confidencialidade dos participantes da pesquisa, além de ser um mecanismo de proteção de direitos e interesses individuais.
COMISSÃO NACIONAL DE ETICA EM PESQUISA – CONEP => Colegiado de natureza consultiva, deliberativa, normativa, educativa e independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. É responsável por definir as diretrizes de avaliação ética no Brasil, avaliar pesquisas de áreas temáticas especiais e acolher recursos de comitês de ética em pesquisa, das instituições e dos pesquisadores.
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP (SINÔNIMOS COMITÊ DE ÉTICA - CE ; COMITÊ DE REVISÃO INSTITUCIONAL - DO INGLÊS IRB) => Comitê multiprofissional e interdisciplinar, responsável por revisar os aspectos éticos de um projeto
de pesquisa. A análise deve ser realizada antes do início da pesquisa como forma de assegurar que os direitos dos participantes sejam protegidos e garantidos. Após a aprovação inicial da pesquisa, o comitê deve realizar o acompanhamento ético da implementação e condução da pesquisa, o que poderá ser feito por meio de relatórios, visitas in loco, entrevistas com participantes ou por informações relacionadas ao estudo.
COMUNIDADE => Uma comunidade pode ser compreendida como um grupo de pessoas que possui certa afinidade devido ao fato de compartilhar interesses comuns ou proximidade geográfica. Uma comunidade pode identificar-se como um grupo de pessoas que vivem na mesma aldeia, bairro, cidade ou país. Por outro lado, a comunidade pode ser entendida como um grupo de pessoas que compartilha valores, interesses, traços genéticos ou doenças em comum.
CONFIDENCIALIDADE => Compreende a manutenção do sigilo sobre a origem das informações fornecidas pelo participante de uma pesquisa para prevenir que sua identidade torne-se conhecida ou vinculada às suas respostas.
CONFLITO DE INTERESSE => Conflitos de interesses emergem quando interesses particulares de membros dos comitês de ética em pesquisa são superiores à atividade de revisão ética de um projeto. Isso pode comprometer a exigência de que as análises sejam livres e independentes, a fim de proteger os participantes da pesquisa.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO => Processo no qual se estabelece o relacionamento entre equipe de pesquisa e participantes. O principal instrumento de diálogo entre equipe e participantes é o termo de consentimento livre e esclarecido. O documento que descreve os objetivos e o propósito do estudo, seus métodos e procedimentos utilizados, assim como os benefícios previstos, os riscos e os incômodos potenciais. E no termo de consentimento livre e esclarecido que se garante a confidencialidade sobre os dados. Após o acesso a essas informações, a pessoa decide se quer ou não participar do estudo. Como o termo não é um contrato, deve ficar claro que o participante pode retirar seu consentimento a qualquer momento.
EVENTOS ADVERSOS => Efeitos indesejáveis causados pelo tratamento experimental (medicamentos, por exemplo) e que podem

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