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Profa. Verônica Passos Rocha Oliveira Civil I – Parte Geral FATO E NEGÓCIO JURÍDICO 1. Conceito de fato jurídico Miguel Reale informa que é todo e qualquer fato de ordem física ou social, inserido numa estrutura normativa; Arnold Wald coloca que os fatos Jurídicos são aqueles que repercutem no direito, provocando a aquisição, a modificação ou a extinção de direitos subjetivos. Fatos jurídicos são todos os acontecimentos que, de modo direto ou indireto, acarretam consequências jurídicas. 2. Diferenças entre fatos, atos e negócios jurídicos FATOS JURÍDICOS (em geral – lato sensu) ATOS JURÍDICOS NEGÓCIOS JURÍDICOS Fatos naturais – alheios à vontade humana - fato jurídico em sentido estrito (strictu sensu) Ex. nascimento, terremoto Toda ação humana que produz efeitos jurídicos. Atos jurídicos lícitos e negociais. Fatos humanos – decorrem da vontade humana - ato jurídico em sentido amplo (lato sensu) Ex. construção de uma casa, compra de um sorvete Lícitos ou ilícitos O agente tem autonomia da vontade para definir o conteúdo e os efeitos do ato – adquirir, modificar, resguardar (garantir), transferir ou extinguir direitos. Liberdade apenas de praticar ou não o ato - os efeitos são definidos em lei. Ex. pintura de uma tela Há a liberdade negocial do sujeito. Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam- se, no que couber, as disposições do Título anterior. 3. Classificações do fato jurídico Os fatos jurídicos podem ser divididos em fato jurídico em sentido amplo e fato jurídico em sentido estrito. Fato jurídico em sentido amplo é todo acontecimento, dependente ou não da vontade humana, a que a lei atribui certos efeitos jurídicos. É o elemento que dá origem aos Profa. Verônica Passos Rocha Oliveira Civil I – Parte Geral direitos subjetivos, impulsionando a criação da relação jurídica, concretizando as normas jurídicas. Já o fato jurídico em sentido estrito independente da vontade humana (fatos naturais). É classificado em fato ordinário e fato extraordinário. Fatos ordinários são aqueles que integram a ordem do dia, como nascimento, morte, maioridade e outros. Já os fatos extraordinários são os que fogem a ordem natural das coisas, decorrem de caso fortuito e força maior. O caso fortuito e a força maior, se caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se configura na inevitabilidade do evento; e o subjetivo, que é a ausência de culpa ou a imprevisibilidade do acontecimento. São as causas excludentes da responsabilidade civil, previstas no artigo 393, do Código Civil: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Na força maior a causa que dá origem ao evento é um fato da natureza (força da natureza), como um raio, que provoca incêndio, a inundação, que danifica produtos. No caso fortuito é um acidente que gera o dano, advém de causa desconhecida, como o cabo elétrico aéreo que se rompe e cai sobre fios telefônicos, causando incêndio. 4. Ato jurídico em sentido estrito Atos jurídicos lícitos são os praticados pelo homem sem intenção direta de ocasionar efeitos jurídicos, tais como invenção de um tesouro, plantação em terreno alheio, construção, pintura sobre uma tela. Todos esses atos podem ocasionar efeitos jurídicos, mas não têm, em si, tal intenção. São eles contemplados pelo art. 185 do atual Código. Esses atos não contêm um intuito negocial. O presente Código Civil procurou ser mais técnico e trouxe a redação do art. 185: "Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior." Desse modo, o atual estatuto consolidou a compreensão doutrinária e manda que se aplique ao ato jurídico lícito, no que for aplicável, a disciplina dos negócios jurídicos. Em relação aos atos ilícitos, que são atos contrários ao Direito, uma vez que causam danos a alguem, o CC/02 disciplina que: Profa. Verônica Passos Rocha Oliveira Civil I – Parte Geral Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 5. Negócio jurídico: conceito, classificação e elementos constitutivos. Tem origem na doutrina alemã e foi assimilado pela Itália e posteriormente por outros países. Fundamentalmente, consiste na manifestação de vontade que procura produzir determinado efeito jurídico. Trata-se de uma declaração de vontade que não apenas constitui um ato livre, mas pela qual o declarante procura uma relação jurídica entre as várias possibilidades que oferece o universo jurídico. É no negócio jurídico onde repousa a base da autonomia da vontade, o fundamento do direito privado. O negócio jurídico continua sendo um ponto fundamental de referência teórica e prática. É por meio do negócio jurídico que se dá vida às relações jurídicas tuteladas pelo direito. Embora a categoria também seja usada no direito público, é no direito privado que encontramos o maior número de modalidades de negócios jurídicos. O atual Código adota a denominação negócio jurídico (arts. 104 ss). Lembre-se do Código Civil holandês, que no art. 33 do livro terceiro define o negócio jurídico como o ato de vontade que é destinado a produzir efeitos jurídicos e que se manifesta com uma declaração. Classificação - Quanto à formação: unilaterais (criam obrigações apenas para uma das partes – ex. doação), bilaterais ou sinalagmáticos e plurilaterais (buscam um fim comum – ex. sociedade). Obs. Todo negócio jurídico é bilateral sob o aspecto de sua formação, pois resulta da manifestação de duas vontades Profa. Verônica Passos Rocha Oliveira Civil I – Parte Geral - Quanto ao sacrifício patrimonial das partes (ou vantagens para as partes): onerosos e gratuitos (apenas uma das partes aufere benefício ou vantagem, para a outra há apenas obrigação. Ex. doação) - Quanto ao momento da produção dos efeitos: inter vivos e mortis causa. - Quanto às relações recíprocas (ou quanto à independência ou autonomia do negócio): principais e acessórios (ex. garantia). - Quanto à forma: formais (escritos ou solenes) ou informais (não solenes - regra). Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. (princípio do consensualismo) Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato. - Quanto às condições pessoais dos negociantes: impessoais (a prestação pode ser cumprida pelo obrigado ou por terceiro) e pessoais (intuitu personae). - Quanto à natureza do direito: pessoais (disposições de família. Ex. casamento, emancipação) ou patrimoniais (relação com o patrimônio – ex. contratos, testamento) - Quanto à eficácia: consensuais (formam-se pelo acordo devontades) e reais (exigem a entrega da coisa - tradição). - Quanto à extensão dos efeitos: constitutivos (criam direitos - sua eficácia operar- se ex nunc, ou seja, a partir do momento da conclusão,) e declarativos. - Quanto à causa: causais (materiais ou concretos – vinculados à causa que deram origem ao próprio negócio. Ex compra e venda) e abstratos (formais – desvinculados à causa de origem. Ex. títulos de crédito).
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