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GESTÃO DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA AULA 2 Profª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, nesta aula temos o objetivo geral de entender como os processos de inovação acontecem dentro das organizações. Para tanto, em um primeiro momento vamos verificar de onde vem a necessidade de uma empresa inovar, ou seja, qual a origem da inovação. Sabendo que a inovação é um processo iminentemente organizacional, há a necessidade de gerenciá-lo. Assim, trataremos da gestão da inovação e das políticas de gestão da inovação. Sabemos que não é suficiente apenas promover ações de criação da inovação, pois é necessário medir seus resultados, já que a inovação é um procedimento que visa retorno comercial. Tendo em vista essa necessidade, discutiremos como realizar a avaliação da inovação, propondo indicadores para a verificação do impacto das inovações nas empresas. Após a leitura, você terá uma noção do gerenciamento das inovações nas empresas. Vamos lá! TEMA 1 – ASPECTOS BÁSICOS: ORIGENS DA INOVAÇÃO A inovação é um processo inerente às organizações. As empresas precisam inovar por uma série de fatores, normalmente relacionados com situações de ordem estratégica, em que a empresa busca manter ou aumentar sua vantagem competitiva no mercado. Até algum tempo atrás, entendia-se que a origem das inovações sempre estaria nos tradicionais setores de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), existentes em poucas grandes organizações. Hoje se percebe que as inovações podem ser encontradas no ambiente externo à organização, com a aquisição e o compartilhamento de conhecimento em redes de empresas. Assim, há uma série de fatores que podem originar inovação em uma organização. Freitas Filho (2013, p. 28-29) faz um levantamento dos fatores impulsionadores da inovação, citando Coral (2008) e Cooper (2001). Esses fatores são destacados a seguir: desejo de não competir somente no mercado de commodities; busca de vantagem competitiva sustentável; busca de mudanças na direção de suas estratégias; procura por uma nova plataforma de crescimento para seu negócio; necessidade de gerar oportunidades de crescimento para atingir objetivos de receita de longo prazo; determinação por aumentar sua fatia de mercado; necessidade de redefinir missão e visão corporativa; valorização do gerenciamento colaborativo no desenvolvimento da estratégia; decisão por exportação. Outras condições que representam ameaças também podem levar as 3 empresas a inovar tais como mudanças nas necessidades e desejos dos consumidores; avanços tecnológicos relacionados ao seu negócio; produtos em fase final de ciclo de vida, preparando novos lançamentos, antes que seus produtos atinjam a maturidade; e aumento da competitividade, advinda da globalização. Além desses elementos motivadores, Freitas Filho (2013) entende que a inovação se origina nas esferas estratégicas da organização, considerando que deve estar inserida no plano estratégico da empresa. Assim, a inovação é um processo implantado de cima para baixo, com o principal executivo da empresa patrocinando o programa. Nesse cenário, importante que o executivo tenha uma noção clara de onde surgem a oportunidades de inovação, de modo a eliminar a visão tradicional de que somente há inovação em produtos. Outro aspecto a ser considerado quando se observa a questão da origem de uma inovação é pontuado no Manual de Oslo (OCDE, 2004, p.127): Para a origem da inovação, pode-se fazer uma distinção entre empresas que desenvolveram a inovação por si mesmas e empresas que estão apenas vendendo a inovação de outra. Um exemplo típico deste último caso são as empresas de importação/exportação que agem apenas como canais de distribuição para inovações desenvolvidas no exterior. Cabe ao gestor desses processos estar atento e todos esses elementos e também às forças que impactam a empresa, de forma a criar o ambiente mais apropriado para o surgimento das inovações. TEMA 2 – GESTÃO DE INOVAÇÃO NA EMPRESA A inovação não é um processo de geração espontânea nas empresas, mas sim algo que demanda planejamento, organização e recursos. Sendo fruto de intenção deliberada, é necessário que haja a gestão desse processo. Assim, ao mesmo tempo em que a gestão da inovação deve ser um processo formal dentro das empresas, por outro lado não deve ser um processo engessado, de tal forma que reprima a liberdade criativa necessária aos processos de inovação. Buscar ferramentas que auxiliam na avaliação da inovação e dos elementos que a promovem na empresa auxilia a manter a gestão em padrões aceitáveis, resultando em valor para a empresa. Embora existam inovações diferentes, em termos de produtos, processos ou modelos de negócio, há elementos comuns no gerenciamento das ações de inovação em uma organização. De acordo com Scherer e Carlomagno (2016), esses elementos precisam ser administrados para que a empresa obtenha mais 4 eficácia em suas inovações. Os autores afirmam que o contexto da inovação apresenta um conjunto de oito dimensões que devem ser configuradas para melhorar o potencial inovador (figura abaixo). Figura 1 – Dimensões da gestão da inovação (octógono da inovação) Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 37. Vejamos como os autores explicam cada uma das oito dimensões. A estratégia de inovação diz respeito ao modo como a empresa articula e direciona as iniciativas de inovação. A liderança para inovação está relacionada ao entendimento das lideranças quanto à necessidade e relevância da inovação, e à forma como as lideranças apoiam o ambiente de inovação. A cultura de inovação refere-se àquilo que a alta gestão diz e faz para criar um ambiente que estimule a inovação. Os relacionamentos para inovação são entendidos como a forma com que a organização se relaciona com parceiros, clientes e concorrentes na geração e no refinamento de ideias. A estrutura para inovação está voltada ao local físico em que a atividade de inovação se realiza, e ao modo como é organizada. Quando falamos de pessoas para inovação, fazemos referência ao apoio a quem a promove, a incentivos e reconhecimento. O processo de inovação está relacionado à forma como as oportunidades de inovação são geradas, desenvolvidas e avaliadas. O funding para inovação refere-se ao modo como as iniciativas de inovação são financiadas (Scherer; Carlomagno, 2016, p. 119). 5 É preciso entender cada uma dessas dimensões, e analisar as ferramentas de gestão que possibilitem a implantação de cada um desses pontos. Além das dimensões citadas, cabe ao gestor observar ainda aspectos legais e regulamentações que possam estar envolvidos nos processos de inovação da empresa. Assim, é preciso conhecer como funciona o sistema de inovação dos países envolvidos com o processo, quais leis se aplicam no caso da empresa e quais são os aspectos legais de proteção da propriedade intelectual. Trott (2012) sinaliza ainda a necessidade de entender a inovação como um processo altamente complexo, que envolve aspectos internos e externos à organização, envolvendo a gestão eficiente de diferentes atividades. O autor propõe um esquema, ilustrado na Figura 2, com a intenção de auxiliar na descrição do que seriam os principais fatores a ser considerados na gestão da inovação (Trott, 2012, p. 27): Ele ajuda a mostrar que as interações de funções dentro da organização são tão importantes quanto as interações dessas funções com o ambiente externo. Cientistas e engenheiros de dentro da empresa estarão continuamente interagindo com colegas cientistas de universidades e de outras empresas sobre desenvolvimentoscientíficos e tecnológicos. Do mesmo modo, a função de marketing precisará interagir com fornecedores, distribuidores, clientes e concorrentes, a fim de assegurar que as atividades cotidianas de reconhecimento das necessidades dos clientes e de entrega dos produtos a eles sejam atingidas. Os planejadores de negócios e a alta administração também entrarão em contato com uma ampla variedade de empresas e outras instituições externas, como departamentos governamentais, fornecedores e clientes. Todos esses fluxos de informação contribuem para a riqueza do conhecimento agregado pela organização. Reconhecer tudo isso, apresentar e utilizar todos esses elementos a fim de desenvolver novos produtos de modo exitoso constitui o difícil processo de gestão da inovação. 6 Figura 2 – Inovação como processo de gestão Fonte: Trott, 2012, p. 28. Com o uso de todas essas informações, é possível conhecer os pontos fracos e fortes, e saber aproveitar melhor as oportunidades do ambiente externo, que podem ajudar o negócio, bem como os riscos inerentes aos processos de inovação. TEMA 3 – POLÍTICA DE GESTÃO DE INOVAÇÃO Reconhecendo que os processos de inovação na organização devem ser geridos pelos níveis estratégicos da empresa, pode-se afirmar que a política de gestão da inovação é top-down. Todas as grandes decisões acerca das estratégias de inovação partem dos níveis hierárquicos mais altos, pois é nesses níveis que se define o direcionamento estratégico e as expectativas da empresa, com a adoção das práticas de Gestão da Inovação. Tal direcionamento estratégico deve estar baseado no estudo das forças mercadológicas, sociais e tecnológicas. As políticas de gestão da inovação devem ser pensadas para a inovação de produtos, de processos e de modelos de negócio, de forma a reduzir os riscos resultantes da inovação e acelerar o retorno sobre os investimentos. Para Haneman, Alves e Visser (2011, p. 21), as políticas visam: 7 definir o foco e a direção para as atividades de gestão da inovação da empresa, em consonância com os seus objetivos e assegurando o alinhamento das metas estratégicas e as atividades de inovação. Trata-se de fazer uma descrição clara, mais ou menos detalhada, de como a empresa se quer colocar no futuro e de definir e planificar, no longo prazo, a disposição de recursos para a concretização dessa visão, com base em objetivos macroscópicos agregadores, que influenciam a execução de ações e a atribuição dos recursos. A política e estratégia da empresa, conforme os autores, devem ter expressão documental e uma mensagem consistente, sendo amplamente disseminadas, interna e externamente. É preciso também revisá-las periodicamente, de modo a permitir melhorias e atualizações. Nakagawa (2012, p. 1) comenta que de nada adianta uma empresa saber definir o que é inovação e como ela contribui para o resultado do negócio, definindo os processos e as pessoas certas para inovar, se não há condições para que a inovação realmente aconteça. Nesse sentido, o autor propõe que sejam definidas políticas de gestão no que diz respeito a: • Políticas de contratação: Na admissão de qualquer colaborador da empresa, além dos aspectos técnicos e comportamentais, é necessário valorizar os colaboradores com perfil empreendedor e com perfil de gestor, obtendo um equilíbrio entre esses dois perfis na empresa. • Políticas de remuneração, avaliação de desempenho, promoção: uma política para tanto é oferecer remuneração variável para os colaboradores, atrelada aos resultados do negócio e à sua contribuição para o fortalecimento da capacidade de inovação da empresa. • Políticas de parcerias: todos na organização precisam perceber a importância da abertura para inovar com parceiros e até mesmo concorrentes e buscar estabelecer ações para que essas parcerias sejam eficazes. • Outras políticas: há que se pensar em outras políticas de gestão para criar uma cultura organizacional voltada para a inovação, considerando o contexto do negócio. Os fatores relacionados às políticas de gestão servem de apoio à investigação e ao desenvolvimento adequado das inovações. TEMA 4 – AVALIAÇÃO DA INOVAÇÃO A partir do momento em que as ações de inovação são colocadas em prática, é necessário verificar se os resultados desejados estão sendo alcançados. Há diferentes formas de se avaliar a inovação nas empresas. Tradicionalmente, há indicadores de ciência, tecnologia e inovação, tais como o Manual de Oslo (OCDE, 2004). O Manual é a designação dada a um documento produzido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 8 Económico), com tradução para o Brasil pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). É um referencial de métodos utilizados para produzir estatísticas relativas à inovação e ao desenvolvimento comparável entre diversos países. Os principais indicadores apresentados no Manual de Oslo são a intensidade de inovação ou de P&D e a cooperação com outras empresas ou instituições públicas. São citados ainda indicadores de Ciência e Tecnologia, recursos direcionados à P&D e estatísticas de patentes. No entanto, desenvolveu-se ao longo dos anos uma forma diferente de se pensar a avaliação da inovação, abrangendo não somente a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, mas a organização como um todo. Para desenvolver uma análise melhor, em sentido sistêmico, diminuindo a miopia da inovação, Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006) elaboraram uma ferramenta denominada radar da inovação. Conforme os autores, o radar de inovação exibe as 12 dimensões da inovação empresarial, ancoradas pelas ofertas que uma empresa cria, pelos clientes a que serve, pelos processos que emprega e pelos pontos de presença que usa para levar suas ofertas ao mercado. De acordo com Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006), o radar poderia ajudar uma empresa a determinar como sua atual estratégia de inovação se compara à de seus concorrentes. Usando essas informações, a empresa poderia identificar oportunidades e priorizar as dimensões em que pretende concentrar esforços. Para os autores, tradicionalmente, a maioria das estratégias de inovação das empresas é resultado da simples inércia (“isso é o que sempre inovamos”) ou da convenção do setor (“é assim que todo mundo inova”). Mas quando uma empresa identifica e persegue dimensões de inovação negligenciadas, ela pode mudar a base da concorrência e deixar outras empresas em desvantagem distinta, porque cada dimensão requer um conjunto diferente de capacidades, que não podem ser desenvolvidas ou adquiridas da noite para o dia. Também porque inovar em uma dimensão geralmente influencia as escolhas em relação a outras dimensões. 9 Figura 3 – Radar da inovação Fonte: Elaborado com base em Sawhney; Wolcott; Arroniz, 2006, p. 77. Na prática, a avaliação da inovação se dá por meio da investigação de cada dimensão e suas subdivisões. Para a coleta dos dados, pode-se usar questionários, entrevistas ou observação direta. Os dados coletados são transformados em números de 1 a 5, de acordo com o grau da dimensão encontrado na empresa. Cada um desses números é disposto no gráfico do radar e eles são posteriormente interligados, mostrando a situação geral da empresa, com a finalidade de gerar ações de melhoria ou manter as dimensões que já estejam adequadas, de acordo com as estratégias e as políticas de inovação da empresa. Para compreender melhor cada uma das dimensões, veja, no quadro a seguir, uma definição com exemplos de todas as doze dimensões. 10 Quadro 1 – As 12 dimensões da inovação nos negócios Fonte: Elaborado combase em Sawhney; Wolcott; Arroniz, 2006, p. 78. DIMENSÃO DEFINIÇÃO EXEMPLOS • navalha Gillette Mach3Turbo • Leitor de música iPod da Apple e serviço de música do iTunes • Plataforma de telemática da General Motors OnStar • filmes de animação da Disney • Serviços de logística da UPS Soluções de cadeia de suprimentos • DuPont Building Innovations for construction • Foco Rent-A-Car da Enterprise em locatários de carros de reposição • Green Mountain Energy foca em “energia verde” • conceito de banco de varejo Washington Mutual Occasio • conceito “loja como experiência de entretenimento” de Cabela • Pesquisa paga do Google • Blockbuster de compartilhamento de receita com distribuidores de filmes • Sistema Toyota de Produção para operações • Projeto Elétrico Geral para Seis Sigma (DFSS) • organização virtual em rede centrada em parceiros da Cisco • Organização híbrida de back-back da Procter & Gamble para foco no cliente • Moen ProjectNet para projeto colaborativo com fornecedores • General Motors Celta uso de fornecimento integrado e vendas on-line • Venda de CDs de música da Starbucks em cafeterias • Sistema de Caixa Remota da Diebold para serviços bancários • Serviço de Monitoramento Remoto de Otis • Guerra Centrada na Rede do Departamento de Defesa • “Capital de risco de marca” do Virgin Group • Yahoo! como uma marca de estilo de vida Presença Crie novos canais de distribuição ou pontos de presença inovadores, incluindo os locais onde as ofertas podem ser compradas ou usadas pelos clientes. Networking Crie ofertas inteligentes e integradas centradas na rede. Marca Alavancar uma marca em novos domínios. Processos Redesenhar os principais processos operacionais para melhorar a eficiência e a eficácia. Organização Alterar forma, função ou escopo de atividade da empresa. Cadeia de mantimentos Pense de forma diferente sobre sourcing e fulfillment. Clientes Descubra as necessidades não satisfeitas dos clientes ou identifique segmentos de clientes carentes. Experiência do cliente Redesenhe as interações com os clientes em todos os pontos de contato e em todos os momentos de contato. Captura de Valor Redefina como a empresa é paga ou cria novos fluxos de receita inovadores. Ofertas Desenvolver novos produtos ou serviços inovadores. Plataforma Use componentes comuns ou blocos de construção para criar ofertas derivadas. Soluções Crie ofertas integradas e personalizadas que resolvam os problemas do cliente de ponta a ponta. 11 TEMA 5 – IMPACTO E INDICADORES O impacto da inovação em uma empresa depende do sucesso da inovação nos ambientes interno e externo. Esse sucesso, por sua vez, depende de diversos fatores que favorecem as inovações nas empresas. Por exemplo, o sucesso das inovações de produto pode depender das iniciativas de marketing para lançar o produto. Já o impacto das inovações de processo pode depender de mudanças organizacionais com o intuito de tirar vantagem desses novos processos. Além disso, os impactos podem variar muito de setor para setor ou de região para região. No Quadro 2 é possível observar uma série de impactos de cada tipo de inovação no desempenho das empresas, conforme a OCDE (2004) Conforme Alvim (2012), além dos efeitos diretos que motivaram sua implementação, o processo de inovação pode gerar efeitos indiretos que impactam o desempenho das empresas. A aprendizagem organizacional e a criação de uma cultura inovadora, por exemplo, poderão ocorrer mesmo quando a inovação não for bem-sucedida. Como esses efeitos não são previsíveis, podendo variar de empresa para empresa, para identificá-los é preciso considerar uma análise ampla do desempenho das empresas; ou seja, é preciso ir além dos aspectos financeiros e dos processos operacionais. Provavelmente, a combinação de análises quantitativas e qualitativas poderá ser mais efetiva para o objetivo dessa pesquisa. Ainda segundo Alvim (2012), identificar e mensurar os impactos da inovação no desempenho das empresas é uma tarefa difícil e complexa, que exige cuidados e critérios firmes. O Manual de Oslo (OCDE, 2004) apresenta algumas recomendações nesse sentido, como coletar dados gerais das empresas para o início e o final do período de observação. Esses dados estão relacionados a faturamento, exportações, empregados e margens operacionais. Juntos, ajudam a criar uma visão de como a inovação afeta o desempenho geral da empresa. Além da incerteza do processo de inovação, a análise de seu impacto no desempenho empresarial deve considerar a incerteza do próprio desempenho das empresas. Nesse sentido, é importante a utilização de indicadores externos para analisar se o desempenho observado é função do processo de inovação ou se é influenciado por outros aspectos presentes no mercado no período em que a empresa desenvolveu atividades inovativas. 12 Quadro 2 – Impactos das inovações Fonte: OCDE, 2004, p. 214. Tendo em vista tal complexidade quanto aos impactos, a atividade de inovação precisa ser medida, para gerenciar e verificar os resultados apropriadamente. Porém, conforme Scherer e Carlomagno (2016, p. 97), medir 13 os resultados e o processo de inovação não é uma tarefa fácil. Os autores ressaltam que não há como avaliar o desempenho do processo de inovação na empresa sem os indicadores corretos. “Assim como não é mais suficiente controlar o desempenho global de uma empresa apenas pela perspectiva financeira, a inovação também deve ser medida sob diferentes perspectivas”. Medir apenas o retorno financeiro de inovações não é adequado, já que mensurar apenas esse resultado revela o momento atual, desmerecendo a continuidade do processo de inovação. No entanto, criar indicadores sem objetivo bem-definido também não é adequado, já que medir outros resultados demanda um esforço grande, e assim pode haver perda de tempo e de produtividade com as informações, que no fim podem confundir mais do que auxiliar na melhoria do processo de inovação. Os bons indicadores são derivados da estratégia da empresa. Não há como definir os indicadores corretos sem vinculá-los aos objetivos estratégicos, ou seja, ao que ela estipula para a atividade de inovação. Corroborando com essa ideia, Scherer e Carlomagno (2016) propõem uma ferramenta inspirada no Balanced Scorecard (BSC)1, denominada pelos autores de Innovation Scorecard. Estruturado de maneira similar ao BSC, o Innovation Scorecard também possui traz perspectivas que evidenciam a lógica de causa-e-efeito da geração de resultados da inovação: contexto, processo, tipos e resultados. Com esse enfoque, a empresa terá tanto indicadores de entrada como indicadores de saída da inovação, o que permitirá a identificação de tendências e ajustes necessários para melhorar a produtividade da inovação. Scherer e Carlomagno (2016, p. 97) explicam cada perspectiva da seguinte maneira: O Contexto está relacionado com a forma como a empresa cria o ambiente adequado para a inovação a partir das oito dimensões do octógono da inovação: estratégia, cultura, estrutura, pessoas, processo, funding, liderança e relacionamentos. A perspectiva de Processo de inovação mede a eficiência da geração, seleção, avaliação e implementação das ideias inovadoras, através das etapas da cadeia de valor, criando-se indicadores específicos. Já os Tipos expressam o perfil de inovação demandado, deixando claro quais são as inovações desejadas pela empresa. Finalmente, a quarta perspectiva reflete as expectativas de Resultados esperados pelasatividades de inovação. 1 O Balanced Scorecard é um sistema de mensuração de desempenho empresarial estratégico que complementa as medições financeiras tradicionais com avaliações sobre clientes, processos internos e possibilidades de aprendizado e crescimento. 14 Figura 4 – Innovation Scorecard Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 97. A partir da análise do Innovation Scorecard, é possível criar indicadores para analisar cada perspectiva. Scherer e Carlomagno (2016, p.106) sugerem alguns indicadores: Resultados – valor total do portfólio de inovação; – reduções de custos oriundas de inovações; – percentual das vendas investido com inovação; – retorno do investimento dos projetos de inovação. Tipos – número de inovações nos temas priorizados; – número de novos negócios criados (se esse for um objetivo); – percentual das vendas oriundas dos produtos lançados; – número de spin-offs de novos negócios realizadas. Processo – percentual de projetos executados com sucesso; – número de acordos de cooperação para inovação com parceiros; – percentual de projetos lançados no tempo planejado; – número de ideias implementadas na empresa; Contexto – número de horas utilizadas pelas lideranças facilitando as atividades de inovação; – número de horas de treinamento recebidas pelos colaboradores para inovar; – número de sessões de troca de conhecimento realizadas (visitas, benchmarks); – valor investido em reconhecimento e recompensa para motivação dos inovadores. 15 Conforme Scherer e Carlomagno (2016), a mensuração dos resultados do sistema de gestão da inovação é fundamental para garantir o apoio de todas as partes interessadas, além obviamente da empresa em si. Os autores alertam para a importância desse apoio em especial por conta do fato de os resultados se apresentarem somente no médio e longo prazos. É relevante que os stakeholders compreendam que o resultado de inovações robustas não se dá no curto prazo. Assim, estabelecer um conjunto acessível, compreensível e gerenciável de indicadores é o primeiro passo para sistematizar a medição dos resultados da inovação. O segundo passo, de acordo com Scherer e Carlomagno (2016, p.106), é monitorar os projetos do início ao fim: Falta de controle dos projetos ocorre especialmente em empresas que possuem uma quantidade significativa de projetos e consequentemente envolve diferentes áreas e pessoas. Nesses casos, o desafio está na consolidação dos dados, mas também no monitoramento por parte dos gestores da inovação. O resultado individual de cada projeto deverá compor o resultado final dos esforços de inovação. Finalmente, um terceiro passo é estabelecer o horizonte de tempo de geração de resultados, visto que uma inovação traz resultados num horizonte de tempo que varia de setor para setor. Assim, cabe definir o tempo em que a geração de resultados ficará em observação. Uma forma de quantificar esse tempo é basear-se no ciclo de vida da inovação. (Scherer; Carlomagno, 2016). FINALIZANDO Nesta aula, estudamos a importância da gestão da inovação nas empresas. Conhecemos diversas formas de se observar as possíveis origens das inovações nas organizações. Depois, tomamos ciência de quais procedimentos de gestão são relevantes na inovação e como observar as dimensões relativas ao gerenciamento, por meio do octógono da inovação. Notamos a importância do estabelecimento de políticas de gestão para a inovação, a fim de dar foco e objetividade aos processos de inovação na empresa. Trabalhamos com a relevância da avaliação dos processos de inovação e modos de fazê-la. O formato mais tradicional é explicado no Manual de Oslo. A ferramenta mais utilizada é o radar da inovação. Finalmente, verificamos que há impactos dos mais diversos nas empresas como resultado das inovações – impactos diretos e indiretos, desejados e imprevistos. 16 Avaliamos a necessidade de medir esses impactos por meio de indicadores e estudamos uma ferramenta para esse fim, o Innovation Scorecard. Assim, estamos mais preparados para atuar com gestão da inovação na prática! 17 REFERÊNCIAS ALVIM, J. C. Avaliação dos impactos da inovação no desempenho das empresas. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Ciências Empresariais (FACE), Belo Horizonte, 2012. FREITAS FILHO, F. L. Gestão da inovação: teoria e prática para implantação. São Paulo: Atlas, 2013. HANEMAN, M. J.; ALVES, J.; VISSER, M. Inovação: manual de boas práticas – Princípios, Fundamentos e Planos de Ação. Aveiro, Portugal: InovaDomus, 2011. NAKAGAWA, M. Ferramenta: 4Ps da gestão da inovação para PMEs. Movimento Empreenda, 2012. Disponível em <http://cms- empreenda.s3.amazonaws.com/empreenda/files_static/arquivos/2012/11/19/M E_4Ps-Gestao-Inovacao.pdf>. Acesso em: 21 set. 2018. OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. 3. ed. Rio de Janeiro: Finep, 2004. SAWHNEY. M.; WOLCOTT, R.; ARRONIZ, I. The 12 different ways for companies to innovate. Sloan Management Review, Cambridge, v. 47, n. 3, p. 75-81, 2006. SCHERER, F. O.; CARLOMAGNO, M. S. Gestão da inovação na prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. TROTT, P. J. Gestão da inovação e desenvolvimento de novos produtos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
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