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AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS NA EFETIVAÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Elizia Dubay Lopes UEL

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AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS NA EFETIVAÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Elizia Dubay Lopes UEL/ lopesedubaye@hotmail.com Mari Clair Moro Nascimento UEL/ mariclairmoro@hotmail.com ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL / Ensino de Geografia Resumo Este estudo tem como objetivo identificar as práticas pedagógicas utilizadas no ensino de Geografia, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Fundamentado em: Callai (1999), Lastória e Fernandes (2012) entre outros estudiosos e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), possibilitou identificar os conceitos a serem abordados na referida disciplina: território, lugar e paisagem, bem como a necessidade dos professores se valerem de diversificados recursos didáticos a favorecerem a construção de tais conceitos. Embasado na abordagem qualitativa da realidade, a coleta de dados se deu com a aplicação do questionário, sendo as informações interpretadas a partir da análise de conteúdos. Realizado em uma escola da Rede Municipal da cidade de Cambé, contou com a participação de seis professores. O resultado aponta para a necessidade dos cursos de formação de professores e dos momentos de formação continuada contemplarem reflexões sobre a prática pedagógica, tendo em vista reelaborá-la. A ajuda de especialistas da área é imprescindível, pois os professores apontam suas fragilidades no domínio dos conceitos e recursos abordados nesta área do conhecimento. Palavras-chave: Ensino de Geografia; Ensino e Aprendizagem. Formação de Professores. 1.INTRODUÇÃO A disciplina de Geografia muitas vezes é reconhecida pelos alunos como desinteressante. Tal fato pode ser pela má formação acadêmica dos professores que acabam por efetivar esta e outras disciplinas para a memorização de conteúdos, sem contextualização com a vivência dos alunos. Para trabalhar com o desenvolvimento do conhecimento geográfico, nos anos iniciais do ensino fundamental, é imprescindível ao professor conhecer o que o aluno já tem construído acerca da noção de espaço, pois de acordo com Lastória e Fernandes (2012, p.326), “Há, portanto, relações e atividades humanas desempenhando importante papel na configuração do espaço. Ele não é, puramente, um espaço físico”. Assim, para os docentes atuarem com práticas 
2 favorecedoras à aprendizagem dos conceitos da geografia, no contexto escolar, é necessário que: Partindo do conhecimento adquirido em forma da observação do meio circundante, conhecimento ainda não sistematizado, o aluno deve ter oportunidade de contribuir para a elaboração de um arcabouço formado por ideias, conceitos e categorias que lhe permitam interpretar, de forma cada vez mais profunda, a realidade que o cerca (ALMEIDA, 1991, p.11). Sobre o que venha a ser o objeto de estudo da geografia, consta nas instruções dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs que: “A Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem.” (BRASIL,1997, p.74). Para isso é preciso ultrapassar práticas voltadas apenas à memorização dos estados e suas capitais, conforme vivenciado pela maioria de nós. Afirma-se isto, porque no exercício de proporcionar aprendizagem aos alunos nos anos iniciais do ensino fundamental, por falta de conhecimentos, muitas vezes os professores efetivam suas práticas pedagógicas a partir de vivências particulares, adquiridas na condição de alunos, ficando em evidência a necessidade dos cursos de formação de professores se voltarem para estratégias a minimizarem a mera memorização pela compreensão, tendo em vista proporcionar o avanço do conhecimento dos educandos. Essa análise, decorrente da leitura de textos e reflexões, realizadas na disciplina Didática de Geografia do Programa Nacional de Formação de Professores – PARFOR, da Universidade Estadual de Londrina suscitou saber: como professores atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental desenvolvem o conhecimento geográfico de seus alunos? Pois consta nos PCNs (BRASIL,1997, p.75) que: No que se refere ao ensino fundamental, é importante considerar quais são as categorias da Geografia mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária, ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades que se espera que eles desenvolvam. Embora o espaço geográfico deva ser o objeto central de estudo, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas, principalmente nos ciclos iniciais, quando se mostram mais acessíveis aos alunos, tendo em vista suas características cognitivas e afetivas. 
3 No intuito de conhecer como professores atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental desenvolvem os conteúdos da Geografia, estabeleceu-se como objetivo: identificar as práticas pedagógicas utilizadas na efetivação do ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. 2.METODOLOGIA Segundo Lüdke e André (1986), o que determina a escolha da metodologia de pesquisa é a natureza do problema. Assim, para saber como os professores desenvolvem o conhecimento geográfico de seus alunos, optou-se pela abordagem qualitativa da realidade, tendo em vista capturar o que pensam, sentem e fazem os atores do estudo. Portanto, a decisão pela pesquisa qualitativa se deu, porque ela considera “[...] o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.” (MINAYO, 1994, p.22). Nesta perspectiva, a coleta de dados se deu a partir da aplicação do questionário, elaborado com perguntas abertas e fechadas. Escolheu-se este instrumento por proporcionar aos professores pesquisados a liberdade de se expressarem, e assim atingir o objetivo traçado nesse estudo. De posse das respostas, estas foram interpretadas embasadas na análise de conteúdo, por ser uma técnica interpretativa a auxiliar “[...] no processo de descrição e compreensão do material escrito coletado, pesquisa documental, bem como das falas dos sujeitos que compõem a estrutura do caso sob estudo.” (MARTINS, 2006, p. 34). As falas dos professores pesquisados estão destacadas no texto em itálico, sendo identificados por: P1, P2, P3, P4, P5 e P6. Participaram da pesquisa seis docentes atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental de uma escola localizada na periferia da cidade de Cambé. 3.PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Afinal qual a Geografia que nós professores estamos ensinando? Porque, se efetivarmos suas práticas apenas reproduzindo a maneira como estudamos, 
4 estaremos agindo de maneira a formar cidadãos alienados geograficamente, por não serem seus conteúdos desenvolvidos para compreensão crítica do espaço em que vivem os alunos, pois muitas vezes a ação que prevalece é a amparada na simples memorização ou no que é apresentado no livro didático. Para subsidiar este estudo foi delimitado como corpo teórico: Callai; Castrogiovanni (1999); Lastória; Fernandes (2012); Oliveira (1989); entre outros que voltam suas pesquisas para o ensino de geografia. Quando se faz referência ao livro didático, de maneira alguma se descarta a necessidade deste recurso, mas salienta-se que a construção do conhecimento geográfico demanda compreensão de conceitos a partir do lugar/ambiente nos quais os alunos estão inseridos, porque terão a visão do real a amparar o entendimento de conceitos mais complexos. Sobre o livro didático Furlan (2002, p.1) salienta que “[...] deveria ser elaborado por um profissional ligado diretamente ou indiretamente
ao ensino de geografia e que o mesmo compreendesse sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas no ensino de Geografia”. Nota-se que os livros didáticos são escritos por autores que se empenham em mostrar a ligação dos fatos geográficos com os espaços vividos pelos alunos, no entanto, alguns conteúdos ainda são apresentados resumidamente, deixando de dar conta da temática de maneira que ela favoreça a compreensão da realidade. Assim, o livro didático deve ser utilizado como um apoio no processo de ensino e aprendizagem, conforme consta no guia de livros didáticos o PNLD escrito pelo Ministério da Educação (2012, p.7) “Sabemos que o livro didático é um material de apoio fundamental no desenvolvimento do trabalho docente e no processo de aprendizagem dos educandos”. A abordagem dos temas apresentados no livro didático precisa contar com o uso de outros instrumentos como: gráficos, atlas, mapas, textos, tabelas, imagens, entre outros que possam facilitar a aprendizagem do aluno, sempre relacionando seu cotidiano com os conteúdos apresentados. Assim, fica evidente a necessidade de diversificar os recursos “[...] com o objetivo de promover a ampliação do conhecimento dos alunos a respeito de temas cuja relevância é de inquestionável valor para a sociedade atual [...]” (FURLAN, 2002, p.1). Nesta linha de análise, verifica-se que e o uso de recursos didáticos diferenciados e metodologias diversificadas auxiliam na promoção da aprendizagem, por terem como finalidade específica “[...] abrir a cabeça, provocar a criatividade, 
5 mostrar pistas em termos de argumentação e raciocínio, instigar ao questionamento e à construção.” (DEMO, 1998, p.45). Cumpre observarmos os recursos didáticos utilizados nas aulas de geografia pelas professoras P1, P2, P4 e P6: Eu trabalho com o livro didático, mapas, ilustrações e atividades extraídas da internet. (P1). Eu trabalho com mapas, aula expositiva, (ás vezes) slides e montagem de maquetes e textos. (P2). Através de mapas, maquetes, desenho, pesquisa de campo e com apoio livro didáticos. (P4). Recortes, desenhos dos espaços, filminhos. (P6). Assim como a geografia, as demais ciências que fazem parte nos anos iniciais do ensino fundamental precisam proporcionar ao aluno, desenvolver as capacidades de: observação, análise, interpretação e pensamento crítico sobre sua realidade, pois conforme relata P4 “[...] as crianças tem que entender o meio em que estão inseridas”. Conforme afirma Oliveira (1989, p.142): Cabe à Geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade em que vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza. Convém ponderar que é por meio do entendimento da organização de produção e distribuição dos bens materiais que os alunos podem entender o espaço produzido pelo homem, pois “[...]. No espaço geográfico a sociedade constrói nossa História”. (LASTÓRIA; FERNANDES, 2012, p. 326). Entretanto, segundo Oliveira (1989, p.138), o ensino de Geografia está perdendo o que de especial ela sempre teve, de “[...] discutir a realidade presente dos povos, particularmente no que se refere a seu contexto espacial.” Verifica-se, portanto que as práticas desenvolvidas no ensino de Geografia, deveriam desenvolver a capacidade de: reflexão, interpretação e diálogo, de maneira que os alunos sejam capazes de transformar e ampliar seus conhecimentos, formando novos conceitos. Segue as respostas dadas pelas professoras P1, P3, P4 e P6, sobre a importância do ensino de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental: Serve para aprimorar os conhecimentos básicos, tais como: conhecer a região (seu bairro), cidade, bairros próximos onde vivem e interpretar diferentes realidades através das diversificadas 
6 estruturas físicas e sociais existentes dentro desse contexto bairro/moradia/cidade. (P1). O conhecimento que o aluno vai adquirir sobre o meio onde vive, como funciona a escola onde estuda, seu bairro, conhecer a si próprio e seu papel na comunidade, na família. (P3). A geografia nos anos iniciais é importante para que a criança saiba se localizar e conhecer o espaço onde vive. (P4). Para as crianças compreenderem os espaços a sua volta. (P6). De acordo com as respostas apresentadas, verifica-se que é dada a importância de se conhecer o espaço no qual as crianças estão inseridas, e que por meio de atividades diversificadas os professores trabalham o conceito de espaço. Sabe-se que do espaço escolar, ou seja, na sala de aula, temos uma diversidade de indivíduos e isso precisa ser considerado pelo professor. Diante de tal fato, assumindo a posição de investigador, implica-lhe conhecer o que os alunos já sabem acerca do conteúdo a ser trabalhado, pois este diagnóstico auxiliará na elaboração de suas práticas educativas, podendo prever os obstáculos a serem superados pelos alunos. Deste modo, o docente poderá ter êxito em sua prática educativa, por conhecer os saberes, valores e cultura dos alunos, pois de posse desses dados poderá buscar e testar novas alternativas de ensino. Sobre isso P6 nos relata: “Sempre inicio um conteúdo questionando os alunos, com o objetivo de identificar seus conhecimentos prévios”. Salienta-se a importância do professor identificar os conhecimentos prévios para atuar de maneira a promover a sua ampliação, porque somente detectar e nada fazer, não contribuem para a promoção da aprendizagem. No que se refere aos conteúdos que são abordados em geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, o espaço está presente quando se trabalha: “A criança e o meio ambiente; a cultura afro-brasileira; a escola como espaço de relações; elementos naturais; orientações espaciais; tratamento e representação das informações geográficas” (P2) e “O espaço escolar e o bairro” (P6). Portanto, ao levarmos em consideração o desenvolvimento do raciocínio geográfico, há necessidade de organizar e selecionar conteúdos que tenham significados e sejam relevantes socialmente. Os alunos necessitam apropriar-se da leitura do mundo, a partir do ponto de vista de seu espaço, e isso acontece no momento em que passa a compreender e interpretar conceitos para fazer questionamentos acerca da realidade sócio-espacial, o que cabe ser desenvolvido na escola. 
7 Sobre os conteúdos a serem abordados na escola, P4 nos relata que abarca: “Bairro, cidade, estado, localidade, pontos cardeais e relevo. Porque é determinado no programa”. É o que também diz P1: “A criança e o meio ambiente; moradias, bairros e cidades; cultura afro-brasileira e elementos naturais”. De acordo com Katuta (2000, p.8) verifica-se que: Deve-se ensinar o aluno a se orientar e localizar geograficamente, no entanto, devemos ter claro que essas noções, habilidades e conceitos não devem estar desvinculados de outros conteúdos, porque para empreendermos uma análise geográfica temos que iniciá-la respondendo às seguintes questões: O quê? E Onde? Observa-se que ambas as questões podem ser facilmente respondidas com o uso de mapas. No entanto, a segunda questão somente pode ser respondida adequadamente a partir da utilização de conhecimentos sobre orientação e localização geográficas. Nesta perspectiva, os conteúdos abordados pelas professoras são relevantes, no entanto, conforme apontado nos PCNs (BRASIL, 1997) e por alguns estudiosos do tema (CALLAI; CASTROGIOVANNI,1999; LASTÓRIA; FERNANDES, 2012; OLIVEIRA, 1989 entre outros), é importante contemplar os elementos: território, paisagem e lugar. Nos PCNs (BRASIL, 1997, p.75), temos a definição e explicação do que venha a ser o conceito território: [...] ele é a área de vida
de uma espécie, onde ela desempenha todas as suas funções vitais ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, para animais e plantas, o território é o domínio que estes têm sobre porções da superfície terrestre. Foi por meio dos estudos comportamentais que Augusto Comte incorporou o conceito de território aos estudos geográficos, como categoria fundamental para as explicações geográficas. Na concepção ratzeliana de Geografia esse conceito define-se pela propriedade, ou seja, o território para as sociedades humanas representa uma parcela do espaço identificada pela posse. É dominado por uma comunidade ou por um Estado. Na geopolítica, o território é o espaço nacional ou área controlada por um Estado nacional: é um conceito político que serve como ponto de partida para explicar muitos fenômenos geográficos relacionados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens. O território é uma categoria importante quando se estuda a sua conceitualização ligada à formação econômica e social de uma nação. Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o território. Território não é apenas a configuração política de um Estado-Nação, mas sim o espaço construído pela formação social. 
8 Para entendermos o que é território depende de compreendermos a complexidade de um espaço formado pela diversidade de: ideias, crenças, tendências e tradições de diversos povos e suas etnias. Lastória e Fernandes (2012, p.326) também apresentam o entendimento do que venha a ser o conceito território “[...] é compreendido pelos geógrafos como um espaço apropriado num determinado período de tempo, numa relação de poder institucional, governamental, judiciário, econômico, etc”. Para as autoras esse conceito pode ser compreendido por meio de um determinado tempo, em que se tem uma relação com o poder institucional, governamental, judiciário, econômico, etc. Sobre a paisagem, consta nos PCNs (BRASIL,1997, p.75) que ela: [...] tem um caráter específico para a Geografia, distinto daquele utilizado pelo senso comum ou por outros campos do conhecimento. É definida como sendo uma unidade visível, que possui uma identidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente. A paisagem é o velho no novo e o novo no velho! Vimos de acordo com os PCNs (BRASIL,1997) que essa categoria, paisagem está expressa na sociedade por meio de sua história, momento em que verificamos a soma dos tempos diferentes de uma combinação de espaços geográficos. Lastória e Fernandes (2012, p.327) afirmam que: “O estudo da paisagem permite que heranças herdadas por tempos passados sejam reveladas, e ajuda os professores a relacionarem duas importantes categorias teóricas para o ensino de Geografia e de História: o espaço e o tempo”. Assim, a interdisciplinaridade se faz presente favorecendo a compreensão da realidade a partir do resgate do passado a ajudar na interpretação do hoje. P3 relata contemplar a paisagem entre os conteúdos que desenvolve em sala de aula: “[...] sobre os conteúdos eu abordo a noção de paisagem, tratamento e representação da informação geográfica, a superfície da terra é a moradia dos seres vivos”. O conceito de lugar nos remete à realidade local ou à nossa região, podendo ser associado a cada indivíduo ou ao grupo. Entende-se lugar como parte do espaço geográfico onde se desenvolvem as atividades diárias ligadas à sobrevivência e às várias relações que são estabelecidas pelos homens. O lugar é mais do que uma localização geográfica, faz relação com vários tipos de experiências e com o mundo. Ele também faz associação ao sentimento de pertencermos a algum espaço, pois cada localidade tem suas próprias características, que juntas, dão ao lugar uma 
9 identidade própria. Assim, cada um que convive no lugar identifica-se com ele. Cada pessoa se sente bem em um lugar diferente do outro, ficando expressas características próprias e as diferentes experiências. Nesse contexto, a categoria lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos afetivos e subjetivos: uma praça onde se brinca desde menino, a janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina, de onde se avista a cidade. O lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico. Ainda que cada elemento a ser estudado na geografia possua a sua especificidade, a abordagem precisa acontecer de maneira integrada. Observando as características próprias de cada categoria, não se deve deixar de inserir o que é local, regional, nacional e global, pois: A geografia nos dá a possibilidade de ler o mundo por outro prisma. É ler o mundo da vida, dos espaços, das paisagens e entender que tudo é resultado da vida em sociedade e da busca dos homens pela sobrevivência e satisfação das suas necessidades. (P5). Em conjunto com as demais disciplinas, o ensino de Geografia, tem como objetivo: analisar, interpretar e pensar criticamente a realidade social, pois é por meio dela que absorvamos os elementos que nos fazem refletir sobre o mundo. Para isso, nos anos iniciais do ensino fundamental, é necessário contextualizar os conteúdos estipulados nos documentos que respaldam essa área do conhecimento, ou seja, faz-se necessário que o professor se ampare em referenciais teóricos, tendo em vista dominar os: conceitos, conteúdos, metodologias e técnicas que possibilitem compreender o espaço e assim, conhecer o mundo, pois de acordo com Callai (2000 apud CALLAI, 2005, p.94): O olhar espacial supõe desencadear o estudo de determinada realidade social verificando as marcas inscritas nesse espaço. O modo como se distribuem os fenômenos e a disposição espacial que assumem representam muitas questões, que por não serem visíveis têm que ser descortinadas, analisadas através daquilo que a organização espacial está mostrando. Assim, voltar os olhares para o espaço possibilita compreender o que acontece socialmente, ou seja, as relações entre os homens e a interferência na economia e política. Segundo P2: “[...] estudar a geografia é importante para a vida 
10 prática do educando, por se tratar do mundo em que ele está inserido”. Callai (2010, p. 26) afirma que: Nesse rumo, a geografia, como conteúdo curricular escolar, possibilita a interligação da escola, por meio dos conteúdos curriculares, com a vida, considerando que a aprendizagem escolar pode ser a forma de permitir que a criança se reconheça como sujeito de sua vida, de sua história. Consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) que as aulas de Geografia acabam sendo materializadas de forma expositiva, a partir do apresentado no livro didático, não possibilitando ao aluno descobrir novos conhecimentos geográficos. É preciso que haja a integração entre as diversas áreas do conhecimento, efetivando a interdisciplinaridade a possibilitar uma melhor interpretação da realidade social, pois segundo Katuta (2000, p.9), a aprendizagem do conhecimento geográfico “[...] é importante, desde que ele esteja contextualizado, ou seja, desde que sirva para o aluno entender melhor o território em que vive”. Nesta perspectiva, não deve haver momentos para cada área do conhecimento, porque o importante é a compreensão do conteúdo a partir da visão de diversificadas abordagens, ultrapassando a compartimentalização do conhecimento. Sobre a periodicidade das aulas de geografia, os professores pesquisados dizem: Geralmente eu trabalho a geografia duas vezes por semana. (P3) Uma vez por semana. (P4). Sempre trabalho quando vamos “conhecer a escola” ou quando tratamos do “Meio Ambiente” e do “trajeto
da criança até a escola”. Mas acredito que além desses conteúdos pontuais deveria ter mais conhecimento, para assim desenvolvermos mais atividades na disciplina em questão. (P5). É difícil quantificar, pois, depende do assunto que surge, ou, o trabalho do dia, mas, aquela ênfase, somente umas poucas vezes ao mês. (P6). Percebe-se que interdisciplinaridade ainda não se efetiva na prática dos professores pesquisados, ficando em evidência a abordagem da disciplina de geografia em momentos específicos e pontuais. Portanto, estar presente no dia a dia da sala de aula entrelaçada com a: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Arte e Educação Física, demanda que o professor abandone a reprodução de práticas vivenciadas ao longo da trajetória escolar. Para isso ele precisa pensar 
11 interdisciplinarmente, tendo em vista efetivar este modelo de prática pedagógica que não se pauta em quantas vezes se aborda uma disciplina, mas na complementariedade, ou seja, no entendimento de tal conteúdo a partir da visão de diversificadas áreas do conhecimento. Além da periodicidade, cumpre observar a utilização dos recursos a facilitarem a construção dos conceitos abordados na Geografia. As professoras pesquisadas revelam os recursos didáticos que utilizam para desenvolver a disciplina de Geografia. Entre eles apareceram: jornais, revistas, mapas, globo terrestre, atlas, maquete, livro didático, livro paradidático e textos de diferentes fontes (Quadro 1). Quadro 1: Recursos didáticos utilizados pelos professores pesquisados PROFESSORES TOTAL RECURSOS P1 P2 P3 P4 P5 P6 Jornais X X X X X X 06 Revistas X X X X X 05 Mapas X X X X X 05 Globo X X X X X 05 Atlas X X X X 04 Maquete X X X 03 Livro didático X X X X X X 06 Livro paradid. X X X X X 05 Textos X X X X X X 06 Fonte: Produção do próprio autor A utilização de recursos didáticos pelos professores pesquisados é variada, mas devem ser utilizados de maneira a possibilitar aos alunos: problematizar, dialogar, construir e desconstruir o conhecimento, despertando um interesse maior na aula. Nota-se que os recursos mais utilizados são: jornais, livro didático e textos. Por meio de relato de P1 e P3 observamos a importância dada ao livro didático: Eu uso para retirar o conteúdo e ter material concreto para que os alunos possam ler e interpretar. (P1). Traz com clareza e objetividade o conteúdo trabalhado, ilustrações sobre os assuntos e questões referentes ao conteúdo. (P3). P4 e P5 atribuem maior importância aos textos retirados da internet, xerocopiados e copiados do quadro: 
12 Para iniciar o trabalho damos sempre uma introdução através de um texto xerocado, porque geralmente os textos dos livros didáticos não batem com o conteúdo. (P4). Hoje com a internet a vinculação da informação é muito rápida, além da grande diversidade. Basta saber escolher bons sites. Daí é só estudar! (P5). Segundo Callai (2010, p.35), não cabe à escola apenas dar conta dos conteúdos listados no currículo, é preciso ter práticas que favoreçam o avanço do sujeito, para isso precisa conhecer a dinâmica da sociedade, tendo em vista entender o funcionamento da humanidade. Nesta perspectiva, o trabalho com a Geografia fica mais abrangente, por abarcar a compreensão das mudanças produzidas no mundo que se transformam de maneira muito rápida, o que também é reconhecido por P1 que diz: “Sempre que possível planejo dinâmicas, textos de geografia para que o conteúdo seja reconhecido como algo importante e funcional a ser utilizado na vida dos alunos”. No entanto, nem todos os professores pesquisados comungam desta visão, pois P2 diz que efetiva a “[...] geografia teoricamente, pois a prática é raramente feita como se deve”. Nota-se que o professor tem consciência de que a sua prática está divergente do indicado teoricamente, mas assim continua. Motivos? Talvez a falta de formação para abordar e desenvolver os conteúdos que a Geografia abarca. Sabe-se que o pouco tempo do professor para a pesquisa pode ser um grande entrave para realização de uma aula cheia de entusiasmo e colorido que a própria geografia nos traz. Mas a maneira como os cursos de formação de professores estão formatados interferem no exercício do docente, pois não é novidade que as horas para atividades práticas são insuficientes, conforme diz Pimenta e Lima (2010, p.49) o papel da teoria: [...] é oferecer aos professores perspectivas de análise para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Fazendo assim com que o professor possa exercer com maior enfoque suas atividades em sala de aula e passando esse mesmo entusiasmo ao aluno, por meio de atividades lúdicas que possibilitem uma melhor aprendizagem. P5 relata suas angústias ao ter que trabalhar com os conteúdos da referida disciplina “[...] é fundamental que se tenha clareza do que se pretende com o ensino 
13 de Geografia, e de quais objetivos lhe cabem. Eis aqui minha grande dificuldade”. Segundo Callai (2003, p.58), é preciso: [...] fazer da Geografia uma disciplina interessante, que tenha a ver com a vida e não apenas com dados e informações que pareçam distantes da realidade e na qual se possa compreender o espaço construído pela sociedade, como resultado da interligação entre o espaço natural, com todas as suas regras e leis, com o espaço transformado constantemente pelo homem. A Geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, deve ser ministrada a partir do conhecimento pelo professor das características e necessidades desta faixa etária, porque se as atividades não forem propostas de maneira a possibilitar o entendimento do conteúdo, o avanço do conhecimento ficará comprometido. P5 anuncia como desenvolve os conteúdos: Eu abordo poucos conteúdos, com poucas atividades e não aprofundo. Como atuo no 1º ano da alfabetização, criar condições para que a criança leia o espaço vivido para mim não é tarefa fácil. Penso que é um processo até que a criança consiga identificar e reconhecer espaços e paisagens. Para isso ela precisa saber observar, descrever, registrar e analisar. O professor precisa ter clareza teórico metodológica para conseguir contextualizar os seus saberes, os dos alunos, e os do mundo a sua volta. A fala desta professora expressa a abordagem superficial dos poucos conteúdos que ela elenca para trabalhar com as crianças. Mesmo sabendo que as habilidades: observar, descrever, registrar e analisar precisa ser desenvolvidas, parece apenas “passar” pelo conteúdo, porque afinal as crianças ainda estão no 1º ano da alfabetização. Desse modo, atribui o aprofundamento à próxima série e por outro professor. Será que algum professor assumirá este aprofundamento? O professor atuante nos anos iniciais do ensino fundamental precisa ter clareza da importância de possibilitar a alfabetização cartográfica, proporcionando atividades que favoreçam ao aluno o entendimento de como: se localizar, orientar, ter noções de escala, decifrar informações, signos e símbolos em um mapa. Segundo Callai (1999), essas são algumas das competências a serem desenvolvidas nos alunos, porque ao compreenderem esses elementos apropriam-se, pouco a pouco, do espaço no qual estão inseridos. A autora diz que a alfabetização não abarca somente a leitura de textos: 
14 [...] mas também da experiência humana vivida por todos, cotidianamente, e de escritura, igualmente não só do texto, mas também como construção da própria história não ocorre. Num e outro caso entende-se leitura/escrita não só como uma habilidade mecânica, mas como uma manifestação de cidadania. Neste
sentido, a alfabetização do ler e do escrever (inclusive mapas) é um meio para a constituição do cidadão que sabe o quê, e por quê, lê e/ou escreve. (CALLAI, 1999, p.65). Muitas pessoas relacionam a alfabetização à leitura de palavras e construção de frases, juntamente com pequenos cálculos, mas para essa autora, a alfabetização é muito mais que decodificar palavras, é a decodificação do mundo. Para isso, cabe ao professor levantar o que os alunos sabem sobre o assunto abordado, tendo em vista atuar para a sua ampliação. Sobre isso P3 diz: “Eu levanto o conhecimento prévio do aluno para depois explorar oralmente; textos, imagens e pesquisar nos livros, revistas e internet”. Com essa prática o professor se torna o agente mediador a favorecer o avanço da aprendizagem e desenvolvimento do aluno, pois atua intencionalmente sobre o que ele já sabe. Esse cuidado demonstra o seu olhar à individualidade dos educandos, por ser essencial atuar com um desafio a proporcionar avanços muito mais do que retrocessos. 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou analisar as práticas pedagógicas efetivadas no ensino de Geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, no intuito de contribuir com os professores na apresentação de um ensino mais favorecedor à compreensão dos conteúdos abordados nessa área do conhecimento. Voltar o olhar para a necessidade de o professor utilizar recursos diferenciados não se deu ao acaso, mas por saber que essa disciplina, quando trabalhada em sala de aula, acaba por ser efetivada a partir da utilização do livro didático. Longe de tecer críticas sobre ele, ressalta-se sua importância como um dos recursos que podem ser utilizados, pois pode ser uma fonte de análise e pesquisa tanto para o professor como para o aluno. Em consonância com os estudiosos da área, destaca-se a necessidade do professor nos anos iniciais do ensino fundamental trabalhar com apoio de instrumentos didáticos que possam representar a realidade do aluno, tendo como sugestão: o globo, o mapa, a bússola, fotos, vídeos, músicas e jornais tendo em 
15 vista estudar a atualidade, pois com esses recursos podemos tornar a disciplina de geografia mais agradável e compreensível. No entanto, indicar quais podem ser utilizados não basta, porque é preciso auxiliar o professor acerca de como usá-los. Então, recomenda-se que os cursos de formação de professores, bem como os momentos de formação continuada na escola, contemplem momentos de análise da prática pedagógica, tendo em vista o seu aperfeiçoamento, pois na melhoria do ensino tem-se como decorrência a melhoria da aprendizagem. A partir do corpo teórico delimitado, este estudo possibilitou conhecer os objetivos, conteúdos e estratégias a serem abordados e aplicados na sala de aula. No que se refere aos conceitos, os autores estudados apontam: lugar, paisagem e território, os quais devem ser interpretados a partir da realidade do aluno, contribuindo assim na formação do cidadão crítico, visto ser objetivo da eografia o entendimento do espaço para nele intervir. Salienta-se então, que o estudo da Geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, precisa e pode se tornar interessante na formação do aluno enquanto cidadão que compreende e intervém no espaço onde está inserido. Para isso, os professores devem ter o auxilio de especialistas, no intuito de serem mais bem capacitados no que se refere às maneiras de como operar em sala de aula com uma Geografia que não priorize a memorização e sim a análise crítica dos espaços dominados pelo homem. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosângela Doin de. A propósito da questão teórico-metodológica sobre o ensino de Geografia. São Paulo: AGB/Editora Marco Zero, vol. 8, 1991. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história, geografia / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. 166p. CALLAI, Helena Copetti. Geografia : ensino fundamental / Coordenação, Marísia Margarida Santiago Buitoni. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. 252 p. : il. (Coleção Explorando o Ensino ; v. 22) _______. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cadernos Cedes, Campinas: v. 25, n. 66, ago. 2005. p. 227-247. 
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