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Contexto Histórico A Europa na época da Idade Média estava totalmente desestruturada, enfrentava uma séria crise no século XV. A população estava sendo dizimada pela peste negra, trazida da Ásia; as cidades estavam submetidas a condições precárias; havia inúmeras revoltas camponesas; os pesos e medidas não eram unificados, o que desfavorecia a ação dos burgueses. Durante o Renascimento, as cinco principais potências na península Itálica eram: o Ducado de Milão, a República de Veneza, a República de Florença, o Reino de Nápoles e os Estados Pontifícios. Eram incapazes de se aliar durante muito tempo estando entregues às disputas, e, por suas riquezas, eram atrativos para as demais potências européias do período, principalmente Espanha e França. A política italiana era, portanto, muito complexa e os interesses políticos estavam sempre divididos. Em Portugal, a burguesia composta em mesteirais juntamente com as classes populares da cidade de Lisboa, ajudaram D. João I, a conquistar o poder nas cortes de coimbra de 1385, representando a vitória da classe mercantil, que iria patrocinar os descobrimentos maritimos, tendo como conseqüência o Pioneirismo Português na expansão marítima. A Espanha conheceu em 1469 a unificação política com o casamento da rainha Isabel de Castela com o rei Fernando de Aragão. Unificado, o reino espanhol reuniu forças para completar a expulsão dos mouros e, com a ajuda da burguesia, lançar-se às grandes navegações marítimas. Na França, o longo processo de centralização do poder monárquico atingiu seu ponto culminante com o rei Luís XIV, conhecido como "Rei Sol", que reinou entre 1643 e 1715. A ele atribui-se a célebre frase "o Estado sou eu". Ao contrário de seus antecessores, recusou a figura de um "primeiro-ministro", reduziu a influência dos parlamentos regionais e jamais convocou os Estados Gerais. Na Inglaterra, o absolutismo teve início em 1509 com Henrique VII, que apoiado pela burguesia, ampliou os poderes monárquicos, diminuindo os do parlamento. No reinado da Rainha Isabel I, o absolutismo monárquico foi fortalecido, tendo iniciado a expansão marítima inglesa, com a colonização da América do Norte. Contudo, após a Guerra Civil Inglesa, o Absolutismo feneceu em Inglaterra, com o rei gradualmente perdendo poderes em favor do Parlamento. O Absolutismo era realmente necessário? Para a época, sim. As revoltas camponesas assustavam toda a população, a nobreza detinha a maior parte do poder, os pesos e medidas não eram unificados, enfim tudo estava desestruturado. Era preciso, então, um governo autoritário, que pudesse pôr fim à desorganização. Assim, surgiu a política absolutista: o chefe do governo aumentou o poder de ascensão da burguesia, unificou pesos e medidas, diminuiu os privilégios da nobreza e também as revoltas dos servos. Hoje, por exemplo, o absolutismo não teria conveniência alguma, foi por isso que ele teve fim na época posterior ao iluminismo. Biografia Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália,no dia 3 de maio de 1469 e morreu também em Florença, aos 58 anos, no dia 21 de junho de 1527. Maquiavel estava inserido no contexto do Renascimento italiano e viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Seus pais, Bernardo Maquiavel e Bartolomea Nelli, eram de origem Toscana. Seu pai era jurista e tesoureiro de uma província italiana e sua mãe próxima a uma família nobre de Florença. Maquiavel era o terceiro dos quatro filhos do casal. Embora seus poucos recursos, Maquiavel sempre se interessou pelos estudos. Estudou o latim, ábaco e fundamentos da língua grega antiga. Os conceitos da Antiguidade Clássica influenciaram o seu pensamento, principalmente o conceito de virtù e fortuna. Maquiavel tornou-se um importante historiador, diplomata, músico, filósofo e politico italiano. Aos 29 anos de idade, Maquiavel entrou para a política com o cargo de Secretário da Segunda Chancelaria (um dos órgãos auxiliares da Senhoria, encarregado das guerras e politica interna). Exercendo esse cargo, durante pouco mais de 14 anos,observou o comportamento de grandes nomes da época e retirou alguns postulados para sua obra. No ano de1501, casou-se com Marietta di Luigi Corsim. Dessa relação teve seis filhos. Em 1512, com o fim da república, perdeu o seu cargo. No ano seguinte foi preso e torturado por conspirar contra a eliminação do cardeal Giovanni de Médici. Posteriormente foi exilado, período no qual se dedicou a escrever suas principais obras. Após esse período o papa Leão X concedeu-lhe anistia e Maquiavel retornou a Florença. Em Florença exerceu alguns cargos importantes, mas abaixo de seu cargo na Segunda Chancelaria. Por fim,sua morte em Florença, no ano de1527,se deu devido a uma apendicite. Maquiavel morreu na pobreza e afastado do poder. Obra – O Príncipe O Príncipe é um livro escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, cuja primeira edição foi publicada postumamente em 1532. Trata-se de um pequeno manual da conduta de príncipes, no mesmo estilo do Institutio Principis Christiani de Erasmo de Roterdã: descreve as maneiras de conduzir-se nos negócios públicos internos e externos, e fundamentalmente, como conquistar e manter um principado. Maquiavel deixa de lado o tema da República que será mais bem discutido nos Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Em vista da situação política italiana no período renascentista, existem teorias de que o escritor, tido como republicano, tenha apontado o principado como solução intermediária para unificar a Itália, após o que seria possível a forma republicana. O tratado político possui 26 capítulos, além de uma dedicatória a Lorenzo II de Médici (1492–1519), Duque de Urbino. O livro pretendia ser uma forma de ganhar confiança do duque, que lhe concederia algum cargo. No entanto, Maquiavel não alcança suas ambições. É neste livro que surge a famosa expressão os fins justificam os meios, significando que não importa o que o governante faça em seus domínios, desde que seja para manter-se como autoridade. O autor inicia com uma breve dedicatória do livro ao "Magnífico Lourenço de Médicis". Em seguida, começa a tratar de um assunto se estende por grande parte da obra: os principados. Vale ressaltar a definição de Estado segundo Maquiavel:"...todos os governos que tiveram e têm autoridade sobre os homens, e são ou repúblicas ou principados…"(cap. I). Em seguida, o autor propõe-se a examiná-los com profundidade, de acordo com suas características, inicialmente os hereditários e os mistos. Sobre estes, é interessante ressaltar de sua análise que estes são os menos tangíveis de dominação por parte de um usurpador qualquer e também os de maior capacidade de conservação de poder, devido a força existente no comando de um príncipe de uma linhagem de comando já tradicional. A respeito dos principados mistos, pode-se dizer que sejam um desdobramento, uma continuação, de um Estado já existente, "...Estados, que conquistados, são anexados a um Estado antigo..."(cap. III, número 3). Sobre estes, Maquiavel tem por ponto central a forma de controle, que pode ser fácil ou problemática. Nesse caso, aponta algumas soluções, tais como: eliminação da linhagem de nobres que os dominava e não alteração da organização de leis e impostos preexistente, instalação de colônias ou a mudança do novo dominador para o local conquistado. Mas deve ficar bem claro que o ponto central de apoio a um novo Estado dominante é que os povos dominados (e também seus vizinhos) o apoiem. Aliás, na questãodas leis, o autor dedica um capítulo da obra para tratar apenas desse assunto, apontando a maneira com que se deve governar as cidades ou principados que, antes da conquista, tinham leis próprias. A partir daqui, o autor inicia a utilização de diversos exemplos para ilustrar as características que propõe a descrever a partir daqui. Neste caso dos principados mistos, um nome bastante comentado é o de Luís XII. Depois da discussão a respeito dos principados, o autor entra em uma parte que pode ser considerada intermediária na obra. Discorre sobre as milícias e exércitos, os quais afirma serem as bases principais de sustentação do poder, ao lado de boas leis, e ambos têm uma forte ligação entre si. A respeito dos tipos de milícias, podem ser de quatro tipos: próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. As mercenárias e auxiliares são de nenhuma utilidade e transmitem grande perigo, devido ao vínculo praticamente ausente com os que defendem. Deve-se sempre fugir destas milícias pois a verdadeira vitória só é saboreada se conquistada com as próprias armas, sem levar em conta o prestígio alcançado entre os soldados e súditos desta maneira. Sobre os deveres do príncipe para com seus exércitos, Maquiavel afirma que a arte da guerra deve ser sempre exercitada, tanto com ações como mentalmente, para que o Estado esteja sempre preparado para uma emergência inesperada e, também, para que seus soldados o estimem e possam ser de confiança. Depois da discussão das milícias, Maquiavel inicia a terceira e última parte de sua obra: a discussão sobre como devem ser as características da personalidade dos príncipes, inicialmente pelas quais são louvados ou vituperados. Da leitura do texto, se conclui que os príncipes não devem tentar reunir todas as qualidades consideradas boas, pois a sensibilidade humana não permite que sejam todas distintas e acrescentem muito a opinião dos súditos a seu respeito, mas se concentrar em absorver aquelas que lhe garantam a manutenção do Estado. Mas a questão a qual o autor mais se atém é que o príncipe deve evitar de todas as maneiras adquirir duas delas: o ódio e o desprezo de seus súditos. Maquiavel, sobre os principados novos Maquiavel inicia O Príncipe com o pressuposto de que todos os domínios que já exerceram poder sobre os homens foram repúblicas ou principados. A obra em questão refere-se, todavia, à análise dos segundos, classificados por ele como hereditários, quando dirigidos pela mesma linhagem durante muito tempo, ou novos, total ou parcialmente; caso dos principados mistos, em que um principado hereditário anexa outro domínio. Segundo o autor, os hereditários são principados habituados à linhagem de seu príncipe, fato que facilita a governabilidade; enquanto os outros, mais acostumados à liberdade, tornam mais árdua sua conquista e posterior manutenção do poder. No primeiro caso, para preservar sua posição, bastaria que os novos governantes, inclusive os menos capazes, mantivessem a ordem instituída pelos antepassados, apenas administrando os eventuais acidentes. Seu status poderia ser subtraído somente por forças extraordinárias, todavia seria facilmente retomado ao menor revés do usurpador. Além disso, um príncipe hereditário dificilmente ofenderia seus súditos, sendo mais naturalmente benquisto, desde que não possua vícios excepcionais. Com a “continuidade do poder, apagam-se as lembranças e as razões das alterações; pois sempre uma mudança deixa preparadas as fundações da outra” (p.6). Maquiavel localiza, assim, as maiores dificuldades de governo nos principados novos, mistos ou não, onde os homens já estão acostumados com mudanças e até as apreciam, “acreditando com isso melhorar. Esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual”, mas posteriormente “percebem o engano, pela própria experiência de ter piorado” (p.7). Novas conquistas trazem muitos inimigos, pois sempre acarretam inúmeras ofensas àqueles a quem se passa a governar; particularmente aos apoiadores da empreitada, devido à impossibilidade de atender suas expectativas ou, por outro lado, de combatê-los diretamente, por conta das obrigações devidas: mesmo com exércitos fortes há que se contar com o apoio dos habitantes para invadir uma província. A consequência desse panorama é, obviamente, o aumento da instabilidade e dos riscos de rebelião. O autor descreve detalhadamente as dificuldades características dos principados novos, analisando exemplos concretos, propondo táticas e soluções. Subdivide os contextos conforme a similaridade ou não dos costumes, língua e instituições, relativamente àqueles do príncipe: caso estes sejam iguais ou similares, a adaptação da população provavelmente será mais fácil; quando muito diferentes, porém, uma escolha prudente para o príncipe seria a manutenção das leis e dos impostos vigentes, e a aniquilação da linhagem anterior. Além disso, em lugar de um exército permanente - dispendioso e gerador de conflitos -, o ideal seria a criação de colônias próximas, ou a mudança do próprio conquistador para o local; propiciando, assim, mais razões para temê-lo e admirá-lo, maior controle sobre eventuais desordens e sobre a espoliação de bens por parte de funcionários. Há que se observar ainda que “os homens devem ou ser mimados ou aniquilados, porque, se é verdade que podem se vingar das ofensas leves, das grandes não o podem; por isso, a ofensa que se fizer a um homem deverá ser de tal ordem que não se tema a vingança” (p.10). Quanto à manutenção do poder, Maquiavel também ressalta que o príncipe deveria defender seus vizinhos mais fracos, enfraquecer os mais influentes de sua província e inclusive procurar evitar a presença de forasteiros muito poderosos. Dessa forma, poderá agregar os menos influentes, sempre cuidando, porém, para que estes não alcancem excessiva força e autoridade. “Assim, com as próprias armas e o apoio deles, facilmente poderá o príncipe rebaixar os mais fortes, ficando como árbitro de todas as coisas naquela província” (p.11). Em suma, para Maquiavel, dentre os tipos de principados, são os novos aqueles que oferecem maiores dificuldades para conquista e posterior manutenção do poder. Segundo o autor, essa empreitada demanda um conquistador com grande habilidade e capacidade para administrar os inúmeros problemas que podem surgir; exigindo grande fortuna e virtù de sua parte. NICOLAU MAQUIAVEL – O Príncipe (RESUMO) Maquiavel reflete o espírito do Renascimento em três de suas características essenciais: ao acentuar, e mesmo exagerar, o papel dos líderes, traduz o relevo particular que a época empresta ao indivíduo; ao preocupar-se com a ação, inspira-se no sentido renascentista voltado para o dinamismo, em contraste com a era medieval, no qual o imobilismo do espaço se sobrepunha ao ritmo do tempo; e, ao retornar aos antigos, para sorver-lhes a sabedoria, enquadra-se na atitude que deu à Renascença o seu próprio nome. Este caráter exemplar da antiguidade decorria, para Maquiavel, na crença da constância da natureza do homem e na admiração pelas virtudes da Roma Republicana que, por força da sua visão cíclica da história, esperava ver renascer. A partir dessa nova ética – e a necessidade de apontar para uma ética maquiavélica, é mais um dos paradoxos daquele que é considerado a encarnação do imoralismo – Maquiavel retorna, e transforma em símbolo, o conceito de virtù, deusa pagã, a ela apenas se referindo em sua forma italiana e no singular,em contraste com o plural latino virtudes, de origem cristã. O PRÍNCIPE – No exílio, ao enviar sua carta a Lourenço de Médici (1492-1519), Maquiavel declara explicitamente que está escrevendo um manual de conselhos para os príncipes e, de modo particular, para o novo príncipe de Florença, da família Médici, acerca de como manter o controle sobre um principado e de como governá-lo e também na esperança de conseguir um cargo na nova administração. Capítulo I 1) Quantas espécies de principado descreve Maquiavel e quais são elas? Ele identifica três tipos de principados: os hereditários, os novos e os mistos. 2) Como poderia um príncipe conseguir um principado? Um novo príncipe poderia conseguir um principado por conquista, por fortuna (sorte) ou por virtù. Capítulos II e III 1) Por que é mais difícil um novo príncipe manter o poder do que um governante hereditário? O novo príncipe terá de procurar apoio e impedir que as facções tradicionais se tornem muito fortes. 2) Que métodos, pode o príncipe utilizar para manter o poder nos territórios de que se apossou? Se os territórios recém conquistados forem semelhantes ao Estado existente, o governante deverá fazer desaparecer a linha dinástica do Senhor que neles imperava, mas deixar inalteradas suas leis e seus impostos. Se os territórios acabados de conquistar forem diferentes do Estado antigo, seria prudente que o novo príncipe neles passasse a residir; que estimulasse a colonização, que guarnecesse o território e manipulasse as potências vizinhas, de modo a tornar temerária a sua invasão. 3) Que exemplos apresenta Maquiavel de governantes que anexaram territórios alheios com sucesso? E sem sucesso? Os antigos romanos anexaram com sucesso territórios alheios, ao passo que as tentativas de Luís XI da França nesse sentido não foram coroadas de êxito. CAPÍTULO VII 1) Maquiavel cita exemplos de um príncipe que conquistou o poder por meio de sua própria virtù e de outro que o conseguiu por sorte. Quais os exemplos que apresenta? Francisco Sforza, Duque de Milão, é citado como exemplo de um príncipe que ascendeu ao poder por virtù própria; César Borgia, Duque da Romanha, é apresentado como exemplo de quem conquista o poder por sorte (fortuna). 2) Para manter-se no poder, que ações um príncipe faria bem em imitar? César Bórgia CAPÍTULO X 1) Como se deveria avaliar o poder de um principado? Meramente em termos de sua força militar 2) Quais as cidades que possuíam excelentes fortificações? As cidades da Alemanha CAPÍTULO XI 1) Maquiavel é de opinião que o governo de um principado eclesiástico revela ser mais fácil ou mais difícil? Que razões dá ele para reforçar este ponto de vista? Maquiavel considera menos difícil governar um principado eclesiástico, porque o direito auferido pelo governante de exercer o poder teria o apoio das instituições religiosas. O poder permanecerá com a Igreja, mesmo que o governante, por si mesmo, aja sem contar com a fortuna e a virtù. CAPÍTULOS XII e XIV 1) Quais são os fundamentos essenciais de um Estado? Boas leis e boas armas 2) O que é de primordial importância para a segurança de um Estado? Um exército próprio 3) Qual a arte que é de muitíssima utilidade a um príncipe? A arte da guerra CAPÍTULO XVI 1) Deve um príncipe ser pródigo ou miserável? De início ele deverá ser liberal (ou, pelo menos, ter esta reputação) para alcançar o poder; mas, uma vez no poder, convém que seja avaro, o que evitará que ele tenha de sobrecarregar de impostos os seus súditos. O príncipe deve ser pródigo com as riquezas advindas de territórios conquistados – recompensando tanto os soldados como os cidadãos. 2) O que deve um príncipe evitar? O ódio e a ignomínia CAPÍTULO XVII 1) Deve o príncipe ser cruel ou piedoso? Um príncipe não deve ser cruel indiscriminada ou gratuitamente. Há casos em que a crueldade é, de dois males, o menor; por exemplo, seria preferível que o príncipe mandasse executar os desordeiros, evitando a possibilidade de uma guerra civil e preservando a prática da lei e da ordem. Uma compaixão excessiva por parte de um príncipe (e, em especial, por parte de um novo príncipe) pode aumentar, em determinadas circunstâncias, a instabilidade e a ineficiência de seu regime. 2) É preferível que ele seja amado ou que seja temido? O príncipe deve esforçar-se por ser ao mesmo tempo amado e temido, mas, por causa da natureza ingrata e caprichosa do homem, é essencial que, pelo menos, seja temido. 3) O que ele deve evitar? Ele não deve apoderar-se da propriedade ou das esposas dos seus súditos, pois isto nunca lhe será perdoado. 4) A reputação de crueldade será desvantajosa para ele? Num líder militar, uma tal reputação pode constituir uma vantagem positiva para a disciplina das tropas. CAPÍTULO XVIII 1) Devem os príncipes manter suas promessas? Apenas quando seja conveniente fazê-lo 2) Por que deve o príncipe estar pronto a agir como um animal? A primeira responsabilidade de um príncipe é a de permanecer no poder. Consegue-o, por vezes, empregando meios legais; mas há casos em que ele se vê obrigado a recorrer à força bruta. Deve imitar, da raposa, a astúcia, a fim de poder distinguir as armadilhas, e, do leão, a ferocidade e a força, para afugentar o inimigo. 3) Um príncipe pode permitir-se ser virtuoso? Não é prudente que um príncipe seja virtuoso, já que tem de lidar com homens perversos. Deve assumir apenas a aparência da virtude. CONCLUSÃO: A contribuição mais marcante que Maquiavel deixou como cientista político, foi, talvez, a maneira franca com que separava a esfera política da religiosa. A política, tradicionalmente, não era considerada uma atividade autônoma. Virtù e Fortuna Maquiavel utilizou o conceito de virtù para referir-se a todo o conjunto de qualidades e possibilidades, sejam elas quais fossem, que pelo Príncipe poderiam ser utilizadas para a estabilidade e durabilidade de seu poder e para que se pudesse realizar grandes feitos. O conceito de virtù em “O Príncipe”, assim, denota a qualidade de flexibilidade moral que se requer de um príncipe, ou seja, ele deve ter uma mente pronta a se voltar para qualquer direção, conforme os ventos da Fortuna e a variabilidade dos negócios o exijam. Maquiavel não defendeu a ideia de que a virtude cristã não era boa, mas ela tornava impossível a construção de um governante e, consequentemente, de um Estado forte. Nesse sentido, Maquiavel concordava que esse termo se referia à qualidade necessária ao governante para vencer as incertezas da Fortuna ou da sorte, e buscar desse modo resultados como a honra, glória e fama. Fortuna caracterizava-se, para Maquiavel, como o acaso, a oportunidade, a sorte, as coisas que não podemos evitar. Virtù, antes de Maquiavel, denotava-se como “força”, em conceitos teocêntricos, referia-se às virtudes de um homem em relação à moral, caridade, humanismo, obediência a doutrinas, a fé na vida pós morte. Virtudes em sentido de qualidades para se alcançar a vida eterna, a força necessária para lutar contra os defeitos e pecados próprios. E Fortuna como uma predestinação divina, não um acaso, mas um destino ordenado por Deus. Origem do Estado e as formas de gov erno (Tipologia) Para alguns historiadores o Estado sempre existiu, assim como a sociedade, pois desde que o homem está na terra há uma organização social de poder e autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. Em outra concepção, o Estado surge na necessidade de regular a convivência e as necessidades dos grupos sociais. A denominação Estado (do latim “status” = estarfirme), significa situação permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece pela primeira vez em “O Príncipe” de Maquiavel, escrito em 1513, passando a ser usada por Italianos ligada sempre ao nome de uma cidade independente, como, por exemplo, “stato di firenza”. A forma mais antiga de governo baseado no número de governantes é a de Aristóteles, onde este distinguiu três formas de governo, sendo elas: A Monarquia, onde um único indivíduo exercia o poder supremo; a Aristocracia onde o governo era de alguns e um grupo exercia poder em relação ao outro; e a Democracia que era o governo do povo, de todos que visavam o interesse geral. Mas para Aristóteles, quando essas formas de governo exerciam a favor de seus interesses próprios, eles colocavam-se à disposição da degeneração; a monarquia para a tirania, a aristocracia para a oligarquia e a democracia para a demagogia. Passa-se então a classificação de Maquiavel que só reconheceu o governo denominado Principiado e República, onde no Principiado, o poder residia na vontade de um só governante; e a República era um governo voltado para uma vontade coletiva. Maquiavel acreditava na “lei dos ciclos”, alternando entre uma boa e ruim, o Estado quando degenerado não voltaria ao seu ciclo inicial, mas seria dominado por outro Estado. Para Maquiavel, os conflitos internos de uma sociedade devem ser regulados e controlados pelo Estado. Assim, quando houvesse uma relativa igualdade entre os cidadãos, deveria se constituir a República. Caso contrário, deveria constituir-se o Principado. Não ocorrendo assim, existirá um Estado desequilibrado e que não subsistirá por muito tempo. Estados intermediários são aqueles que estão entre a República e o Principado, e, portanto, são instáveis pois são duas partes conflituosas e que não chegam a uma constituição unitária. Mas Estado Intermediário não é um Estado Misto, veja após. O exemplo de Estado Misto dado por Maquiavel é a república romana que obteve equilíbrio dos três poderes (Monárquico, Aristocrático e Demo crático), garantindo a durabilidade da constituição e a liberdade interna dos cidadãos, essa última sendo condição primordial para a estabilidade do Estado. Os Principados se distinguem em Principados Hereditários e Principados Novos. No Principado Hereditário o poder é passado de pai para filho e nele estabelece-se duas formas de poder, o absoluto, onde não há intermédio de terceiros, e os que não são absolutos por dividirem-se com os Barões, onde há uma intermediação por parte da nobreza. E entre os Principados Novos há quatro espécies: pela virtù (capacidade), fortuna (sorte), pela violência e pelo consentimento coletivo, onde se tornam príncipes pela própria “virtù”. Para Maquiavel não existe classificação de formas boas e más de governo, o que caracteriza a forma é sua estabilidade, portanto: “Os fins justificam os meios”. Realismo Político Vs Idealismo Político ( Utópico) O idealismo pregava que: Os indivíduos são bons por natureza, seu interesse no bem-estar coletivo estimula o desenvolvimento por meio da cooperação possível; a guerra pode ser evitada. O utópico crê na obrigação da ética e no caráter, independente do direito do mais forte, e acredita na razão para justificar a submissão dos indivíduos em prol de um benefício para a maioria. O utópico sustenta, ainda, que ao visar seus próprios interesses, o indivíduo estaria visando o da comunidade, doutrina esta que ficou conhecida como “harmonia de interesses”. Maquiavel foi o primeiro importante realista político, e sua doutrina (que forma os fundamentos da filosofia realista) sustenta-se em três princípios essenciais: 1) a história é uma sequencia de causa e efeito; 2) a teoria não cria a prática, mas sim o inverso; e 3) a política não é uma função da ética, mas sim a ética o é da política. Maquiavel, sobre os principados novos NICOLAU MAQUIAVEL – O Príncipe (RESUMO)
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