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Resenha Crítica - Vacinas

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DA REVOLTA DA VACINA PARA O CENÁRIO ATUAL: POR QUE NÃO VACINAR?
Cristian Adelmo Saatkamp
Jean Marcos Detofeno Tonello
SUCCI, Regina Célia de Menezes. Recusa vacinal - o que é preciso saber. Jornal de Pediatria. Porto Alegre/RS, nov/dez 2018. 
	Regina Célia de Menezes Succi possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (1971), residência médica em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (1974), Mestrado em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (1978), Doutorado em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (1990) e Livre Docência em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (2006). Atualmente é Professora Associada, Livre-docente do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo, atuando no Departamento de Pediatria/Disciplina de Infectologia Pediátrica nas áreas de assistência, ensino e pesquisa.
	Em sua obra intitulada “Recusa vacinal – o que é preciso saber”, publicada no Jornal de Pediatria, a autora realiza uma abordagem crítica do cenário vivenciado atualmente no contexto nacional em relação aos movimentos antivacina. Tem como objetivo principal o ato de esclarecer informações baseadas no senso comum sobre hesitação e recusa vacinal, suas causas e consequências e ainda, fazer sugestões para enfrentar esse desafio.
Através de uma abordagem histórica, Trindade (2017) afirma que, desde 1837, o Brasil havia declarado obrigatória a vacinação contra varíola para crianças e em 1846, a norma se estendeu aos adultos. Mas a determinação não era cumprida porque, entre outros motivos, as vacinas não eram feitas em escala industrial, o que só passou a ocorrer em 1884. Diante das circunstâncias da época, os casos da doença só aumentavam, e com isso, aprovou-se um projeto no Congresso Nacional, em 1904, para reinstaurar a obrigatoriedade de vacinação. Mas, a imunização em massa e obrigatória deu início a vários protestos, que culminaram no movimento intitulado Revolta da Vacina. 
As manifestações começaram aos poucos até que, no dia 13 de novembro daquele ano, explodiram no Rio de Janeiro. As ruas da então capital federal se transformaram num campo de batalha e a confusão em torno da vacina também foi usada por movimentos políticos que queriam a saída do presidente Rodrigues Alves. Cerca de 2 mil pessoas se envolveram no levante, mas foram reprimidas pelo Exército. O presidente desistiu da vacinação obrigatória após 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos num período de duas semanas, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (TRINDADE,2017).
	Succi afirma que os benefícios individuais e coletivos da vacinação são obtidos com elevado custo financeiro e o empenho de uma grande estrutura dos programas públicos de vacinas e autoridades sanitárias, além da atuação individual dos profissionais de saúde. No Brasil, tem-se obtido coberturas vacinais superiores a 90% para quase todos os imunobiológicos distribuídos na rede pública nas últimas décadas, sendo distribuídas cerca de 300 milhões de doses de imunobiológicos anualmente. Entretanto, em 2016, nos estados de Pernambuco e Ceará, após uma queda nas taxas de imunização, o país registrou o primeiro surto de sarampo desde 2000. Também, a taxa brasileira de imunização contra pólio em 2016 foi a menor dos últimos 12 anos (84,4%).
A perda da confiança nas vacinas e nos programas de imunização pode levar a consequências severas. A ocorrência de dúvidas sobre a necessidade das vacinas, o medo de possíveis eventos adversos, as disseminações de informações equivocadas, além de crenças filosóficas e religiosas, são citadas pela autora como fatores capazes de criar situações em que famílias e até mesmo profissionais da saúde apresentam dúvidas sobre a necessidade da aplicação de vacinas. 
Como uma das hipóteses levantadas para a diminuição da imunização vacinal no Brasil no contexto atual, a autora aponta grupos de pessoas, no mundo todo, com interesses individuais e coletivos, que declaram preocupações com a segurança e questionam a necessidade da aplicação de vacinas. Esses grupos, conhecidos como antivacinas, atuam principalmente com movimentos de mobilização para manifestar aversão às vacinas. As crenças ainda são parecidas com as da Revolta da Vacina, mas a capacidade de disseminar as informações cresceu muito em eficácia e velocidade nas últimas décadas. 
	Succi afirma que o acesso às informações (e desinformações) sobre vacinas veiculadas nas mídias influencia a tomada de decisão sobre vacinar ou não vacinar. As mensagens nem sempre são corretas, o que acarreta sentimentos conflitantes. Pais com conhecimento insuficiente sobre doenças preveníveis por vacinas podem apresentar atitudes negativas sobre vacinas e profissionais de saúde. A respeito da influência da mídia, há de se concordar com os argumentos da autora, visto que a facilidade de publicação e compartilhamento de informações nos meios de comunicação permite o acesso a fake news (notícias falsas) que, muitas vezes, viralizam na internet e surtem efeito, principalmente, nas pessoas as quais carecem de informações. 
Outra ideia bastante propagada, como aponta Trindade (2017) é a que relaciona as vacinas ao “desenvolvimento” do autismo. Essa associação da imunização com a síndrome que afeta a comunicação, a socialização e o comportamento das crianças começou com um artigo publicado em 1998 pelo médico inglês Andrew Wakefield e mais 12 coautores na revista The Lancet, a mais respeitada publicação médica britânica. Na pesquisa, que foi contestada tempos depois, o especialista em gastroenterologia pediátrica dizia que a vacina tríplice viral contra sarampo, caxumba e rubéola causaria autismo em crianças.
Cientistas passaram a questionar a forma com que o pesquisador obteve os fragmentos de sangue a serem analisados e falhas técnicas foram apontadas, como a baixa quantidade de amostras. Em 2010, a The Lancet se retratou publicamente, declarando que a pesquisa não deveria ter sido publicada e apagou o artigo do seu arquivo de publicações. Depois da divulgação do estudo, muitos pais deixaram de vacinar seus filhos, levando ao reaparecimento do sarampo no Reino Unido (TRINDADE, 2017). 
Como alternativas de se solucionar o problema da antivacinação, a autora do artigo de referência principal, cita que o desenvolvimento de estratégias que possam melhorar a confiança nas vacinas e diminuir as taxas de recusa vacinal com todas as suas consequências é essencial, mas escolher a melhor forma de passar mensagens que efetivamente modifiquem o comportamento das pessoas em relação às vacinas não é tarefa fácil.
Sugerir aos pais que o acesso a informações seguras junto aos profissionais de saúde, Ministério da Saúde e sociedades médicas é preferível às informações de fontes cuja segurança e credibilidade são discutíveis. Aproveitar todas as oportunidades para conversar sobre as vacinas, não apenas para a criança, mas para os outros membros da família, pode ter impacto significativo particularmente quando as mães estão grávidas novamente.
Sendo assim, conclui-se que a confiança nas vacinas e nos profissionais de saúde é fundamental para manter a demanda e o uso das vacinas tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. A maior parte da população segue o esquema vacinal recomendado por seu médico ou instituições de saúde, mas persiste o desafio de enfrentar os grupos que recusam ou retardam a aplicação das vacinas, visto que, a médio e a longo prazo, essa recusa vacinal pode retomar crises de doenças já erradicadas pelas vacinas e desencadear situações de perigo para a saúde coletiva.
	Os autores desta resenha crítica concluem ainda, que os movimentos antivacinas foram intensificados com o auxílio das mídias digitais, envolvendo interesses econômicos e sociais, mas, principalmente, interesses políticos daqueles que buscam alcançar seus objetivos baseados na disseminação de notícias falsas. 
No artigo de referência,
a autora escreve de modo claro e coeso, utiliza de linguagem acadêmica e descreve situações envolvendo a área da saúde pública e coletiva. Apresenta o cenário da recusa vacinal a partir de uma visão abrangente, fazendo ligações entre os contextos nacional e global. A presente resenha crítica é indicada àqueles que possuem interesse em obter informações científicas contrastadas com as opiniões dos autores referentes ao tema apresentado. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TRINDADE, Eleni; Antivacina: o medo vence a ciência? Revista da FEHOESP - Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e de Análises Clínicas e demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo. São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2017/04/Revista-FEHOESP-360-_-dr.-Renato-Kforui.pdf Acesso em: 21 de outubro de 2019.
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