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Apostila Direito Civil - Obrigações

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Prof. Diogo Durigon
Obrigações
DIREITO CIVIL
 
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1. PARTE ESPECIAL – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
 
1.1 Obrigações e atos unilaterais de vontade 
 
É possível exigir o cumprimento de prestação, diante de declaração unilateral 
de vontade, como uma promessa de recompensa? 
Na relação que se desenvolve quando há uma declaração unilateral de 
vontade, como nos casos de promessa de recompensa, gestão de negócios, 
pagamento indevido e enriquecimento sem causa, não há um contrato propriamente 
dito, ou relações bilaterais. 
Há uma assunção ao cumprimento de determinada prestação decorrente de 
ato unilateral, gerando a obrigação, e comprometendo-se à cumpri-la. Inclusive, 
tendo o beneficiário direito de exigir o cumprimento da satisfação. 
 
1.2 Obrigação e contrato 
 
As figuras da obrigação e do contrato quase se confundem, encontrando a 
distinção no fato de que contrato é fonte de obrigações, ou seja, os negócios 
bilaterais são as principais formas de geração de obrigações. 
 
1.3 Obrigações e direitos reais 
 
As obrigações se diferenciam dos direitos reais quanto à dois aspectos 
principais. É necessário ter em mente que a obrigação é uma relação que envolve o 
cumprimento de prestação, sendo que os direitos reais também possuem essa 
característica de vinculação prestacional. 
Quanto ao primeiro ponto de divergência, a obrigação possui como objeto 
uma conduta humana, enquanto na obrigação real o direito se infere sobre coisas 
corpóreas e determinadas. 
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Em segundo lugar, temos como critério diferenciador o tempo do direito. Na 
obrigação, é característica peculiar a transitoriedade, pois, cumprida a prestação, 
cessa a obrigação. Seu prazo de duração se exaure na medida de cumprimento da 
prestação. 
O direito real, por outro lado, se liga à coisa e dela se torna indissolúvel, i.e., 
permanece enquanto permanecer a coisa, sendo duradouro e absoluto, e 
prevalecendo erga omnes. 
 
1.4 Obrigações e moral 
 
A moral não se constitui em elemento de exigibilidade jurídica, ou seja, a 
moral não é capaz de originar obrigações junto ao direito. 
Não obstante, a relação obrigacional surge da moral, pois é pelo aspecto 
moral que o devedor se comprometia e cumpria a obrigação. Não podendo cumpri-
la, o devedor subjugava-se a condição de escravo, cumprindo a prestação e, 
principalmente, mantendo a sua honra. 
As obrigações decorrem do comprometimento moral à satisfação daquilo que 
fora pactuado entre duas partes. 
Mesmo que não se possa exigir o cumprimento de obrigação moral, este 
lança sua influência sobre todo o ordenamento jurídico, pois é com base nessa que 
são prescritas as condutas em nosso sistema. 
 
1.5 Estrutura das obrigações 
 
a) Os elementos das obrigações 
É possível identificar, dentro das características das obrigações, elementos 
que lhe são necessários para sua própria caracterização. 
A obrigação decorre de uma relação entre duas ou mais pessoas, tendo como 
centro um objeto (prestação), sendo uma delas o sujeito ativo (credor) e outra o 
sujeito passivo (devedor), da relação. 
 
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Mesmo nas declarações unilaterais de vontade, uma das partes se 
compromete em cumprir determinada obrigação, podendo o credor dessa obrigação 
exigir o seu cumprimento. 
Há situações em que as figuras de credor e devedor se confundem, pois cada 
um é devedor e credor ao mesmo tempo. 
É o caso, por exemplo, da contratação de construção de uma casa, com 
pagamento parcelado, onde o empreiteiro da obra se obriga a construir a casa, ao 
mesmo tempo em que é credor da prestação mensal. Por outro lado, o dono do 
imóvel se obriga ao adimplemento da parcela mensal, ao mesmo tempo que pode 
exigir o cumprimento da construção do imóvel no prazo estabelecido. 
 
b) O sujeito ativo 
Sujeito ativo é aquele que possui a obrigação a ser satisfeita; é aquele que 
pode exigir o cumprimento da obrigação. Enfim, é o credor. Trata-se daquele que 
confia no cumprimento da obrigação pelo devedor. 
Credor pode assim ser chamado aquele que possui qualquer relação 
obrigacional em seu favor, podendo-se envolver valores em espécie, bens, 
obrigações de fazer e não fazer, dar, etc. 
Qualquer pessoa poderá ser credora: seja ela capaz ou incapaz (menor de 
idade, tutelado, curatelado, doente mental, etc.) 
Quando um incapaz faz parte de determinada relação obrigacional, é o 
incapaz que é considerado o credor (e até mesmo devedor), porém é representado 
ou assistido por alguém (que não vai lhe tomar o posto de parte na relação 
negocial). 
Também é possível que sejam credores pessoas físicas e jurídicas, sejam 
elas de direito público ou privado. Também as associações civis se legitimam como 
credoras para pleitear em ações coletivas (ex. IDEC). 
Ponto de interesse é a possibilidade de modificação posterior do credor, como 
é o caso dos títulos de crédito, que, em uma nota promissória não se indica o credor; 
ou então no cheque, que deve ser pago ao portador. 
 
 
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c) Sujeito passivo 
Sujeito passivo é aquela pessoa obrigada pela relação jurídica, ou seja, é 
aquela que deve cumprir a obrigação assumida com o credor. É o devedor. 
Quando se trata de bem, a condição de devedor decorre desta titularidade, ou 
seja, a situação de devedor pode ser transferida com a coisa. Cite-se como exemplo 
a venda de um apartamento, onde o novo proprietário passa a ser o devedor das 
taxas de condomínio que se vencerem a partir de então. 
Assim como no caso de credores, há possibilidade de haver vários devedores 
de uma mesma obrigação, para com um ou vários credores. Também aqui podem 
ser devedores pessoas físicas e jurídicas, capazes ou incapazes. 
 
d) Objeto da obrigação 
O objeto da obrigação é o bem (material ou imaterial) pelo qual credor e 
devedor estabelecem a obrigação. É aquilo que deve ser realizado, cumprido, 
omitido, prestado, etc. Trata-se da própria obrigação. 
Qualquer coisa pode ser objeto de vínculo obrigacional, desde que cumpra as 
determinações dos arts. 104, II e 166, II, ambos do CC (objeto lícito, possível e 
determinado ou determinável – valor econômico ou moral), sob pena de nulidade ou 
invalidade do negócio jurídico. 
Lembre-se: licitude se refere à não vedação ou existência de amparo legal 
quanto ao objeto (afasta-se, por exemplo, negociações de drogas ilícitas); 
possibilidade se refere à capacidade humana, permissão legal e comerciabilidade do 
bem; valor econômico ou moral, que refere ou valoração econômica ou imaterial 
(como obrigação de preservação ambiental). 
 
e) O vínculo obrigacional 
O vínculo obrigacional é a relação jurídica que liga credor e devedor para com 
o objeto desta obrigação. É a perfectibilização da obrigação. É relação jurídica por 
que, para ser obrigação tutelada pelo direito, deve ser adequar a estes moldes (art. 
104 do CC/02). 
 
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O vínculo obrigacional nasce tanto do acordo de vontades com de atos 
jurídicos ilícitos, como de um acidente de trânsito1. 
 
1.6 Modalidades das obrigações 
 
ASPECTOS GERAIS 
A realização de uma classificação das obrigações tem por objetivo distinguir 
aspectos como sua eficácia, objeto, e assim, por diante. De modo a facilitar o 
estudo, tomaremos as distinções recepcionadas pelo Código Civil de 2002. 
 
a) Obrigações civis 
Obrigações civis ou empresariais são as obrigações que possuem todas as 
qualidades necessárias para a sua exigibilidade, ou seja, emitem seus efeitos no 
mundo jurídico com plenitude. 
Na obrigação civil, o devedor assume a obrigação para com o credor, que 
pode ser positiva ou negativa, obrigando-se a cumpri-la. Em caso de não 
cumprimento, o credor poderá buscar, através do Poder Judiciário,a satisfação 
dessa obrigação. 
Temos como exemplo de obrigação civil a realização de um contrato, na 
forma do art. 104 do CC; a assinatura de um título de crédito; a realização de um 
negócio; e assim por diante. 
A obrigação civil é formada por todos os elementos já transcrito em outros 
momentos (material adicional já inserido no site), que são: sujeito ativo (credor), 
sujeito passivo (devedor), objeto da obrigação e vínculo jurídico suficiente a permitir 
a exigibilidade judicial do cumprimento da obrigação (ação material e ação 
processual). 
 
1 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Obrigações. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 
 
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b) Obrigações morais 
A obrigação moral é a obrigação que decorre exclusivamente de liberalidade 
da pessoa, que, sem qualquer vínculo jurídico, cumpre o dever moralmente 
assumido para com outrem. 
É o caso, por exemplo, do cumprimento de disposição de última vontade que 
não constou no testamento; ou então de socorrer pessoas necessitadas2. 
Porém, uma vez cumprida a obrigação, não é possível a sua repetição, ou 
seja, não pode o devedor, após cumprir a obrigação moral, tentar a restituição da 
obrigação. 
 
c) Obrigação natural 
A obrigação natural possui todos os elementos da obrigação civil, com 
exceção, apenas, do direito de ação. Ou seja, a obrigação natural se equipara à 
obrigação civil por possuir credor, devedor e objeto da obrigação. 
Porém, não terá o credor direito de ação em face do credor: não poderá 
ajuizar ação pretendendo a cobrança ou execução de uma obrigação natural. 
A obrigação natural também se equipara à obrigação moral, no sentido da 
irreversibilidade de prestação cumprida: se o devedor cumpre espontaneamente a 
sua obrigação, não poderá discutir o cumprimento desta ou buscar a restituição da 
obrigação. 
O seu diferencial perante as obrigações morais é que as obrigações naturais 
possuem previsão expressa no ordenamento jurídico. No caso do nosso Código 
Civil, temos as obrigações prescritas (art. 882 do CC); dívidas de jogo e aposta (art. 
814 a 817 do CC); empréstimo feito à menor (art. 588 – verificar exceções do art. 
589 do CC). 
Como exceção à regra da previsão, a concessão de gorjetas e o pagamento 
de comissões para alguém não profissional que intermediou a venda, também são 
obrigações naturais. 
 
2 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 2.v. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 62. 
 
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A obrigação natural, assim, não pode ser exigida, porém, uma vez cumprida 
pelo devedor, não poderá ser objeto de repetição (reversão do adimplemento). 
 
d) Obrigação principal e obrigação acessória 
É a obrigação existente por si, abstrata ou concretamente, sem que haja 
dependência ou sujeição para com outras obrigações (relações jurídicas). 
É caso da obrigação assumida pelo inquilino em devolver o imóvel, findo o 
contrato de locação; também é a obrigação ao pagamento de certa quantia em 
dinheiro, decorrente de título de crédito. 
Já a obrigação acessória é aquela obrigação cuja existência depende de 
outra relação jurídica, ou seja, é a obrigação cuja existência depende da existência 
de outra obrigação. 
 
 
 
Podemos apontar como exemplo o contrato de fiança para garantia de 
contrato de locação, sendo a fiança acessório deste (art. 818 a 839 do CC); os juros 
de um empréstimo (art. 323, 406 e 407 do CC); a cláusula penal, por ser uma pena 
imposta pelo descumprimento do contrato (art. 408 do CC). 
A natureza principal ou acessória das obrigações pode ser em decorrência de 
acordo entre as partes ou em decorrência de lei. 
 
1.7 Obrigações propter rem 
 
As obrigações propter rem, também denominadas de obrigação com eficácia 
real, são aquelas decorrentes de algum direito real, mas que vinculam o detentor de 
tal direito. 
Temos como típico exemplo de tal obrigação aquelas decorrentes da 
propriedade de imóvel, quais sejam o pagamento de IPTU e da taxa condominial. 
LEMBRE-SE: Uma vez que extinta a relação jurídica principal (obrigação principal), extingue-se a 
obrigação acessória. 
 
 
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Trata-se, portanto, de vínculo obrigacional pessoal, que, antes de ser fonte de 
pacto específico com outra pessoa, nasce com a estipulação de um direito real. 
nesse passo, vale citar a posição de alguns doutrinadores acerca desse instituto: 
Para Maria Helena Diniz, a obrigação propter rem gera a “vinculação a um 
direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou 
possuidor", com "possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito 
real, renunciando o direito sobre a coisa", e onde ocorre a "transmissibilidade por 
meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente". 
No dizer de Sílvio Rodrigues, tal obrigação “prende o titular de um direito real, 
seja ele quem for, em virtude de sua condição de proprietário ou possuidor", onde "o 
devedor se livra da obrigação pelo abandono do direito real"; de modo que "a 
obrigação se transmite aos sucessores a título singular do devedor". 
Por fim, Silvio de Salvo Venosa refere que "trata-se de relação obrigacional 
que se caracteriza por sua vinculação à coisa", sendo que "o nascimento, a 
transmissão e a extinção da obrigação propter rem seguem o direito real, com uma 
vinculação de acessoriedade"; ao passo que "a obrigação dita real forma, de certo 
modo, parte do conteúdo do direito real, e sua eficácia perante os sucessores 
singulares do devedor confere estabilidade ao conteúdo do direito". 
Importante citar, como complemento, que a extinção da obrigação real se dá 
pelo abandono do referido direito, assim como também poderá ser transmitido à 
terceiros, a título gratuito, oneroso ou por sucessão. 
Por fim, a obrigação real acompanha o bem onde quer e com quer que ele se 
encontre, de tal modo que a responsabilidade pelo seu adimplemento irá 
acompanhar o bem, mesmo em caso de alienação ou sucessão. 
 
1.8 Obrigações de dar 
Obrigação de dar é aquela que envolve a entrega de algo pelo devedor ao 
credor. Se subdivide em quatro formas distintas: 
 
a) obrigação de dar (stricto senso): é a obrigação que envolve a 
transferência de domínio ou de outros direitos reais (posse, propriedade, etc.) para o 
 
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credor. É a obrigação que envolve a entrega de determinado bem, sob o fundamento 
de transferência de seu domínio. Exemplo dessa obrigação ocorre em um contrato 
de compra e venda, no qual o vendedor se compromete a entregar o imóvel (posse 
e propriedade) para o comprador. 
 
b) obrigação de restituir: na obrigação de restituir, não há a transferência da 
propriedade, mas apenas a posse do bem. Verificamos este tipo de obrigação nos 
contratos de locação, por exemplo, onde o inquilino se obriga a restituir o imóvel ao 
locador (art. 59 ao 66 da Lei nº 8245/91). Previsão dos art. 238 ao 242 do CC. 
Se a coisa se perder sem culpa do devedor este não terá responsabilidade 
pela coisa, sendo sua responsabilidade restrita à obrigação. Por exemplo os 
encargos de aluguéis até o dia em que temporal arrancou a casa inteira, que estava 
sendo locada. 
Relativamente aos melhoramentos, o devedor somente terá direito se houver 
contribuído para isso, como a realização de reformas, o devedor terá direito à 
restituição do valor, se estiver de boa-fé, de acordo com o disposto nos art. 1.219 a 
1.222 do Código Civil. 
Da mesma forma ocorre em relação aos frutos, tendo o devedor direito se 
estiver agindo de boa-fé, também de acordo com os citados dispositivos. 
Fica excluída dessa regra, no entanto, a obrigação decorrente de comodato, 
conforme dispõe o art. 584 do CC. 
 
c) obrigação de contribuir: são as obrigações que impõemo dever de 
contribuição por parte do devedor, como no caso do condomínio (art. 1315, 1334, I, 
1336, I e §1º, todos do CC); e da manutenção das despesas da família (art. 1568 e 
1688 do CC). 
Cada um, proporcionalmente à sua cota ou capacidade, deve contribuir para 
a manutenção do condomínio ou das despesas familiares, respectivamente. 
 
 
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d) obrigação de solver dívida em dinheiro: são as obrigações que se 
estabelecem pelo valor, ou seja, representam determinado valor para seu 
adimplemento. 
É o caso do pagamento do aluguel; do preço do contrato de compra e venda; 
das perdas e danos (quando do inadimplemento); e do pagamento dos juros 
(quando de mútuo – empréstimo). 
As obrigações de dar, após esta primeira classificação, são diferenciadas 
também pela determinabilidade de seu objeto. Classificação essa adotada pelo 
Código Civil de 2002. 
 
1.8.1 Obrigações de dar coisa certa 
 
A obrigação de dar coisa certa constitui-se na obrigação assumida para a 
entrega de bem certo e determinado, como por exemplo a entrega do veículo placas 
AAA0000. 
Assim, a obrigação recai apenas e tão somente sobre a coisa objeto da 
contratação, não sendo o credor obrigado a receber prestação diversa daquela que 
foi pactuada (art. 313 do CC). Está prevista nos art. 233 a 237 do CC. 
No caso da obrigação de dar coisa certa, a obrigação principal abrangerá os 
acessórios desta, salvo se diversamente tiverem estipulado as partes (art. 233 do 
CC). 
Como há a transferência de propriedade, até que a coisa deva ser entregue, 
os frutos (percebidos) e melhoramentos pertencerão ao devedor, inclusive com 
direito à aumento do preço ou resolução do negócio (art. 237). 
Por exemplo: na compra e venda de uma plantação de maças, as maças que 
maturarem até o dia da transferência da posse pertencerão ao devedor, e as verdes, 
que maturarem após a data, pertencerão ao credor. 
Ainda, se a coisa a ser entregue se perder antes de sua entrega, ou mesmo 
sofrer deterioração, sem que o devedor tenha culpa no evento, a obrigação se 
resolverá, com a devolução de valores pagos, ou então, poderá o credor receber a 
coisa com o respectivo abatimento (art. 234 e 235 do CC). 
 
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Por outro lado, tendo o devedor culpa na perda ou deterioração da coisa, 
poderá o credor exigir o seu equivalente, ou o desconto da deterioração, além de 
indenização por perdas e danos (art. 236 do CC). 
É o caso do devedor que se obrigou a entregar um terreno com a casa. Se o 
devedor não efetuou a manutenção do imóvel, vindo este a desabar, responderá 
pelo valor da casa também, além de eventuais perdas e danos que o não 
cumprimento da prestação tenha causado (como a necessidade do credor pagar 
aluguéis de um outro imóvel até construir novamente a casa). 
 
1.8.2 Obrigações de dar coisa incerta 
 
A obrigação de dar coisa incerta é a obrigação assumida elo devedor em 
relação à um objeto provisoriamente indeterminado, mas que é determinável, e cuja 
determinação ocorrerá no decorrer do cumprimento da obrigação. 
Assim, trata-se de obrigação cujo objeto será estabelecido apenas na 
espécie, porém a sua individualização ocorrerá no cumprimento da obrigação. Outra 
importante característica, além da designação da espécie (consta gênero do CC, art. 
243), é a quantidade. 
Podemos citar como exemplo a obrigação assumida para a entrega de 20 
sacas de milho. A espécie (ou gênero, segundo o código), é designada pela 
identificação de milho, enquanto a quantidade é identificada pelas 20 sacas. Quando 
do cumprimento da obrigação, o devedor irá indicar quais são as sacas a serem 
entregues para o credor, apartando-as. 
Esse ato de definição, identificação e determinação do objeto exato da 
obrigação é chamado de concentração. Via de regra, caberá ao devedor fazer esta 
escolha, salvo se as partes estabelecerem de forma diversa, para que o credor ou 
mesmo terceiro faça a escolha (art. 244 e 485 do CC). 
Importante observar que a indeterminação do objeto é transitória, pois a há 
data limite estabelecida para terminar: a data do adimplemento. 
Com a concentração, ou individualização do objeto da obrigação, a obrigação 
de dar coisa incerta passa para obrigação de dar coisa certa, pois já está 
 
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estabelecido, com exatidão, o objeto da obrigação. Portanto, com a concentração, 
as disposições inerentes à obrigação de dar coisa certa passam a incidir sobre a 
obrigação. 
O ato de identificação do objeto exato da obrigação pode ocorrer a qualquer 
tempo antes do adimplemento. Deve ser efetuado de maneira que o credor saiba da 
escolha, ou seja, a concentração deve ser feita com a ciência de ambas as partes. 
Na determinação do objeto, o Código Civil estabelece que a coisa não poderá 
ser a de pior qualidade, mas o devedor não está obrigado a entregar a de melhor 
qualidade, conforme art. 244. 
Fato importante na obrigação de dar coisa incerta está na impossibilidade de 
alegação, pelo devedor, antes da escolha, de perda ou deterioração da coisa como 
fundamento para desobrigar-se da obrigação. 
Exemplo: se o devedor está obrigado a entregar 10 sacas de café ao credor 
e, antes de efetuada a escolha, por granizo, toda a lavoura e os estoques do galpão 
são danificados, com perda total do produto, ainda assim persistirá a obrigação 
como se nada houvesse ocorrido. 
Por outro lado, caso a escolha já tenha sido feita, e o credor anuiu com a 
escolha, estando as 10 sacas de café separadas já, dentro do galpão, que, com o 
granizo é destruído, destruindo também o café, incidirão as disposições do art. 235 
do CC. 
 
1.8.3 Ação de execução para entrega de coisa certa e incerta 
 
Tratando-se de obrigação que está lastreada em título executivo, é adequada 
a ação de execução. No caso da obrigação de dar coisa certa e incerta, são ritos 
processuais próximos, mas diferentes. Necessário identificar, no problema, 
justamente qual é a natureza da coisa (se certa ou incerta), bem como se é 
obrigação quérable ou portable. Para a obrigação de dar coisa incerta, ver quem tem 
a prerrogativa da escolha da coisa. 
 
 
 
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1.9 Obrigação de entrega de coisa incerta 
No caso de obrigação de entrega de coisa incerta, é necessário fundamentar 
a pretensão nos art. 811 ao 813 do CPC/15, bem como identificar quem tem a 
prerrogativa de realizar a escolha. 
Se a escolha for do credor, este deve indicar na própria inicial, tornando-se 
obrigação de dar coisa certa para com o devedor. 
Se a escolha for do devedor, necessário conceder prazo para ele manifestar a 
escolha, e entregar o bem; ou então, se omisso, o credor poderá realizar a escolha. 
 
ATENÇÃO: devemos estar atentos à forma de entrega de bens, observando-se o 
disposto nos art. 798 a 800 do CPC: 
 
Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: 
I - instruir a petição inicial com: 
a) o título executivo extrajudicial; 
b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, 
quando se tratar de execução por quantia certa; 
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; 
d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe 
corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for 
obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do 
exequente; 
II - indicar: 
a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo 
puder ser realizada; 
b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de 
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da 
Pessoa Jurídica; 
c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível. 
Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter: 
I - o índice de correçãomonetária adotado; 
II - a taxa de juros aplicada; 
III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e 
da taxa de juros utilizados; 
IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; 
V - a especificação de desconto obrigatório realizado. 
Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: 
I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou 
fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, 
hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; 
II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a 
penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação; 
III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair 
sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda 
registrada; 
 
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IV - requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair 
sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda registrada; 
V - requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em 
caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins 
de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair 
sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou 
concessão; 
VI - requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de 
superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou 
concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre direitos do 
superficiário, do enfiteuta ou do concessionário; 
VII - requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de quota social 
ou de ação de sociedade anônima fechada, para o fim previsto no art. 876, 
§ 7o; 
VIII - pleitear, se for o caso, medidas urgentes; 
 
IX - proceder à averbação em registro público do ato de propositura da 
execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de 
terceiros. 
Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, 
esse será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro de 10 
(dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato. 
§ 1o Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo 
determinado. 
§ 2o A escolha será indicada na petição inicial da execução quando couber 
ao credor exercê-la. 
 
 
Lembre-se que a elaboração de uma peça depende da análise do caso 
concreto e respectiva solução jurídica aplicável ao caso. 
 
1.10 Critérios de diferenciação entre obrigações de dar e fazer 
É necessário fazer um parâmetro de distinção entre obrigações de dar e 
fazer, de modo a evitar confusões. Deste modo, alguns pontos principais de 
distinção surgem: 
a) na obrigação de dar, há um objeto a ser entregue pelo devedor ao credor, 
enquanto na obrigação de fazer, é o devedor que estará construindo ou elaborando 
este objeto para ser entregue ao credor; 
b) na obrigação de dar, temos a tradição como ato imprescindível, sendo que 
na obrigação de fazer nem sempre ocorre; 
c) na obrigação de dar, a pessoa do devedor fica em segundo plano, pois 
basta que alguém entregue a coisa, para ela se considerar cumprida. Já na 
obrigação de fazer, a figura do devedor adquire especial importância, pois será o 
 
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devedor o responsável pelo ato, e somente excepcionalmente terceiro cumprirá a 
obrigação; 
d) diante do inadimplemento, via de regra, a obrigação de dar comporta 
execução (execução para entrega de coisa), enquanto na obrigação de fazer, 
descumprida a obrigação, via de regra teremos apenas a resolução por perdas e 
danos (art. 389 do CC). 
Como exemplos da distinção entre obrigação de dar e obrigação de fazer 
podemos citar: a) na compra e venda, o vendedor tem obrigação de entregar a coisa 
(dar) e responde pelos vícios redibitórios (fazer); b) na empreitada, o empreiteiro se 
compromete a fornecer a mão de obra (fazer) e fornecer os materiais (dar). 
 
1.11 Obrigações de fazer e não fazer 
 
a) Obrigações de fazer 
A obrigação de fazer é aquela que decorre da obrigação à determinada 
atitude. Ou seja, é quando alguém se compromete a realizar determinada tarefa 
física (como o empreiteiro que se obriga à pintura de um prédio), intelectual (como o 
escritor que se compromete a escrever artigos para um jornal) ou um ato jurídico 
(como o vendedor que se compromete a outorgar a escritura definitiva em contrato 
de compra e venda). 
A obrigação de fazer não se confunde com obrigação de dar, haja vista que 
esta demanda na entrega de algo, enquanto a primeira se refere à atitude positiva 
que pode ou não envolver uma entrega (pode ser a realização de determinada 
tarefa, por exemplo). 
Podemos citar vários exemplos, como as obrigações de cunho contratual, 
prestação de serviços, prestação de um fato, realização de obras, realização de obra 
imaterial, obrigações decorrentes de lei ou da vida (dever de prestar alimentos e 
amparo). 
Via de regra, as obrigações de fazer devem ser cumpridas pelo devedor, tal 
como assumido em contrato, haja vista que é da essência da relação jurídica que 
 
16 
 
essa fique adstrita às partes envolvidas. Ou seja, em princípio, as obrigações de 
fazer seguem a infungibilidade. 
Da mesma forma que o devedor tem a obrigação de cumprir esta, em virtude 
da pessoalidade, ao credor não é possível impor receber o cumprimento da 
prestação de terceiro que não o devedor (art. 247, CC). 
Eventual impossibilidade de cumprimento pessoal, quando infungível a 
obrigação, se resolverá em perdas e danos, conforme estabelecido no art. 247 e 402 
e ss. do CC/2002. 
Relativamente à inadimplência obrigacional, temos duas soluções distintas: 
segundo prescreve o art. 248 do Código Civil, tornando-se impossível a obrigação 
sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação. 
Tendo o devedor colaborado para a inadimplência, este responderá não 
apenas pelo que já recebera (tendo que devolver), mas também por perdas e danos 
que a inadimplência tenha causado. 
Importante lembrar que em se tratando de obrigação inadimplida no momento 
oportuno, é possível buscar o cumprimento e, somente quando for impossível o 
cumprimento, é que se converterá em perdas e danos. 
Outro aspecto importante quanto ao cumprimento das obrigações, está 
contido no direito do consumidor, em especial no art. 35 da Lei 8.078/1990. 
No caso de negativa em cumprir a obrigação, a simples mora autoriza, caso 
fungível a obrigação, a busca de outra pessoa, de imediato, para executar a 
prestação às custas do devedor, na forma do art. 249 do CC/02. Neste caso, o 
credor poderá buscar ainda perdas e danos. 
A ação para o cumprimento de obrigação de fazer é a execução, prevista no 
art. 815 e ss. do novo CPC. Para a execução, é fixado prazo para o devedor cumprir 
a obrigação (art. 816 do novo CPC). 
Não sendo cumprida pelo devedor, poderá requerer judicialmente a 
designação de terceiro para cumprir a obrigação às custas do devedor – art. 819 do 
novo CPC. Poderá ainda o próprio exequente realizar a prestação – art. 819 e 817 
do novo CPC. 
 
17 
 
Após a realização da obrigação, efetuar-se-á a liquidação dos valores, 
podendo ser executados como quantia certa. Tudo isso se processa nos próprios 
autos da execução. 
No caso de obrigação infungível, somente é possível buscar o cumprimento 
contra o próprio devedor. É possível buscar a fixação de astreintes (art. 536, § 1° do 
novo CPC), mas, via de regra, converter-se-á em perdas e danos – art. 821 do 
NCPC. 
 
b) Obrigações de não fazer 
Nas obrigações de não fazer, o objeto da prestação é uma atitude de 
omissão, ou melhor, o dever de se abster à realização de determinada conduta. 
Temos como exemplo a obrigação negativa de sublocação em um contratode 
locação; obrigação de servidão (art. 1378 e 1383 do CC); indisponibilidade de uso 
do bem depositado (art. 640 do CC); não construção de edifícios em um loteamento; 
e assim por diante. 
A título de divisão, temos três espécies de obrigação de não fazer: 1. De 
não fazer algo (como não construir uma casa de festas em imóvel vendido); 2. De 
tolerar fato natural ou atividade alheia (como receber águas do terreno superior – art. 
563 do Código Civil); 3. De consentir a prática de determinado ato (como a vistoria 
para venda de imóvel locado). 
Havendo situações específicas em que não se pode evitar o inadimplemento 
da prestação, opera-se a resolução da obrigação de não fazer, conforme art. 250 do 
CC. 
São situações como em um contrato de locação, sendo vedada a moradia de 
mais pessoas além do locatário, surge a necessidade de acolher um familiar que 
não possui outro local para se abrigar. 
Com o inadimplemento involuntário, pode o credor reclamar a resolução do 
contrato, ou desfazimento às custas do devedor (art. 251 do CC). 
Deverá o devedor responder ainda por perdas e danos, independentemente 
de ter obrado ou não com culpa, porém a partir de apuração caso a caso. 
 
18 
 
Poderá o credor, ainda, em caso de urgência, desfazer ele próprio, ou 
terceiro, o ato feito pelo devedor, mesmo sem autorização judicial. 
Para a execução (desfazimento da ação), aplica-se o disposto no art. 822 e 
823 do novo CPC. Há praticamente uma transformação da obrigação de não fazer 
para uma obrigação de fazer, na medida em que o devedor será compelido ao 
desfazimento do seu ato, que gerou o inadimplemento da obrigação. 
Cite-se como exemplo a determinação judicial para abstenção de protesto ou 
restrição creditícia até o julgamento de processo judicial: trata-se de determinação 
judicial e, havendo descumprimento, responderá por este o devedor da obrigação 
assim como por eventuais prejuízos. 
Ainda, podemos citar como exemplo a necessidade de destruição de beiral de 
casa que avança no terreno vizinho – art. 1.300 do CC. 
Novamente aqui, nas obrigações de não fazer, se aplica com propriedade a 
fixação de astreintes, na forma do art. 536, § 1º do novo CPC. 
 
c) Ação de obrigação de fazer e/ou não fazer (com e sem tutela) 
A ação que pretende o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer é 
aquela em que se verifica tal dever (fazer ou não fazer), mas que não está lastreada 
por um título executivo. 
Caso houvesse, evidentemente, seria o caso de propositura de ação de 
execução de obrigação de fazer/não fazer. 
Relativamente às questões específicas, tratando-se de uma ação para obter o 
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, este deverá ser o seu pedido. 
 
1.12 Defesa na execução das obrigações de dar, fazer e não fazer 
 
A defesa no caso de execução, se dá como em qualquer outra execução, 
mediante embargos, ou por meio de outras formas processuais extraordinárias. 
Os embargos se regem pelo disposto no art. 914 e ss. do novo CPC (ver art. 
919 do novo CPC). 
 
 
19 
 
1.13 Obrigações alternativas, simples e facultativas 
 
a) Obrigações simples 
Obrigações simples são aquelas que cuja prestação recai somente sobre uma 
coisa ou sobre um ato, liberando-se o devedor quando cumprir essa obrigação. 
Podemos dizer que uma obrigação é simples, também, quando não for 
cumulativa, alternativa ou facultativa. 
Temos como exemplo a obrigação para pagamento de um saco de cimento 
comprado em uma loja de materiais de construção. 
 
b) Obrigações alternativas 
É a obrigação que contém dois ou mais objetos distintos, onde o devedor se 
libera do vínculo obrigacional com o cumprimento de apenas um deles, mediante 
escolha sua, do credor ou de terceiros. 
Possui como características duas ou mais prestações para opção de serem 
escolhidas e, com o adimplemento de uma, exonera-se o devedor das demais. 
É o caso, por exemplo, da obrigação em que o devedor pode entregar uma 
carga de maças ou uma motocicleta para o credor, sendo que a entrega de apenas 
uma delas o exonera do encargo. 
A escolha deverá ser feita até o momento do adimplemento, cabendo 
inicialmente ao devedor este direito de escolha. Contudo, se as partes estipularem 
de forma diversa, poderá o credor ou mesmo terceiro efetuar a escolha – art. 252 do 
CC. 
Tão logo efetuada a escolha, está gera obrigatoriedade e a obrigação se 
concentra naquele objeto escolhido. A escolha é, além de obrigatória, irrevogável, 
salvo se forem prestações periódicas, cuja opção ocorrerá à cada período art. 252, 
§2º do CC. 
O Código Civil, objetivando valorizar a boa-fé, veda que a obrigação seja 
comprida parte com um dos objetos e parte com outro, haja vista que o direito de 
escolha demanda na opção pela totalidade do objeto. 
 
20 
 
Há situações onde, com ou sem culpa do devedor, haverá o perecimento de 
uma ou de todos os objetos de escolha, impossibilitando o cumprimento da 
obrigação. 
a) quando a escolha couber ao devedor: 
Se, sem culpa do devedor, uma das prestações não puder mais ser satisfeita, 
a obrigação se concentra na outra obrigação, devendo esta ser cumprida pelo 
devedor – art. 253 do CC. 
Se todas as prestações se tornarem inexequíveis, sem culpa do devedor, a 
obrigação será extinta, resolvendo-se o contrato – art. 256 do CC. 
No entanto, se, por culpa do devedor, as prestações se tornarem 
inexequíveis, o devedor responderá pelo valor da última que se impossibilitou o 
cumprimento, bem como será responsável por perdas e danos em favor do credor – 
art. 254 do CC. 
b) quando a escolha couber ao credor: 
Se a escolha couber ao credor e, sem culpa do devedor, uma das prestações 
perecer, novamente a obrigação se concentra na prestação remanescente. 
Quando, por culpa do devedor, uma das prestações se tornar inexequível, o 
devedor será compelido ao cumprimento da prestação remanescente ou ao 
pagamento de indenização pelo valor da outra e perdas e danos. 
Caso, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornem impossíveis de 
cumprimento, o credor poderá optar em exigir o valor de qualquer uma delas, bem 
como indenização por perdas e danos – art. 255 do CC. 
 
c) Obrigação facultativa 
Obrigação facultativa é aquela cujo objeto, desde que permitida por lei ou 
pelo acordo entre as partes, pode ser substituído por outro, de forma a facilitar o 
adimplemento pelo devedor – artigo 643 do Código Civil Argentino 
Não se trata de possibilidade de escolha, mas sim de substituição do objeto. 
Não está prevista no ordenamento jurídico brasileiro, mas pode ser estipulada 
pelas partes. 
 
 
21 
 
1.14 Obrigação divisível 
 
É aquela onde, havendo mais de um credor ou mais de um devedor, a 
prestação pode ser cumprida parcialmente, sem prejuízo da substância da coisa ou 
de seu valor. 
 
 
 
 
Em casos onde há diversos devedores, cada um dos devedores presumir-se-
á responsável por cota equivalente aos demais. Temos obrigações divisíveis em 
diversos artigos do Código Civil: 252, §2º; 455; 812; 776; 830; 831; 858; 1297, 1266; 
1272; 1326; 1968; 1997; e 1999. 
Por exemplo: havendo uma dívida dos devedores A, B, C, D e E para com o 
Credor X, no valor de R$.10.000,00, presume-se que cada um dos devedores é 
responsável por R$.2.000,00 perante o credor. 
Da mesma forma, se temos vários credores e apenas um devedor, presume-
se que deve a mesma quantia para cada credor: se o débito for de R$.50.000,00 e 
são 2 os credores, presume-se que o devedor deva R$25.000,00 para cada um dos 
credores. 
Portanto, a responsabilidade, na obrigação divisível, é parcial, sendo que o 
cumprimento parcial exonera o devedor que a cumpriu – art. 259 do CC.Em caso de remissão ou prescrição da obrigação, está se opera apenas em 
relação ao devedor que se beneficiou – art. 204 do CC. 
Em caso de inadimplemento de um dos devedores, será o credor que arcará 
com o prejuízo, pois cada um dos devedores será responsável por sua cota parte 
apenas. 
 
 
 
 
IMPORTANTE: A divisibilidade ou indivisibilidade se dá em relação à prestação e 
não à coisa (objeto da prestação). 
 
22 
 
1.15 Obrigação indivisível 
 
É a obrigação cuja prestação somente poderá ser cumprida por inteiro, que, 
em virtude da natureza, ordem econômica ou razão determinante do negócio 
jurídico, não comporta divisão – art. 257 do CC. 
Podemos dizer que há indivisibilidade quando a prestação perder a sua 
essência ou quando, em virtude da divisão, há perda da viabilidade econômica. 
Dessa forma, a indivisibilidade pode ser: 
a) física ou material: quando a prestação não pode ser dividida em virtude 
de suas características particulares, como no caso da entrega de um cavalo de 
corrida famoso. 
b) legal ou jurídica: se a prestação for indivisível por determinação legal, 
como no caso da impossibilidade de divisão de imóvel rural inferior ao módulo rural 
(conforme lei nº 4504/64). 
c) convencional ou contratual: quando a indivisibilidade da prestação é 
estabelecida pelas partes. Por exemplo: contrato de conta corrente onde os créditos 
e débitos se fundem num todo. 
d) Judicial: ocorre quando a indivisibilidade é determinada judicialmente. 
Na obrigação indivisível, a responsabilidade de qualquer dos devedores é 
pela dívida toda – art. 259 do CC. Aquele que adimplir a dívida, tomará o lugar do 
credor, podendo cobrar dos demais as respectivas cotas partes. 
 
Em caso de pluralidade de devedores, podemos destacar outras 
características: a) o credor não pode recusar pagamento por inteiro feito por um 
dos devedores; b) Nulidades estendem-se a todos; c) Insolvência de um devedor 
não prejudica o credor, pois poderá demandar dos demais o adimplemento da 
prestação indivisível. 
 
Em caso de pluralidade de credores, o pagamento deverá ser feito a todos os 
credores conjuntamente, ou então, a um ou uns, desde que possuam caução de 
ratificação (autorização) dos demais credores – art. 260 do CC. 
 
23 
 
Havendo insolvência, qualquer um dos credores poderá exigir o débito por 
inteiro, porém deverá reportar-se aos demais após o adimplemento forçado. 
Se apenas um dos credores se beneficiar da prestação, mesmo que com 
autorização dos demais, este deverá compensar os outros, em dinheiro, por suas 
respectivas partes – art. 261 do CC. 
Em caso de remissão, transação, novação, compensação ou confusão da 
dívida por parte de um dos credores, estes não produzirão efeitos perante o direito 
dos demais credores, que excluirão a parte deste credor apenas – art. 262 do CC. 
A indivisibilidade pode desaparecer por perda do motivo (como alteração de 
lei, revogação de ordem judicial, etc.), regulando-se, a partir daí, pelas regras da 
divisibilidade. 
Havendo inadimplemento e sendo impossível o cumprimento da prestação, 
está se resolverá em perdas e danos. Neste caso também ocorrerá a perda da 
indivisibilidade. 
Quando o inadimplemento ocorrer por culpa de todos os devedores, todos 
responderão, em partes iguais, pelas perdas e danos. No entanto, sendo apenas um 
deles o culpado, apenas o culpado responderá pelas perdas e danos – art. 263 do 
CC. 
Se as partes estipularam cláusula penal, todos os devedores, culpados ou 
não, responderão pelo valor da cláusula penal estabelecida, de acordo com suas 
respectivas cotas parte. Porém, somente poderá ser demandado o valor total da 
cláusula penal daquele devedor que tiver culpa pelo inadimplemento. 
 
1.16 Obrigações solidárias 
 
a) Especificidades 
Obrigação solidária é aquela em que, havendo multiplicidade de credores ou 
devedores, ou de uns e outros, cada credor terá direito à totalidade da prestação, 
como se fosse o único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo débito todo, 
como se fosse o único devedor (Maria Helena Diniz). 
 
24 
 
A solidariedade implementa à obrigação uma garantia ao credor, de modo 
que obriga a todos os devedores quanto à totalidade da prestação obrigacional. 
A solidariedade adquire importância na medida em que representa elemento 
de grande segurança nas transações, convenções ou contratos celebrados no 
mundo jurídico. Há uma garantia bem maior quanto ao cumprimento das avenças e 
cláusulas, porquanto aos credores abre-se a faculdade de demandar qualquer um 
dos obrigados. Os patrimônios de todos os envolvidos ficam adstritos à garantia do 
cumprimento, até a sua satisfação integral. Diluem-se os riscos de inadimplência dos 
compromissos, o que enseja o incremento das relações econômicas (Arnaldo 
Rizzardo). 
A obrigação solidária se caracteriza pela pluralidade de relações jurídicas que 
se estabelecem entre credores e devedores, são as chamadas “relações externas”, 
onde cada devedor será obrigado pela sua parte e dos demais devedores para com 
o credor ou credores. De outro lado, existem “as relações internas”, isto é, entre os 
próprios credores ou devedores. Aquele que demandou o recebimento da totalidade 
do crédito deve transferir para os demais credores a parcela correspondente à sua 
quota. Do mesmo modo, ao que pagou por inteiro a dívida, faculta-se que reclame, 
perante os demais obrigados, a compensação da porção à parte que lhe cabia 
satisfazer. Não convindo voluntariamente na reposição das quotas, reconhece-se o 
direito de agir regressivamente ao que pagou. 
 
Na obrigação solidária podemos ter: a) um credor e vários devedores; b) 
Vários credores e um devedor; c) Vários credores e vários devedores. 
 
Como principais características da solidariedade, podemos apontar: 
a) pluralidade de sujeitos ativos (credores) e/ou passivos (devedores), 
sendo imprescindível a sua existência, haja vista que não há como cogitar de 
solidariedade sem que haja dois ou mais sujeitos envolvidos na relação; 
b) multiplicidade de vínculos, pois cada um dos devedores possui um 
vínculo com cada um dos credores; 
 
25 
 
c) unidade de prestação, pois cada um dos devedores responde pela 
totalidade da obrigação e cada credor possui o direito de exigir a totalidade da 
obrigação; 
d) Corresponsabilidade ou responsabilidade comum dos interessados, 
na medida em que todo o pagamento feito por um dos devedores extingue a 
obrigação, enquanto o recebimento por qualquer dos credores também põe termo ao 
vínculo obrigacional. 
Observação: não confundir a solidariedade com a indivisibilidade. Existem 
alguns pontos de semelhança, como a exigibilidade da obrigação inteira, ou não em 
partes, e a pluralidade de credores ou devedores, mas, na solidariedade tem-se um 
direito em todo o crédito, ou firma-se a obrigação sobre a dívida inteira. Já na 
indivisibilidade, a totalidade dos credores coloca-se no papel de exigir por força da 
inviabilidade de partir-se a obrigação ou a coisa, que se dividida tornar-se-ia 
imprestável ou sem utilidade. Na solidariedade se houver pluralidade passiva 
qualquer devedor poderá pagar e na ativa, qualquer credor poderá receber não 
necessitando apresentar nenhuma garantia de que irá repassar. Já na 
indivisibilidade o credor tem que apresentar a caução de ratificação que garante aos 
demais o direito à parte da prestação recebida. 
Art. 260 - se não tiver a caução ou pagar conjuntamente terá que pagar 
novamente. – Indivisibilidade. “Quem paga mal, paga duas vezes”. 
Art.264 - não necessita pagar aos demais - solidariedade. 
 
Princípios da solidariedade 
Como princípios norteadores da solidariedade, podemos elencar dois 
principais:a) variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade, pois a 
solidariedade admite a estipulação com condição, prazo e local diferenciados entre 
os credores ou devedores, sem que perca a sua essência. Circunstância essa que 
jamais poderá agravar a situação dos demais – art. 278 do CC; 
b) não presunção da solidariedade, pois, por ser encargo que agrava a 
situação dos devedores, deve a solidariedade ser decorrente de lei ou decorrente 
 
26 
 
da vontade das partes, afastando-se a solidariedade presumida do ordenamento 
jurídico brasileiro – art. 265 do CC. 
Em caso de omissão legislativa ou falta de disposição expressa em contrato, 
não poderá haver solidariedade. 
 
b) Fontes das obrigações solidárias 
Conforme vimos acima, a solidariedade de nenhuma forma será presumida. 
Assim, somente terá como fontes a lei e a vontade entre as partes. 
No caso de previsão legislativa podemos verificar a determinação de 
solidariedade nos seguintes casos: responsabilidade dos comodatários (art. 585 do 
CC); responsabilidade dos gestores (art. 867, § único do CC); responsabilidade do 
fiador (art. 829 do CC); responsáveis do art. 942 do CC; e assim, por diante. 
Outro exemplo de solidariedade legal verifica na previsão do art. 12 da Lei nº 
8.078 de 11.09.1990 (Código de Defesa do Consumidor) que dispõe: “O fabricante, 
o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, 
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, 
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus 
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
utilização e riscos.” 
Observe-se que se trata apenas de solidariedade passiva, haja vista a 
inexistência de casos de solidariedade ativa no ordenamento jurídico brasileiro. 
No caso de convenção entre as partes, podemos citar as disposições 
testamentais, contratos, etc. A disposição da solidariedade deve ser manifesta e 
expressa. 
O art. 266 dispõe: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos 
cocredores ou codevedores, e condicional ou a prazo, ou pagável em lugar diferente 
para outro”. Nota-se que aparecem duas modalidades: a pura ou simples, e a 
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente. No primeiro tipo, incluem-se 
aquelas que devem simplesmente ser cumpridas sem aguardar uma condição ou 
evento. Estabelecida a obrigação nasce o direito em exigi-la ou a imposição de 
 
27 
 
cumpri-la. Já na condicional, ou a prazo (a termo), ou pagável em lugar diferente, 
aguarda-se que venha o fato ou a condição determinante para o cumprimento, ou a 
ocorrência de determinado evento; ou espera-se que ocorra a data prevista; ou é 
pagável em lugar diferente daquele que normalmente deveria ser, sendo consignado 
onde se fará. 
Por exemplo, estabelece-se que o empreiteiro é responsável (obrigação pura 
ou simples), mas que, se não concluírem a obra (condição) também serão 
responsabilizados o mestre-de-obras e os próprios subempreiteiros (obrigação 
condicional). 
 
c) Solidariedade ativa (de credores) 
Na solidariedade ativa, qualquer credor pode exigir a prestação por inteiro do 
devedor ou dos devedores, conforme art. 267 e 275 do CC. Da mesma forma, o 
pagamento pode ser a qualquer credor. 
Um exemplo clássico de solidariedade ativa está no contrato de depósito 
bancário em conjunto ou conta corrente conjunta. 
Este credor que receber a prestação dará quitação integral, ou seja, o 
pagamento feito pelo devedor ao credor solidário o desonera da obrigação, mesmo 
sem autorização dos demais credores. Este pagamento, porém, deve ser feito até 
que algum dos credores demande judicialmente a prestação – art. 268 e 269 do CC. 
Assim como qualquer credor pode receber a dívida por inteiro, poderá 
também ajuizar medidas que visem assegurar o adimplemento da obrigação, além 
da própria execução da prestação. 
Vindo a falecer o credor solidário, e ficando pendente o crédito de pagamento, 
transmite-se o direito que tinha o credor em sua integralidade para a herança. A 
herança (herdeiros em conjunto ou único herdeiro) tem a legitimidade para exigir a 
totalidade do crédito. Havendo mais de um herdeiro, não pode cada herdeiro ser 
considerado titular do crédito integral de seu pai (na relação interna), sendo 
proprietário apenas da cota-parte que lhes toca em quinhão, e, com muito maior 
razão, não o poderá ser do crédito total (na relação externa). Ou seja, os herdeiros 
 
28 
 
não se revestem dos mesmos direitos assegurados ao credor originário. Não se 
estendem a eles as prerrogativas de receber a totalidade do crédito. Art. 270 CC. 
Quando houver compensação, transação, remissão e novação da dívida por 
qualquer um dos credores solidários, estas emitem seus efeitos para todas as 
relações, aproveitando-se a todos os demais devedores. 
Se, por exemplo, um dos credores perdoa a dívida do devedor, o devedor 
estará completamente exonerado da obrigação, sendo que este credor responderá 
perante os demais credores – art. 272 do CC. 
A constituição em mora de um credor prejudicará os demais, considerando-se 
todos em mora perante o devedor, e vice-versa. 
Convertendo-se a prestação em perdas e danos, a solidariedade 
permanecerá inalterada. 
As exceções pessoais que o devedor tiver com um dos credores não se 
estendem aos demais credores. Mesmo que um dos credores tenha uma obrigação 
pessoal para com o devedor, ou que este possua um crédito, não cabe abatimento 
ou compensação da dívida. Art. 273 CC. 
Todavia, se um dos credores move a ação própria, para a satisfação de seu 
crédito, e vindo alegada alguma defesa ou exceção pessoal, como a compensação, 
ou a ilegitimidade do credor para receber o crédito, a decisão favorável ao devedor 
não atinge os demais credores, que estão habilitados a promover o cumprimento da 
obrigação. O julgamento favorável, ao credor, contra o devedor, aproveita os demais 
credores, a menos que se funde em exceção pessoal própria do credor, como um 
crédito que o devedor alega possuir, e que a decisão judicial não o reconhece. – Art. 
274 CC. 
 
d) Solidariedade passiva 
Na solidariedade passiva, temos pluralidade de devedores que, juntos ou 
individualmente, respondem pela integralidade da prestação. Podemos destacar os 
principais aspectos da solidariedade passiva: o credor poderá escolher entre os 
devedores, um ou todos, para o cumprimento da obrigação; podendo exigir o 
adimplemento total ou parcial de qualquer obrigado. 
 
29 
 
Solidariedade passiva X Fiança 
Aparentemente, parece confundir-se a solidariedade com a fiança. Distintas, 
no entanto, as figuras, embora vizinhas e, em ambas seja possível reclamar a 
satisfação da dívida. A fiança é de sua natureza um contrato acessório, onde o 
fiador solve a obrigação do afiançado, ou do devedor e não a sua. Já na 
solidariedade, é satisfeita a dívida de quem solve a obrigação da dívida ou de seus 
coobrigados. O fiador pode invocar o benefício de ordem, ou postular que antes de 
seus bens sejam executados os do devedor principal o que não ocorre com o 
devedor solidário. 
O devedor solidário vem aparecendo com maior frequência em contratos, pois 
ao contrário da fiança não exige consentimento do cônjuge o que representa um 
risco maior para o credor já que em caso de execução o cônjuge poderá entrar com 
embargos e garantir sua meação. 
Uma vez demandado o devedor solidário, não cabe chamar a lide, ou 
reclamar a participação no feito, dos demais coobrigados. Ocorre que cada um é 
responsável pela totalidade da dívida, conforme art. 275 CC 
Emcaso de falecimento de um dos devedores solidários, a solidariedade 
permanecerá, sendo que o espólio do falecido continuará respondendo pela 
integralidade da dívida. Os herdeiros do falecido, contudo, somente responderão até 
o limite de seu quinhão (totalidade do espólio), conforme art. 276 do CC. 
Em caso de pagamento parcial feito por um dos devedores, ou remissão por 
ele obtida, o saldo remanescente da prestação continuará sob responsabilidade de 
todos os devedores, mesmo daquele que já fez pagamento parcial – art. 277. 
Nenhuma cláusula ou disposição especial, estabelecida entre o credor e um 
dos devedores, poderá agravar a obrigação dos demais devedores sem a sua 
anuência (art. 278 do CC). 
Em caso de renúncia da solidariedade pelo credor, em favor de apenas um 
dos devedores, apenas àquele se aproveita o benefício, permanecendo responsável, 
contudo, pela sua parte proporcional à parte dos demais coobrigados. 
 
30 
 
Em caso de novação feita pelo devedor com apenas um dos devedores, sem 
a anuência dos demais, apenas este será responsável pela obrigação a partir de 
então, estando os demais devedores exonerados do encargo – art. 365 do CC. 
Da mesma forma, se ocorrer transação em relação à integralidade, apenas 
entre um devedor e o credor, extingue-se a obrigação perante os demais devedores 
– art. 844, §3º do CC. 
Em caso de cessão de crédito, este somente terá validade se todos os 
devedores forem notificados (assunto que será estudado nas próximas aulas). 
Quando apenas um dos devedores pagar a dívida, terá direito de buscar dos 
demais a quota equivalente de cada um deles, sub-rogando-se no direito do credor 
em relação à quota parte dos demais – art. 283 do CC. 
Se, dentre os devedores, houver um insolvente, os demais devedores, 
inclusive aqueles exonerados da solidariedade pelo credor, farão o rateio da parte 
do devedor insolvente – art. 284 do CC. 
Ocorrendo o inadimplemento, todos os devedores responderão pelos juros da 
mora. Porém o culpado responderá perante os demais devedores pelos encargos 
acrescidos à prestação – art. 280 do CC. 
Se a prestação se tornar impossível, por culpa de apenas um, todos 
responderão pelo valor equivalente a prestação. Apenas o devedor culpado 
responderá pelas perdas e danos – art. 279 do CC. 
 
e) Solidariedade recíproca ou mista 
Ocorre quando verificamos pluralidade de credores solidários e pluralidade de 
devedores solidários em um mesmo negócio (ou vínculo) jurídico. 
Aqui se aplicam as disposições inerentes à solidariedade ativa e passiva, 
acima transcritas. 
 
1.17 Transmissão das obrigações 
 
a) Conceito de cessão 
 
31 
 
Segundo Maria Helena Diniz, cessão “é a transferência negocial, a título 
gratuito ou oneroso, de um dever, de uma ação ou de um complexo de direitos, 
deveres e bens, com conteúdo predominantemente obrigatório, de modo que o 
adquirente (cessionário) exerça posição jurídica idêntica à do antecessor (cedente).” 
De maneira sintética podemos dizer que cessão, no direito das obrigações, é 
a transferência da obrigação, pelo credor, pelo devedor, ou mesmo de ambos, sendo 
que o cessionário passa a figurar na mesma condição do cedente, frente a relação 
jurídica objeto de cessão. 
Como referido no conceito de Maria Helena Diniz, pode ser gratuita ou 
onerosa, bem como pode ser de qualquer das partes envolvidas na obrigação. 
Assim, temos cessão de crédito (feita pelo credor); cessão de débito (feita 
pelo devedor), que também é chamada de assunção de dívida; e cessão de contrato 
(ou de crédito e débito), em que a relação jurídica estabelece crédito e débito para 
ambas as partes. 
 
b) Cessão de crédito 
Cessão de crédito é a transferência de um crédito, no todo ou em parte, pelo 
credor (cedente) a um cessionário que passa a figurar como credor, sendo, portanto, 
um negócio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso, independentemente de 
consentimento do devedor, com todos os acessórios e garantias, sem que se opere 
a extinção do vínculo contratual. 
Gratuita é a cessão feita independente de pagamento pelo novo credor ao 
credor originário. Onerosa é quando esse crédito é repassado com algum ônus para 
o novo credor. 
É total quando engloba a totalidade do crédito (totalidade do valor de uma 
nota promissória, por exemplo), e parcial quando a cessão é feita de apenas parte 
do crédito existente. 
A cessão não é fator de novação, pois a novação extingue a relação jurídica 
anterior, ao passo que na cessão há uma alteração de figura subjetiva, sem alterar o 
negócio em si. 
 
32 
 
Não há necessidade de consentimento do devedor. No entanto, há 
necessidade de notificação do devedor sobre a cessão, de modo a cientificar-lhe a 
existência de novo destinatário do recebimento da prestação. 
Se não ocorrer a notificação, e o devedor pagar ao credor originário, o 
pagamento será considerado válido, pois, como o devedor desconhecia a 
transferência da obrigação, pagou àquele para com quem inicialmente se 
comprometera. O novo credor deverá buscar do credor originário a satisfação do 
crédito. 
No entanto, tendo sido notificado, o devedor deverá pagar ao novo credor, 
sob pena de ter que pagar duas vezes a prestação. 
Em caso de dúvidas, terá à disposição a ação de consignação em 
pagamento, depositando o valor e livrando-se de eventuais encargos por pagamento 
indevido. 
O cedente se responsabiliza, perante o cessionário, pela existência do 
crédito. Poderá se responsabilizar também pela existência do débito (o que deve ser 
expresso), salvo se a cessão decorrer de lei. 
Ao cessionário caberão todos os direitos que o credor originário possuía, 
inclusive acessórios, garantias, vantagens e ônus. Em caso de insolvência do 
devedor, arcará com o prejuízo (salvo em caso de estipulação expressa de 
responsabilidade). 
 
c) Cessão de crédito – Espécies 
A cessão de crédito poderá ser distinguida entre as seguintes formas: 
a) Convencional: quando decorre de acordo entre as partes, como na 
cessão de um título de crédito; 
b) Legal: quando determinada pela lei, tal como ocorre em relação aos 
acessórios do contrato (como juros e multa); 
c) Judicial: quando determinada pelo juiz, como na adjudicação de bem em 
processo que busca a extinção de condomínio. 
Poderá, ainda, ser Pró-soluto, que é aquela cessão que dá quitação da 
negociação havida entre o credor originário e o novo credor; bem como pró-
 
33 
 
solvendo, em que a quitação somente é válida com o efetivo recebimento do valor 
(exemplo do pagamento de um débito com cheque: com recibo pró-solvendo, 
somente haverá a quitação após a compensação do cheque). 
A cessão de crédito se diferencia da sub-rogação em alguns detalhes: o 
cessionário poderá exigir todos os direitos decorrentes do título objeto de cessão, 
enquanto que o sub-rogado somente poderá buscar aquilo que efetivamente 
dispensou para quitar a obrigação mais as despesas; o cedente assume a 
responsabilidade pela existência do crédito, o que não ocorre na sub-rogação; o 
sub-rogado adquire a qualidade de credor assim que pagar a prestação, enquanto 
que o cessionário somente terá a plenitude de seu direito a partir da notificação do 
devedor. 
Para a realização da cessão, é necessário o preenchimento de todos e 
quaisquer requisitos de um negócio jurídico: capacidade, forma legal e objeto 
adequado (art. 104 do CC). 
 
d) Cessão de débito – assunção de dívida 
Cessão de débito, ou assunção de dívida, é o meio de transferência de um 
débito pelo devedor à terceiro, com a anuência do credor, onde este terceiro assume 
a responsabilidade pela prestação. Trata-se de negócio jurídico bilateral. 
Temos como grande exemplo a transferênciados financiamentos do sistema 
financeiro de habitação. 
Também deve se operar sem a alteração da relação jurídica, pois do contrário 
configuraria novação. 
A concordância do credor é indispensável, pois o mesmo não poderá ser 
tolhido no seu crédito, bem como das garantias que o asseguram. 
A cessão de débito mantém o vínculo obrigacional, porém libera o devedor 
originário da obrigação, somente podendo ser novamente responsabilizado em caso 
de anulação da cessão de débito. 
As garantias pessoais (como a fiança) que o devedor havia concedido se 
extinguem; no entanto, as garantias reais (como a hipoteca), permanecem íntegras, 
garantindo o contrato. 
 
34 
 
Pode ocorrer a cessão de débito por: 
a) expromissão: decorre de acordo entre credor e terceiro, podendo ser 
liberatória (liberando o devedor primitivo) ou cumulativa (o novo devedor passa a 
responder pela obrigação conjuntamente com o devedor anterior); 
b) delegação: decorre de acordo entre devedor e terceiro, podendo ser 
privativa (exonera totalmente o devedor) ou simples (responsabilidade subsidiária do 
devedor originário). 
 
e) Cessão de contrato 
Cessão de contrato é a transferência dos direitos e deveres decorrentes de 
um contrato firmado por duas ou mais partes. 
É assim chamada porque, via de regra, em um contrato, ambas as partes 
assumem a posição de credor e devedor. 
Cite-se, por exemplo, o contrato de construção de uma casa, onde o 
contratante se compromete a pagar o valor (posição de devedor) em troca do 
comprimento da prestação de construção da casa (posição de credor). O construtor 
se compromete a construir (posição de devedor), em troca do cumprimento da 
obrigação pelo contratante de pagamento do valor (posição de credor). 
A cessão de contrato se rege pela forma estabelecida nas cessões de crédito 
e débito, antes referidas, no que for aplicável cada uma. 
 
1.18 Adimplemento obrigacional 
Ocorre o adimplemento das obrigações quando houver o seu pagamento, ou 
seja, quando a prestação for cumprida, ou então, de outra forma for extinta a 
obrigação. 
Podemos estabelecer duas formas de adimplemento das obrigações: modo 
direito e modo indireto de extinção das obrigações. 
No modo direto, temos o próprio pagamento, com o adimplemento da 
obrigação tal qual estabelecida. 
No modo indireto, verificamos a extinção da obrigação através de outras 
formas que não o pagamento, tais como a novação, dação em pagamento, etc., 
 
35 
 
diferindo a prestação entrega daquela que havia sido estabelecida inicialmente pelas 
partes. 
 
Pagamento 
Pagamento é o meio direto de extinção das obrigações, onde o devedor 
efetua a entrega da prestação obrigacional exata no tempo, lugar e forma 
convencionados. 
Para que ocorra o pagamento (concepção stricto sensu), deve haver: vontade 
de adimplir a prestação (animus solvendi), presença de quem paga (solvens) e de 
quem recebe (accipiens), vínculo obrigacional e satisfação exata da obrigação. 
O tempo do pagamento se refere à data fixada para o adimplemento da 
obrigação. 
Via de regra, a obrigação deverá ser satisfeita no prazo estabelecido, nem 
antes e nem depois. Há circunstâncias, como no código de defesa do consumidor 
(lei nº 8078) que estabelecem o benefício do devedor pagar antes o valor, com o 
direito ao abatimento de juros relativos ao período antecipado. 
Da mesma forma, por conveniência do devedor, poderá ser feito o pagamento 
antecipadamente (art. 133 do CC). 
Não havendo estipulação de prazo para vencimento da obrigação, o art. 331 
do CC permite ao credor exigi-la de imediato. Se for obrigação que depende de 
condição, será exigível a partir da chegada ou ocorrência da condição. 
 
Lugar do pagamento 
Quanto ao lugar do pagamento, trata-se da designação do local em que deve 
ser satisfeita a obrigação. Via de regra, não havendo estipulação expressa, entende-
se que a obrigação deve ser satisfeita no domicílio do devedor (dívida quérable). 
Havendo estipulação das partes, poderá ser designado o endereço do credor 
para a satisfação da obrigação. Geralmente consta o local do cumprimento da 
obrigação no título, o que deverá servir de base para o cumprimento. 
 
36 
 
Se os pagamentos de prestações periódicas ocorrerem em local diverso do 
estabelecido pelo contrato, entende-se que o credor renunciou ao local previsto, 
passando a ser considerado o novo local para adimplemento. 
 
Prova do pagamento 
No que se refere à prova do pagamento, trata-se esta da quitação 
propriamente dita (recibo). Este documento estabelece a data, local e forma do 
cumprimento da obrigação, sendo o comprovante de que a prestação fora satisfeita. 
A quitação é um direito do devedor e uma obrigação do credor, razão pela 
qual é lícito ao devedor reter o pagamento em caso de negativa de fornecimento da 
quitação. 
Há situações de presunção de pagamento, estabelecidas pelos artigos 322, 
323 e 324 do CC. 
Quando do pagamento, havendo negativa de quitação, terá o devedor, ao seu 
dispor, a consignação em pagamento para satisfazer a obrigação e evitar os 
encargos decorrentes de eventual mora. 
O objeto do pagamento deverá ser a prestação exata estabelecida pelas 
partes no negócio jurídico. Se o objeto do pagamento não atender à esse requisito, o 
credor não é obrigado a aceitar o adimplemento. 
No entanto, se receber parte do valor, é seu ônus emitir recibo de quitação da 
parte que fora adimplida. 
 
Pagamento indevido 
Por fim, em caso de pagamento indevido, trata-se de forma de 
enriquecimento ilícito, onde alguém recebera prestação que não era devida, ou 
então, prestação além do que fora estipulada (ex. cobrança de juros moratórios de 
uma prestação que ainda não vencera). 
Em caso de pagamento indevido, sem culpa daquele que pagou o valor, 
configura-se o enriquecimento indevido, e aquele que recebeu terá obrigação de 
restituir o valor indevidamente recebido. 
Ver art. 876 a 883 do CC. 
 
37 
 
 
1.19 Formas indiretas de adimplemento 
 
a) Pagamento em consignação 
O pagamento em consignação consiste no depósito judicial ou extrajudicial da 
prestação, diante de situações em que o credor não recebe o valor, de acordo com 
os motivos previstos em lei. (CC, art. 334; novo CPC, art. 539, §§1º a 4º). 
Seu objetivo principal é fornecer ao devedor uma forma de quitação diante do 
adimplemento da prestação. 
Há situações onde o credor nega-se a receber a prestação, ou então, nega-se 
a prestar a quitação da prestação, servindo-se a ação consignatária como 
instrumento útil ao devedor para adimplir e prestação, evitando a incidência da mora 
e dos respectivos encargos. 
Além dessas hipóteses, é possível a consignação, ainda, quando a prestação 
esteja sendo judicialmente disputada, bem como quando haja dúvida quanto a quem 
deva receber. 
A consignação em pagamento apresenta, como pressupostos objetivos, a 
existência de débito líquido e certo, proveniente da relação negocial que se pretende 
extinguir; oferecimento real da totalidade da prestação devida; vencimento do termo 
convencionado em favor do credor, ou então quando o devedor, se estipulado em 
seu favor o prazo, poderá consignar em qualquer tempo após a tentativa frustrada 
de adimplemento (CC, art. 130, ou assim que se verificar a condição a que o débito 
estava subordinado (CC, art. 332); observância de todas as cláusulas estipuladas no 
negócio; obrigatoriedade de se fazer a oferta no local e forma convencionado para o 
pagamento (CC, arts. 891, parágrafo único, 894; CC, arts.337, 328, 341, 342); já 
como requisitos subjetivos, a consignatória deve dirigir-se contra o credor capaz de 
exigir ou contra seu representante legal ou mandatário(CC, art. 308); o pagamento 
em consignação deve ser feito pelo próprio devedor, pelo seu representante legal ou 
mandatário, ou, ainda, por terceiro (CC, arts. 304 a 307). 
 
38 
 
Em caso de consignação extrajudicial, ocorre de acordo com os 
procedimentos previstos no art. 539, §1º ao 4º do novo CPC. Este procedimento 
pode ser usado quando a prestação se constituir em pecúnia, ou seja, em dinheiro. 
Se aceita a prestação, há a exoneração do encargo, com a quitação. 
Não sendo aceito o valor da consignação extrajudicial, ou mesmo de forma 
imediata, é possível a consignação judicial da prestação. 
Tendo sido efetuado o depósito extrajudicial, o comprovante de depósito será 
a prova já da consignação, determinando-se de imediato a citação do demandado. 
Se o procedimento judicial é a primeira opção, o juiz despachará a inicial, 
fixando data para depósito (5 dias). Efetuado o depósito da prestação, será 
determinada a citação. 
O demandado poderá aceitar o valor e levantar o depósito, ou então, 
contestar a ação, arguindo: prestação incompleta, prestação vencida; inexistência de 
negativa de recebimento; inexistência de dúvida quanto ao credor. 
Julgada procedente a ação, está exonera o devedor dos encargos da mora, 
como juros, correção, multa e eventual responsabilidade por perda ou deterioração 
do objeto, passando os riscos para o credor. Ainda libera as garantias, impõe ao 
credor a obrigação de ressarcir despesas e danos causados por sua recusa, tais 
como custas e honorários advocatícios. 
No caso de improcedência, o devedor será considerado em mora ainda, 
arcando com as despesas processuais, além dos efeitos da mora (encargos e 
riscos). 
Necessário referir ainda que, em se tratando de obrigação a ser satisfeita no 
domicílio do devedor, é do credor o ônus de comprovar que tentou receber o crédito 
e que a prestação, portanto, não teria sido adimplida (obrigação quérable). Contudo, 
sendo obrigação portable (paga no domicílio do credor), é do devedor o encargo de 
provar que tentou adimplir a obrigação e que houve recusa do credor. 
 
 
 
 
 
39 
 
Da ação de consignação em pagamento 
A ação de consignação em pagamento é procedimento especial no CPC/15, 
eis que, dando azo à dupla natureza que possui (material e processual), tem a 
previsão de procedimento específico para a sua realização. 
Tal previsão envolve tanto a consignação extrajudicial (art. 539 do novo CPC) 
como a consignação judicial (art. 539 ao 549 do novo CPC). 
A ação de consignação em pagamento tem por objetivo viabilizar o 
adimplemento de uma obrigação, pelo devedor, quando o credor não puder ou não 
quiser receber a prestação, ou mesmo quando nega-se a quitação ou quando não 
há certeza de quem é o credor ou onde se encontra. A se destacar, a consignação 
extrajudicial é possível apenas para obrigações financeiras, eis que o depósito 
deve ser realizado em conta corrente, preferencialmente junto a banco oficial. 
Por outro lado, a consignação judicial comporta o cumprimento de qualquer 
espécie de obrigação e, quando impossível o depósito físico do bem da vida, o 
mesmo pode ser colocado à disposição do juízo, satisfazendo-se, assim, a 
obrigação do devedor. 
 
b) Sub-rogação 
Sub-rogação é a substituição, nos direitos creditórios, da figura do credor por 
alguém que adimpliu a obrigação do devedor, ou que tenha emprestado o dinheiro 
ao devedor para esse adimplemento. 
A sub-rogação permite ao sub-rogado o poder de buscar do devedor a 
satisfação do que empregou na satisfação da obrigação, acrescido das despesas 
que tiver. 
No entanto, sendo sub-rogação legal, a limitação está na própria prestação 
cumprida, devendo ser o exato valor que fora pago ao credor (art. 250 do CC). 
Pode ocorrer tanto em decorrência da lei, conforme artigos 346, I, II e III CC; 
art. 40 Dec. 2.044/1908, bem como pode ser convencional (acordo entre as partes), 
tanto entre credor e terceiro, como entre devedor e terceiro. Sendo sub-rogação por 
pagamento feito por terceiro, aplicam-se as 
 
40 
 
Via de regra, a sub-rogação legal é aquela em que um terceiro interessado 
paga a dívida do devedor originário. Por outro lado, na sub-rogação convencional, 
um terceiro não interessado assume o débito do devedor, seja pagando, seja 
emprestando-lhe o valor correspondente. 
 
c) Imputação do pagamento 
 
Quando houver, entre o mesmo credor e mesmo devedor, duas ou mais 
dívidas líquidas e vencidas, poderá o devedor, realizando o pagamento de apenas 
uma delas, indicar qual delas pretende adimplir. 
O objetivo da imputação do pagamento é fornecer ao devedor a possibilidade 
de estancar a dívida que possui maiores encargos. Tanto que, não sendo apontada, 
o art. 355 do CC expõe que a quitação se dará automaticamente da obrigação com 
maiores encargos. 
No entanto, se no ato de pagamento o credor passou a quitação de alguma 
delas e, não havendo rechaço imediato, o devedor não poderá apontar futuramente 
a intenção de adimplemento de outra prestação. 
É necessário, para ocorrer a imputação do pagamento, a existência de duas 
dívidas entre os mesmos credor e devedor, dívidas de mesma natureza e 
insuficiência de adimplemento de ambas. 
Com o adimplemento de uma das obrigações, esta será extinta, bem como 
todos os seus encargos e garantias (como fiança). 
 
ESPÉCIE DE IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO 
FEITA PELO DEVEDOR Art. 352 do Código Civil 
FEITA PELO CREDOR Art. 353 do Código Civil 
FEITA PELA LEI Art. 355 do Código Civil 
 
 
 
41 
 
d) Dação em pagamento 
 
A dação em pagamento representa o adimplemento da obrigação assumida, 
porém com outro objeto que não aquele previsto no acordo firmado pelas partes. 
Cite-se como exemplo a utilização de um veículo para quitar a dívida de uma 
nota promissória (cuja prestação inicial era o pagamento do valor em dinheiro). 
A dação em pagamento necessita da concordância do credor, pois este não é 
obrigado a receber prestação diversa daquela recebida. Sendo firmada, extingue 
parte ou a totalidade do negócio jurídico. 
 
Requisitos e efeitos da dação em pagamento 
Seus requisitos são: existência de débito vencido; animus solvendi; 
diversidade do objeto oferecido em relação ao devido; concordância do credor na 
substituição. 
O objeto dado em pagamento admite a incidência dos efeitos oriundos da 
evicção, tornando sem efeito a quitação dada (CC, art. 359), bem como de vícios 
redibitórios. 
 
e) Novação 
Novação é o ato negocial realizado pelas partes que, sem que se efetue o 
pagamento da integralidade da obrigação, há a extinção da relação jurídica anterior 
(do negócio primário), criando um novo vínculo jurídico entre as partes. 
Mesmo que a obrigação originária não tenha sido satisfeita, extinguirão todos 
os seus efeitos, passando a ter validade apenas os novos termos fixados. 
Assim, de maneira sintética, podemos dizer que é a relação jurídica – negócio 
jurídico, que substitui um outro negócio jurídico, traçando novos parâmetros de 
contratação. 
Para que ocorra a novação é necessário que exista uma obrigação anterior 
(art. 367 do CC), haja intenção de novar (art. 361 do CC), se crie uma nova relação 
jurídica, em substituição ao negócio anterior, tendo ainda um novo elemento. 
 
42 
 
A novação pode substituir ou alterar a obrigação, ou então, substituir uma das 
partes – art. 360, I, II e III, e art. 362 do CC. 
 
Efeitos da novação 
Como efeitos da novação, há a extinção do débito anterior; cessação de 
juros, correção, multa, etc; extinção das garantias, fianças e acessórios – art. 837, 
365 e 366; desaparecimento da mora; exoneração do devedor e fiador que não anuir 
à novação; insolvência

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