RESUMO: PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS E IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS DO PENSAMENTO DE VYGOTSKY

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MARIANA COUTINHO​ ​| FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA| IPSA01 | PSICOLOGIA | PROFª CAROLINA DE MATOS| 2019.2 
 
Fichamento/resumo de texto: ​REGO​, Tereza Cristina. VYGOTSKY: uma perspectiva histórico-cultural 
da educação. Cap. IIl - PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS E IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS DO 
PENSAMENTO VYGOTSKIANO. 
 
 
VYGOTSKY 
 
Antes de apresentar as contribuições de Vygotsky para o campo educacional, é 
necessário, primeiramente, analisarmos brevemente as teorias psicológicas anteriormente 
formuladas acerca da constituição da psique humana: o inatismo e o ambientalismo 
(behaviorismo). 
 
INATISMO​: ​Também conhecida como “apriorista” ou “nativista”, e inspirada nas premisas 
filosóficas racionalista (Descartes) e idealista (Leibniz), essa teoria exclui as interações 
sócio-culturais do meio onde o indivíduo se insere como influenciadoras da formação 
comportamental da criança, se baseando na ideia de que as capacidades básicas do ser 
humano (personalidade, comportamentos, etc.) são ​inatas, ​ou seja, ​já se encontravam 
praticamente prontas desde o momento de nascimento e potencialmente 
determinadas​, e dependiam do amadurecimento para se manifestar. 
Visto que todo indivíduo já viria carregado de determinações inatas, o sucesso e 
fracasso de cada criança dependeria quase exclusivamente de seu talento, definindo assim 
seu desempenho escolar. Assim, ​como comportamentos agressivos, impetuosos ou 
demasiadamente passivos seriam características inatas, a educação teria reduzidas 
chances de modificá-lo. 
 
BEHAVIORISMO OU AMBIENTALISMO: ​Também chamada de associacionista ou 
comportamentalista, essa teoria se inspirava no positivismo (Comte) e empirismo (Bacon, 
Locke, Hume, Berkeley) para atribuir ​exclusivamente ao ambiente a constituição das 
características humanas, privilegiando as experiências como fonte de conhecimento para a 
construção de hábitos e comportamentos. Assim, as características individuais são 
influenciadas por ​fatores externos ao indivíduo. 
O impacto dessa abordagem pode ser observado em programas educacionais que 
visam estimular o desenvolvimento de crianças de baixa renda, deixando subjacente a ideia 
de que a escola teria o poder não somente de transformar o indivíduo, como também de 
corrigir os problemas sociais. ​Essa ​supervalorização da escola se dá também porque o 
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aluno seria como uma “tábula rasa”, podendo ser preenchida pela maior quantidade de 
conhecimento possível. 
Nesta perspectiva, o esforço individual, a atenção a palavra do professor e a 
disciplina são garantias de conhecimento, de modo que as interações entre indivíduos 
(como conversas e brincadeiras) são duramente repreendidas, vistas como indisciplina. A 
aprendizagem é confundida com a memorização e se privilegia a relação adulto-criança. 
Mesmo baseados em pressupostos filosóficos diferentes, o inatismo e o 
ambientalismo podem ser usadas para justificar o ​espontaneísmo​. O espontaneísmo prega 
que a construção de conhecimento se dá de maneira livre pela criança, e fatores como a 
educação recebida em casa influencia no desempenho e características individuais do 
aluno. Desse modo, a solução estaria fora do alcance da escola. A escola se vê 
desvalorizada e isenta de cumprir o seu papel de possibilitador e desafiadora do processo 
de conhecimento. 
 
A ABORDAGEM SÓCIO-INTERACIONISTA DE VYGOTSKY 
 
Em síntese, nesta abordagem, o sujeito produtor de conhecimento não é um mero 
receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um 
plano ideal; pelo contrário, ​é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com o 
seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento 
envolve sempre um fazer, um atuar do homem. Vygotsky entende o homem e seu 
desenvolvimento numa perspectiva sociocultural, ou seja, percebe que o homem se 
constitui na interação com o meio em que está inserido. 
Baseando-se no pressuposto de que não há essência ​a priori imutável, investiga a 
construção do sujeito em sua interação com o mundo, sua relação com os demais 
indivíduos, a gêneses da estrutura de seu pensamento, a construção de seu conhecimento. 
 
PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS 
As bases filosóficas na teoria de Vygotsky se encontram no ​materialismo histórico 
dialético de Marx e Engels que, em suma, prega que o processo de vida social, política e 
econômica ​é condicionado pelo modo de produção de vida material​. Diante disso, 
Vygotsky defende que, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural 
que se insere, o que se dá é uma interação dialética, na qual o desenvolvimento das 
funções da psíquicas humanas (consciência, pensamento) derivam de um processo de 
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apropriação pelo homem da experiência histórica e cultural, estando diretamente 
relacionado ​à atividade material e ao intercâmbio entre os homens. 
Vygotsky viu nos métodos e princípios do materialismo dialético a solução dos 
paradoxos científicos que se defrontavam com seus contemporâneos e, como 
consequência, a superação de um estado de crise na psicologia. 
Graças a influência do materialismo dialético, o indivíduo, agora contextualizado 
(histórica e socialmente) pode ser desnudado e estudado dialeticamente com relação às leis 
de sua evolução biológica e às leis de seu desenvolvimento sócio histórico. 
 
PLANOS GENÉTICOS DE DESENVOLVIMENTO 
 
Vygotsky postulou os denominados “Planos Genéticos de Desenvolvimento”, ou seja, quatro 
entradas de desenvolvimento que, juntas, caracterizam o funcionamento psicológico do ser 
humano, a saber: 
 
1. filogênese​: diz respeito à história da espécie humana, que define limites e 
possibilidades de funcionamento psicológico,apontando que o ser humano pode 
fazer (andar) e o que não pode fazer (voar). Uma das características da espécie 
humana é a ​plasticidade do cérebro, que se adapta a muitas circunstâncias 
diferentes. 
 
2. ontogênese​: diz respeito a ​história do indivíduo da espécie, do desenvolvimento do 
ser, de uma determinada espécie. ​Por fazer parte de uma determinada espécie, todo 
membro desta espécie passa por certo percurso de desenvolvimento que é definido 
e não outro. Nesse sentido, várias coisas são determinadas pela passagem daquele 
indivíduo da espécie por uma sequência de desenvolvimento natural daquela 
espécie. 
 
3. sociogênese: ​diz respeito à ​história do meio cultural onde o sujeito está inserido e 
as formas de funcionamento cultural que interferem no funcionamento psicológico, 
que de certa forma ainda o definem, o que ocorre de acordo como cada cultura 
organiza o desenvolvimento. Por exemplo, as fases da adolescência e da velhice 
são desenvolvidas de formas diferentes, dependendo da cultura do local que se 
analisa. 
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4. microgênese: ​diz respeito ao aspecto mais microscópico do desenvolvimento, onde 
cada fenômeno psicológico é analisado separadamente, com foco bem definido. Por 
meio dessa entrada pode-se refutar a idéia do determinismo. 
 
 
 
ALGUMAS IMPLICAÇÕES DA ABORDAGEM VYGOTSKIANA DA EDUCAÇÃO 
 
Os postulados de Vygotsky parecem apontar para a necessidade de uma escola 
bem diferente da que conhecemos. Uma escola de papel valorizado, em que as pessoas 
possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Onde há espaço para 
transformações, para as diferenças, para o erro, para as contradições, para a colaboração 
mútua e para a atividade. Onde o bom ensino é o que adianta do desenvolvimento. Onde o 
papel do outro na construção do conhecimento é fundamental. 
Uma escola em que professores e alunos tenham autonomia, possam pensar, refletir 
sobre o seu próprio processo de construção de conhecimentos e ter acesso a novas 
informações. Uma escola em que o conhecimento é sistematizado, não é tratado de forma 
dogmática e esvaziado de significado. 
No entanto, vale ressaltar que ​não é possível encontrar em suas teses soluções 
práticas ou instrumentos metodológicos de imediata aplicação na prática da 
educação cotidiana. 
 
● Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da 
interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio. 
● Para substancialidade, no mínimo duas pessoas devem estar envolvidas ativamente 
trocando experiência e idéias. 
● A interação entre os indivíduos possibilita a geração de novas experiências e 
conhecimento. 
● A aprendizagem é uma experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e 
signos, de acordo com os conceitos utilizados pelo próprio autor. 
● Um signo, dessa forma, seria algo que significaria alguma coisa para o indivíduo, 
como a linguagem falada e a escrita. 
● A aprendizagem é uma experiência social, a qual é mediada pela interação entre a 
linguagem e a ação. 
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● Para ocorrer a aprendizagem, a interação social deve acontecer dentro da zona de 
desenvolvimento proximal (ZDP), que seria a distância existente entre aquilo que o 
sujeito já sabe, seu conhecimento real, e aquilo que o sujeito possui potencialidade 
para aprender, seu conhecimento potencial. 
● Dessa forma, a aprendizagem ocorre no intervalo da ZDP, onde o conhecimento real 
é aquele que o sujeito é capaz de aplicar sozinho, e o potencial é aquele que ele 
necessita do auxílio de outros para aplicar. 
● O professor deve mediar a aprendizagem utilizando estratégias que levem o aluno a 
tornar-se independente e estimule o conhecimento potencial, de modo a criar uma 
nova ZDP a todo momento. 
● O professor pode fazer isso estimulando o trabalho com grupos e utilizando técnicas 
para motivar, facilitar a aprendizagem e diminuir a sensação de solidão do aluno. 
● Mas este professor também deve estar atento para permitir que este aluno construa 
seu conhecimento em grupo com participação ativa e a cooperação de todos os 
envolvidos 
● Sua orientação deve possibilitar a criação de ambientes de participação, 
colaboração e constantes desafios. 
● Essa teoria mostra-se adequada para atividades colaborativas e troca de ideias, 
como os modelos atuais de fóruns e chats.