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Aula 2 – características químicas da água Professora Weruska Brasileiro pH É um dos mais importantes parâmetros utilizados no tratamento da água. O pH representa o potencial hidrogeniônico que indica a intensidade de acidez ou alcalinidade de uma solução. O pH de uma solução aquosa é determinado como antilogaritmo da concentração hidrogenionica : pH = - log⌈ ⌉. Assim se ⌈ ⌉ = 10-5 mol/L, então o pH é 5. Em água pura, a concentração iônica do hidrogênio ⌈ ⌉ e da hidroxila ⌈ ⌉ são iguais, ou seja: ⌈ ⌉ = ⌈ ⌉ = 10-7 g-íon/L A unidade grama-íon representa o número de íons (6,02x10 23 ), conhecido como número de avogrado. Assim, o pH representa a atividade do íon hidrogênio na água, de forma logaritmizada, resultante inicialmente da dissociação da própria molécula da água e posteriormente acrescida pelo hidrogênio proveniente de outras fontes como efluentes industriais (ácidos sulfúrico, clorídrico, nítrico, etc), dissociação de ácidos orgânicos como o ácido acético, que resulta da “fase ácida” da decomposição anaeróbia da matéria orgânica, bem como outras substâncias que venham a apresentar reação ácida com o solvente (água). O pH torna-se importante por influir em diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente ou em processos unitários de tratamento de águas, tornando-se um parâmetro de controle operacional em estações de tratamento de água e estações de tratamento de esgoto principalmente as que utilizam processos anaeróbicos. Já que, o pH pode afetar o gosto, provocar corrosividade nas tubulações e nos dispositivos de recalque, influir fortemente na eficiência da cloração principalmente na sua ação bactericida, bem como nos processos de tratamento da água, especialmente na coagulação e nos processos oxidativos inclusive os biológicos. O pH também intervém danyl Realce na insolubilidade dos metais pesados, enfim o pH influi no grau de solubilidade de várias substancias, na distribuição das formas livres ou ionizadas de diversas produtos químicos, definindo inclusive o potencial de toxicidade de vários elementos químicos. Segundo a OMS, o pH pode gerar efeitos negativos na saúde do consumidor, quando as pessoas estão expostas a valores de pH inferiores a 4 ou superiores a 11 podendo apresentar irritação nos olhos, na pele e nas mucosas. Esses valores extremos são raros em corpos de água, mas pode acontecer em casos de graves contaminações devido ao lançamento de efluentes industriais. As águas naturais superficiais apresentam pH variando entre 6,0 a 8,5. Mas, as águas que apresentam valores elevados de cor verdadeira devido a dissolução de matéria orgânica natural como as substancias húmicas apresentam pH baixo geralmente menor que 5 que pode comprometer no processo de coagulação quando utiliza-se o coagulante primário sulfato de alumínio ou sais de ferro. Em função dessas influências nas características da água a resolução CONAMA 357/2004 estabelece restrições de faixas de pH para as diversas classes de águas naturais. É importante enfatizar a influência do pH nos processos unitários das estações de tratamento da água: A coagulação é um processo unitário dependente do pH; existe uma condição denominada “pH ótimo” de coagulação que corresponde à situação em que as partículas coloidais apresentam menor quantidade de carga eletrostática superficial. A influência nesta operação dependerá principalmente do coagulante uma vez que os sais de alumínio ou de ferro tem sua solubilidade variada em função do pH, por exemplo a solubilidade do sulfato de alumínio é mais baixa em pH entre 5 e 7, sendo esta a faixa ótima para realizar a coagulação, fora desse intervalo é impraticável a coagulação com o sulfato de alumínio. Outro processo unitário no tratamento da água que o pH interfere fortemente é no processo de cloração, pois a formação das substancias mais ativa na ação bactericida ocorre quando a cloração é efetuada em meio ácido favorecendo a formação do ácido hipocloroso, pois para o intervalo mais alcalino acima de 7,0 favorece a formação do danyl Realce danyl Realce ácido hipocloroso e íon hipoclorito. Uma vez que, o cloro gasoso em contato com água ocorre duas reações: hidrolise e ionização: Cl2 +H2O HOCl + H + + Cl -1 ( hidrólise) OCl -1 + H2O H + + ClO -1 ( ionização) O conjunto constituído por HOCl e OCl -1 é definido como cloro livre. O Ácido hipocloroso(HOCl) é o agente mais ativo na desinfecção, e o íon hipoclorito (ClO -1) possui um menor ação bactericida. O ácido hipocloroso se dissocia a diferentes valores de pH. A pH ou menor que 5, a dissociação é suspensa, e então o residual é devido somente ao HClO. A pH 7,5 as concentrações de HClO e ClO _1 são praticamente iguais, e a pH 10 ou superior, todo o cloro adicionado na água passa a ser devido a presença do íon hipoclorito. Como o pH da água tratada favorece a formação das duas espécies (HOCl e OCl -1 ) já que geralmente encontra-se próximo a faixa de neutralidade, é comum nas estações de tratamento de água possuírem reservatórios que promovam o tempo de contato para que ação das espécies de cloro livre possam promover a desinfecção, geralmente é comum manter um tempo de contato entre 20 a 30 minutos. Cabe ressaltar que a portaria de potabilidade N° 2914/2011 estabelece diversos tempo de contato que irá depender do tipo de desinfetante, do valor do pH e da temperatura (Ver anexo IV da Portaria N° 2914/2011) . Como já comentado anteriormente também ocorre um controle no pH da água de distribuição, pois para que evite a corrosão provocadas pelas águas ácidas, bem como as incrustações que ocorrem na presença de águas alcalinas. Por isso o pH da água final deve ser controlado, para que os carbonatos presentes sejam equilibrados e não ocorra nenhum dos dois efeitos indesejados mencionados. A Portaria de potabilidade ora em vigor estabelece padrão para pH em intervalo bastante amplo para as águas distribuídas para consumo humano, a faixa estabelecida é de 6,0 – 9,5. No tratamento físico-químico de efluentes industriais, muitos são os exemplos de reações dependentes do pH: a precipitação química de metais pesados ocorre em pH elevado; a oxidação química de cianeto ocorre em pH elevado; a redução do cromo hexavalente à forma trivalente ocorre em pH baixo que é a forma menos toxica; a oxidação química de fenóis em pH baixo; a quebra de emulsões oleosas mediante acidificação; o arraste de amônia convertida à forma gasosa se dá mediante elevação de pH, etc. Desta forma, o pH é um parâmetro importante também no controle dos processos físico-químicos de tratamento de efluentes industriais. Nos tratamentos biológicos de esgotos domésticos ou de efluentes industriais o pH também intervém decisivamente no processo. Normalmente, a condição de pH que corresponde à formação de um ecossistema mais diversificado e a um tratamento mais estável é a de neutralidade, tanto em meios aeróbios como nos anaeróbios. Nos reatores anaeróbios, a acidificação do meio é acusada pelo decréscimo do pH do lodo, indicando situação de desequilíbrio. A produção de ácidos orgânicos voláteis pelas bactérias acidificadoras e a não utilização destes últimos pelas bactérias metanogênicas é uma situação de desequilíbrio que pode ser devido a diversas causas. O decréscimo no valor do pH, que a princípio funciona como indicador do desequilíbrio, passa a ser causa se não for corrigido a tempo. Para a determinação de pH são disponíveis os métodos eletrométrico(eletrodo de pH ou pH-metro), o método comparativo utilizando-se o papel indicador universal de pH e “kits” utilizados em piscinas (indicadores colorimétricos em solução líquida). Em muitas situações do tratamento da água, ocorre a necessidade de se alterar o valor do pH das águas, de forma a atender a determinadas exigências. Para a elevação de pH, os compostos mais utilizados são a soda cáustica (hidróxido de sódio- NaOH), a barrilha (carbonato de sódio - Na2CO3 ou Na2CO3.10H2O), a cal (óxido de cálcio ou hidróxido de cálcio - CaOH), sendo esta última a mais utilizada nas estações de tratamento de água, apesar de conferir turbidez a água. No entanto, a soda cáustica apresenta como principal vantagem a sua elevada solubilidade, possibilitando uma operação mais simples do sistema de dosagens, é bastante utilizado em processos de neutralização no tratamento de efluentes industriais, isso porque a legislação brasileira a resolução CONAMA 430/2011 estabelece que os efluentes sejam lançados em corpos receptores segundo uma faixa de pH variando de 5 a 9. A cal é a mais barata, mas a sua baixa solubilidade e a presença de impurezas como a areia, que provoca corrosão em sistemas de recalque, prejudicando o seu uso. Existe uma cal especial para uso no tratamento de águas, com pureza elevada. A cal tem a vantagem, em relação à soda, de apresentar o íon cálcio, que é bivalente. Isto pode ser importante quando se deseja a ocorrência de floculação, além da alteração do pH. A barrilha que é o carbonato de cálcio produzido a partir do cloreto de sódio, calcário e amônia, também bastante utilizado na correção de efluentes e para corrigir o pH de águas com baixa turbidez facilitando a nucleação no processo de floculação, no entanto tem como desvantagens o seu custo, já que é o alcalinizante mais caro. Para a redução do pH normalmente empregam-se ácidos minerais, como o clorídrico e sulfúrico. Normalmente o ácido clorídrico comercial (muriático) é mais barato, além do que, quando se trata de um efluente industrial a ser lançado na rede pública de esgotos, a presença de sulfato é mais preocupante por poder ser reduzido a sulfeto em meio anaeróbio, trazendo problemas de odor, toxicidade e corrosividade. Contudo o ácido sulfúrico é o reagente mais comumente utilizado, pois além de permitir fácil armazenagem, requer pequenas dosagens uma vez que é normalmente utilizado na sua forma concentrada de 98%. O ácido clorídrico é menos utilizado que o ácido sulfúrico na correção de pH de efluentes, pois normalmente é armazenado a 33% de concentração, requerendo mais quantidade de reagente na neutralização de despejos fortemente alcalinos. No entanto, se reque cautela pois, o uso do ácido clorídrico não é recomendável quando se antevê problemas com o residual excessivo de cloreto nas águas. Atualmente as indústrias estão utilizando bastante o gás carbônico como alcalizante, pois, quando borbulhado com despejos alcalinos forma o ácido carbônico que reage com a base. É usual para ajustes de pH em faixa superior a 7-8. O uso do gás carbônico apresenta vantagens econômicas, uma vez que pode ser produzido na própria unidade industrial, além da vantagem técnica de eliminar o manuseio de ácidos minerais que são excessivamente corrosivos. ALCALINIDADE A alcalinidade é uma medida da capacidade da água de neutralizar ácidos. Os principais constituintes da alcalinidade são: Bicarbonato (HCO3 - ), carbonato (CO3 -2 ) e pH = 12,3 a 9,4: alcalinidade devida a hidróxidos e carbonatos; pH = 9,4 a 8,3 : alcalinidade devida a carbonatos e bicarbonatos; pH= 8,3 a 4,4 : alcalinidade devida somente a bicarbonatos. hidróxidos (OH -1 ). A alcalinidade de soluções aquosas baseiam-se, geralmente no sistema carbônico em função do pH, onde se tem: IMPORTANTE: N No entanto, para a maioria das águas naturais de superfície a alcalinidade deve- se apenas a bicarbonato principalmente de Cálcio e Magnésio. Outros sais de ácidos fracos inorgânicos, como boratos, silicatos, fosfatos, ou de ácidos orgânicos, como sais de ácido húmico, ácido acético etc., também conferem alcalinidade às águas, mas seus efeitos normalmente são desconsiderados por serem pouco representativos. Os bicarbonatos e, em menor proporção, os carbonatos, que são menos solúveis, dissolvem-se na água devido à sua passagem pelo solo. Se este solo for rico em calcário, o gás carbônico da água o solubiliza, transformando-o em bicarbonato, conforme a reação: CO2 + CaCO3 + H2O ↔ Ca (HCO3)2 Os carbonatos e hidróxidos podem aparecer em águas onde ocorrem florações de algas (águas eutrofizadas), sendo que em período de intensa insolação o saldo da fotossíntese em relação à respiração (decomposição da matéria orgânica) é grande e a retirada de gás carbônico provoca elevação de pH para valores que chegam a atingir 10 unidades. A principal fonte de alcalinidade de hidróxidos em águas naturais é devido principalmente da descarga de efluentes industriais, onde se empregam bases fortes como soda cáustica e cal hidratada. Em águas tratadas, pode-se registrar a presença de alcalinidade de hidróxidos em águas abrandadas pela cal. As águas naturais de origem superficial no Brasil apresentam alcalinidade comumente inferior a100mg/L de CaCO3. A alcalinidade das águas não representa risco sanitário, a menos que seja devido a hidróxidos ou contribua demasiadamente na concentração de sólidos totais. A alcalinidade não se constitui como padrão de potabilidade, ficando este efeito limitado através do valor do pH. Também não é padrão de classificação de águas naturais nem de emissão de esgotos domésticos. Porém, a alcalinidade tem uma enorme importância no controle de determinados processos unitários utilizados em estações de tratamento de águas para abastecimento e residuárias. A alcalinidade influi fortemente nos processos de coagulação química, uma vez que os principais coagulantes primários mais utilizados no Brasil (sais de alumínio e de Ferro) os quais atuam como ácidos dipróticos em solução. Desta forma, quando a água natural apresenta alcalinidade, esta oferece um efeito tampão a água, evitando a mudança do pH, caso a água apresente teores baixos de alcalinidade faz-se necessário o uso de alcalinizante para manter o pH dentro da faixa ótima de coagulação. Já para o tratamento de esgotos, alcalinidade influencia bastante na digestão anaeróbia de lodos. Nestes digestores, considera-se necessária a presença de alcalinidade de bicarbonatos elevada, entre 1000 e 5000 mg/L em CaCO3, para produzir efeito tampão suficiente para impedir a queda brusca de pH em caso de desequilíbrio. Atualmente, com o desenvolvimento de reatores anaeróbios para o tratamento de esgotos, este conceito evoluiu no sentido de que a alcalinidade é uma condição de segurança e não indispensável, tendo-se operado reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manto de lodo e filtros anaeróbios em faixas de pH mais baixas. A alcalinidade das águas é determinada através de titulação de neutralização ácido/base, empregando ácido sulfúrico 0,01 mol/L. A titulação também neste caso pode ser acompanhada potenciometricamente ou com o emprego de indicadores colorimétricos ácido-base, que mudam de coloração a pH determinados, são geralmente utilizados a fenolftaleína e o metilorange como indicadores. A água apresenta alcalinidade até pH 4,5, que corresponde ao limite da conversão de bicarbonatos em gás carbônico. Desta forma, a água pode possuir acidez e alcalinidade simultaneamente na faixa de pH entre 4,5 e 8,3 devido ao equilíbrio gás carbônico/bicarbonato/carbonato, podendo neutralizar uma ação externaatravés do deslocamento deste equilíbrio de dois estágios, sem que o pH varie demasiadamente (efeito tampão). A fenolftaleína dá uma coloração rosa à água a pH 8,3 ou maior. Titulando com ácido até desaparecimento da cor rosa a quantidade de ácido consumida na neutralização dos íons hidróxidos e carbonato existente é chamada alcalinidade a fenolftaleína F. A seguir adiciona-se a mesma amostra algumas gotas de metilorange, devendo resultar numa coloração amarelada. Continuando a titulação, a cor muda de amarelo para laranja ou vermelho a um pH em torno de 4,3-4,2. O volume de ácido consumido neste intervalo representa a alcalinidade devida a carbonatos e bicarbonatos. A quantidade total de ácido consumido mede a alcalinidade total T. Tabela 1 – Relações entre as diversas espécies de alcalinidade Resultado da Titulação OH -1 CO3 -2 HCO3 - F = 0 0 0 T F< 0,5T 0 2T T-2F F=0,5T 0 2F 0 F>0,5T 2F-T 2(F-T) 0 F= T F 0 0 A alcalinidade é expressa em mg/L de CaCO3 (equivalente = 50g), usando ácido sulfúrico N/50 (equivalente = 49g), então cada ml do ácido irá neutralizar 49/50~ 1 mg de alcalinidade de CaCO3. Considerações importantes: 1. Alcalinidades de hidróxido e de bicarbonato não podem coexistir em uma amostra, pois a alcalinidade devida a hidróxido é típica do meio com pH superior a 10, situação em que prevalece a forma de carbonato e não bicarbonato. 2. Só alcalinidade de hidróxido. É o caso de amostras com pH elevado (superior a 10). A titulação é essencialmente completada em pH 8,3 e a alcalinidade total é igual a alcalinidade à fenolftaleína. 3. Só alcalinidade de carbonato. Neste caso, a amostra deverá apresentar pH superior a 8,3 e a titulação ao ponto da fenolftaleína é exatamente igual à metade da titulação total. 4. Alcalinidade de hidróxido e carbonato. Este caso também corresponde à amostras com pH elevado, bem superior a 10. A titulação entre os pontos 8,3 e 4,5 representa metade da alcalinidade de carbonato. 5. Alcalinidade de carbonato e bicarbonato. Neste caso o pH da amostra deverá estar compreendido entre 8,3 e 9,4 e a titulação ao pH 8,3 representa metade da alcalinidade de carbonato. 6. Só alcalinidade de bicarbonato. Ocorre em amostras com pH inferior a 8,3. Neste caso a alcalinidade de bicarbonato coincide com a alcalinidade total. ACIDEZ A acidez da água depende do valor do pH, pois é devida dissolução do CO2 que estará presente em valores de pH inferiores a 8,3 e superiores a 4,4, pois abaixo deste valor a acidez decorre da presença de ácidos fortes (ácidos minerais: clorídrico, sulfúrico, nítrico, etc.) os quais não são comuns nas águas naturais. Embora de pouco significado sanitário, há interesse em conhecer a acidez, pois o condicionamento final da água em uma ETA pode exigir a adição de um alcalinizante para manter a estabilidade do carbonato de cálcio e evitar problemas relacionados à corrosão nas tubulações e dispositivos de recalque e de controle de fluxos. A acidez assim como alcalinidade também é expressa em termos de carbonato de cálcio. A acidez é quantificada também em termos de mg CaCO3/L tem seu uso restrito ao controle dos processos de tratamento. É o caso, por exemplo, do parâmetro “ácidos voláteis”, utilizado no controle de reatores anaeróbios de tratamento de esgotos. Sabe-se que, nestes, a concentração de ácidos voláteis deve ser mantida baixa e que um aumento representa desequilíbrio entre a fase de fermentação ácida e a metanogênese. As bactérias metanogênicas utilizam os ácidos voláteis e, quando seus crescimentos encontram-se inibidos, ocorre acúmulo de ácidos no sistema e o pH é reduzido. Basicamente, a determinação da acidez de uma amostra de água consiste em uma titulação de neutralização ácido/base, empregando-se solução de hidróxido de sódio 0,02 mols/L como titulante. O final da reação pode ser indicado potenciometricamente, imergindo-se o eletrodo do pH-metro na amostra e anotando-se os volumes gastos de NaOH quando são atingidos valores preestabelecidos de pH (8,3 e 4,5). Pode também o ponto final ser determinado utilizando-se indicadores colorimétricos. Sendo que o mais utilizado é o indicador fenolftaleína, que apresenta ponto de viragem em pH de cerca de 8,3 e o alaranjado de metila, cuja viragem ocorre em pH de cerca de 4,5. O “Standard Methods”, em sua 18ª edição, propôs a alteração dos indicadores para púrpura de metacresol (pH 8,3) e verde de bromocresol (pH 4,5). Em ambos os casos ocorre viragem de azul para amarelo. Trata-se, portanto, de análise de fácil execução e que não exige instrumentação sofisticada. Para a determinação da acidez total da amostra é necessário titular-se até o pH 8,3, pois somente neste valor de pH garante-se a total neutralização do gás carbônico presente na amostra, prevalecendo apenas o equilíbrio entre bicarbonatos e carbonatos. Já os ácidos minerais prevalecem em faixas mais baixas de pH, normalmente em valores inferiores a 4,0, enquanto que o gás carbônico está presente na faixa 4,5-8,3. A acidez pode ser corrigida com a adição de cal ou de carbonato de sódio (barrilha), em quantidade suficiente para neutralizar o ácido e fornecer um leve excesso de alcalinidade, quando necessário à coagulação ou a estabilização do sistema carbonato. DUREZA É uma característica conferida água devido a concentração de cátions multivalentes em solução na água, principalmente de cálcio (Ca ++ ) e magnésio (Mg +2 ) e, em menor proporção os de Ferro (Fe +2 ) e de Estrôncio (Sr +2 ) que são associados a ânions carbonato (mais propriamente bicarbonato, que é mais solúvel) e sulfato, principalmente, além de outros ânions como nitrato, silicato e cloreto. São quatro os principais compostos que conferem dureza às águas: bicarbonato de cálcio, bicarbonato de magnésio, sulfato de cálcio e sulfato de magnésio. A dureza é reconhecida pela sua capacidade de impedir a formação de espuma de sabão, pois os sais de cálcio e magnésio reagem sobre os radicais dos ácidos graxos dos sabões formando compostos insolúveis antes que ocorra a formação de espuma. Somente depois que uma certa quantidade de cálcio e magnésio é removido da água, através da precipitação juntamente com o sabão, é que inicia-se o surgimento da espuma. A principal fonte de dureza nas águas é a sua passagem pelo solo (dissolução da rocha calcária ricas em cálcio e magnésio e pelo gás carbônico da água), conforme as reações: H2CO3 + CaCO3 → Ca (HCO3)2 H2CO3 + MgCO3 → Mg (HCO3)2 Desta forma, é muito mais frequente encontrar-se águas subterrâneas com dureza elevada do que as águas superficiais. No Brasil, salvo algumas exceções, as águas superficiais apresentam valores inferiores a 100mg/L CaCO3, sendo em sua maioria águas brandas. As águas subterrâneas são que apresentam valores de dureza mais elevados. A dureza não apresentam significado sanitário e seu inconveniente é principalmente de natureza econômica devido ao maior consumo de sabões. No entanto, águas com valores elevados de dureza em sistemas de abastecimento pode favorecer a formação de incrustações na rede abastecimento. A Portaria de potabilidade N° 29 14/11 estabelece padrão de potabilidade para o parâmetro dureza cujo o valor máximo permitido é de 500mg/L CaCO3. Para o abastecimento industrial, a grande dificuldade da presença de dureza nas águas está em seu uso em sistemas de água quente como caldeiras, trocadores de calor, etc. Com o aumento da temperatura, o equilíbrio se desloca no sentido da formação de carbonatos que precipitam ese incrustam, o que já levou diversas caldeiras à explosão. Assim, é comum para uso industrial é requerido valores muito baixo de dureza. A dureza é classificada quanto aos cátions e quanto aos ânions associados a estes. Estas classificações são importantes para as previsões de tipos e dosagens de reagentes, nos processos de abrandamento. Quanto ao cátion, a dureza é classificada em dureza ao cálcio e dureza ao magnésio. A dureza total é a soma da dureza ao cálcio com a dureza ao magnésio. Não se trata de uma simples soma, pois a dureza é expressa em mg/L CaCO3, havendo necessidade de transformação de equivalentes. Assim, uma água com 20 mg/L de cálcio e 5 mg/L de magnésio apresentará a seguinte dureza: Dureza (mg/L CaCO3) = 20x50/20 + 5x50/12 = 70,83 mg/L de CaCO3 Onde os números 50, 20 e 12 representam, respectivamente, os equivalentes- gramas do CaCO3, Ca +2 e Mg +2 . Quanto ao ânion associado, a dureza é classificada como dureza temporária e dureza permanente. A dureza temporária é aquela em que o cálcio ou o magnésio encontram-se associados a carbonatos (ou bicarbonatos). É assim chamada por ser removível quando ocorre o aquecimento da água, incrustando-se em chuveiros, destiladores e outros sistemas de água quente, também pode ocorrer precipitação da dureza carbonata ou temporária quando ocorre elevação do pH. A dureza é dita permanente quando o cálcio e o magnésio encontram-se associados a sulfatos, a qual não sofre precipitação com a mudança de temperatura ou pH. A dureza total é a soma da dureza temporária com a permanente. A alcalinidade de bicarbonatos (e carbonatos) é equivalente à dureza temporária, sendo válidas as seguintes relações: IMPORTANTE: A determinação da dureza pode ser feita por espectrofotometria de absorção atômica ou através de titulometria. O método titulométrico mais utilizado é a complexometria com EDTA sódico. Para determinação da dureza total, a titulação é feita com EDTA 0,01M sendo que a amostra tem seu pH elevado para 10 através da adição de solução tampão. O indicador metalocrômico é o negro de Eriocromo, que apresenta viragem de vermelho (vinho) para azul (escuro), quando a reação de complexação se completa. Os componentes da dureza podem ser obtidos determinando-se a dureza ao cálcio e calculando-se a dureza ao magnésio por diferença. Para a determinação da dureza ao cálcio, o mesmo procedimento descrito para a dureza total. Coma diferença o pH deve ser elevado para 13 (para precipitar o magnésio na forma de hidróxido), utilizando-se hidróxido de amônio, e que os indicadores recomendados são o Azul Preto de Eriocromo R (viragem de vermelho para azul) ou o Murexida (purpurato de amônio - viragem de rosa para púrpura). Para diminuir a dureza, pode-se submeter a água a processos de abrandamento por precipitação ou de desmineralização por troca iônica. De um modo geral, pode-se dizer que existem três técnicas para a remoção da dureza da água: o processo de abrandamento pela cal (carbonato de sódio), o processo por troca iônica e o processo de separação por membranas, cada um indica uma determinada eficiência e a faixa limite de remoção de dureza. O processo de cal reduz a concentração de íons cálcio e magnésio, e o resultado é uma água com dureza final próxima de 80mg/L CaCO3. Dessa forma, fica evidente Se alcalinidade de bicarbonatos < dureza total ⇒ dureza temporária ≅ alcalinidade de bicarbonatos e existe dureza permanente na amostra. Se alcalinidade ≥ dureza total ⇒ dureza permanente ≅ zero que esta técnica é indicada para o tratamento de água com uma dureza superiora a esse valor. Já a troca iônica e a separação por membranas podem reduzir em até 100% a dureza da água, devendo-se observar que estes são os processos mais adequados para o abrandamento de água com dureza relativamente baixa, menor ou igual a 80mg/L, que como foi comentado anteriormente é valor limite para o processo de abrandamento com cal. A capacidade restrita das resinas dificulta a aplicação do processo de troca iônica em águas com concentrações elevadas, para este fim necessitaria uma alta quantidade de resina bem como a realização de regenerações das resinas com mais frequências gerando uma produção de efluentes líquidos. Já com relação as membranas concentrações elevadas podem propiciar a incrustações na superfícies das membranas causando uma redução na sua vida útil. EXERCICIOS 1) Qual o pH de solução com a concentração hidrogeniônica [H + ] de 0,0000001? 2) Explique a importância do pH nos seguintes processos: 1. Coagulação 2. Desinfecção 3. Na remoção de metais pesados 4. Na remoção de Fe e Mn 5. Nos processos de abrandamento da água 3)Como se efetua a correção de pH de águas superficiais? 4) Qual a influência do pH na desinfecção realizado com produtos à base de cloro? 5) Justifique os fatores que são responsáveis pelo aumento do pH nas águas naturais? 6) Justifique os fatores que são responsáveis pela diminuição do pH nas águas naturais? 7) Justifique a influência da alcalinidade no tratamento convencional das águas? 8) A dureza presente nas águas se deve a que fatores? 9) Sabe que água com valores acima de 300mg/L de CaCo3 são consideradas muito dura, no entanto, sabe-se que o padrão de potabilidade estabelece o valor máximo de 500mg/L de CaCo3. Em sua opinião, este valor preconizado poderá provocar inconvenientes sanitários? 10) Explique a elevação do pH em águas eutrofizadas? 11) Discorra sobre a influência do pH nos seguintes processos unitários: a) Precipitação química de metais pesados em efluentes industriais, b) Solubilidade da amônia em águas naturais e c) Tratamento anaeróbio de esgotos sanitários. 12)Em um manancial superficial detectou-se o valor de pH maior que 9,4, este valor elevado pode ocorrer em razão das condições naturais do meio? Justifique 13)Explique porque a Portaria n° 2914/11 estabelece um intervalo amplo de pH (6,5- 9,5) em águas de abastecimento? 14)Como se deve proceder para aumentar alcalinidade nas águas naturais? 15)Qual o efeito provocado nos parâmetros de acidez/alcalinidade com adição dos coagulantes como sulfato de alumínio e cloreto férrico na água? 16)Diferencie dureza permanente de dureza temporária. Quais os inconvenientes provocados pela dureza temporária? 17)Explique porque o maior inconveniente da dureza elevada em águas para abastecimento é considerado apenas como de ordem econômica? 18)Por que existe padrão de Dureza na Portaria de potabilidade em vigor se o referido padrão não apresenta problemas sanitários? 19)Quais as técnicas de tratamento para redução de dureza? 20)Qual a importância de medir o índice de Langelier nas águas naturais? 21)O que é preciso para se medir ISL? 22) Na análise de uma água natural foram obtidos os seguintes resultados: pH: 6,0 Alcalinidade de bicarbonatos: 10 mg/L (CaCO3) Alcalinidade de carbonatos: 5 mg/L (CaCO3) Alcalinidade de hidróxidos: 5 mg/L (CaCO3) Acidez total: 20 mg/L (CaCO3) Dureza total: 15 mg/L (CaCO3) Dureza permanente: 15 mg/L (CaCO3) Cálcio: 10 mg/L (Ca) Magnésio: 5 mg/L (Mg) Apresente as incoerências existentes neste laudo. 23) Qual a vantagem do emprego da barrilha no controle de pH de um reator anaeróbio desequilibrado? 24) Pode uma água natural conter acidez e alcalinidade ao mesmo tempo? Justifique. 25) O que é dureza de uma água? Qual a principal forma em que a dureza pode ser introduzida em uma água natural? 26) Explicar a influência da dureza no uso de uma águapara abastecimento público e industrial. 27) Por que a fluoretação de águas para abastecimento público deve ser um processo bem controlado? 28) Que dificuldades podem ser previstas no abastecimento de água de uma comunidade a partir de uma fonte em que a água natural apresenta elevados níveis de cloreto (água salobra)? 29) Que tipos de efluentes industriais podem conter cianeto? Que princípios de tratamento podem ser considerados para a remoção destes constituintes das águas? 30) Qual a principal fonte de ferro nas águas naturais? 31) Quais as formas em que o ferro pode se apresentar na água e como elas influem nos nos processos de tratamento da água? 32) Quais as implicações da presença elevada de ferro em águas para: a) uso doméstico. b) tratamento para abastecimento público. 33) Quais as semelhanças e contrastes em relação à presença de ferro e manganês nas águas naturais? 34) Quais as principais fontes de descarga de metais pesados nas águas naturais? 35) Como a presença de metais pesados em uma água natural pode influir em seu uso para abastecimento público? 36)Quais os inconvenientes provocados pelo alumínio presentes em concentrações superiores a 0,2mg/L em águas de abastecimentos? 37)Como se devem reduzir os teores de alumínio nas águas de abastecimento? 38) Discorra sobre a técnica analítica de determinação de matais pesados (mínimo 15 linhas) QUESTÕES OBJETIVAS 1)Com relação à influência do pH da água na solubilidade de metais pesados, pode ser dito que: a) Quanto mais elevado for o pH, os metais pesados são menos solúveis e para ocorrer uma precipitação mais eficiente, deve-se elevar o pH dos efluentes para um valor entre 13 e 14. b) Os metais pesados são menos solúveis em meio alcalino apresentando, cada um, determinado valor de pH em que se precipitam em maior extensão. c) Os metais pesados são menos solúveis em meio ácido, sendo a faixa de pH entre 3 e 5 a mais recomendada para a precipitação destes. d) Os metais pesados são menos solúveis em valores de pH em torno de 7, devendo-se neutralizar e) A solubilidade de metais pesados na água é independente da condição de pH. 2) Com relação à influência do pH sobre a presença da amônia na água pode ser dito que: a) Aumentando-se o pH aumenta-se a concentração de amônia gasosa, que é a forma mais tóxica para os peixes b) O aumento do pH leva a umaumento na concentração do íon amônio, que é a forma mais tóxica para a fauna ictiológica c) Diminuindo-se o pH aumenta-se a concentração de amônia gasosa que é a forma mais tóxica para a fauna ictiológica d) Diminuindo-se o pH aumenta-se a concentração do íon amônio que é a forma mais tóxica para a fauna. e) A variação de pH não tem qualquer efeito sobre a ação tóxica da amônia na água. 3) Em que unidades de estações de tratamento de água para abastecimento e de estações de tratamento de esgotos, respectivamente, a alcalinidade assume maior importância para promover a ação de tratamento: a) Filtração da água nas ETAs e digestão aeróbia de lodo nas ETEs b) Coagulação da água nas ETAs e digestão aeróbia de lodo nas ETEs c) Filtração da água nas ETAs e digestão anaeróbia de lodo nas ETEs d) Floculação da água nas ETAs e digestão anaeróbia de lodo nas ETEs e) Decantação da água nas ETAs e adensamento de lodo nas ETEs 4) Com relação à dureza da água, pode ser dito que: a) Deve-se à presença de íons cálcio e magnésio, principalmente, que tornam o sabão mais solúvel. b) Deve-se à presença de íons ferro e manganês, principalmente, que tornam o sabão mais solúvel. c) Deve-se à presença de íons cálcio e magnésio, principalmente, que tornam o sabão menos solúvel. d) Deve-se à presença de íons ferro e manganês, principalmente, que tornam o sabão menos solúvel. e) Deve-se à presença de compostos orgânicos que reagem com o sabão dificultando a formação de espuma. 5) Na análise de uma água para abastecimento público foram obtidos os seguintes resultados: • pH: 6,0 • Alcalinidade de bicarbonato:10 mg/L (CaCO3) • Alcalinidade de carbonato: 5 mg/L (CaCO3) • Alcalinidade de hidróxido: 5 mg/L (CaCO3) • Acidez total: 20 mg/L (CaCO3) • Dureza total: 15 mg/L (CaCO3) • Dureza permanente: 15 mg/L (CaCO3) • Cálcio: 10 mg/L (Ca) • Magnésio: 5 mg/L (Mg) Assinale a alternativa correta: a) Há coerência entre os resultados de cálcio, magnésio e dureza total b) Há coerência entre os resultados de pH e alcalinidade de hidróxido c) Há coerência entre os resultados dos componentes da alcalinidade d) Há coerência entre os resultados de pH, acidez e alcalinidade de bicarbonato e) Há coerência entre os resultados de alcalinidade de bicarbonato, dureza total e dureza permanente. 6) Em geral, a principal fonte de dureza nas águas é: a) Solo b) Esgoto sanitário c) Efluentes industriais d) Efluentes de áreas agrícolas e) Escoamento superficial das águas pluviais 7) É vantagem do emprego da cal hidratada em relação à soda cáustica no tratamento de efluentes industriais: a) Maior solubilidade em água b) Menor produção de lodo c) Maior poder coagulante d) Maior grau de pureza comercial e) Não há vantagem técnica no emprego da cal, em relação à soda cáustica
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