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RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. CRIMES DE HOMICÍDIO NA FORMA TENTADA E DE HOMICÍDIO QUALIFICADO NA FORMA TENTADA. RTIGO 121, § 2º, IV, E ARTIGO 121, § 2º, IV, C/C ARTIGO 14, II, DO CÓDIGO PENAL. PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO PARA HOMICÍDIO CULPOSO. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE NA VIA ELEITA. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA, ABUSO DE PODER OU FLAGRANTE ILEGALIDADE. ALEGADA INCOMPATIBILIDADE ENTRE OS INSTITUTOS DA TENTATIVA E DO DOLO EVENTUAL. INOCORRÊNCIA DE EXAME APROFUNDADO PELO JUÍZO DE PRONÚNCIA. MATÉRIA A SER DIRIMIDA PELO JUÍZO NATURAL À LUZ DOS FATOS E SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 
- Seguimento negado, com esteio no artigo 21, § 1º do RISTF. 
- Ciência ao Ministério Público Federal.
Decisão: Trata-se de recurso ordinário em Habeas Corpus interposto contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça cuja ementa transcrevo abaixo, verbis:
"PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS . 1. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. 2. HOMICÍDIOS NO TRÂNSITO. DOIS CONSUMADOS E UM TENTADO. DOLO EVENTUAL. VELOCIDADE EXCESSIVA. DIREÇÃO SOB EFEITO DE ÁLCOOL. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO. ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE CARACTERIZAÇÃO DO DOLO EVENTUAL. CIRCUNSTÂNCIAS QUE REVELAM A ASSUNÇÃO DO RESULTADO. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. 3. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O DOLO EVENTUAL E A TENTATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. 4. DOLO EVENTUAL E QUALIFICADORA DA SURPRESA. INCOMPATIBILIDADE. 5. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO APENAS PARA DECOTAR A QUALIFICADORA. 
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e as Turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. 
2. O elemento subjetivo do tipo, no caso, o dolo eventual, só pode ser valorado com base nos elementos fáticos da conduta imputada, haja vista não ser possível conhecer, de fato, o intelecto do paciente. Verifica-se, portanto, que a conduta narrada apresenta circunstâncias que autorizam se falar em dolo eventual, haja vista o paciente estar acima da velocidade permitida, sob a influência de bebida alcoólica, e tendo atropelado as vítimas quando estavam atravessando a faixa de pedestres com sinalização favorável. 
3. No que concerne à alegada incompatibilidade entre o dolo eventual e o crime tentado, tem-se que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa é compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na direção de veículo automotor". (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015). 
4. Quanto à compatibilidade do dolo eventual com o recurso que impossibilita a defesa da vítima, tem prevalecido, no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, não ser possível a incidência da referida qualificadora. De fato, se tratando de crime de trânsito, com dolo eventual, não se poderia concluir que tivesse o paciente deliberadamente agido de surpresa, de maneira a dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima. 
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, apenas para decotar a qualificadora do inciso IV do § 2º do art. 121 do Código Penal.”
Consta dos autos que o paciente foi pronunciado em razão da prática do crime tipificado no artigo 121, § 2º, IV, do Código Penal, por três vezes, sendo uma delas na forma tentada.
Irresignada a defesa interpôs recurso em sentido estrito, contudo não obteve êxito perante o Tribunal de origem. Os embargos de declaração interpostos foram rejeitados. Ato contínuo intepôs-se recurso especial o qual teve o seguimento negado. Sobreveio agravo em recurso especial e essa irresignação não foi conhecida.
Ainda inconformada, a defesa impetrou writ perante o Superior Tribunal de Justiça, contudo não obteve êxito.
Neste recurso, a defesa alega, em síntese, a existência de constrangimento ilegal consubstanciado na errônea tipificação da conduta que se imputa ao paciente. Aduz que “o mero fato de o recorrente ter ingerido bebida alcoólica horas antes de conduzir veículo automotor e em quantidade dentro do limite legal, trafegando, em velocidade compatível com o local (não há prova nos autos que estivesse acima do limite permitido, embora a acusação afirme isto), não tem o condão de indicar que se está diante de dolo eventual”. Entende que “o simples fato de existir a fórmula embriaguez + velocidade excessiva não implica na existência de dolo eventual”. Pugna, também, pelo reconhecimento da incompatibilidade entre o dolo eventual e a prática de homicídio na forma tentada. Argumenta que “no dolo eventual, como não há vontade diretamente dirigida à produção do resultado, é incompatível a figura da tentativa, posto que o propósito do agente não se direciona à consecução de um crime, mas tão somente à assunção do risco de produzí-lo”. 
A Procuradoria-Geral da República opinou pelo desprovimento do recurso.
Ao final, requer provimento do recurso para “ (i) desclassificar os delitos de homicídio em acidente de trânsito (consumado e tentado)” e (ii) desclassificar o delito de homicídio tentado para lesão corporal culposa, diante da incompatibilidade lógica entre a tentativa e o dolo eventual”.
É o relatório. DECIDO. 
Não merece prosperar o recurso. 
É que o Superior Tribunal de Justiça assentou, verbis:
“No presente mandamus , visa o impetrante, em síntese, desclassificar a conduta imputada ao paciente de homicídio doloso, com dolo eventual, para homicídio culposo no trânsito. Subsidiariamente, requer seja reconhecida a incompatibilidade do dolo eventual com a tentativa e com a qualificadora do recurso que dificultou a defesa da vítima. Contudo, a insurgência merece prosperar apenas em parte. 
Com efeito, no que concerne à desclassificação da conduta imputada ao paciente de homicídio com dolo eventual para homicídio culposo, verifico que não é possível, na via eleita, reexaminar o contexto fático e probatório dos autos, que autorizaram referida imputação. Ademais, da simples leitura da inicial acusatória não é possível concluir-se, de plano, pela ausência de dolo eventual, situação, portanto, que deve ser analisada pelo juiz natural, que é o Tribunal do Júri.
A propósito, transcrevo a conduta que é imputada (e-STJ fls. 23/24): 
Segundo apurado, o ora denunciado, após sair de uma festa que se iniciara na noite anterior ao dia dos acontecimentos, onde ingeriu diversas latas de cerveja e estando aparentemente embriagado, voltava para casa dirigindo um veículo de marca "'GM/Astra"1 placas "13K13-3 137" (fls. 13), em velocidade incompatível com o local, assumindo o risco de causar o resultado morte, no momento em que as vítimas, as quais atravessavam a via pública por sobre a faixa de pedestres, estando a sinalização semafórica livre para estas, foram colhidas pelo automóvel do denunciado, o qual o parou somente a 150 (cento e cinquenta) metros do local, tendo sido preso em flagrante pelos Guardas Civis Metropolitanos que por ali transitavam. Assim agindo, ao aceitar o risco de produzir o resultado típico no momento em que resolveu dirigir seu automóvel em velocidade excessiva, sob o efeito de bebida alcoólica, deu início à execução dos crimes de homicídio, que, em razão da sede, natureza e gravidade dos ferimentos, causaram a morte das vítimas Nadia Prancic e Izabela Prancic Bento, não se consumando em relação à vitima Esterina Senatore Prancic por circunstâncias alheias à vontade do agente, , porquanto não atingida em região letal, assim como pelo pronto e eficaz socorro prestado (vide HC 97.252, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 23-6-09, 2a. Turma, DJE em 4-9-09). Outrossim, o ora denunciado colheu as vítimas de surpresa, uma vez que estas, quando foramatropeladas, se encontravam por sobre a faixa de pedestres atravessando a via pública, com sinalização semafórica favorável, tendo, pois, a defesa dificultada 
Importante registrar, no ponto, que o elemento subjetivo do tipo, no caso, o dolo eventual, só pode ser valorado com base nos elementos fáticos da conduta imputada, haja vista não ser possível conhecer, de fato, o intelecto do paciente. Verifica-se, portanto, que a conduta narrada apresenta circunstâncias que autorizam se falar em dolo eventual, haja vista o paciente estar acima da velocidade permitida, sob a influência de bebida alcoólica, e tendo atropelado as vítimas quando estavam atravessando a faixa de pedestres com sinalização favorável. 
Portanto, "não tem aplicação o precedente invocado pela defesa, qual seja, o HC 107.801/SP, por se tratar de situação diversa da ora apreciada. Naquela hipótese, a Primeira Turma entendeu que o crime de homicídio praticado na condução de veículo sob a influência de álcool somente poderia ser considerado doloso se comprovado que a embriaguez foi preordenada. No caso sob exame, o paciente foi condenado pela prática de homicídio doloso por imprimir velocidade excessiva ao veículo que dirigia, e, ainda, por estar sob influência do álcool, circunstância apta a demonstrar que o réu aceitou a ocorrência do resultado e agiu, portanto, com dolo eventual. IV - Habeas Corpus denegado". (HC 115352, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 16/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013). 
Dessarte, não se verifica constrangimento ilegal na imputação ao paciente do delito de homicídio doloso com dolo eventual, devendo a investigação fática sobre o elemento volitivo ser levada ao Conselho de Sentença, sob pena de ser desvirtuado os estreitos lindes do mandamus , suprimindo-se, outrossim, a competência constitucional do Tribunal do Júri.
[…]
Da mesma forma, no que concerne à alegada incompatibilidade entre o dolo eventual e o crime tentado, tem-se que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa é compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na direção de veículo automotor". (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015).”
Com efeito, esta Suprema Corte sufraga o entendimento de que a pretensão da desclassificação do homicídio doloso para o culposo tem como consectário lógico o exame do elemento subjetivo do tipo penal, espécie de valoração incompatível com a via do habeas corpus por demandar incursionamento na moldura fática delineada nos autos. Nesse sentido, trago à colação os seguintes precedentes desta Corte:
“HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DENÚNCIA POR HOMICÍDIO DOLOSO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA DELITO CULPOSO. EXAME DO ELEMENTO SUBJETIVO. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE DA VIA. NECESSIDADE DE ENFRENTAMENTO INICIAL PELO JUÍZO COMPETENTE. TRIBUNAL DO JÚRI. ORDEM DENEGADA. 1. Apresentada denúncia por homicídio na condução de veículo automotor, na modalidade de dolo eventual, havendo indícios mínimos que apontem para o elemento subjetivo descrito, tal qual a embriaguez ao volante, a alta velocidade e o acesso à via pela contramão, não há que se falar em imediata desclassificação para crime culposo antes da análise a ser perquirida pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. 2. O enfrentamento acerca do elemento subjetivo do delito de homicídio demanda profunda análise fático-probatória, o que, nessa medida, é inalcançável em sede de habeas corpus. 3. Ordem denegada, revogando-se a liminar anteriormente deferida.” (HC 121.654, Primeira Turma, Rel. p/ Acórdão: Min. Edson Fachin, DJe de 19/10/2016)
“HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ. ALEGAÇÃO DE HOMICÍDIO CULPOSO: IMPROCEDÊNCIA. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS IMPRÓPRIO NA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA. 1. É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a via sumária e documental do habeas corpus, afora casos teratológicos de erro conspícuo de direito probatório ou de abstração de fato inequívoco, não se presta a substituir por outro o acertamento judicial dos fatos. Precedentes. 2. Concluir que a conduta do Paciente foi pautada pelo dolo eventual ou pela culpa consciente impõe o revolvimento do conjunto probatório, o que ultrapassa os limites do procedimento sumário e documental do habeas corpus. 3. Ordem denegada.” (HC 132.036, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 25/04/2016)
 Impende consignar, ainda, que o exame relativo ao estado de embriaguez, ou não, do paciente, bem como aferir a velocidade na qual trafegava na via, de igual forma carecem de apreciação das peculiaridades fáticas da espécie. Deveras, o habeas corpus é ação inadequada para a valoração e exame minucioso do acervo fático probatório engendrado nos autos. Destarte, não se revela cognoscível a insurgência que não se amolda à estreita via eleita. Nesse sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS . PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I . HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE NA VIA ELEITA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. NÃO CARACTERIZADA. CUSTÓDIA PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A MEDIDA. ALEGADO EXCESSO DE PRAZO. INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.” (HC nº 130.439, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 12/05/2016)
	
“Recurso ordinário em habeas corpus. Homicídio qualificado tentado. Pronúncia. Materialidade. Laudo deficiente. Possibilidade de complementação por outros elementos de prova constantes dos autos. Recurso não provido. 1. O Tribunal estadual, ao atestar a materialidade da tentativa de homicídio qualificado, considerou suficientes as provas colhidas durante a instrução, de modo que a falta de laudo complementar classificando as lesões corporais da vítima não tem o condão de afastar a convicção fundada sobre a existência do crime tentado contra a vida. 2. Estabelece o art. 413 do Código de Processo Penal que, para a decisão de pronúncia, basta, além da constatação de indícios de autoria, que esteja o julgador convencido da existência do crime. Não se exige, portanto, prova inconteste de sua ocorrência, sendo bastante que o magistrado se convença da materialidade da infração. 3. Recurso ao qual se nega provimento.” (RHC 115.984, Primeira Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 23/08/2013)
De outro lado, no que concerne à alegada incompatibilidade entre o dolo eventual e a tentativa no momento da decisão de pronúncia e antes de encerrado o juízo acerca da culpa do réu pelo órgão competente, inexiste incongruência, porquanto o juízo de pronúncia, nos termos do artigo 413 do código de Processo Penal, reflete apenas o convencimento do magistrado acerca da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. Nessa linha, in verbis:
“PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CONSUMADO E TENTADO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA. FALTA DE DESCRIÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO ART. 14, II, DO CÓDIGO PENAL. INCOMPATIBILIDADE ENTRE DOLO EVENTUAL E TENTATIVA. INOCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que a extinção da ação penal, de forma prematura, pela via do habeas corpus, somente se dá em hipóteses excepcionais, nas quais seja patente (a) a atipicidade da conduta; (b) a ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas; ou (c) a presença de alguma causa extintiva da punibilidade. 2. A inicial acusatória indica os elementosindiciários mínimos aptos a tornar plausível a acusação e, por consequência, suficientes para dar início à persecução penal, além de permitir ao paciente o pleno exercício do seu direito de defesa, nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal. 3. Não se reputa alternativa a denúncia que descreve conduta certa e determinada, em imputação de tipo penal doloso, tanto o dolo direto quanto o eventual, porque cingidos naquela norma incriminadora. 4. Constatada a higidez da denúncia, não há como avançar nas questões que compõem típicas teses defensivas, sob pena de afronta ao modelo constitucional de competência. Caberá ao juízo natural da instrução criminal, com observância do princípio do contraditório, proceder ao exame do ora alegado e, porventura, conferir definição jurídica diversa para os fatos. 5. Ordem denegada.” (HC 114.223, Segunda Turma, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 12/11/2015)
Ademais, considerada viável a pretensão punitiva estatal pela decisão de pronúncia à luz do limitado espectro cognoscível desse juízo, é incabível o exame de matéria que se consubstancia em tese defensiva e estreitamente vinculada ao conjunto fático-probatório, sob pena de atribuir-se ao Supremo Tribunal Federal competência originária não prevista pelo legislador constituinte em franca violação do modelo constitucional de competência jurisdicional originária do Supremo Tribunal Federal, bem como de indevido alargamento das matérias conhecíveis em sede de habeas corpus. 
Portanto, incumbe ao juízo natural da instrução criminal, sob o crivo do princípio do contraditório, o exame aprofundado do que aduzido pela defesa e, se for o caso, atribuir definição jurídica para os fatos distinta da imputada pelo órgão acusador. 
Assim, a manifestação desta corte nos termos do que pretendido pela defesa consubstancia indevida supressão de instância e, por conseguinte, violação das regras constitucionais definidoras da competência dos Tribunais Superiores, valendo conferir os seguintes precedentes desta Corte:
“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA, DE ESTELIONATO E DE SUPRESSÃO DE DOCUMENTO. ARTIGOS 168, 171 E 305 DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CRFB/88, ART. 102, I, D E I. HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. POSSIBILIDADE DE CONSTRIÇÃO DA LIBERDADE ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA, ABUSO DE PODER OU FLAGRANTE ILEGALIDADE. APLICABILIDADE DO ENTENDIMENTO FIRMADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 925. 1. A a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, consoante julgamento do ARE 964.246, julgado sob o rito da repercussão geral (tema 925). 2. In casu, o paciente foi condenado à pena de 07 (sete) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, bem como ao pagamento de 40 (quarenta) dias-multa em razão da prática dos crimes de apropriação indébita, de estelionato e de supressão de documento, previstos, respectivamente, nos artigos 168, 171 e 305 do Código Penal. 3. A competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida, exaustivamente, no artigo 102, inciso I, alíneas d e i, da Constituição da República, sendo certo que o paciente não está arrolado em qualquer das hipóteses sujeitas à jurisdição desta Corte. 4. A execução provisória da pena coaduna com o princípio da vedação da reformatio in pejus, quando mantida a condenação do paciente pela Corte local, porquanto a constrição da liberdade, neste momento processual, fundamenta-se na ausência de efeito suspensivo dos recursos extraordinário e especial, no restrito espectro de cognoscibilidade desses mecanismos de impugnação, bem como na atividade judicante desempenhada pelas instâncias ordinárias. 5. Agravo regimental desprovido.”
(HC 138.890-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 23/03/2017)
“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. AUTORIDADE COATORA CUJOS ATOS NÃO SE SUJEITAM DIRETAMENTE À ATUAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. COMPETÊNCIA DECLINADA. 1. A competência do Supremo Tribunal Federal para julgar habeas corpus é determinada constitucionalmente em razão do paciente ou da autoridade indigitada coatora (art. 102, inc. I, al. i, da Constituição da República). No rol constitucionalmente definido não se inclui a atribuição deste Supremo Tribunal para processar e julgar originariamente habeas corpus no qual figure como autoridade coatora Tribunal de Justiça estadual. 2. Agravo regimental ao qual se nega provimento, com a determinação de remessa dos autos ao Superior Tribunal de Justiça, para as providências jurídicas cabíveis.” (HC 134.461-AgR, Tribunal Pleno, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 05/12/2016) 
Outrossim, ante a pertinência de suas alegações, cumpre transcrever trecho do parecer ofertado pela Procuradoria-Geral da República:
“6. Relativamente ao pleito de desclassificação do homicídio doloso para a modalidade culposa, mostra-se inviável sua análise em sede de habeas corpus, porquanto “é firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a via sumária e documental do habeas corpus, afora casos teratológicos de erro conspícuo de direito probatório ou de abstração de fato inequívoco, não se presta a substituir por outro o acertamento judicial dos fatos. Precedentes. 2. Concluir que a conduta do Paciente foi pautada pelo dolo eventual ou pela culpa consciente impõe o revolvimento do conjunto probatório, o que ultrapassa os limites do procedimento sumário e documental do habeas corpus” (HC 132.036/SE, rel. Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, Dje 25.4.2016) (g.n.). Nesse sentido: HC 136.935 AgR/MG, rel. Min. Dias Toffoli; HC 121.654/MG, rel. Min. Edson Fachin; HC 131.029/RJ, rel. Min. Edson Fachin. 
7. Ademais, em observância ao disposto no art. 5º, XXXVIII, 'd', da Constituição Federal, dever-se-á reservar ao Tribunal do Júri o julgamento sobre a ocorrência do dolo eventual ou da culpa consciente, considerando que a decisão de pronuncia apontou fundamentação idônea para submeter o recorrente ao Tribunal popular. 
8. No que tange à questão da tentativa no crime cometido com dolo eventual, é pontual a lição de Zaffaroni: 
El dolo de la tentativa es el dolo del delito consumado, tal como acabamos de sostenerlo. Consecuentemente, el tipo penal que admita el dolo eventual, también lo admitirá cuando se amplíe com la fórmula de la tentativa. […] Hay un argumento, en apariencia muy rotundo, contra la possibilidad del dolo eventual em la tentativa, que consiste em observar que aceptar la posibilidad del resultado – que es lo que sucede em lo dolo eventual – no implica querer el resultado; que es lo que se requiere em la tentativa. En este sentido puede decirse que el jugador apuesta com el fin de ganar – queriendo ganar – y no está intentando perder. No obstante, a poco que profundicemos la cuestión veremos que el jugador tiene el “fin de perder” tambíen. En efecto: si tenemos claro que la voluntad (el “querer”) es independiente por completo del ánimo (del “desear”), veremos que em el análisis lógico de la conducta del jugador, éste actúa queriendo apostar (com el fin de apostar) y que este fin abarca tanto el de perder como el de ganar, sólo que no “desea” perder, que es outra cosa. Si el jugador actuase sólo com el fin de ganar, éste sería incompatible com el de apostar, porque el que quiere ganar -es decir, dirigir la causalidad a ganar- no puede lanzarse a un azar em el cual pierde el control de todo el curso causal. En este sentido,el “fin de ganar” es tan incompatible com el “fin de jugar” como lo es sólo “fin de perder”1 . 
9. Deveras, a vontade – terminologia utilizada no art. 14, II, do CP – não se confunde com 'desejo', porquanto, citando ainda o magistério de Zaffaroni: “'Voluntário' é o 'querer' ativo, o querer que muda algo, enquanto 'desejar' é algo passivo, que não se põe em movimento para mudar coisa alguma. 'Querer' é 'viver' e 'desejar' é 'desejar-se viver' (Heidegger). Aquele que quer – tem vontade – movimenta-se em direção ao resultado; o que 'deseja' apenas espera o resultado, como o qual se alegrará se sobrevier. Assim, distinguidos os conceitos, fica claro que se pode ter vontade sem desejo e desejo sem vontade. Um sujeito pode querer obter uma soma de dinheiro mediante uma ação violenta, mas não ter desejado esta ação, e ter sido coagido a cometê-la por um terceiro que o ameaçava de morte. Inversamente, pode ocorrer que um sujeito queira a morte de um tio rico, para herdar-lhe o patrimônio, e apesar disso nada faça para matá-lo”. 
10. Dessa forma, é certo que, no caso do dolo eventual, a vontade se faz presente, apesar do resultado não ser quisto pelo agente, conforme leciona Cezar Bitencourt: A consciência e a vontade, que representam a essência do dolo direto, como seus elementos constitutivos, também devem estar presentes no dolo eventual. […] Sinteticamente, procura-se distinguir o dolo direto do eventual, afirmando-se que “o primeiro é a vontade por causa do resultado; e o segundo é a vontade apesar do resultado”. Frank, em sua conhecida teoria positiva do conhecimento, sintetiza a definição de dolo eventual, nos termos seguintes: “se o agente diz a si próprio: seja como for, dê no que der, em qualquer caso, não deixo de agir, é responsável a título de dolo eventual”. No entanto, nosso Código equiparou-os quanto aos seus efeitos, nos precisos termos da Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, da lavra do Ministro Francisco Campos, in verbis: “O dolo eventual é, assim, plenamente equiparado ao dolo direto. É inegável que arriscar-se conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo: ainda que sem interesse nele, o agente o ratifica ex ante, presta anuência ao seu advento”. 
Destarte, a atuação ex officio desta Corte resta inviabilizada quando não há teratologia ou flagrante ilegalidade no ato impugnado. 
Ex positis, NEGO SEGUIMENTO ao recurso em habeas corpus, com esteio no artigo 21, § 1º do RISTF.
Dê-se ciência ao Ministério Público Federal.	
Publique-se. Int..
Brasília, 18 de abril de 2017.
Ministro Luiz Fux
Relator
Documento assinado digitalmente

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