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Art. 138 LHIIIilHiliüldthlillillllMlilMil
se firmando como o motivo determinante da atuação (a deixa a um herdeiro para que ele crie
uma fundação de incentivo ao crime) o próprio negócio se invalidará.
2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
► Leasing. Seguro. Abusividade.O CDC não exclui a principiologia dos contratos de direito civil. (...) A cláusula
que obriga o arrendatário a contratar seguro em nome da arrendante não é abusiva, pois aquele possui dever
de conservação do bem, usufruindo da coisa como se dono fosse, suportando, em razão disso, riscos e encargos
inerentes a sua obrigação. O seguro, nessas circunstâncias, é garantia para o cumprimento da avença, protegen-
do o patrimônio do arrendante, bem como o indivíduo de infortúnios. 5. Rejeita-se, contudo, a venda casada,
podendo o seguro ser realizado em qualquer seguradora de livre escolha do interessado. REsp 1.060.515, rei.
Min. Honildo Castro, 4.5.10.4a T. (Info 433,2010)
3. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (ANALIS/JUD/TRF 3R/2007/FCC) Quando a imposição de encargo ilícito constitui o motivo determinante da
liberalidade,
a) invalida-se o negócio jurídico.
b) substitui-se o encargo ilícito por outro lícito, a critério do juiz.
c) considera-se não escrito o encargo ilícito.
d) substitui-se o encargo ilícito por outro lícito, a critério do beneficiário.
e) reduz-se a liberalidade à metade do valor estipulado pelo disponente.
1 Ã |
►CAPÍTULO IV - DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
►SEÇÃO I - DO ERRO OU IGNORÂNCIA
(8) A rt. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
* Referências:
! Art. 178, II, CC.
! Art. 138 da Lei 11.101/05.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Erro. Costuma-se definir o erro como falsa representação da realidade. Nessas hipóteses,
alguém imagina que está se relacionando com determinada pessoa, ou negociando determinado
objeto, sem perceber — quer seja por distração, desconhecimento ou simples equívoco — que, de
fato, trata-se de situação diversa.
Nem todo erro enseja a invalidação do ato. Para saber se determinado engano configura erro
passível de desconstituição do ato por anulabilidade, basta perguntar à vítima o que ela faria se
soubesse da realidade. A resposta certamente será bem simples: não teria celebrado o negócio,
que apenas aparentemente se assemelhava ao que pretendia o agente.
Requisitos. O Código Civil exige como requisito para anulação do negócio por erro que ele
seja substancial, isto é, relacionado a elementos essenciais do ato praticado, e que poderia ser per
cebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio (art. 138, CC/02).
Note-se que a codificação se baseia no comportamento médio do grupo social, não exigindo
habilitação técnica ou especialização para sua configuração. Em resumo, ocorre erro substancial,
passível de justificar a anulação do negócio, quando o vício em questão for escusável, vale dizer,
nas situações em que qualquer pessoa poderia cometê-lo em igualdade de circunstâncias.
220
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 139
2. ENUNCIADOS DAS JORNADAS
► Enunciado 12 - Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo
adota o princípio da confiança.
3. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (Cespe - Analista Legislativo - Consultor Legislativo - Câmara dos Deputados/2014) Julgue os itens sub-
sequentes, relativos aos bens jurídicos e aos negócios jurídicos.
Caso ocorra erro, espécie de vício de consentimento, em determinado contrato, ainda que a parte a quem a
manifestação de vontade se dirija se ofereça para executá-la na conformidade da verdadeira vontade do ma-
nifestante, não haverá possibilidade de tal contrato ser validado, uma vez que o negócio jurídico nulo não é
passível de confirmação ou convalidação.
02. (FCC - Analista Judiciário - Área Judiciária - TRT 2/2014) Robinho foi ao shopping com a intenção de comprar
um relógio de ouro, para combinar com suas inúmeras correntes do mesmo metal. De pouca cultura, adquiriu
um relógio folheado a ouro, apenas, que tentou devolver mas a loja não aceitou, alegando terem vendido
exatamente o que Robinho pediu e não terem agido de má-fé. Se Robinho procurar a solução judicialmente,
seu advogado deverá pleitear a
a] nulidade do negócio jurídico, por embasamento em falso motivo.
b) ineficácia do negócio jurídico, por erro incidental e abusividade do funcionário da loja ré.
«3 anulação do negócio jurídico, alegando lesão por inexperiência.
d) nulidade do negócio jurídico, por erro essencial quanto ao objeto principal da relação jurídica.
ei anulação do negócio jurídico, alegando erro substancial no tocante a uma qualidade essencial do relógio ad-
quirido.
03. (ADV/SENADO/2008/FGV) Na sistemática do Novo Código Civil, se o erro é escusável, o negócio:
a) prevalecerá.
b) será declarado nulo.
d poderá ser anulado.
d) será tido por inexistente.
ei fica sujeito à ratificação.
04 . (Juiz/TJ/SP/2009/VUNESP) Erro substancial e dolo essencial viciam o ato jurídico porque
tt revelam má fé do contratante.
bi a vontade não é livremente manifestada.
c) impedem que o declarante tenha conhecimento da realidade.
£ tornam ilícito o objeto.
1 E | 2 t | i C [ 4 C |
Art. 139.0 erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a
ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do
negócio jurídico. *
* Referências:
! Arts. 1.556, 1.557 e 1.903, CC.
! Art. 37, § 1 da Lei 8.078/90.
221
> iiiim .B iiiitM w in iig iu ; iiin H HArt. 140
1. BREVES COMENTÁRIOS
Espécies de erro substancial. O próprio texto legal enuncia as formas mais comuns de
erro substancial. Configura-se o error in negotia , isto é, o erro em relação à natureza do negócio,
quando se pretende praticar certo ato e, no entanto, realiza-se outro (v.g., doação x compra e
venda). Mas quando a coisa concretizada no ato de vontade não era a pretendida pelo agente,
tem-se o error in corpore, ou seja, o erro em relação ao objeto principal da declaração.
Se o erro é relativo às qualidades essenciais do objeto, tem-se o error in substantia (comprar,
por engano, pen drive com capacidade de armazenamento bem inferior à esperada, por exemplo).
Denomina-se error in persona quando o agente desconhece ou se engana acerca de aspecto essencial
da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, como, por exemplo, quando a esposa ignorava
vício comportamental do marido, vindo a descobri-lo dias após o casamento (art. 1.557, CC/02).
Erro * Vício Redibitório. Não confundir erro com vício redibitório. Neste caso (vício),
temos erro objetivo sobre a causa do negócio (próprio objeto), pois esta contém um defeito oculto
que torna a coisa imprestável ao uso a que se destina ou reduz consideravelmente o seu valor.
É o campo das ações edilícias (redibitórias ou estimatórias), nas quais se exige que o vendedor
se responsabilize perante o comprador em face do princípio geral de garantia que decorre da
cláusula geral de boa-fé.
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (FMP - Cartório - TJ - MT/2014) Negócio jurídico. Defeitos. Quando alguém faz doação patrimonial a outrem,
supondo que este, em tempos idos, lhe havia doado uma medula óssea, o que não ocorreu, protagoniza:
a) erro substancial que interessa à natureza do ato (error in ipso negotia).
b) erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore rei).
c) erro sobre alguma das qualidadesessenciais do objeto principal da declaração (error in substantia).
d) erro quanto à pessoa.
e) erro acidental.
02. (ANALIS/JUD/TRE/PB/2007/FCC - adaptada) No que concerne ao erro, um dos defeitos do negócio jurídico,
é correto afirmar:
O erro será substancial quando sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único
ou principal do negócio jurídico.
i d | 2 c |
( ! ) Art. 140.0 falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
* Referências:
! Art. 166, III, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Causa * Motivo. Para a exata compreensão do dispositivo em análise, devem-se distinguir as
noções de causa e motivo. A primeira está relacionada ao escopo visado pelas partes, vale dizer,
ao fim econômico ou social do negócio. Já o motivo pode ser decorrente de razões de ordem
subjetiva, que em princípio não interessam ao direito, logo não precisam ser mencionadas pelos
contratantes. Em suma, enquanto o motivo se relaciona à intenção, vale dizer, o impulso subjetivo
que leva o agente a celebrar o negócio, a causa diz respeito à finalidade prática que se pretende
obter em razão do ato jurídico a ser celebrado.
222
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 140
Existia grande controvérsia sobre o tema durante a vigência da codificação anterior, pois o
texto do já revogado art. 90 do CC/16 confundia os conceitos, situação superada na redação
atual do artigo em comento.
Num contrato de compra e venda, fica fácil perceber que a CAUSA do negócio é a transfe
rência do domínio sobre a coisa (art. 481), sendo esta a base objetiva do negócio. O MOTIVO
que ensejou a celebração do negócio (que não necessita ser exteriorizado) pode ser necessidade
financeira, desinteresse em permanecer com o bem por motivo de viagem, o desejo de acumular
capital para aquisição de outro bem, a existência de problemas com os vizinhos, etc....
Carlos Roberto Gonçalves exemplifica bem a questão: “se uma pessoa fa z uma doação à outra,
porque é informada de que o donatário é seu filho , a quem não conhecia, ou se é a pessoa que lhe
salvou a vida, e posteriorm ente descobre que tais fa tos não são verdadeiros, a doação poderá ser anu
lada somente na hipótese d e os referidos motivos terem sido expressamente declarados noinstrumento
como razão determ inante” (Direito Civil Brasileiro, vol. I, 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 367).
Como explica Silvio Venosa, os motivos “são d e ordem interna, psicológica, e não devem
in tervir na estabilidade ju ríd ica dos negócios. Se as partes, porém , erigem um dos motivos em razão
determ inante do negócio, ele se integra ao próprio, passa a faz er-lh e parte, gerando a anulabilidade
se f o r inverídico ou falso" (Código Civil Interpretado, 2a Edição. São Paulo: Atlas, 2011, p. 152).
Atente-se que o motivo que serve de fundamento de anulação do ato jurídico deve transcender
a reserva mental e se tornar conhecido dos contratantes.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (Cespe- Procurador do MP junto ao TCE-PB/2014) Considerando as disposições do Código Civil no que diz
respeito ao negócio jurídico e aos atos ilícitos, assinale a opção correta.
a) A confirmação pelas partes do negócio jurídico anulável deve ser expressa, ainda que parte do avençado já
tenha sido cumprida pelo devedor, ciente do vício que o inquinava.
b) Não comete ato ilícito aquele que exerce direito próprio em manifesto excesso aos limites impostos pelos bons
costumes.
c) É nulo o negócio jurídico celebrado por pessoa relativamente incapaz.
d) A escritura pública é formalidade essencial à validade de negócio jurídico que objetive a transferência de direitos
reais sobre imóveis, independentemente de seu valor.
e) O erro referente ao motivo do negócio não o vicia, exceto se o falso motivo for expresso como razão determi-
nante.
02. (TJ/SC - Juiz de Direito Substituto - SC/2013) Assinale a alternativa INCORRETA:
a) Cessará, para os menores, a incapacidade pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se
o menor tiver dezesseis anos completos.
b) Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição per-
manente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
c) Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
d) É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser
cumprida a obrigação; por outro lado, compete apenas à autoridade judiciária brasileira conhecer das ações
relativas a imóveis situados no Brasil.
e) O erro é substancial quando interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma
das qualidades a ele essenciais; concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; sendo de direito e implicando recusa
à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
223
Art. 141
03. (ANALIS/JUD/TRE/PB/2007/FCC - adaptada) No que concerne ao erro, um dos defeitos do negócio jurídico,
é correto afirmar:
O falso motivo sempre viciará a declaração de vontade e gerará a anulação do negócio jurídico.
04. (PROC/MUN/SP/2008/FCC - adaptada) Analise as seguintes afirmativas:
O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
GAB
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em
que o é a declaração direta.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Anulabiiidade na transmissão errônea da vontade. Sendo a hipótese de transmissão errônea
da vontade por meios interpostos (v.g., mensagem de e-m ail recebida de modo truncado), ocorre
vício passível de anulação, nos mesmos casos em que o é a declaração direta (art. 141). Assim,
aquele que opta por este caminho, de realizar um negócio por interposta pessoa (como quando
pede a alguém que compre um bem), justo que se possa também, desde que escusável, anular o
acordo erroneamente concebido.
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (PROC/MUN/RE/2008/FCC - adaptada) Considere as seguintes assertivas sobre os defeitos do negócio jurídico:
II. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração
direta.
02. (FCC - Analista Judiciário - Exec. Mandados - TRT 1/2013) Sobre o erro ou ignorância, de acordo com o
Código Civil Brasileiro, é INCORRETO afirmar:
a) O erro será substancial quando sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único
ou principal do negócio jurídico.
b) O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
c) O erro de indicação da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu
contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa.
d) O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
e) A transmissão errônea da vontade por meios interpostos não é anulável ao contrário do que ocorre nos casos
de declaração direta.
1 C 1 2 E |
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Art. 142.0 erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará
o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
>- :r.
* Referências:
► Art 1.903, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Erro Acidental. Importante frisar que o art. 142 do Código Civil faz referência a situações
que configuram erro acidental, por não serem suficientes à configuração de vício invalidante.
Nesses casos, o enganoestá relacionado a meros aspectos secundários, passíveis de correção, por
seu contexto e pelas circunstâncias, sem prejuízo aos interessados.
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 143
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (MPE-SC - Promotor de Justiça - SC/2013) Em sede de defeitos do negócio jurídico expressa a lei civil que o
erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando,
por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
02. (ANALIS/JUD/TRE/PB/2007/FCC - adaptada) No que concerne ao erro, um dos defeitos do negócio jurídico,
é correto afirmar:
O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, viciará o negócio jurídico
em qualquer hipótese.
C C T ~ C I 2 E |
Art. 143.0 erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Erro de cálculo não invalida a declaração da vontade. O simples erro de cálculo apenas
autoriza a retificação da declaração de vontade, contudo deve-se perceber que havendo um erro
no cálculo que se erigiu a motivo determinante do negócio (a parte calcula os juros e os percebe
justos, quando náo são), poderá ocorrer a anulação do negócio.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (ANALIS/JUD/TRE/PB/2007/FCC - adaptada) No que concerne ao erro, um dos defeitos do negócio jurídico,
é correto afirmar:
O erro de cálculo poderá gerar a anulação do negócio jurídico, uma vez que restou viciada a declaração de
vontade.
02. (PROC/MUN/RE/2008/FCC - adaptada) Considere as seguintes assertivas sobre os defeitos do negócio jurídico:
IV. O erro de cálculo não gera a anulação do negócio jurídico, autorizando apenas a retificação da declaração de
vontade.
E 3 1 E | 2 C |
Art. 144.0 erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação
de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
* Referências:
Arts. 172 a 175, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
A prioridade é a conservação do negócio. Numa inovação consentânea com o princípio
da conservação dos atos jurídicos, o Código vigente prescreve em seu art. 144 que o erro não
prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade
se dirige, se oferecer para executá-lo na conformidade da vontade real do manifestante. Isto
demonstra a busca pela conservação do negócio jurídico, estampada em todo o sistema civil.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (UEL - Delegado de Polícia - PR/2013) A respeito dos fatos e atos jurídicos, como previstos no Código Civil,
assinale a alternativa correta.
a) Tratando-se de atos jurídicos eivados de vício insanável, como erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo
ou lesão, o prazo para se intentar ação anulatória é de dois anos, contado a partir da celebração do negócio.
225
Art. 145
b) A condição é considerada como a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade de uma das partes,
determina que o efeito do negócio jurídico fica subordinado a um evento futuro e incerto.
c) Em se tratando de erro, este não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifes-
tação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
d) Para que se considere a coação como defeito do negócio, levam-se em conta o sexo, a idade e a desproporção
de altura e peso entre coator e coagido. O simples temor reverenciai também é considerado atividade coatora.
e) É anulável o negócio jurídico que aparentemente confere ou transmite direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se transmitem, ou que contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.
i c |
►SEÇÃO II - DO DOLO
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
* Referências:
Art. 178, II, CC.
> Art. 101 da Lei 11.101/05.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo, vício de consentimento. Não há que se confundir o vício do erro substancial com o
dolo. Se na primeira situação (art. 138) o agente incorre sozinho em lapso acerca de circunstância
relevante para a realização do negócio, na segunda tem-se induzimento malicioso à prática de
um ato prejudicial ao seu autor, embora proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro. A doutrina
costumava defender a diferenciação, ainda do dolo em bonus e malus (este invalidante do negócio).
O primeiro será o exagero comercial (o melhor, mais barato etc.), compreendendo que este não
invalidaria o negócio encetado. Contudo, hoje, com a visão de um sistema em que a boa-fé é
marca, não se pode aceitar qualquer informação, mesmo que inocente, que deturpe a realidade.
2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
► STJ 375 - Doação. Partilha. Dolo. Anulação. Noticiam os autos que mãe e irmãos convenceram a irmã (autora,
ora recorrida) a abrir mão dos bens havidos na partilha da sucessão do pai, sob pretexto de resguardo do
patrimônio familiar, que estaria em risco por seu casamento e ela (a autora) foi induzida em erro ao crer que,
participando dos negócios, recebería de volta os bens havidos na partilha. Todavia, a mãe fez distribuir, com
reserva de usufruto, alguns bens aos outros dois filhos e ao tio da autora. Daí a ação de anulação de ato jurídico
cumulada com perdas e danos contra a mãe e os irmãos, na qual afirma ter sido ludibriada e dolosamente in-
duzida a abrir mão do seu quinhão. Observa o Min. Relator que a lide foi decidida nas instâncias ordinárias com
explícita fundamentação nas provas produzidas (Súm. n 7-STJ), concluindo-se pela ocorrência do dolo (vício de
consentimento) apto a desencadear a anulação dos atos jurídicos realizados, ou seja, a doação da autora em
benefício da mãe. Outrossim, o Tribunal a quo consignou, em contraposição à sentença, não ser adequada a
anulação das doações feitas pela filha à mãe sem anular também todo o negócio subjacente da doação. Assim,
não prospera a alegação de que a autora busca anular doação feita ao tio que deveria ocupar o polo passivo
da demanda como litisconsórcio necessário. Houve a preclusão consumativa quanto essa questão porque não
requerida em declaratórios opostos ao acórdão da apelação. Por fim, quanto à ausência de solidariedade, por-
que não teria havido dolo dos irmãos, mas somente da mãe, este mesmo acórdão foi depois confirmado em
embargos infringentes, que imputaram, nãosóà genitora, mas também aos outros dois irmãos o ardil, são todos
responsáveis, sendo assim, não há a pretendida violação do art. 896 do CC/1916 (os atos jurídicos são anuláveis
por dolo, quando esse for causa). Diante do exposto, a Turma não conheceu o recurso. REsp 186.604-SP, Rei.
Min. Fernando Gonçalves, j. 6/11/2008.4a T.
3. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR
► Caso em que irmãos analfabetos foram induzidos à celebração do negócio jurídico através de maquinações,
expedientes astuciosos, engendrados pelo inventariante-cessionário. Manobras insidiosas levaram a engano os
irmãos cedentes que não tinham, de qualquer forma, compreensão da desproporção entre o preço e o valor da
coisa. Ocorrência de dolo, vício de consentimento. (STJ, REsp n° 107961, Min. Rei. Barros Monteiro, DJ 04/02/2002).
226p
I
LIVRO II I-D O S FATOS JURÍDICOS Art. 146
> Separação. Partilha. Desproporção. Anulação.2. O critério de considerar violado o princípio da dignidade
da pessoa humana apenas nas hipóteses em que a partilha conduzir um dos cônjuges a situação de miserabili-
dade não pode ser tomado de forma absoluta. Há situações em que, mesmo destinando-se a um dos consortes
patrimônio suficiente para a sua sobrevivência, a intensidade do prejuízo por ele sofrido, somado a indicações
de que houve dolo por parte do outro cônjuge, possibilitam a anulação do ato. REsp 1.200.708, rei. Min. Nancy
Andrighi, 4.11.10.3aT. (Info 454,2010)
4. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (Cespe - Analista Legislativo - Consultor Legislativo - Câmara dos Deputados/2014) Acerca de negócio
jurídico e de ato jurídico lícito e ilícito, julgue os itens seguintes.
O dolo essencial torna o negócio jurídico nulo, enquanto o dolo acidental somente obriga o pagamento de
indenização pelas perdas e danos.
02. (Juiz/TJ/SP/2009/VUNESP) Erro substancial e dolo essencial viciam o ato jurídico porque
a) revelam má fé do contratante.
b) a vontade não é livremente manifestada.
c) impedem que o declarante tenha conhecimento da realidade.
d) tornam ilícito o objeto.
1 E l 2 C |
Art. 146.0 dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito,
o negócio seria realizado, embora por outro modo.
* .■ -w __ ________ , _ . .... -• . _____ . . ......... .. , ...
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo principal * Dolo acidental. É preciso fazer distinção entre dolo principal e dolo aci
dental. Nem sempre o dolo é a causa do negócio. Ocorre, às vezes, de alguém realizar determinado
negócio por vontade própria, sem induzimento, mas em condições desfavoráveis provocadas pelos
artifícios criados pelo outro contratante ou um terceiro. Este é o dolo acidental, uma situação
na qual o ato ainda seria praticado, talvez de outro modo. Nesta hipótese, não há possibilidade
de anulabilidade, resolvendo-se a situação com condenação em perdas e danos, uma vez que a
vítima realiza o ato em condições mais onerosas ou menos vantajosas.
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (FCC - Procurador do Estado - MT/2016) Pedro adquiriu de João veículo que, segundo afirmou o vendedor,
a fim de induzir o comprador em erro, seria do tipo "flex", podendo ser abastecido com gasolina ou com ál-
cool. Mas Pedro não fazia questão desta qualidade, e teria realizado o negócio ainda que o veículo não fosse
bicombustível. No entanto, em razão do que havia afirmado João, Pedro acabou por abastecer o veículo com
combustível inapropriado, o que causou avaria no motor. O negócio jurídico
a) é anulável e obriga às perdas e danos, em razão do vício denominado dolo, não importando tratar-se de dolo
acidental.
b) é nulo, em razão de vício denominado dolo.
c) é nulo, em razão de vício denominado lesão.
d) é anulável, em razão do vício denominado dolo, mas não obriga às perdas e danos, por tratar-se de dolo acidental.
e) não é passível de anulação, pois o dolo acidental só obriga às perdas e danos.
02. (ADV/REFAP/ S/A /2007/CESGRANRIO) O Código Civil estabelece que os negócios jurídicos são anuláveis
por dolo, quando esta for a sua causa. Quando da realização de um negócio jurídico, pode-se afirmar, sobre a
ocorrência de dolo, que:
a) não se pode configurar a partir de uma omissão.
b) se ambas as partes procederem com dolo, caberão indenizações recíprocas, respeitando-se as proporções.
227
Art. 147
c) se for acidental, só obriga à satisfação de perdas e danos.
d) se for de terceiro, nunca torna o negócio anulável.
e) se for do representante convencional, obriga o representado a responder por perdas e danos subsidiariamente.
03. (MPU/2007 - adaptada) Com relação aos defeitos do negócio jurídico é correto afirmar:
O dolo acidental, em regra, anula o negócio jurídico, mas não obriga à satisfação das perdas e danos.
1 E | 2 C | i E |
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio
não se teria celebrado.
* Referências:
Arts. 766 e 773, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo por omissão. Não é necessária uma conduta positiva para a configuração do dolo.
Prescreve o art. 147 que o silêncio intencional de uma das partes, num negócio jurídico bilateral
(v.g., compra e venda de automóvel na qual não se informam as verdadeiras condições do veículo,
e a intenção do vendedor é “passar adiante”), a respeito de fato ou qualidade que a outra parte
haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
2. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR
► ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURlDICO POR DOLO. FALTA DE ARGUMENTOS NOVOS, MANTIDA A DECISÃO
ANTERIOR. Pretendida a rescisão do contrato por omissão dolosa do vendedor do imóvel, que escondeu a
existência informação relevante em curso na época da transação (silêncio intencional art. 147 do CC), o ato
jurídico é anulável, incidindo quanto à prescrição o art. 178, § 9o, V, "b", do Código Civil de 1916. Incidência da
Súmula 83/STJ. (STJ, AGA n° 783491, Min. Rei. Sidnei Beneti, DJE 12/12/2008).
Pretendida a rescisão do contrato por omissão dolosa do vendedor do imóvel, que escondeu a existência de ação
demolitória em curso na época da transação, o ato jurídico é anulável, incidindo quanto à prescrição o art. 178, §
9o, V, "b", do Código Civil de 1916. (STJ, REsp n° 664499, Min. Rei. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 02/05/2005).
<5) Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem apro-
veite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o
terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
l i Ví nt á i Mi . B l s : . i ú b c ,L, . .tn U Ú t rá Sp (fa á S : í& A tM B Ü M - O i S f c í . i 4 - r » í í
* Referências:
Arts. 402 a 405, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo de terceiro. A prática do dolo, como mencionado acima, não se limita aos figurantes
da relação jurídica. Na hipótese de que o induzimento malicioso (dolo) seja praticado por tercei
ro, somente ensejará a anulação do negócio se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse
ter conhecimento; caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá
civilmente por todas as perdas e danos perante a parte ludibriada (art. 148).
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (UEL - Delegado de Polícia - PR/2013) Setúbal Mourinho de Oliveira, imigrante recém-chegado ao Brasil,
pretendia adquirir um bem imóvel para instalar sua indústria e comércio de produtos alimentícios. Consultou
diversos jornais até que encontrou Aristides, que lhe ofereceu uma casa em um certo bairro da cidade. Setúbal
228
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 149
lhe afirmou que pretendia a aquisição de um bem imóvel para instalar sua empresa, e o negócio se concluiu
dias depois. Setúbal não pôde se instalar como pretendia, pois a Prefeitura do Município esclareceu que naquela
zona residencial isso não era possível.
Acerca das consequências desse negócio jurídico, assinale a alternativa correta.
a) O negócio é passível de anulação por restar configurada a lesão.
b) O negócio é anulável porque está presente o erro quanto ao objeto principal.
c) O negócio é passível de anulação por restar configurada a omissão dolosa.
d) O negócio não é anulável pois se trata de condição específica do contrato.
02. (Juiz/TJ/PR/2007 - adaptada) A respeito dos negócios jurídicos, é correto afirmar que:
O negócio jurídico eivado de dolo de terceiro poderá ser anulado ainda que não se prove que a parte a quem
ele aproveita sabia da ocorrência do dolo.
03. (MP/AM/Promotor/2007 - adaptada) A respeito dos fatos, atos e negócios jurídicos, assinale a opção correta.
O dolo acidental de terceiro provoca a anulação do negócio jurídico, ainda que a parte a quem aproveite dele
não tivesse nem devesse ter conhecimento, por afetar a declaração da vontade, desviando-a de sua real intenção
e causando-lhe danos.
1 B | 2 c | 3 E |
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder ci-
vilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o
representado responderá solidariamente com ele porperdas e danos.
. .. . . . . . . . . . i J
* Referências:
Arts. 120,405, 1.634, Ve 1.690 CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo do representante legal. O representante apesar de ser um terceiro, está vinculado ao
negócio de forma especial. Assim, necessário que se busque a sua origem. Quando é legal, não
há a participação voluntária da parte (como no caso dos incapazes) em sua escolha, logo, deve-se
buscar a regra da devolução limitada ao proveito. Por outro lado, ocorrendo dolo na representação
convencional, o representado agiu de modo falho em sua escolha (seja esta culpa in vigilando ou
in eligendo), logo, aplica-se a solidariedade dos atos ilícitos, regra do sistema de responsabilização.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (MPU/2007 - adaptada) Com relação aos defeitos do negócio jurídico é correto afirmar:
O dolo do representante legal de uma das partes, em regra, só obriga o representado a responder civilmente
até a importância do proveito que teve.
02. (Juiz/TJ/TO/2007/l FASE/CESPE - adaptada) Quanto aos negócios jurídicos, assinale a opção correta.
Caso o negócio jurídico seja realizado por representante legal ou convencional e se restar provado o dolo na
conduta de qualquer dos proponentes ou, ainda, que o dolo foi a causa da realização da avença, o negócio
é passível de anulação e impõe-se ao representado e ao representante a obrigação solidária de indenizar o
contratante de boa-fé por perdas e danos.
E C T 1 C | 2 E |
(5) Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio,
ou reclamar indenização.
• J t -liiifcl ' L L i í í k i Xj â i M t R l i ü L í 'jA > 7& ÍÍÍ3 £
229
Art.151
1. BREVES COMENTÁRIOS
Dolo bilateral. Em caso de dolo bilateral, ou seja, hipótese em que ambas as partes procedem
com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização, nos termos
do que preconiza o art. 150.
O dolo não se presume das circunstâncias de fato, cabendo o ônus da prova a quem o alega.
Para sua configuração, dispensa-se a prova do efetivo prejuízo, sendo suficiente que o artifício
tenha sido empregado para induzir a pessoa a efetuar um negócio jurídico, o que não seria al-
cançado, na convicção do seu causador, de outra forma.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (Vunesp - Cartório - TJ - SP/2014) Se ambas as partes procederem com dolo na conclusão de um negócio
jurídico,
a) só pode pedir-lhe a invalidação a parte que tiver agido com dolo acidental, contra a que tiver obrado com dolo
essencial.
b) nenhuma delas pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização, ainda que se trate de dolo me-
ramente acidental.
c) qualquer uma delas pode pedir-lhe a invalidação, mas a indenização só é cabível contra a parte que tiver agido
com dolo essencial.
d) qualquer uma delas pode alegá-lo para anular o negócio ou reclamar indenização.
02. (MPU/2007 - adaptada) Com relação aos defeitos do negócio jurídico é correto afirmar:
Se ambas as partes procederem com dolo, ambas podem alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indeni-
zação.
03. (MP/AM/Promotor/2007 - adaptada) A respeito dos fatos, atos e negócios jurídicos, assinale a opção correta.
É nulo o ato negociai no qual ambas as partes houverem reciprocamente agido com dolo. Mas, a nenhum dos
contratantes é permitido reclamar indenização, devendo cada uma suportar o prejuízo experimentado pela
prática do ato doloso, resguardando-se tão somente o direito ao ressarcimento do terceiro de boa-fé.
i b | 2 e | 3 e |
_
É
►SEÇAO III - DA COAÇAO
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas
circunstâncias, decidirá se houve coação.
* Referências:
" Art. 178,1, CC.
" Art. 146 do CP.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Coação moral como vício de consentimento. Entende-se por coação toda ameaça ou
pressão externa exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra sua vontade, à prática de um
determinado negócio jurídico, inquinando-o de anulabilidade. Trata-se de violência psicológica,
que se manifesta através de intimidação moral e que vicia a vontade da vítima. Perceba-se que
nessa espécie de vício, o coacto (=vítima) tem plena consciência do negócio que necessita praticar
para evitar sofrer o provável dano, bem como de suas consequências, sendo a escolha normal a
submissão à ameaça quando contrapostos o sacrifício exigido e o mal a ser evitado.
230
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 152
Distinguem-se duas espécies de coação: a coação física e a coação moral. A primeira (vis
absoluta) implica constrangimento corporal, razão por que não ocorre nenhum consentimento ou
manifestação de vontade, pois a vantagem é obtida mediante o emprego de força física (negócio
inexistente). Já na segunda {vis compulsiva), a vítima tem opção de escolha: praticar o ato exigido
pelo coator ou correr o risco de sofrer as consequências da ameaça por ele feita. E esta última
que configura o defeito invalidade (anulabilidade).
2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
► STJ 280 - Compra. Venda. Imóvel. Termo. Entrega. Recebimento. Notificação extrajudicial. O autor, ora recorrente,
propôs ação indenizatória, uma vez que a vendedora, ora recorrida, entregou-lhe o imóvel, objeto de promessa
de compra e venda, com atraso de dois anos e seis meses. Contudo a entrega das chaves foi condicionada à
assinatura de um termo no qual ambas as partes davam plena quitação das obrigações assumidas no contrato.
Ocorre que, antes de firmá-lo, o autor notificou extrajudicialmente a vendedora ré, ressalvando cláusula referente
ao prazo de entrega da obra. REsp 197.622-DF, Rei. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 4/4/2006.4a Turma.
: ' ' ' T B —
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento
do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Requisitos para configuração da coação. Para configuração da coação, deve-se demons
trar nexo de causalidade, ou seja, precisa ficar claro que sem a coação o negócio não teria sido
concretizado (a coação, por conseguinte, deve ser a “causa do ato”). Apura-se no caso concreto a
gravidade da coação (art. 152), avaliando-se as circunstâncias de acordo com as condições pessoais
da vítima (sexo, idade, condição, saúde, temperamento do paciente).
Ao se apreciar a coação, deve haver proporção (equilíbrio) entre o sacrifício exigido e o
mal evitado, comumente designado “justo receio de prejuízo”, pois o dano deve ser próximo e
provável, isto é, prestes a se consumar. Um mal longínquo, impossível ou evitável não constitui
coação apta a viciar o consentimento.
Em complementação aos comentários relativos ao art. 151, deve-se ainda consignar que a
ameaça ao paciente tanto pode ser dirigida contra sua pessoa ou aos seus bens, como também a
pessoas de sua família (em sentido amplo, cujo alcance será definido pelo juiz após observar as
circunstâncias do caso: namorada, amigo íntimo...).
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (MPU/2007 - adaptada) Com relação aos defeitos do negócio jurídico é correto afirmar:
Ao apreciar a coação, não se terá em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde e o temperamento do paciente.
E H i , e |
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor
reverenciai.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Temor reverenciai não configura coação. O mero receio de desapontar outrem não con
figura coação, por isso não configura o vício em análise o denominado “temor reverenciai” (art.
153), normalmente relacionado aos pais ou a outras pessoas a que sedeve obediência e respeito.
231
Do mesmo modo, a coação deve ser “injusta”, pois não se verifica quando ocorre ameaça do
exercício normal de um direito. Contudo, o caso concreto deve destacar a realidade da coação,
levando-se em conta todo o conjunto de características do suposto coacto.
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Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conheci-
mento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
* R e fe rê n c ia s :
► Arts. 402 a 405, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Coação de terceiro. No que concerne à coação exercida por terceiro, adotou o CC/02 fórmula
semelhante àquela prevista para o dolo exercido por terceiro, ou seja, só se admite a anulação do
negócio se o beneficiário souber ou devesse saber da coação, respondendo solidariamente com o
terceiro pelas perdas e danos. Se a parte não coagida de nada sabia, subsiste o negócio jurídico,
respondendo o autor da coação por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto (art.
155, CC/02).
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite
dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos
que houver causado ao coacto.
* R e fe rênc ia s :
► Arts. 402 a 405, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Coação e boa-fé. A solução dada pelo Código visa proteger a parte que, de boa-fé, con
cretizou negócio com o coacto. Desta forma, mantém-se o negócio jurídico, sem que se prive o
prejudicado de buscar o ressarcimento perante o responsável pela coação. Lembre-se o leitor, que
a coação de terceiro, aqui tratada, envolve negócios comuns, visto que atos negociais especiais, em
que a vontade deve ser plenamente livre, não se subordinam à manutenção sem voluntariedade,
como no casamento e no testamento.
2. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (FCC - Analista Judiciário - Judiciária - TRT1/2013) Sobre os defeitos dos negócios jurídicos, de acordo com
o Código Civil brasileiro, considere;
I. A coação sempre vicia o ato, ainda que exercida por terceiro, e se a parte prejudicada com a anulação do ato
não soube da coação exercida por terceiro, só este responde por perdas e danos.
II. Tratando-se de negócios gratuitos, a anulação por fraude contra credores dispensa que o estado de insolvência
do devedor seja conhecido por qualquer uma das partes, mas no caso de contrato oneroso do devedor insolvente
é necessário, para a anulação, que a insolvência seja notória ou houver motivo para que ela seja conhecida do
outro contratante.
III. O dolo do representante legal ou convencional de uma das partes só obriga o representado a responder civil-
mente até a importância do proveito que teve.
Está correto o que se afirma APENAS em
a) I e II.
b) I e III.
c) II.
232
LIVRO II I-D O S FATOS JURÍDICOS Art. 156
d) II e III
e) III.
02. (MP/AM/Promotor/2007 - adaptada) A respeito dos fatos, atos e negócios jurídicos, assinale a opção correta.
0 negócio jurídico celebrado mediante coação exercida por terceiro sujeita o coatore aquele que teve proveito
econômico com a avença à reparação dos danos causados na conclusão do ato negociai. Nessa situação, ainda
que a parte beneficiada ignore a coação, o negócio não terá validade, resolvendo-se em perdas e danos supor-
tados somente pelo terceiro.
i c | i e |
► SEÇÃO IV - DO ESTADO DE PERIGO
( • ) Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a
pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do dedarante, o juiz decidirá segundo
as circunstâncias.
* R e fe rênc ia s :
>Arts. 171, II, e 178, II, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Estado de perigo, vício de consentimento. O estado de perigo pode ser compreendido
como a projeção do estado de necessidade no âmbito negociai. Faz-se importante distipgui-ln da
lesáct vvc/a curnentaVios ao artigo seguinte), porque entre eles é possível identificar uma relação
de gênero e espécie.
O risco tutelado no estado de perigo. Em cada um dos institutos existe um risco diferente
a ser tutelado. Na lesão haverá desproporção das prestações, causada por estado de necessidade
econômica, mesmo não conhecido pelo contraente que vem a se aproveitar do negócio. “O risco
épatrimonial, decorrente da im inência d e sofrer algum dano material (falência, ruína negociai etc.).
No estado d e perigo haverá temor d e im inente e gra ve dano moral (direito ou indireto) ou material,
ou seja, patrim onial indireto à pessoa ou a algum parente seu que compele o declarante a concluir
contrato, m ediante prestação exorbitante. O lesado é levado a efetivar negócio excessivamente oneroso
(elemento objetivo), em virtude d e risco pessoal (perigo d e vida; lesão à saúde, à integridade física ou
psíquica de uma pessoa - próprio contratante ou alguém a ele ligado), que dim inui sua capacidade
de dispor livre e conscientem ente” (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro.
Teoria Geral do Direito Civil. 24a ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 469).
Exemplos. Desde o advento do CC/02, quando o vício do estado de perigo foi introduzido no
ordenamento, a doutrina vem apresentando diversas situações exemplificativas de sua ocorrência:
(a) a promessa do náufrago ao salvador, (b) vítima de acidente grave de automóvel, que assume
obrigações excessivamente onerosas para que não morra no local do acidente; (c) doente que
promete pagar honorários excessivos a cirurgião [e para tanto vende sua casa ou carro por preço
irrisório], com receio de que, se não for operado, venha a falecer (NERY JR., Nelson; NERY,
Rosa Maria de Andrade. Código Civil anotado e legislação civil extravagante. São Paulo: RT,
2003, p. 220). Requisito comum para a efetiva configuração do estado de perigo, em todas as
situações acima descritas, é que o receio de dano pessoal deva ser do conhecimento da outra
parte, isto é, a vítima supõe que esteja em perigo, que embora não causado pelo outro con
tratante — como ocorre na coação - , é do seu conhecimento.
233
TÍTULO I - DO NEGÓCIO JURÍDICOArt. 156
2. ENUNCIADOS DAS JORNADAS
► Enunciado 1 4 8 -Art. 156: Ao "estado de perigo" (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2o do art. 157.
3. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR
► O estado de perigo é tratado pelo Código Civil de 2002 como defeito do negócio jurídico, um verdadeiro vício
do consentimento, que tem como pressupostos: (i) a "necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família"; (ii) o
dolo de aproveitamento da outra parte ("grave dano conhecido pela outra parte"); e (iii) assunção de "obrigação
excessivamente onerosa". Deve-se aceitar a aplicação do estado de perigo para contratos aleatórios, como o
seguro, e até mesmo para negócios jurídicos unilaterais. O segurado e seus familiares que são levados a assinar
aditivo contratual durante procedimento cirúrgico para que possam gozar de cobertura securitária ampliada
precisam demonstrar a ocorrência de onerosidade excessiva para que possam anular o negócio jurídico. (STJ,
REsp n° 918392, Min. Rei. Nancy Andrighi, DJE 01/04/2008).
4. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (TRF1 - Juiz Federal Substituto 1a região/2015) Maria, médica cardiologista, que namora Paulo, mas com ele
não mantém união estável, ajuizou ação anulatória de negócio jurídico de compra e venda contra a empresa
Biotecnologia Ltda. Para tanto, sustentou que adquiriu da ré um aparelho do tipo marca-passo, que foi implantado
em seu namorado Paulo, em caráter de urgência, mediante a emissão de um cheque no valor de R$ 10.000,00.
O aparelho em questão é comumente vendido no mercado por R$ 4.000,00.
Nessa situaçãohipotética,
a) Maria teve sua vontade viciada, pois agiu fundada no temor de dano iminente e considerável a Paulo.
b) Maria, por inexperiência, se obrigou ao pagamento de valor desproporcional ao praticado no mercado no ato
de celebração do negócio jurídico.
c) para que o pedido seja julgado procedente, deve ficar demonstrado por Maria o dolo de aproveitamento da
fornecedora do material, ou seja, a vilania do outro contratante.
d) Maria não tem legitimidade para propor a demanda, já que Paulo não é seu marido nem com ela convive em
regime de união estável.
e) segundo a legislação de regência, a hipótese é de nulidade do negócio jurídico, e o juiz deve reconhecer de
ofício o vício de consentimento mediante a prolação de sentença declaratória.
02. (Vunesp - Delegado de Polícia - SP/2014) No estado de perigo, considerado como defeito do negócio jurídico,
é correto afirmar que
a) para sua configuração, é imprescindível o conhecimento do risco de grave dano por ambas as partes.
b) somente pode ser alegado quando o risco de grave dano for da própria pessoa que assumiu a obrigação.
c) é causa de nulidade do negócio jurídico, exigindo declaração judicial neste sentido.
d) gera a possibilidade de revisão judicial, com finalidade de tornar a obrigação proporcional, mas não é causa de
anulação ou nulidade do negócio.
e) consiste na assunção de obrigação manifestamente desproporcional à obrigação da outra parte, por inex-
periência.
03. (TEC/PGE/PA/CAD G/2007/CESPE) A respeito dos negócios jurídicos, assinale a opção correta.
a) No negócio jurídico de alienação de um bem imóvel, se inserem todos os bens acessórios e as pertenças que o
adornam, ainda que não constem expressamente do contrato, pois todos esses seguem o principal e não podem
ser objeto de negócio jurídico.
b) Nos negócios jurídicos em que se estabelece uma condição suspensiva, desde o momento da celebração da
avença, esse ato é considerado perfeito e acabado. Assim, é anulável qualquer outra disposição sobre o bem
negociado que sujeite o contratante inadimplente ao pagamento de perdas e danos à parte inocente e ao
terceiro de boa-fé.
c) Quanto à formação, os negócios jurídicos são sempre bilaterais, sendo necessário, para que o negócio se com-
plete, além da manifestação de ambas as partes, que essas declarações de vontade sejam antagônicas.
d) Para se caracterizar o estado de perigo capaz de viciar o negócio e torná-lo anulável, exige-se, quanto ao
elemento subjetivo, que a vítima esteja premida pela necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de
grave dano; em relação à parte que se beneficia do estado de perigo, exige-se o dolo de aproveitamento.
234
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 157
04. (ADV/SENADO/2008/FGV) Solange de Paula move ação anulatória em face do Hospital das Clínicas. Ocorre
que, necessitando internar seu marido, não encontrou vaga no SUS, logrando êxito em conseguir a internação
em hospital da rede privada, não integrante da rede SUS. O hospital exigiu o depósito de R$ 3,5 mil para a
internação e mais R$ 360,00 para exames. Entregues os cheques, após o atendimento, Carmem ingressou em
juízo para anular o negócio jurídico. Assinale o melhor fundamento para sua pretensão.
a) onerosidade excessiva
b) lesão
c) estado de perigo
d) enriquecimento sem causa
e) venire contra factum proprium
05. (MP/AM/Promotor/2007 - adaptada) A respeito dos fatos, atos e negócios jurídicos, assinale a opção correta.
Caracteriza-se a lesão quando alguém, sob premente necessidade, assume obrigação excessivamente despro-
porcional à vantagem obtida, gerando um lucro exagerado ao outro contratante. Para que seja reconhecida a
nulidade desse negócio, exige-se, além do prejuízo de uma das partes e do lucro exagerado da outra, o dolo
de aproveitamento na conduta do outro contratante.
1 c | 2 a | 3 d | 4 c [ s ; |
►SEÇÃO V - DA LESÃO
( • ) Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se
obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ I o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi cele-
brado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito.
- • « A f t ia i l i r t s l i íA À -u • ■ O i-L . a i r . . v . . ... 'A ÍM i iú U ú / í . ; ..'liaS sc l
* Referências:
Arts. 178, II, e 884 a 886, CC.
Arts. 6o e 51 da Lei 8.078/90.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Lesão, vício de consentimento. Para melhor compreensão do instituto da lesão, ver os co
mentários ao artigo anterior. O art. 157 descreve a denominada lesão especial, sendo necessário
para a concreção do seu suporte fático o valor manifestamente desproporcional da contrapres-
tação exigida quando da formalização de ato jurídico que deva ter ocorrido por necessidade ou
inexperiência no mundo dos negócios. É preciso cautela na construção de significado para as
expressões “necessidade” e “inexperiência”, que atuam como elementos completantes do núcleo
do suporte fático da lesão.
A referida necessidade transcende o mero caráter econômico, devendo ser entendida como
impossibilidade de se evitar a celebração do negócio, inclusive por imperativo de cunho moral.
Já a inexperiência aqui abordada leva em consideração as condições pessoais da parte contratante
desfavorecida, cabendo ao magistrado, no caso concreto, examinar seu status sociocultural. En
fim, a “necessidade” em análise é a necessidade contratual, e não a insuficiência de meios para
promover subsistência própria do lesado ou de sua família. Tampouco a “inexperiência” deve ser
confundida com o erro ou a ignorância.
Dolo de aproveitamento. Após análise cuidadosa dos elementos subjetivos integrantes do
suporte fático da lesão especial, cumpre indagar se necessária a ciência de tal condição por parte
do contratante que se aproveita do negócio para a incidência do disposto no art. 157 do CC/02.
Na verdade, o que se exige é o aproveitamento, mas não o dolo de aproveitamento, o que ressalta
235
Art. 157
a orientação objetiva do instituto. Isso acontece mesmo que o lesionário não tenha consciência
da inferioridade do lesado — ou seja, intenção de se aproveitar. Apura-se apenas a circunstância
fática do aproveitamento. Desse modo, se houver desproporção, ainda que a outra parte esteja
de boa-fé é possível a invalidação do negócio.
Conservação dos contratos. Anote-se, por último, que, em atenção ao princípio da con
servação dos contratos, o Enunciado n° 149 do CJF preconiza que “a verificação da lesão deverá
conduzir, sempre que possível, à revisão ju d ic ia l do negócio ju r íd ico e não à sua anulação, sendo
dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2 o, do Código Civil de
2002”, que permite ao juiz deixar de decretar a anulação do negócio se for oferecido suplemento
suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Nesse sentido é o teor
do Enunciado n° 291 do CJF.
Espécies de Lesão
Usura real
(art. 4» da Lei 1521/51)
No CDC
(art. 39, V c/c 51,IV)
Lesão Especial
(art. 157, CC/02)
Requisitos
Exige dolo de aproveitamen-
to, além do elemento objeti-
vo: desproporção superior a
20%
O elemento objetivo basta.
Não se analisam as condições
pessoais do agente.
Conjuga-se 0 elemento objeti-
vo (desproporção considerável)
com a necessidade ou inexperi-
ência de um dos figurantes.
Elemento
qualitativo
Tarifada Sem tarifação Sem tarifação
Espécies de
Invalidade
Nulidade Anulabilidade Anulabilidade
Espécies de
Invalidade
Nulidade Anulabilidade Anulabilidade
Fonte: Figueiredo, Luciano Uma & Figueiredo, Roberto Lima. Direito Civil - Obrigações e ResponsabilidadeCivil
(Coleção Sinopses para Concursos). 3. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2014.
2. ENUNCIADOS DAS JORNADAS
► Enunciado 148 - Art. 156: Ao "estado de perigo" (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2° do art. 157.
► Enunciado 149 - Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá
conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do ma-
gistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2°, do Código Civil de 2002.
► Enunciado 150 - Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.
► Enunciado 290 - Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação
deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente
necessidade ou a inexperiência do lesado.
► Enunciado 291 - Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar
por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial
do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.
3. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (Cespe - Delegado de Polícia - PE/2016) Assinale a opção correta a respeito dos defeitos dos negócios jurídicos.
a) Na lesão, os valores vigentes no momento da celebração do negócio jurídico deverão servir como parâmetro
para se aferir a proporcionalidade das prestações.
236
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 157
b) Os negócios jurídicos eivados pelo dolo são nulos.
c) A coação exercida por terceiro estranho ao negócio jurídico torna-o nulo.
d) Age em estado de perigo o indivíduo que toma parte de um negócio jurídico sob premente necessidade ou por
inexperiência, assumindo obrigação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta ferindo o
caráter sinalagmático do contrato.
e) Se em um negócio jurídico, ambas as partes agem com dolo, ainda assim podem invocar o dolo da outra parte
para pleitear a anulação da avença.
02. (Vunesp- Procurador Jurídico - SAAE - SP/2014) Nos defeitos do negócio jurídico, o Código Civil tratou do
instituto da lesão, sendo que esta ocorre
a) se uma pessoa, sob estado de necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente despro-
porcional ao valor da prestação oposta.
b) quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido
pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
c) se uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta.
d) quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de
inteligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
e) quando o devedor insolvente pratica atos lesivos aos direitos dos credores.
03. (FCC - Procurador Município - Prefeitura Cuiabá-MT/2014) Por ocasião de forte seca na região centro-oeste,
Manoel passou a vender água potável a preço cinco vezes superior ao que praticava anteriormente. Temendo
perder produção de soja, Jair celebrou vultoso contrato, adquirindo grande quantidade de água pelo preço
cobrado por Manoel. O negócio celebrado entre Manoel e Jair é
a) válido, pois a Constituição Federal garante o direito de propriedade e estimula a livre-iniciativa.
b) anulável, em razão de vício denominado lesão.
c) nulo, em razão de vício denominado lesão.
d) anulável, em razão de vício denominado estado de perigo.
e) nulo, em razão de vício denominado coação.
04. (FCC - Defensor Público - PB/2014) Sob premente necessidade financeira, João vende a Luís imóvel por um
terço do valor de mercado. Tal negócio é
a) nulo, pelo vício denominado coação, não podendo ser convalidado pela vontade das partes.
b) nulo, pelo vício denominado estado de perigo, não podendo ser convalidado pela vontade das partes.
c) anulável, pelo vício denominado lesão, podendo ser convalidado pela vontade das partes.
d) anulável, pelo vício denominado estado de perigo, podendo ser convalidado pela vontade das partes.
e) anulável, pelo vício denominado lesão, não podendo ser convalidado pela vontade das partes.
05. (Cespe - Procurador do Estado - PGE-BA/2014) Acerca dos negócios jurídicos, julgue os itens a seguir.
Ocorre a lesão quando uma pessoa, em premente necessidade ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, exigindo-se, para a sua configuração, ainda, o
dolo de aproveitamento, conforme a doutrina majoritária.
06. (Cespe - Juiz Federal Substituto 5a Região/2013) Considerando a teoria geral do direito civil, assinale a opção
correta.
a) Possuem domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o preso, o marítimo e o empresário.
b) Para efeitos do direito à sucessão aberta, considera-se bem móvel ou imóvel, conforme o caso concreto.
c) Em relação à desconsideração da personalidade jurídica, o encerramento irregular das atividades da pessoa
jurídica, por si só, basta para caracterizar o abuso de'personalidade.
d) Quando determinada pessoa, sob premente necessidade ou por inexperiência, obriga-se a prestação manifes-
tamente desproporcional ao valor da contraprestação, ocorre lesão.
e) A qualidade de associado é intransmissível, não podendo o estatuto dispor o contrário.
237
Art.158
07. (PROC/MUN/RE/2008/FCC - adaptada) Considere as seguintes assertivas sobre os defeitos do negócio jurídico:
III. Caracterizada a lesão o negócio jurídico não será anulado se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito.
08. (PROC/BACEN/2009/CESPE - adaptada) A respeito dos elementos, dos defeitos e da validade dos atos jurídicos,
assinale a opção correta.
Se comprovada a inexperiência do contratante, a lesão restará configurada ainda que a desproporcionalidade
entre as prestações que incumbem às partes seja superveniente.
09. (MP/RN/2009/CESPE - adaptada) No que se refere aos negócios jurídicos, ao direito de empresa e aos direitos
reais de garantia, assinale a opção:
Resta caracterizada a lesão ainda que a desproporção entre as prestações ocorra em momento superveniente
à declaração da vontade.
10. (TCE/ACRE/2009/CESPE - adaptada) A respeito da disciplina dos negócios jurídicos no Código Civil, assinale:
Para que se configure a lesão e possa, em virtude disso, ser anulado o negócio jurídico entabulado, é necessário
que a contraparte saiba da premente necessidade ou da inexperiência do outro.
1 A 2 C 3 B 4 C 5 E
6 D 7 c 8 E 9 E 10 E
►SEÇÃO VI - DA FRAUDE CONTRA CREDORES
(5) Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o de-
vedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2° Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.
* Referências:
Arts. 173, II, e 1.813, CC.
Súmula 195 doSTJ.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Fraude, vício social. Ao contrário das hipóteses anteriormente estudadas, o defeito da fraude
contra credores não integra a categoria dos vícios de consentimento. Trata-se de vício social (a
vítima não participa do ato, embora sofra suas consequências negativas), baseado no princípio
da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas
obrigações, por constituir garantia geral dos credores. Para a configuração da fraude é necessário
que o devedor “desfalque maliciosa e substancialmente seu patrim ônio” (GONÇALVES, Carlos
Roberto. Direito Civil Brasileiro,vol. I, 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 406), a ponto de
não mais garantir o pagamento de todas as suas dívidas, agravando seu estado de insolvência
ou se tornando insolvente (passivo superando o ativo), justamente pela prática de tal ato, em
detrimento dos direitos creditórios alheios. Como forma de tutela à boa-fé, o STJ, em reiteradas
decisões, vem aplicando, no caso de vendas sucessivas, o entendimento de que somente poderá
ser desconstituído o negócio em face dos adquirentes de má-fé (veja, como exemplo, o REsp
1100525/RS)
Requisitos para configuração. Da leitura do dispositivo podem ser identificados os requi
sitos necessários à concreção do suporte fático da fraude contra credores: (a)consilium fraudis,
vale dizer, conluio fraudulento (elemento subjetivo), que revela a má-fé dos envolvidos e (b)
eventus damni, isto é, prejuízo causado — pelo esvaziamento do patrimônio do devedor até sua
insolvência — a credores que não possuem garantia, ditos quirografários (elemento objetivo).
238
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art.158
O prejuízo que os credores quirografários (ou aqueles cujas garantias não são suficientes para
resguardar todo o crédito) experimentaram por conta da insolvência deve ser por eles demonstra
do, estabelecendo-se uma relação de causa e consequência entre o ato de disposição patrimonial
e o estado de insolvência.
2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA
► STJ 195 - Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.
► STJ 375 - O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da
prova de má-fé do terceiro adquirente.
3. ENUNCIADOS DAS JORNADAS
► Enunciado 151 - Art. 158:Oajuizamentoda ação pauliana pelo credor com garantia real (art. 158, § 1o) prescinde
de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia.
► Enunciado 292 - Art. 158. Para os efeitos do art. 158, § 2o, a anterioridade do crédito é determinada pela causa
que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial.
4. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
► STJ 318 - Fraude à Execução. Penhora. Registro. Alienação. Bem. Prosseguindo o julgamento, a Seção, após o
voto de desempate do Min. Aldir Passarinho Junior, Presidente da Seção, por maioria, reiterou a jurisprudência
de que, sem o registro da penhora, não há fraude à execução em relação à alienação do bem, cabendo ao
adquirente demonstrar que não tinha ciência da constrição, não dispensada a boa-fé. Precedente citado: REsp
225.091-GO, DJ 28/8/2000. EREsp 509.827-SP, Rei. originário Min. Ari Pargendler, Rei. para acórdão Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, julgados em 25/4/2007.
5. JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR
► A fraude à execução consiste na alienação de bens pelo devedor, na pendência de um processo capaz de
reduzi-lo à insolvência, sem a reserva - em seu patrimônio - de bens suficientes a garantir o débito objeto de
cobrança. Trata-se de instituto de direito processual, regulado no art. 593 do CPC, e que não se confunde com
a fraude contra credores prevista na legislação civil. (STJ, AGA n° 891195, Min. Rei. Luiz Fux in, DJE 07/05/2008).
Encontram-se atendidos os pressupostos do instituto da fraude contra credores na hipótese em que, na celebra-
ção de compromisso de compra e venda, o promissário vendedor, já se encontrando em estado de insolvência,
dispõe de bem, e o promitente comprador, ciente dessa circunstância, conclui o negócio jurídico. (STJ, REsp n°
710810, Min. Rei. João Otávio de Noronha in, DJE 10/03/2008).
► Fraude contra credores. Efeitos. Sentença. Trata-se, na origem, de ação pauliana (anulatória de doações) contra
os recorrentes na qual se alega que um dos réus doou todos seus bens aos demais réus, seus filhos e sua futura
esposa, todos maiores e capazes, por meio de escrituras públicas, de modo que, reduzindo-se à insolvência, sem
nenhum bem em seu nome, infringiu o disposto no art. 106doCC/1916. Estão presentes os requisitos do citado
art. ensejadores da fraude contra credores e que chegar a conclusão diversa demandaria o reexame do conjunto
fático-probatório. Quanto aos efeitos da declaração de fraude contra credores, consignou-se que a sentença
pauliana sujeitará à excussão judicial o bem fraudulentamente transferido, mas apenas em benefício do crédito
fraudado e na exata medida desse. Naquilo que não interferir no crédito do credor, o ato permanecerá hígido,
como autêntica manifestação das partes contratantes. Caso haja remissão da dívida, o ato de alienação subsis-
tirá, não havendo como sustentar a anulabilidade. REsp 971.884, rei. Min. SidneiBeneti, 22.3.11.3a T. (Info 467,2011)
► Fraude. Credores. Atos predeterminados. Inexiste ofensa ao art. 106, parágrafo único, do CC/1916 (art. 158,
§ 2o, do CC/2002) diante da comprovada prática de atos fraudulentos predeterminados com o intuito de lesar
futuros credores. A literalidade do preceito, o qual dispõe que a declaração de ocorrência de fraude contra cre-
dores exige que o crédito tenha sido constituído em momento anterior ao ato que se pretende anular, deve ser
relativizada, de forma que a ordem jurídica acompanhe a dinâmica da sociedade hodierna e busque a eficácia
social do direito positivado. REsp 1.092.134, rei. Min. NancyAndrighi, 5.8.10.3a T. (Info 441,2010)
239
Art. 158
6. QUESTÕES DE CONCURSOS
01. (Cespe - Analista Judiciário - Área Judiciária - TRE - PI/2016) A remissão de dívida que leve o devedor à
insolvência configura
a) abuso de direito.
b) má-fé.
c) fraude contra credores.
d) dolo.
e) lesão.
02. (Faurgs - Juiz de Direito Substituto - RS/2016) Sobre o negócio jurídico, assinale a alternativa correta.
a) A invalidade do negócio jurídico por fraude a credores decorre do exercício de direito pessoal do credor, me-
diante interposição de ação pauliana, no prazo de quatro anos contados do dia da celebração.
b) A confirmação e a conversão do negócio jurídico inválido só podem ser realizadas se possível o atendimento
posterior dos requisitos ausentes por ocasião de sua celebração.
c) A invalidade do negócio jurídico, por incapacidade absoluta ou relativa do agente, pode ser pronunciada de
ofício.
d) A invalidade do negócio jurídico simulado pode ser pleiteada no prazo de quatro anos contados da conclusão
do negócio.
e) O negócio celebrado pelo representante consigo mesmo é anulável, desde que provado o conflito de interesses
com o representado.
03. (PUC - Procurador do Estado - PR/2015) Assinale a alternativa CORRETA.
a) A emancipação do menor com 16 anos completos, concedida por ambos os pais por escritura pública, depende,
para a sua validade, de homologação judicial.
b) A atuação do mandatário que age extrapolando os limites da procuração que lhe foi outorgada é inválida e não
produz quaisquer efeitos jurídicos.
c) Os efeitos da declaração de nulidadedo negócio jurídico retroagem ao momento da sua celebração, sendo que
ele nunca convalesce, não pode ser confirmado e nem ratificado. Poderá, todavia, subsistir convertido em outro
negócio jurídico cujos requisitos de validade estiverem presentes, se atingir o fim visado pelas partes.
d) A relativa incapacidade do menor entre 16 e 18 anos autoriza-o a invocar a anulabilidade de negócio jurídico
realizado sem assistência, mesmo que tenha se declarado maior no momento de sua celebração.
e) A fixação de condição resolutiva física ou juridicamente impossível invalida todo o negócio jurídico.
04. (Cespe - Analista Judiciário - Direito - TJ - SE/2014) Acerca dos direitos reais, julgue o item abaixo.
O titular do direito real não precisa ajuizar ação pauliana ou revocatória para recuperar coisa de sua propriedade
em poder de terceiros.
05. (Cespe - Cartório - TJ - BA/2014) André, sabendo que não conseguiria honrar o pagamento das parcelas
contratuais de empréstimo contraído, transferiuum terreno, único bem que possuía em seu nome, para o seu
irmão, Rafael, antes que a instituição financeira buscasse judicialmente o cumprimento da obrigação. Rafael, por
sua vez, visando não correr o risco de perder o imóvel, alienou o bem a Rogério, que, não sabendo da situação
narrada, adquiriu-o de boa-fé. Após a conclusão do negócio, Rafael repassou toda a quantia percebida a André.
Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta em relação ao negócio jurídico.
a) Conforme orientação do STJ, caso ajuizada a ação pauliana pela instituição financeira, Rogério se manteria no
bem e Rafael seria condenado a pagar, solidariamente com André, a indenização à instituição financeira no valor
do bem transferido fraudulentamente.
b) Segundo entendimento consolidado do STJ, a fraude contra credores acarreta a anulação do negócio jurídico,
independentemente da boa-fé do adquirente, que poderá, entretanto, ajuizar ação regressiva contra aquele
que se beneficiou do negócio jurídico, no caso André.
c) De acordo com o entendimento do STJ, para a validade do negócio jurídico efetuado, além da boa-fé do adqui-
rente, é necessária a inscrição do ato negociai no Registro de Títulos e Documentos.
d) É cabível o ajuizamento de ação pauliana contra André, Rafael e Rogério, por terem celebrado negócio jurídico
fraudulento.
e) Consoante entendimento do STJ, o negócio jurídico deve ser anulado, independentemente da boa-fé de Rogério,
devendo este ser ressarcido por André e Rafael, que responderão de forma solidária pela dívida.
240
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 159
06. (MPE-SC - Promotor de Justiça - SC/2013) Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida,
se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Igual direito assiste aos credores cuja
garantia se tornar insuficiente.
A nulidade do negócio jurídico realizado em fraude contra credores é subjetiva, de forma que, para a sua tip i-
ficação, deve ser provada a intenção de burlar o mandamento legal.
07. (Juiz/TRF/5R/2007/CESPE) Julgue os itens a seguir, relativos aos negócios jurídicos e à prescrição.
Para a caracterização da fraude contra credores e a consequente anulação do ato jurídico, faz-se necessário que
o devedor esteja em estado de insolvência ou na iminência de alcançá-lo e pratique maliciosamente negócios
que desfalquem seu patrimônio em detrimento da garantia que este representa para os direitos creditórios
alheios.
08. (PROC/DF/2007//ESAF) Assinale a opção correta.
a) A fraude contra credores é tratada no direito brasileiro no plano dos efeitos, gerando, como consequência, a
ineficácia relativa do negócio jurídico.
b) É de 4 (quatro) anos o prazo de prescrição para pleitear - se a anulação do negócio jurídico fraudulento, contado
do dia de sua realização.
c) Somente para a desconstituição dos negócios jurídicos onerosos é que se exige a demonstração do consilium
fraudis como requisito de procedência do pedido na ação pauliana.
d) O credor com garantia real, por contar com a garantia do bem afetado ao pagamento do seu direito creditório,
em nenhuma hipótese poderá pleitear a desconstituição do negócio jurídico fraudulento.
e) A fraude contra credores é um defeito que se caracteriza como falha no consentimento, viciando, como conse-
quência, a declaração de vontade dos partícipes do negócio jurídico.
09. (MP/AM/Promotor/2007 - adaptada) A respeito dos fatos, atos e negócios jurídicos, assinale a opção correta.
Caracteriza-se fraude contra credores a remissão de dívida, quando se tratar de devedor insolvente ou reduzido
à insolvência mediante perdão. Nesse caso, é irrelevante, para a caracterização da fraude, o conhecimento ou
o desconhecimento do devedor em relação ao seu estado econômico ou financeiro.
10. (PROC/BACEN/2009/CESPE - adaptada) A respeito dos elementos, dos defeitos e da validade dos atos jurídicos,
assinale a opção correta.
Se o adquirente de determinado bem ignorava o estado de insolvência do alienante, tal negócio não será passível
de anulação por fraude contra credores.
1 c 2 A 3 C 4 C 5 A
6 C ,E 7 C 8 C 9 C 10 C
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência
for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
* Referências:
> Art. 161, CC.
Art. 216 da Lei 6.015/73.
Súmula 195 do STJ.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Elemento Subjetivo. Em relação ao elemento subjetivo da fraude, importante ressaltar que
não se exige que o adquirente esteja mancomunado com o alienante para lesar os credores deste
(animus nocendi). Basta a prova da ciência da situação de insolvência, que pode ser presumida
quando a insolvência for notória (t>.g .títulos protestados, várias execuções em andamento etc.)
ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante, como ocorre, por exemplo, quando
o bem, apesar de alienado a parente próximo (pai, irmão ou cunhado), por preço bem inferior
aos praticados no mercado, permanece na posse do devedor mesmo após a alienação.
241
Art. 160
lA- h r '• - • • •: *biü'ív«- -JÍ - ' •• • : .s ,.v v - s-,?*>.?< . ■■■. - - ?t)
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, apro-
ximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes
corresponda ao valor real.
* R e fe rênc ia s :
Art. 335, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Conservação do negócio. Na busca pela conservação do negócio jurídico, o legislador optou
por verter o bem ao novo patrimônio, desde que não restem prejudicados os credores. Aqui, o
adquirente depositará o valor em juízo para garantir o que se pleiteia na ação revocatória. Caso
não haja consenso para o valor, o juiz apreciará se o mesmo está próximo do real, dando ao caso
solução idêntica à dos pagamentos em consignação.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a
pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam
procedido de má-fé.
* R e fe rênc ia s :
Art 178, ll„ CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Legitimidade passiva. A legitimidade passiva da ação pauliana é ampla. Contudo, não
se entenda obrigação de conformação de um litisconsórcio passivo, pois o eventual réu é que
deverá, se assim couber, requerer, no caso de uma evicção, por exemplo, a denunciação da lide.
Art. 162. 0 credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda
não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu. «EiaO!
1. BREVES COMENTÁRIOS
Pagamento de dívida ainda não vencida. Recorde-se a este tempo que os quirografários
são os destinatários do universo ativo da revocatória. Os que possuem algum tipo de garantia,
somente poderão manejá-la no que estiver a descoberto. Contudo, podem os quirografários pen
der do lado passivo da demanda, quando lhe for antecipado o pagamento, ainda não vencida a
dívida. Antecipar o pagamento é frustrar os que possuam créditos já vencidos. Observe-se que
tal solução não se aplica aos que tenham garantia real, pois neste caso, mesmo que não houvesse
a antecipação, o bem garantidor já está vinculado ao pagamento.
......... .. . . . . •
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o de-
. . . . ,vedor insolvente tiver dado a algum credor.
* R e fe rênc ia s :
Arts. 1.419 eSS., CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Presunção de fraude na concessãode garantias. A leitura deve ser atenta. Não se está atingin
do todos os credores com garantia, mas apenas aquele que, original ou funcionalmente, receberam
242
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS Art. 164
do devedor, já na condição de insolvente, garantia especial ou real. Não se incluem aqui as garantias
fidejussórias (como a fiança ou aval) visto se tratar de outro patrimônio a garantir o pagamento.
Vale ainda frisar que, diferentemente da falência, a insolvência civil deve ser real, não acei
tando ficção para sua conformação. As presunções do Código partem da certeza da condição
de insolvente.
2. QUESTÃO DE CONCURSO
01. (ANALIS/JUD/TSE/CAD. 1/2007/CESPE - adaptada) Acerca dos fatos e atos jurídicos:
É fraude contra credores a concessão de garantia real de dívida feita pelo devedor insolvente a um dos seus
credores quirografários.
133 1 c 1
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção
de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
♦ Referências:
Arts. 113 e 1.142 CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Atos indispensáveis e boa-fé. Importante anotar que o art. 164 do Código Civil presume
realizados de boa-fé negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mer
cantil, rural ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Da mesma forma, se o
adquirente ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para conhecê-la, conservará
o bem, não se anulando o negócio.
Nessas situações, a ação pauliana (revocatória) poderá ser intentada contra o devedor insolven
te, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes
que hajam procedido de má-fé (art. 161, CC/02).
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo
sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante
hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
* Referências:
Arts. 184 e 1.419, CC.
1. BREVES COMENTÁRIOS
Outras hipóteses de fraude. A fraude a credores também pode ocorrer nos casos de transmis
são gratuita de bens (consilium fraud is presumido), dentre outras hipóteses, a saber: (a) remissão
de dívida (=perdão); (b) pagamento de dívida não vencida (em face da garantia de igualdade entre
os credores — art. 162, CC/02) e (c) concessão de garantia real (v.g., hipoteca — art. 163, CC/02)
para colocar determinado credor em posição de vantagem em relação aos demais (GONÇAL
VES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. I, 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 409-12).
Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo
sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
243