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Direito e Globalização 1 (Direito 6 semestre UNIP) Organismos Internacionais - OIT- Organização Internacional do Trabalho fundada em 1919 A Organização Internacional do Trabalho (OIT), ou International Labour Organization (ILO), é um organismo internacional fundado em 1919 em atendimento ao Tratado de Versalhes. A princípio, a organização atuou como uma agência ligada à Liga das Nações, entretanto, após o final da Segunda Guerra Mundial, com a dissolução da Liga das Nações, a partir de 1945 a OIT passou a integrar o Sistema ONU. Diferente de outros organismos, onde as decisões são tomadas por representantes dos Estados-Membros, na OIT possui estrutura tripartite onde representantes do governo, das organizações de empregadores e das organizações de trabalhadores participam em situação de igualdade – ONU: Em 1945, com a vitória dos aliados, introduziu-se uma nova ordem, com importantes transformações no Direito Internacional, simbolizadas pela Carta das Nações e pelas suas Organizações. (A Carta das Nações foi assinada, em São Francisco, EUA, em 26 de junho de 1945. O Brasil a ratificou, em 21 de setembro de 1945). Para o alcance destes objetivos, as Nações Unidas foram organizadas em diversos órgãos. Os principais órgãos das Nações Unidas são a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela e o Secretariado, nos termos do art. 7º da Carta da ONU. A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, de forma decisiva, o movimento de internacionalização dos direitos do homem, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a propósitos e finalidades das Nações Unidas. – Declaração dos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 10 de dezembro de 1948, aprovada pela Resolução n.217 A (III), pela aprovação unânime de 48 Estados, com 8 abstenções. Os oito Estados que se abstiveram foram: Bielorussia, Checoslováquia, Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, URSS, África do Sul e Iugoslávia. Observa-se que em Helsinki, em 1975, no Ato Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, os Estados Comunistas da Europa aderiram expressamente à Declaração Universal. A Declaração Universal de 1948 tinha como objetivo delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos e universais. Introduziu, ainda, a ideia utópica de indivisibilidade dos direitos do homem, e tentou conjugar direitos civis e políticos; e direitos econômicos, sociais e culturais Direito e Globalização Capítulo 2 : O surgimento do desenvolvimento sustentável O desenvolvimento sustentável é fruto de um processo de maturação de parte do pensamento econômico que se constituiu e evoluiu ao longo do século XX. Esse processo fruto de eventos históricos precisos permitiu ampliar o horizonte acerca da necessidade da melhoria das condições materiais da população. Vejamos, pois, quais seriam esses antecedentes. Antecedentes do desenvolvimento sustentável Como procuramos demonstrar no primeiro capitulo, o impulso econômico ocorrido no Brasil foi socialmente injusto e ambientalmente degradante. Também assinalemos que esse impulso econômico esteve ligado, desde o início, com o modo de produção existente nos países centrais ( inicialmente Europa e depois E.U.A.) e que a participação do Brasil nesse modelo de produção, se manifestou de maneira periférica, limitada e incompleta. No entanto, o modo de produção capitalista que teve por base a livre iniciativa econômica, a apropriação privada dos meios de produção e o aumento contínuo do consumo, não alterou apenas as relações sócio-econômicas. Operou também mudanças políticas e disseminou de novas orientações filosóficas, ou seja, forjou o nascimento de um novo paradigma. Esse paradigma oriundo do sistema capitalista estabeleceu como idéia-força a noção de que a melhoria das condições de vida da população estaria vinculada ao intenso e constante crescimento econômico e que essa melhoria só poderia ser mensurável com noções objetivas 1 vinculadas ao aumento dos bens e serviços. A economia viu-se aprisionada à idéia da necessidade de crescimento como resposta ao enfrentamento dos desafios sociais existentes. Capra sintetiza essa concepção da seguinte maneira: Há três dimensões do crescimento que estão intimamente interligadas na grande maioria das sociedades industriais. São elas: a dimensão econômica, a tecnológica e a institucional. O crescimento econômico contínuo é aceito como um dogma pela maioria dos economistas, quando supõem, de acordo com o pensamento de Keynes, ser esse o único caminho para assegurar às classes pobres que ‘escorra o fio’ de riqueza material em seu benefício. Está provado há muito tempo que esse modelo de crescimento é irrealista. Taxas elevadas de crescimento concorrem muito pouco para aliviar problemas sociais e humanos urgentes; em muitos países foram 1 Cf. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 2006, p.35. acompanhadas de um desemprego crescente e uma deterioração geral das condições sociais. 2 Assim, fora desenvolvido pelos especialistas uma medida de grandeza capaz de dimensionar a economia dos países, o Produto Interno Bruto – PIB – cuja finalidade era calcular o valor integral das riquezas e serviços produzidos por uma determinada nação. Em conseqüência, se projetou uma classificação dos países lastreada no PIB per capita, com o 3 escopo de sinalizar quais seriam as nações mais prósperas, quais seriam as nações intermediárias e finalmente quais seriam as classificadas como pobres. Esse mecanismo, ainda hoje muito utilizado, também fora utilizado para dimensionar a riqueza de regiões ou municípios, estabelecendo fatores comparativos entre eles. Por outro lado, o paradigma capitalista convolou a noção das coisas, objetos e relações sociais, em bens apreciáveis economicamente. A natureza, não permaneceu infensa a essa apropriação. Os bens naturais foram destituídos de sua forma transcendental, como eram vistos na cultura pré-capitalista, e foram apropriados pelo novo paradigma tornando-se bens econômicos. Esse paradigma, no entanto, começa a entrar em crise a partir de meados do século XX. A apropriação acelerada dos recursos naturais começa a demonstrar sinais de colapso. Os primeiros sinais visíveis são sentidos nos países centrais. Fenômenos como a chuva ácida, a poluição das águas e do ar, contaminação de alimentos pelo uso excessivo ou inadequado de agrotóxicos começam a trazer conseqüências para as populações urbanas daqueles países. Esses sinais de colapso começam a tomar um padrão que se multiplicará com freqüência em outras partes do planeta. Os reflexos diretos dos danos ao meio ambiente se fariam sentir, freqüentemente, em grupos ou classes distintos daqueles que seriam os verdadeiros responsáveis pela deflagraçãodo dano. 2.2 Dos movimentos ecológicos 2 Id. Ibid., p. 206. 3 Divisão entre o valor do PIB e o total da população. Durante o início daquele colapso, um grupo político desiludido com a polarização entre as posições antagônicas dos países capitalistas, liderados pelos E.U.A. e do mundo comunista, liderados pela então U.R.S.S., procuraram estabelecer bases para uma nova via política, na qual se estabelecesse uma nova relação no sistema produtivo, levando-se em conta preocupações inéditas com o meio ambiente, buscando a reciprocidade entre o homem e a natureza e não mais o antagonismo até então reinante . 4 Esse movimento denominado como ecologista ou ambientalista, conheceu algumas divisões filosóficas, surgiram, fundamentalmente, duas correntes de pensamento de maior importância. A primeira conhecida como ecologia profunda ( ou deep ecology), fundamente em 1973 pelo filósofo norueguês Arne Ness , e a outra denominada ecologia rasa ou 5 antropocêntrica mitigada. Na ecologia profunda o paradigma estabelecido é o biocêntrico, portanto há a crença que a natureza possui um valor intrínseco em si, não havendo necessidade de intercambiar com qualquer necessidade humana. A ecologia profunda acredita que animais e vegetais possuam “ direitos” que devam ser respeitados e que podem inclusive serem opostos contra os seres humanos e que a convivência do homem com a natureza deva ser de respeito e 6 harmonia não se tolerando qualquer tipo de domínio ou submissão de um para com o outro. 7 A economia para os ecologistas profundos só pode ser desenvolver em completo respeito aos parâmetros naturais, sendo vedada qualquer atividade econômica, ainda com pretensões sociais, que de algum modo limite ou vilipendie ou recursos naturais. Os ecologistas profundos refutam a idéia de que o homem tem direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado , pois crêem que a visão antropocêntrica da realidade 8 ignora os interesses de outras espécies e o equilíbrio ecológico mundial, além de estimular a exploração indiscriminada da natureza. A ecologia rasa ou antropocêntrica mitigada, por outro lado, defende a necessidade do homem respeitar a natureza, mas não reconhece aos animais e as plantas direitos intrínsecos. O antropocentrismo mitigado defende que o direito e seus valores são voltados à proteção do 4 Cf. PINTO, Antônio Carlos Brasil. A globalização, o meio ambiente e os movimentos ecológicos. In: Direito Ambiental Contemporâneo. Coord. José Rubens Morato Leite & Ney Barros Bello Filho. Barueri, SP: Manole, 2004, p. 342. 5 Cf. SILVA, José Robson. Paradigma biocêntrico: do patrimônio privado ao patrimônio ambiental. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 300. 6 Cf. LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de risco e estado. In: Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. Coord. José Joaquim Gomes Canotilho & José Rubens Morato Leite. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 131. 7 Cf. SILVA, José Robson. op. cit., p. 301. 8 Cf. CARVALHO, Edson Ferreira. Meio ambiente & direitos humanos. 2.° tiragem. Curitiba: Juruá, 2006, p. 179. ser humano e que há uma certa ascensão entre o homem sobre a natureza. Os antropocêntricos defendem a existência de um direito humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Eles ressaltam as vantagens desse reconhecimento, dentre elas a 9 legitimação da supervisão internacional das políticas ambientais na esfera doméstica dos Estados, permitindo a apresentação de petições individuais às instituições de direitos humanos e o estímulo à formação de remédios apropriados à proteção do meio ambiente perante o Poder Judiciário local. Entre essas duas correntes do movimento ecológico, os ecologistas profundos e os antropocêntricos, surgiram várias subdivisões que procuraram mesclar os conceitos de ambas. O fato é que o radicalismo das propostas dos ecologistas profundos, contribuiu para dividir o movimento ambientalista e trouxe uma certa resistência entre os defensores dos direitos humanos em aceitar a idéia de um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Afinal, os defensores dos direitos humanos alegavam que as instituições ligadas à 10 defesa daqueles direitos já teriam problemas suficientes e que a ampliação de seu mandato para tratar de questões ambientais traria competição pelos escassos recursos daqueles órgãos, reduzindo ainda mais sua efetividade. De outro lado, alguns ambientalistas, acreditavam que a implementação de todos os direitos humanos poderia importar no risco maior ao meio ambiente, eis que para satisfazer todas as necessidades catalogadas como fundamentais haveria o vilipêndio ainda mais significativo dos já escassos recursos naturais. Felizmente esse impasse foi solucionado em meados do século XX e grande parte do movimento dos direitos humanos e do movimento de proteção ao meio ambiente reconheceram a necessidade de se declarar a existência de um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a partir daí começaram a trabalhar em conjunto com vistas a efetivação daquele direito. Graças a união desses esforços começou a haver o reconhecimento, no plano internacional, da proteção ao meio ambiente como um direito humano. A declaração de Estocolmo de 1972, a primeira declaração com preocupações ambientais desenvolvida no plano do direito internacional sintetiza em parte tais preocupações. 9 Id. Ibid., p. 179. 10 Id. Ibid, p. 153 No Brasil o movimento ecológico surge juntamente com outros movimentos da sociedade civil que procuravam se organizar no sentido de combater o regime de exceção ( 1964-1988). O derramamento de óleo na baia da Guanabara e no canal de São Sebastião (SP), o incêndio da Vila Socó e os problemas causados pela poluição em Cubatão, são apenas alguns exemplos de graves problemas ambientais que o Brasil passava a conhecer a partir da década de setenta do século passado e que começariam a sensibilizar a sociedade para a necessidade do combate aos desequilíbrios ambientais em nosso país. Esse movimento se intensifica, a partir da década de 80 do século passado, e ganha um dinamismo próprio a partir da redemocratização do país. No entanto, ao contrário do dilema que se passava nos países centrais, o movimento ecológico brasileiro esteve marcado, em sua maioria, pela concepção que a preocupação ecológica seria aliada no combate à miséria e as desigualdades sociais. Entre nós, cedo prevaleceu o antropocentrismo mitigado ou diferido, havendo poucas manifestações da ecologia profunda. Isso permitiu que a defesa do meio ambiente viesse associada ao caráter democrático e com raízes humanas, atuando em conjunto com o florescer dos novos direitos no Brasil 11 notadamente a proteção aos direitos indígenas, das populações tradicionais e dos excluídos em geral. A igreja católica no Brasil também contribuiu para que houvesse a disseminação na sociedade civil da preocupação com a questão ambiental. Alguns de seus quadros fizeram denúncias públicasacerca das ilegalidades perpetradas contra o meio ambiente e contra as populações tradicionais. Importante ressaltar ainda que esse movimento da sociedade civil organizada, através das associações civis ou dos movimentos das comunidades religiosas, contribuiu para o avanço das conquistas sociais que ora se evidenciam na Constituição de 1988. 12 2.3 A proteção jurídica do meio ambiente 11 Cf. WOLKMER, Antônio Carlos & Leite, José Rubens Morato ( Org.). Os novos direitos no Brasil:natureza e perspectivas. São Paulo: saraiva, 2003. 12 Cf. IANNI, Octávio. A idéia de Brasil moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004. A preocupação com a proteção jurídica ao meio ambiente, de maneira estrita, é recente na histórica do direito. A proteção ambiental se estabeleceu inicialmente a partir da legislação do direito internacional, que lentamente começou a ser internalizada pelos Estados nacionais. Do ponto de vista histórico a conferência realizada em Estocolmo, que redundaria em uma declaração de mesmo nome, em 1972, foi o primeiro documento de direito internacional a despertar a consciência ecológica mundial e a relacionar meio ambiente com direitos humanos. 13 A Declaração do Estocolmo estabeleceu, no princípio 1°, que: o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador de solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. Uma década depois da conferência de Estocolmo, em 1982, a Assembléia-Geral da ONU proclamou a Carta Mundial para a Natureza, que foi descrita como um conjunto de princípios de conservação pelo qual toda a conduta humana que afetaria a natureza deveria ser orientada e sancionada. Os seus princípios recomendavam que a natureza fosse respeitada e seus processos essenciais não fossem ameaçados. 14 Em 1987, a Comissão Mundial sobre o ambiente e desenvolvimento ( comissão Brundtland) publicou seu relatório, no qual o grupo de especialistas da comissão formulou o direito ao meio ambiente nos seguintes termos: todo o ser humano tem o direito fundamental a um meio ambiente adequado à saúde e ao bem-estar. 15 Vinte anos depois de Estocolmo foi realizada uma nova conferência para tratar sobre meio ambiente. A conferência das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento celebrada no Rio de Janeiro em 1992, adotou cinco documentos que embora tratem de muitos aspectos ligados à proteção ambiental, também se dedicaram a fazer referências aos direitos humanos. 16 13 Cf. CARVALHO, Edson Ferreira de. op. cit.,p. 155 14 Cf. Id. Ibid., p. 157. 15 Cf. Id., Ibid., p. 157. 16 Cf. Id. Ibid., p. 158. De todo modo, consta do texto final da Declaração do Rio, no princípio 1°, que os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. E têm o direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza. Entre os textos produzidos por ocasião do encontro no Rio de Janeiro cumpre destacar a Agenda 21 , tratado internacional de natureza programática. Trata-se de um texto na qual se fizeram parte além dos países que estiveram presentes aquele encontro, o Fórum das organizações não-governamentais. Seu conteúdo é variado mas sintetiza um conjunto amplo e diversificado de diretrizes que, no suceder-se de vários capítulos, faz referências a textos anteriores das Nações Unidas e trata das questões relativas ao desenvolvimento econômico-social e suas dimensões, bem assim à conservação e administração de recursos para o desenvolvimento. 17 A partir da conferência do Rio e mais especificamente por intermédio da Agenda 21 o conceito jurídico de desenvolvimento sustentável começou a ser delineado. Ele foi conseqüência de uma maturação entre a proteção jurídica ao meio ambiente e a necessidade de se garantir aos países periféricos oportunidades de estabelecer bases para um desenvolvimento econômico diferenciado. Em termos nacionais a tutela jurídica do meio ambiente surge basicamente na década de 80 do século passado. Com efeito, desde as ordenações do reino havia uma legislação voltada à proteção dos recursos naturais, no entanto o fundamento dessa proteção era a preservação do patrimônio do Estado e não propriamente a preocupação com o meio ambiente. Do mesmo modo, embora fosse possível encontrar normas jurídicas voltadas à tutela jurídica, no antigo código civil e nas legislações da década de 60 do século passado tais como, lei n° 4.504/64 ( Estatuto da Terra), lei n° 4.771/65 ( Código Florestal), lei n° 5.179/67 ( lei de proteção à fauna), Dec.-lei n° 221/67 ( Código de Pesca), Dec-lei 227/67 ( Código de Mineração), somente na década de 1980 é que a legislação sobre o meio ambiente passou a se orientar como objetivo especifico a tutela ambiental, conhecendo dessa maneira maior consistência. O primeiro marco legal nesse aspecto é a lei n° 6.938/81, denominada lei da política nacional do meio ambiente, que entre outros méritos definiu juridicamente o termo meio 17 Cf. MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: doutrina – jurisprudência – glossário. 3° Ed. São Paulo: revista dos tribunais, 2004,p.67. ambiente, instituiu um sistema nacional de proteção, criando condições para a implementação de uma política nacional de meio ambiente, e estabeleceu a obrigação de reparar o dano para aqueles que causassem a poluição , oferecendo assim um primeiro instrumento efetivo no 18 combate às ameaças ao meio ambiente. O segundo marco normativo foi a edição da lei n° 7.347/85 que disciplinou a ação civil pública como meio processual para a proteção dos recursos naturais e a defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Por intermédio dessa lei a legitimação extraordinária para a defesa dos direitos trans-individuais, se dilatou, permitindo-se às associações e ao ministério público a possibilidade de pleitear, em juízo, a defesa desses direitos. No entanto, foi com a Constituição de 1988 que ficou estabelecido de maneira definitiva que o meio ambiente ecologicamente equilibrado se torna um direito fundamental e que o desenvolvimento econômico deve ocorrer de maneira ambientalmente sustentável. Logo mais tentaremos expor as razões desse novo arcabouço jurídico. Importante apenas frisar, no momento, que a partir da Constituição de 1988 uma nova ordem pública ambiental foi estabelecida, irradiando efeitos para todo o ordenamento jurídico. 2.4 Do crescimento ao desenvolvimento econômico Conforme tentamos demonstrar no primeiro capítulo, a sociedade industrial construiu um novo paradigma social. Esse paradigma se alicerça em vários dogmas. Entre os mais significativos esta a busca inata pela evolução. Essa evolução se manifesta de diversas maneiras, através do acúmulo do conhecimento científico, da melhoria das condições materiaise da melhoria das condições econômicas. Frise-se que esse dogma da busca constante da evolução não esta presente nas sociedades pré-industriais cujo imaginário social é preenchido pela repetição constante dos eventos sociais. O símbolo que melhor representaria as sociedades anteriores à revolução industrial seria o círculo, eis que do ponto de vista do imaginário daquelas sociedades os eventos deveriam apenas se repetir gerando desse modo segurança social e não haveria uma busca pela inovação que despertaria insegurança social. Já na sociedade industrial, na qual atualmente encontramos inseridos, o símbolo que melhor representaria o nosso imaginário social seria a linha reta rumo ao infinito. Esse dogma da necessidade perpétua de evolução, foi construído através dos mecanismos intrínsecos ao 18 Id., ibid., p. 120. capitalismo que é considerado um sistema econômico aberto e que, desse modo, estimula seu próprio desenvolvimento continuamente. Na área econômica esse dogma da evolução se manifesta de maneira muito forte. Assim rapidamente os economistas criaram mecanismos para aferir o tamanho de uma economia e também para medir sua expansão. Os economistas não estavam preocupados em avaliar a qualidade desse crescimento, se ele estaria beneficiando o conjunto da sociedade ou se ele estaria permitindo a melhoria real das condições de vida da maioria. Como assevera Capra “ a luta universal pelo crescimento e pela expansão tornou-se mais forte do que todas as outras ideologias; para usar uma idéia de Marx, tornou-se o ópio do povo.” 19 Assim, a forma de medir o crescimento econômico proposta pelos economistas foi através da mensuração do PIB per capita. Por esse método não haveria qualquer diferenciação entre crescimento e desenvolvimento econômico. 20 A partir desse mero cálculo aritmético criou-se uma classificação para os países. Os países centrais, de industrialização consolidada, por possuírem uma expansão mais dinâmica de suas economias, logo foram rotulados como desenvolvidos. Os países muito pobres, muitos deles recém saídos das possessões colônias e que não conheceram qualquer tendência à industrialização, foram classificados como pobres e aqueles inseridos parcialmente no sistema de capitalismo industrial foram tidos como países em desenvolvimentos. No entanto, esse critério como sinônimo de grandeza sócio-econômica conheceu inúmeras críticas a partir de meados do século XX. Ele rapidamente revelou-se insuficiente para apreciar todas as complexidades da diversa das sociedades que surgiram naquele século que conheciam graus distintos de inserção ao capitalismo. A pobreza extrema, a grande concentração de renda, a grande assimetria social, eram apenas alguns dos sintomas mais visíveis da necessidade de se buscar outros critérios para medir, com relativa profundidade, os graus de evolução de determinada sociedade. Ademais, a renda per capita falseava as condições reais do países. Tome-se, por exemplo, alguns países produtores que tinham índices de PIB per capita elevados, mas as suas sociedades não gozavam de grandes benefícios. 19 CAPRA, Fritjof. op. cit. p. 205. 20 VEIGA, José Elli. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro; Garamond, 2006, p. 17. Por outro lado, a ONU continuou a perseguir um índice que pudesse refletir melhor a complexidade de uma determinada sociedade e privilegiasse fatores sociais em detrimento de grandezas meramente econômicas. Assim, em 1990 o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento ( PNUD) lançou o índice de desenvolvimento humano ( IDH) . Esse índice 21 leva em conta inúmeros outros fatores para medir a qualidade da evolução econômica e não somente o PIB per capita. Toma em consideração essencialmente três informações essenciais: escolaridade, renda e longevidade das populações. Por intermédio desse novo houve uma 22 mudança na classificação entre os países. Os países industrializados embora continuassem a figurar entre os mais bem posicionados, não se encontravam classificados automaticamente segundo sua produção industrial. Outro índice proposto foi o GINI que estipula o grau de concentração de renda de determinada sociedade. Por esse índice mais importante do que aferir a quantidade de riquezas distribuídas é verificar a capacidade de distribuição delas. Destarte, a busca por um índice que melhor diagnosticasse a qualidade de vida de uma determinada sociedade foi o primeiro passo para estabelecer uma divisão entre o crescimento e o desenvolvimento econômico. Em decorrência desses novos índices e os debates que o cercaram foi ficando claro que o desenvolvimento econômico não era um mero acaso, mas podia ser atingido através de políticas públicas patrocinadas pelo Estado. Afinal os países europeus recém saídos do conflito mundial eram um exemplo claro, mas não o único do sucesso dessa assertiva. Não demorou muito para se estabelecer o raciocínio de que uma vez sendo possível se alcançar o pleno desenvolvimento econômico, essa meta deixaria o campo da política pública para tornar-se um direito juridicamente tutelável. Com efeito, a idéia de que o desenvolvimento econômico não era simplesmente mais uma meta a ser alcançada mais sim um direito, surgiu no plano doutrinário em artigo do jurista africano Keba M’ Baye publicado em 1972 . 23 Essa concepção de direito foi positivada, ao menos no nível internacional, pela primeira vez na Carta africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos, aprovada em 1981. 24 21 VEIGA, José Eli. op. cit., p. 18 22 Ibidem, idem, p. 88 23 Cf. RISTER, Carla Abrantkoski. op. cit. p. 55 24 Cf. Id., Ibid. p. 53 Esse documento assegura e afirma os direitos dos povos à existência enquanto tal, à livre disposição de sua riqueza e recursos naturais, e principalmente o direito ao desenvolvimento, in verbis: Artigo 22 1. Todos os povos têm direito ao desenvolvimento econômico, social e cultural, no devido respeito à sua liberdade e identidade, e na igual fruição da herança comum da humanidade. 2. Os Estados têm o dever de assegurar, individual ou coletivamente, o exercício do direito ao desenvolvimento. A partir desse documento, embora o conceito de desenvolvimento se mantivesse vago, ele começava a despertar interesse para o direito que buscaria normas de conferir-lhe conteúdo normativo. Os Estados nacionais começaram a incluir esses ordenamentos a concepção de que o desenvolvimento seria um tutelável do ponto de vista jurídico. Entre nós, essa preocupação também se mostrou presente, notadamente após a Constituição de 1988. 2.5 Do desenvolvimento sustentável no plano internacional Em 1971, o economista Georgescu-roegen foi pioneiro ao estabelecer uma relação direta entre avanço econômico e degradação ambiental. Em seu artigo a lei da entropia e o processo econômico ele demonstra o vínculo entre o processo econômico e a segunda lei datermodinâmica que rege a degradação da matéria e da energia em todo processo produtivo, e, com isso, os limites físicos impostos pela lei da entropia ao crescimento econômico e à expansão da produção . 25 Assim começavam a surgir, ao menos num plano teórico, as idéias que dariam origem, mais tarde, ao conceito jurídico de desenvolvimento sustentável. Por outro lado, em 1986 seria aprovada a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento das Nações Unidas . Essa declaração afirma que “a pessoa humana é o 26 25 Cf.: LEFF, Enrique, op. cit., p. 134 26 Cf.:CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direitos humanos e meio ambiente: paralelo de proteção internacional. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1993, p. 173. sujeito central do desenvolvimento e deveria ser participante ativo e beneficiário do direito ao desenvolvimento” ( artigo 2) . 27 Buscando efetivar o conceito de desenvolvimento e mais precisamente de desenvolvimento sustentável a ONU , através da comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento, em 1987 patrocinou um relatório, denominado relatório Bruntland no qual algumas premissas do desenvolvimento sustentável foram criadas. Segundo Cançado Trindade: O relatório da Comissão Brudtland encontra-se permeado de considerações de equidade [ inter – e intra-geracional], justiça social, acesso regulado aos recursos e ao desenvolvimento de recursos humanos, participação efetiva comunitária e do cidadão, cooperação internacional ampla eficaz ‘para gerenciar a interdependência ecológica e econômica’; estabelece diretrizes políticas para alcançar o desenvolvimento sustentável em seis áreas, a saber, população e recursos humanos, segurança alimentar, perda das espécies e recursos genéticos, energia, indústria, e assentamentos humanos ( o desafio humano). 28 Nesse relatório o conceito de desenvolvimento é articulado num capítulo denominado “ Nosso futuro comum” , em que surgiri uma definição para o desenvolvimento sustentável: “ a capacidade humana de assegurar que o desenvolvimento atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender as suas próprias necessidades.” 29 Assim, o conceito de desenvolvimento ambientalmente sustentável surgiria como forma de harmonizar princípios dos direitos humanos com princípios de proteção ambiental. A partir da década de 1990, ficou claro que a maneira pelo qual a economia nos países capitalistas se mantinha e se desenvolvia não só ameaçava de maneira coletiva a vida de outras espécies animais e vegetais, como também estava colocando a própria vida do homem em risco. Afinal, a sociedade capitalista é intimamente dependente da produção contínua de energia. Essa energia é produzida em larga escala através de fontes não renováveis, 27 Cf: CANÇADO TRINDADE, op. cit., p. 173. 28 Ibidem, idem, p. 171. 29 RIOS, Aurélio Virgílio & Derani, Cristiane. Princípios gerais do Direito Internacional Ambiental. In: O direito e o desenvolvimento sustentável: curso de direito ambiental. Org: Aurélio Virgílio Veiga Rios. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 95. principalmente a queima de petróleo e gás natural. Essa queima lança na atmosfera o dióxido de carbono. Essa elevação do dióxido de carbono eleva a temperatura da Terra , criando 30 modificações climáticas imprevisíveis. Portanto, a busca do equilíbrio entre desenvolvimento e respeito ao meio ambiente, tornou-se não só eticamente importante, mas materialmente imprescindível. Desse modo, a ONU começou a estimular a produção de acordos internacionais capazes de refrear essa danosa conseqüência ao homem. A conferência de Kyoto, realizada em 1997, que resultou no protocolo de Kyoto, procurava obter dos países centrais metais de redução de dióxido de carbono. Esse protocolo não alcançou os fins desejados pois, os E.U.A., responsável por aproximadamente um quarto da emissão de dióxido de carbono na atmosfera, recusaram-se a assiná-lo. 31 Por outro lado, a preocupação entre desenvolvimento econômico e o respeito ao meio ambiente uniu definitivamente a maioria dos movimentos ecológicos com a maioria dos movimentos que lutavam pelo respeito aos direitos humanos. Afinal, as mudanças climáticas patrocinadas pelo próprio homem atingiam as populações de maneira assimétrica. Com efeito, boa parte dos desequilíbrios ecológicos atingem de maneira mais acentuada os mais pobres. Essas catástrofes ambientais obrigam, às vezes, a grandes deslocamentos humanos, fazendo surgir o já denominado refugiado ambiental. Dessa forma, conforme já mencionado, a Declaração do Rio de 1992 e a Agenda 21, mencionaram expressamente constituir um direito humano inalienável o desenvolvimento ambientalmente sustentável demonstrando a inexorável conexão entre proteção ambiental e respeitos aos direitos fundamentais. A declaração do Rio estabeleceu, em seus princípios, que os Estados, no exercício de sua soberania, têm o direito de “ explorar seus próprios recursos naturais”, mas também o “ dever de controlar atividades de forma a não prejudicar o território de outros”. Estavam lançadas as bases normativas do desenvolvimento sustentável. Esse documento, por outro turno, privilegiou a atuação preventiva do Estado de modo que se evitasse danos ambientais previsíveis ou possíveis ou prováveis . 32 30 Cf. CARVALHO, Edson Ferreira. op. cit. p. 30. 31 Cf. Id., ibid., p. 30. 32 Cf. RIOS, Aurélio Virgílio Veiga Rios & Derani, Cristiane. op. cit., p.89. Ademais, recentemente com a publicação do IPCC , painel intergovernamental sobre 33 mudanças climáticas, premiado com o Nobel da Paz, reconheceu-se cientificamente que o aquecimento global é fruto da atividade humana e que esse aquecimento trará conseqüências climáticas que colocariam em risco milhares de vidas humanas. Nesse documento também ficou estabelecido que o Brasil atualmente contribui de maneira significativa para o fenômeno , 34 principalmente através da queima de florestas para sua conversão em pastos e lavouras. Aula – Revolução Industrial 4.0 Indústria 4.0: entenda o que é a quarta revolução industrial A expressão criada por Klaus Schwab é uma mudança de paradigma que está transformando a forma como consumimos e nos relacionamos – entenda os impactos para o seu emprego e para a economia A quarta revolução industrial , ou Indústria 4.0, é um conceito desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab, diretor e fundador do Fórum Econômico Mundial. Hoje, é uma realidade defendida por diversos teóricos da área. Segundo ele, a industrialização atingiu uma quarta fase, que novamente “transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos”. É, portanto, uma mudança de paradigma, não apenas mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico. A revolução informacional – ou terceira revolução industrial – trouxe eletrônicos, tecnologia da informação e das telecomunicações. Utilizando estas tecnologias como fundação, a 33 Disponível em http://www.ipcc. disponívelaos 10/12/2007 34 Frise-se no entanto, que do ponto de vista cumulativo, ou seja, desde o início das atividades econômicas que lançavam na atmosfera o dióxido de carbono, os países que participaram mais intensamente na revolução industrial contribuíram de maneira mais significativo, tornando a participação brasileira bem modesta no conjunto da obra. indústria 4.0 tende a ser totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais. É a chamada “fábrica inteligente”. “A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital", esclarece Schwab, em seu livro A Quarta Revolução Industrial. As tecnologias que fazem parte do conjunto da Indústria 4.0 não estão restritas aos universos da nanotecnologia, neurotecnologia, biotecnologia, robótica, inteligência artificial e armazenamento de energia. A primeira revolução industrial, que surgiu na Inglaterra no fim do século XVIII, mudou o paradigma mundial por acelerar este processo, que era totalmente artesanal, a partir do uso de carvão, vapor e ferro. A produção atingiu patamares nunca antes vistos na época. Os britânicos tornaram-se a principal potência mundial por conseguir produzir de forma barata e rápida produtos em todos os setores. A segunda revolução industrial ocorreu em meados do século XIX e teve como protagonistas a eletricidade, a química e o petróleo. O período foi marcado pela massificação da manufatura, e do desenvolvimento de tecnologias como o avião, refrigeradores, alimentos enlatados e os primeiros telefones. A terceira revolução industrial, por sua vez, é algo mais próximo das gerações atuais. A partir da segunda metade do século XX, a informação se tornou uma importante matéria prima. Os primeiros computadores surgiram e aumentaram a velocidade para se realizar qualquer processo de desenvolvimento científico. Portanto, revolucionou os avanços em todas as áreas do conhecimento. Desde a manipulação atômica até a tecnologia espacial só foram possíveis com o auxílio de um maquinário digital inovador. Ainda é cedo para prever todos os impactos que serão causados pela quarta revolução SOCIEDADE 5.0 Se algumas pessoas ficam assustadas com a velocidade do desenvolvimento tecnológico no mundo atual, o conceito de sociedade 5.0 vem para trazer algum tipo de alívio. Esqueça aquele medo de distopias, em que a inteligência artificial evolui de tal modo que as máquinas tomam o controle do planeta. Na sociedade 5.0, o foco do desenvolvimento de soluções tecnológicas é o bem-estar humano , a qualidade de vida e a resolução de problemas sociais. Pode parecer ficção científica, mas a verdade é que, em termos de complexidade tecnológica, essa é uma realidade bastante palpável. O maior desafio não é técnico, e sim a mobilização entre autoridades, desenvolvedores da tecnologia e cidadãos em torno do objetivo comum de tornar a sociedade 5.0 real. Neste texto, vamos abordar os seguintes tópicos: o O que é Sociedade 5.0? o O que é Smart City? o Como surgiu o conceito de Sociedade 5.0? o Qual o objetivo da Sociedade 5.0? o Como funciona a Sociedade 5.0? o Principais desafios da Sociedade 5.0 o Os três valores principais da Sociedade 5.0 ○ Qualidade de vida ○ Inclusão ○ Sustentabilidade o Principais tecnologias relacionadas à Sociedade 5.0 o O Japão sai na frente na Sociedade 5.0 Quer entender o que é essa tal de sociedade 5.0 e qual a disrupção que ela promete causar no planeta? Siga a leitura Sociedade 5.0 é uma proposta de modelo de organização social em que tecnologias como big data, inteligência artificial e internet das coisas (IoT) são usadas para criar soluções com foco nas necessidades humanas. Esse modelo busca prover os serviços necessários para o bem-estar a qualquer hora, em qualquer lugar e para qualquer pessoa. Isso acontece graças ao planejamento de cidades totalmente conectadas , nas quais o ciberespaço se integra de maneira harmônica com o mundo físico. Trata-se de um projeto do governo japonês, que busca equilibrar o avanço econômico com a resolução de problemas sociais. Mais à frente, no tópico “Qual o objetivo da Sociedade 5.0?” explicamos melhor que tipo de problemas e desafios os japoneses pretendem resolver com a sociedade 5.0. Mas já podemos adiantar um exemplo para que você entenda melhor o conceito. A substituição dos veículos atuais (públicos e privados) por autônomos integra diversas tecnologias e traz benefícios evidentes. Entre eles, a redução no número de acidentes e a liberação dos motoristas da necessidade de dirigir (o que resulta em menos estresse). A sociedade 5.0 é possível graças às tecnologias avançadas que já são usadas hoje na indústria 4.0 – leia este artigo para saber mais. Smart City significa literalmente cidade inteligente , em inglês. O termo é utilizado para denominar as cidades conectadas, cujos espaços públicos e rotinas se tornam mais eficientes graças ao uso criativo e inteligente das tecnologias da informação. O objetivo é o mesmo que temos falado aqui: fazer com que a tecnologia traga benefícios aos cidadãos – e sem agredir o meio ambiente para que isso aconteça. Uma smart city, por exemplo, pode ter redes hidráulicas controladas por centrais remotas, transporte público integrado, sistemas elétricos autônomos e informações de big data para embasar a tomada de decisões do poder público. Existem vários exemplos de smart cities pelo mundo, ou pelo menos de iniciativas pontuais que colocam esses conceitos em práticas. Um case brasileiro é Águas de São Pedro, pequeno município no interior do estado de São Paulo que serviu como cobaia para algumas ações da iniciativa privada. Entre os benefícios trazidos pela hiperconexão no município, estava o sistema que permitia aos motoristas encontrarem vagas de estacionamento por um aplicativo no celular. Resumindo, a ideia de smart city é praticamente a mesma do conceito de sociedade 5.0 . A diferença é que o segundo termo foi criado pelo governo japonês para distinguir o momento atual dos anteriores na história da humanidade, como veremos a seguir. Como surgiu o conceito de Sociedade 5.0? Em janeiro de 2016, o governo japonês lançou o 5º Plano Básico de Ciência e Tecnologia , documento que define políticas de inovação a serem estimuladas pelo país entre 2016 e 2021. Dentro do plano, constava o conceito de sociedade 5.0, descrito como uma sociedade que o Japão deveria aspirar no futuro . Por que 5.0? Você deve estar se perguntando. Porque sucede outros quatro momentos da sociedade humana, que foram os seguintes: o Sociedade da caça (1.0): quando a espécie surgiu, os seres humanos eram caçadores-coletores. Viviam um estilo de vida nômade, migrando quando a oferta de alimentos do meio em que estavam se tornava escassa. o Sociedade da agricultura (2.0): o desenvolvimento de técnicas de cultivo de alimentos foi uma revolução na humanidade, pois marcou a transição do modo de vida nômadepara o sedentário e possibilitou uma explosão populacional no planeta. o Sociedade industrial (3.0): o surgimento dos motores a vapor resultou na revolução industrial, no aumento na produção de bens de consumo e no Antropoceno (o impacto da atividade humana no clima, devido à emissão de gases do efeito estufa das máquinas). o Sociedade da informação (4.0): com a aparição dos computadores, o mundo ficou digital. Na Era da Informação , passou a ser possível processar uma grande quantidade de dados e se comunicar em tempo real com pessoas de qualquer canto do planeta. Já a sociedade 5.0 é a evolução da 4.0, com os computadores e a hiperconexão resultando em um modo de vida mais inteligente, eficiente e sustentável . Já estamos nessa fase? Podemos dizer que estamos no momento de transição, pois nenhuma revolução desse tamanho acontece de um dia para o outro. A sociedade 2.0, da agricultura, por exemplo, não surgiu quando o primeiro humano aprendeu a plantar e colher um alimento, mas sim quando essa prática passou a ser a principal fonte de alimentação de toda a humanidade. Qual o objetivo da Sociedade 5.0? Atingir uma Sociedade 5.0 implica em aplicar soluções para desafios que a tecnologia já traz Em um vídeo produzido pelo governo japonês para promover a ideia da sociedade 5.0, são citados alguns problemas e desafios que a implementação de tecnologia sofisticada e avançada promete resolver ou reduzir os danos das consequências que eles causam: o Declínio da taxa de natalidade e envelhecimento da população o Desafios ambientais o Concentração urbana o Falta de mão de obra o Desastres e terrorismo o Revitalização regional. O site do Cabinet Office, agência comandada pelo primeiro-ministro japonês, lista outros problemas combatidos pela tecnologia na sociedade 5.0 e apresenta as soluções a serem adotadas: Como funciona a Sociedade 5.0? O esforço institucional e político é um desafio muito superior à evolução da técnica rumo à Sociedade 5.0 Segundo informações do Cabinet Office, a sociedade 5.0 alcança um alto grau de convergência entre o espaço virtual (ciberespaço) e real (espaço físico). Fica mais fácil entender se compararmos com a sociedade 4.0, na qual nós acessamos bancos de dados na nuvem (que fica no ciberespaço), via internet, para encontrar e analisar informações. Na sociedade 5.0, esses dados acumulados no ciberespaço são analisados pela inteligência artificial , o que resulta em diversas formas de interação com os humanos no espaço físico. Pessoas, objetos e sistemas são conectados para otimizar os resultados e produzir valores que, antes, não era possível obter. Ainda está tudo muito abstrato? Então, vamos esclarecer com exemplos. Abaixo, vamos apresentar ideias de funcionalidades que a sociedade 5.0 deve trazer à rotina humana. o Drones: os veículos aéreos não tripulados devem ser cada vez mais usados na entrega de mercadorias e no atendimento a desastres. o Smart home: é o mesmo conceito das smart cities, mas aplicado nas casas, com a internet das coisas e inteligência artificial tornando os lares mais conectados, eficientes e confortáveis. o Medicina robotizada: na medicina e enfermagem, robôs erram menos e não cansam, Por isso, serão fundamentais para encarar o desafio do envelhecimento da população. o Trabalho pesado: os robôs também assumirão trabalhos pesados (na agricultura, construção e limpeza), eliminando a necessidade de humanos ocupando essas posições desgastantes e degradantes. o Gestão inteligente na nuvem: soluções da computação em nuvem vão beneficiar pequenas e médias empresas, assim como empreendedores individuais, que terão gestão mais profissional e eficiente. o Veículos autônomos: antes de carros autônomos privados, é provável que vejamos essa tendência sendo colocada em prática no transporte coletivo e no transporte de cargas. Principais desafios da Sociedade 5.0 Startups com propósito social miram em problemas historicamente abordados pela administração pública Além dos desafios sociais que a sociedade 5.0 promete ajudar a resolver, quais são os principais obstáculos para a implementação desse modelo proposto pelos japoneses? Como mencionamos antes, as maiores dificuldades não serão técnicas, o que pode surpreender muita gente. Várias das tecnologias da sociedade 5.0 já foram desenvolvidas (algumas até são utilizadas por nós no dia a dia) ou estão em estágio avançado de desenvolvimento. A que será mais importante é a evolução da mentalidade individualista que prepondera na sociedade atual para um pensamento de colaboração, cocriação e busca do bem comum. Atualmente, boa parte das empresas de tecnologia ainda colocam o lucro em primeiro lugar na lista de prioridades. É uma realidade que, aos poucos, está mudando. No Vale do Silício, têm conquistado mais espaço as startups com forte propósito social, de construir uma sociedade melhor e preservar o meio ambiente. Esses empreendedores sabem, afinal, que o bem-estar geral da população é um indicador positivo também para os negócios. Mas não devem ser somente as empresas a se preocuparem com o desenvolvimento da sociedade 5.0. É necessário o envolvimento e a liderança do Estado , melhorando suas práticas de gestão pública, planejando a integração das tecnologias e criando novas legislações para uma transição segura à era da sociedade super inteligente. Por último, mas não menos importante, os cidadãos que não são nem empreendedores, nem representantes da administração pública também devem se engajar no projeto, compreendendo e apoiando a nova mentalidade. Os três valores principais da Sociedade 5.0 Avanços em qualidade de vida, inclusão e sustentabilidade condicionam a implantação da Sociedade 5.0 A sociedade 5.0 será sustentada por vários pilares conceituais que agregam as ideias de que temos falado neste artigo. A seguir, vamos expor três dos principais valores-chave desse novo modo de vida, para que fique mais claro qual é a intenção de seus idealizadores. Qualidade de vida A meta é que nossas vidas se tornem mais confortáveis, independentemente de nossa idade ou gênero. Nosso dia a dia deve se tornar mais divertido e feliz. O trabalho pesado deve ser praticamente eliminado graças à automação, permitindo que utilizemos nosso tempo para realizar tarefas mais agradáveis e cheias de significado. A saúde avançará com o big data, robôs, biogenética e outras tecnologias, permitindo viver com maior qualidade de vida até uma idade avançada. As cidades também serão mais seguras e convenientes, muito menos estressantes, perigosas e nocivas à saúde do que são atualmente. Inclusão Uma pessoa que tem bastante dinheiro possivelmente não se identifica com os principais problemas sociais e econômicos de que temos falado aqui. Essa é uma característica da sociedade atual: é preciso ter um bom poder aquisitivo para ter qualidade de vida, conforto, saúde, segurança, etc. O objetivo da sociedade 5.0 é construir um mundo menos excludente , em que todos têm acesso igual aos benefícios que a tecnologia trará. A inclusão é um valor-chave pois, caso não fosse, a desigualdade provavelmenteseria acentuada na sociedade 5.0. Afinal, nesse cenário, o domínio da tecnologia seria cada vez mais uma ferramenta para subjugar a população das camadas mais pobres. Sustentabilidade A sociedade do consumo foi o pano de fundo de muitos avanços. A competição entre empresas resultou em invenções sem as quais não conseguimos nos imaginar hoje em dia. Só que essa lógica trouxe outro efeito: a exploração sem controle dos recursos do planeta para que a produção e consumo continuassem eternamente em crescimento. O resultado foi a degradação de ecossistemas, extinção de espécies, escassez de recursos e mudanças climáticas. Na sociedade 5.0, a sustentabilidade é uma premissa para a evolução e adoção das tecnologias. A principal faceta desse valor é a expansão das energias renováveis e o abandono de combustíveis fósseis – a ascensão dos carros elétricos, por exemplo, já começou. Principais tecnologias relacionadas à Sociedade 5.0 Já existe a perspectiva de superação técnica dos obstáculos de eficiência e de distância Quer saber mais sobre as tecnologias da sociedade 5.0 que mencionamos aqui? Entenda agora! o Inteligência artificial: é a capacidade de máquinas e sistemas tomarem decisões sem a interferência humana. Outra tecnologia, o machine learning, permite às máquinas aprenderem com a experiência adquirida. o Internet das coisas: também conhecida pela sigla IoT ( internet of things ), é a tecnologia que permite que objetos (como eletrodomésticos) estejam conectados à rede e funcionem de maneira mais eficiente por meio da coleta e interpretação de dados. o Computação em nuvem: com essa tecnologia e graças ao aumento na velocidade de conexão, sistemas complexos podem ser executados em hardwares cada vez menores. o Energias renováveis: para que as máquinas e robôs funcionem, é preciso da geração de energia. A diferença é que, na sociedade 5.0, não serão utilizados recursos energéticos finitos, como petróleo e carvão, mas sim renováveis, como o sol e o vento. o Robótica: robôs com inteligência artificial e machine learning tomarão conta dos serviços pesados na agricultura, limpeza e outros ramos, diminuindo os acidentes de trabalho envolvendo seres humanos. o Telemedicina: cada vez menos será necessária a presença física de médicos e outros profissionais da saúde. Atendimentos e até mesmo cirurgias complexas poderão ser conduzidas remotamente. o Veículos autônomos: para que os veículos (de transporte de pessoas e cargas) funcionem sem piloto, eles utilizam várias tecnologias de que falamos aqui: inteligência artificial, internet das coisas, computação em nuvem e energias renováveis. O Japão sai na frente na Sociedade 5.0 O Japão apresenta grande esforço institucional para alcançar a Sociedade 5.0 Se analisarmos as características demográficas e geográficas do Japão, fica fácil de entender por que é o lugar ideal para o começo dessa experiência. É um país que enfrenta há muito tempo a queda na taxa de natalidade e o envelhecimento da população. É também um país insular – isto é, tem seu território distribuído em ilhas – de pouca área territorial e alta densidade demográfica. Além disso, seus recursos naturais são escassos, o que demanda uma grande eficiência na produção de alimentos. Para completar, tem uma indústria de tecnologia extremamente desenvolvida e um povo acostumado a lidar com esse tipo de novidade. O Japão possui, portanto, vários dos desafios e das vantagens necessários para a sociedade 5.0 dar certo. Conclusão Você nunca parou para pensar como que o ser humano conseguiu evoluir tanto em termos de desenvolvimento tecnológico e ao mesmo tempo o mundo ainda está repleto de mazelas sociais? Pois o desenvolvimento da sociedade 5.0 vem justamente para corrigir essa contradição. A proposta é construir uma sociedade mais igualitária e inclusiva, que garanta o bem-estar de todos, a partir do uso inteligente da tecnologia. Inteligência artificial, computação em nuvem e big data são algumas das tecnologias em ascensão que terão papel fundamental nesse novo modelo de organização social . Já abordamos vários desses assuntos em outros artigos. Então, se você tem interesse em saber mais sobre o impacto do desenvolvimento tecnológico nas nossas vidas, navegue pelo nosso blog e amplie seu conhecimento. BIBLIOGRAFIA: Barbosa, Alexandre de Freitas. O Mundo globalizado. São Paulo editora Contexto.
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