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Psicologia Fenomenológica de Heidegger

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PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA – ON LINE
Nesta disciplina, você entrará em contato a Psicologia Fenomenológica, com ênfase nas possibilidades abertas pelo pensamento desenvolvido pelo filósofo Martin Heidegger (1989 – 1976) para a Psicologia. Apoiado na Fenomenologia de Edmund Husserl (1959 – 1938), ele questionou a ontologia metafísica e a tentativa de determinação substancial do ser da existência humana. Destacaremos sua compreensão da existência humana, denominada Dasein (ser-aí).
Através dessa quebra do paradigma metafísico, Heidegger abre caminho para novas perspectivas de compreensão dos fenômenos humanos. Buscaremos compreender o projeto da Fenomenologia de Husserl, ‘aplicado’ por Heidegger na investigação da existência humana. Em seguida, estudaremos as implicações da compreensão da existência humana como Dasein para a Psicologia. Com isso, entraremos em contato com a compreensão dos fenômenos psicológicos a partir do enfoque da fenomenologia-existencial, na direção de compreender o lugar e as possibilidades de intervenção do psicólogo nessa abordagem.
A descrição da existência realizada por Heidegger torna-se fundamento da psicopatologia e da psicoterapia chamada Daseinsanalyse, primeiramente por Ludwig Binswanger (1881 – 1966), depois por Medard Boss (1903 – 1990). 
 	Será nosso objetivo nesta disciplina conhecer e compreender os pressupostos epistemológicos e ontológicos do pensamento fenomenológico-existencial para promover a identificação deste método e da concepção de homem que lhe é pertinente com o lugar e a função do psicólogo no trato com o fenômeno psicológico e na promoção de saúde.
 	Este material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais.
 	O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo do semestre letivo. Os módulos 1 a 4 serão objeto de avaliação na NP1 e os 5 a 8 serão avaliados na NP2. 
MÓDULO 1: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERL
Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl
Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a Fenomenologia”. A existência para além do sujeito, pg. 25-34.
MÓDULO 2: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DE MARTIN HEIDEGGER E À ANALÍTICA EXISTENCIAL
O projeto fenomenológico de Heidegger
A constituição ontológica da existência (Dasein)
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. (2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, cap.I.B., pg.34-56
MÓDULO 3: A CONDIÇÃO HUMANA DESCRITA PELA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL
Temporalidade do Dasein.
Angústia e finitude do Dasein
Bibliografia obrigatória: SAPIENZA, B. (2015) Encontro com a Daseinsanalyse, pg. 48-95.
MÓDULO 4: FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DA HISTÓRIA PESSOAL
A concepção de história pessoal (historiobiografia) de Dulce Critelli
Historiobiografia e Sentido da Vida na fenomenologia existencial
Bibliografia básica: CRITELLI, D. (2012) História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia.
MÓDULO 5: A DASEINSANALYSE DE LUDWIG BINSWANGER
Apresentação dos dados biográficos de L. Binswanger 
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Binswanger
Bibliografia básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. (2015) “A obra fundadora de Ludwig Binswanger (1881-1966)”, cap. II.A, pg.64-101
MÓDULO 6: A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS
Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida por Medard Boss
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
Bibliografia Básica: EVANGELISTA, P. (2011) A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 139-158.
MÓDULO 7: COMPREENSÃO E AÇÃO CLÍNICA 
Concepção de Psicoterapia daseinsanalítica
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-existencial
Bibliografia básica: JARDIM, L.E. Ação e Compreensão na clínica fenomenológico-existencial. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 45 – 76.
Bibliografia complementar: POMPÉIA, J. & SAPIENZA, B. “A terapia e a era da técnica”. In: POMPÉIA, J. & SAPIENZA, B. Os dos nascimentos do homem, pg. 123-140.
MÓDULO 8: PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICO
Compreensão dos fenômenos clínicos atuais
Psicoterapia infantil fenomenológica existencial
Bibliografia básica: FEIJOÓ, A. (2011) A clínica psicológica na tonalidade do temor, cap. 3.3.2, pg. 155-195.
Bibliografia complementar: FEIJOÓ, A. (2011) A clínica psicológica com crianças, cap.3.1,4 p. 108-133.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DASTUR, F. & CABESTAN, P. Daseinsanalyse: Fenomenologia e Psicanálise. 1ª ed. Rio de Janeiro: Via Verita, 2015.
EVANGELISTA, P. (org) Psicologia fenomenológico-existencial – Possibilidades da atitude clínica fenomenológica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Via Verita, 2015.
FEIJOÓ, A. M. L. C. A existência para além do sujeito: A crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
POMPÉIA, J. A. & SAPIENZA, B. T. Na Presença do Sentido: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. 2ª ed. São Paulo: EDUC, 2013.
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Os dois nascimentos do homem: Escritos sobre terapia e educação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011.
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança: Daseinsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007.
SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger, com fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015.
Indicamos a seguir alguns endereços eletrônicos cuja consulta é recomendada: 
PEPSIC – PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA - http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
PERIÓDICOS CAPES - www.periodicos.capes.gov.br
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE – BVS – http://www.bvs-psi.org.br
BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (USP) - http://www.teses.usp.br/
SITE DO CENTRO DE FORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DE GRUPOS EM PSICOLOGIA – http://www.fenoegrupos.com
SITE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DASEINSANALYSE – http://www.daseinsanalyse.org/
MÓDULO 1: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERL
Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl
Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional
Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a Fenomenologia” A existência para além do sujeito. Rio de Janeiro: Via Verita, pg. 25-34.
 Edmund Husserl nasce em Prossnitz, na Morávia; atual Prostejov, República Tcheca, em 8 de abril de 1859, filho de comerciantes judeus. Em 1876, inicia seus estudos universitários em Leipzig. Concentra-se na matemática, mas estuda também física, astronomia, filosofia e psicologia com W. Wundt. Em 1882, doutora-se na Universidade de Viena com a tese O Cálculo das Variações. Em 1887, pouco antes de casar-se, defende a tese de habilitação Sobre o Conceito de Número: análise psicológica, na cidade de Halle. 
Essa trajetória culmina na Psicologia. Nessa época, a Psicologia era o estudo das faculdades mentais do homem. Até bem pouco tempo, era disciplina especulativa, filosófica. Quando Wundt funda o laboratório de psicologia científica em 1879, começa sua trajetória de ciência aplicada. Husserl acompanhou de perto essa transformação.
 A filosofia do fim do século XIX dividia-se entre duas vertentes: aqueles que defendiam uma base objetiva para o conhecimento e aqueles que o fundamentavam nas faculdades mentais.
 Os Naturalistas defendiam que a objetividade do conhecimento está na realidade objetiva, externa, “fora” do sujeito. Conhecer a natureza significa saber mensurá-la, a fim de revelar suas leis universais. Essas leis universais, as verdades universais, só são acessíveisatravés de hipóteses. Para isso, esse modelo de conhecimento dispõe da metodologia de observação, mensuração e classificação.
 Como toda a realidade é objetiva, física, também a consciência, da qual fala a Psicologia, deve ser física. Husserl, como grande pensador, leva ao limite as bases desse pensamento para expor sua contradição: se tudo pode ser reduzido à natureza física, também a concepção de que tudo pode ser reduzido à natureza física é apenas mais um processo físico, incapaz de sustentar-se como verdade universal.
 Do outro lado, os Psicologistas defendiam a mente como fundamento último de todo conhecimento. Para eles, a objetividade é dada pelo sujeito “puro” abstrato. As leis objetivas, o real, são convenções subjetivas explicáveis pelo psicólogo. Levando às últimas consequências essa fundamentação, também a Psicologia mina o conhecimento objetivo e científico-natural, pois, para ela, tudo é processo psicológico. As ciências, como a matemática, tornam-se relativas.
 O pensamento de Husserl recebe impulso dessa “crise” insuperável, na tentativa de encontrar solução. Para fundamentar o conhecimento verdadeiro – tarefa da filosofia – Husserl não poderá se apoiar nem no Naturalismo, nem no Psicologismo. A Fenomenologia surge como crítica à pretensão de cientificidade plena das ciências, ao recurso à dedução e à inferência como método de conhecimento (modelo hipotético) e à determinação psicofísica atribuída ao seu sujeito do conhecimento. (Feijoó, 2011)
Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional
 A ascensão das Ciências Humanas amplia a crise das ciências. Qual seria a validade (verdade universal) das descobertas da antropologia, da sociologia ou mesmo da psicologia? A psicologia, num esforço para assegurar a verdade de suas afirmações, recorre ao método científico-natural de investigação. O teste de medição de inteligência desenvolvido por Alfred Binet (1857 -1911) é um exemplo disso; determina-se a inteligência como mensurável e cria-se um instrumento para a medir.
 Husserl, por outro lado, identifica a carência de fundamentos das ciências-naturais. É o Naturalismo, descrito anteriormente. Seu objetivo é, então, inaugurar um novo fundamento para a lógica, para a teoria do conhecimento e para a psicologia: uma ciência originária, primeira.
 A chave para a fenomenologia vem dos estudos com Franz Brentano (1838 – 1917). Opondo-se a Wundt, Brentano propõe que os atos mentais são experienciáveis, de modo que a psicologia, através da intuição (observação), é ciência empírica.
 Brentano apresenta os atos psíquicos como intencionais. Resgata esse conceito da filosofia de Aristóteles. Na tradução latina da filosofia aristotélica, intentio significa dirigir-se a... (Devemos tomar muito cuidado para não confundir este conceito com a ideia comum de “intenção”, que significa desejo, motivação, etc.) Desta ideia, Husserl desenvolve o a priori da correlação: consciência é consciência de... e todo objeto só é enquanto visado por uma consciência. Intencionalidade significa que toda consciência é de algo e todo algo só é enquanto referido à consciência que se tem dele.
 Nessa formulação, Husserl lança mão de um aspecto da Psicologia de Brentano que será característico da fenomenologia e de toda psicologia fenomenológica que nela se inspira: consciência é ato, não é um receptáculo. 
 Com o conceito de intencionalidade, Husserl supera o Psicologismo, que prioriza o Sujeito na relação Sujeito-Objeto, e o Logicismo e Naturalismo, que priorizam o mundo objetivo e natural, o Objeto na relação Sujeito-Objeto. Para a fenomenologia, Sujeito e Objeto são intimamente relacionados, indissolúveis. Por isso, Feijoó (2011) afirma que
Com a noção de intencionalidade, portanto, escapa-se das articulações metafísicas a partir da fenomenologia e encontram-se possibilidades outras de se tratar o fenômeno psíquico, sem perder a possibilidade de se falar em sentidos e significados psíquicos de maneira rigorosa. (p.33)
 A Fenomenologia surge como tentativa de elaboração de uma ciência rigorosa, capaz de fundamentar as várias ciências. Por isso, Husserl a chama de Ciência Primeira. O princípio de intencionalidade da consciência rege que toda consciência é consciência de algo e que todo algo só é tal como aparece na consciência. “Consciência”, entretanto, não é um recipiente vazio que se preenche; é um ato. O objeto ao qual se dirige e que surge na relação intencional é sempre significativo.
 Entretanto, nós não experienciamos essa relação íntima entre o nosso ver e a coisa vista, entre nosso sentir e a coisa sentida, entre nosso perceber e a coisa percebida. Husserl chama de atitude natural a nossa postura cotidiana de encontrar objetos “fora”, no mundo, como se existissem em si mesmos. A atitude natural pode ser descrita como aquela que consiste em pensar que o sujeito está no mundo como algo que o contém ou como uma coisa entre as demais. As ciências naturais operam sobre essa crença de que existem objetos em si no exterior, que podem ser observados, investigados e descritos a partir de suas propriedades imanentes. A atitude natural é a atitude ingênua.
 A fenomenologia busca superar a atitude ingênua suspendendo a crença na realidade da existência em si do mundo exterior, resgatando a consciência como condição de aparição do mundo. Essa etapa do método fenomenológico chama-se epoché e pode ser caracterizada como a colocação entre parênteses da realidade independente da consciência, para que a investigação fenomenológica se volte para a fenomenalização dos fenômenos, isto é, seu aparecer na correlação intencional. Pela redução fenomenológica, a consciência se mostra consciência constituinte de mundo.
MÓDULO 2: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DE MARTIN HEIDEGGER E À ANALÍTICA EXISTENCIAL
O projeto fenomenológico de Heidegger
A constituição ontológica da existência (Dasein)
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. (2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, cap.I.B., pg.34-56
 	O livro de Heidegger, Ser e Tempo, publicado em 1927, tem como tarefa a elaboração da fenomenologia como filosofia. E filosofia é, para ele, perguntar pelo SER, isto é, o que é a realidade?, quem somos nós?, tal como feito por toda a história ocidental. O método fenomenológico exige que se suspendam os pressupostos. Assim, Heidegger “coloca entre parênteses” as definições de SER legadas pela tradição filosófica. Precisa perguntar ao SER mesmo o que é. Para isso, começa seu perguntar pelo “ente que compreende ser”, que é o homem. Isto é, a existência é por ele assumida não como animal racional, nem como psiquismo, mas como abertura para coisas, si mesmo e outros serem. Somente o homem pergunta o que é o mundo?, o que são as coisas?, o que sou eu? 
A tradição filosófica também deixou definições sobre o que é o homem. As várias abordagens psicológicas são exemplos disso; todas elas definem o que é o humano. Mas a fenomenologia é obrigada a colocar todas essas definições em suspensão. 
Com isso, Heidegger pergunta ao homem pelo seu ser, que seria o primeiro passo na colocação da pergunta pelo sentido de SER em geral. O livro Ser e Tempo torna-se, assim, uma analítica existencial. Heidegger reserva a este o termo Dasein, “ser-aí”, para diferenciá-lo dos demais entes.
 Traduzindo ao pé da letra, Da significa aí. Sein significa Ser. Dasein é ser-aí.
 Mas, Heidegger visa descrever não os homens concretos, mas o ser dos homens. Daí a distinção da fenomenologia existencial entre ôntico – que é dos entes históricos, “concretos” (“existenciário”) – e ontológico, que se refere ao ser dos entes (“existencial”). (DASTUR & CABESTAN, 2015, p.40). 
A analítica do Dasein (ou “analítica existencial”) é uma descrição de aspectos essenciais da existência humana. Heidegger chama esses aspectos de “existenciais”, para diferenciarda palavra “categorias”, usada na filosofia para descrever as propriedades do ser de tudo o que não é humano. 
 Ser e Tempo defende que o humano não é como as demais coisas do mundo, pois 1) seu ser está sempre em jogo (ou seja, é uma questão em aberto) e 2) Dasein compreende ser (ou seja, é abertura para ser de coisas, outros e si mesmo). 
 Medard Boss e Ludwig Binswanger, que desenvolvem a Daseinsanalyse, fundamentam os fenômenos encontrados na clínica nos “existenciais” descritos por Heidegger em Ser e Tempo.
A constituição ontológica da existência (Dasein)
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. (2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, cap.I.B., pg.34-56
 O conceito de Dasein se refere à constituição ontológica do ser que nós somos, costumeiramente chamados de “humanos”. Porém, Heidegger não utiliza o termo “ser humano” ou “homem” pois são termos que carregam significados não fenomenológicos acumulados ao longo da história do Ocidente. “Humano”, por exemplo, deriva de “húmus”, terra fértil, articulando-se com a tradição judaico-cristã de definição de homem. Por isso, Heidegger reserva o termo Dasein para indicar o ser que somos. (Cf. DASTUR & CABESTAN, 2015, p.34)
 No §9 de Ser e Tempo Heidegger escreve: “O ente que temos a tarefa de analisar somos nós mesmos. O ser deste ente é sempre cada vez meu. Em seu ser, isto é, sendo, este ente se comporta com o seu ser.” (1927, p.77) Isso significa que não há uma “essência” ou “natureza” para além dos modos concretos de existência. O livro Ser e Tempo é uma descrição fenomenológica – livre de pressupostos – da constituição ontológica do Dasein. Essa constituição é formada pelos “existenciais”, que são os caracteres ontológicos do Dasein.
 Resumindo a concepção de Dasein de Ser e Tempo, podemos afirmar que o homem é um ser que é aí, no mundo (ser-no-mundo). E ser no mundo significa ser sempre uma relação significativa consigo mesmo, com os outros e com coisas (mesmo que essas relações estejam implícitas). A analítica do Dasein revela que o homem é ontologicamente no-mundo e com-os-outros. Ser e Tempo não se detém nas descrições dos diversos modos concretos em que nos relacionamos com os outros, pois não é essa a tarefa de Heidegger. 
 Sendo inacabado, o Dasein é ontologicamente possibilidade, ele se realiza em possibilidades. Isso significa que ninguém nasce pronto, mas precisa se realizar. Heidegger chama esse existencial de cura ou cuidado (Sorge, em alemão). O “realizar-se” é sempre situado em relação aos demais e à significatividade compartilhada. Não sendo pronto e acabado, o Dasein precisa sempre realizar-se como uma possibilidade; ao Dasein sempre está faltando algo. Heidegger diz que ele é sempre culpado. 
 A palavra culpa, em alemão, é Schuld, que significa também débito. Sendo inacabado, a existência está sempre em dívida consigo mesma de realizar-se. A única possibilidade que encerra a culpa e que só pode ser vivida por cada qual singularmente é sua própria morte. O Dasein se relaciona constantemente com essa sua própria possibilidade. Entretanto, essa possibilidade nunca é vivenciada por cada um, pois, quando acontece, não estamos mais aí para vivenciá-la.
MÓDULO 3: A CONDIÇÃO HUMANA DESCRITA PELA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL (A)
Temporalidade do Dasein.
Angústia e finitude do Dasein
Temporalidade do Dasein. 
Bibliografia básica: SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger, como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, Pg. 48-95.
 O conceito de temporalidade é um conceito-chave na fenomenologia existencial. Heidegger escolhe-o para diferenciá-lo do conceito de tempo, que na tradição filosófica e no nosso uso comum já ficou associado ao tempo cronológico, o tempo do relógio. O tempo cronológico é uma sequência linear e infinita de “agoras”, que se inicia no passado e caminha em direção ao futuro. A modo de ser temporal do Dasein é outro.
 Heidegger se depara com essa questão quando se pergunta pela possibilidade de ser todo do Dasein. Ser todo significa: como o Dasein se completa? Dasein se completa quando realizou todas as suas possibilidades. Neste caso, o Dasein só seria todo quando deixa de ser. Porém, deixando de ser, não realiza essa possibilidade. O Dasein que somos pode, por outro lado, experimentar-se como ser finito. É o que Heidegger chama de “decisão antecipadora” da morte. Devemos tomar cuidado com esta ideia, pois não significa que o Dasein imagina a sua morte, menos ainda que a procure. Significa que o Dasein se assume como um ser finito, isto é, que não pode tudo e que "tem" um tempo limitado para ser. Ao fazer isso, abre-se para sua facticidade, isto é, para o ente intramundano junto ao qual já se encontra. Numa interpretação mais livre, podemos dizer que o Dasein reconhece a singularidade e finitude da situação na qual se encontra.
 O Dasein existe, então, sendo em relação com o que ele ainda não é, mas pode ser. Um sapateiro, por exemplo, encontra seus instrumentos como instrumentos para o conserto do sapato, que ainda não está consertado, mas “pode” estar. Do mesmo modo, o ser-no-mundo se compreende a partir de possibilidades (futuras) próprias. Antecipa-se a si mesmo. Ao antecipar-se (futuro) presentifica seu mundo, no qual já estava. Um sapateiro, antecipando o consertar e antecipando-se como sapateiro, encontra-se com seu mundo naquela situação. Porvir (o termo que Heidegger usa para se referir ao futuro, protegendo-o das significações já cristalizadas), ser-sido (o termo que Heidegger usa para se referir ao passado, pelo mesmo motivo) e presentificação acontecem juntos; não há separação entre passado, presente e futuro.
 Por isso, a analítica do Dasein distinguirá dois modos de temporalização do Dasein: o próprio e o impróprio. Resumidamente, na temporalização imprópria o ser-no-mundo “vem a si”, compreende-se, a partir do que lhe acontecerá. Dessa forma, esquiva-se do peso do ter-que-ser, que a antecipação da morte desvela, esperando algo. Na temporalização própria, Dasein vem a si mesmo como ser finito, lançado e responsável por ser. 
 
 Em Ser e Tempo, a possibilidade da morte aparece como a única na qual ninguém pode ser substituído por outrem. A antecipação da morte singulariza o Dasein, portanto, revelando que sua existência está sob seu encargo exclusivamente. A afirmação III vai de encontro com essa ideia, pois sugere que o ser-para-a-morte revela que cada um é substituível na sua existência.
 Equivocada também está a afirmação IV. A fenomenologia-existencial trabalha com fenômenos, buscando encontrar neles seu sentido. A ideia de tendências latentes é uma hipótese teórica, que não condiz com o fenômeno. O fenomenólogo não tem base fenomenológica para tal inferência. Pelo contrário, pois no poema Mario Quintana transmite um júbilo por reconhecer sua finitude, que torna os momentos de sua vida únicos e irrepetíveis.
Angústia e finitude do Dasein
 As considerações de Heidegger acerca da temporalidade se desdobram na finitude do Dasein. Como vimos, a finitude não coincide com a morte. “Antecipação da morte” não significa imaginar-se morrendo. Até o contrário. Antecipação da morte significa assumir-se como um ser único, insubstituível, destinado a ser. Existir é tarefa. Essa ideia de Heidegger se faz presente no Existencialismo de Sartre através da ideia de que o homem é condenado a ser livre.
 O conceito de temporalidade, como já vimos, expressa o modo mais originário da existência de lidar com tempo; mais precisamente, de lidar com o próprio tempo. Embora Dasein lide cotidianamente com o tempo como uma sequência infinita de agoras (tempo cronológico), seu tempo mais original é aquele que reconhece sua finitude. Lançada na facticidade, a existência é um intervalo entre dois nadas.
 O nada se manifestana angústia. É a dissolução do mundo, que revela ao Dasein seu ser como cuidado. Como cuidado, existir é tarefa que só se completa quando o Dasein realiza sua derradeira possibilidade. Heidegger lembra que a possibilidade da impossibilidade não pode ser confundida com a morte biológica. Numa passagem de Ser e Tempo, comenta que a morte biológica pode interromper possibilidades, assim como tardar a chegar.
 A temporalidade do Dasein traz muitas implicações para a compreensão dos fenômenos que interessam ao psicólogo. A primeira e mais radical é de que a existência humana não pode ser compreendida como um desenvolvimento linear do passado em direção ao futuro. Isto abre um forte debate com as psicologias explicativas. O pensamento natural-científico faz coincidir o sentido do fenômeno com sua causação temporalmente anterior. Ao observar um fenômeno psicológico, não se interessa por o que ele revela (seu sentido), mas imediatamente pergunta por que se dá dessa maneira, buscando sua resposta na sequencia temporal. 
Se for preciso indicar uma ênfase na temporalidade para a fenomenologia existencial, será o futuro, que Heidegger chama de porvir exatamente para diferenciar das significações já cristalizadas de futuro.
 O porvir é uma possibilidade de ser si mesmo que o Dasein assume como sua. A partir dessa possibilidade advém a si a sua história e os entes pertinentes. Em outras palavras, eu sou o que posso ser. É por isso que as psicologias humanistas, que se inspiram na fenomenologia-existencial (Não confundamos Psicologia Humanista com Daseinsanalyse!!!), enfatizam os projetos do ser humano, ao invés de buscar explicações em seu passado.
 O conceito de temporalidade traz grandes repercussões na psicopatologia. Os primeiros psicopatologistas fenomenológicos (Jaspers, Minkowski) elaboraram descrições das vivências psicopatológicas tendo em vista a temporalidade. Por exemplo, a depressão é um encurtamento no porvir, de modo que para o deprimido vem a ser apenas a perpetuação da dor e da tristeza.
 Talvez a mais importante implicação seja a nova ênfase dada aos conceitos de angústia e morte na prática clínica. A Daseinsanalyse coloca esses conceitos como centro de sua preocupação, reconhecendo nos fenômenos “psicológicos” modos de lidar com a própria finitude, antecipada, e com a angústia, enquanto perda de mundo e de si mesmo.
MÓDULO 3: O CARÁTER DE PODER-SER DO DASEIN: FINITUDE (B)
Temporalidade do Dasein.
Angústia e finitude do Dasein
Temporalidade do Dasein. 
Bibliografia obrigatória: SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger, com fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, Pg. 48 – 95.
Bibliografia complementar: FEIJOÓ, A. M. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.” A existência para além do sujeito: A crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Vérita, 2011, Pg. 71 – 84. 
 O conceito de temporalidade é um conceito-chave na fenomenologia-existencial. Heidegger escolhe-o para diferenciá-lo do conceito de tempo, que na tradição filosófica e no nosso uso comum já ficou associado ao tempo cronológico, o tempo do relógio. O tempo cronológico é uma sequência linear e infinita de “agoras”, que se inicia no passado e caminha em direção ao futuro. A modo de ser temporal do Dasein é outro.
 Heidegger se depara com essa questão quando se pergunta pela possibilidade de ser todo do Dasein. Ser todo significa: como o Dasein se completa? Dasein se completa quando realizou todas as suas possibilidades. Neste caso, o Dasein só seria todo quando deixa de ser. Porém, deixando de ser, não realiza essa possibilidade. O Dasein que somos pode, por outro lado, experimentar-se como ser finito. É o que Heidegger chama de “decisão antecipadora” da morte. (Feijoó, 2011, p.41) Devemos tomar cuidado com esta idéia, pois não significa que o Dasein imagina a sua morte. Significa que o Dasein se assume como finito. Ao fazer isso, abre-se para sua facticidade, isto é, para o ente intramundano junto ao qual já se encontra. Numa interpretação mais livre, podemos dizer que o Dasein reconhece a singularidade e finitude da situação na qual se encontra. (Feijoó, 2011)
 O Dasein existe, então, sendo em relação com o que ele ainda não é, mas pode ser. Um sapateiro, por exemplo, encontra seus instrumentos como instrumentos para o conserto do sapato, que ainda não está consertado, mas “pode” estar. Do mesmo modo, o ser-no-mundo se compreende a partir de possibilidades (futuras) próprias. Antecipa-se a si mesmo. Ao antecipar-se (futuro) presentifica seu mundo, no qual já estava. Um sapateiro, antecipando o consertar e antecipando-se como sapateiro, encontra-se com seu mundo naquela situação. Porvir (o termo que Heidegger usa para se referir ao futuro, protegendo-o das significações já cristalizadas), ser-sido (o termo que Heidegger usa para se referir ao passado, pelo mesmo motivo) e presentificação acontecem juntos; não há separação entre passado, presente e futuro.
 Por isso, a analítica do Dasein distinguirá dois modos de temporalização do Dasein: o próprio e o impróprio. Resumidamente, na temporalização imprópria o ser-no-mundo “vem a si”, compreende-se, a partir do que lhe acontecerá. Dessa forma, esquiva-se do peso do ter-que-ser, que a antecipação da morte desvela, esperando algo. Na temporalização própria, Dasein vem a si mesmo como ser finito lançado e responsável por ser. 
 Em Ser e Tempo, a possibilidade da morte aparece como a única na qual ninguém pode ser substituído por outrem. A antecipação da morte singulariza o Dasein, portanto, revelando que sua existência está sob seu encargo exclusivamente. A afirmação III vai de encontro com essa idéia, pois sugere que o ser-para-a-morte revela que cada um é substituível na sua existência.
 Equivocada também está a afirmação IV. A fenomenologia-existencial trabalha com fenômenos, buscando encontrar neles seu sentido. A idéia de tendências latentes é uma hipótese teórica, que não condiz com o fenômeno. O fenomenólogo não tem base fenomenológica para tal inferência. Pelo contrário, pois no poema Mario Quintana transmite um júbilo por reconhecer sua finitude, que torna os momentos de sua vida únicos e irrepetíveis.
Angústia e finitude do Dasein
 As considerações de Heidegger acerca da temporalidade se desdobram na finitude do Dasein. Como vimos, a finitude não coincide com a morte. “Antecipação da morte” não significa imaginar-se morrendo. Até o contrário. Antecipação da morte significa assumir-se como um ser único, insubstituível, destinado a ser. Existir é tarefa. Essa ideia de Heidegger se faz presente no Existencialismo de Sartre através da ideia de que o homem é condenado a ser livre.
 O conceito de temporalidade, como já vimos, expressa o modo mais originário da existência de lidar com tempo; mais precisamente, de lidar com o próprio tempo. Embora Dasein lide cotidianamente com o tempo como uma sequência infinita de agoras (tempo cronológico), seu tempo mais original é aquele que reconhece sua finitude. Lançada na facticidade, a existência é um intervalo entre dois nadas.
 O nada se manifesta na angústia. É a dissolução do mundo, que revela ao Dasein seu ser como cuidado. Como cuidado, existir é tarefa que só se completa quando o Dasein realiza sua derradeira possibilidade. Heidegger lembra que a possibilidade da impossibilidade não pode ser confundida com a morte biológica. Numa passagem de Ser e Tempo, comenta que a morte biológica pode interromper possibilidades, assim como tardar a chegar.
 A temporalidade do Dasein traz muitas implicações para a compreensão dos fenômenos que interessam ao psicólogo. A primeira e mais radical é de que a existência humana não pode ser compreendidacomo um desenvolvimento linear do passado em direção ao futuro. Isto abre um forte debate com as psicologias explicativas. O pensamento natural-científico faz coincidir o sentido do fenômeno com sua causação temporalmente anterior. Ao observar um fenômeno psicológico, não se interessa por o que ele revela (seu sentido), mas imediatamente pergunta por que se dá dessa maneira, buscando sua resposta na sequencia temporal. Se for preciso indicar uma ênfase na temporalidade para a fenomenologia-existencial, será o futuro, que Heidegger chama de porvir exatamente para diferenciar das significações já cristalizadas de futuro.
 O porvir é uma possibilidade de ser si mesmo que o Dasein assume como sua. A partir dessa possibilidade advém a si a sua história e os entes pertinentes. Em outras palavras, eu sou o que posso ser. É por isso que as psicologias humanistas, que se inspiram na fenomenologia-existencial (Não confundamos Psicologia Humanista com Daseinsanalyse!!!), enfatizam os projetos do ser humano, ao invés de buscar explicações em seu passado.
 O conceito de temporalidade traz grandes repercussões na psicopatologia. Os primeiros psicopatologistas fenomenológicos (Jaspers, Minkowski) elaboraram descrições das vivências psicopatológicas tendo em vista a temporalidade. Por exemplo, a depressão é um encurtamento no porvir, de modo que para o deprimido vem a ser apenas a perpetuação da dor e da tristeza.
 Talvez a mais importante implicação seja a nova ênfase dada aos conceitos de angústia e morte na prática clínica. A daseinsanalyse coloca esses conceitos como centro de sua preocupação, reconhecendo nos fenômenos “psicológicos” modos de lidar com a própria finitude, antecipada, e com a angústia, enquanto perda de mundo e de si mesmo.
MÓDULO 4: FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DA HISTÓRIA PESSOAL
A concepção de história pessoal (historiobiografia) de Dulce Critelli
Historiobiografia e Sentido da Vida
A concepção de história pessoal (historiobiografia) de Dulce Critelli 
Bibliografia básica: CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012. 
 A filósofa Dulce Critelli fundamenta suas reflexões nas filosofias de Martin Heidegger e Hannah Arendt, que, por sua vez, fornecem importantes compreensões para psicologia fenomenológica existencial. Para a autora, ambos os pensadores são complementares, mas há uma diferença notável entre eles no que tange ao sentido da filosofia. Enquanto para Heidegger a filosofia exige descomprometimento com a vida cotidiana, para a ex-aluna de Heidegger radicada nos EUA, a filosofia é a capacidade de avaliar a vida e de modificá-la. Para Arendt, a filosofia mantém uma relação íntima com a ação. Segundo Critelli (2012), “Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, transformamos nosso jeito de viver.” (p.17)
 Por ação, Arendt se refere à condição humana. Existir é ser iniciador. Fiel ao princípio fenomenológico existencial de suspensão radical de quaisquer a priori que substancializam a existência, Arendt concebe o ser-no-mundo-com-os-outros como ação e palavras. A ação inicia algo novo mundo. Seu sentido vai se desvelando nas repercussões, consequências e desdobramentos. Por isso, o sentido de todo gesto humano depende dos outros. Nas palavras de Critelli (2013),
Nossos atos e palavras não são autosignificantes. Se eles ganham impulso nas nossas intenções, raramente as realizam. De um lado, porque à medida que se destinam aos outros (por condição humana, iniciadores como nós), eles podem interferir neles e modificar seu sentido. De outro lado, porque o sentido e o significado de nossos atos e palavras sé se completam pelos efeitos e consequências que provocam. (p.36)
 Assim, a existência, que é concomitantemente singular (eu sou) e plural (no mundo com os outros), pode perder a autoria de sua história. Como atora dos próprios gestos, seus significados podem ser transformados pelos outros. A fala é a capacidade de explicitar o sentido intencionado, preservando a autoria da ação.
 Essas reflexões são muito importantes para a psicologia fenomenológica existencial, pois esta suspende as noções de psiquismo, sujeito e indivíduo, reconhecendo o outro como existência singular e plural, no mundo com os outros, constitutivamente estando em jogo a autoria de sua biografia.
Historiobiografia e Sentido da Vida
 A filósofa Dulce Critelli nomeia Historiobiografia a “abordagem terapêutico-pedagógica que tem por intenção a redescoberta do sentido da vida através da compreensão da história pessoal.” (p.12) Esse termo é composto por história e biografia, apontando para dois aspectos fundamentais do existir humano.
 História significa tanto o “conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade” (HOUAISS, 2013), quanto uma narrativa. Esses dois sentidos de articulam na existência humana. Somos seres históricos, isto é, lançados em contextos significativos históricos compartilhados já dados, e biográficos, isto é, que constituímos nossa história pessoal ao longo do existir. Por isso, quem é alguém só pode ser dito quando já foi; a todo momento nossas ações podem inaugurar novos sentidos, que reverberam no já vivido.
 A todo o momento é possível uma reflexão sobre a história que está em andamento. Isso é necessário, pois existir é estar em risco de perder o próprio ser (a autoria da própria vida) nas interpretações do senso comum. Também é fundamental para cuidar das possibilidades porvindouras, realizando a possibilidade humana de lançar-se em direção ao que ainda não é, mas pode ser (POMPEIA, 2012), cuidando para que a vida seja melhor.
 Critelli (2012) indica três “guias de viver”: 1) Relatos, 2) Historietas e 3) Histórias. Diferenciam-se pela abrangência temporal e pela complexidade de cada um. A identidade pessoal se costura pelos fios dessas formas de narrativa.
Referências Bibliográficas
CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Os dos nascimentos do homem: Escritos sobre terapia e educação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Vérita, 2011.
MÓDULO 5: A DASEINSANALYSE DE LUDWIG BINSWANGER
Apresentação dos dados biográficos de L. Binswanger 
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Binswanger
Bibliografia básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. (2015) “A obra fundadora de Ludwig Binswanger (1881-1966)”, cap. II.A, pg.64-101
Apresentação dos dados biográficos de L. Binswanger 	
 Ludwig Binswanger (1881 – 1966) é da terceira geração de psiquiatras em sua família responsáveis pelo sanatório de Bellevue. Após formar-se em medicina, faz residência psiquiátrica na clínica de Burghözli, chefiada por Eugen Bleuler (que cunha a esquizofrenia), sob supervisão de Carl Jung. 
A psiquiatria dessa época era ou organicista, ou psicanalítica (Freud). Em Burghözli, a psicanálise florecia, sendo Bleuler um importante disseminador das ideias de Freud e Jung, então, importante entusiasta. Durante a residência Binswanger aprofunda seus estudos na psicanálise, o que o leva a iniciar correspondência com Freud que perdura até falecimento deste. Mas o interesse pela psicanálise e a proximidade com seu fundador não impedem que Binswanger, desde cedo, questione o naturalismo da psicanálise. Encontra fundamentação para sua crítica primeiro na fenomenologia de Husserl e sua concepção de consciência intencional e, em seguida, na descrição da existência empreendida por Heidegger em Ser e tempo. Daí a ser o primeiro a desenvolver uma Daseinsanalyse voltada para o sofrimento existencial (não “psíquico”) manifesto na psicopatologia.
Da analítica existencial, Binswanger recolhe a noção de ser-no-mundo, a fim de buscar uma compreensão dos modos de ser psicopatológico como modificação nessa estrutura. Ou seja, na experiência psicopatológica, mundo estrutura-se diferentementeque na experiência saudável.
O início da influência de Heidegger em sua obra se faz notar a partir de 1930, quando publica o artigo Sonho e Existência. Esse artigo, cuja tradução para o francês foi prefaciada por Michel Foucault, encontra-se traduzido para o português1. Nele, Binswanger discute a experiência onírica, tema tão caro à psicanálise, contrapondo à hipótese freudiana genética e simbólica a ideia de que o sonhar é um modo de existir. Cabe ao investigador fenomenólogo compreender a experiência manifesta no sonho e, principalmente, o “espaço afinado” que nele se apresenta. Isto é, o sonho revela o mundo espacial e temporal peculiar ao sonhador. Como afirmam DASTUR & CABESTAN (2015, p.72), “É o tema que o Dasein se dá no sonho que é importante, não o que ele simboliza, e é, então o conteúdo desse drama, dessa ação que é o sonho, que constitui seu elemento decisivo.” O sonho não é produzido por uma subjetividade, como propunha Freud, mas um acontecimento, uma visitação; “vem a mim um sonho”. 
Do filósofo pré-socrático Heráclito Binswanger retoma a oposição entre mundo privado (idion) e mundo comum (koinon). Em vigília, a existência compartilha com os demais um mesmo mundo (koinon), ao passo que dormindo, está solitário (idios). Essa oposição se articula à compreensão de Binswanger da experiência psicopatológica como envolvimento com o mundo próprio em detrimento da experiência compartilhada. 
Ao contato cotidiano com o sofrimento psicopatológico, Binswanger acrescenta uma preocupação epistemológica e metodológica com a psiquiatria, que deveria, na sua concepção, fundamentar-se numa visão clara e correta sobre a existência, que o discurso científico não é capaz de fornecer. 
Nota de rodapé 
1. BINSWANGER, Ludwig. O sonho e a existência. Nat. hum., São Paulo , v. 4, n. 2, p. 417-449, dez. 2002 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302002000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 jan. 2016.
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Binswanger
 A primeira fase daseinsanalítica da psiquiatria de Binswanger apoia-se na analítica existencial de Ser e tempo, de Heidegger, conforme discutido acima. O primeiro marco desse trabalho é o artigo “Sonho e Existência”, que discute os fenômenos de ascensão e queda como modos de a existência especializar-se. 
 Em 1942 o psiquiatra publica sua principal obra, Formas fundamentais e conhecimento do Dasein, na qual enuncia sua “visão de homem”. Recorre à analítica existencial de Heidegger, mas substitui o cuidado como essência do Dasein pela relação dual Eu-Tu (descrita por Martin Buber).1 Elabora, assim, uma fenomenologia do amor, que, a seu ver, é o fundamento do ser si-mesmo do Dasein. Explicam Dastur & Cabestan (2015):
Encontram-se repetidas vezes alusões a essa diferença fundamental de ponto de vista, sendo o ponto de partida da análise existencial de Heidegger a Jemeingkeit, a qualidade do que é sempre a cada vez meu, ao passo que o da antropologia biswangueriana é a Ursrigkeit, a nostridade. (p.80)
 Em razão dessa diferença, o pensamento de Binswanger distancia-se de Heidegger e retorna à fenomenologia de Husserl, mais precisamente à questão da consciência interna do tempo.
 A análise fenomenológica da consciência do tempo empreendida por Husserl mostra que tempo não é algo objetivo, cronológico, externo à consciência. A consciência do tempo diz respeito à articulação a cada momento do que já foi objeto da consciência (e permanece como retido – “retenção”) e o que é antecipado (“protenção”). Dito em termos menos precisos, passado e futuro estão presentes a cada momento. Binswanger retoma essa análise husserliana para considerar modificações estruturais na consciência de tempo na psicopatologia. Por exemplo, no melancólico o futuro é vivenciado como já vivido; “a proteção está infiltrada de momentos retentivos.” (DASTUR & CABESTAN, 2015, p.92). No maníaco, retenções e protenções cedem lugar ao instante atual, de modo a vivenciar somente o presente, a momentaneidade. No esquizofrênico, a estrutura temporal esfalece-se, aniquilando a experiência vivida. 
 Binswanger é fenomenológico na concepção de realidade que subjaz às análises da psicopatologia. Para ele, “o mundo real reside apenas na pressuposição constantemente prescrita de que a experiência continuará constantemente a se desenrolar segundo o mesmo estilo constitutivo.” (BINSWANGER, 1993, apud DASTUR & CABESTAN, 2015, p.90) Ou seja, mundo é uma trama de sentido que tende a permanecer a mesma. Mas, na experiência psicopatológica, esse apoio se perde. 
Notas de rodapé
1. Sobre o cuidado, ver o Módulo 3 e sua respectiva bibliografia: SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger, como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, Pg. 48-95.
MÓDULO 6: A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS
Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida por Medard Boss
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
Bibliografia Básica: EVANGELISTA, P. A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 139 – 158.
Bibliografia Complementar: FEIJOÓ, A. M. A Existência para além do Sujeito. Cap. II, 2.2. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.”, pág. 71 – 84.
 Como já vimos, a fenomenologia-existencial é um movimento filosófico identificado com a obra de Martin Heidegger. Ser e Tempo, publicado em 1927, ‘utiliza’ a metodologia fenomenológica de Husserl para mostrar e fazer ver o fenômeno da existência humana a partir de si mesmo, e não de teorias. Assim, os existenciais são uma descrição fenomenológica da existência.
 Antes da publicação de Ser e Tempo, a fenomenologia de Husserl já tinha sido ‘importada’ para as ciências psicológicas. Foi Karl Jaspers (1883 – 1969), psiquiatra e aluno de Husserl, que primeiramente se propôs a descrever a experiência vivenciada por pacientes internados em hospital psiquiátrico. Seu importante livro Psicopatologia Geral (1913) é um marco na Psicopatologia. Nele, Jaspers segue o método fenomenológico husserliano para descrever a vivência psicopatológica como fenômeno. Além disso, manifesta uma crítica ao emprego da metodologia científico-natural na compreensão dos fenômenos humanos. A psicopatologia do começo do século XX fundamentava-se na medicina organicista e, em centros de vanguarda, na psicanálise freudiana. Ambas as perspectivas são causais e explicativas. A fenomenologia de Husserl aparece, então, como um método descritivo da experiência humana.
 Esse passo inicial dado por Jaspers é seguido por outros psiquiatras nas décadas seguintes, como o francês Eugene Minkowski (1885 – 1972) e os alemães Erwin Straus (1891 – 1975) e Von Gebsatel (1883 – 1974). A publicação de Ser e Tempo em 1927 traz novas possibilidades de compreensão dos fenômenos humanos, inaugurando uma ‘segunda fase’ do pensamento fenomenológico na compreensão dos fenômenos psicológicos.
O termo “daseinsanalyse” aparece pela primeira vez no tratado de Heidegger. Lá, como vimos, significa uma descrição dos ‘existenciais’, que são a constituição ontológica do ser que somos. O primeiro psiquiatra a reconhecer a importância da concepção de Dasein para a psicopatologia foi Ludwig Binswanger. Em 1941, Binswanger elabora uma daseinsanalyse psiquiátrica como novo método de investigação dos fenômenos psiquiátricos. Percebe-se uma modificação no significado do conceito, que na filosofia de Heidegger era ontológico (descrição do ser) e agora se torna ôntico (descrição de modos concretos). Binswanger apóia-se em Ser e Tempo para desfazer a dicotomia sujeito-objeto, que para ele é um “verdadeiro câncer da ciência.” (Boss, “Análise existencial – daseinsanalyse”).
Segundo Binswanger, “Uma psicoterapia de base analítico existencial investiga a história de vida do doente e tratamento (…) Explica a biografía e suas particularidadespatológicas (…) como uma modificação da estrutura total do ser-no-mundo…” (Binswanger, “Análisis existencial y psicoterapia”, p.459, tradução própria)
Segundo Boss, a compreensão que Binswanger desenvolve de Ser e Tempo é equivocada, pois confunde ôntico e ontológico, vindo a sentir a necessidade de acrescentar a relação de amor ao existencial “cura”. Revelada sua confusão, Binswanger mesmo deixa de considerar suas investigações daseinsanalíticas, preferindo considerá-las uma “antropologia fenomenológica”.
Daseinsanalyse torna-se o termo para se referir ao esforço de Medard Boss, com auxílio de Heidegger, para compreender os fenômenos humanos saudáveis e patológicos a partir da compreensão da existência humana como Dasein.
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
 A descrição fenomenológica da existência como ser-no-mundo possível é o fundamento da compreensão fenomenológico-existencial. O psicólogo que fundamenta o seu trabalho nesta abordagem está interessado em compreender junto ao(s) outro(s) como é seu mundo e como se lança nesse que é o seu mundo, resgatando sua condição ontológica de ser-possível.
A fenomenologia-existencial não é uma teoria. Teorias são construtos hipotéticos utilizados para explicar as causas não-observáveis de fenômenos observáveis. A fenomenologia é o oposto disso, pois se propõe a compreender o modo de ser do fenômeno tal como aparece. Na psicologia, isso significa compreender a existência do(s) outro(s). A descrição da existência em Ser e Tempo serve como parâmetro para nortear essa compreensão.
Os existenciais são coordenadas para a compreensão. Por exemplo, a vivência de um paciente será compreendida à luz de como é com-os-outros, como espacializa, temporaliza, assume sua existência como própria e singular, etc. A fenomenologia-existencial abole a noção de consciência em prol do ser-aí, que é a existência enquanto abertura de mundo. Com isso, abandona a primazia cognitiva que fundamenta grande parte da psicologia do século XX. Deixa de lado também noções preconcebidas de saúde e doença. Assim, o psicólogo fenomenológico-existencial aproxima-se da existência do outro como um ser-possível responsável por seu ser-no-mundo.
MÓDULO 7: COMPREENSÃO E AÇÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
Compreender a ação clínica na perspectiva fenomenológico-existencial e o lugar e as possibilidades do psicólogo nesse contexto teórico.
Bibliografia básica: JARDIM, L.E. Ação e Compreensão na clínica fenomenológico-existencial. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 45 – 76.
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “Uma caracterização da Psicoterapia” In: Na Presença do Sentido: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. São Paulo: EDUC, 2010.
Bibliografia complementar: BARRETTO, C.L.B.T. A Ação Clínica e a Perspectiva Fenomenológica Existencial In: MORATO, H. et al. (org.) Aconselhamento Psicológico numa Perspectiva Fenomenológica Existencial: Uma Introdução, pp. 41- 51. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Concepção de uma Psicoterapia daseinsanalítica
	Para uma compreensão adequada da ação clínica na perspectiva fenomenológico-existencial temos que considerar a definição de psicoterapia daseinsanalítica como “procura, via poiesis, pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido.” (Pompeia, 2004. pp.169). Para entendermos o sentido dessa definição, precisamos ter clareza sobre os termos que a compõem, todos eles pertencentes ao contexto fenomenológico existencial.
 Em Ser e Tempo, Heidegger (1927/1998) indica cura como essência do Dasein. Etimologicamente, cura remete a cuidado; o Dasein é o ente que, existindo, cuida de ser. No contexto psicoterapêutico, o sofrimento psicológico indica restrições nas possibilidades de existir. Assim, a terapia é pro-cura significando que ela vai em direção ao cuidado, favorecendo-o.
 Poiesis é o termo grego, origem da palavra poesia. Significa pro-dução, isto é, realização de algo que antes não existia, condução de algo possível ao aberto do mundo. Poiesis está associado a techné (Cf. Módulo 05), que é a ação que propicia o surgimento de algo. Poiesis é uma modalidade de discurso: a fala poiética. Nesse modo de discurso, algo se apresenta e pode ser abarcado, compreendido, compartilhado. O discurso poiético está no polo oposto do discurso lógico, persuasivo.
 Para compreendermos ‘liberdade’, precisamos desdobrá-la em ‘liberdade de...’ e ‘liberdade para...’ O senso comum entende liberdade como ausência de solicitações (liberdade de...). Em geral, quando alguém procura terapia está querendo se livrar de algo que oprime e restringe. Mas a terapia age na direção da liberdade para ouvir, compreender e poder (obedecer, de ob-audire) lidar com as solicitações do existir.
 Na concepção latina, verdade vem do étimo veritas, que significa a correspondência entre a ideia (conceito) e o objeto. Ao longo da história filosófica ocidental, a correspondência é garantida pelo método, que deve seguir as regras lógicas de demonstração. Assim, a verdade (veritas) é demonstrável. Mas, veritas é a tradução latina para o termo grego aletheia, que significa des-velamento, des-ocultação. Heidegger (1927/1998) resgata o sentido original de verdade como o mostrar-se algo. Esta verdade (aletheia) é reconhecida, compreendida, pois se refere ao como algo se mostra para mim.
 Sentido é aquilo que na “hora em que falta, todos nós sabemos de que se trata.” (Pompeia, 2010, p.164) Sendo fundamentalmente possibilidade, o ser-no-mundo só existe enquanto encontra a significância das coisas, dos outros e de si mesmo, à luz dos projetos nos quais está lançado. É a dedicação ao projeto de sentido (que Pompeia chama de ‘sonhos’) que está comprometida quando a existência está restrita. Por isso, a psicoterapia daseinsanalítica visa resgatar a possibilidade de escutar o que o existir solicita (sentido) para poder ser.
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-existencial
A partir da caracterização de psicoterapia acima, a concepção de fenomenologia enquanto um arcabouço teórico não se sustenta e esta passa a ser entendida como uma postura do terapeuta que favorece ao paciente revelar-se como fenômeno.
A postura do terapeuta exige, portanto, a escuta atenta e um demorar-se nas situações relatadas, visando explicitar os sentidos vividos pelo paciente nas descrições de suas experiências. 
A compreensão, na analítica do dasein, é um aspecto fundamental da condição de estar lançado do homem implicando na condição de ser-no-mundo. O ser-aí habita o mundo faticamente em sua abertura constitutiva. Assim, a ação clínica enquanto disponibilidade para a compreensão do existir se configura como oportunidade para explicitação dos sentidos. 
O paciente e terapeuta, no processo de psicoterapia, realizam o aí compartilhado a partir do qual os modos concretos de ser do paciente se mostram e podem ter seus sentidos des-velados.
As tonalidades afetivas que tingem cada experiência podem ser reconhecidas e o paciente passa a se ver responsável pelas escolhas que faz. 
Desse modo a ação clínica em uma perspectiva fenomenológico-existencial não está ocupada em resolver problemas, retirar sintomas ou adequar o paciente a referências alheias, mas sim, está comprometida em oferecer uma experiência de retomada do próprio acontecer histórico; do já vivido, do atual e do porvir, recolocando o existir do paciente no processo de ser.
MÓDULO 8: PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICO
Apresentar a compreensão fenomenológico-existencial de fenômenos clínicos na relação terapêutica e seu manejo 
Bibliografia básica: FEIJOÓ, A. M. “3.4.A tonalidade afetiva do tédio.” A Existência para além do Sujeito, pp. 173 – 195
Bibliografia complementar: FEIJOÓ, A. M. “3.1. Considerações acerca da criança e a clínica psicológica infantil.” A Existência para além do Sujeito, pp. 90 – 107.
Compreensão dos fenômenosclínicos atuais
Ana Maria Feijoo (2011) delimita pontos fundamentais para uma psicologia fenomenológico-existencial. Afirma que o ser-para-morte presente na obra Ser e Tempo de Heidegger refere-se “ao horizonte de finitude em que todas as possibilidades sempre se encontram, e no qual o ser-aí se abre como cuidado, em seu ter de ser quem ele sempre é, para o caráter de indeterminação de sua existência. Portanto cabe ao ser-aí e apenas a ele a sua tutela: é isto que a decisão antecipadora da morte revela, determinando o seu próprio modo de ser.” ( pp. 133) 
Esta consideração implica no horizonte possível para a clínica psicológica na perspectiva fenomenológico-existencial. Inicialmente, propõe que a atitude fenomenológica é a base da atenção clínica e está comprometida em ilustrar das o exercício hermenêutico presente nos atendimentos psicológicos, comprometidos em desvelar os sentidos das vivências ônticas.
Este compromisso da clínica fenomenológico-existencial considera que as experiências de sofrimentos são articuladas com a restrição do poder-ser do homem, portanto a realização da existência é aproximar-se do seu ser-próprio. Assim, a prática clínica nesta abordagem está comprometida com a desconstrução das identificações restritivas e o que exige deslocamento existencial da disposição afetiva fundamental. Uma das possibilidades do processo terapêutico é a revelação da verdade clínica que liberta da restrição identitária do aqui-agora.
Mais uma vez, a compreensão é entendida enquanto ação na clínica fenomenológica, pois compreender possibilita esclarecer o modo de ser-no-mundo dos pacientes. O esclarecimento contribui para que os pacientes possam se tornar responsáveis por suas escolhas, oportunizando decisões que os aproximem do seu poder-ser. 
A clínica fenomenológico-existencial não está comprometida em tratar, adequar ou fazer com que o paciente se adapte ao mundo, mas sim oferecer espaço para que o cuidado pela própria existência possa ser vivido pelo paciente, o que contribui para alcançar um modo-de-ser mais autêntico, ou seja, afinado com as possibilidades reais de cada pessoa.
Atendimento à crianças
Bibliografia básica: FEIJOÓ, A. M. “3.1. Considerações acerca da criança e a clínica psicológica infantil.” A Existência para além do Sujeito, pp. 90 – 107
Para compreender o atendimento clínico existencial com crianças é necessário que deixemos de lado as “teorias tradicionais acerca do desenvolvimento, da personalidade, da aprendizagem da criança,” (Feijoo, pp. 91) que postulam a chegada de um bebê ao mundo como um ser autocentrado e/ou encapsulado.
Para a fenomenologia-existencial o ser-aí da criança já se constitui como um Dasein. O nascimento biológico do ser humano delimita a inauguração da existência e, portanto, da condição de estar lançado no mundo. Assim, o ser-aí da criança é entendido enquanto um ente com caráter indeterminado. 
Para aprofundar a compreensão do ser-aí da criança é necessário retomar a noção de intencionalidade proposta por Husserl. Nela a consciência é considerada em sua imanência, ou seja, se realiza enquanto uma ação de dirigir-se a... e constitui a cooriginalidade de homem e mundo. Todo ato é tido como intencional, incluindo os atos de sugar, chorar e dormir do bebê que podem ser, equivocadamente, entendidos enquanto reflexos. Com isso, afastamo-nos das determinações biológicas ou sociais e aproximamo-nos da ideia que o mundo oferece possibilidades para a criança ser do seu modo. O ser-aí do bebê é marcado pela quietude, calor, alimentação e estado de sono. Porém, o ato de assustar-se com algum barulho já evidencia a articulação do bebê com o espaço.
Por fim, temos que considerar que a responsabilidade e liberdade são dimensões constitutivas do ser-aí para a psicologia fenomenológico-existencial, porém, na vida das crianças, tais dimensões estão sob tutela temporária dos adultos responsáveis por elas.
Esta peculiaridade do modo de ser da criança estabelece objetivos claros para o atendimento psicológico infantil, pois a terapia, neste contexto, deve oferecer espaço para que a criança possa preencher com seus significados e experimentar na sessão sua responsabilidade para ser, sendo acompanhada no desenrolar do processo. Desse modo, a criança pode experimentar as dimensões ontológicas e cuidar de si.
Neste sentido, o atendimento psicológico infantil não deve ser confundido com psicodiagnóstico ou trabalho pedagógico como reforço escolar. O psicólogo não deve ocupar o lugar dos pais ou da escola que assumem a tutela temporária das responsabilidades da criança, pois esta ainda não pode assumi-las por completo.
EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 
MÓDULO 1
(1) Husserl (1859 – 1938) foi o iniciador da fenomenologia. Sua formação acadêmica iniciou-se na matemática, passou pela psicologia filosófica e desembocou na filosofia. A fenomenologia é filosofia. Sobre a fenomenologia elaborada por Husserl, está correto afirmar:
I – Busca um fundamento seguro para as ciências humanas, as ciências naturais e a filosofia.
II – Tem como lema o retorno “às coisas mesmas”, que significa um retorno à pesquisa empírica e à experimentação.
III – A palavra “fenomenologia” é composta por “fenômeno”, que significa “aquilo que aparece”, e “logos”, que significa “sentido imanente”.
IV – Foi formulada desde 1900 como um modelo de atendimento psicoterápico, que visa a compreensão do outro.
V – Concebe o mundo como existindo em si mesmo e concebe um método (“método fenomenológico”) para conhecer a realidade que se esconde por trás das aparências.
Estão corretas apenas as afirmações:
(A) I, II, III, IV e V.
(B) I, II, IV e V.
(C) I e III.
(D) II, IV.
(E) I e III.
Resposta => Se você leu atentamente os textos e compreendeu o impulso husserliano à Fenomenologia, foi capaz de identificar a alternativa E como correta. A afirmação II indica como “retorno às coisas mesmas” o retorno à empiria, por isso está incorreta. A proposta da fenomenologia é retornar aos fenômenos no seu aparecer na correlação intencional, isto é, na relação consciência-objeto. A afirmação IV apresenta a fenomenologia como um método psicoterápico, o que está errado, pois surgiu como filosofia primeira, no esforço de fundamentação de todas as ciências. A afirmação V fala de uma “realidade por trás da aparência”. Para a fenomenologia, o que aparece é o que é tal como é.
(2) Leia atentamente a seguinte afirmação de Husserl:
Mostra-se, pois, por toda a parte, esta admirável correlação entre o fenômeno do conhecimento e o objeto de conhecimento. Advertimos agora que a tarefa da fenomenologia, ou antes, o campo das suas tarefas e investigações, não é uma coisa tão trivial como se apenas houvesse que olhar, simplesmente abrir os olhos. (Husserl, 1907/1990, p.33) [Referência bibliográfica: Husserl, E. A Ideia da Fenomenologia. Trad.: Artur Morão. 1a ed. 1907. Lisboa: Edições 70, 1990.]
 Sobre esta citação está correto afirmar:
 I – A passagem se refere à intencionalidade da consciência, que pode ser descrita como a propriedade de toda consciência ser referida a um objeto e todo objeto só ser enquanto referido a uma consciência.
II – Através desta concepção, sujeito cognoscente e objeto conhecido deixam de ser entidades separadas e se revelam co-originários.
III – A fenomenologia é uma tarefa pois exige que se saia da atitude natural em relação ao mundo para poder conhecer sua constituição.
IV – O fenomenólogo precisa do método fenomenológico para conhecer as intenções da consciência, isto é, o que a motiva.
Estão corretas: 
(A) I, II e IV, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) II, III e IV, apenas.
(D) I, II e III, apenas.
(E) II e III, apenas.
Resposta => Se você leu os textos indicados e compreendeu os conceitos apresentados, foi capaz de identificar que as afirmações I, II e III apresentam corretamente a intencionalidade da consciência, a correlação intencional (que supera a dualidade Sujeito-Objeto) e a fenomenologiacomo tarefa, respectivamente. A afirmação IV está incorreta, pois define intencionalidade (intentio) como motivação, deturpando o sentido desse termo na fenomenologia, que é “dirigir-se a...”.
MÓDULO 2 
(3) Sobre o Dasein, Heidegger escreve que “é próprio deste ente que seu ser se lhe abra e manifeste com e por meio do seu próprio ser, isto é, sendo. A compreensão do ser é em si mesma uma determinação do ser do Dasein. O privilégio ôntico que distingue o Dasein está em ser ele ontológico.” (1927, p.38) 
Nessa afirmação estão presentes dois conceitos essenciais para a compreensão da fenomenologia-existencial e para a implicação das descrições de Heidegger para as ciências do homem. A saber, tratam-se dos conceitos de “ontológico” e “ôntico”, que significam, respectivamente: 
(A) “ontológico” é a constituição do aparelho psíquico do ser-aí, enquanto “ôntico” se refere às representações que o preenchem. 
 (B) “ontológico” é a constituição essencial do ser-aí, enquanto ôntico refere-se aos modos concretos possíveis em que essa constituição se manifesta cotidianamente.
 (C) “ontológico” significa que se refere ao ser do ser-aí, enquanto “ôntico” ao ser dos objetos.
 (D) “ontológico” significa a possibilidade de conscientização do ser-aí sobre si mesmo, enquanto “ôntico”, ao modo irrefletido em que as pessoas vivem.
 (E) “ontológico” é sinônimo de “fenomenológico”, enquanto “ôntico” se refere às abordagens não-fenomenológicas.
Resposta => Se você leu os textos e compreendeu a diferença entre ôntico e ontológico, assinalou a resposta B como a correta, pois nela está expresso que “ontológico” se refere à constituição essencial do Dasein, enquanto “ôntico” se refere aos modos concretos de ser. Assim, dizemos que o ser-no-mundo é ontológico – constitutivo de todo ser-no-mundo –, enquanto ser um existente neste contexto histórico-social, nesta família, etc., é ôntico.
(4) Escreve o daseinsanalista Pompeia (2004):
Poder existir é uma oportunidade que se renova a cada instante. Pode ser que vivamos só este momento ou por mais alguns dias, anos, até mais de cem anos. Pode, não tem de ser assim, apenas pode. A vida não é um direito nosso, pois pode ser arrebatada a qualquer momento; não é um dever nosso, pois não nos é dada como condição de necessidade, mas é uma contingência. 
Assim, existir emerge como projeto. A partir desse contexto, a afirmação correta abaixo é:
(A) O determinismo encontra-se aí na condição de ser-para-a-morte.
 (B) A experiência humana da vida é, originariamente, fixada num dado tempo e num dado espaço.
 (C) A relação entre o homem e sua existência depende do modo como ele enfrenta sua condição de mortal.
 (D) A existência só pode ser compreendida a partir de uma análise cronológica dos eventos que permeiam a vida de cada homem.
 (E) O horizonte existencial do homem é infinito e indeterminado.
Resposta => A afirmação A apresenta o ser-para-a-morte como uma condição determinística. Está incorreta, pois embora a morte seja uma possibilidade certa, ela não impõe determinação alguma à existência. Como cada qual lida com a mortalidade (e não com a morte em si) é uma questão pessoal, social e cultural e possível, indeterminada.
A afirmação B está incorreta, pois não é possível fixar um tempo ou espaço para a vida. Essas questões permanecem em aberto – possíveis – enquanto a existência existir.
Na afirmação C lemos que a relação de cada um com sua existência depende de como enfrenta sua condição de mortal. Devemos lembrar que enfrentar a condição de mortal é sinônimo de enfrentar a própria existência. Assim, como cada qual lida com sua vida está, sim, relacionado com como cada qual lida com a possibilidade de sua impossibilidade. E isso a cada instante. É a alternativa correta. Vejamos por que as demais estão incorretas.
A afirmação D apresenta que devemos fazer uma análise cronológica dos eventos da vida para compreender a existência. Está errado, pois a cronologia é secundária para o Dasein. Os eventos passados adquirem sentido a partir do projeto em que o Dasein está lançado. Isso ficará mais claro quando estudarmos a temporalidade do Dasein.
A afirmação E apresenta que o horizonte existencial como infinito. Está errada, pois o horizonte existencial de todos nós é a morte, que é um acontecimento certo com data incerta. Cada Dasein lida com a possibilidade de sua impossibilidade – horizonte finito – à sua maneira.
MÓDULO 3
(5) Leia atentamente o trecho extraído do livro DUBOIS, C. Heidegger: Introdução a uma Leitura. (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004) e o poema XIX de Mario Quintana, publicado no livro A Rua dos Cataventos (1940), e considere as afirmações abaixo.
Na relação com a possibilidade da morte, que não me oferece nada de particular para esperar, essa possibilidade se dá como a possibilidade mais própria. (...) Como ser-lançado, o Dasein é portanto, enquanto ser-no-mundo, lançado no ser-para-a-morte: ele o experimenta na angústia, da qual, cotidia-namente, decadente, foge. Como? Tranquilizando-se. Morre-se, certamente, mas por enquanto, tudo bem, ainda dá tempo. (...) Ao contrário, o ser-para-a-morte suportado está certo da morte. (...) certeza de si quer dizer: certeza de si como mortal. (...) Sum quer dizer sum moribundus. (DUBOIS, 2004, p.50)
Minha morte nasceu quando eu nasci
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi.
Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi!
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:
 
Tu és a minha doce Prometida,
Nem sei quando serão nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
 
E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti... saber que tu existes!
I – Ambos os textos se referem à antecipação da morte. Heidegger utiliza o conceito ser-para-a-morte, enquanto Quintana refere-se a ela como “a Prometida”.
II – Com o conceito de ser-para-a-morte, Heidegger se refere à condição mortal do homem.
III – A finitude do Dasein é o que desvela para si que é substituível na sua existência.
IV – No poema de Mario Quintana, a morte é apresentada como “a Prometida”, o que, do ponto de vista da fenomenologia existencial, revela uma tendência suicida latente de seu Dasein.
Estão corretas: 
(A) I e II, apenas. 
(B) II e III, apenas. 
(C) III e IV, apenas. 
(D) I, II e IV, apenas. 
(E) I, II e III, apenas.
Resposta => Se você leu atentamente a bibliografia indicada, pôde reconhecer que a afirmação I está correta, pois, de acordo com a citação de Dubois, a antecipação da morte revela o ser-para-a-morte constitutivo da existência. No poema de Mario Quintana essa ideia é expressada, em linguagem poética, como a Prometida, uma possibilidade que o acompanha desde sua infância e que um dia acontecerá. Para Heidegger, desde que lançado na existência, o Dasein é ser-para-a-morte. Assim, a afirmação II também está correta.
(6) Leia o trecho de Kierkegaard, que inspira a compreensão fenomenológico-existencial sobre a angústia desenvolvida por Heidegger em Ser e Tempo, e responda.
A angústia é a possibilidade da liberdade, só esta angústia é, pela fé, absolutamente formadora, na medida em que consome todas as coisas finitas, descobre todas as ilusões. E nenhum Grange Inquisidor dispõe de tão horripilantes tormentos como a angústia, e nenhum espião sabe investir sobre o suspeito com tanta astúcia, justo no momento em que está mais debilitado, ou sabe preparar armadilhas, em que este ficará preso, tão insidiosamente como a angústia, e nenhum juiz sagaz consegue examinar, sim, ‘ex-animar’ [desalentar], o acusado como a angústia, que não o deixa escapar jamais, nem nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite. (p.164) [Referência bibliográfica: KIERKEGAARD, S. (1944/2011) O Conceito de Angústia. Petrópolis,RJ: Vozes.]
Sobre a angústia na Fenomenologia Existencial é correto afirmar:
I – Assim como na citação, Heidegger afirma que não há como escapar da angústia, nem mesmo “nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite” pois a angústia é constitutiva do Dasein (ontológica).
II – A angústia rompe com a familiaridade do mundo, produzindo estranhamento. A fenomenologia existencial busca reconduzir quem vivencia essa estranheza a alguma familiaridade.
III – Para a fenomenologia existencial, a psicoterapia auxilia na profilaxia da angústia, evitando que ela irrompa.
Estão corretas somente:
(A) I, apenas.
(B) II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) I e II, apenas.
(E) II e III, apenas.
Resposta => Se você leu atentamente os textos indicados na bibliografia, não deve ter tido dificuldades para compreender a citação de Kierkegaard. Ele escreve sobre o mesmo fenômeno da angústia, descrito por Heidegger, porém, com outra linguagem. Tanto para Kierkegaard quanto para a Heidegger, a angústia – que é o rompimento com a familiaridade com o mundo – é uma possibilidade intrínseca à existência. Portanto, não há como escapar dela. Portanto, as afirmações I e II estão corretas. A afirmação III sugere que há um modo de fugir da angústia; no caso, a psicoterapia. Dado que é uma possibilidade intrínseca, não há como a evitar. Também não há porque a evitar, dado que a angústia revela a cada um que sua existência está sob sua responsabilidade.
MÓDULO 3 (2)
(7) Leia atentamente o trecho extraído do livro DUBOIS, C. Heidegger: Introdução a uma Leitura. (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004) e o poema XIX de Mario Quintana, publicado no livro A Rua dos Cataventos (1940), e considere as afirmações abaixo.
Na relação com a possibilidade da morte, que não me oferece nada de particular para esperar, essa possibilidade se dá como a possibilidade mais própria. (...) Como ser-lançado, o Dasein é portanto, enquanto ser-no-mundo, lançado no ser-para-a-morte: ele o experimenta na angústia, da qual, cotidia-namente, decadente, foge. Como? Tranquilizando-se. Morre-se, certamente, mas por enquanto, tudo bem, ainda dá tempo. (...) Ao contrário, o ser-para-a-morte suportado está certo da morte. (...) certeza de si quer dizer: certeza de si como mortal. (...) Sum quer dizer sum moribundus. (DUBOIS, 2004, p.50)
Minha morte nasceu quando eu nasci
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi.
Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi!
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:
Tu és a minha doce Prometida,
Nem sei quando serão nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti... saber que tu existes!
I – Ambos os textos se referem à antecipação da morte. Heidegger utiliza o conceito ser-para-a-morte, enquanto Quintana refere-se a ela como “a Prometida”.
II – Com o conceito de ser-para-a-morte, Heidegger se refere à condição mortal do homem.
III – A finitude do Dasein é o que desvela para si que é substituível na sua existência.
IV – No poema de Mario Quintana, a morte é apresentada como “a Prometida”, o que, do ponto de vista da fenomenologia-existencial, revela uma tendência suicida latente de seu Dasein.
Estão corretas:
(A) I e II, apenas.
(B) II e III, apenas.
(C) III e IV, apenas.
(D) I, II e IV, apenas.
(E) I, II e III, apenas.
Resposta => Se você leu atentamente a bibliografia indicada, pôde reconhecer que a afirmação I está correta, pois, de acordo com a citação de Dubois, a antecipação da morte revela o ser-para-a-morte constitutivo da existência. No poema de Mario Quintana essa idéia é expressada, em linguagem poética, como a Prometida, uma possibilidade que o acompanha desde sua infância e que um dia acontecerá. Para Heidegger, desde que lançado na existência, o Dasein é ser-para-a-morte. Assim, a afirmação II também está correta.
(8) Leia o trecho de Kierkegaard, que inspira a compreensão fenomenológico-existencial sobre a angústia desenvolvida por Heidegger em Ser e Tempo, e responda.
A angústia é a possibilidade da liberdade, só esta angústia é, pela fé, absolutamente formadora, na medida em que consome todas as coisas finitas, descobre todas as ilusões. E nenhum Grange Inquisidor dispõe de tão horripilantes tormentos como a angústia, e nenhum espião sabe investir sobre o suspeito com tanta astúcia, justo no momento em que está mais debilitado, ou sabe preparar armadilhas, em que este ficará preso, tão insidiosamente como a angústia, e nenhum juiz sagaz consegue examinar, sim, ‘ex-animar’ [desalentar], o acusado como a angústia, que não o deixa escapar jamais, nem nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite. (p.164)
KIERKEGAARD, S. (1944/2011) O Conceito de Angústia. Petrópolis, RJ: Vozes.
Sobre a angústia na daseinsanalyse é verdadeiro afirmar:
I – Assim como na citação, Heidegger afirma que não há como escapar da angústia, nem mesmo “nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite” pois a angústia é constitutiva do ser-aí (ontológica).
II – A angústia rompe com a familiaridade do mundo, produzindo estranhamento. A fenomenologia-existencial busca reconduzir quem vivencia essa estranheza a alguma familiaridade.
III – Para a fenomenologia-existencial, a psicoterapia auxilia na profilaxia da angústia, evitando que ela irrompa.
(A) I, apenas.
(B) II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) I e II, apenas.
(E) II e III, apenas.
Resposta => Se você leu atentamente os textos indicados na bibliografia, não deve ter tido dificuldades para compreender a citação de Kierkegaard. Ele escreve sobre o mesmo fenômeno da angústia, descrito por Heidegger, porém, com outra linguagem. Tanto para Kierkegaard quanto para a Heidegger, a angústia – que é o rompimento com a familiaridade com o mundo – é uma possibilidade intrínseca à existência. Portanto, não há como escapar dela. Portanto, as afirmações I e II estão corretas. A afirmação III sugere que há um modo de fugir da angústia; no caso, a terapia. Dado que é uma possibilidade intrínseca, não há como a evitar. Também não há porque a evitar, dado que a angústia revela a cada um que sua existência está sob sua responsabilidade.
MÓDULO 4
(9) Leia as duas frases de Critelli e, considerando a relação entre elas, indique a alternativa correta:
“Os homens experimentam uma necessidade ontológica de compartilhar seus conhecimentos, suas descobertas, seus sentimentos e pensamentos"
POIS,
"para os homens, tudo o que chamamos de real é aberto e sustentado pelo viver em conjunto.” (p.26)
Assinale a alternativa correta:
(A) As duas asserções são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
(B) As duas asserções são verdadeiras e a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
(C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda, uma proposição falsa.
(D) A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda, uma proposição verdadeira.
(E) Tanto a primeira como a segunda são proposições falsas.
Resposta => Se você acompanhou o texto acima e leu o texto indicado pôde compreender que a existência humana é coexistência, isto é, acontece com-os-outros-no-mundo. Terá assinalado a alternativa A como correta. Para Arendt o existir é político. Sendo assim, ser-aí e mundo são dois polos do mesmo fenômeno, que é o existir com outros. Portanto, ambas as afirmações estão corretas e a segunda é uma justificativa correta da primeira. 
(10) Uma psicóloga fenomenológica atendia em seu consultório uma menina. A menina enrolou uma massinha até formar uma cobra. No momento seguinte, pega um instrumento e começa a cortar a cobra em vários pedaços. Sua primeira reação foi de interpretar à luz das concepções psicanalíticas.

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