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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PAOLA BELINASI CACHIONE O poder judiciário brasileiro e sua estrutura Trabalho apresentado ao Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá para a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, para obtenção parcial de média bimestral. Ourinhos 2018 Página 19 INTRODUÇÃO Nesta página, Darcy Ribeiro inicia uma introdução sobre a sua obra, em que busca compreender a formação do povo brasileiro. Ele destaca o impacto da invasão portuguesa em relação aos índios que aqui viviam e os negros que no decorrer da história foram escravizados. Toda essa miscigenação que se difere em raça, cultura, formação social se fundiram criando um novo povo em um novo modelo de sociedade. Novo porque nasce com uma nova etnia nacional com a mistura de diversas culturas que causou a redefinição dos traços culturais. Porque se vê como novo gênero e um novo povo em um novo modelo de estrutura societária, de economia, criada a partir do escravismo e servidão ao mercado mundial. Novo até pela admirável e espantosa alegria e vontade de ser feliz que perpetua e caracteriza o povo brasileiro. Página 20 Por outro lado, velho. Velho porque foi usado como ferramenta de expansão europeia, para gerar lucros aos portugueses que se ocuparam de ser provedores colonial de bens para o mercado mundial, ou seja, extraíam tudo de bom que o Brasil possuía, de plantações, ouro a mão de obra escrava para oferecer ao mercado e enriquecer. A sociedade brasileira, dessa forma, ganhou bastante herança característica da portuguesa, porém com a diferença da presença do que Darcy chama de colorido, os índios e os negros. Dessa forma, nasce o Brasil como um “renovo mutante”, resultado de uma transformação de raças, culturas, entre outros pontos que dão sua característica própria, mas vinculado a raiz portuguesa, que só puderam mostrar suas potencialidades no Brasil. A diferença de tantas raças em um só país poderia ter dividido, mas em vez disso uniu. Sobreviveram as mudanças de fisionomia, a mistura de ancestralidade, e não se diferenciaram, mas se tornaram um só povo, com exceção de pequenas tribos que sobreviviam em ilhas e conservaram sua identidade, mas sem risco de afetar a maioria. É exatamente esta mistura que diferenciou o brasileiro, as raízes negras e indígenas, que os deram as condições ambientes necessárias para sobreviver e trabalhar. Página 21 Embora tenham se tornado um só povo, não significa que se tornaram uniformes, já que haviam questões maiores que influenciavam a população, como por exemplo, a ecologia que impactou sobre as paisagens humanas onde as condições de meio ambiente obrigaram a se adaptarem as regiões, a economia, criando formas diferentes de produção, e a imigração, que introduziu na comunidade aspectos europeu, árabe e japonês, que foram abrasileirados e tiveram influências nas questões sociais onde teve maior concentração de imigrantes. Desta maneira, surgiram o que Darcy chama de modos rústicos, como os sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do Sudeste e Centro do país, gaúchos da campanha sulina, entre outros, que ficaram mais marcados pelo que tem em comum do que pela diferença regional. A urbanização, embora tenha criado modo de vida na cidade, ajudou a uniformizar ainda mais os brasileiros no plano cultural, sem apagar as diferenças. A industrialização trouxe paisagens de fábricas e as novas formas de comunicação ganhavam novas formas. Apesar de toda essa diferença, o povo brasileiro passou a se comportar como um só. Página 22 O brasileiro se tornou um povo que fala uma só língua, diferenciada apenas por sotaques regionais, bem menos marcados que o sotaque português. Mais do que uma etnia, etnia nacional, em território próprio em um só Estado. Ao contrário da Espanha, Guatemala, na América, por exemplo, que tem sua formação em várias etnias e são divididas e regidas por Estados unitários, e por isso, tomada por conflitos raciais. O fato de ser uma etnia nacional e ter uma uniformidade cultural, segundo Darcy, são os resultados importantes na formação do povo brasileiro, mas não pode esconder as diferenças que existem por trás delas. O Brasil só conquistou essa ideia de “unidade nacional”, como o escritor expõe, depois da Independência, que foi alcançado mediante lutas sangrentas e cruentas, de fato, o único mérito das velhas classes que estiveram a frente do Brasil. Página 23 Em continuidade, Darcy concluiu que esta unidade foi resultado também de um processo continuado e violento de unificação política, que suprimia a identidade étnica e qualquer tendência que pudesse vir a criar movimentos sociais “separatistas”, ou seja, que pudessem desintegrar esta unidade, principalmente os que defendiam construir uma sociedade mais aberta e solidária. Dessa forma, reforçando a repressão social e de classe castigando qualquer um que se enquadra-se nessas condições, como por exemplo, os republicanos ou antioligárquicos. No processo de formação brasileiro, Darcy destaca que se esconde a notável diferença social que dividiu uma camada privilegiada (os ricos) ao restante ao restante da população, criando um distância social tão grande que se tornou difícil de reverter, até maior que a diferença racial existente no país. O fato de serem um povo nação se deu na formação de grupos de pessoas de classes opostas que se juntam para atender às necessidades de sobrevivência e progresso e não pela evolução das formas de sociabilidade. Se deu pela concentração da força de trabalho escravo para atender interesses maiores dos portugueses que, com o uso da violência, que constituíram um verdadeiro genocídio e um etnocídio sem igual. Provocando cada vez mais a diferença social, entre os ricos e os pobres, os dominadores e os oprimidos, aumentando a distância e escondendo debaixo do tapete cultural, étnico e da unidade nacional, tensões e questões traumáticas diferentes. E por outro lado, há o pavor dos ricos que temem a rebeldia das classes subordinadas e para isso usam da violência brutal para combater qualquer autoridade de poder que ameace a ordem. Página 24 Nesta página, Darcy ressalta que o processo de formação social separou os ricos dos pobres e esses dos miseráveis. Com o passar do tempo, essa distância ganhou tanto espaço que a comunicação entre um e outro desapareceu. E os ricos passaram, mesmo em minoria, passaram a maltratar, ignorar e explorar os pobres. Os brasileiros por sua vez que se orgulham, segundo Darcy, da falsa democracia racial não conseguem notar o abismo que separa as camadas sociais. E o mais grave é ver que essa diferença não incentiva os a se rebelar e conquistar melhores condições, mas foi cristalizada e não muda. Os privilegiados sempre se isolam com indiferença e povo sofrido acredita que foiuma dádiva que Deus os deu de viverem tão bem, mesmo muitos sendo frios e perversos, como relatado nas lutas violentas contra índios e escravos. Página 25 Foram poucos que se organizaram para lutar contra o cenário, que se formaram por região, como os Cabanos em Canudos, no Contestado e entre os Mucker. Essa diferença cada vez maior alimentada pela preconceito social, segundo Darcy, bem poderia vir a explodir num futuro próximo, e por isso a preocupação dos riscos, que sabiam que isso podia ocorrer e por isso faziam as que Darcy chama de revoluções preventivas, que eram um mal menor a ordem vigente, causando apenas alguns remendos. Esse medo era de que os negros, motivados por suas questões emocionais, pudessem se rebelar. Os ricos temiam a cor dos negros e seus comportamentos que pelo cenário poderiam ser para eles terrivelmente assustadores. Se isso ocorresse, Darcy analisa que seria como uma convulsão social, pois ainda sim, eles seriam vencidos de forma repressora, e depois a forma desigualitária voltaria a reinar sob os escombros. O grande desafio do Brasil é enfrentar com lucidez a real situação para reunir energias e orientações políticas necessárias para lidar com o problema, sabendo dos riscos de retroceder. Embora tenham lutado e pagado um preço alto, o povo brasileiro nunca saiu da condição de dependência e opressão. Índios dizimados, negros chacinados aos milhões e escravizados. O povo não conseguiu, se não em episódios pequenos, conquistar o comando de seu destino para reescrever uma nova história. Página 26 Darcy afirma que embora isso não seja ensinado e falado na historiografia oficial, sobrou discursos de ódio pela classe dominante na construção da história e faltou espaço para os movimentos sociais. Faltou compreensão do que realmente aconteceu neste país e um claro projeto para reverter tudo isso aqui, apoiado pela maioria. Não é impossível não pensar que a reordenação social seja feita por reforma democrática sem necessariamente uma convulsão social. Porém bem improvável ocorrer, já que poucos milhares proprietários exclusivos de grandes terras forçam os trabalhadores a viverem em favelas se apegando a antigas leis. Toda vez que um projeto que visa revisar a constituição, as forças dominantes parte de força e repressão para impedir. Página 29 I. O NOVO MUNDO 1 MATRIZES ÉTNICAS A ILHA BRASIL Durante milhares de anos, os índios viveram em diversos cantos da costa atlântica. Eles disputatavam espaços. No último século, os índios de fala tupi se instalaram e dominaram parte da costa e Amazônia. Configurava-se ali a Ilha Brasil, na América do Sul, o que viria a ser nosso país, segundo Darcy. Ainda não eram povo brasileiro, porque não tinham este pensamento e nem sequer eram dominadores. Eram apenas povo tribal que falava a mesma língua e depois de crescidos se dividam em outros povos, porque quando se conheciam se hostilizavam e se dividiam. Se eles tivessem tempo suficiente, quem sabe uns séculos a mais, de liberdade e autonomia para povar, o escritor acredita que talvez a história do Brasil poderia ser diferente. Página 30 Mas esta não foi a história que o Brasil foi construído. O que realmente ocorreu foi a chegada do português, embora em menor quantidade, e se dizendo descobridor, usou a agressividade e a capacidade destrutiva para invadir o Brasil. O português trouxe a doença para os índios, firmou guerras em disputas territoriais, escravizou e vendeu os índios e promoveu a Europa em um novo comércio baseado em exploração. No plano étnico cultural unificou etnia, língua, costume, na mistura dos índios, europeus e negros, construindo o novo povo: o brasileiro. Darcy é um grande homem que buscou entender a história do Brasil a partir dos índios e dos negros, ao contrário do que a história oficial nos conta, a versão do invasor. Praticamente dedicou sua vida para escrever este e outros livros e nos dar a oportunidade de nos aproximar da verdadeira história do nosso país sob um novo ângulo. Página 31 A MATRIZ TUPI Quando os portugueses chegaram ao Brasil pelo litoral encontraram índios da tribo tupi que somavam cerca de 1 milhão, divididos em dezenas de grupos de cerca de 300 a 2 mil habitantes. Quase a mesma quantidade de pessoas que naquela época viviam em Portugal. O povo tupi teve destaque por dar início a revolução agrícola (fim da caça e coleta e início da preparação de plantação para agricultura e colheita, como por exemplo, a mandioca, que era uma planta venenosa e foi domesticada por eles para servir como alimento. Página 32 Essa agricultura garantia comida para todo o ano uma grande variedade de alimentos, embora ainda estivessem sujeitos ao chamado por Darcy de “sítio privilegiado”, onde cerca de 3 mil pessoas se juntavam para a prática para garantia de regularidade a sobrevivência do grupo. Todos eram obrigados a participar, com exceção de alguns religiosos e chefes. Os tupis, embora falassem a mesma língua e tivessem a mesma cultura, não se uniam politicamente, pois sua própria condição evolutiva os faziam dividir. Página 33 Com a chegada do português, ainda sim, os tupis não conseguiram se unir se não por confederações que logo desapareceram. A mais importante foi a dos Tamoios, onde envolveu 12 mil pessoas, entre os índios aliados aos franceses e índios aliados aos portugueses. E na verdade, segundo Darcy, eles não sabiam pelo que lutavam, apenas tinham sua agressividade explorada. Ao final de cinco anos de lutas foram vencidos por tropas indígenas aliciadas por jesuítas. Nunca houve paz entre os índios e o invasor, o que sempre exigiu esforço dobrado para a dominação. Página 34 Segundo Darcy, isso se deu porque os índios tinham em sua estrutura social a igualdade, não fazendo diferença destacada a uma classe subordinada, o que impedia formar um Estado, mas ao mesmo tempo, não estar sob uma dominação. Se venciam, comiam os prisioneiros em rituais de antropofagia, se perdiam, fugiam. Eles viviam em guerra constante com quem estivesse em seu território, seja inimigo declarado ou até mesmo outros índios tupis da mesma matriz étnica, ora em disputa pelos chamados sítios privilegiados, ora por questões culturais em busca de prisioneiro para os rituais de antropofagia. Era culturalmente normal e obrigatória a prática de capturar prisioneiros na tribo “inimiga” para sacrificá-los. Por conta disso, só eles faziam tão bem feito esta prática. Precisavam ser guerreiros considerados, que conversavam entre eles de forma soberba, tanto com quem iria matar como com quem iria morrer. Eles não comiam covardes. Página 35 Ao mesmo tempo, essa prática revelava o atraso desse povo. Eles acreditavam em seu pensamento “selvagem” que um prisioneiro valia mais consumido do que integrado como escravo a tribo. Muitas tribos indígenas tiveram participação importante na formação do povo brasileiro, como os Paresi, que eram escravos preferidos por saberem mexercom a tecnologia dos paulistas antigos, ou os Bororos e Xavante, entre outros, que já não serviam de escravos porque seu sistema adaptativo era muito diferente dos tupis. O maior impacto foi em relação aos mamelucos (que se tornavam os brasileiros) com os Guaikurus (uma tribo indígena que usava cavalos nas lutas e eram reconhecidos por suas estruturas corporais e força). Esses chegaram a ameaçar a expansão europeia. Eles foram responsáveis por quases eliminar os espanhóis do Paraguai e por dizimar pelo menos 4 mil paulistas na divisa com Cuiabá. Eles chamavam a atenção dos portugueses. Página 36 Antes mesmo da chegada do português, os Guaikurus já impunham sua superioridade. Os Mbayá-Guaikurus quando aliados com os Payaaguá-Guaikuru, que utilizavam remos como lanças de duas pontas se tornaram ainda mais perigosos. Para os europeus, que disputavam o ouro dos imensos territórios brasileiros, a aliança com os Guaikurus seria a melhor forma de vencer os adversários e foi o que ocorreu. Página 37 Os Guaikurus, além de fortes, também eram inteligentes e logo aprenderam a prática do escambo, escravizando o negro, europeu, mameluco, para vender em Assunção, o que deixou os espanhóis animadíssimos. Eles tiveram aliança com o português, com os espanhóis, mas não se mantiveram fiéis a nenhum deles, por não serem dominados. Foram doutrinados por jesuítas, e atacaram Cuiabá e Vila Bela. Mas depois de expulsar os jesuítas, focaram nos castelhanos, atacando os arredores de Assunção. Enquanto uma parte ficou no sul de Mato Grosso, a outra na vizinhança de Assunção. Eles tiveram momentos de glória na Guerra do Paraguai, assaltando e saqueando paraguaios e brasileiros, mas mais tarde, tiveram seus animais tomados por doenças trazidas pelos europeus, restando apenas a soberba, a grande característica diferenciadora entre eles e outras tribos. A LUSITANIDADE Ao contrário dos povos que viviam no Brasil, sem diferença social, divididos em tribos independentes, os português invasor marcava presença avançando de forma vasta com a civilização urbana e de classe. Página 38 O centro das decisões era Lisboa, por meio do Conselho Ultramarino, que tudo previa, planificava, ordenava e provia. Outro poder de destaque era a Igreja Católica com o Santo Ofício (instituição criada pela Igreja Católica em busca de heresia e bestialidade para julgar, punir, perseguir e até queimar pessoas vivas.Fora essas, havia a estrutura civilizatória imposta sobre o Brasil que nascia. Essa estrutura era um conglomerado interativo de diferente entidades em constante competição, às vezes, cruentas, entre elas, a Espanha que era uma ameaça aos portugueses, seguida da Inglaterra e a Holanda, que entram contrapostas a Portugal na disputa por novos mundos. Sobre todas elas estava Roma no Vaticano, a da Santa Fé, que legitimizava qualquer empreendimento mundial e centro de fé regida gerenciada em seu nome por igrejas espalhadas. Eram quem fazia funcionar os mercados armados, pela regência papal. Este poderio vinha ganhando força e destaque devido a revolução mercantil, que seu deu pela nova tecnologia na nau oceânica, com a chegada das velas de mar alto, leme fixo, bússola, astrolábio e conjunto de canhões. Também surgia a tipografia de Gutemberg, uma máquina de impressão, que permitiu duplicar a disponibilização de livros, além do ferro fundido que permitia a produção de utensílios e apetrechos para a guerra. Um esforço de disseminar a sabedoria adquirida. Página 39 E, segundo Darcy, usar essa sabedoria a fim de descobrir qualquer nova terra, estruturando todo o mundo, regido pela Europa, levando toda a riqueza roubada e explorando os meios de produção. Era a humanidade em um novo estágio, sucumbindo povos, línguas e culturas para nascer macroetnias maiores e mais abrangentes. O motor da expansão era o processo civilizatório que criou dois Estados: Portugal e Espanha. Embora essa formação tenha se dado após a decadência romana pelo feudalismo, eles não se viam assim, mas sim como os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes. Eles tinham uma espécie de missão mundial salvadora que era cumprir a tarefa suprema do homem branco, segundo eles, destinado por Deus de juntar todos os homens em uma só cristandade, divididas, segundo Darcy, lamentavelmente em protestante e católica. Antes mesmo de chegarem ao Brasil, o Vaticano já havia estabelecido normas básicas de ação colonizadora, de olho na África, que não se lançava contra os hereges adoradores de outros deuses, mas contra pagãos e inocentes. Página 40 Mais tarde, de forma preventiva, dispôs que o novo mundo era legitimamente possuível por Espanha e Portugal e seus povos escravizáveis por quem os subjulgasse. Página 42 2. O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS AS OPOSTAS VISÕES Quando os europeus chegaram ao Brasil, os índios os viram sob ângulo místico e não com a real intenção com a qual eles haviam aparecido. Achavam que eram generosos pois foram ensinados que mais valia dar que receber. Os portugueses eram feios e fedidos, mas após o banho melhoravam um pouco seu aspecto. E os índios tinham mais esperança de vida melhor pela criatividade e bravura dos europeus que medo. Muitos embarcaram em barcos portugueses confiantes que iriam para um lugar melhor. E perceberam tempo depois a intenção dos portugueses, e tornando depois dos pau brasil, a principal mercadoria de exportação para a metrópole. Página 43 Mais tarde, a visão romantizada e iludida do índio chegou ao fim. Eles passaram a ver a tragédia que foi a chegada dos portugueses nas terras da ilha Brasil. Eles questionavam o Deus Maíra, em quem acreditavam. Como explicar tamanha provação? Preferiam morrer a viver naquelas condições. Muitos se suicidaram. Morreram de tristeza em pensar a que foram predestinados: negação de todos os seus valores, cativeiro, desrespeito, etc. A pregação missionária, neste aspecto, caiu como uma luva. Eles acreditavam que por culpa de seus pecados estavam pagando pelo que fizeram. Os que puderam, fugiram, levando com eles doenças trazidas pelos brancos, no entanto, as ferramentas e bens pessoais os atraía a voltar para conferir com seus próprios olhos aquele povo estranho que chegará nas praias, recebendo navios cheios de bens preciosos. I. O NOVO MUNDO 2. O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS AS OPOSTAS VISÕES Página 44 No início da obra, o autor faz um questionamento “porque o Brasil não deu certo? ”. Ao longo dos capítulos ele vai descrevendo a formação étnica e cultural do povo brasileiro. Na página citada, podemos compreender as visões opostas entre os invasores e os índios. Tratava-se de um choque de realidades, concepções, não só diferentes, mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor. Página 45-46 Podemos evidenciar o desencontro estabelecido entre os recém-chegados e os índios. Os índios se sentiram ameaçados com a presença dos invasores, pessoas de várias nacionalidadesque invadiram as terras indígenas para fins de colonização, escravidão e lucros. Com a invasão das terras indígenas pelos europeus os conflitos aumentavam a cada dia. Os europeus queriam àquelas terras, que aos seus olhos, eram promissoras, muita riqueza - ouro e pau-brasil. Página 47 A partir do grande desencontro e do enfrentamento descrito pelo autor, rapidamente podemos perceber que muitas tribos foram destruídas através das guerras de extermínio, escravidão e além da guerra biológica implacável, chegada de uma epidemia de pestes mortais. RAZÕES DESENCONTRADAS Página 49 O autor narra registro das crônicas coloniais, evidenciando essa guerra entre os europeus contra indígenas. Em um poema, o Padre Jose de Anchieta, descreveu o quanto os índios sofreram durante o governo de Mem de Sá, que na época era o segundo governador geral do Brasil e usava métodos nada ortodoxos, o que contribuía para o extermínio de algumas tribos. Página 51 Revela o autor, que durante o governo de Mem de Sá no século XVI, o programa de civilização de Nóbrega foi levado a ferro e fogo, um conjunto de violência, intolerância, prepotência e ganância imperavam, levando o desespero e a destruição acerca de trezentas aldeias indígenas na costa brasileira. Página 53 O autor descreve como se deu o desaparecimento das povoações indígenas em tão pouco tempo, dando lugar a três tipos novos de povoações. O primeiro e principal, formado pelos escravos africanos. O outro, formado principalmente por mamelucos (mestiços de índios com brancos) e brancos pobres. E o terceiro constituído pelos índios escravos ou concentrados em aldeias, que eram regidas por missionários seguindo o processo jesuítico de colonização do Brasil. Página 54 Segundo o autor, um sério conflito entre os padres da Companhia e os povoadores dos núcleos agrário-mercantis é instalado algumas décadas depois da colonização. A coroa portuguesa fazia vistas grossas à escravidão indígenas e apoiavam os colonos paulistas que estavam usando os índios como escravos, porque os negros africanos eram caros. Estes colonos invasores queriam as terras indígenas a todo custo e não mediam esforços para consegui-los. O projeto jesuítico era oposto ao colonial, dessa forma, as missões jesuíticas não alcançaram em terras brasileiras o objetivo de organizar e prosperar a vida dos indígenas. Revelando um fracasso do projeto. Página 55 Neste momento da história, o autor explica, quais os fatores que contribuíram para o fracasso do projeto jesuítico. Os jesuítas vieram ao Brasil para evangelizar e catequizar os índios, só que o plano de evangelização não teve êxito, devido à oposição frontal dos povoadores portugueses que praticamente os obrigaram a servirem de amansadores de índios e força-los a trabalhar como escravos. Outro fator de relevância, foi as enfermidades trazidas pelo branco que, ao disseminarem-se nas concentrações humanas das missões, provocaram enorme mortandade. Portanto diante destes fatores podemos considerar os jesuítas responsáveis pelo evidente despovoamento de toda costa, ou seja, responsáveis pelo extermínio de algumas tribos. Para Ribeiro foi evidente o trágico papel dos jesuítas, que o objetivo claro não era de dizimar os índios, mas o resultado da sua política não podia ser mais fatal se tivesse sido intencional. Isso se funda na ambiguidade de sua dupla lealdade frente aos índios e à Coroa. E diante tantas tentativas frustradas dos jesuítas na defesa dos índios, no segundo século, foram expulsos do Brasil pela Coroa, na pessoa de marquês de Pombal, entregando as missões aos colonos ricos. O SALVACIONISMO Página 57 Para o autor, neste momento foi surgindo uma etnologia recíproca, através da qual uns iam configurando o outro. Para os europeus a população indígena deveria ser incorporada às culturas e sociedade branca, por outro lado manteriam os conhecimentos e costumes dos índios. Página 59 Durante esse capítulo do salvacionismo, o autor evidencia os conflitos que surgiram na missão de incluir os indígenas nas práticas da evangelização e purificação. De um lado, a dos colonos, visando os próprios interesses - lucro. Do outro lado, a dos religiosos, objetivando suas missões. Página 61 Para Ribeiro um choque de ideologia foi instalado entre os sacerdotes e colonos. A tarefa a que o missionários se propunham de manter uma sociedade solidária, embasada às tradições do cristianismo primitivo se chocaram com as práticas europeias que acreditavam que os índios eram a força de trabalho de que necessitavam para prosperidade. Página 62 Durante décadas os europeus não mostraram nenhum arrependimento pelos milhares de índios mortos. A ambição deles era desmedida, que segundo Darcy Ribeiro, conquistar o reino do mundo para eles era o limite. Os missionários reconheceram seu papel conivente neste desastre histórico, portanto o projeto de evangelização, nada mais foi que um projeto utópico. A incompatibilidade dos projetos jesuíticos e colonial, levando em consideração o interesse das Coroas, prevalece o projeto colonial, levando assim a um desmoronamento dos jesuítas que foram expulsos das Américas e à escravidão nas mãos dos colonos. Página 63 Finalmente, os reis de Espanha e de Portugal assumiram o reino deste mundo - Novo Mundo. O misticismo deu lugar à praticidade, contribuindo às bases do império maior. PARTE ELIANE CATIVEIRO INDÍGENA Página 98 a 105 O autor, Darcy Ribeiro aponta a escravidão como algo hegemônico do século XVII e relata como os escravos eram vendidos por um valor baixo. Mesmo os colonos tendo a mão de obra indígena, eles optaram pelos escravos negros para a produção mercantil. Os índios eram utilizados em produções de subsistência, além de trabalharem como marceneiros, serralheiros e no artesanato. Em 1570, foi redigida uma carta que autorizava o aprisionamento dos índios somente em guerras justas, por outro lado, havia outra lei que autorizava o cativeiro de maneira legal. Além dos índios serem mantidos aprisionados, eles custavam um quinto dos escravos africanos importados, ficando assim, conhecidos escravos dos pobres. Nóbrega, não aconselhava a vinda de colonos com baixo poder de compra e sim, estimulava os colonos ricos a virem para aquisição de índios cativos, assim como os jesuítas que lutaram para a regulamentação dos cativeiros indígenas, sua base eram interesses administrativos. De um lado ocorria a discordância da coroa, dos jesuítas e o imediatismo dos traficantes dos índios, do outro lado, a dúvida da independência do cativeiro indígena. 2 MOINHOS DE GASTAR GENTE OS BRASILÍNDIOS Páginas 106 - 113 De acordo com o autor, os brasilíndios ou mamelucos foram concebidos por pais brancos, e mulheres índias, e também fundamentais pela expansão territorial portuguesa. Os mamelucos paulistas não possuíam moedas e peregrinaram durante meses a procurava de mercadorias para vender ou de uso próprio, temos, por exemplo, oíndio, que era aprisionado para cumprir tarefas ou para serem vendidos. Os mamelucos ou brasilíndios sofreram rejeições. Uma era dos pais, que os viam como filhos impuros e a outra pela rejeição maternal. Entretanto, os brasilíndios não se reconheciam com nenhum de seus ancestrais, deste modo, o cunhadismo obteve um novo gênero, pois este povo não se identificava com os índios, nem europeus e tampouco com os negros. Este fato foi acometido como agente de civilização, ocasionando a comunicação de seu modo e a tinham uma visão diferenciada de outras sociedades.
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