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DOCUMENTOSCOPIA MODERNA Indaial - 2019 UNIASSELVI-PÓS Autoria: Patrícia Esteves de Mendonça 1ª Edição Documentoscopia Moderna.indd 1 10/07/2019 14:44:16 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M539d Mendonça, Patrícia Esteves de Documentoscopia moderna. / Patrícia Esteves de Mendonça. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 100 p.; il. ISBN 978-85-7141-374-0 ISBN Digital 978-85-7141-375-7 1.Documentoscopia moderna. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 340 Documentoscopia Moderna.indd 2 10/07/2019 14:44:16 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Introdução À Documentoscopia ................................................. 7 CAPÍTULO 2 Identificação Gráfica .................................................................. 43 CAPÍTULO 3 Papéis de Segurança ................................................................... 71 Documentoscopia Moderna.indd 3 10/07/2019 14:44:16 Documentoscopia Moderna.indd 4 10/07/2019 14:44:16 APRESENTAÇÃO O objetivo deste livro é trazer informações a respeito do papel e dos outros meios utilizados como base para documentos, bem como rudimentos de segurança agregados a eles e em sua impressão. Desta forma, serão estudados o papel e a sua importância nas normas de associação da linguagem, bem como serão observadas questões consideradas relevantes, como a deterioração do papel, com a finalidade de se verificar a data da produção do documento. A Documentoscopia é a ciência que estuda a investigação forense de documentos, considerando a palavra forense de forma ampla, não apenas relacionada a uma análise judicial. Seria uma aplicação do termo em inglês Forensic Science, permitindo a utilização de diversos ramos da ciência para solucionar questões judiciais. A Documentoscopia é, desta forma, uma “Ciência Forense”, responsável pela análise de documentos, verificando sua autenticidade ou identificando a autoria dos mesmos. A documentoscopia foi chamada de documentostologia no início do século XIX. Nessa época surgiram as primeiras preocupações, com possíveis fraudes documentais. Apenas os “mestres escrivães” ou escribas poderiam analisar a autenticidade de documentos nesse período, pois eram os únicos que detinham o conhecimento de leituras em textos paleográficos. Posteriormente, foram substituídos pelos notários. No final do século XIX, adulteradores descobriram algumas espécies de reagentes químicos capazes de apagar qualquer escrita feita a pena e a tinta sem deixar vestígios aparentes. E com isso fica demonstrada a necessidade de se verificar a autenticidade documental. A documentoscopia é uma grande aliada da Justiça, uma vez que, de forma técnica e científica, auxilia no fornecimento de subsídios probantes de materialidade e de autoria, angariando, por consequência, prestígio e respeitabilidade. Portanto, será objeto de estudo deste livro, com a finalidade de iniciar um caminho para a especialização. Profa. Patrícia Esteves de Mendonça Documentoscopia Moderna.indd 5 10/07/2019 14:44:16 Documentoscopia Moderna.indd 6 10/07/2019 14:44:16 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � conceituar de Documentoscopia, identificar documento e suporte; � conhecer autenticidade e autoria; � diferenciar grafismos ou manuscritos e mecanografias; � conhecer os alfabetos; � aprender o princípio fundamental, verificar os postulados e leis do grafismo; � saber traço e traçado; � identificar tipos de traços; � conhecer os elementos que compõem as letras; � conhecer as etapas da escrita; � saber os elementos dinâmicos, estáticos, formais e informais da escrita; � identificar as causas modificadoras da escrita; � saber padrões de confronto e peças questionadas; � conhecer a fraude documental: falsificações, alterações e autenticidades; � identificar os tipos de falsários e tipos de falsificações; � verificar autenticidades e alterações. Documentoscopia Moderna.indd 7 10/07/2019 14:44:16 8 Documentoscopia Moderna Documentoscopia Moderna.indd 8 10/07/2019 14:44:16 9 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Documentoscopia é uma palavra que não encontra definição nos dicionários, mas foi consagrada como termo adequado para definir a ciência que estuda a autenticidade de documentos, conforme Costa (1995, p. 13): Documentoscopia é a denominação ampla que abrange todas as especialidades que objetiva, em questões especificas, a obtenção de soluções para as seguintes questões: estabelecer a autenticidade ou falsidade de um documento e em caso de falsidade identificar o autor. A documentoscopia é a parte da Criminalística que verifica a autenticidade ou a autoria de documentos. Assim, utiliza os diferentes meios de conhecimento, técnicos, científicos e artísticos, quando necessários. Existem outras disciplinas que também estudam os documentos, mas não se confundem com a documentoscopia, que tem um viés policial. Assim, para tal disciplina, não basta verificar que o documento é falso, mas deve-se investigar a autoria e os meio utilizados para sua confecção. “Documentoscopia é a parte da criminalística que estuda os documentos para verificar se são autênticos e, em caso contrário, determinar a sua autoria“ (MENDES, 1999, p. 9). O estudo da documentoscopia abrange a Grafoscopia, que analisa os grafismos dos diversos tipos de instrumentos de escrita, das inúmeras espécies de documentos e os suportes utilizados para elaboração dos documentos. O suporte mais habitual é o papel, porém não será o único a ser considerado, como disposto mais adiante neste capítulo. Ao se examinar um documento, analisam-se a sua autenticidade e autoria, através de seus selos, grafias ou inscrições, produzidas manual ou mecanicamente. Caso seja verificada sua falsidade, sendo declarada a inautenticidade de um documento, mediante análise documentoscópica, cuida-se de procurar a autoria. As diversas modalidades de falsificações e fraudes documentais também interessam ao estudo da documentoscopia, mediante o estudo da verificação das características dos papéis onde apostos os documentos e, quando for o caso, os elementos de segurança inseridos. Documentoscopia Moderna.indd 9 10/07/2019 14:44:16 10 Documentoscopia Moderna 2 CONCEITO DE DIVISÃO A Lei Federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, regula o acesso a informações. O artigo 4º, inciso II, define documento como “unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato” (BRASIL, 2011). Dessa forma, não estão restritos os suportes e formatos dos documentos. Considera-se, assim, o documento como representação material, idônea, da manifestação do pensamento humano. Portanto, documento é “toda coisa capaz de representar um fato” (MARINONI; ARENHART, 2005). O artigo 232 do Código de Processo Penal dispõe que documentos são “quaisquer escritos,instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”. Não sendo limitado ao papel com escritas, a visão amplia-se, abrangendo fotografias, tatuagens etc., desde que consigam comprovar a ocorrência de algum fato. Portanto, documento é “toda coisa capaz de representar um fato”. FIGURA 1 – EXEMPLOS DE DOCUMENTO FONTE: D’Almeida (2015, p.10) Os documentos podem ser diferenciados pela existência ou não de elementos de segurança. No primeiro caso (por exemplo, um passaporte), o caminho para a prova de autenticidade se apoia nos elementos de segurança presentes no documento original. Já no segundo Documentoscopia Moderna.indd 10 10/07/2019 14:44:17 11 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 caso (por exemplo, uma escritura de imóvel), deve-se buscar no suporte, na impressão ou na escrita, elementos que provem a autenticidade do documento (D’ALMEIDA, 2015, p. 10). Os documentos que possuem elementos de segurança podem tê-los incorporados aos materiais que constituem o documento, como o papel, a tinta de impressão, ou ainda, podem ser aderidos a ele, como uma holografia ou a impressão de microletras, com função diferencial. Essa categoria designa-se por documentos de segurança e tem como exemplos passaporte, carteira de identidade, carteira de motorista, bilhetes de loteria, cédulas de dinheiro, cheques, selos, certidões de nascimento e de óbito, diploma (UNODC, 2010). FIGURA 2 – PASSAPORTE FONTE: <https://projeto101paises.com.br/como-tirar-o- passaporte/>. Acesso em: 27 maio 2019. Os elementos de segurança a serem utilizados consideram, principalmente, a finalidade do documento; o modo de utilização do documento; os possíveis processos de fraude envolvidos; o reconhecimento dos elementos por leigos e peritos, custos/ benefícios (D’ALMEIDA, 2015, p. 11). O nível de segurança associado acompanha o valor, monetário ou legal, inerente ao documento (LIMA, 2013). A quantidade e especificidade dos elementos de segurança a serem utilizados consideram a função do documento, frequência com que será utilizado, forma como será armazenado e portado, expectativa de vida útil, entre outros (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Vale lembrar que os elementos de segurança devem ser aparentes, permitindo que os responsáveis possam examinar a autenticidade visualmente ou através do tato. Se, diante de suspeitas remanescentes, uma análise mais rigorosa se fizer necessária, esta será realizada por instrumentação mais complexa de atribuição dos especialistas em Documentoscopia (UNODC, 2011). Documentoscopia Moderna.indd 11 10/07/2019 14:44:17 12 Documentoscopia Moderna As técnicas analíticas são utilizadas para verificação da autenticidade de todos os documentos, possuam ou não elementos de segurança. A tarefa de análise não é fácil e demanda conhecimento das técnicas específicas. São estabelecidos três níveis de elementos de segurança (ABNT, NBR 15368:2006). Os elementos de primeiro nível são de segurança aberta, que utilizam análise visual e tátil, de fácil verificação pelo homem médio, por exemplo, a marca d’água e as impressões em alto relevo. Os elementos de segundo nível são aqueles de segurança semiaberta, identificados por pessoas treinadas, como o uso de equipamentos simples, por exemplo, lâmpadas de radiação ultravioleta e lentes de aumento. Os elementos de terceiro nível são os de segurança fechada, que necessitam treinamento específico e uso de equipamentos de laboratório. Ilustram o último nível os marcadores físicos e químicos (LIMA, 2013; SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Outra distinção importante a ser feita é se o documento é público ou privado. O documento público poderá ser exigido do Estado, assim que preenchidos os requisitos estabelecidos pela lei, sendo o Estado obrigado a emiti-lo, a exemplo da emissão da CNH, para aqueles que forem aprovados no exame de direção e preencherem os requisitos estabelecidos no Código Brasileiro de Trânsito (CBT). O documento particular, ao contrário, só pode ser emitido voluntariamente. Caso seja constatada uma conduta de violência para realização de documento, há caracterizada a coação, conforme artigo 151 do Código Civil: Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Dessa maneira, sua principal consequência é a possibilidade de anulação do negócio jurídico na forma do artigo 171, inciso II do Código Civil Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Se um particular se recusa a emitir um documento e alguém o constrange, fazendo ameaças a sua integridade, a sua família ou aos seus bens, o documento poderá ser anulado no prazo de quatro anos a contar da data em que cessar a coação, conforme artigo 178, inciso I do Código Civil. Documentoscopia Moderna.indd 12 10/07/2019 14:44:17 13 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 2.1 DIVISÃO DA DOCUMENTOSCOPIA I. Grafotécnica A grafotécnica, também denominada de grafística, grafocinética e perícia gráfica, é a parte da documentoscopia que verifica a autenticidade dos documentos pela grafia e, sendo verificada falsidade, busca-se a autoria. Diferencia-se da grafologia, que é o estudo da personalidade do homem através do gesto gráfico, e a paleografia, que é estudo das escritas antigas, em especial por sua característica investigativa. Para a grafotécnica não basta declarar a inautenticidade de um documento, é preciso buscar a verdadeira autoria, para fins de aplicação das leis penais cabíveis. II. Mecanografia É a parte da documentoscopia que analisa escritos mecânicos, como os textos datilografados e textos computadorizados. Assim, encarrega-se dos exames em documentos impressos por máquina de escrever, impressoras, fax, ou carimbo com o objetivo de identificar ou, ao menos, eliminar determinado equipamento de impressão. III. As alterações de documentos É a parte da documentoscopia que se dedica à análise de documentos com elementos de segurança e também em documentos sem elementos de segurança. Assim, verificam-se documentos contrafeitos ou falsos – reproduzidos sem autorização – e documentos alterados ou falsificados – resultantes de modificações em documentos autênticos (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Cumpre ressaltar que os primeiros são falsos em sua totalidade, enquanto os últimos apresentam falsidade parcial. É nesse contexto que exames de cruzamento de traços, lavagem química e datação de tintas tomam forma. 2.2 O PAPEL COMO SUPORTE DE DOCUMENTOS O papel foi inventado pelo chinês Ts’ai Lun (105 a.C.) e é uma trama de fibras de celulose colocadas aleatoriamente. Os chineses mantiveram o segredo da fabricação do papel dentro de suas fronteiras até o ano de 751 DC, quando árabes instalados em Samarkanda, grande entreposto das caravanas Documentoscopia Moderna.indd 13 10/07/2019 14:44:17 14 Documentoscopia Moderna provenientes da China, tomaram conhecimento da arte de fazer papel. O monopólio chinês termina com o início da produção de papel em Bagdá, em 795 DC. A partir de então, a difusão sobre a manufatura artesanal do papel acompanhou a expansão muçulmana ao longo da costa norte da África até a Península Ibérica. O modo de fabricação do papel levou aproximadamente mil anos para chegar a Europa e mil e quinhentos anos para chegar a América (D’ALMEIDA, 2015, p. 13). O papelé um material proporcional à incorporação de materiais, revestimento, deposições, laminações, impregnações, criando inúmeras espécies de produtos. Cada espécie de papel se destina a uma função desempenhada por ele. Os papéis da classe de papéis para imprimir e escrever são utilizados nos documentos, objeto de estudo pela documentoscopia. Entretanto, os documentos que possuem elementos de segurança poderão ser considerados papéis para fins especiais, porque possuem elementos de identificação especiais, os quais serão utilizados evitando falsidade. Os papéis para imprimir e escrever são encontrados cm facilidade no mercado. Por outro lado, os papéis de documentos com elementos de segurança são personalizados, o que os torna de produção exclusiva e controlada. A fabricação do papel para imprimir e para escrever se inicia com a preparação da massa (figura a seguir), na qual se formula o papel que se pretende fabricar. Esta preparação consiste na desagregação da pasta celulósica em água e na adição de materiais que darão ao papel características específicas e desejadas (D’ALMEIDA, 2015, p. 24). FIGURA 3 – FABRICAÇÃO DE PAPEL FONTE: D’Almeida (2015, p. 24) Documentoscopia Moderna.indd 14 10/07/2019 14:44:17 15 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 Após a preparação da massa, forma-se a folha pelo sistema de mesa plana e de forma redonda. O primeiro a massa e lançada sobre uma tela formadora, cuja ação filtrante combinada com um sistema de vácuo, extrai a maior parte da água contida nessa massa, formando a folha de papel. A máquina de papel com esse sistema é conhecida também pelo nome de Fourdrinier, devido aos irmãos Fourdrinier terem adquirido em 1807 todos os direitos de patente da máquina (SILVA; KUAN, 1988). O segundo sistema, criado em 1800 (KEIM, 1966, p. 127), consiste no uso de um cilindro oco, chamado de tambor, revestido com uma tela, em que é colocado, submerso, dentro de um tanque. Então, fluirá de forma contínua a massa para fazer papel e através de um movimento de rotação do cilindro forma em sua superfície a folha de papel. Existem diversas espécies de forma, as de fluxo direto ou paralelo, no qual o fluxo de massa corre no mesmo sentido de rotação do cilindro e as de contrafluxo, no qual a massa para papel flui em sentido oposto ao de rotação do cilindro. Ainda, existe o formador que utiliza o vácuo no interior do cilindro. Os formadores de forma redonda são aplicados principalmente na confecção de papéis especiais, como os para cédula bancária (SILVA; KUAN, 1988). Nos dois sistemas se faz necessário que a folha seja prensada entre dois rolos aquecidos para que seja extraída toda a água, pelo sistema de evaporação. Deve ser ressaltado que variações podem ser efetuadas nos sistemas de formação de folhas visando fins específicos (D’ALMEIDA, 2015). Para melhorar a superfície do papel para impressão, e comum fazer uma aplicação em sua superfície de uma solução coloidal de amido e, algumas vezes, de outro hidrocoloide como gelatina, dimeros de alquilceteno ou co-polimeros de acrílico em suspensão de amido (MOUTINHO et al., 2010). Esta operação e denominada size press ou colagem superficial (Kuan & Benazzi, 1988). Este procedimento torna a superfície do papel mais regular e resistente a absorção de água, melhorando a qualidade de impressão. Entretanto, não é possível ver em microscópio este agente na superfície do papel, sendo observadas na superfície apenas fibras aparentes entrelaçadas (D’ALMEIDA, 2015, p. 26). O caulim e o carbonato de cálcio são os pigmentos mais comuns encontrados na produção do papel para imprimir e para escrever, o qual, atualmente, tem a sua fração mineral revestido de no mínimo dois pigmentos diferentes. Documentoscopia Moderna.indd 15 10/07/2019 14:44:17 16 Documentoscopia Moderna 2.3 ELEMENTOS DE SEGURANÇA INCORPORADOS AO PAPEL Um papel de segurança difere do papel para imprimir e escrever, principalmente, em relação ao número de elementos existentes, permitindo assim, maior grau de segurança. Os elementos de segurança são delimitados conforme uma tabela que define cada elemento, a qual foi retirada de normas ABNT NBR, que descrevem o procedimento de detecção desses elementos no papel. QUADRO 1 – DEFINIÇÃO DOS ELEMENTOS DE SEGURANÇA ELEMENTO NORMA DEFINIÇÃO Fibras de segurança (security fibres, fibras de seguridad) ABNT NBR 14894:2008 Determinação da presença, concentração e comprimento de fibras de segurança. “Fibras com características particulares, normalmente sin- téticas, de dimensões e con- centração especificadas, incor- poradas durante o processo de fabricação de papel. Podem ser fibras visíveis, observadas a olho nu, ou invisíveis a olho nu, detectadas com auxílio de equi- pamentos específicos.” Confetes (planchettes, planchetes) ABNT NBR 14895:2008 Determinação da presença e concentração de confetes. “Termo genérico para designar fragmentos, normalmente col- oridos, de formas variadas e concentração especificada, in- corporados durante o processo de fabricação do papel. Podem ser visíveis, observados a olho nu, ou invisíveis a olho nu, detectados com auxílio de equipamentos específicos. Po- dem ter características modi- ficáveis sob ação de agentes externos, por exemplo, luz ou calor e apresentar impressão, geralmente microletras.” Documentoscopia Moderna.indd 16 10/07/2019 14:44:17 17 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 Fio de segurança (security thread, hilo de seguridad) ABNT NBR 14927:2008 Determinação da presença de fio de segurança. “Fio incorporado ao papel du- rante sua fabricação, com apli- cação contínua ou janelada, podendo ser colorido, metal- izado, magnetizado e ainda conter outros elementos de segurança, como, por exemplo, microimpressões e DOV (dis- positivo óptico variável, que se revela de acordo com o ângulo de incidência da luz).” “fio de segurança contínuo: se apresenta totalmente incorpora- do ao papel.” “fio de segurança janelado: se apresenta em uma das faces do papel, de modo intercalado, ou seja, apresenta partes contidas no papel e partes na superfície deste, de forma alternada. As distâncias de intercalação são normalmente predefinidas.” Substâncias que tornam o papel reativo à ação de agentes físicos ABNT NBR 14982:2008 Determinação da presença de substâncias sensíveis à ação de agentes físicos. “Papel sensibilizado (sensitized paper, papel sensibilizado): pa- pel que tem em sua composição substâncias que reagem de for- ma visível mediante a ação de agentes físicos, por exemplo, luz ou calor.” “Partículas sensibilizadas (sen- sitized particle, partículas sen- sibilizadas): partículas distribuí- das aleatoriamente no papel em concentração controlada, apresentando luminescência quando expostas à iluminação ultravioleta. Podem ser visíveis, observadas a olho nu, ou in- visíveis, detectadas sob luz ul- travioleta.” Substâncias que tornam o pa- pel reativo à ação de agentes químicos. ABNT NBR 14983:2008 Determinação da presença de substâncias reativas a agentes químicos. “Papel reativo (reactive paper; papel reativo): papel com sub- stâncias químicas incorporadas em sua composição original, que reagem de forma visível mediante a aplicação de produ- tos químicos específicos.” FONTE: D’Almeida (2015, p. 32-33) Documentoscopia Moderna.indd 17 10/07/2019 14:44:17 18 Documentoscopia Moderna A marca d’água é um importante elemento de segurança, mas não foi listado na tabela acima. Esse elemento é produzido durante a fabricação do papel e pode ser visualizado quando é colocado contra a luz. A norma ABNT NBR 14928:2013 classifica quatro tipos de marca: −marca d’agua multitonal - imagens normalmente complexas constituídas de nuancas de tons dégradé de claro a escuro; − marca d’agua clara e escura - imagens constituídas de apenas dois tons, claro e escuro; − marca d’agua clara - imagens constituídas apenas por tom claro; − marca d’agua escura - imagem constituída apenas por tom escuro (D’ALMEIDA, 2015, p. 34). Ao se utilizar o sistema de formação de folhas redondas é possível a colocação de telas na superfície do cilindro, o que permite a confecção de marcas d’água mais elaboradas, em degradê e tridimensionais, como as utilizadas em papel-moeda para fabricação de dinheiro. FIGURA 5 – MARCAS D’ÁGUA FONTE: <http://www.brasil.gov.br/governo/2009/11/conheca-a-historia- das-cedulas-e-moedas-nacionais>. Acesso em: 27 maio 2019. Documentoscopia Moderna.indd 18 10/07/2019 14:44:17 19 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 No sistema de mesa plana, a marca d’água pode ser confeccionada na seção de formação, se drenar da massa e consolidação da folha na tela formadora, através do bailarino (dandy roll), um cilindro telado que comprime a folha contra a tela formadora, marcando-a. Além dessa, existe a possibilidade da formação da marca d’água na seção de prensagem, utilizando cilindros metálicos ou emborrachados, que marcam a folha de papel, após sua formação. 3 A ESCRITA E SEUS ELEMENTOS A escrita é um gesto gráfico psicossomático que contém um número mínimo de elementos que possibilitam sua individualização. A escrita é, assim, considerada um gesto, pois é o registro de ideias através da utilização dos braços e das mãos. Desta forma, a escrita é um gesto aprendido que faz registro material permanente. Vale lembrar, que para ser considerada a escrita exige-se um número mínimo de elementos, pois poderá ser considerado, apenas, um traço ou rabisco, que não atende aos objetivos da própria grafotécnica (MENDES, 2015, p. 3). A escrita fez com que o homem evoluísse, permitindo a troca de conhecimentos, de registros históricos e o relacionamento entre as diversas nações. Tal é a importância da escrita que levou o tratadista alemão Ludwig Klages, autor de primorosas obras sobre o estudo das escritas, a definir o homem como animal que escreve (MENDES, 2015, p. 4). Os hieróglifos são considerados o primeiro sistema gráfico e surgiram no Egito em 5 mil a.C. Essa escrita era dominada, apenas, pelos sacerdotes, por isso era considerada sagrada. As coisas eram representadas por um símbolo e graças a essa simbologia, foi criado um alfabeto hieróglifos. Documentoscopia Moderna.indd 19 10/07/2019 14:44:17 20 Documentoscopia Moderna FIGURA 6 – HIERÓGLIFOS FONTE: Mendes (2015, p. 4) Ao longo do tempo, os hieróglifos saíram dos templos e chegaram aos comerciantes, que eram considerados a classe mais culta da sociedade. E sofreram modificações até se transformarem na escrita hierática, que posteriormente sofre nova modificação e se transforma no sistema demótico, que chegou até o ano 473 d.C. A escrita ideográfica substituiu os hieróglifos para facilitar a expressão de sentimentos, como amor e dor, pois os hieróglifos só exprimiam coisas materiais. Esse sistema ganhou repercussão na China, onde sofreu alterações. A primeira escrita chinesa de que se tem conhecimento era denominada ku-wen. Era do tipo pictórico. No século VIII a.C., esse sistema foi substituído pelo ideograma por chi-tchem. Com esse tipo de escrita Confúcio escreveu a sua obra. Mais tarde ocorreu nova modificação, era a escrita li, que podia ser registrada na seda ou em madeira, com caracteres laqueados. Foi esse sistema que se aperfeiçoou ainda mais com o surgimento do papel. A escrita chinesa ainda hoje é ideográfica (MENDES, 2015, p. 7). Na Assíria se usava a escrita cuneiforme. Tal escrita era gravada em blocos de argila por cuneu, hastes de madeira que possuíam em uma das extremidades, em relevo, um símbolo. Foi por meio dessa escrita que, em 2.600 a.C., foi escrito o Código de Hamurabi. O Código foi encontrado em 1901, nos arredores da antiga cidade Susa, pelo arqueólogo francês Jacques de Morgan. Era constituído por um cilindro de pedra negra (diorito) de 2,25 m de altura e 1,90 de circunferência na base. São 46 colunas, 3.600 linhas de gravações cuneiformes, Documentoscopia Moderna.indd 20 10/07/2019 14:44:17 21 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 tendo 282 artigos, cujo conteúdo visava a implantar justiça na terra, destruir os maus e o mal, prevenir a opressão do fraco pelo forte, iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo (MENDES, 2015, p. 9). A escrita fonética pelos sumerianos que atribuíram símbolos ao som da fala. Essa escrita perdura até os dias atuais. Fizeram um paralelo da linguagem falada e da escrita. O princípio do alfabeto fonético foi logo adotado e usado para os vários sistemas. Os egípcios também passaram a usar o método fonético para o seu sistema hieroglífico (MENDES, 2015, p. 10). Em Roma a escrita foi aprimorada e o alfabeto latino serviu de inspiração para criação de outros que até hoje são utilizados. No século V, a escrita uncial se instalou. Avançando no tempo, chegando no século VI, surgiu um novo tipo de escrita, mais fluente, a escriptura libraria, que perdurou até o século VIII. Até que foi adotada a escrita uncial. Hoje, basicamente, podemos distinguir cinco tipos de alfabetos: • Latino: em uso nas três Américas e grande parte da Europa; • Gótico: em uso na Alemanha, Áustria e Suíça; • Grego: privativo da Grécia; • Eslavo: usado na União Soviética e pelos povos ao oeste dos Urais; • Hebraico: no Oriente Médio e pelos povos da nação árabe. Somente o Japão usa o alfabeto katakana. A China ainda usa a escrita ideográfica (MENDES, 2015, p. 13). Assim, com a consolidação da escrita os documentos tornaram-se, naturalmente, escritos e servem como comprovação da existência de algum fato ou negócio jurídico, que necessite de comprovação em um momento posterior. 3.1 O FENÔMENO DA ESCRITA A produção do gesto gráfico é explicada por duas teorias distintas, a teoria neurológica e a teoria psicológica. A primeira entende que o calamus scriptorius é um centro nervoso que comanda a escrita, o que restou comprovado, pois pessoas que sofrem lesões cerebrais passam a ter dificuldade na escrita. Durante o aprendizado da escrita, a criança inicia copiando modelos bem simples até chegar aos mais complexos. Durante esse período, vai ela treinando movimentos que criam formas alfabéticas. O resultado desse aprendizado fica armazenado no centro nervoso da escrita. Chegará a hora em que esse órgão já contém todos os movimentos que criam formas, e a musculatura do braço e da mão já estão adaptados a realizá- los. A criança não mais copia, mas escreve. O gesto gráfico já Documentoscopia Moderna.indd 21 10/07/2019 14:44:17 22 Documentoscopia Moderna está instalado (MENDES, 2015, p. 18-19). A escrita se consubstancia na visão das palavras escritas; na compreensão do sentido convenciona e na possibilidade de exprimir ideias. Assim, para que seja produzido um texto é necessário que estejam agindo conjuntamente os sistemas das funções sensoriais específicas, auditiva e visual; o sistema de sensibilidade geral e o sistema da atividade motora. Para entender a Teoria Psicológica é fundamental que seja esclarecida a teoria freudiana, que Mendes explica Existem dois planos em nossa mente: o consciente ou racional e o subconsciente, o irracional. A mente consciente é também chamada de mente objetiva. Ela toma conhecimento do mundo exterior através dos cinco sentidos. Ela aprende através da observação, pela experiência e pela educação. Sua maior função é o raciocínio. A mente subjetiva toma conhecimentodo meio ambiente por caminhos independentes dos cinco sentidos. Ela aprende por intuição. É a sede das emoções e o depósito da memória. Suas funções se exercitam mesmo quando os sentidos objetivos estão momentaneamente adormecidos. O sistema cérebro-espinal é o canal pelo qual se exerce a percepção consciente dos sentidos e o controle sobre os movimentos do corpo. O canal do subconsciente – que alimenta inconscientemente as funções vitais do organismo humano – é o sistema simpático, também chamado de sistema nervoso involuntário. O subconsciente tem o seu centro numa massa ganglionária situada atrás do estômago, conhecida por Plexo Solar ou por cérebro abdominal. Muitos autores comparam o consciente a uma casa de força, cuja energia gerada põe em movimento o subconsciente. Outros comparam a um navio, onde o capitão é o consciente, que determina as ordens que serão cumpridas, sem discussão, pelos marujos – o subconsciente. A escrita é um gesto aprendido. Assim, tudo quanto a mente consciente capta dos movimentos que são necessários para criar determinadas formas gráficas é jogado no subconsciente, que é o depositário da memória dessas experiências. Desta forma, a escrita é a memorização de tudo quanto o consciente experimentou no campo da grafia e, por isso, é produto da mente subconsciente (MENDES, 2015, p. 22). O consciente, então, determina a vontade de escrever, o subconsciente recebe a informação e determina ao plexo solar que escreva. A musculatura do braço é movida pelo sistema nervoso simpático e ocorre a escrita. Documentoscopia Moderna.indd 22 10/07/2019 14:44:17 23 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 3.2 A ESCRITA E SEUS ELEMENTOS O traço, ou grama, é a unidade grafotécnica e a letra é a unidade do alfabeto. A escrituração do traço em locomoção se denomina traçado, ou lançamento gráfico. O traçado pode ser ascendente, descendente, sinistrovolvente, quando traçado com sentido para a esquerda ou destrovolvente quando traçado com sentido para a direita. A composição do traço requer a aplicação de duas forças exercidas pelo punho do autor, uma vertical e outra lateral. O estudo da progressão está relacionado com a velocidade gráfica, ou seja, se a escrita é rápida ou morosa. A progressão também determina a direção da escrita, se é ascendente, descendente, sinistrovolvente ou destrovolvente. Os traços podem ser retilíneos, como próprio nome está dizendo, quando são retos, ou curvilíneo, quando se apresentam sob a forma de arcos. Podem ser ascendentes ou descendentes, à direita ou à esquerda. FIGURA 7 – EXEMPLOS DE TRAÇADOS FONTE: Base de Cartas Forenses – PUCPR (2014, p. 21) Nota: Elemento dinâmico: pressão da escrita: a) escrita tensa, b) escrita frouxa A ligação é a união entre dois traços. As ligações normais verificam que o autor toca com a pena o papel e, progressivamente, exerce a pressão; os sulcados o traço inicia com forte pressão, havendo abertura imediata dos bicos das penas, ou forte descarga de massa de tinta; as ligações ensaiadas antes de iniciar o traço, o autor realiza vários movimentos no ar, chegando, às vezes, a pena a tocar levemente no papel, marcando neste, vários filetes, quase sempre com direção espiralada; a ligação que inicia através de ponto de repouso o escritor descansa a pena no suporte, demorando-se uma fração de tempo. A tinta escorre da pena, registrando a marca. Documentoscopia Moderna.indd 23 10/07/2019 14:44:17 24 Documentoscopia Moderna As ligações, ainda, podem ser feitas com o movimento de produção do traço, sendo precedido de outro de pequena extensão, em ligeiras curvas laterais à direita, à esquerda, superior e inferior, conhecidos como ganchados ou anelados. Quando as ligações antes de começar o traço propriamente dito, o escritor realiza pequenos movimentos laterais, que, quando registrados no papel, formam “colchetes”, conforme a situação dos traços, as torções serão para a direita, para a esquerda, superior ou inferior, são denominadas colchetes em torção ou arpões. E, por fim, as ligações evanescentes, que são extremamente leves, ganhando pressão progressivamente. Vale ressaltar que a linha de impulso é um traço longo que precede a formação do lançamento. A cetra é um traço ornamental existente no remate que conclui o lançamento, sobretudo nas assinaturas. Os traços ornamentais são acessórios adicionados a determinadas letras, com interesse estético. Aparecem, mais frequentemente, nos ataques e remates. As letras são compostas dos seguintes elementos: • Não passantes: quando não existe nenhum traço acima ou abaixo do corpo da letra. • Passantes superiores: traços superiores ao corpo da letra. Pode ser em laçada ou em haste. • Passantes inferiores: traços localizados abaixo do corpo da letra. Também em laçada ou em haste. • Dupla passante. • Presilha. • Dupla presilha. • Anel. • Platô. • Traços complementares: o O pingo do “i” e do “j”; o A cedilha do “c”; o O corte do “t” e o til (~). A Escrita é composta pelos seguintes elementos: A) Dinâmico – Também chamado de gênese gráfica, é a sucessão de movimentos determinados pelos impulsos celebrais e que dão origem à forma gráfica, por isso é o elemento dinâmico. É específico e inerente a cada punho e depende das condições psicossomáticas de cada indivíduo. Portanto, não existem duas pessoas com movimentos iguais. Todo movimento tem as seguintes características: Documentoscopia Moderna.indd 24 10/07/2019 14:44:17 25 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 • Início: ataque do lançamento; • Projeção: refere-se à evolução do lançamento; • Intensidade: relacionada à pressão do punho escritor; • Aceleração: relativo à velocidade; • Direção: determinada pelo alinhamento dos traçados; • Duração: é o andamento, determinado pelos momentos gráficos; • Cessação: é o remate do registro. B) Estáticos – É o desenho, o feitio da escrita, criado pelo movimento, a gênese gráfica. É elemento genérico, sendo, consequentemente, comum a tantos quantos escreverem utilizando o mesmo tipo de alfabeto. C) Formais – São elementos objetivos, são o andamento gráfico, a conduta da escrita aquele elemento que é estabelecido através do momento gráfico. O momento gráfico é definido pelos traçados feitos com o mesmo lançamento constante. A quantidade de momentos gráficos de uma palavra será determinada pelo número de traçados feitos continuamente. As interrupções são provocadas pelo autor ao levantar a pena do papel, ou seja, quando o referido instrumento perde o contato com o papel. Desta forma, a análise do andamento gráfico será a determinação da quantidade de momentos gráficos de um grafismo. Não se confunde escritas com formas semelhantes e escritas com gêneses harmônicas. Nos disfarces, por exemplo, as formas dos caracteres são semelhantes, entretanto, há conflito na gênese, uma vez que os escritos original e fraudulento terão sido grafados por autores distintos. Logicamente, o autor do escrito original, ao escrever, terá movimentação de punho e mão diferente do autor da peça fraudulenta, ainda que haja semelhança no desenho, forma gráficas, entre ambas as grafias. Na imitação, o falsificador imita a forma e não a origem, movimentação do punho ao escrever. A inclinação axial é o comportamento dos eixos gramaticais. É a rumo do traço. As letras ou gramas possuem, cada uma, inclinação própria, variando entre verticalizada; inclinada para direita; inclinada para a esquerda e a reversão, que tem a grama diferente das demais letras. A análise para se definir a direção é feita da seguinte maneira: faz-se a projeção de linhas retas, acompanhando a direção de cada traço. Tais traços são os eixos gramáticos, os quais, no conjunto, nos dão a inclinaçãoaxial. Documentoscopia Moderna.indd 25 10/07/2019 14:44:17 26 Documentoscopia Moderna No geral, as palavras se alinham às pautas impressas ou imaginárias, é o que chamamos de alinhamento gráfico. Considera as linhas de pauta, que são traços retilíneos, imaginários, impressos, desenhados ou vistos por transparência, que visam orientar a direção das palavras. E, ainda, as linhas de base que é aquela que orienta o alinhamento de cada vocábulo, isoladamente. É tirada da base da primeira letra minúscula por último. As escritas, de acordo com o alinhamento gráfico, podem ser: • alinhada/apoiada na linha de pauta; • acima da linha de pauta; • ascendente; • descendente; • sobre a linha de pauta; • sob a linha de pauta; • atravessando a linha de pauta; e • irregular. O espaçamento gráfico analisa a simetria entre os elementos gráficos. O punho do autor, ao escrever, executa um determinado gesto gráfico, várias vezes, o faz com similar simetria espacial. Assim, serão analisadas junto ao movimento gráfico, as características do espaçamento, para analisar a autenticidade de um documento. Existem quatro tipos de espaçamento: 1. Intergramáticos – distância entre os traços. 2. Interliterais – distância entre as letras. 3. Intervocabulares – distância entre as palavras. 4. Interlineares – distâncias entre as linhas de um contexto, em um papel sem pauta. Outra análise, muito importante, a ser feita pelo grafismo é referente a características de grandeza. Considera a escrita através do seu calibre, quanto à extensão das passantes, ao desenvolvimento lateral e quanto à relação de proporcionalidade gramatical. O calibre se refere à altura das minúsculas não passantes. Em outras palavras: é a altura do corpo da letra. As letras de pequeno calibre não ultrapassam 3 mm de altura; as de calibre médio, medem entre 3 mm e 4 mm; e as de grande calibre, são aquelas que medem mais de 4 mm. Isso irá auxiliar o perito na análise grafotécnica. Quanto à extensão dos passantes, variam entre longas ou curtas, superiores Documentoscopia Moderna.indd 26 10/07/2019 14:44:17 27 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 ou inferiores. Elas se precipitam de acordo com os estímulos frequentes do autor e variam quando consideradas uma em relação à outra, de acordo com sua localização no vocábulo e na linha. O desenvolvimento lateral representa a expansão dos traços lançados à direita ou à esquerda. Os círculos abrem-se nas escritas de grande desenvolvimento e os traços laterais, principalmente os de ligação, prolongam-se. Quando ocorre compressão desses traços, tem-se a escrita aglutinada. Já a relação de proporcionalidade refere-se ao tamanho das letras ou caracteres, quando comparados uns com os outros. São comparadas as letras maiúsculas com as minúsculas não passantes; as minúsculas não passantes com suas respectivas passantes e as letras passantes entre si. São limitantes verbais ou gramaticais as pequenas linhas que delimitam as bases e topos das letras. Nas bases, ficam localizadas as limitantes verbais inferiores já nos topos, as limitantes gramaticais superiores. Gladiolagem acontece quando as limitantes superiores e inferiores fecham-se progressivamente. A escrita realiza-se em curvas ou ângulos, que podem ser assinalados e medidos. Em alguns escritos, predominam as formações curvilíneas, noutros, as angulares. São os chamados valores angulares e curvilíneos. É importante ressaltar que os elementos subjetivos são os aspectos gerais da escrita e na qualidade do traço que, por sua vez, depende do grau de habilidade de punho, do ritmo da escrita, da velocidade e do dinamismo gráfico. Diferente do que ocorre com os elementos objetivos, os elementos subjetivos não podem ser demonstrados, embora sentidos pelo examinador. O grafismo é dividido em quatro etapas, considerando a sua evolução. Porém, os períodos de evolução não são fixados pela progressão do desenvolvimento humano, porque cada indivíduo poderá se desenvolver em seu próprio tempo. Desta forma, é complicado fixar um período delimitado de evolução do grafismo. De todo modo, a primeira etapa é chamada de escrita canhestra. Nessa fase o traçado inexpressivo e arrastado pode ocorrer a malformação das gramas e apresenta indecisão na orientação do lançamento e pressão exagerada. Posteriormente temos a escrita escolar que é mais caligrafada, com o cuidado de ser legível e feita com velocidade reduzida. É aquela apresentada em fase de alfabetização, ou logo após. Em seguida adota-se a escrita automatizada, quando se abandona o Documentoscopia Moderna.indd 27 10/07/2019 14:44:18 28 Documentoscopia Moderna modelo escolar, ganha-se velocidade na escrita e são introduzidos os elementos particulares. Nessa fase é que se torna absolutamente particular a escrita. A última é a escrita senil, que acontece com a perda da tonicidade dos músculos dos braços e das mãos, os impulsos cerebrais se tornam mais demorados, o que resulta na produção da escrita com maior dificuldade. Percebe- se a ocorrência de tremores e indecisões, porém, a grafia preserva certo esmero. A escrita pode sofrer modificações por causas involuntárias normais, que são as que dizem respeito à própria evolução e posterior involução do gesto gráfico e acidentais, nas quais a alteração da escrita provocada por causas que independem da vontade do escritor. As causas acidentais são de duas naturezas: intrínsecas, como emoção, euforia, depressão, pavor, atenção, ira e embriaguez, e extrínsecas, que são alheias ao sistema produtor da escrita (cerebral e muscular), tais como mau estado do instrumento escrevente, posição incômoda no ato de escrever, suporte inadequado, iluminação inadequada, calor, frio etc. As modificações voluntárias são as introduzidas, pelo autor, na sua escrita habitual deliberadamente, com o objetivo de disfarçar a própria escrita ou com a intenção de imitar a escrita de terceiros. A escrita, ainda, pode sofrer modificações por razões patológicas, que acarretam deformações na estrutura da escrita e podem ser passageiras ou irreversíveis, dependendo da natureza e da intensidade. São exemplos de causas patológicas o tremor vertical próprio do alcoolismo crônico, o tremor horizontal típico das escritas envelhecidas e da doença conhecida como Doença de Parkinson. As passageiras podem ser averiguadas posteriormente, as permanentes nem sempre. 4 GRAFOTÉCNICA É parte da documentoscopia que trata exclusivamente do grafismo, isto é, da escrita direta do gesto executado pelo homem. Tem por objetivo verificar a autenticidade ou determinar a autoria dos grafismos ou manuscritos. O grafismo tem como objetivo principal identificar uma pessoa, mas diferentemente de outros exames com a mesma finalidade, como o DNA e o papiloscópico, a escrita é decorrente de um processo comportamental, e comportamentos podem ser variáveis, alteráveis, imitáveis, ocultos ou até mesmo Documentoscopia Moderna.indd 28 10/07/2019 14:44:18 29 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 disfarçados; daí a necessidade do uso de critérios científicos na análise (E.S. CÂMARA, 2014). A análise feita através do grafismo considera, portanto, na comparação de hábitos gráficos de uma determinada pessoa com aqueles observados nos escritos cuja autoria se deseja identificar (E. S. CÂMARA, 2014). As propriedades mais constantes na escrita contribuem com a identificação do indivíduo, diferenciando a sua escrita da população em geral. QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS A SEREM CONSIDERADAS NA ANÁLISE GRAFOSCÓPICA Característica Descrição Morfologia Conteúdo e estilo das escritas questionada e padrão devem ser o mesmo para a análise. Caso contrário, há incompatibilidade gráfica.Natureza Distinção entre assinaturas, rubricas ou texto. Alógrafos Variações de cada grafema (letra) na escrita. Inclinação da Escrita É avaliada em relação ao seu eixo vertical, perpendicular à base da escrita. Espaçamentos Espaço entre a linha e o texto, entre palavras, entre letras e entre cada um dos traços que constituem as letras. Calibre e Proporções Tamanho absoluto de letras e de palavras e proporções entre zonas baixas, médias e baixas da escrita. Alinhamento Posicionamento da escrita em relação à linha de pauta. Valores Angulares e Curvilíneos Em geral os autores adotam um ou o outro estilo (angular ou curvilíneos). Existem autores que adotam um estilo misto. Posicionamento Quando houver um campo gráfico, pode- se analisar o posicionamento da palavra nesse campo. Linhas Limitantes Verbais Linhas imaginárias que delimitam a base e o topo das letras minúsculas, refletindo a homogeneidade dos calibres das letras e o seu posicionamento. Andamento Gráfico Distribuição dos levantamentos da caneta durante a escrita. Ritmo Gráfico A sequência de movimentos dos músculos do braço resulta no ritmo gráfico, que pode ser harmônico ou intercortado. Documentoscopia Moderna.indd 29 10/07/2019 14:44:18 30 Documentoscopia Moderna Conexões Como as letras são ligadas umas nas outras em uma palavra. Método de Construção É o sentido dos traços feitos com a caneta (grafocinética). Ataques e Arremates Ataques são os pontos onde a caneta inicia a escrita. Arremates são os pontos onde a caneta desconecta do papel. Velocidade Velocidade com que a caneta deslizou sobre o suporte para produzir os traçados. Pressão Verifica-se a profundidade dos sulcos, a largura dos traços e a intensidade do entitamento. Dinamismo Verifica-se que o escritor consegue aplicar a pressão adequada em cada porção do traçado, de acordo com a velocidade do movimento. Acentos e Sinais de Pontuação Pode-se analisar o formato, a posição e o sentido de formação dos acentos e sinais de pontuação. Grau de Habilidade do Punho Escritor Pode-se excluir a autoria de uma determinada pessoa, quando se prova que um determinado escritor não possui habilidade suficiente para reproduzir uma determinada escrita. Variabilidade Grau de variabilidade na escrita de um escritor. Existem escritores constantes em seus hábitos gráficos, enquanto outros apresentam variações. FONTE: Adaptado de E. S. Câmara (2014, p. 54) Os diversos tipos de alfabeto trazem variedade quanto à individualização das escritas, alguns permitem que se façam com maior ou menor facilidade. Porém, todos permitem que ocorra a individualização, porque todos eles podem ser submetidos às leis que regem o grafismo. Existem características que individualizam a escrita e são genéricas. Assim, não importa o alfabeto utilizado para a aplicação do grafismo com o objetivo de identificação através da escrita. Edmond Solange Pellat, cientista forense pioneiro, elaborou as chamadas leis do grafismo em seu Tratado de Criminalística (1927): A 1ª lei do grafismo – “O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor, se este funciona normalmente e se encontra suficientemente adaptado à sua função”. De acordo com a 1ª lei do grafismo, o cérebro comanda a produção da Documentoscopia Moderna.indd 30 10/07/2019 14:44:18 31 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 escrita, sem a influência do organismo muscular, nem braço, nem punho e mãos. O cérebro normalmente desenvolvido desempenha a função com facilidade. As crianças, que ainda não tiveram seu organismo plenamente desenvolvido, não conseguem escrever. Desta forma, o cérebro recebe as informações captadas pelos sentidos humanos e envia instruções aos músculos, para a execução dos movimentos que originarão as formas gráficas, ou seja, os manuscritos. Logo, a falta de adaptação ou a deficiência não executarão eficazmente as ordens vindas do cérebro, produzindo deturpações. A 2ª lei do grafismo – “Quando se escreve, o eu está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de que o “eu” age passa por alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está em seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios, e em seu mínimo onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades”. A 2ª lei estabelece que ao iniciar a escrita, os movimentos do punho escritor são atos conscientes e, à medida que avançam, tornam-se automáticos, inconscientes. Essa situação pode ser verificada em falsificações. Ao iniciar a escrita, o falsário, demonstra preocupação, desenvolve, então, a tarefa de forma consciente. Após determinado tempo, passa a escrever de forma inconsciente, deixando seus próprios hábitos, o que possibilita a sua identificação. A 3ª lei do grafismo – “Não se pode modificar voluntariamente, em dado momento, a própria escrita natural, senão introduzindo no traçado marca do esforço que se fez para obter a modificação”. Conforme esta lei, a grafia não poderá ser modificada voluntariamente. A mudança exige treinamento e esforço. Os hábitos presentes na escrita só podem ser alterados mediante prática criada pelo autor, com o objetivo de modificar sua grafia. Algumas vezes, nos disfarces e imitações lentas, os autores tentam modificar a própria grafia. Quando o autor imita a grafia alheia, além de reproduzir os hábitos gráficos de outra pessoa, precisa disfarçar os seus próprios hábitos. O grafismo consegue identificar a falsidade identificando inserção de traços indecisos, paradas involuntárias etc. A 4ª lei do grafismo – “O escritor que age sob circunstâncias em que o ato de Documentoscopia Moderna.indd 31 10/07/2019 14:44:18 32 Documentoscopia Moderna escrever é particularmente difícil, traça, instintivamente, formas de letras que lhe são mais costumeiras ou mais simples e de esquema mais fácil de ser construído”. A 4ª lei do grafismo também é chamada de “lei do menor esforço”, se verifica em situações desfavoráveis ou anormais para produção de um escrito, quando alguém escreve sem apoio ou no interior de um carro, por exemplo. Nessas hipóteses, o autor utiliza formas de letras mais simples e fáceis de escrever. O exame grafoscópico tem como método a análise criteriosa e comparação de hábitos gráficos. A conclusão é estabelecida por meios de comparação e ponderação entre semelhanças e diferenças entre a escrita questionada e a escrita padrão, levando-se em consideração as peculiaridades de cada uma delas. Desta forma, o perito avalia a escrita padrão, analisando quais as propriedades gráficas são mais marcantes, no que se refere aquele autor e a compara com a peça que está sendo questionada. A análise prioritária é a morfologia, na qual se analisa o padrão gráfico. A comparação de escritos precisa analisar regiões equivalentes entre ambos. Assim, não se pode comparar uma assinatura legível com uma ilegível. Em seguida se avaliam os hábitos gráficos, isto é, imprecisões que ocorrem a cada vez que um escritor executa a escrita. É importante ressaltar, que ninguém consegue escrever da mesma maneira duas vezes, mas as variações naturais, entre cada execução de um escritor, tendem a diminuir com o aumento do grau de qualidade da escrita, e cada hábito gráfico de um escritor possui uma faixa própria de variação natural. As assinaturas são, no geral, o maior objeto de exames de grafismo. São elas que exteriorizam os hábitos gráficos mais marcantes dos indivíduos. As assinaturas possuem a função de demonstrar conhecimento e concordância a um documento, devendo, portanto, ser produzida apenas pela pessoa indicada para serconsiderada autêntica. FIGURA 8 – IMAGENS DE ASSINATURAS FONTE: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S2176-45732014000200006>. Acesso em: 27 maio 2019. Documentoscopia Moderna.indd 32 10/07/2019 14:44:18 33 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 A falsificação da assinatura pode utilizar técnicas com o intuito de simular a realidade. A saber: a) Falsificação sem imitação, onde o falsário desconhece a assinatura da vítima e inventa uma assinatura. b) Falsificação de memória, na qual o falsário viu a assinatura original da vítima, porém não a possui para uso como modelo. c) Falsificação por imitação servil, uma falsificação feita por meio de cópia de uma assinatura produzindo semelhanças formais. d) Falsificação por imitação exercitada, na qual há um rigoroso treinamento para a reprodução da assinatura da vítima sem a necessidade de consulta. e) Falsificação por decalque, onde o falsário copia a assinatura colocando uma folha por cima da assinatura original (modo direto) ou faz a cópia com o uso de papel carbono ou de outra técnica (modo indireto) – atualmente é comum o transplante mecânico de assinaturas a partir de impressos eletrônicos jato de tinta, por exemplo, e o posterior recobrimento (MONTEIRO, 2008). O disfarce gráfico é outro meio utilizado para falsificação de assinatura, designado pela intencionalidade e pelo esforço consciente para mudar suas características gráficas. O grafismo, nesta hipótese, considera que ninguém consegue se livrar e nem inserir características gráficas cuja existência não perceba. Diferenças associadas a uma assinatura questionada disfarçada podem ser atribuídas ao comportamento de simulação e levar à conclusão de que a assinatura não foi feita por esse escritor. O contrário também pode acontecer: diferenças de uma assinatura questionada simulada podem ser atribuídas ao disfarce e levar à conclusão de que a assinatura foi feita pelo escritor dos padrões. Ambas as conclusões conduzem ao erro quanto à opinião de autoria. Ainda, alguns peritos podem não encontrar diferenças entre a assinatura questionada e as assinaturas padrão, ou ainda presumir que as diferenças foram produto de variação natural do autor (BIRD, 2010, p. 1291). Os disfarces podem confundir os peritos grafotécnicos e os induzirem a erro na avaliação da autoria de determinadas assinaturas. Também é fundamental analisar e ponderar cada caso minuciosamente para formular uma conclusão, e não apenas considerar as características mais frequentemente encontradas, mencionadas, acima neste capítulo. Cumpre salientar que as características gráficas menos frequentes devem ser consideradas ao analisar uma assinatura disfarçada, desta forma, seria menor a possibilidade de ocorrência de erros ao se analisar a autenticidade de uma assinatura. Documentoscopia Moderna.indd 33 10/07/2019 14:44:18 34 Documentoscopia Moderna 5 FRAUDE DOCUMENTAL A fraude em documentos é a maior preocupação da documentoscopia moderna. A autenticidade dos registros é fundamental para garantir a segurança jurídica, seja em relação a documentos públicos, seja em documentos particulares. Se a avaliação pericial for relacionada ao grafismo, têm-se os padrões gráficos ou lançamentos padrões, como já foi comentado neste capítulo. Os peritos para avaliar a autenticidade de uma documentação levam em consideração determinados padrões de confronto, que equivalem ao paradigma que se toma como ponto de partida para as comparações. São documentos autênticos, sobre os quais não há qualquer dúvida de sua veracidade ou autoria. É importante ressaltar que qualquer produto pode ser utilizado como padrão. As Peças Questionadas são os documentos ou escritas, sejam elas mecanografadas ou grafadas manualmente, os grafismos, sobre os quais recai a suspeição de falsidade. São os documentos questionados que serão submetidos aos exames periciais a fim de confirmar a suspeição da falsidade dos mesmos. Os referidos exames periciais, a que são submetidos os Documentos Questionados, são análises comparativas entre eles e os Padrões de Confronto. Se houver harmonia entre o documento questionado e o documento padrão, o documento questionado pode ser verdadeiro, quando a assinatura presente no documento é, de fato, autêntica, não tendo sofrido falsificações ou alterações, como alegava seu autor visando fugir de alguma responsabilidade, ou, ainda, pode-se estar diante da autoria de uma falsificação, quando se descobre o autor de uma fraude. Em ocorrendo desencontro entre o padrão e o documento questionado, pode ser que o documento seja falso, nesta hipótese, a divergência decorre do fato de que a assinatura presente do documento questionado não ter sido produzida pelo punho da vítima, isto é, a pessoa legitimada a assinar o documento. A fraude documental pode ser distribuída por três categorias: falsificações, alterações e autenticidades. As falsificações podem ser sem imitação; de memória; servil; exercitada; e por decalques direto ou indireto. As fraudes por alterações podem ser físicas, por meio de rasuras ou acréscimos cursivos e mecanográficos, ou químicas, por meio de lavagem química. As fraudes que ocorrem por autenticidades dividem-se em servil; autofalsificação; simulação do falso; negativa de autenticidade e transplante. Os falsários dividem-se em dois grandes grupos: os ocasionais ou eventuais, Documentoscopia Moderna.indd 34 10/07/2019 14:44:18 35 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 aqueles que não fazem da falsificação um meio de vida, e os profissionais, que podem agir isoladamente ou em quadrilha, em que cada elemento tem uma função. A falsificação pode ser sem imitação, na qual a reprodução de assinatura, sem se preocupar em imitar as formas das assinaturas legítimas, que se desconhece. Este processo é utilizado por falsários eventuais ou primários. O lançamento falso não guarda semelhança formal com a assinatura do proprietário do cheque e, por isso, não passa em uma verificação de firma em um estabelecimento bancário, por exemplo. Nessa espécie de falsificações, não se encontram coincidências genéticas nem mesmo nos elementos formais. A assinatura colocada pelo falsário é utilizando o próprio grafismo, com o nome de terceiro, o que facilita a prova da autoria. Muitas vezes são introduzidos artificialismos, prejudicando as formas, mas os elementos genéticos do falsário ali estão para a prova de autoria. A falsificação de memória é aquela em que o falsário, estando familiarizado com a assinatura de sua vítima, procura reproduzi-la sem ver o modelo, valendo- se da memória. O falsificador tem em sua memória os gestos gráficos mais marcantes da vítima e tenta reproduzi-los, sem memorizar o conjunto todo. Cumpre esclarecer que o traçado dessas falsificações é híbrido: há traços morosos, aqueles que estão sendo reproduzidos pela memória, e outros mais rápidos, que são resultantes da própria escrita do falsário. Assim, ao se confrontar o documento padrão com o questionado, percebem-se registros de pequenas semelhanças formais, contudo as discrepâncias são em número maior. A imitação servil é considerada a mais desprovida dos processos de falsificação. O adulterador, firme ao modelo, o reproduz no documento que está falsificado. A comparação entre a assinatura legítima e o produto da imitação mostra diferença na qualidade do traçado e total discrepância dos elementos genéticos. Há apenas coincidências de ordem formal. Eventualmente, serão feitos retoques após a falsificação, deixando, assim, mais marcas na peça. As falsificações exercitadas são as mais perigosas e difíceis tipo de falsificação. O falsário se apossa de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino, o reproduz. Ao ser confrontadaa falsificação com o modelo, aparecem inúmeras coincidências na qualidade do traço, podendo haver semelhança quanto aos elementos formais. Os Decalques são processos primários de falsificação, pois os resultados são grosseiros. São divididos em direto, no qual o modelo é colocado sob o suporte Documentoscopia Moderna.indd 35 10/07/2019 14:44:18 36 Documentoscopia Moderna da peça que se prepara, e por transparência, quando o traçado é recoberto. Normalmente, apresentam semelhança formal com o modelo, mas o seu traçado é bem lento, cheio de trêmulos e hesitações, com paradas do instrumento escrevente e subsequente retomada do traço, porém, os elementos genéticos ficam prejudicados pela operação (cópia). Ao serem examinado isoladamente, o decalque se confunde com as falsificações servis, porém, ao se verificar uma série de documentos, a perfeita superposição das várias assinaturas entre si evidencia o processo. A demonstração da fraude se dá fotografando as duas assinaturas e copiando-as, em mesmo grau de ampliação, e fazer a prova de superposição. No decalque indireto, o falsário reproduz o modelo primeiramente a lápis, ou transfere, com emprego de papel carbono, para depois recobrir. Desta forma, a falsificação, consequentemente, apresenta vícios dessas operações. O traço é vagaroso, tremido e cheio de indecisões. Apresenta paradas anormais do instrumento e vestígios de texto subjacente. Vale lembrar que os decalques (diretos e indiretos) não permitem a prova da autoria, ou seja, não permitem a identificação dos autores da falsificação. A falsificação por recorte, também chamada de découpage, consiste na montagem de um texto, com recortes de letras, grupos de letras e palavras, retiradas do manuscrito da pessoa a que se deseja atribuir a autoria. A falsificação ideológica ocorre quando o vício recai sobre o teor do documento. O documento não possui vícios materiais, mas apenas uma mentira reduzida à escrita. Na falsificação ideológica, a assinatura é verdadeira, mas o teor da peça não representa a vontade do seu subscritor. O estudo do cruzamento de traços entre o texto e as assinaturas pode permitir desmascarar esta fraude. Os anacronismos também são considerados, porém, a presença de expressões que na data do documento não eram utilizadas ou fatos narrados de épocas diferentes são mais eficientes em provar a falsidade do documento. Outros indícios de falsificação ideológica são: • Discordância de um ato de outros precedentes. • Silêncio ou segredo acerca do contrato em questão, no tempo que deveria ter dado ou tido conhecimento dele. • Diversidade de estilo na construção de frases etc. Documentoscopia Moderna.indd 36 10/07/2019 14:44:18 37 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 A assinatura à mão guiada é raramente verificada. Pode ocorrer à mão inerte, quando um terceiro guia a mão do indivíduo paralítico, por exemplo, para exarar sua assinatura, a seu pedido; à mão ajudada, se a pessoa impossibilitada de escrever pede a terceiros que a ajudem a assinar ou à mão forçada, no caso do sujeito tem sua mão guiada contra sua vontade. Todos os casos resultam em falsidade. A autofalsificação ocorre quando o sujeito assina, modificando seus traços para lesar uma vítima. Com essa finalidade reduz a velocidade do lançamento, deforma os caracteres, muda a inclinação do eixo gramatical habitual, introduz trêmulos, e, depois, com base nesses vícios, afirma a falsidade da assinatura. Porém, o autor não pode controlar a gênese de sua escrita, uma vez que a gênese é referente a movimentos ditados pelo cérebro. A perícia chegará ao resultado do exame se baseando na coincidência da gênese gráfica da peça questionada com a do padrão de confronto, para a afirmação da autenticidade e, na repulsa, no caso de falsidade. Nesta hipótese, não se pode basear na semelhança ou não dos elementos gerais da escrita, pois estes são elementos secundários. O autor pode, ainda, fazer uma simulação do falso, lançando sua assinatura normal e em seguida a contagia com defeitos que a torne falsa. A diferença entre a autofalsificação e a simulação é que na primeira os vícios são introduzidos no ato de lançar a assinatura e, na segunda, depois de ela ter sido exarada. Os exames deverão mostrar uma convergência total dos elementos genéticos, o suficiente para se provar que o lançamento é idôneo. O próprio escritor pode retocar sua assinatura sem a intenção da simulação do falso, contudo, na simulação, os retoques são feitos cautelosamente, para que não fiquem evidentes, pois o falsário não deseja que eles sejam percebidos. A negativa de autenticidade se dá com o lançamento, pelo autor, de sua assinatura e para fugir à responsabilidade, nega a sua veracidade. Ao ser confrontada fica claro que existem afinidade tanto na gênese gráfica, quanto nos elementos formais. Na falsificação material de um documento, há de se distinguir duas formas de alterações. A primeira é a falsificação, quando o falsário cria um documento, o documento passa a existir como resultado do trabalho do falsário. A segunda é o caso em que o documento preexiste à ação do forjador, que nele insere modificações, subtraindo ou adicionando lançamentos, dando à peça sentido diverso do primitivo. O falsário adultera um documento que anteriormente era autêntico, conhecido como alteração. Documentoscopia Moderna.indd 37 10/07/2019 14:44:18 38 Documentoscopia Moderna Os documentos alterados podem ser assim feitos por alterações físicas, que são remoção de dizeres de um texto com o emprego de uma borracha ou instrumento similar. São rasuras que podem ser superficiais, rasas ou profundas, variações auferidas pela intensidade do uso da borracha. As alterações por acréscimo se verificam por lançamentos presentes em textos datilografados ou confeccionados em escrita cursiva. São constatados pela tinta ser diferente; por punhos diferente; por aglutinações de palavras e por reflexo de evitamento. A falsificação química ou lavagem química é feita por meio da aplicação de um reagente químico para retirar o lançamento presente no documento. Geralmente, são utilizados produtos à base de cloro. No caso das canetas esferográficas, a fim de removê-las, a lavagem pode ser com a utilização de álcool ou acetona. Os papéis de segurança não comportam lavagens nem rasuras, pois a ação do reagente provoca descoramento do suporte. 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Concluímos, então, que a documentoscopia é uma aliada fundamental da polícia forense, permitindo que, através da análise de documentos, se verifique a autenticidade do mesmo e em caso de apuração de verdadeira autoria para que seja possível a punição do falsário. Verificamos neste capítulo as espécies de documentos a serem consideradas em nosso ordenamento jurídico. Assim, restou demonstrado que qualquer tipo de registro de fatos e negócios jurídicos será considerado documento, não apenas os apostos em papel, mas qualquer tipo de demonstração idônea do registro de um fato. A escrita evoluiu muito através do tempo e, ao se tornar cada vez mais presente nas relações interpessoais, passaram a ser fundamentais para a elaboração de documentos que representam os direitos e deveres dentro das sociedades. Os documentos passam a utilizar, na maioria dos casos, o papel como base para sua confecção. Os papéis produzidos com base de celulose são de maior ou menor complexidade, podendo ter ou não elementos de segurança. Os que contêm elementos de segurança garantem uma maior proteção na aplicação de fraudes. Documentoscopia Moderna.indd 38 10/07/2019 14:44:18 39 INTRODUÇÃO À DOCUMENTOSCOPIA Capítulo 1 Assim, o grafismo se torna um dos principais aliados da documentoscopia na análisede autenticidade de documentos, já que mediante a comparação entre um documento base e um documento que se suponha ser fraudado, o perito utiliza meios de comparação entre ambos para analisar a autenticidade. Os falsificadores podem fazer a adulteração dos documentos de forma ocasional, se aproveitando de determinada situação de descuido da vítima ou de forma “profissional”, na qual na maioria dos casos se associam em organizações criminosas em que cada um desempenha um papel específico, na falsificação e na utilização do documento falso no intuito de auferir alguma vantagem. As alterações de documentos podem ser feitas mediante acréscimos ou por meio de alterações químicas para que se transforme o que foi colocado de forma intencional em algo que permita que o falsário se beneficie de algum modo daquele documento. Diante de todo o exposto, o estudo procurou proporcionar ao estudante maior respaldo na verificação documental. 1 O que é documentoscopia? 2 O que é documento? 3 O que são elementos de segurança? 4 Quais os elementos que compõem a escrita? 5 Qual a importância do grafismo? Documentoscopia Moderna.indd 39 10/07/2019 14:44:18 40 Documentoscopia Moderna REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 14983. Papel de segurança – Determinação da presença de substâncias reativas a agentes químicos 2008. ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 15368. Tecnologia gráfica – Terminologia de elementos para uso em impressos de segurança, 2006. ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS. 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New York: United Nations, 2010. Disponível em: http://www.unodc.org/documents/scientific/ Forensic_Document_Examination_Capacity.pdf. Acesso em: 12 nov. 2018. Documentoscopia Moderna.indd 42 10/07/2019 14:44:18 CAPÍTULO 2 IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � escrever com autoria gráfica; � utilizar Instrumentos escreventes; � examinar a massa corante das canetas esferográficas; � coletar padrões. Documentoscopia Moderna.indd 43 10/07/2019 14:44:18 44 Documentoscopia Moderna Documentoscopia Moderna.indd 44 10/07/2019 14:44:19 45 IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A falsidade de documentos data, praticamente, da mesma época do surgimento da escrita. Desde os primórdios da sociedade, pessoas mal- intencionadas utilizam a alteração de documentos para obterem benefícios. Tais alterações podem ocorrer de diversas formas, como visto no capítulo anterior. A partir daí é preciso definir como verificar a autenticidade de uma assinatura e o que poderá ser feito caso seja comprovada a falsificação. Cumpre-se fundamental, então, aprofundarmos o conceito de autenticidade e autoria gráfica e abordada a diferença entre ambas, embora possa ocorrer simultaneamente. Assim, é importante entender as características dos diversos tipos de escritas: naturais, disfarçadas, imitadas, bem como compreender, sucintamente, situações nas quais a escrita é produzida com a concorrência de uma segunda pessoa. Os problemas de documentoscopia demandam muito esforço do perito, como a determinação da idade do documento, o cruzamento de traços, as letras de forma e os algarismos e as montagens. 2 A AUTORIA GRÁFICA O objetivo da Grafotécnica é determinar a autoria gráfica de um lançamento. Pode ser a busca pela autenticidade de uma escrita, isto é, verificar se está relacionada a uma só pessoa, aquela que deveria lançar tal escrita, a pessoa que tinha a competência no lançamento de tal escrita. Pode, também, buscar a autoria de determinada escrita, sendo que aqui o que se quer é determinar quem foi o autor de dessa escrita, independentemente de o autor ter ou não a competência para produzir tal grafia. Nessa
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