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2013 AdministrAção AmbientAl Prof. Flávio de Andrade Prof. Sandro Sabino Copyright © UNIASSELV 2013 Elaboração: Prof. Flávio de Andrade Prof. Sandro Sabino Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 344.046 A553a Andrade, Flávio de Administração ambiental / Flávio de Andrade; Sandro Sabino. Indaial : Uniasselvi, 2013. 262 p. : il ISBN 978-85-7830- 699-1 1. Proteção ambiental. 2. Administração ambiental. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III ApresentAção Prezado(a) acadêmico(a)! Na sociedade moderna, é comum vermos e experimentarmos a convivência do ser humano com empresas que, de muitos modos, afetam o meio ambien- te: uso físico de áreas em que se instalam, uso de matérias-primas e insumos de produção, consumo de água, energia e combustíveis, geração de resíduos sólidos e despejos industriais, emissão de poluentes na atmosfera... Diante de todos esses impactos, ocorre a necessidade de constante aprimo- ramento da imagem da empresa, através da melhoria do seu desempenho ambiental, tendo em vista uma maior satisfação dos clientes, a conquista de novos mercados, a redução de custos e de riscos, a obtenção de certificações diversas, a garantia de um ambiente saudável para as gerações futuras... Para a conquista desse desempenho é importante a implantação, dentro da empresa, de novos modelos de gestão, cuja base deveria estar assentada na responsabilidade ambiental, aliando, ao mesmo tempo, lucro, responsabili- dade econômica e social. Trata-se da administração ambiental, cujo assunto será tratado no presente Caderno de Estudos. Nosso intuito é abordar as questões ambientais ineren- tes à administração de uma empresa, buscando capacitar você a analisar e criticar o impacto do termo “meio ambiente” sobre as empresas e a sociedade. Esperamos que este estudo possa oferecer a você, acadêmico(a), parte do aporte necessário ao desempenho da sua tarefa enquanto gestor ambiental. Prof. Flávio de Andrade Prof. Sandro Sabino IV V UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! VI VII sumário UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................................... 1 TÓPICO 1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 OBJETIVOS E FINALIDADE ............................................................................................................. 3 3 FUNDAMENTOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL ...................................... 6 4 NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL PARA A EMPRESA ..................................................................................................... 8 5 FINALIDADES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL E EMPRESARIAL ......... 9 6 O QUE É AMBIENTE .......................................................................................................................... 10 6.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE ............................................................................................. 10 6.2 AMBIENTE DA ORGANIZAÇÃO ............................................................................................... 11 6.3 AMBIENTE DA TAREFA............................................................................................................... 12 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2: QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL ............................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 CONCEITOS DE POLUIÇÃO ............................................................................................................ 15 3 A INDUSTRIALIZAÇÃO E A URBANIZAÇÃO .......................................................................... 16 4 EMPRESA E MEIO AMBIENTE ....................................................................................................... 20 5 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO ......................................................................................................... 21 6 CONCILIANDO AS NECESSIDADES DA ORGANIZAÇÃO COM AS QUESTÕES AMBIENTAIS ............................................................................................... 22 7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL........................................................................................ 23 8 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS BRASILEIRAS ..................... 23 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 29 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30 TÓPICO 3: EMPRESA E MEIO AMBIENTE ...................................................................................... 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 A ADMINISTRAÇÃO VERDE .......................................................................................................... 31 3 APRENDER A SE COMUNICAR: A PRIMEIRA URGÊNCIA ................................................... 32 4 ENTENDER O MEIO AMBIENTE .................................................................................................... 33 5 COMPREENDER O MEIO AMBIENTE PARA PRESERVAR ..................................................... 34 5.1 FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL .................................................................................... 36 5.1.1 PDCA – Planejar – Executar – Verificar – Atuar .................................................................36 5.1.2 O que é o 5W2H e como ele é utilizado? ............................................................................. 38 5.1.3 Diagrama causa e efeito ......................................................................................................... 39 5.1.4 Diagrama de Pareto ................................................................................................................ 40 5.1.5 Folhas de verificação ............................................................................................................. 43 5.1.6 Fluxogramas ........................................................................................................................... 44 6 CAPITAL X MEIO AMBIENTE ......................................................................................................... 47 VIII 7 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................... 48 7.1 A EMPRESA TRADICIONAL ....................................................................................................... 48 7.2 O MODELO DE CONFLITO ......................................................................................................... 49 7.3 O MODELO DO MUNDO REAL .................................................................................................. 49 8 A ESTRATÉGIA VERDE ..................................................................................................................... 50 8.1 IDENTIFICAÇÃO DE PRIORIDADES ........................................................................................ 51 8.2 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................... 52 8.3 PLANOS DE AÇÃO ........................................................................................................................ 52 8.4 SÍNTESE ............................................................................................................................................ 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 54 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 56 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57 TÓPICO 4: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES .....................59 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59 2 OBJETIVOS E RESULTADOS DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS ............................. 59 3 CONCEITOS, NORMAS E OBJETIVOS DA ROTULAGEM AMBIENTAL ......... 65 4 MARKETING VERDE NAS ORGANIZAÇÕES ................................................................. 72 4.1 MARKETING VERDE X GREENWASHING (LAVAGEM VERDE) ......................... 81 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 86 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 88 UNIDADE 2 – ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................... 89 TÓPICO 1: ÉTICA .................................................................................................................................... 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91 2 ÉTICA, MORAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL ................................................................... 91 3 O QUE É ÉTICA? ................................................................................................................................. 93 4 O QUE É UM CÓDIGO DE ÉTICA? ................................................................................................ 96 4.1 CÓDIGO DE ÉTICA OU GUIA DE CONDUTA ......................................................................... 112 5 VANTAGENS DOS CÓDIGOS DE ÉTICA .................................................................................... 113 6 ÉTICA NOS NEGÓCIOS ................................................................................................................... 114 6.1 TODAS AS PESSOAS QUEREM SER ÉTICAS. E AS EMPRESAS? ......................................... 115 6.2 DOIS GRANDES DESAFIOS ......................................................................................................... 115 6.3 GESTÃO DA ÉTICA ....................................................................................................................... 116 6.4 O EMPRESÁRIO ÉTICO NO SEU DIA A DIA ............................................................................ 117 7 CONFRONTO DE DUAS ÉTICAS: ÉTICA DO CAPITAL X ÉTICA DO SOCIAL ............... 118 8 A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL .............................................................................. 118 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 120 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 121 TÓPICO 2: RESPONSABILIDADE SOCIAL ..................................................................................... 123 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123 2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL ....................................... 123 3 O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL? ................................................................................... 125 4 RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA QUEM? .......................................................................... 126 5 BALANÇO SOCIAL ............................................................................................................................ 127 5.1 O QUE É? .......................................................................................................................................... 127 5.2 HISTÓRICO ...................................................................................................................................... 127 5.3 POR QUE FAZER? ........................................................................................................................... 128 5.4 OS BENEFICIÁRIOS ....................................................................................................................... 129 IX 6 TENDÊNCIAS E DESAFIOS PARA A RESPONSABILIDA DE SOCIAL NOS NEGÓCIOS .......................................................................................................... 130 7 DA RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA A SUSTENTABILIDADE SOCIAL ................... 130 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 135 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 136 TÓPICO 3: IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE ......................................................................... 137 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 137 2 AS RELAÇÕES DA EMPRESA COM A SOCIEDADE .................................................................137 3 O QUE É UMA EMPRESA SOCIAL E AMBIENTALMENTE RESPONSÁVEL? .................... 138 4 IMPACTO DAS EMPRESAS NA SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE ...................................... 142 4.1 IMPACTOS BENÉFICOS ................................................................................................................ 143 4.2 IMPACTOS NEGATIVOS ............................................................................................................... 143 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 160 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 161 UNIDADE 3 – GERENCIAMENTO AMBIENTAL ........................................................................... 163 TÓPICO 1: O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL............................................... 165 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 165 2 DIRETRIZES EM GERENCIAMENTO AMBIENTAL .................................................................. 166 3 ATENDIMENTO LEGAL ................................................................................................................... 167 4 ESTRATÉGIAS ..................................................................................................................................... 168 5 ISO 14001 E GERENCIAMENTO AMBIENTAL ........................................................................... 170 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 172 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 173 TÓPICO 2: GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS ......................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 175 2 O QUE FAZER QUANDO TUDO DÁ ERRADO? ........................................................................ 176 3 PLANOS DE EMERGÊNCIA OU CONTINGÊNCIAS ................................................................. 177 3.1 PLANO DE CONTINGÊNCIAS .................................................................................................... 178 3.2 GERENCIAMENTO DO PLANO ................................................................................................. 179 4 INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS E EFEITOS .................................................................................. 181 5 COMUNICAÇÃO COM A COMUNIDADE, MÍDIA E ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO .... 182 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 183 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 184 TÓPICO 3: MODELOS DE GESTÃO .................................................................................................. 185 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 185 2 MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL ............................................................................................ 186 2.1 CICLO PDCA .................................................................................................................................. 186 2.2 IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ........................................... 187 2.2.1 O que diz a NBR ISO 14004 ................................................................................................... 189 2.3 ESTABELECIMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL ................................................................. 190 2.3.1 O que diz a NBR ISO 14001 ................................................................................................... 192 2.4 PRINCÍPIOS E ELEMENTOS DE UM SGA ................................................................................. 193 2.4.1 O que diz a NBR ISO 14004 ................................................................................................... 193 2.4.1.1 Planejamento ............................................................................................................... 194 2.4.1.2 Implementação ............................................................................................................ 206 X 2.4.1.3 Medição e avaliação ................................................................................................... 209 2.4.1.4 Análise crítica e melhoria .......................................................................................... 209 3 MODELO DE GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL .................................................. 210 3.1 ANÁLISE CRÍTICA INICIAL ........................................................................................................ 212 3.2 ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL ............................................................................ 213 3.3 ESTRUTURAÇÃO DAS EQUIPES DE TRABALHO QUE PARTICIPARÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO ....................................................................... 215 3.4 CAPACITAÇÃO (TREINAMENTO) DAS EQUIPES DE TRABALHO ................................... 216 3.5 ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUA EFETIVA IMPLEMENTAÇÃO .......................................................................... 216 3.6 ELEMENTOS NORMATIVOS E SUA INTERPRETAÇÃO ....................................................... 218 3.7 DEFINIÇÕES .................................................................................................................................... 220 3.7.1 Empresa .................................................................................................................................... 220 3.7.2 Fornecedor ............................................................................................................................... 221 3.7.3 Subcontratado ......................................................................................................................... 221 3.7.4 Ação de reparação .................................................................................................................. 221 3.7.5 Ação corretiva .......................................................................................................................... 221 3.7.6 Parte interessada ..................................................................................................................... 221 3.7.7 Criança...................................................................................................................................... 221 3.7.8 Trabalhador jovem.................................................................................................................. 221 3.7.9 Trabalhador infantil ............................................................................................................... 222 3.7.10 Trabalho forçado ................................................................................................................... 222 3.7.11 Reparação de crianças .......................................................................................................... 222 4 REQUISITOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................................222 4.1 TRABALHO INFANTIL ................................................................................................................ 223 4.2 TRABALHO FORÇADO ............................................................................................................... 223 4.3 SAÚDE E SEGURANÇA ............................................................................................................... 224 4.4 LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO & DIREITO À NEGOCIAÇÃO COLETIVA ...................... 224 4.5 DISCRIMINAÇÃO ......................................................................................................................... 225 4.6 PRÁTICAS DISCIPLINARES ........................................................................................................ 225 4.7 HORÁRIO DE TRABALHO .......................................................................................................... 225 4.8 REMUNERAÇÃO ............................................................................................................................ 226 4.9 SISTEMAS DE GESTÃO ................................................................................................................. 226 4.9.1 Política ...................................................................................................................................... 226 4.9.2 Análise crítica pela alta administração ............................................................................... 227 4.9.3 Representantes da empresa ................................................................................................... 227 4.9.4 Planejamento e implementação ............................................................................................ 227 4.9.5 Controle de fornecedores....................................................................................................... 228 4.9.6 Tratando das preocupações e tomando ação corretiva ..................................................... 228 4.9.7 Comunicação externa ............................................................................................................. 229 4.9.8 Acesso para verificação .......................................................................................................... 229 4.9.9 Registros ................................................................................................................................... 229 5 SISTEMAS E PROCESSOS PARA MELHORIA CONTÍNUA DE DESEMPENHO ENERGÉTICO (NORMA ABNT NBR ISO 50001:2011 - SISTEMA DE GESTÃO DE ENERGIA) ............................................................................................ 229 6 GESTÃO DE RISCOS, PRINCÍPIOS E DIRETRIZES - ABNT NBR ISO 31000 ........................ 238 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 243 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 245 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 246 XI TÓPICO 4: INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO .............................................................. 247 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 247 2 MODELOS DE SISTEMAS DE GESTÃO INTEGRADOS .......................................................... 247 3 IMPLEMENTAR INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO ................................................ 248 4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DE INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS ...................... 249 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 250 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 253 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 255 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 257 XII 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a: • apresentar um conceito de meio ambiente; • apontar objetivos e finalidades da administração ambiental; • descrever as relações existentes entre industrialização, urbanização e meio ambiente; • relacionar a importância da preservação ambiental ao crescimento da empresa; • identificar estratégias para viabilizar a administração ambiental no âmbito empresarial. • conhecer as práticas sustentáveis adotadas pelas organizações. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos desenvolvidos. TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS TÓPICO 2 – QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL TÓPICO 3 – EMPRESA E MEIO AMBIENTE TÓPICO 4 – PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS 1 INTRODUÇÃO Iniciamos os estudos de uma disciplina que demonstrará a importância do meio ambiente, mas, não somente com boas intenções, visto que, mesmo a melhor das intenções pode acarretar resultados infrutíferos se não houver organização, planejamento e disciplina. Nesse ínterim é que abordaremos a administração ambiental, como maneira de organizar e, de maneira coerente, demonstrar sua utilização na rotina diária de uma organização. Esse tópico tratará dos conceitos fundamentais da disciplina, os quais, durante todo o seu transcurso, estarão presentes de modo direto e indireto, visto serem de primordial importância para a compreensão do conteúdo. UNI Caro(a) acadêmico(a)! O desafio foi lançado. Começaremos neste momento a abordagem da metodologia de temas ambientais importantes sobre como a administração ambiental pode aperfeiçoar a preservação ambiental nas empresas e comunidades. 2 OBJETIVOS E FINALIDADE Com o avanço da tecnologia, o ser humano obteve uma capacidade sem precedentes na história de destruição do meio ambiente. Possuímos meios cada vez mais modernos e ágeis de produção, mas, nem sempre esses meios são “ambientalmente corretos”. Em contrapartida, também temos tecnologias de controle da poluição em franco processo de desenvolvimento. Por que, então, não conseguimos resolver esse impasse? UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 4 Temos situações negativas - geração de poluição, de consumo de recursos naturais, degradação de ambientes. Também temos tecnologias que nos permitem reduzir e praticamente eliminar essas situações. Então, o que está faltando? Talvez, um pouco de planejamento, organização, controle do processo. Em resumo: precisamos administrar nossa situação. Nesse ponto é que surge nossa disciplina “administração ambiental”. Mas, o que é administração ambiental? Para sobreviver em um mercado tão competitivo e exigente, as organizações devem considerar as questões ambientais, identificando os aspectos ambientais de seus processos, e administrá-las da mesma forma como administram outros aspectos (produção, qualidade e pessoas). As questões ambientais que não são administradas pelas organizações acabam influenciando seus resultados de diversas formas: consumidores e/ou clientes conscientes que buscam comprar produtos e/ou serviços de empresas que preservam o meio ambiente; indenizações e multas para aquelas empresas que causam impactos ambientais,por falta de controle de seus processos; custo de produção elevado devido à falta de processos ecoeficientes. Essas influências e fatores afetam direta ou indiretamente o custo dos produtos ou serviços fornecidos. E qual deve ser a atitude dos empresários e administradores com as questões ambientais que envolvem todas as organizações? A solução dos problemas ambientais, ou sua minimização, exige uma nova atitude dos empresários e administradores, que devem passar a considerar o meio ambiente em suas decisões e adotar concepções administrativas e tecnológicas que contribuam para ampliar a capacidade de suporte da terra. (BARBIERI, 2011, p.103). Mas de que forma surgiram os problemas ambientais nas empresas, que precisam ser administrados? Com o avanço da tecnologia, o ser humano obteve uma capacidade de destruição sem precedentes na história. Possuímos meios cada vez mais modernos e ágeis de produção, mas nem sempre esses meios são “ambientalmente corretos”. Em contrapartida, também temos tecnologias de controle da poluição em franco processo de desenvolvimento. Por que, então, não conseguimos resolver esse impasse? Temos situações negativas – geração de poluição, de consumo de recursos naturais, degradação de ambientes. Também temos tecnologias que nos permitem reduzir e praticamente eliminar essas situações. Então, o que está faltando? TÓPICO 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5 Talvez um pouco de planejamento, organização, controle do processo. Em resumo: precisamos administrar nossa situação. Nesse ponto é que surge nossa disciplina “administração ambiental”. Mas, o que é administração ambiental? Para uma melhor compreensão de administração ambiental, precisamos antes entender o conceito de administração. Mas, o que é administração? Conforme Park (1997, p.1), “Administração tem a função de coordenar pessoas e recursos, com vistas a cumprir seus objetivos e metas”. QUADRO 1 – FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO E TÓPICOS CORRELATOS Planejamento O QUE (WHAT) FAZER POR QUE (WHY) FAZER COMO (HOW) FAZER Organização QUEM (WHO) VAI FAZER ONDE (WHERE) FAZER QUANDO (WHEN) FAZER Direção EFICIÊNCIA E EFICÁCIA LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO COMANDO EFICAZ Controle COMPARAÇÃO COM OS PADRÕES CORREÇÃO DE RUMOS SUBSÍDIOS AO APERFEIÇOAMENTO FONTE: Costa Neto e Canuto (2010, p. 45) Conforme verificamos no quadro anterior, as funções da administração exigem uma série de ações organizadas, visando sempre a resultados. Essas funções podem ser aplicadas na administração ambiental em qualquer tipo de organização. O que é administração ambiental? Administração ambiental ou simplesmente gestão ambiental, será aqui entendida como diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, tanto reduzindo, eliminando ou compensando os danos ou problemas causados pelas ações humanas, tanto evitando que eles surjam. (BARBIERI, 2011, p. 190). Como vimos, os conceitos de administração e administração ambiental têm algo em comum: planejamento, direção e controle, visando obter resultados, através de pessoas e recursos. No entanto, na administração ambiental, o foco é a preservação do meio ambiente, através de instrumentos e/ou ferramentas, que serão apresentados no Tópico 3, da respectiva unidade, que trata de ferramentas UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 6 da qualidade aplicadas na administração ambiental e em modelos de gestão ambiental na Unidade 3, Tópico 3, do Caderno de Estudos. Importante entender que alguns fatores motivam as organizações a investir na administração ambiental, e esses motivos estão representados na figura a seguir: FONTE: Donaire,1995 FIGURA 1 – FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PROTEÇÃO AMBIENTAL DE UMA ORGANIZAÇÃO Demais objetivos e resultados da administração ambiental serão apresentados no Tópico 4, da respectiva unidade, quando abordaremos práticas sustentáveis, rotulagem ambiental e marketing verde adotado pelas organizações. 3 FUNDAMENTOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL O que é um fundamento? Quando você inicia a construção de uma casa, qual a primeira etapa a ser realizada? É o fundamento. Em seguida, erguem-se as paredes, dando continuidade à construção, ou seja, fundamento é a base na qual está alicerçada a casa. Na administração ambiental o conceito é essencialmente o mesmo. O fundamento da administração ambiental é a base, ou seja, os motivos que levam uma empresa a adotar as práticas ambientais corretas. Esses motivos podem ser: ideológicos, administrativos, comerciais, legais ou outros. Porém, TÓPICO 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS 7 independentemente de quais forem, eles foram a força motriz que levaram uma organização a adotar essa prática. As causas variam de uma organização para outra. Mas, podemos resumi- los em alguns itens básicos: • As matérias-primas (recursos naturais) utilizadas na empresa nos processos de transformação estão cada vez mais escassas e caras. Por exemplo, água, ar, madeira, entre outros, já não são mais bens “livres/grátis”. Certas empresas, conforme o tipo de produto/serviço, necessitam de localização que disponha de recursos naturais com qualidade e em grande quantidade, podendo esse fator ser determinante para a instalação ou permanente da mesma, em uma localidade. • O crescimento da população, principalmente nas grandes regiões metropolitanas e nos países em desenvolvimento, tem grande influência sobre o meio ambiente de suas localidades. • A legislação ambiental está cada vez mais rígida, obrigando uma maior preocupação ambiental. • A cobrança da comunidade local, através da população vizinha, ONGs, associações comunitárias, órgãos de imprensa em nível nacional e internacional. • No que se refere às seguradoras e agentes financeiros, em países desenvolvidos essa prática é muito comum. Empresas ambientalmente corretas conseguem redução nas apólices de seguros, taxa de financiamento e outros benefícios. • Clientes que estão cada vez mais exigentes, não querendo associar suas marcas a de empresas que não tenham um histórico ambiental saudável. Em países desenvolvidos, a questão ambiental é decisiva para conclusão de negócios. • Investidores e acionistas conscientes da responsabilidade ambiental preferem investir em empresas ambientalmente corretas. UNI Relembre do exemplo do EXXON Valdez, cujo desastre ambiental no Alasca quase faliu a maior companhia de petróleo do mundo na década de 1980. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 8 • O consumo de itens produzidos de maneira ambientalmente correta aumenta no mundo todo. Os consumidores, em certos países, dispensam produtos ou serviços que causam danos ambientais. Esses fundamentos relacionados não são definitivos, mas são uma amostra das principais razões que justificam uma empresa a adotar um modelo administrativo ambientalmente correto. 4 NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL PARA A EMPRESA Devemos frisar que uma empresa é a única responsável por adotar uma estrutura administrativa ambientalmente correta. Porém, após sua implantação, a mesma passa a ser “lei”, que deverá ser cumprida integralmente, sob pena de ela entrar em descrédito, não atingindo o foco principal, que é a preservação do meio ambiente. Pelo que abordamos até o momento, qual seria, então, a necessidade e importância da administração ambiental para a empresa? Preservar o meio ambiente? Mas será somente isso? Uma empresa, mesmo sendo ambientalmente correta, precisa de “lucro”. Sem ele não teremos recursos para investimentos ambientais. Sem lucro, uma empresa deixará de existir, ou seja, o lucro significa a sobrevivência da empresa. Então, a administraçãoambiental visará conciliar e dosar a medida de certas práticas administrativas que resultem em proteção ao meio ambiente, mantendo a empresa lucrando e ativa no mercado. Uma empresa sem enfoque ambiental está cometendo um erro estratégico enorme, possivelmente decretando futuramente sua extinção. Conforme verificamos a cada dia, a população está cada vez mais consciente e atuante na questão ambiental, procurando empresas que forneçam produtos e serviços ambientalmente corretos. Não é um modismo, pois essa tendência será cada vez mais forte e predominante. Então, uma empresa com uma posição oposta com certeza não existirá no futuro. Portanto, a questão, além de preservação ambiental, também é sobrevivência empresarial, manutenção de empregos, distribuição de riqueza e responsabilidade social. TÓPICO 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS 9 FONTE: Disponível em: <www.geocities.com>. Acesso em: 7 nov. 2008. FIGURA 2 – PRESSÕES PARA PRÁTICAS AMBIENTAIS NAS EMPRESAS 5 FINALIDADES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL E EMPRESARIAL As finalidades básicas da administração ambiental de uma empresa devem estar alinhadas com as suas metas, atividades e responsabilidades empresariais. Elas não devem ser gerenciadas isoladamente, mas em conjunto, mesmo que exista uma tendência de considerar um mais importante do que o outro. Podemos dividir essas responsabilidades empresariais em: • responsabilidade ambiental; • responsabilidade econômica; Lembre-se da Figura 2, que apresenta os principais agentes de pressão para que uma empresa adote práticas ambientais em sua administração. Isso será necessário para o andamento futuro dos nossos trabalhos. ATENCAO UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 10 • responsabilidade social. Dentro da responsabilidade ambiental temos como finalidades básicas: • O máximo de rendimento com o mínimo de utilização dos recursos naturais. • Buscar a compatibilidade ambiental dos processos produtivos e dos seus produtos ou serviços. Com isso, busca-se a preservação do meio ambiente. • Apresentar o desempenho ambiental compatível com as metas traçadas. • Designar investimentos para áreas com oportunidades de melhorias ambientais. 6 O QUE É AMBIENTE Primeiramente, o que é um ambiente? Qual sua definição? Podemos definir ambiente como um conjunto de substâncias, circunstâncias ou condições em que existe determinado objeto ou em que ocorre determinada ação. Porém, o termo ambiente aplica-se a vários campos de trabalho: • Na ecologia e meio ambiente, destaque aos aspectos naturais, incluindo a luz, o ar, a água, o solo ou os outros seres vivos e suas inter-relações. • Na política, sociedade, econômica, estética, filosófica. • Na área de administração, cujo ambiente externo é o entorno de um sistema administrativo (ambiente da organização) e o componente individual desses sistema é o ambiente interno (ambiente do trabalho ou tarefa). 6.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE O que realmente significa meio ambiente? Qual seu conceito? Bem, o conceito de meio ambiente, tal qual como conhecemos atualmente, não foi criado repentinamente, mas foi uma evolução ao longo do tempo, baseado em ciências e conceitos preexistentes. Inicialmente, todas as questões ambientais eram tratadas pela Ecologia, que era definida como o estudo do lugar em que se vive, com ênfase sobre a totalidade ou padrão de relações entre os organismos e o seu ambiente. Derivada do grego TÓPICO 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS 11 oikos = casa e logos = estudo, ecologia significa o estudo do meio ambiente em que vivemos e sua relação e interação com todos os seres vivos. [...] A palavra ecologia foi definida pela primeira vez em 1866, por Ernst Heinrich Haeckel [...] Segundo ele, a ecologia era ciência capaz de compreender a relação do organismo com o seu ambiente.[...] Assim a ecologia pode ser definida como: o estudo científico da distribuição e abundância de organismos e das interações que determinam a distribuição e abundância. (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010, p.16). Com o surgimento dos estudos ambientais, criou-se o conceito de meio ambiente. Inicialmente, o mesmo relacionava-se apenas às condições naturais. Porém, após a Rio-92, o fator humano foi incorporado ao conceito de meio ambiente, incluindo os problemas decorrentes das atividades humanas relacionadas à questão ambiental. Hoje, a definição clássica de meio ambiente foi alterada para uma visão mais abrangente. Conforme o art. 3º, I, da Lei nº 6.938/81, o meio ambiente é definido como “[...]o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” Posteriormente, na Constituição Federal de 1988, meio ambiente foi dividido em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho. O meio ambiente físico ou natural é constituído pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc., incluindo os ecossistemas (art. 225, §1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares etc. (art. 215, §1º e §2º). Meio ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, principalmente na zona urbana (art. 182, art. 21, XX e art. 5º, XXIII) e meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições existentes no local de trabalho, relativas à qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXXIII e art. 200). Portanto, o homem passou a integrar plenamente o meio ambiente no caminho para a preservação dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável. 6.2 AMBIENTE DA ORGANIZAÇÃO Como vimos, meio ambiente não significa apenas a natureza. Engloba também os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos de uma instituição pública ou privada. Na administração, ambiente da organização é o entorno de um sistema administrativo, ou seja, o ambiente externo de uma empresa. Então, o ambiente da organização é o conjunto de todos os setores que constituem a empresa. Portanto, cada setor, apesar de possuir características UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 12 peculiares de trabalho, contribui para a preservação ambiental e para o cumprimento das metas estabelecidas, sendo os responsáveis pelo sucesso ou não dos programas ambientais estabelecidos pela administração. 6.3 AMBIENTE DA TAREFA Numa organização, o ambiente da tarefa refere-se às condições sociais ou psicológicas que afetam as funções dos seus membros. O ambiente da tarefa pode ser definido como sendo o conjunto de bens, instrumentos e meios de natureza material e imaterial, em face do qual o ser humano exerce atividades laborais (art. 200, VIII da CF). Representa o complexo de fatores físicos, climáticos ou quaisquer outros que, interligados ou não, estão presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa. Vimos, nesse primeiro tópico, os fundamentos básicos da administração ambiental e a importância do meio ambiente no contexto das organizações. No próximo tópico, vamos nos aprofundar ainda mais no assunto, verificando a relação empresa, industrialização, meio ambiente e administração ambiental. 13 Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você teve oportunidade de estudar os seguintes itens referentes à administração ambiental: • Objetivos, finalidades e fundamentos da administração ambiental. • A necessidade e sua importância para uma organização nos dias atuais. • Os conceitos de ambiente e seus desdobramentos: • ambiente da organização; • ambiente da tarefa e; • meio ambiente. RESUMO DO TÓPICO 1 14 Concluímos o primeiro tópico. Você teve contato com os conceitos da administração ambiental e sua importância. Neste sentido, sugiro que você elabore um texto sobre os principais problemas ambientais que estão ocorrendono mundo atual e suas consequências para o equilíbrio dos ecossistemas. Escolher apenas um tema dos apresentados a seguir: • Desmatamento • Efeito estufa • Buraco na camada de ozônio • Crescimento populacional • Resíduos sólidos • Contaminação de recursos hídricos • Desertificação • Mudanças climáticas AUTOATIVIDADE 15 TÓPICO 2 QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico abordaremos questões básicas da administração ambiental, como poluição e sua geração, nas indústrias e nas cidades, o impacto do crescimento populacional sobre o meio ambiente e as relações entre empresa e meio ambiente. Sendo assim, conheceremos alguns pontos importantes, bem como as inter- relações existentes em comunidade, empresa e meio ambiente. 2 CONCEITOS DE POLUIÇÃO Toda atividade humana tem como consequência o consumo de matéria- prima e geração de resíduos. Esses resíduos, normalmente, são descartados no meio ambiente. Tal descarte gera um impacto negativo nas localidades que o recebem, sendo conhecido como poluição. Todos já ouviram ou leram sobre esse tema, mas exatamente o que é poluição? Conforme estabelece a Lei nº 6.938/1981 - Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, “poluição é a degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades que, direta ou indiretamente: • prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; • criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; • afetem desfavoravelmente a biota; • afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; • lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.“ UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 16 Portanto, poluição é um impacto ambiental, que pode ser negativo ou positivo, mas, no caso da poluição, ele sempre será negativo. Podemos considerar um impacto ambiental como sendo qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, cuja causa pode estar em qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. 3 A INDUSTRIALIZAÇÃO E A URBANIZAÇÃO A primeira Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, realizada em Estocolmo em junho de 1972, colocou a questão ambiental em foco, reunindo, pela primeira vez, representantes de governos, para discutir a necessidade de tomar medidas efetivas de controle dos fatores que causam degradação ambiental. Nesse evento popularizou-se a frase da então primeira ministra da Índia, Indira Ghandi: “A pobreza é a maior das poluições”. Foi nesse contexto que os países do Sul afirmaram que a solução da poluição não era brecar o desenvolvimento e, sim, orientar o desenvolvimento para preservar o meio ambiente e os recursos não renováveis. O crescimento da população mundial e a migração para os grandes centros urbanos criaram uma situação de impacto ambiental em nível mundial. Consequentemente, a atividade industrial cresceu para atender à demanda por produtos industrializados, carros, roupas, alimentos, remédios, lazer, água, combustíveis, etc. DICAS Para aprofundar seus conhecimentos sobre as principais fontes de poluição, inicialmente consulte os seguintes sites: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/areas_degradadas/saneamento_e_poluicao.html> e <http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/Informa??es-B?sicas/21-Poluentes>. Caso desejar, poderá também consultar literaturas correlatas sobre o tema. ESTUDOS FU TUROS Você verá, mais tarde, a importância desses elementos no transcorrer de nossos estudos. TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 17 Esse aumento populacional e industrial está consumindo os recursos naturais num ritmo que não permite a sua autorregeneração. Exemplo disso, temos a atual crise do aumento de preços dos alimentos. Nunca tivemos uma área cultivada tão grande no mundo, também nunca a produção de alimentos foi tão grande, a eficiência das culturas agrícolas está cada vez maior. Então, como justificar a falta de alimentos e o aumento dos preços? Primeiramente, é a distribuição de alimentos, muitas vezes nos locais em que são cultivados e industrializados, não sendo este, às vezes, o local de maior consumo. Muitos países em vias de desenvolvimento e subdesenvolvidos têm como atividade econômica principal o setor agrícola, mas, como principal fonte de recursos financeiros, eles acabam exportando sua produção para países desenvolvidos, ficando somente o excedente para o mercado interno. Segundo, o destino desses alimentos. Um exemplo típico é a questão dos biocombustíveis. Nos EUA, a geração de etanol utiliza como matéria-prima o milho. Como a lucratividade é maior na produção de álcool do que em produtos alimentares, os produtores de milho estão destinando suas safras para o setor de álcool. Com isso, o preço do milho subiu no setor alimentar, elevando os custos em toda a cadeia alimentar. A preocupação ambiental para encontrar substitutos aos combustíveis fósseis está gerando, em contrapartida, falta de alimentos para a população mundial, ou seja, faltou visão, faltou administração ambiental. FONTE: Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987) – ONU FIGURA 3 – CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL DE 1950 - 2100 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 18 O gráfico da figura anterior mostra como a situação é preocupante, pois os países considerados desenvolvidos possuem uma taxa de crescimento populacional estável. Normalmente, esses países possuem recursos financeiros e poucos recursos naturais para se autossustentar. Exemplo típico - Japão e Europa. Os EUA possuem recursos naturais abundantes, entretanto, seu ritmo de consumo é tão acelerado que ele busca recursos em outros países. Segundo a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ONU (1987), essa situação faz com que os países menos desenvolvidos exportem a produção para os países desenvolvidos, a maioria das vezes não levando em consideração processos ambientalmente corretos, por diversos motivos: são caros, não detêm tecnologia, não possuem legislação ambiental e etc. O aumento da população causa impactos ambientais, elevando o consumo de recursos naturais e agravando a emissão de gases de efeito estufa. Veja o que dizem os pesquisadores americanos. AUMENTO DA POPULAÇÃO AGRAVA A EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA PESQUISADORES AMERICANOS INDICAM QUE A CADA AUMENTO DE 1% DA POPULAÇÃO, A EMISSÃO DE GASES CRESCE EM MAIS DE 1% A superpopulação é um dos fatores que pressionam o meio ambiente, ao aumentar o consumo de recursos naturais. Uma nova pesquisa, porém, indica que o impacto do crescimento populacional pode ser maior do que se imaginava. "Olhando para a maioria das nações durante as últimas décadas, nós descobrimos que para cada 1% de aumento da população, nós atingimos um pouco mais de 1% no aumento de emissões", afirma Thomas Dietz, pesquisador da Universidade do Estado de Michigan. Dietz e seu colega Eugene Rosa, da Universidade do Estado de Washington, publicaram no último domingo um artigo na revista Nature Climate Change detalhando esse fenômeno. No trabalho, eles analisaram de forma crítica os vários fatores que vêm sendo considerados suspeitos dos causadores da mudança climática, principalmente o crescimento da população mundial. No final do ano passado, a ONU divulgou que a população mundial chegou a 7 bilhões. As projeções são de que, até o final do século, esse número cresça para 10 bilhões. De acordo com Dietz, "[...] isso inquestionavelmente vai aumentar o impacto que nós causamosno planeta". Segundo os autores, até pouco tempo atrás o debate de mudanças climáticas estava focado em se ela foi provocada pela atividade humana. Recentemente, o debate mudou para que tipos de atividades estão criando esse efeito. TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 19 "Nenhum fator age de forma independente do outro", diz Dietz, professor de sociologia e política e ciência do meio ambiente. "O efeito do tamanho da população depende do consumo, os efeitos de consumo dependem de quantas pessoas estão consumindo e em que nível". Tecnologia a favor do meio ambiente - O estudo analisou e levou em conta parâmetros como o nível de consumo, a prosperidade dos países e o aumento da população. Muitos acreditam que a mudança climática está relacionada com o desenvolvimento de um Estado: as nações mais prósperas usam mais recursos e então geram mais emissões. Os autores indicam que, por outro lado, cidadãos de nações mais prósperas costumam ter mais consciência social e geralmente estão mais dispostos a trabalhar e pagar por um ambiente mais limpo. "O aumento do uso de eletricidade gerada por fontes renováveis que não emitem gases do efeito estufa, por exemplo, pode parcialmente ou completamente compensar a tendência do aumento de emissões gerado pelo crescimento de prosperidade", afirma Dietz. De acordo com o estudo, o crescimento esperado para as próximas décadas em termos de economia e de número da população tende a elevar as emissões substancialmente. A única salvação, para os autores, é o aprimoramento tecnológico e mudanças na forma que o homem usa os recursos. "Estas alterações terão de ser enormes, porque elas devem contrabalancear os aumentos substanciais da população, especialmente com o aumento da prosperidade", afirma Dietz. FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/aumento-da-populacao-agrava-a- emissao-de-gases-de-efeito-estufa>. Acesso em: 10 out. 2012. NOTA Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos uma pesquisa sobre o tema: crescimento populacional e falta de alimentos. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 20 4 EMPRESA E MEIO AMBIENTE Desde o início de nossa história, a interação entre a atividade humana e o seu meio ambiente foi fator dominante na moldagem de um pelo outro. Quando esta atividade, por força da sua organização, passa a ser denominada uma empresa, ela se torna, inevitavelmente, um elo essencial na cadeia de equilíbrio do meio ambiente como um todo. Vale a pena ler o texto disponível no site <www.pactomataatlantica.org.br> e refletir sobre a importância da Mata Atlântica para humanidade. A FLORESTA E SUA HISTÓRIA A Mata Atlântica é um dos cinco hotspots de biodiversidade mais importantes da Terra e a maior Reserva da Biosfera designada pela UNESCO, representando uma das regiões prioritárias para conservação a nível mundial. Séculos atrás, a floresta se estendia por mais de 130 milhões de hectares ao longo da costa leste brasileira, abrangendo trechos do norte da Argentina e leste do Paraguai. Hoje, no Brasil, restam apenas 7% da Mata Atlântica em bom estado de conservação, distribuídos em fragmentos isolados acima de 1.000 hectares cada. Os últimos remanescentes desta exuberante floresta abrigam uma riqueza de diversidade biológica comparável à célebre Amazônia. Nos locais onde ela sobrevive, a Mata Atlântica apresenta uma das paisagens mais espetaculares da Terra, como a deslumbrante costa do Rio de Janeiro. O desmatamento da Mata Atlântica teve início nos séculos XVI e XVII quando valiosas madeiras nobres, ideais para a construção naval e indústria moveleira, eram enviadas para a Europa. Entretanto, a maior parte do desmatamento ocorreu nos últimos cem anos. Hoje, algumas áreas de florestas ainda estão sendo derrubadas para o plantio de soja, cana-de- açúcar, pínus e eucaliptos, além da pecuária e do comércio ilegal de madeira. A expansão das cidades e o desenvolvimento do litoral transformaram a vasta floresta na região mais densamente habitada e industrializada da América Latina. Apenas no Brasil, 70% da população, mais de 130 milhões de pessoas, residem na Mata Atlântica. Preservar o que resta da Mata Atlântica é uma prioridade de conservação global e um desafio urgente. FONTE: Disponível em: <http://www.pactomataatlantica.org.br/floresta-sua-historia.aspx?lang=pt- br>. Acesso em: 15 out. 2012. TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 21 A preservação das grandes florestas depende do homem. A destruição das florestas também depende do homem. A diferença está na responsabilidade e na competência administrativa. A degradação, ponto central da maioria das preocupações ambientais, refere-se a quatro grandes categorias de poluidores: • INDÚSTRIA: ela produz resíduos sólidos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas que provocam acidentes que, geralmente, deterioram de maneira permanente os locais. • SERVIÇOS: eles produzem resíduos sólidos (meios de transportes, computadores, meios de comunicação), efluentes líquidos (turismo de verão) e emissões atmosféricas (autoestrada). • DISTRIBUIÇÃO: ela produz resíduos sólidos (as embalagens e os objetos usados), acidentes (incêndios de armazéns com emissões atmosféricas), efluentes líquidos (limpeza) e fumaça (incineração). • RESIDENCIAL: produzem resíduos sólidos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas e descarte de montanhas de produtos consumidos. Entretanto, existe um novo tipo de indústria – a INDÚSTRIA DO MEIO AMBIENTE –, que procura minimizar o impacto causado pela atividade humana no meio ambiente. Ela foi criada a partir da conscientização generalizada da década de oitenta e está se estruturando, no mundo inteiro. Temos três setores: • as indústrias de reciclagem e limpeza; • a engenharia das tecnologias limpas; • a indústria de medida de controle. 5 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO Com o advento da geração da poluição pelas instituições criadas pelo homem, inicialmente, tivemos a necessidade de destinar esses resíduos para algum local que não interferisse na rotina diária de nossas vidas. Com isso, criaram-se os aterros sanitários, processos, práticas, materiais ou produtos que evitem ou reduzam a poluição, os quais podem incluir a reciclagem, tratamento, mudanças no processo, mecanismos de controle, o uso eficiente de recursos e de substituição de materiais. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 22 6 CONCILIANDO AS NECESSIDADES DA ORGANIZAÇÃO COM AS QUESTÕES AMBIENTAIS As empresas, como tudo no mundo evoluiu, também se modernizaram, e assim, também, a maneira de administrá-las. Sabe-se que a busca do lucro sempre fez parte das intenções das empresas. Esta busca frenética pelo lucro, entretanto, tornou as empresas míopes em relação a noções fundamentais de sobrevivência. As preocupações ambientais surgiram na década de setenta e ganharam força a partir da década de oitenta, forçando as indústrias a conciliar seu desenvolvimento com a proteção ambiental. Inicialmente, muitas empresas ficaram preocupadas, não compreendendo essa questão. Sobre estes aspectos, sabe-se que, para qualquer empresa se estabelecer, precisa da autorização do poder público. Hoje, a comunidade tem poder para impedir a implantação de um empreendimento num processo de licenciamento ambiental, com base nas leis brasileiras, podendo solicitar também o fechamento de uma empresa em operação que esteja transgredindo a legislação ambiental. Assim, as empresas precisam entender que sua missão é atender a uma demanda, em primeiro lugar, a sociedade. A sociedade precisa de empresas, produtos, serviços, mas também de qualidade de vida e responsabilidade ambiental. UNI UNI Para aprofundar seus conhecimentos e detalhesda implantação de programa de prevenção ambiental, consulte o site: <http://www.cetesb.sp.gov.br/tecnologia-ambiental/ Produ??o-e-Consumo-Sustent?vel/11-Documentos>. Agora que você já viu o conceito de poluição, prevenção de poluição e as necessidades das empresas em relação ao meio ambiente, podemos abordar como deveremos proceder para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. É o que faremos na sequência. TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 23 7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Em poucas palavras, é o desenvolvimento “limpo”, sem altos custos ambientais. A conscientização de que o crescimento econômico não poderia mais se desenvolver a qualquer custo e de que o planeta sofria de uma crise ambiental crônica - motivada por modelos de desenvolvimento que desconsideravam totalmente o meio ambiente - foi assumida pela primeira vez em Estocolmo, na Suécia, em 1972. O Desenvolvimento Sustentável é um modelo que visa manter o crescimento das empresas, levando em consideração as variáveis éticas, sociais, políticas, respeitando o meio ambiente, sem perder o foco financeiro dos negócios, agindo com pró-atividade e atuando de forma responsável. Evita desperdícios de investimentos, recursos naturais e humanos, surgimento de passivos desnecessários, autuações e ações de responsabilidade civil, administrativa e criminal. Com isso, direciona a Instituição para um futuro sólido, sem o risco do comprometimento da sua imagem e do negócio. O conceito de sustentabilidade atinge as dimensões econômicas, ambientais e sociais, tornando-se um grande desafio na prática. A grande surpresa é que o meio empresarial respondeu de maneira melhor que a própria sociedade civil, que enfrenta dificuldades em modificar seus hábitos de consumo. Contudo, a conclusão é simples: o Desenvolvimento Sustentável é uma obrigação e não uma escolha perante um futuro digno para o nosso planeta. Para Donaire, o conceito de desenvolvimento sustentável tem três vertentes principais: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico. Segundo o autor, a tecnologia deverá ser orientada para metas de equilíbrio com a natureza. Sob esta ótica, o conceito de desenvolvimento apresenta pontos básicos que devem considerar, de maneira harmônica, crescimento econômico, maior percepção com os resultados sociais decorrentes e equilíbrio ecológico. (DONAIRE,1995 apud MOTA, 2000). Sob esta ótica, o conceito de desenvolvimento apresenta pontos básicos, que devem considerar de maneira harmônica crescimento econômico, maior percepção com os resultados sociais decorrentes e equilíbrio ecológico na utilização dos recursos naturais. 8 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS BRASILEIRAS Os indicadores de sustentabilidade tornaram-se importante instrumento para demonstrar o quanto as empresas adotam práticas sociais, ambientais e econômicas sustentáveis. Indicadores são fundamentais para toda organização que deseja monitorar suas ações, mensurar seus resultados e buscar melhorias em seus processos, visando à sustentabilidade. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 24 Indicadores são formas de representação quantificáveis usadas para medir a qualidade relativa de um produto, serviço, item, operação, processo ou sistema. (PRAZERES, 1996 apud BLAUTH, 2006). Para entender a situação das empresas brasileiras sobre questões de sustentabilidade, veja a seguir pesquisas com indicadores que retratam a real situação das empresas no Brasil. QUASE 60% DAS EMPRESAS DO PAÍS JÁ ADOTAM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS Levantamento da Amcham revela que 57% das empresas localizadas no Brasil investem em iniciativas deste tipo Por Eliane Quinalia SÃO PAULO – As empresas brasileiras estão adotando cada vez mais práticas sustentáveis. Ao menos é isso o que aponta um recente levantamento da Amcham-SP. De acordo com o estudo divulgado durante a entrega do Prêmio ECO 2011, quase 60% das companhias localizadas no país relataram já ter incorporado às suas operações algum tipo de ação sustentável. “Essa consciência cada vez maior por parte dos empresários é o que realmente move a sustentabilidade adiante”, declarou o CEO da Amcham, Gabriel Rico, ao apresentar os destaques da sondagem. Demais empresas Já para as demais empresas, a sustentabilidade é considerada relevante, mas sua integração ao negócio ainda é incipiente, afinal, somente 17% analisam a possibilidade de implementar projetos nessa área e 14% desenvolvem ações sociais e ambientais com foco em comunidades – do entorno ou não –. O estudo revela ainda que 12% realizam iniciativas sustentáveis não integradas ao negócio, em que declaram sentir a necessidade dessa integração. Ações adotadas Entre as principais, destacam-se principalmente, por exemplo, aquelas que visam reduzir os impactos ambientais causados por tais empresas, com 18% dos votos, a ética corporativa (17%) e a incorporação do tema aos sistemas de gestão (10%). A preocupação com clientes e gestores, entretanto, costuma aparecer na sequência, com 10% dos votos, sendo seguida pela governança corporativa (9%) e pelos relatórios de sustentabilidade, com 8%. Os reais motivos Mas engana-se quem imaginar que o envolvimento de uma empresa com tal prática costuma ocorrer unicamente para fins ecológicos. TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 25 Segundo o próprio estudo, a maioria dos empresários consultados é categórica ao afirmar que a sustentabilidade traz vantagens comerciais, especialmente no que diz respeito à imagem. A afirmação foi feita por 32% dos executivos entrevistados. Já outros 26%, no entanto, defendem a melhoria do capital humano e o aprendizado organizacional como principais valores agregados do negócio. Outros itens apontados pelo levantamento foram o aperfeiçoamento da gestão, mencionado por 18% dos profissionais, a minimização dos riscos (7%) e o aumento nas vendas e margens (4%). Pesquisa A pesquisa avaliou a opinião de 76 executivos de empresas associadas de variados portes e setores da economia entre os dias 4 e 25 de novembro. FONTE: Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/negocios/noticia/2276303/quase-das- empresas-pais-adotam-praticas-sustentaveis>. Acesso em: 10 jan. 2013. Segundo Tachizawa (2010, p. 405), “Indicadores de Desenvolvimento Humano Organizacional – IDHO –, como proposta alternativa de instrumento de monitoramento da sustentabilidade empresarial, servem como diagnóstico de sustentabilidade, possibilitando verificar ações socioambientais no universo empresarial de empresas brasileiras”. Foram pesquisados e analisados os fatores de influência da sustentabilidade através de pesquisa com as maiores organizações do ramo industrial, comercial e de prestação de serviços que atuam na economia nacional (critério da publicação, Melhores e Maiores 2009 da revista Exame). QUADRO 2 – AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS Discriminação Serviços Industrial Comercial Educação 36,4 % 44,7 % 25,5 % Meio Ambiente 11,9 % 75,8 % 43,1% Saúde 37,8 % 22,3 % 35,4 % Ações Comunitárias 44, 3% 31, 1% 49, 8% FONTE: Tachizawa (2010, p. 407) Conforme Tachizawa (2010), as respostas evidenciaram uma preponderância de ações de proteção ambiental nas empresas industriais (75,8%). Nas demais empresas, serviços (11,9%) e comerciais (43,1%), notou-se menor ênfase com relação ao meio ambiente. Outras ações sociais e comunitárias se distribuíram equilibradamente, com ligeiro destaque aos setores comerciais e de serviços. O tema sustentabilidade faz parte da agenda das empresas conforme pesquisa realizada pelo Ibope Ambiental, apresentando os seguintes resultados: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 26 • cerca de metade das empresas já possui áreas estruturadas e políticas com metas e ações planejadas dedicadas exclusivamenteà sustentabilidade; • para cada 10 empresas, 6 declaram ter um plano estratégico de sustentabilidade em suas organizações; • o desenvolvimento das empresas em relação à sustentabilidade revela que o maior motivo que leva as empresas a investir em processos sustentáveis são os aspectos externos às organizações (pressões do mercado, de clientes, da sociedade civil, atender exigências de regulamentação etc.); • 70% afirmam que seus clientes já buscaram informações sobre o engajamento da empresa no tema, sendo uma tendência que deverá se acentuar nos próximos anos; • a relação custo-benefício será impactada pela incorporação de valores e práticas relacionadas à sustentabilidade. FONTE: Disponível em: <http://www4.ibope.com.br/ambiental>. Acesso em: 15 out. 2012. Apesar das práticas sustentáveis das empresas, as organizações não demonstram preocupação para a falta de recursos naturais em curto prazo, conforme demonstra a pesquisa pela consultoria britânica. Leia a seguir. PESQUISA DA CONSULTORIA BRITÂNICA CARBON TRUST COM 475 EXECUTIVOS NOS EUA, BRASIL, CHINA, COREIA DO SUL E REINO UNIDO MOSTRA QUE A MAIORIA DAS COMPANHIAS IGNORA O PROBLEMA NO CURTO PRAZO TÓPICO 2 | QUESTÕES BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL 27 FONTE: Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/empresas- falta-recursos-naturais-negocios-sustentabilidade-729490.shtml>. Acesso em: 15 out. 2012. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 28 Todas as pesquisas apresentadas indicam que as organizações estão desenvolvendo ações de sustentabilidade influenciadas por pressões externas. Essas ações ambientais são mais aplicadas pelas indústrias, devido ao maior risco de impactos ambientais dos processos industriais. De maneira geral, as organizações possuem conhecimento sobre o tema e entendem que não basta ter ações sustentáveis, devem utilizar indicadores para divulgar seus resultados. A partir dos indicadores de sustentabilidade, empresas de todos os tipos e porte podem utilizar essas informações para estabelecerem ações em seus planejamentos estratégicos e ações internas para melhorar o desempenho de sustentabilidade. Há uma forte tendência das empresas de utilizarem indicadores à medida que as pressões dos stakeholders aumentam, visando demonstrar melhorias de desempenho de sustentabilidade. No Tópico 4, da respectiva unidade, serão apresentados práticas de sustentabilidade em complemento a este assunto. NOTA O termo stakeholders, em inglês, significa “stake”, interesse; e “holder”, aquele que possui. Na prática são todos aqueles que influenciam uma empresa. São os interessados pelos projetos, gerenciamento, mercado e produtos de uma empresa. São os colaboradores, funcionários, clientes, consumidores, planejadores, acionistas, fornecedores, governo e demais instituições que direta ou indiretamente interfiram nas atividades gerenciais e de resultado de uma organização. É qualquer indivíduo ou entidade que afete as atividades de uma empresa. O termo foi inaugurado pelo filósofo Robert Edward Freeman, que defendia a ideia da interferência dos stakeholders como fundamental no planejamento estratégico. FONTE: REBOUÇAS, Fernando. Disponível em: <http://www.infoescola.com/administracao_/ stakeholders/>. Acesso em: 6 out. 2012. 29 RESUMO DO TÓPICO 2 Nesse tópico, caro(a) acadêmico(a), você teve oportunidade de estudar os seguintes itens referentes à administração ambiental: Conceito de poluição, que se refere a toda degradação ambiental causada por atividades humanas, bem como, maneiras de prevenção desta poluição. O impacto da industrialização e do crescimento urbano e populacional sobre o meio ambiente. A relação entre as empresas e o meio ambiente. A conciliação entre as necessidades de uma organização empresarial e as questões ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentável e sua importância. Conhecer indicadores de sustentabilidade das empresas brasileiras. 30 Você deve ter notado que o tema do Tópico 2 nos direciona - a partir do conceito da poluição, da responsabilidade que a sociedade possui na geração, redução e tratamento dos poluentes - ao desenvolvimento sustentável. Nesses termos, sugerimos que realize uma pesquisa sobre os principais acidentes ambientais ocorridos no século XX e quais foram as principais falhas que os causaram, conforme lista a seguir. Minamata, Japão, anos 50 => A indústria química Chisso despeja 460 toneladas de materiais poluentes na Baía de Yatsushiro. Ontário, Canadá, 1982 => Chuvas ácidas, queima de combustíveis em território norte-americano, mortandade de peixes em 147 lagos. Cubatão, São Paulo, 1984 => Rompimento de oleoduto da Petrobrás, incêndio, favela de Socó, uma das áreas mais poluídas do planeta. Bhopal, Índia, 1984 => Vazamento de isocianeto de metila em fábrica de pesticidas da Union Carbide mata mais de 2000 pessoas. Chernobyl, antiga URSS, 1985 => Explosão destrói um reator da usina atômica, lançando 100 milhões de curies de radiação na atmosfera. Basileia, Suíça, 1986 => Incêndio em indústria química da Sandoz atira no Reno 30 toneladas de pesticidas e outros produtos tóxicos. Alasca, EUA, 1989 => Petroleiro Exxon Valdez bate em recife e derrama 41,5 milhões de litros de petróleo no estreito de P. Willian. Rio de Janeiro (RJ), Araucária (PR), 2000 => Rompimento de dutos transportadores de óleo, comprometendo a baía de Guanabara e o rio Barigui, afluente do Rio Iguaçu. Golfo do México, 2010 => Explosão na plataforma de petróleo da BP no Golfo do México provocou a morte de 11 pessoas, além de jogar no mar mais de 4 milhões de barris de óleo, no pior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. AUTOATIVIDADE 31 TÓPICO 3 EMPRESA E MEIO AMBIENTE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico abordaremos a inter-relação da empresa com o meio ambiente, seus impactos, o entendimento do meio ambiente, a importância da comunicação na organização para a preservação e como podemos utilizar todos esses itens para maximizar a eficiência da administração ambiental na empresa. 2 A ADMINISTRAÇÃO VERDE De tantos confrontos entre empresas e o meio ambiente, esquecemos que, na realidade, ambos estão integrados em um único ecossistema. Procurem relembrar a definição de meio ambiente. E este deve ser administrado de maneira responsável. Atualmente, um dos setores que mais se desenvolvem é o da biotecnologia, para a qual uma das primeiras técnicas, a fermentação, foi aprendida no estado natural, há alguns milhares de anos. O próprio tema biotecnologia denota a aplicação de técnicas biológicas em escala industrial. Então, temos demonstrada nesse simples exemplo a integração da organização industrial com o meio ambiente. Esse compartilhamento de ferramentas, métodos e conhecimento não só se refere aos aspectos técnicos, mas também financeiros, comerciais, de recursos humanos, administrativos e de pesquisa e desenvolvimento. A razão básica que explica a hesitação por parte dos empresários em aceitar o fator ambiental em sua administração é devida ao fato de que os mesmos não possuem uma mentalidade de que o meio ambiente interage com a administração rotineira de uma empresa. Essa realidade não é facilmente assimilada por pessoas que, normalmente, gerenciam atividades voltadas apenas para resultados financeiros. Por conseguinte, em sua lógica, considera-se o tema meio ambiente problema dos outros, adotando uma postura, com frequência, defensiva. Então, é necessária a transformação da questão ambiental em um valor da organização. Essa transformação dependerá de ações da Alta Administração e de suas gerências. Os exemplos que elas darão sobre a importância do meio ambiente 32 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOSFUNDAMENTAIS provocarão consequências no resto da organização. O comparecimento em reuniões para especificar a prioridade das agendas indicará se, realmente, a causa ambiental é importante. A omissão dessa questão nas reuniões ou sua inclusão ocasional podem sugerir baixa prioridade. As chefias e os subordinados captarão esse comportamento e agirão de acordo com essa percepção. É bom não esquecer que os colaboradores dessa empresa serão os responsáveis por garantir a imagem ambiental da empresa internamente e disseminar isto junto à comunidade local em que vivem. Da mesma maneira, os empresários e a Alta Administração têm importante papel na transmissão dessa imagem para o mundo exterior da empresa, à sociedade, ao governo e aos órgãos de controle ambiental. 3 APRENDER A SE COMUNICAR: A PRIMEIRA URGÊNCIA O primeiro obstáculo que o empresário tem em matéria de administração ambiental é o da comunicação, seja ela interna ou externa. Embora o empresário tenha certeza de que possui um produto ambientalmente correto, o mesmo não dispõe das ferramentas necessárias para transmitir essas informações ao público interno e externo. Faltam-lhe argumentos que demonstrem a eficácia de seu trabalho, com relação aos aspectos ambientais gerados, ao funcionamento do sistema de administração ambiental, às responsabilidades de cada indivíduo dentro da empresa. Para elucidar essa questão, a melhor maneira é a exposição simples e direta, demonstrando a realidade da situação da forma mais honesta e aberta possível. Mesmo assim, a comunicação pode ser ou não conclusiva. Em questões ambientais, podemos ter situações complexas de serem abordadas e solucionadas. Como exemplo disso, existe a situação da energia nuclear. A seguir, veja um diálogo hipotético entre um representante da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e ativistas ambientais: • CNEN – A energia nuclear é a mais limpa de todas as energias. • Ativistas – Hiroshima! • CNEN – O controle pacífico do setor nuclear assegurará à humanidade uma fonte de energia inesgotável. • Ativistas – Nagasaki! TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 33 • CNEN – Os procedimentos de controle que foram implantados são excelentes e eliminam a hipótese de qualquer tipo de acidente. • Ativistas – Chernobyl! • CNEN – Mas afinal, o que vocês querem? • Ativistas – Queremos energia limpa! • CNEN – Mas, a energia nuclear é a mais limpa de todas as energias. • Ativistas – Hiroshima! Esse embate prosseguirá interminavelmente, pois, apesar deles estarem conversando, não existe comunicação. Ambos têm pontos relevantes sobre a questão, mas a intransigência faz com que a comunicação não prossiga e a negociação emperre. Realmente, a energia nuclear é a energia mais limpa criada até hoje, também a energia nuclear é potencialmente poluidora para as regiões em que estas usinas estão instaladas. Porém, também o são: centrais hidroelétricas, termoelétricas, manipulação genética, agrotóxicos, pragas ambientais por desequilíbrios nos ecossistemas etc. A quantidade de situações potencialmente danosas e impactantes ao meio ambiente é grande. A diferença está na administração má ou incompetente de cada situação. Então, em questão de comunicação ambiental, temos que possuir argumentos, clareza, simplicidade, objetividade, honestidade, mas ter a capacidade de conciliar posições conflitantes. 4 ENTENDER O MEIO AMBIENTE O meio ambiente foi, é e será sempre alterado pela atividade humana. Em todos os tempos, a atividade humana planificou, moldou e administrou a natureza. O que muda, a partir de agora, é a responsabilidade pela maneira com que administraremos essa utilização. A empresa deve assumir as consequências de sua má ou boa administração dos recursos naturais e, para isso, ela deverá definir objetivos, estratégias e um modo de administração responsável. A administração ambiental empresarial não é, de jeito nenhum, a consequência de uma vontade de dominar, destruir ou antagonizar. Trata-se da consequência lógica da responsabilidade coletiva econômica, que é, atualmente, a de todos os envolvidos no equilíbrio ambiental do planeta. 34 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5 COMPREENDER O MEIO AMBIENTE PARA PRESERVAR O assunto meio ambiente, por mais discutido que seja, ainda não é muito claro para a maioria das pessoas. É muito comum pensar que meio ambiente se resume à flora e à fauna, sem fazer a ligação entre elas, as pessoas e as indústrias. Para preservar o meio ambiente é necessário compreender o contexto relacionado ao assunto. Veja, a seguir, alguns exemplos aplicados pelas empresas no sentido de obter uma visão melhor das questões ambientais. A Renault, a Mercedes-Benz e a Audi-Volkswagen decidiram que os técnicos em equipamentos que eles escolherão no futuro deverão ser capazes de reciclar os componentes da sucata dos carros, cuja recuperação ficará a cargo das suas redes de revendedores respectivos. A Shell, a Petrobras, a ESPN e outras grandes companhias de petróleo possuem departamentos de desenvolvimento, buscando soluções alternativas para reduzir o impacto ambiental de suas atividades. Nas relações entre a indústria e o meio ambiente, todos os especialistas concordam com, pelo menos, um ponto: há soluções técnicas para os problemas de meio ambiente provocados pela indústria. Uma pesquisa recente feita com trinta mil executivos da área industrial, na Europa, aponta que 80% deles consideram que os problemas do meio ambiente sejam importantes ou muito importantes. Então, por que muitas empresas se adaptam com tamanha lentidão no que se refere à tomada de medidas para preservação do meio ambiente? Talvez porque as empresas são administradas, em parte, por uma geração de administradores que não possui nenhum tipo de cultura do meio ambiente. O engenheiro encarregado de criar uma estrada fará como ele aprendeu, indo do ponto A ao ponto B, levando, eventualmente, em consideração as exigências e pressões políticas e cronogramas de prazo e recursos financeiros. Onde ele poderia ter aprendido a integrar a estrada ao equilíbrio do meio ambiente local? Será que então é necessário retirar toda a sua responsabilidade e a sua liberdade de decisão? O que falta ao nosso engenheiro, assim como a muitos dirigentes, é o conhecimento de três campos essenciais. • Saber explicar a necessidade em matéria de defesa ou melhoria do meio ambiente O meio ambiente é um sistema interativo complexo, que deveria ser estudado através de uma abordagem interdisciplinar. Mas, para tanto, é necessário que as autoridades possam expressar as suas necessidades aos especialistas encarregados de aplicar as suas decisões. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 35 Sem uma formação elementar sobre os problemas do meio ambiente, os nossos governantes estão, na melhor das hipóteses, capacitados para aplicar o bom senso do cidadão comum e, na pior das hipóteses, preparados para negar o fator ambiental. • Dispor de ferramentas de gestão ambiental Existem diversas ferramentas disponíveis para fazer uma boa administração ambiental, mas é necessário, antes de aplicá-las, conhecê-las e analisar qual é a mais adequada, levando em consideração todos os aspectos de acordo com cada tipo de empresa. Ainda neste tópico, vamos conhecer algumas ferramentas da qualidade que podem ser utilizadas para fazer gestão ambiental. Na Unidade 3, Tópico 1, vamos conhecer o processo de gerenciamento ambiental em complemento a este assunto. • Saber administrar o meio ambiente que ele contribui para criar Ninguém tem o monopólio do meio ambiente. Isto é válido tanto para o empresário, o gerente, um representante do poder público ou um ativista ambiental. Vale dizer, também, que as decisões tomadas por cada um deles, geralmente, comprometem todaa comunidade e moldam o meio ambiente por várias gerações. O mínimo que se pode pedir aos responsáveis políticos e empresários é que sejam capazes de negociar as suas decisões, aprendam a viver com o meio ambiente e tomem consciência de que ele tornou-se uma prioridade absoluta. IMPORTANT E Essa compreensão do meio ambiente é de fundamental importância para implantação de qualquer prática de preservação ambiental. 36 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5.1 FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICADAS À ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL Para administrar qualquer tipo de organização de forma eficiente na busca de resultados, é necessário conhecer e aplicar algumas ferramentas de gestão que são utilizadas desde o século XX pelas empresas e ainda muito utilizadas pelas organizações atualmente em todo o planeta. Vamos verificar a aplicabilidade de algumas ferramentas da qualidade na administração ambiental. 5.1.1 PDCA – Planejar – Executar – Verificar – Atuar A ferramenta da qualidade muito utilizada por muitas empresas em Sistemas de Gestão da Qualidade, Sistema de Gestão Ambiental NBR ISO 14001 e Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional (OSHAS 18001) é o ciclo PDCA, de Shewhart-Deming, que visa à melhoria contínua. QUADRO 3 – CICLO PDCA FONTE: Adaptado de: Blauth (2006) Segundo Blauth (2006, p. 206-207), em cada etapa do ciclo ocorrem as seguintes ações: Etapa Planejar – P Nessa etapa ocorre: • diagnóstico da situação atual; • determinação da situação desejada; • determinação daquilo que deve ser feito para sair da situação atual e chegar à situação desejada; TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 37 • plano de ação para eliminar o problema. Etapa Executar – D Nessa etapa ocorre: • implementar o plano de ação; • registrar os resultados e observar os fatos significativos para o sucesso do plano de ação. Etapa Verificar – C Nessa etapa ocorre: • comparar os resultados alcançados com a situação desejada; • investigar as causas caso o resultado não tenha alcançado o previsto no plano; • registrar outros efeitos secundários indesejados não previstos que surgiram durante a implementação do plano de ação. Etapa Atuar – A Nessa etapa ocorre: • atuar conforme resultados; • caso a situação desejada tenha sido alcançada, iniciar novo Ciclo PDCA visando sempre melhorar ainda mais os resultados; • caso a situação desejada não tenha sido alcançada, estabelecer novos planos de ação visando eliminar a lacuna e feitos secundários indesejados. A ferramenta PDCA possibilita fazer a administração ambiental de qualquer tipo de organização. Essa ferramenta pode ser utilizada mesmo que a empresa não tenha adotado um sistema de gestão ambiental com base na norma NBR ISO 14001. Para fazer uma administração ambiental eficiente todo gestor necessita fazer um planejamento e para isso precisa conhecer bem a empresa, seus processos e os aspectos ambientais relacionados. Um diagnóstico ambiental inicial é um instrumento importante, pois possibilitará uma avaliação mais aprofundada da empresa e o gestor poderá planejar ações com base na avaliação realizada. 38 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS A partir de um diagnóstico ambiental inicial, a empresa poderá estabelecer ações para melhorias ambientais em seus processos. Para estabelecer essas ações, a empresa poderá adotar a ferramenta 5W2H. 5.1.2 O que é o 5W2H e como ele é utilizado? Segundo Blauth (2006, p. 61-62), 5W2H é “[...] uma forma muito utilizada para estabelecer planos de ação. É uma relação padronizada de perguntas a serem respondidas por quem está elaborando o plano de ação”. Nada mais é do que uma ferramenta para orientar a execução de atividades. Para exemplificar o uso dessa ferramenta na administração ambiental, vamos aplicá-la em uma ação ambiental na empresa supostamente levantada em um diagnóstico ambiental inicial. Exemplo: Plano de ação para melhoria na separação de resíduos nas áreas avaliadas. Obs.: Foram identificadas muitas lixeiras com resíduos misturados durante a avaliação de diagnóstico ambiental inicial. QUADRO 4 – PLANO DE AÇÃO 5W2H What? O quê? Plano de ação para a correta separação de resíduos nas lixeiras pelos funcionários Why? Por quê? Possibilitar a destinação correta dos resíduos para os devidos aterros industriais ou sanitários, reciclagem ou reaproveitamento, evitando desperdícios de recursos e impactos ambientais Who? Quem? Equipe de meio ambiente capacita supervisores das áreas que fazem educação ambiental em suas respectivas áreas When? Quando? 30 dias para capacitar supervisores – 30 dias para capacitar demais funcionários Where? Onde? Nas áreas operacionais da empresa XX, priorizando os locais com maior incidência de resíduos misturados conforme comprova o diagnóstico UNI Caro(a) acadêmico(a), vamos estudar na Unidade 3 a formatação de um diagnóstico inicial e a aplicação do PDCA, visando à implantação da NBR ISO 14001. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 39 FONTE: Os autores A ferramenta 5W2H poderá ser aplicada para tratamento de não conformidades e/ou melhorias ambientais levantadas em diagnóstico ambiental, conforme verificamos no exemplo do quadro anterior. 5.1.3 Diagrama causa e efeito Foi desenvolvido em 1943 por Ishikawa no Japão para explicar como vários fatores poderiam ser comuns entre si e estar relacionados. Também é conhecido por diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe, sendo considerado uma representação gráfica que permite a organização das informações possibilitando a identificação das possíveis causas de um determinado problema ou efeito. “O diagrama de causa e efeito é uma técnica visual que integra os resultados (efeitos) com os fatores (causas) que contribuem para ocorrência” (PRAZERES, 1996 apud BLAUTH, 2006, p. 95). FIGURA 4 – DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO – ESPINHA DE PEIXE FONTE: Disponível em: <http://condominial.blogspot.com.br/2012/05/gestor-condominial.html>. Acesso em: 20 out. 2012. How? Como? Treinamento de 30 minutos em sala sobre a correta separação de resíduos e a importância do processo de coleta seletiva How much? Quanto custa? Horas-homens trabalhadas da equipe SGA, supervisores e funcionários capacitados. Custo com tempo gasto de cada pessoa envolvida no treinamento e/ou custo com redução ou parada de produção para execução do treinamento definido no item How? Como? Essa ferramenta poderá ser utilizada no planejamento de ações para identificar ou resolver problemas ambientais encontrados em diagnóstico ambiental inicial. 40 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS FIGURA 5 – DIAGRAMA CAUSA E EFEITO – PROBLEMA: ALTO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL Diagrama Causa e Efeito: Problema Método Carro Motorista Material ALTO CONSUMO DE COMBUST VELÍ Desconhecimento do manual do proprietário Não escutar o motor Rádio alto Problema de audição Uso incorreto das marchas Dirigir muito rápido Sempre atrasado Impaciência Pouco treinamento Direção imprópria Falta de atenção Manutençãoinadequada Falta de conhecimento Combustível fora de especificação Falta de manual Falta de óleo Óleo incorreto Lubrificação inadequada Manutenção do motor Ajuste ingnição Velas Ajuste marcha lenta Ajuste carburador Calibração incorreta Falta de calibração Pressãopneus FONTE: Disponível em: <http://www.guaraparivirtual.com.br/colunista.asp?varid=4&varcod=12>. Acesso em: 20 out. 2012. Zafenate Desidério Diagrama de Pareto é um recurso gráfico utilizado para estabelecer uma ordenação nas causas de perdas que devem ser sanadas, e é originário dos estudos de um economista italiano chamado Pareto. O alto consumo de combustível é um problema que gera um impactoambiental (redução dos recursos naturais e emissões atmosféricas). Durante um diagnóstico ambiental geralmente é identificado somente o problema em que, posteriormente com o relatório da avaliação, a empresa poderá usar a ferramenta causa efeito para identificar as possíveis causas e tomar as devidas ações. 5.1.4 Diagrama de Pareto É uma ferramenta da qualidade muito utilizada para estabelecer uma ordenação de causas de perdas que devem ser sanadas, permitindo uma melhor visualização das prioridades, bem como o estabelecimento de ações e metas. Veja, a seguir, a aplicação do recurso do Diagrama de Pareto. Exemplo: TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 41 O diagrama de Pareto tem o objetivo de compreender a relação ação/ benefício, ou seja, prioriza a ação que trará o melhor resultado. O diagrama é composto por um gráfico de barras que ordena as frequências das ocorrências em ordem decrescente, e permite a localização de problemas vitais e a eliminação de futuras perdas. O diagrama é uma das sete ferramentas básicas da qualidade e baseia-se no princípio de que a maioria das perdas tem poucas causas ou que poucas causas são vitais, a maioria é trivial. Para o Diagrama ser aplicado, é importante seguir seis passos básicos: 1 determinar o objetivo do diagrama, ou seja, que tipo de perda você quer investigar; 2 definir o aspecto do tipo de perda, ou seja, como os dados serão classificados; 3 em uma tabela, ou folha de verificação, organizar os dados com as categorias do aspecto definido; 4 fazer os cálculos de frequência e agrupar as categorias que ocorrem com baixa frequência sob a denominação outros, calcular também o total e a porcentagem de cada item sobre o total e o acumulado; 5 traçar o diagrama. FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/diagrama-de-pareto/>. Acesso em: 21 dez. 2012. Para desenvolver um gráfico de Pareto utilize o Microsoft Excel ou similar. A seguir você conhecerá a tabela para coleta de dados e o Gráfico de Pareto detalhado, explicando sua função. TABELA DE COLETA DE DADOS A tabela de coleta de dados tem como função realizar o registro de cada falha que está sendo controlada para gerar o Gráfico de Pareto, para isso identifiquei cada campo. • A - Descrição da falha: Neste campo você deve inserir o nome dado à falha identificada nos processos controlados, lembrando que este mesmo nome 42 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS • A - Este eixo lhe auxilia na comparação do problema mais crítico identificado no processo que foi realizado na coleta de dados, neste caso conseguimos ver que o item rebarbas tem o nível mais crítico e o item sem usinagem é a falha com menor frequência de rejeição. • B - Coluna gerada conforme dados lançados na tabela de coleta de dados, identificando estatisticamente a criticidade de cada falha. deve estar identificado em fichas de identificação na peça para impedir que peças boas se misturem com peças com defeitos, utilize um ficha de produto não conforme para o mesmo. • B - Total: Nesta coluna deveremos registrar o total de peças para cada falha, no exemplo acima temos para a falha de rebarbas 445 peças rejeitadas por esta não conformidade. [A não conformidade, no caso, é a rebarba, pois não atende os padrões estabelecidos pela empresa, por isso foram rejeitadas.] • C - % por falha: Nesta coluna temos a soma do total de peças rejeitadas por cada falha (B) dividido pelo total de peças rejeitadas no geral (D) neste exemplo a fórmula é = C5/$C$15 para a falha de rebarbas, onde esta me gerou 40% de rejeição. • D - % Acumulado: Na coluna segue o resultado da soma de uma falha para a seguinte, gerando o total acumulado. • E - Total de peças rejeitadas: Neste campo fica a soma de toda a coluna C, gerando o total de todas as peças rejeitadas. Dica: Quando você utilizar esta tabela, lançado a descrição da falha (A) e o total (B), o cálculo é realizado automaticamente, gerando após o Gráfico que veremos logo a seguir. O Gráfico de Pareto abaixo é gerado após você preencher a tabela de coleta de dados, na qual você consegue identificar o percentual de cada falha, mas de modo gráfico você conseguirá interpretar e traduzir a prioridade de ação para cada problema. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 43 • C - Identificação da coluna. • D - Linha que é gerada pelo % acumulado. • E - Legendas do Gráfico de Pareto. • F - Percentual acumulado. Pronto, veja como é simples esta metodologia do Gráfico de Pareto, onde você deve seguir 3 passos para a conclusão deste trabalho, sendo eles: • a. coleta de dados; • b. preenchimento da tabela de coleta de dados; • c. tomada de ação corretiva sobre a falha mais crítica. FONTE: Disponível em: <http://www.qualidadebrasil.com.br/noticia/qualidade_criando_um_ grafico_pareto>. Acesso em: 22 dez. 2012. Através do Diagrama de Pareto é possível visualizar os problemas e definir uma ordem de prioridade de acordo com o grau de importância de cada falha, devendo direcionar a ação sobre a mais crítica. Na administração ambiental o diagrama poderá ser utilizado para demonstrar o percentual de cada problema ambiental encontrado, possibilitando ao gestor estabelecer prioridades de acordo com o nível de importância de cada situação. 5.1.5 Folhas de verificação Segundo Blauth (2006, p. 73-74), “Folha de verificação é um formulário utilizado para facilitar e organizar a coleta e registros de dados”. Na área ambiental o formulário é muito útil em auditorias ambientais, inspeções e avaliação ambiental. Devido à grande quantidade de informações que é verificada durante um trabalho de avaliação ambiental, a folha de verificação facilitará na busca de evidências de conformidades e não conformidades. Veja parte de um modelo de folha de verificação utilizado durante uma avaliação ambiental inicial ou em auditorias ambientais: Lista de verificação - resíduos a) Existe um levantamento atualizado de resíduos? (origem, classificação, quantificação)? b) Os coletores de resíduos estão adequados nas áreas e atendem as necessidades (coletor por tipo de resíduo) e são suficientes? c) As pessoas recebem orientação para a utilização dos coletores que permita a utilização adequada? 44 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS d) Existe local apropriado para o armazenamento de resíduos sólidos (impermeabilização, separação, identificação de dispositivos para evitar a contaminação do solo e o carreamento de resíduos para drenagem pluvial)? e) Como são as condições de armazenamento de produtos ou resíduos perigosos? Obedecem às normas de segurança pertinentes? f) Qual o destino de lâmpadas fluorescentes usadas, pilhas, baterias, pneus? É adequado? g) O destino de óleos, estopas, embalagens, sucatas contaminados com óleo é adequado? h) Os resíduos atendem a legislação de resíduos? A lista de verificação poderá ser ampliada ou adaptada de acordo com o que se quer avaliar e ainda ser criadas outras listas de verificação para efluentes, emissões atmosféricas, ruídos em áreas habitadas e atendimento à legislação ambiental etc. 5.1.6 Fluxogramas Segundo Blauth (2006, p. 65), “[...] fluxograma é uma representação gráfica visual por meio de um conjunto de figuras esquemáticas padronizadas que representam as partes de um processo – atividades, pontos de medição e pontos de decisão – em sequência cronológica de realização”. FIGURA 6 – SÍMBOLOS DO FLUXOGRAMA TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 45 46 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS FONTE: Disponível em: <http://www.forumdaqualidade.com.br/viewtopic.php?f=12&t=879>. Acesso em: 2 jan. 2013. Vamos ver, a seguir, um modelo de fluxograma utilizado na prática. FIGURA 7 – FLUXOGRAMA DE IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS, ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAISFONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABf7MAG/ferramentas-gestao- qualidade-fluxograma>. Acesso em: 2 jan. 2013. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 47 Através da representação gráfica apresentada na figura anterior, é possível compreender o processo de identificação de riscos, aspectos e impactos ambientais ou documentos entre os elementos que participam no processo em causa. O fluxograma deve ser utilizado para: • mapear fluxo e identificar possíveis desvios no processo, que pode afetar o produto ou serviço; • para acompanhar os passos de um processo e verificar a relação entre cada operação ou processo; • para identificar possíveis melhorias e oportunidade de mudanças nos processos. Outras ferramentas da qualidade também são utilizadas na administração ambiental, como: histogramas, gráficos de dispersão, cartas de controle etc. 6 CAPITAL X MEIO AMBIENTE A conclusão de tudo que vimos até agora é que, tanto os objetivos econômicos, como os objetivos ambientais, deveriam estar interligados. Se há somente um meio ambiente, se o problema é administrá-lo de maneira responsável, basta aprender a fazê-lo, principalmente porque as técnicas para resolver os problemas ambientais já existem. A relação de forças entre as empresas e o meio ambiente está oscilando. Do início da Revolução Industrial até meados dos anos oitenta, tínhamos uma visão extremamente capitalista. Em geral, essas empresas foram concebidas sem muita preocupação com o meio ambiente (que acreditávamos ser infinitamente vasto). De meados dos anos oitenta até o início do século XXI, progressivamente, o mundo vem adotando uma postura extremamente ambientalista, em alguns casos até violenta, destruição de plantações de grãos geneticamente modificados, invasão e depuração de empresas particulares e órgãos públicos, ou seja, partimos de um extremo ao outro, quando, na realidade, o que precisamos encontrar é o caminho do meio, conforme vimos anteriormente, talvez, neste caso, seja o desenvolvimento sustentável. É por isso que, agora, temos que assumir a responsabilidade pelo ecossistema mundial, que empresários, ambientalistas, governos, ONG´s, deveriam diagnosticar a real situação, avaliar e criar uma estratégia coesa para uma administração ambiental correta. Na luta de “Capital x Meio Ambiente” não há vencedores, pois todos saem perdedores. Pelo contrário, deveríamos transformar essa contraposição em uma única caminhada de “Capital + Meio Ambiente”. 48 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 7 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO A seguir, veremos que os modelos de administração dividem-se em: A Empresa Tradicional, O Modelo de Conflito, O modelo do Mundo Real. 7.1 A EMPRESA TRADICIONAL Para os modelos nos quais se baseiam os métodos e ferramentas de administração tradicionais, as empresas são mal adaptadas à aceitação da responsabilidade em relação ao meio ambiente. A razão desta incapacidade de adaptação é que esses modelos se baseiam essencialmente na filosofia de que uma empresa é um conjunto coerente de indivíduos e grupos com uma única identidade – a da empresa – e um único objetivo – o da empresa. Percebe-se, deste modo, que a organização é um bloco monolítico, tendo um único e singular objetivo econômico, lucro, que utiliza todas as forças e recursos de que dispõe para atingi-lo, arrasando tudo por onde passa, inclusive e se necessário for, o equilíbrio da natureza e meio ambiente. De maneira esquemática, o modelo da empresa tradicional é uma pirâmide com uma extensa base, trabalhando em prol da cúpula, ou seja, do empresário. FONTE: Backer (2002) FIGURA 8 – O MODELO DA EMPRESA TRADICIONAL Como o objetivo desta organização é o de atingir a qualquer preço a sua meta lucrativa, torna-se evidente que, mais cedo ou mais tarde, ele será uma ameaça para o meio ambiente. Isso explica a necessidade de uma legislação ambiental repressiva, de maneira a coibir e anular a capacidade de destruição do meio ambiente. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 49 7.2 O MODELO DE CONFLITO Como já verificamos, a empresa não é um sistema que possa ou deva ser separado do resto do meio ambiente. Muito pelo contrário, ela é o lugar de convergência e o local em que ocorrem os conflitos entre grupos e pessoas com interesses, que, aparentemente, são opostos, mas que, na realidade, se complementam: desenvolvimento tecnológico, crescimento econômico, desenvolvimento social, distribuição de renda, preservação do meio, entre outros. Para cada um desses grupos, com um objetivo específico, existem afinidades e sentimentos de identidades em relação à empresa, a outras organizações, a grupos ou valores sociais que são perfeitamente contraditórios. Portanto, cabe ao administrador realizar seu papel fundamental, administrar e conciliar os pontos conflitantes e atingir a real meta da organização. 7.3 O MODELO DO MUNDO REAL A empresa, cujo modelo tradicional é representada por uma pirâmide, tendo como objetivo final o lucro financeiro, em detrimento de qualquer outra aspiração, nos dias atuais está destinada ao esquecimento. A empresa do mundo real, aquela que deverá ser realidade para o nosso presente e futuro, é um conjunto de grupos e pessoas com múltiplos objetivos complementares, comparável a um emaranhado de tendências que deverão ser organizadas para formar uma força coesa, cujo objetivo é o desenvolvimento sustentável. O aparecimento do fator ambiental na vida da empresa obriga, mais do que nunca, o administrador a considerar a sua competência e os seus objetivos como uma arbitragem permanente entre os interesses e os objetivos dos grupos e dos indivíduos que são ou se sentem diretamente ou mesmo indiretamente ligados à empresa. A negociação dos objetivos da empresa, incluindo os objetivos em relação ao meio ambiente, não é somente feita entre a empresa e o mundo externo, mas com a comunidade, fornecedores, clientes e outras partes interessadas que estão em constante relacionamento com a empresa. 50 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS FONTE: Backer (2002) FIGURA 9 – INTEGRAÇÃO DA EMPRESA COM O MUNDO REAL A integração das empresas com o mundo real visualizada na figura anterior demonstra relação entre todos os grupos, pessoas e o meio ambiente. No entanto, no mundo real, isto é, na prática, o entendimento do assunto ainda é superficial por grande parte dos administradores. Além disso, os objetivos de cada pessoa e grupos envolvidos buscam interesses que conflitam entre as partes, dificultando a mudança do modelo tradicional para o modelo ideal, isto é, modelo do mundo real apresentado. 8 A ESTRATÉGIA VERDE Nenhuma estratégia tem sentido se não for adaptada ao campo de batalha. Ao fixar as fronteiras da ação da empresa além do perímetro econômico-social, a estratégia ecológica obriga o administrador a estabelecer um mapa do campo no qual a ação irá desenvolver-se. Este campo, ainda que tenha a empresa como centro, tem um relevo que, raramente, depende unicamente das forças internas da empresa. Entretanto, como em qualquer outra estratégia, é necessário identificar, para cada um dos setores da empresa: • os objetivos; • a estratégia; • as ferramentas e a intendência. Levando-se em consideração os setores da empresa, o quadro sinóptico da estratégia ecológica apresenta tarefas de gestão ambiental que os responsáveis da empresa terão que assumir. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 51 Poder-se-ia, então, afirmar que a criação de uma estratégia ambiental tem quatro fases: • identificação de prioridades: o que é mais importante? o que deve ser priorizado? como identificar prioridades?; • diagnóstico: avaliação para definição de prioridades e planos de ação tomando como base um diagnóstico ambiental; • planosde ação: com base no diagnóstico e prioridades definidas, define-se o plano de ação utilizando a ferramenta 5W2H; • síntese: toda a estratégia ambiental deve ser documentada visando manter registros das evidências das ações, possibilitando o acompanhamento das melhorias e divulgação dos resultados. 8.1 IDENTIFICAÇÃO DE PRIORIDADES O empresário mais bem intencionado para com o meio ambiente, quando herda uma situação existente ou quando está imerso em problemas de criação de uma nova atividade, nem sempre é capaz de dar toda a atenção e tomar decisões em todas as frentes, ao mesmo tempo. Então, ele precisa realizar um levantamento das prioridades das situações de emergência e evitar que a empresa se precipite sobre o primeiro problema que aparecer. Esta fase permite uma análise lúcida dos pontos fortes e fracos da empresa, identificar os campos nos quais devem ser feitos esforços para chegar à altura da necessidade de uma estratégia ecológica global e também identificar os pontos em que a empresa pode, com razão, fazer valer os seus sucessos em matéria de integração e responsabilidade dentro do sistema. Esta fase também deve permitir a criação de um calendário e um orçamento, e também a relação de assistentes, ou consultores, que ficarão encarregados da elaboração dos planos setoriais. ESTUDOS FU TUROS Você verá, mais tarde, que estes elementos serão de fundamental importância para elaboração de projetos de preservação ambiental. 52 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Esses grupos de assistentes ficarão encarregados, cada um em seu setor, da elaboração do diagnóstico específico por setor e também do plano ambiental correspondente. 8.2 DIAGNÓSTICO Tente criar, para cada um dos setores analisados, a partir de suas experiências, um conjunto de tabelas de análise aplicáveis à maioria dos setores industriais. Se a adaptação parece aqui e ali indispensável, acho que persiste a constância de uma análise possível de cada departamento, de cada setor industrial, baseada no tipo de escalas. O diagnóstico, sobretudo quando é guiado por escalas de análise, é fundamental para termos um raio-X do departamento, do setor industrial, da empresa. As tabelas serão as ferramentas que formarão a base para a discussão sobre o meio ambiente, a distribuição de responsabilidades e o papel da empresa no meio ambiente. 8.3 PLANOS DE AÇÃO Os planos de ação que serão elaborados pelos diferentes setores da empresa deverão complementar-se e, num primeiro momento, poderão parecer contraditórios e desconexos, mas com uma administração correta poderão ser implementados em uma ordem cronológica que os torne coesos. ESTUDOS FU TUROS ESTUDOS FU TUROS Nos estudos da Unidade 3, Tópico 3, você verá a metodologia de avaliação para definição de prioridades aplicáveis a modelos de gestão ambiental. Podem-se utilizar algumas ferramentas da qualidade para fins de diagnóstico, estudadas anteriormente neste mesmo tópico, como: diagrama causa/efeito e folhas de verificação, que serão complementados com outros instrumentos nos estudos da Unidade 3. TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 53 Como exemplo, podemos supor a criação de um plano de ação para uma hipotética empresa do setor automobilístico. Nesta empresa, abriremos alguns planos de ação, sendo eles: • Cumprir todas as legislações ambientais vigentes e pertinentes ao setor. • Criar uma equipe de desenvolvimento de um “motor limpo”, com baixa geração de emissões atmosféricas. • Anunciar uma política ambiental que leve em consideração todas as atividades individuais e coletivas da empresa. • Estruturar equipe para análise e implantação da legislação ambiental, assim como acompanhar o trâmite das legislações para, quando as mesmas estiverem sendo apreciadas, antecipar medidas que possam impactar em nossos processos. • Desenvolver uma linha de fabricação com emissão zero de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. A princípio, torna-se evidente que a estratégia da empresa não poderá adotar todos os planos traçados inicialmente. O mérito da administração ambiental será o de existirem e poderem ser implantados, quando chegar o momento adequado. Para aplicação dos planos de ação, tomando como base um diagnóstico ambiental, a ferramenta da qualidade 5W2H abordada no Tópico 3, Quadro 4, é muito útil e utilizada pelos gestores ambientais para o estabelecimento de um planejamento estratégico ambiental. Vimos nesta unidade, Tópico 3, a ferramenta da qualidade 5W2H que exemplifica na prática o que é um plano de ação. 8.4 SÍNTESE A concretização dessa estratégia deverá ser formalizada, pode ser um livro, um manual, uma política. O importante é que deverão ser descritos de forma clara e simples os objetivos, problemas e sucessos da empresa, em matéria de administração ambiental. Com o prosseguimento dos trabalhos, devem ser gerados relatórios de desempenho para apresentar ao Comitê da Alta Administração, à empresa, à comunidade, tornando suas conquistas públicas, tornando-as mais do que uma ferramenta publicitária, adquirindo credibilidade. Esse material não deve ser apenas um material promocional, mas, sim, uma apresentação da maneira mais honesta possível dos esforços da empresa em questões ambientais. 54 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS LEITURA COMPLEMENTAR DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E COMPETITIVIDADE Ivan Lira de Carvalho Em um modelo de organização política que prestigia a livre iniciativa, pondo-a como uma das pilastras fundamentais da República Federativa do Brasil (Constituição Federal, artigo 1º, inciso IV), é curial que sejam ofertados mecanismos de proteção para que a atividade empresarial seja exercida com chances de sucesso. Entretanto, não se pode pensar em um Estado absenteísta, pois, conforme já foi por mim consignado em escrito anterior, não se pode desconhecer “que entre o puro liberalismo dos meios de produção e consumo pregados por ADAM SMITH no Século Dezoito e o Estado Social idealizado por KARL MARX, tem preponderância, hoje em dia, o que LÉON DIGUIT chamou de “Estado do Bem-Estar”. Pois bem. O liberalismo que dá tônica à ordem constitucional vigente, e nesta está incluída, por óbvio, a ordem econômica, não pode ser exercido sem contemplar outras balizas importantes, que asseguram - ou pelo menos pretendem assegurar - o chamado Estado Democrático de Direito. Assim é que a atividade econômica se submete a vários limites, conforme será adiante analisado, e dentre estes está a sujeição ao princípio do desenvolvimento sustentável. CRISTIANE DERANI informa que a expressão desenvolvimento sustentável, dentro da perspectiva de conservação dos recursos naturais, foi usada oficialmente como princípio diretor para o planejamento do desenvolvimento econômico pela WCED (World Commission on Environment and Development), em 1987, segundo a qual “desenvolvimento é sustentável quando satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a habilidade das futuras gerações em satisfazer suas próprias necessidades”. Ao comentar o chamado Informe Brundtland, um estudo de alternativas para o meio ambiente e o desenvolvimento, elaborado sob a encomenda da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 1983, CRISTIANE DERANI destaca que o resultado desse ensaio comporta a seguinte norma de conduta: “modificar a natureza através de sua apropriação ou através de emissões, somente quando for para a manutenção da vida humana ou para a proteção de outro valor básico, ou quando for justificada a capacidade de se apropriar dos meios sem danificar a sua reprodução. Donde se conclui que a sustentabilidade é um princípio válido para todos os recursos renováveis.”. Dando uma feição mais capitalista à expressão desenvolvimento sustentável, o professor norte-americanoDENNIS C. KINLAW prefere chamar desempenho sustentável à atuação das empresas que estão em sintonia com as modernas preocupações do equacionamento das questões ligadas à produção de bens e serviços com a preservação da qualidade de vida no nosso planeta. Registrando que no mundo inteiro as empresas estão cada vez mais responsáveis pelos seus efeitos ambientais, quer dizer, “estão se tornando verdes”, KINLAW lembra a “receita” de MAURICE STRONG, Secretário-Geral da Conferência das Nações TÓPICO 3 | EMPRESA E MEIO AMBIENTE 55 Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92): “As empresas eficientes estão na dianteira do movimento rumo ao desenvolvimento sustentável. As organizações que estão na liderança de uma nova geração de oportunidades criada pela transição rumo ao desenvolvimento sustentável serão as mais bem- sucedidas em termos de lucro e interesses de seus acionistas. As organizações defensivas, que continuam enfrentando as batalhas de ontem, ficarão à margem e serão tragadas pela contramaré da onda do futuro”. Destacando a sua preocupação com os desafios apresentados à área empresarial com as intervenções - por vezes desastradas e desastrosas - do homem no meio ambiente, KINLAW lista as pressões a responder. Dentre estas, a observância à lei, propondo o enquadramento das atividades empresariais às normas traçadas pelo Estado para a preservação ambiental; os custos punitivos, advindos da aplicação de multas ou de condenações reparatórias; a culpabilidade pessoal e a possibilidade de prisão dos responsáveis pelos erros da empresa na área ambiental; a efetiva participação controladora das organizações ativistas ambientais, a exemplo do Greenpeace; a cidadania despertada, com o crescimento de heróis e de causas locais e a aceitação social de movimentos como o “Not in my back yard” (Não no meu quintal); o advento de códigos internacionais pró-desempenho ambiental; o crescente número de investidores ambientalmente conscientes; o refinamento da preferência do consumidor e outras pressões importantes. A preocupação com um respeitável posicionamento das empresas perante a sociedade consumidora e crítica vai além dos livros. Por exemplo: o Foro Empresarial, organização não-governamental que tem por fito a congregação de ideias calcadas no livre-mercado, fez publicar na sua home page as sugestões de ação na área de desenvolvimento econômico sustentável, a saber: “examinar a responsabilidade do setor privado na preservação do meio ambiente no hemisfério e a necessidade de maior conscientização do segmento empresarial com relação à importância do desenvolvimento sustentável; examinar as divergências e convergências das legislações nacionais sobre meio ambiente e seus impactos sobre o comércio na região e elaborar sugestões para um processo de harmonização das legislações nacionais que evite transformá-las em barreiras ao comércio; enfocar a importância do desenvolvimento de recursos humanos da região, em nível condizente com as necessidades da economia globalizada. Isto requer forte compromisso com uma estrutura social sadia e habilitada às funções do mundo moderno. Indicar mecanismos de trabalho conjunto com os governos, principalmente nas áreas de educação, saúde e previdência social.”. Dos tópicos ora comentados pode advir a conclusão de que a empresa moderna tem que estar afinada com os anseios sociais, que são cada dia mais presentes em termos ambientais. A permanência de uma empresa no mercado passa, inexoravelmente, pela sua capacidade gerencial em adequá-la a esses desafios. FONTE: Adaptado de: CARVALHO, Ivan Lira de. Desenvolvimento sustentável e criatividade. In: A Empresa e o Meio Ambiente. Disponível em: <www.jfrn.gov.br/docs/doutrina172.doc>. Acesso em: 18 nov. 2008. 56 RESUMO DO TÓPICO 3 Ao final deste tópico, caro(a) acadêmico(a), você pôde estudar os seguintes conteúdos relacionados à administração ambiental: • A importância da administração ambiental para uma organização. • Que a comunicação é a base para o bom entendimento do meio ambiente. • A importância de conhecer bem o meio ambiente para preservar. • As relações de capital x meio ambiente devem ser cooperativas e não concorrentes. • Os modelos de empresas existentes no passado e o atual. • Modelos de estratégias ambientais que uma empresa pode adotar. 57 Como maneira de compreender melhor o impacto que a atividade industrial pode causar ao meio ambiente, recomendamos assistir ao vídeo ou ler o livro “Uma Verdade Inconveniente” (An Inconvenient Truth), do ex-vice-presidente americano Al Gore. AUTOATIVIDADE FICHA TÉCNICA Título Original: An Inconvenient Truth Gênero: Documentário Tempo de Duração: 100 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2006 Site Oficial: www.climatecrisis.net Estúdio: Lawrence Bender Productions / Participant Productions Distribuição: Paramount Classics / UIP Direção: Davis Guggenheim Produção: Lawrence Bender, Scott Burns, Laurie Lennard e Scott Z. Burns Música: Michael Brook e Melissa Etheridge Edição: Jay Lash Cassidy e Dan Swietlik SINOPSE O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore apresenta uma análise da questão do aquecimento global, mostrando os mitos e equívocos existentes em torno do tema e também possíveis saídas para que o planeta não passe por uma catástrofe climática nas próximas décadas. FONTE: www.climatecrisis.net 58 59 TÓPICO 4 PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), neste tópico vamos estudar os objetivos e resultados das práticas sustentáveis adotados pelas empresas. Trataremos também de conceitos e normas sobre rotulagem ambiental e marketing verde adotado pelas organizações. Organizações de todos os tipos e portes adotam algum tipo de prática ambiental de acordo com as exigências dos stakeholders. As empresas de modo geral, conforme suas necessidades, precisam ter processos sustentáveis e demonstrar para as partes interessadas suas ações de sustentabilidade, através do Marketing Verde, isto é, agir internamente de forma sustentável, apresentando os resultados para os interessados, “stakeholders”. 2 OBJETIVOS E RESULTADOS DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS Os objetivos das práticas sustentáveis são definidos de acordo com os resultados que se desejam alcançar. Cada empresa possui particularidades e interesses que a direcionam para práticas sustentáveis diferentes uma das outras. Algumas empresas decidem adotar normas NBR ISO 14001 como método para buscar práticas sustentáveis. Outras definem adotar algum tipo de rotulagem ambiental ou selo verde, entre outras comprovações de práticas sustentáveis. Nos tópicos seguintes vamos estudar alguns meios utilizados pelas organizações para práticas sustentáveis, mas, antes, vamos fazer a leitura de artigos referentes a empresas e práticas sustentáveis. 60 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS EMPRESA VERDE: UM DIFERENCIAL PARA SEUS NEGÓCIOS E CONSUMIDORES Por Timothy Altaffer, Consultor da Axialent Brasil Vivemos a época em que as limitações de recursos naturais começam a aparecer. Estimativas do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento revelam que, considerando os níveis atuais de produção, as reservas de cobre da Terra poderão se esgotar em 28 anos, as de prata em 17 e as de estanho em 37 anos. A escassez de água também começa a se tornar um problema: segundo projeções dos estudiosos, no ano de 2030 um em cada três seres humanos não terá água suficiente para consumo próprio – ou correrá o risco de morrer, caso beba a água que estiver disponível. Com tal cenário, fica ainda mais perceptível a movimentação de empresas para se tornarem “sustentáveis”: organizações que não forem consideradas “ecoeficientes”terão dificuldades em competir quando os recursos se tornarem mais escassos. O meio ambiente entrou definitivamente na pauta de negócios. Empresas de todos os setores sabem que só há um caminho para se adaptar aos novos tempos: inovar para transformar a crise ambiental em vantagem competitiva. Essa tendência se acentuou recentemente, quando a consciência ambiental se tornou tópico comum nas conversas do mundo corporativo. De certo modo, a sustentabilidade começa a ser também um tema importante para os consumidores e clientes, que têm a preferência por produtos que não prejudiquem o meio ambiente ou que ajudam a comunidade ao redor de sua fábrica. Não ter o posicionamento verde é um risco grande para a empresa, que pode perder muitos consumidores. Desta forma, muitas empresas tentam se reposicionar para se adequar aos desejos e expectativas dos clientes. A competitividade entre companhias para provar quem é o mais verde, quem é mais consciente, também aumentou. Além da imagem positiva para seu público, as empresas estão apurando seu senso de ética e começam a perceber a necessidade de existir responsabilidade filantrópica na relação com o mercado. Algumas instituições já possuem em sua cultura a sustentabilidade. Isso facilita todo o processo de consciência na empresa, pois a companhia foi formada dessa maneira, isso já está em sua raiz. Infelizmente tal princípio é raro: na empreitada de ser conhecido como verde, a maioria das companhias decide tomar o caminho mais superficial e menos eficaz. Estas empresas acreditam que, por meio de palestras com a participação de colaboradores e comunicados ao mercado com mensagens de sustentabilidade, já são suficientes para torná-las conhecidas como conscientes. Mas o exercício dessas atividades não vão tornar a companhia “verde”. A ideia de sustentabilidade deve estar no coração da empresa. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 61 Para se tornar sustentável de verdade, para ter o princípio em seus pilares, as companhias devem possuir executivos conscientes, que reconheçam as mudanças que o planeta está enfrentando: o líder que traça as estratégias da empresa para o futuro, baseado no sucesso do passado, transforma a companhia em um fracasso. Incorporar a filosofia verde implica trazer esse pensamento para as questões mais profundas da condução de negócio. Os processos organizacionais, decisões da alta liderança, de alocação de recursos e o envolvimento das pessoas em projetos internos devem ocorrer com a sustentabilidade em mente e ser alinhados com o discurso da empresa. Se a conscientização for profunda e contínua, a organização consegue implantar em sua cultura a sustentabilidade. Se for um programa superficial, dentro de pouco tempo, a antiga mentalidade pode retornar e os velhos hábitos de consumo exagerado e falta de consciência também. A companhia não pode se esquecer de seus stakeholders e transmitir a mensagem a todos: deve haver uma nova cultura de se relacionar com clientes, comunidade e colaboradores. O responsável pelo projeto deve definir quais são os valores individuais e da empresa, e começar a trabalhar com essa cultura. No entanto, não será simples: as companhias terão que percorrer um longo caminho para se igualar a instituições que já foram criadas com a cultura verde. Muitos negócios terão que redefinir suas principais vantagens competitivas num mundo com recursos restritos. Outros encontrarão novos potenciais de mercado. O conceito deve se tornar um hábito. O termo “verde” não deve estar apenas relacionado à preservação do meio ambiente, mas também com a proteção da comunidade. A sustentabilidade precisa ser vista e trabalhada como sendo a integração de todas as cadeias de atuação da sociedade em sintonia com a natureza. Só assim, todos juntos, podemos atingir um propósito maior: manter a qualidade de vida no planeta. FONTE: Disponível em: <http://rmai.com.br/v4/Read/777/empresa-verde-um-diferencial-para- seus-negocios-e-consumidores.aspx>. Acesso em: 2 out. 2012. Podemos verificar no texto que as limitações de recursos naturais influenciam indiretamente as empresas a adotarem práticas sustentáveis, pois terão dificuldades em competir quando os recursos se tornarem mais escassos. Pode-se evidenciar também que as exigências de clientes e consumidores têm levado as empresas a demonstrarem que são mais sustentáveis, gerando uma competição entre elas. Empresas que não adotarem um posicionamento sustentável correm o risco de perder espaço no mercado tão competitivo e exigente conforme vimos no texto. A Rio + 20 foi um marco importante de debates sobre sustentabilidade envolvendo empresas, governos e a sociedade. Veja, a seguir, o que diz a representante Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). 62 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS FONTE: Disponível em: <http://www.cebds.org.br/rumo-sustentabilidade/>. Acesso em: 12 jan. 2013. RUMO À SUSTENTABILIDADE Por Marina Grossi (*) A Rio+20 foi um marco da consolidação das empresas no palco principal do debate sobre sustentabilidade, ao lado dos governos e da sociedade. É uma conquista histórica, principalmente quando se leva em consideração que há 20 anos, na Rio 92, o setor empresarial era considerado um vilão. No entanto, esse reconhecimento ainda não alcançou a sociedade como um todo, principalmente os jovens, como se pôde ver na Cúpula dos Povos, em que as empresas ainda eram encaradas como forças negativas contra a sustentabilidade. Aproximar empresas e sociedade e fazer com que as pessoas queiram estar perto do setor empresarial, não só para fiscalizar, mas também para ajudar a construir o caminho para a sustentabilidade, é um dos desafios desse período pós-conferência. Mais de 300 compromissos individuais de empresas foram registrados no site da ONU por meio da parceria entre o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) e o Pacto Global. Outras se comprometeram com as plataformas transformadoras das Nações Unidas, como a Energia Sustentável para Todos, o Desafio de Fome Zero, a Plataforma da Indústria Verde e o Instituto Global de Crescimento Verde. Grandes corporações, instituições de investidores e governos desenharam um arcabouço para negócios inclusivos e cinco bolsas de valores mundiais, com 4.600 empresas, assumiram compromisso público para a promoção de investimentos sustentáveis. No setor agrícola, 16 empresas lançaram princípios voluntários de boas práticas e políticas para a agricultura sustentável; 45 executivos enviaram um comunicado para os governos visando à melhor gestão dos recursos hídricos; 400 executivos aderiram aos Princípios de Empoderamento das Mulheres; 26 universidades endossaram a Declaração do Ensino Superior, que visa incorporar a sustentabilidade no ensino, pesquisa e gestão. Também merecem destaque os 10 compromissos assumidos pela Rede Brasileira do Pacto Global, com a adesão de aproximadamente 200 executivos; e a criação do Centro Mundial de Desenvolvimento Sustentável Rio+ (Centro Rio+), uma ação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e Ministério do Meio Ambiente, com o apoio de dezenas de entidades, incluindo o CEBDS. O caminho será lento se empresas, sociedade e governos trilharem percursos separados. Por isso, a contribuição do CEBDS na Rio+20 foi o Visão Brasil 2050, um documento que convida todos esses atores a buscar o melhor caminho. É uma plataforma de diálogo que, a partir de nove temas, apresenta o que deve ser feito para que o país se torne um país sustentável até 2050. Um país que terá combatido a corrupção, terá saneamento básico, educação de qualidade, será destaque em inovação eque até 2020 terá conseguido dar valor real aos seus produtos e serviços. Bastar ter vontade de fazer diferente. *Marina Grossi é presidente executiva do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 63 Novamente podemos verificar no texto a importância, os compromissos e os grandes desafios das empresas rumo à sustentabilidade. Mas afinal, como alcançar a sustentabilidade?, como agir de forma sustentável?, quais objetivos e resultados de práticas sustentáveis?. Veja, a seguir, o artigo sobre essas questões. O FUTURO A GENTE FAZ AGORA UM PROBLEMA QUE LEVANTA MUITAS QUESTÕES EXIGE MÚLTIPLAS RESPOSTAS PLANETA SUSTENTÁVEL Por Caco de Paula, jornalista e publisher do Planeta Sustentável Atender às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades. Esta é uma das definições mais abrangentes de sustentabilidade. Para ser sustentável, qualquer empreendimento humano deve ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Mas esses conceitos, que parecem óbvios, simples sinais de bom senso, infelizmente ainda estão longe da prática cotidiana de muitas pessoas, grupos, empresas e governos. Tanto que um movimento mundial pela sustentabilidade surge como resposta ao seu contrário: a insustentabilidade provocada pelo que é ecologicamente errado, economicamente inviável, socialmente injusto, culturalmente inaceitável. Para agir de forma sustentável, devemos ter visão de longo prazo, consciência de que nossas relações sociais e nosso estilo de vida impactam diretamente a realidade à nossa volta - e que devemos ter solidariedade com nossos descendentes. Para que isso aconteça de fato, é preciso entender a construção da sustentabilidade como um desafio de muitas faces. Só assim conseguiremos encontrar as múltiplas respostas que o problema impõe. É exatamente essa a missão do projeto Planeta Sustentável, que se destina a estimular o debate, reconhecer boas práticas e difundir conhecimento. A face mais visível desse desafio está ligada ao ambiente, principalmente por causa da emergência do aquecimento global, hoje, mais do que um alerta, dramático sinal das consequências causadas pelo que fizemos e pelo que deixamos de fazer. Sustentabilidade é um tema em construção. Há muito o que aprender a respeito. Mas já sabemos que tem a ver com atos de nosso cotidiano. Desde estilo de vida e consumo de cada um de nós, até a forma como lidamos ou deixamos de lidar com o lixo que produzimos. Tem a ver com a maneira como usamos os recursos e energias disponíveis. Tem muito a ver com nossa atitude em cada momento de nossas vidas. Nem sempre, é claro, problemas e soluções estão diretamente nas mãos de cada um de nós. Mas, de alguma maneira, ainda que indireta, podemos 64 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS influir em decisões que dependem de políticos que elegemos ou deixamos que fossem eleitos, ou de empresas que são mantidas por quem compra seus produtos. É nessas esferas, político-econômicas, que estão grandes decisões a respeito de modelos de desenvolvimento, políticas de saúde, projetos de educação. Hoje, cada vez mais, as pessoas entendem os problemas da biosfera e passam a pensar globalmente. Isso é ótimo. Mas não é tudo. É preciso também pensar e agir localmente. Procurar ter mais influência no que acontece em nossa própria cidade. Saber o que e como pode ser feito em soluções para a casa e a cidade. O Planeta Sustentável tem a participação de dezenas de revistas e sites da Editora Abril e conta com um conselho consultivo, composto por especialistas de diversas áreas, além de representantes de empresas patrocinadoras (veja nos Canais Especiais) interessadas na difusão de conhecimentos. Em sua primeira fase de um ano, o projeto prevê a realização de fóruns de discussão e de produção de conteúdo capaz de informar e qualificar as ações. E, para isso, se propõe a manter um constante debate, com a participação de uma série de organizações convidadas. Algum sábio já disse que é melhor resolver os problemas quando eles ainda são pequenos. Em muitos dos desafios que temos de enfrentar para conseguir uma vida mais sustentável, talvez já tenhamos perdido algumas oportunidades de enfrentar problemas ainda pequenos. Mas é sábio lidar com eles antes que cresçam ainda mais. Para isso, é preciso enxergá-los imediatamente, ver quais são as soluções possíveis e buscá-las. Essa é a nossa missão - e o convite para que você participe da construção de algo a ser legado às próximas gerações: um planeta sustentável. FONTE: Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/sustentabilidade/conteudo_226382. shtmlCaco de Paula>. Acesso em: 24 fev. 2013. Os meios para alcançar a sustentabilidade são diferenciados, mas as empresas, de modo geral, pretendem com essas práticas a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e econômica. As pessoas têm papel importante no processo de sustentabilidade, mudando o estilo de vida em relação ao meio ambiente, tendo um consumo sustentável, participando das ações ambientais movidas pelo governo e empresas. Os objetivos gerais e resultados esperados por todos são: atender às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 65 Segundo a norma NBR ISO 14020, rotulagem ambiental é um conjunto de instrumentos informativos que procura estimular a procura de produtos e serviços com baixos impactos ambientais através da disponibilização de informação relevante sobre os seus desempenhos ambientais. A Organização Internacional de Normalização (ISO) determinou um conjunto de critérios para avaliar os esquemas de rotulagem ambiental, conhecida pela série ISO 14020. De acordo com a classificação ISO existem três tipos voluntários de esquemas de rótulos ambientais: Tipo I: Rótulos ambientais certificados Tipo II: Autodeclarações Tipo III: Declarações Ambientais do Produto, EPDs A NBR ISO 14024 estabelece quinze princípios e práticas para a rotulagem ecológica Esta Norma estabelece os princípios e procedimentos para o desenvolvimento de programas de rotulagem ambiental do tipo l, incluindo a seleção de categorias de produtos, critérios ambientais dos produtos e características funcionais dos produtos, e para avaliar e demonstrar sua conformidade. Esta Norma também estabelece os procedimentos de certificação para a concessão do rótulo. 3 CONCEITOS, NORMAS E OBJETIVOS DA ROTULAGEM AMBIENTAL Existe uma grande variedade de rótulos e declarações de desempenho ambiental, quer voluntários quer obrigatórios. Conforme Tachizawa (2010, p. 77), “Os Programas de rotulagem ambiental adotados em diferentes países são criados com base em análise de ciclo de vida e conferidos por instituições independentes, sejam governamentais, sejam não governamentais”. Os primeiros rótulos foram adotados na década de 40 do século XX nos produtos tóxicos com advertências acerca de sua composição e uso. Mas a disseminação dos processos de certificação e rótulos ambientais datam da década de 70 do século passado devido a vários acidentes ambientais. Veja o que diz a NBR ISO 14020 e NBR ISO 14024 sobre rotulagem ambiental: FONTE: Disponível em: <http://www.startipp.gr/toolkit3_pt.htm>. Acesso em: 13 jan. 2013. FONTE: Disponível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=1255>. Acesso em: 13 jan. 2013. 66 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Mas afinal, quais são os principais selos? Quaissão os principais selos ecológicos no mercado? Veja, a seguir, um texto publicado sobre o assunto. UNI Caro(a) acadêmico(a), você pode aprofundar os estudos sobre o assunto nos sites pesquisados. EXISTEM MAIS DE 30 CERTIFICADORAS VERDES NO PAÍS, MAS ESSA DIVERSIDADE DE SELOS PODE CONFUNDIR Por *Yuri Vasconcelos, Elisa Correa, Liane Alves e Priscilla Santos Existem mais de 30 certificadoras “verdes” no país, mas, segundo Lisa Gunn, coordenadora executiva do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), essa diversidade de selos pode confundir. “O consumidor deve ficar atento para distinguir entre uma certificação conferida por um organismo independente e os selos autodeclaratórios, que são colocados nos produtos pelos próprios fabricantes”, diz. Confira abaixo os principais selos ecológicos do mercado conferidos por certificadoras terceirizadas. ISO 14001 O que certifica: sistema de gestão ambiental de empresas e empreendimentos de qualquer setor. Como é: em sua operação, a empresa deve levar em conta o uso racional de recursos naturais, a proteção de florestas e a preservação da biodiversidade, entre outros quesitos. No Brasil, quem confere essa certificação é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ao contrário das demais certificações, não há um selo visível em produtos. Para saber se uma empresa tem o ISO 14001, deve-se consultar seu site ou centro de atendimento ao cliente. <www.abnt.org> TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 67 FSC (Forest Stewardship Council) O que certifica: áreas e produtos florestais, como toras de madeira, móveis, lenha, papel, nozes e sementes. Como é: atesta que o produto vem de um processo produtivo ecologicamente adequado, socialmente justo e economicamente viável. Dez princípios devem ser atendidos, entre eles a obediência às leis ambientais, o respeito aos direitos dos povos indígenas e a regularização fundiária. <www.fsc.org.br> Outro selo dessa categoria: Ceflor LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) O que certifica: prédios e outras edificações. Como é: concedido a edificações que minimizam impactos ambientais, tanto na fase de construção quanto na de uso. Materiais renováveis, implantação Procel O que certifica: equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos. Como é: o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica indica os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria. Os equipamentos passam por rigorosos testes feitos em laboratórios credenciados no programa. <www.eletrobras.gov.br/procel> 68 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS de sistemas que economizem energia elétrica, água e gás e controle da poluição durante a construção são alguns dos critérios. <www.usgbc.org/leed> Rainforest Alliance Certified O que certifica: produtos agrícolas como frutas, café, cacau e chás. Como é: trata-se de uma certificação socioambiental. Comprova que os produtores respeitam a biodiversidade e os trabalhadores rurais envolvidos no processo. Com grande aceitação na Europa e nos EUA, é auditado no Brasil pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). <www.imaflora.org> ECOCERT O que certifica: alimentos orgânicos e cosméticos naturais ou orgânicos. Como: os alimentos processados devem conter um mínimo de 95% de ingredientes orgânicos para serem certificados. Para ganhar um selo de cosmético orgânico, um produto deve ter ao menos 95% de ingredientes vegetais e 95% destes ingredientes devem ser orgânicos certificados – no caso de cosméticos naturais, 50% dos insumos vegetais devem ser orgânicos. O selo Ecocert é um só (este ao lado). Mas, por contrato com a certificadora, o fabricante é obrigado a identificar no rótulo se o produto é orgânico ou natural. <www.ecocert.com.br> TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 69 IBD (Instituto Biodinâmico) O que certifica: alimentos, cosméticos e algodão orgânicos. Como é: além de cumprir os requisitos básicos para a produção orgânica (como fazer rotação de culturas e não usar agrotóxicos), garante que a fabricação daquele produto obedece ao Código Florestal Brasileiro e às leis trabalhistas. Os produtos industrializados devem ter ao menos 95% de ingredientes orgânicos certificados – a água e o sal são desconsiderados nesse cálculo tanto para cosméticos quanto para alimentos. <www.ibd.com.br> Outros selos dessa categoria: Ecocert (leia acima), Demeter, CMO (Certificadora Mokiti Okada) e IMO (Institute for Marketecology). O QUE É RÓTULO ECOLÓGICO O Rótulo Ecológico ABNT é um programa de rotulagem ambiental (Ecolabelling), que é uma metodologia voluntária de certificação e rotulagem de desempenho ambiental de produtos ou serviços que vem sendo praticada ao redor do mundo. É um importante mecanismo de implementação de políticas ambientais dirigido aos consumidores, auxiliando-os na escolha de produtos menos agressivos ao meio ambiente. É também um instrumento de marketing para as organizações que investem nesta área e querem oferecer produtos diferenciados no mercado. A atribuição do Rótulo Ecológico (Selo Verde) é similar a uma premiação, uma vez que os critérios são elaborados visando à excelência ambiental para a promoção e melhoria dos produtos e processos de forma a atender às preferências dos consumidores. FONTE: Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento conteudo _298573.shtml>. Acesso em: 13 jan. 2013. 70 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Em contraste com outros símbolos “verdes” ou declarações feitas por fabricantes ou fornecedores de serviços, um rótulo ambiental é concedido por uma entidade de terceira parte, de forma imparcial, para determinados produtos ou serviços que são avaliados com base em critérios múltiplos previamente definidos. BENEFÍCIOS • o mercado consumidor está cada vez mais preocupado em adquirir produtos produzidos de forma ecologicamente correta; • o rótulo ecológico ABNT é uma garantia de que o produto/serviço da empresa tem menor impacto ambiental do que seu similar que não tem o rótulo; • garante ao mercado que a sua empresa está preocupada com as próximas gerações; • preservação do meio ambiente; • redução de desperdícios (reciclagem); • aumento da receita (venda de refugos para reciclagem); • visibilidade da empresa no mercado; • diferenciação no mercado; • aumento das possibilidades de exportação. FONTE: Adaptado de: <http://www.abntonline.com.br/rotulo/Abnt.aspx>. Acesso em: 8 jan. 2013. Leia agora as perguntas frequentes sobre Rótulo Ecológico. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 71 1. Que tipo de empresa pode solicitar a concessão do Rótulo Ecológico? Em princípio, qualquer empresa pode solicitar a concessão do Rótulo Ecológico ABNT. Entretanto, todas as solicitações estão sujeitas a uma análise técnica de viabilidade. 2. Que tipo de produto/serviço pode ser rotulado? Em princípio, qualquer produto/serviço pode receber o Rótulo Ecológico ABNT. Entretanto, todas as solicitações estão sujeitas a uma análise técnica de viabilidade. 3. Em quanto tempo a empresa pode obter a concessão do Rótulo Ecológico? Caso já existam critérios para o produto/serviço em questão e a empresa já esteja adequada aos critérios, o processo de certificação leva de 45 a 60 [dias], em média. Caso seja necessário desenvolver critérios, o processo completo pode levar de 4 a 6 meses. 4. O que a empresa precisa para solicitar a concessão do Rótulo Ecológico? A empresa deve preencher o Questionário de Avaliação Preliminar,disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www.abntonline.com. br/rotulo/Cadastro.aspx. De posse do questionário preenchido a ABNT irá elaborar uma proposta técnico-comercial. 5. Preciso certificar todos os produtos da empresa ou apenas uma linha deles? A empresa pode optar pela certificação de apenas uma linha de produtos. 6. Existe a necessidade de estar em conformidade com a Norma ABNT NBR 14024 para obter a concessão do Rótulo Ecológico? Não. A empresa deve se adequar ao Procedimento Específico para a certificação do seu produto/serviço. 7. O que significa GEN? GEN significa Global Ecolabelling Network. O GEN é uma organização não governamental que desenvolve e promove a rotulagem ambiental de produtos e serviços ao redor do mundo. Esta organização concentra informações referentes a critérios ambientais estabelecidos pelo mundo, sendo utilizada como fonte de pesquisa para o desenvolvimento dos critérios da ABNT. 8. O que o Rótulo Ecológico pode trazer de benefícios para a minha empresa? • Garante ao mercado que a sua empresa está preocupada com as próximas gerações. • Redução de desperdícios (reciclagem). • Visibilidade/diferenciação da empresa no mercado. • Aumento das possibilidades de exportação. 72 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS • Marketing, considerando que o rótulo ecológico ABNT é uma garantia de que o produto/serviço da empresa tem menor impacto ambiental do que seu similar que não tem o rótulo. 9. Qual o custo da obtenção do Rótulo Ecológico ABNT? O custo varia de acordo com diversos fatores tais como: tamanho da empresa, quantidade de sites que fabricam o produto, tipo de produto a ser certificado, quantidade de produtos diferentes a serem certificados, entre outros. 10. Onde pode ser utilizado o logo do Rótulo Ecológico, após a concessão da certificação? O logo do Rótulo pode ser colocado no próprio produto ou na sua embalagem. Para a certificação de serviço pode ser divulgado em sites, panfletos, entre outros meios de comunicação. 11. Um produto com o Rótulo Ecológico atende aos requisitos das construções sustentáveis? Os produtos que obtêm o Rótulo Ecológico ABNT comprovam ter menor impacto ambiental que seus similares existentes no mercado, ao longo de todo seu ciclo de vida. Portanto apresentam as características necessárias para atender a requisitos gerais de sustentabilidade. 12. Existem níveis de certificação de Rotulagem Ambiental? O programa de rotulagem ambiental da ABNT não estabelece níveis de certificação. FONTE: Disponível em: <http://www.abntonline.com.br/rotulo/faq.html>. Acesso em: 8 jan. 2013. Como você pode perceber, existe uma grande variedade de rótulos e declarações de desempenho ambiental, quer voluntários quer obrigatórios. Cabe aos administradores verificar a sua importância e definir qual o mais adequado que atende os objetivos da empresa em que atua. Caro(a) acadêmico(a), consulte o site ABNT <http://www.abntonline.com. br/rotulo/Abnt.aspx> e aprofunde seus conhecimentos sobre os critérios e os detalhes de todos os produtos que obtiveram o RÓTULO ECOLÓGICO ABNT. 4 MARKETING VERDE NAS ORGANIZAÇÕES Como vimos nos tópicos anteriores, a preocupação com as questões de sustentabilidade movimenta o mercado globalizado. Veja, a seguir, artigo sobre marketing ambiental. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 73 O MARKETING AMBIENTAL TAMBÉM CONHECIDO COMO MARKETING VERDE, ECOLOGICAMENTE CORRETO OU ECOMARKETING O marketing ambiental pode ser assimilado pelas empresas como uma ferramenta estratégica. Para viabilizar este objetivo é necessário desenvolver uma cultura de comunicação capaz de integrar conteúdos de vários departamentos técnicos ligados ao meio ambiente e qualidade de vida. É responsável em dar forma à política ambiental da empresa, auxiliando a otimizar e a implementar seu aperfeiçoamento integrado a um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Trata-se de uma ferramenta capaz de projetar e sustentar a imagem da empresa, difundindo-a com uma nova visão de mercado, destacando sua diferenciação ecologicamente correta com a sociedade, fornecedores, funcionários e com o mercado. O marketing ambiental é também conhecido como marketing verde, ecologicamente correto ou ecomarketing. Extrapola a mera publicidade ou divulgação dos produtos ou serviços oferecidos por empresas que querem veicular na mídia e no meio profissional ou para o consumidor a aplicação de métodos ambientalmente corretos aplicados ao seu gerenciamento interno ou na produção ou prestação de serviços. O marketing verde é uma verdadeira e ampla adoção de políticas ambientais que vão do início, desde a coleta da matéria-prima até sua disposição; é a compreensão gerencial ampla, dotada de métodos abrangentes e envolventes. Envolve a área de recursos humanos, ciência e tecnologia, educação, tudo enfim que estiver envolvido com a produção ou a prestação de serviços. Será uma necessidade empresarial. A empresa poluidora ou eticamente incorreta sob o ponto de vista ambiental será expurgada gradativamente pelos consumidores. O marketing ambiental não se limita à promoção de produtos que tenham alguns atributos verdes (tais como recicláveis e produtos que não destruam a camada de ozônio). Isso porque, para posicionar-se como ambientalmente responsável, a empresa deve, antes de mais nada, organizar-se para ser uma empresa ambientalmente responsável em todas as suas atividades. Para isso, todos os funcionários devem estar conscientes de que a empresa não pode ter nenhuma falha em seu comportamento ambiental, pois é muito difícil e demorado o processo de reconstrução da imagem de uma empresa previamente retratada na mídia como ambientalmente irresponsável. Além disso, a empresa deve adotar um comportamento proativo, ou seja, deve estar sempre aperfeiçoando seu comportamento ambiental, pois as expectativas da população quanto ao verde está em constante mudança e os objetivos que as empresas devem buscar atingir, em termos de emissões atmosféricas, por exemplo, são ideais (emissão zero de partículas poluentes). Por isso, para atingir tais objetivos, as empresas devem traçar metas cada vez mais rígidas. Alguns (bons) motivos para que a sua empresa adote um programa de marketing ambiental 1. Funcionários e acionistas sentem-se melhor por estarem associados a uma empresa ambientalmente responsável, e essa satisfação pode até mesmo resultar em aumento de produtividade da empresa. 74 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 2. Redução de custos - Ocorre à medida que a poluição representa materiais mal aproveitados devolvidos ao meio ambiente, ou seja, a maior parte da poluição resulta de processos ineficientes, que não aproveitam completamente os materiais utilizados. Além disso, a simples auditoria ambiental pode identificar custos desnecessários que a empresa pode eliminar. 3. Facilidades na obtenção de recursos - Bancos e, principalmente, organizações de desenvolvimento (como o BNDES e o BID) oferecem linhas de crédito específicas para projetos ligados ao meio ambiente com melhores condições, tais como maior prazo de carência e menores taxas de juros. Além disso, a maior parte dos bancos analisa a performance ambiental das empresas no momento de conceder financiamentos. Dessa forma, empresas mais agressivas ao meio ambiente podem precisar pagar juros mais altos ou até mesmo ver negado seu pedido de financiamento. 4. Pressão governamental - Os diversos governos no mundo, através de legislação, vêm buscando punir, através de multas e proibições, práticas das empresas que tenham impactos ambientais significativos. A legislação vem sendo cada vez mais rigorosa na busca pelo "Impacto Ambiental Zero". O governo ainda podeatuar através de suas compras, ou seja, proibindo a aquisição, por parte de suas empresas e órgãos, de produtos que afetem significativamente o ambiente físico e estimulando a consumo de produtos "ecologicamente corretos". 5. Pressão das ONGs - As diversas ONGs pressionam empresas através de campanhas veiculadas na imprensa e lobby com legisladores. Empresa sob a mira de uma das principais ONGs será bombardeada na imprensa e provavelmente passará a ser percebida pela população como ambientalmente irresponsável, o que representa forte publicidade negativa. Alguns termos ligados ao marketing ambiental Auditoria ambiental: análise dos processos e produtos da empresa para avaliar seus impactos ambientais. Certificação ambiental: certificados conferidos por organizações independentes que garantem que a empresa certificada mantém em funcionamento um sistema de garantia da qualidade ambiental. A certificação ambiental mais importante é a da série ISO 14000. Ciclo de vida: período que abrange todas as diversas fases da "vida" de um produto, que se inicia com a obtenção da matéria-prima até o momento em que ele é descartado, passando pelo seu processo de produção, embalagem e transporte, entre outros. Impacto ambiental: efeito de degradação do meio ambiente causado por um produto (seja em sua fabricação, utilização, embalagem ou descarte) ou empresa. Marketing verde: é representado pelos esforços das organizações em satisfazer às expectativas dos consumidores por produtos que determinem menores impactos ambientais ao longo de seu ciclo de vida (produção, TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 75 embalagem, consumo, descarte...) e a divulgação desses esforços de modo a gerar maior consumo desses produtos e maiores lucros para as empresas. ONGs: Organizações Não Governamentais, empresas independentes, sem vínculo com entidades oficiais. Rotulagem ambiental: são os chamados "selos verdes", conferidos por organizações independentes, assegurando a qualidade ambiental de produtos. Quando a questão do marketing ambiental é aplicável a empresas que comercializam bens e/ou serviços relacionados ao controle ambiental, tudo anteriormente exposto deve ser tratado pensando que o seu cliente comprador dispõe de um mínimo de cultura ambiental crescente e conhecimentos técnicos suficientes para diferenciar o que é um simples argumento de propaganda, uma apologia, o que, dependendo do caso, pode até resultar em dúvidas ou desqualificações. Hoje, as equipes envolvidas na compra ou contratação conseguem avaliar e diferenciar, não somente aquilo que é mostrado e até demonstrado no produto ou serviço, os conhecimentos culturais dos contratos diretos, assim como verificar o engajamento e conhecimento da empresa na problemática e soluções ambientais no contexto global, questões essas cada vez mais relevantes. À medida que a humanidade vai tomando consciência de seu papel social, muito se tem questionado acerca da responsabilidade social de algumas empresas, perante o impacto ambiental negativo decorrente das atividades produtivas e mercadológicas. O processo de industrialização percorrido pelas nações ao longo dos últimos séculos trouxe, de um lado, diversos benefícios econômicos e, de outro, sérias consequências ambientais. Se é permitido à humanidade usufruir, nesta era virtual, do conforto proporcionado por uma vasta gama de produtos e serviços, não se pode esquecer que muitos destes benefícios tiveram um custo ambiental bastante elevado. Nos últimos anos, os governos de diversos países, em parceria com a iniciativa privada, têm se mobilizado em busca de soluções para o conflito desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O chamado desenvolvimento sustentável ainda está longe de ser alcançado pelos países e suas organizações, tendo em vista os inúmeros problemas ambientais decorrentes das atividades produtivas tais como: efeito estufa, chuva ácida, lixo nuclear, poluição atmosférica e aquática, entre outros. Exatamente por isto é preciso repensar a atividade produtiva e mercadológica, a fim de que se possam encontrar soluções viáveis para o conflito capital e natureza e também conciliar os interesses de governos, FONTE: <www.amda.org.br>. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/ artigos/marketing_ambiental.html?query=Marketing+Ambiental>. Acesso em: 13 jan. 2013. Veja, a seguir, artigo sobre marketing verde e aprofunde ainda mais seus conhecimentos. 76 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS empresas e sociedade neste processo. E um dos recursos mercadológicos, que, a princípio, permite que as organizações sejam lucrativas e ao mesmo tempo ambientalmente responsáveis é a implantação do chamado marketing verde. O MARKETING ECOLÓGICO E A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL O termo marketing verde, ecológico ou ambiental, surgiu nos anos setenta, quando a AMA (American Marketing Association) realizou um workshop com a intenção de discutir o impacto do marketing sobre o meio ambiente. Após esse evento o marketing ecológico foi assim definido: “O estudo dos aspectos positivos e negativos das atividades de marketing em relação à poluição, ao esgotamento de energia e ao esgotamento dos recursos não renováveis”. Posteriormente, o marketing ambiental também foi discutido por Kotler que o definiu como sendo: “[...] um movimento das empresas para criar e colocar no mercado produtos ambientalmente responsáveis em relação ao meio ambiente”. Polonsky, autor de várias obras sobre o tema, propõe um conceito para o marketing verde, que ele próprio considera como sendo o conceito mais abrangente: “Marketing verde ou ambiental consiste em todas as atividades desenvolvidas para gerar e facilitar quaisquer trocas com a intenção de satisfazer os desejos e necessidades dos consumidores, desde que a satisfação de tais desejos e necessidades ocorra com o mínimo de impacto negativo sobre o meio ambiente”. O marketing ecológico consiste, portanto, na prática de todas aquelas atividades inerentes ao marketing, porém incorporando a preocupação ambiental e contribuindo para a conscientização ambiental por parte do mercado consumidor. Ao adotar o marketing verde, a organização deve informar a seus consumidores acerca das vantagens de se adquirir produtos e serviços ambientalmente responsáveis, de forma a estimular (onde já exista) e despertar (onde ainda não exista) o desejo do mercado por esta categoria de produtos. O marketing moderno consiste em criar e ofertar produtos e serviços capazes de satisfazer os desejos e necessidades dos consumidores. No marketing verde, os consumidores desejam encontrar a qualidade ambiental nos produtos e serviços que adquirem. Percebemos, assim, que nenhum esforço por parte das empresas tem sentido, se os consumidores insistirem em continuar consumindo determinados bens que agridam a natureza. Por exemplo, uma indústria têxtil pode substituir peles de ursos, ovelhas, tigres e outras espécies por fibras sintéticas; mas se o desejo dos consumidores for o de continuar adquirindo vestimentas feitas a partir da pele destes animais, o esforço da organização, por mais bem intencionado que seja, não causará nenhum impacto positivo sobre a demanda. A PRESERVAÇÃO DAS ESPÉCIES E SEUS HABITATS NATURAIS Apesar da importância da flora e da fauna para gerar produtos que atendam às necessidades dos consumidores, sabemos que muitas espécies estão em processo de extinção e, portanto, precisam ser poupadas. A preservação TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 77 de espécies animais e vegetais, quando o marketing verde é adotado por uma empresa, pode ocorrer de duas formas. A primeira é quando durante o processo produtivo a empresanão causou danos a estas espécies ou pelo menos procurou minimizá-los. Podemos citar como exemplo a L’ácqua di Fiori, empresa do setor de cosméticos, que garante que seus produtos não são testados em animais. A segunda forma é quando uma empresa realiza ou patrocina um projeto com o objetivo de salvaguardar determinada espécie animal em extinção ou recuperar determinada área ambientalmente degradada. Neste caso, não há necessidade de a empresa, que desenvolveu a ação ambiental corretiva, ser a própria empresa responsável pela degradação ou uma empresa cujas atividades possam impactar negativamente o meio ambiente. Tal ação pode ser promovida por qualquer empresa, independentemente do setor econômico do qual ela faça parte, como é o caso do Unibanco com o programa Unibanco Ecologia, responsável por patrocinar projetos ecológicos. Contudo, algumas ações ecológicas, em nível de fortalecimento da imagem institucional, costumam surtir mais efeito quando são realizadas por empresas cujas atividades estão diretamente relacionadas ao meio ambiente. Exemplo disto é a MBR (Minerações Brasileiras Reunidas) com a recuperação da Praça da Liberdade em Belo Horizonte. O fato de a empresa ter literalmente destruído a Serra do Curral deixou-a numa posição desfavorável em relação à sua imagem no mercado; como pode ser confirmado com as comunidades adjacentes à área onde a empresa minera. Entretanto, parte desta credibilidade corporativa perante a opinião pública foi resgatada após a recuperação da praça, sendo que o trabalho foi muito bem desenvolvido e apreciado pela maioria da população que teve este importante espaço público revitalizado. Contudo, uma questão problemática referente ao patrocínio de projetos, e que não pode deixar de ser considerada, é que assim como ocorre nas outras formas de marketing institucional como o marketing esportivo e o cultural, em que a organização somente patrocina o atleta ou o artista que já tem uma certa projeção no mercado, no marketing verde costuma ocorrer o mesmo. Muitas empresas dão prioridade a projetos ecológicos que têm como alvo áreas que possuem forte imageabilidade e destaque na cidade, como os chamados cartões-postais, quando nem sempre estas áreas são as prioritárias. Não é raro constatar a existência de outras áreas, cujo estado de degradação se encontra em nível muito mais avançado e, portanto, necessitando urgentemente de serem recuperadas. Porém, se forem áreas periféricas e de pouco destaque dificilmente despertarão a atenção das empresas. Aliás, as áreas periféricas, devido à maior concentração de miséria, geralmente são as mais ambientalmente degradadas. Neste caso, o problema ambiental torna-se difícil de ser resolvido, porque o Poder Público, que, na verdade, é o responsável por gerir o meio ambiente, promove ações paliativas e sem continuidade. Além destes problemas que envolvem o patrocínio de projetos, existem alguns feitos ecológicos realizados por algumas empresas, que não passam de cumprimento a determinadas penalidades, aplicadas exatamente pelo fato de elas terem agredido o meio ambiente. Exemplo disto é o de uma empresa que devastou uma área proibida na capital mineira e por isso foi penalizada pela PBH, tendo que refazer o 78 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS plantio das mudas arrancadas por toda a cidade. Para aqueles que transitam por Belo Horizonte e não sabem do que está por trás das inúmeras árvores, que exibem a marca da empresa em suas redes de proteção, pode parecer que esta se preocupou com a natureza e com a qualidade de vida de seus consumidores, quando, na realidade, o que ocorreu foi o contrário. Este é um exemplo de penalidade que acabou se transformando numa ferramenta da propaganda verde. E assim como o marketing não se resume em propaganda (ao contrário do que muitos pensam), o marketing verde também não está restrito à propaganda ecológica. No marketing verde, o ideal é que as empresas adotem a chamada comunicação de atitude, ou seja, divulguem o que elas realmente têm desenvolvido em prol do meio ambiente e não o que existe de belo na natureza para ser explorado em mera campanha publicitária. A despeito disto, muitas empresas associam suas marcas a imagens ecológicas como: matas, cachoeiras, pássaros, montanhas etc. sem nada contribuírem para a preservação destes ecossistemas. Tais empresas não estão realizando, de fato, o marketing ecológico, pois suas ações se restringem à mera propaganda. Além disto, as ações de marketing ambiental devem estar integradas às ações de marketing social e de marketing de relacionamento, porque o marketing verde propõe uma abordagem integrada das relações da empresa com seus públicos internos e externos, buscando assim a satisfação de todos: empresas, consumidores e meio ambiente. A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS ESCASSOS Se formos analisar o conceito de escassez na ótica econômica, percebemos que, de um lado, temos os recursos naturais que são limitados e, de outro, as necessidades humanas, que são ilimitadas. Como os recursos são escassos, torna-se uma condição indispensável ao pleno desenvolvimento econômico de um país a maximização da eficiência produtiva através da correta alocação destes recursos para satisfazer as demandas sociais, que, como já vimos, estão em constante evolução. Contudo, sabemos que, exatamente por estes recursos serem escassos, eles devem ser racionalmente utilizados de modo que não se esgotem rapidamente, o que prejudicaria a própria capacidade econômica e também as condições que geram e preservam a vida no planeta. Assim, quando uma empresa adquire consciência preservacionista e resolve implantar o marketing verde, ela muda sua postura face às questões ambientais, pois entende que qualquer ação desenvolvida hoje no sentido de preservar os recursos escassos trará no futuro, além de benefícios à natureza e à sociedade, vantagens à própria organização. Entre estas vantagens, podemos citar algumas, somente para efeito de exemplificação: redução dos custos de produção através da utilização de materiais e resíduos reciclados; redução de desperdícios; redução dos custos incorridos em multas pelo desrespeito a algumas normas ambientais; aumento de competitividade no mercado podendo, inclusive, canalizar o montante economizado a longo prazo para investimentos em outras atividades. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 79 A INCORPORAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS AOS PRODUTOS A incorporação de características ambientais aos produtos é uma tarefa que envolve, em alguns casos, mudanças drásticas no processo produtivo, visando ao abandono de tudo aquilo que possa comprometer a qualidade ambiental do que está sendo produzido. O controle do processo produtivo no marketing ecológico envolve a análise de todo o ciclo de vida dos produtos, desde sua produção, embalagem, transporte e consumo até sua utilização e posterior descarte. Isto significa que durante todas as etapas do ciclo de vida de um produto, seus impactos ambientalmente negativos foram avaliados e corrigidos para que ele se tornasse não somente mais saudável para o consumo, como também menos agressivo ao meio ambiente. Para isso, são controladas as formas como as matérias-primas são extraídas da natureza e as formas como elas são trabalhadas no processo produtivo, tendo em vista a redução da emissão de poluentes para o meio ambiente. O produto final também deve ter qualidade ambiental agregada, sendo um produto não poluente e que, além de não provocar danos à saúde das pessoas, quando de sua utilização, também não provocará efeitos ambientais negativos, quando de seu descarte. Enfim, o marketing ecológico envolve a adoção de diversas práticas preservacionistas, por parte das organizações, visando à eliminação ou,pelo menos, redução dos danos ecológicos em todas as fases do ciclo de vida dos produtos. A COMUNICAÇÃO VERDE DAS EMPRESAS O objetivo principal da comunicação verde é mostrar ao consumidor que um artigo ecologicamente correto é também mais saudável para o consumo, a partir do momento em que, reduzindo-se os danos ambientais, a qualidade de vida das pessoas, indiretamente, sofre melhorias. Ou seja, no marketing verde, a empresa divulga o que tem feito em prol do meio ambiente e, desse modo, procura sensibilizar o consumidor para que ele também participe deste processo, já que a responsabilidade de preservar os recursos escassos é de todos. Vejamos alguns exemplos de mensagens informativas e educativas que os fabricantes poderiam incluir nos rótulos de seus produtos: “Esta embalagem é biodegradável. Apesar disso, você deve descartá-la em um local adequado...” “Não jogue sua latinha no chão, pois ela pode ser reciclada. Procure em sua cidade um posto de coleta...” “Você sabia que o vidro é 100 % reciclável? Se você deseja contribuir para a coletiva seletiva de lixo, procure em sua cidade...” “Nosso produto não contém CFCs. Saiba aqui o que o CFC pode causar ao meio ambiente e à sua saúde...” “Veja o que acontece com a natureza toda vez que você joga lixo no chão...” “Nossas lâmpadas foram fabricadas... Saiba mais como economizar energia...” “Nosso produto possui um rótulo 80 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS ecológico. Isto significa que ele foi desenvolvido...” “Esta embalagem é de fato degradável. Isto quer dizer que...” Num país como o Brasil, marcado por uma baixa distribuição de renda e por diversos planos econômicos malsucedidos, que deixaram o mercado em situação instável, os consumidores ainda têm orientado seus hábitos de consumo de acordo com a melhor relação custo-benefício que um artigo pode trazer. Pesquisas indicam que as motivações consumistas em nosso contexto sócio-econômico ainda não abarcam completamente a qualidade ambiental dos produtos – quando comparadas ao fator “preço” –, apesar de uma pequena parcela do mercado já começar a se preocupar com a questão ambiental. Assim torna-se difícil transplantar certos conceitos como o do Green Marketing para a nossa cultura, sendo de extrema importância esclarecer que o maior lucro do marketing ambiental vem a longo prazo, com a adoção da referida comunicação de atitude. Nesta a imagem das empresas será fortalecida perante um mercado que já tem consciência das questões ecológicas. Não basta os fabricantes serem verdes, se o consumidor final ainda estiver limitado pelo fator renda no momento da aquisição dos produtos. O mercado para os produtos ecológicos ainda é constituído por uma elite que se preocupa com a natureza e com a saúde ao mesmo tempo em que possui condições financeiras para optar por empresas e produtos ambientalmente responsáveis. Assim, tentar usar a comunicação de marketing verde de forma persuasiva constitui um equívoco, pois seu caráter é muito mais de educação ambiental do que mero estímulo à compra imediata. No Brasil, o lucro através da venda de produtos com ecoqualidade será uma consequência da mudança de valores por parte das organizações e seus mercados. A educação ambiental assume um importante papel como uma ferramenta do marketing verde capaz de fazer o mercado internalizar mensagens de conteúdo informativo e participar do processo de construção das relações de troca do futuro, onde produtos existirão não somente para satisfazer as necessidades e expectativas humanas, mas também as necessidades da natureza em todas as suas formas. Alessandra Teixeira, professora, consultora e pesquisadora nas áreas de marketing, turismo e gestão ambiental integrada. Mestre em Gestão Sustentável do Turismo e Hospitalidade pela UIB (Universidade das Ilhas Baleares, Palma de Mallorca, Espanha). Especialista em Marketing pela UFMG, com pesquisa voltada para o tema “Gestão ambiental e marketing ambiental”. Artigo original da autora: The Environmental Management Systems as a Tool of the Green Marketing. Conferência de Marketing e Administração do BALAS (Business Association for Latin American Studies), Caracas, VE, 14 abr. 2000. FONTE: Disponível em: <http://www.marketing.com.br/index.php?option=com content&view=artic le&id=121&joscclean=1&comment_id=669>. Acesso em: 6 out. 2012. TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 81 O QUE SIGNIFICA GREENWASHING Publicado em 15 de junho de 2010 Segundo a Wikipédia, greenwashing (traduzido como branqueamento ecológico) ou greenwash (traduzido como lavagem verde) é um termo utilizado para designar um procedimento de marketing utilizado por uma organização (empresa, governo etc.) com o objetivo de dar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, ou mesmo da própria organização. UNI Imageabilidade, segundo Lynch (1999), é a característica que um objeto possui que lhe confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado, criando imagens mentais claramente identificadas, altamente estruturadas e extremamente úteis ao ambiente. Essa característica também pode ser chamada de legibilidade ou visibilidade. Desta forma, as imagens ficam retidas na memória do observador (pregnância) e lhe fornecem um senso de orientação, permitindo, entre outras coisas, uma locomoção mais fácil e rápida, facilitando a sua apropriação do ambiente. FONTE: Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prolugar/arq_pdf/dissertacoes/Dissert_ Michael%20D%20Hosken%202005/14%20-%20MDHA%20-%203%20-%20MATERIAIS%20E%20 M%90TODOS.pdf>. Vimos que o marketing verde ou ambiental é uma ferramenta estratégica utilizada pelas empresas para projetar e sustentar a imagem de uma organização sustentável. 4.1 MARKETING VERDE X GREENWASHING (LAVAGEM VERDE) Falamos no estudo anterior sobre marketing verde, agora vamos tratar do greenwashing, ou "lavagem verde", em português. Veja, a seguir, artigo que trata do assunto. 82 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS O interessante é que, em inglês, o termo greenwash é uma mistura de dois termos: green e whitewash. Green, como já vimos, significa verde e whitewash é uma espécie de tinta branca barata aplicada na fachada de casas. Por isso essa expressão é usada por ambientalistas para se referir às propagandas corporativas que tentam mascarar um desempenho ambiental fraco por parte da empresa. Informações enganosas difundidas por algumas empresas e organizações podem confundir consumidores e gerar ceticismo, o que pode significar uma ameaça à conscientização ambiental. Esse processo de desinformação anula os esforços de varejistas e fabricantes que procuram, conscientemente, melhorar seu desempenho. É claro que muitas empresas estão verdadeiramente melhorando o seu desempenho ambiental de maneira ética e estão fazendo isso apenas com os melhores motivos. Mas outros veem nessa ferramenta de marketing novas possibilidades de lucros e exageram em seu discurso verde. Vem crescendo o número de denúncias contra empresas que aplicam o golpe de empresa verde. Fazem parte dessa estatística desde microempresas até grandes organizações. Por isso, qualquer profissional das áreas de design, publicidade, marketing e vendas precisa se assegurar de que seus produtos e campanhas passem no teste do greenwash, para não cair em discursos vazios. Há uma definição mais completa para o conceito em um artigo de Thiago Araújo, publicado no Ambiente Brasil. Greenwashing é um termo em língua inglesa usado quando uma empresa, organização não governamental (ONG), ou mesmo o próprio governo, propaga práticas ambientais positivas e, na verdade, possui atuação contrária aos interesses e bens ambientais.Trata-se do uso de ideias ambientais para construção de uma imagem pública positiva de “amigo do meio ambiente” que, porém, não é condizente com a real gestão, negativa e causadora de degradação ambiental. Isso não quer dizer que as empresas não podem divulgar o que estão fazendo pelo meio ambiente, mas sim que devem agir de modo transparente. Um produto que consome menos energia ou emite menos gases poluentes não pode ser intitulado como “ecológico” se o seu processo produtivo também não foi adaptado para diminuir as agressões à natureza. Um estudo da empresa americana Terra Choice Environmental Marketing, citado na revista Business do Bem e também no Ambiente Brasil, apontou os seis pecados cometidos pelo “greenwashing” ao fazer propaganda das qualidades de um produto. Fique de olho na hora das compras: 1 Malefícios escondidos TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 83 BRASIL É O PAÍS QUE MENOS PRATICA GREENWASHING Mônica Nunes/Débora Spitzcovsky Planeta Sustentável - 16/06/2010 Pesquisa sobre greenwashing, realizada pela Market Analysis, mostrou que os produtos brasileiros são os que usam menos apelos em suas embalagens para dar ao consumidor uma falsa impressão de preocupação ambiental. Ainda assim, a prática é frequente no país: 90% de todos os produtos nacionais analisados pela pesquisa possuem algum tipo de apelo ecológico. Os consumidores do mundo inteiro andam mais preocupados com o impacto dos produtos que consomem e, no Brasil, não é diferente. Nosso país chegou a ficar em segundo lugar no ranking das nações mais preocupadas com consumo consciente, na pesquisa Greendex 2009, realizada pela National Geographic Society (saiba mais em Brasil é o segundo país em consumo sustentável). Para ganhar a simpatia dos consumidores, muitas empresas estão divulgando por aí suas ações de responsabilidade socioambiental, mas, segundo o relatório 2 Falta de provas (certificações duvidosas, por exemplo) 3 Promessa vaga (informações chamativas como “100% verde” sem explicações sobre o que realmente significam) 4 Dois demônios (produtos “ecológicos”, mas que naturalmente trazem malefícios, como cigarros orgânicos) 5 Irrelevância 6 Mentira (qualidades falsas) FONTE: PROJETO jogo limpo. Disponível em: <http://www.funverde.org.br/blog/archives/6886>. Acesso em: 13 jan. 2013. Podemos verificar no artigo que a prática greenwashing é uma forma de marketing que as empresas utilizam para demonstrar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, ou mesmo da própria organização, que não condiz com a realidade. Veja, a seguir, pesquisa sobre a situação do Brasil em relação à prática de greenwashing. 84 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Monitor de Responsabilidade Social Corporativa, publicado anualmente pelo instituto de pesquisas Market Analysis, apenas 6% das companhias divulgam os resultados reais de suas iniciativas sustentáveis, o que significa que muitas empresas andam praticando “greenwashing”, ou seja, passando uma imagem ecologicamente responsável que não condiz com a realidade. Nesse cenário, para saber exatamente quais companhias estão querendo enganar os consumidores com apelos ecológicos, a Market Analysis realizou uma nova pesquisa, a Greenwashing no Brasil, para mapear e quantificar os produtos nacionais que, de alguma maneira, tentam iludir o consumidor em suas embalagens. O estudo cruzou dados com iniciativas semelhantes – promovidas nos EUA, Canadá, Inglaterra e Austrália, pela consultora internacional Terra Choice – e apontou que o Brasil é o país que possui menos apelos ecológicos nos rótulos de seus produtos: nossa média é de 1,8 apelo por artigo analisado, enquanto os EUA lideram o ranking, com 2,3 apelos por produto. Além disso, a pesquisa mostrou que o Brasil é o país que apresenta o maior número de produtos sem qualquer tipo de “greenwashing”: foram 87, dos 500 itens analisados. Ainda assim, 90% dos artigos nacionais avaliados pela iniciativa contêm, pelo menos, um apelo ecológico em suas embalagens, sendo que a maioria desses produtos é lançada no mercado pelo segmento de cosméticos e higiene pessoal. OS SETE PECADOS NAS EMBALAGENS Para avaliar os produtos brasileiros, a Market Analysis usou os mesmos critérios da canadense Terra Choice: os Seven Sins of Greenwashing, que classificam os tais apelos ecológicos em sete categorias. São elas: – custo ambiental camuflado: refere-se aos rótulos que destacam uma qualidade ambiental do produto para camuflar outras características insustentáveis que, juntas, têm um custo ambiental muito maior; – falta de prova: analisa as declarações vagas nas embalagens dos produtos, como “ambientalmente correto”, que não especificam os fatos em que são baseadas; – incerteza: refere-se a expressões que provocam dúvida no consumidor, como o termo “material reciclado”, que não indica, exatamente, a porcentagem do produto que foi feita do reaproveitamento de materiais; – culto a falsos rótulos: condena as embalagens que, a partir de palavras ou imagens, querem passar a falsa ideia de endosso de entidades de renome, como a FSC; TÓPICO 4 | PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, ROTULAGEM AMBIENTAL E MARKETING VERDE ADOTADO PELAS ORGANIZAÇÕES 85 – irrelevância: refere-se aos rótulos de produtos que indicam uma qualidade que, na verdade, possui benefício ambiental quase nulo; – mentira: indica embalagens que contêm declarações totalmente falsas e – menos pior: refere-se a produtos que, por mais que tenham qualidades ambientais, só trazem malefícios para o consumidor e para o meio ambiente, como o cigarro orgânico. No Brasil, o “pecado” mais presente nos rótulos dos produtos é o da incerteza: 46% das embalagens nacionais provocam, propositalmente ou não, algum tipo de dúvida no consumidor, enquanto nos demais países, o pecado do custo ambiental camuflado é mais frequente. Para diminuir o número de vítimas do greenwashing, os pesquisadores da Market Analysis dão uma dica aos consumidores: é preciso procurar, sempre, nos rótulos dos produtos, os selos oficiais das entidades comprometidas com a responsabilidade socioambiental. Entre elas: o Procel, de economia de energia, e o FSC, que atesta os produtos que não contribuem para o desmatamento das florestas (para saber mais, leia a reportagem Como os selos verdes podem ajudar?). FONTE: Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/ greenwashing-brasil-marketing-propaganda-verde-produtos-570487.shtml>. Acesso em: 2 jan. 2013. Caro(a) acadêmico(a), você pode ampliar seus conhecimentos assistindo ao vídeo sobre: Estudo sobre Maquiagem Verde, ou greenwashing, que investigou 501 produtos no Brasil. Está disponível no site <http://globotv.globo.com/globo- news/cidades-e-solucoes/v/estudo-sobre-maquiagem-verde-ou-greenwashing- investigou-501-produtos-no-brasil/1847755>. Pode também acessar o site e verificar o estudo no Brasil sobre greenwashing. 86 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você viu que: • Os objetivos das práticas sustentáveis são definidos de acordo com os resultados que se deseja alcançar. Cada empresa tem suas particularidades e interesses que a direcionam para práticas sustentáveis diferentes uma das outras. • As limitações de recursos naturais influenciam as empresas a adotarem práticas sustentáveis, pois terão dificuldades em competir quando os recursos se tornarem mais escassos. Pode-se evidenciar também que as exigências de clientes e consumidores têm levado as empresas a demonstrarem que são mais sustentáveis, gerando uma competição entre elas. • Os meios para alcançar a sustentabilidade são diferenciados,mas as empresas, de modo geral, pretendem com essas práticas a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e econômica. • As pessoas têm papel importante no processo de sustentabilidade, mudando o estilo de vida em relação ao meio ambiente, tendo um consumo sustentável, participando das ações ambientais movidas pelo governo e empresas. • Os programas de rotulagem ambiental adotados em diferentes países são criados com base em análise de ciclo de vida e conferidos por instituições independentes, sejam governamentais, sejam não governamentais. • Segundo a norma NBR ISO 14020, rotulagem ambiental é um conjunto de instrumentos informativos que procura estimular a procura de produtos e serviços com baixos impactos ambientais através da disponibilização de informação relevante sobre os seus desempenhos ambientais. • A NBR ISO 14024 estabelece os princípios e procedimentos para o desenvolvimento de programas de rotulagem ambiental do tipo l, incluindo a seleção de categorias de produtos, critérios ambientais dos produtos e características funcionais dos produtos, e para avaliar e demonstrar sua conformidade. Esta Norma também estabelece os procedimentos de certificação para a concessão do rótulo. • O marketing verde ou ambiental é uma ferramenta estratégica utilizada pelas empresas para projetar e sustentar a imagem de uma organização sustentável. Trata-se de uma ferramenta capaz de projetar e sustentar a imagem da empresa, difundindo-a com uma nova visão de mercado, destacando sua diferenciação ecologicamente correta com a sociedade, fornecedores, funcionários e com o mercado. 87 • Greenwashing é uma forma de marketing que as empresas utilizam para demonstrar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, ou mesmo da própria organização, que não condiz com a realidade. 88 AUTOATIVIDADE Faça uma pesquisa na internet sobre práticas sustentáveis de empresas instaladas no Brasil e compartilhe o resultado com os demais acadêmicos no próximo encontro presencial. _____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 89 UNIDADE 2 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a: • combinar os conceitos de ética, moral e responsabilidade social; • discutir o conceito de responsabilidade social no tocante ao papel das em- presas; • abordar as relações das empresas com a sociedade e o meio ambiente, bem como os impactos das suas decisões; • conceituar responsabilidade social e ambiental de uma empresa. • identificar o surgimento e evolução da responsabilidade social no Brasil. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) auxiliarão no aprimoramento dos conheci- mentos. TÓPICO 1 – ÉTICA TÓPICO 2 – RESPONSABILIDADE SOCIAL TÓPICO 3 – IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 90 91 TÓPICO 1 ÉTICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico apresentaremos a noção de ética e sua relação com a responsabilidade social. Vocês tomarão consciência de que a ética, atualmente, é inseparável da noção de responsabilidade social para qualquer organização idônea. O próprio fato de se considerar que uma organização tem determinadas responsabilidades com seus interlocutores envolve uma ética empresarial e um compromisso de responsabilidade com esses. 2 ÉTICA, MORAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL Atualmente, muito se tem falado sobre ética, moral e responsabilidade social, mas falta uma explicação mais clara e sistemática do que realmente significam esses termos. As “responsabilidades éticas correspondem a atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados (no sentido positivo) ou proibidos (no sentido negativo) por membros da sociedade, apesar de não codificados em leis” (VELOSO, 2006, p. 5 apud GARCIA, 2007). Os motivos podem ser diversos, mas, sem o devido comprometimento, fere- se o primeiro item do nosso estudo, a Ética, pois uma organização que tenta implantar e passar a imagem de uma empresa ética, moral e responsável socialmente, sem realmente ter a menor intenção de prosseguir nesse caminho, não possui ética. Parece correto afirmar que, hoje, as organizações precisam não somente estar atentas às responsabilidades econômicas e legais, mas também às responsabilidades éticas, morais e sociais. A responsabilidade ética corresponde às atividades práticas, políticas e comportamentos esperados ou proibidos, pela organização ou membros da mesma. Essas responsabilidades éticas correspondem a valores morais específicos. Valores morais dizem respeito a crenças pessoais sobre comportamentos eticamente corretos ou incorretos, tanto da parte do próprio indivíduo quanto com relação aos outros. Dessa maneira, valores morais e éticos se complementam. A moral UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 92 pode ser definida como um conjunto de valores e regras de comportamento que a coletividade adota por julgar correta ou desejável. Ela abrange um ideal imaginário de comportamentos que são bem vistos, como o politicamente correto, o que é bem e mal, o permitido e o proibido, o certo e o errado, a virtude e o vício. A ética é mais sistematizada e rígida, a moral é menos rígida e sofre influência do ambiente, organização, grupo social, nacionalidade, cultura e do próprio indivíduo. Resumidamente, valores morais de uma organização definem o que é ser ético para si; daí em diante, elaboram-se rígidos códigos de ética que devem ser seguidos, sob pena de ferirem os valores morais preestabelecidos. Segundo Dias (2010), quando se trata de Responsabilidade Social [...] são estratégias pensadas para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação de seus clientes, o bem-estar da sociedade. A empresa está inserida nela e seus negócios dependerão de seu desenvolvimento e, portanto, esse envolvimento deverá ser duradouro. É um comprometimento (TOLDO, 2002, p. 84 apud DIAS, 2010, p. 154). Então, como podemos conciliar ética e moral com a meta obstinada de obter o almejado lucro que as empresas tanto desejam? Portanto, para Chiavenato (2002, p. 594): A responsabilidadesocial está voltada para a atitude e comportamento da organização em face das exigências sociais da sociedade em consequência das suas atividades. Ocorre quando, depois de cumpridas as prescrições de leis e de contratos, constitui uma resposta da organização às necessidades da sociedade. Dias (2010) afirma que a responsabilidade social é um dos aspectos mais visíveis do movimento gerado em torno da questão ambiental nos últimos anos, tanto de indivíduos quanto de organizações. Isso tudo tem levado as organizações a adotarem práticas que extrapolam os deveres básicos do cidadão e das organizações. Essas ações, em sua maioria, são voluntárias e implicam comprometimento maior que uma simples adesão formal em virtude de obrigações advindas da legislação. Para isso, a responsabilidade social é mais importante do que nunca. A ética afeta desde os lucros, a credibilidade das organizações até a sua sobrevivência. As organizações terão que aprender a equacionar a necessidade de obter lucros, obedecer às leis, ter um comportamento ético e envolver-se em atividades filantrópicas nas comunidades em que estão inseridas, adotando medidas como as maneiras como são concebidos e comercializados produtos e serviços, as tecnologias utilizadas, mudanças de padrões de qualidade, enfim, uma reestruturação global da estrutura organizacional da empresa. TÓPICO 1 | ÉTICA 93 A responsabilidade social é a característica que melhor define a nova ética. Em resumo, está se tornando unanimidade que os negócios de uma empresa devem ser feitos de maneira ética, obedecendo a valores morais, de acordo com comportamentos universalmente aceitos como apropriados. Dessa maneira, as atitudes e atividades de uma organização precisam caracterizar-se por: • Preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam todos os envolvidos. • Promoção de valores e comportamentos morais que respeitem os padrões universais de direitos humanos, de cidadania e participação na sociedade. • Respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabilidade em todo o mundo. • Maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização, contribuindo para o desenvolvimento econômico e humano dos indivíduos ou atuando diretamente na área social, em parceria com governos ou isoladamente. 3 O QUE É ÉTICA? Ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de “consciência moral”, avaliando e julgando constantemente suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Grave os quatro pontos que caracterizam uma organização como socialmente responsável. ATENCAO UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 94 Com relação à palavra ética, acompanhe o artigo sobre o sentido da palavra: O QUE É ÉTICA * A origem da palavra ética vem do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduziram o ethos grego para o latim mos (ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. Tanto ethos (caráter) como mos (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é "adquirido ou conquistado por hábito" (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, dizem respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. No nosso dia a dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como sinônimos. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica. "Nenhum homem é uma ilha". Esta famosa frase do filósofo inglês, Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer? Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos – os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. O problema é que não costumamos refletir e buscar os "porquês" de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição, tendendo a naturalizar a realidade social, política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade crítica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral. TÓPICO 1 | ÉTICA 95 No Brasil, encontramos vários exemplos para o que afirmamos acima. Historicamente marcada pelas injustiças socioeconômicas, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão de obra infantil, pelo "jeitinho" e a "lei de Gerson" etc. etc. A realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado com as mansões e os barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo otário quem procura ser honesto. Na vida pública, exemplos é o que não faltam na nossa história recente: "anões do orçamento", impeachment de presidente por corrupção, compras de parlamentares para a reeleição, os medicamentos, máfia do crime organizado, desvio do Fundef etc. etc. Não sem motivos fala-se numa crise ética, já que tal realidade não pode ser reduzida tão somente ao campo político-econômico. Envolve questões de valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõe-se necessariamente um problema ético. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana. *Enciclopédia Digital Direitos Humanos II* - <www.dhnet.org.br> FONTE: Disponível em: <http://www.eticapublica.furg.br/index.php?option=com content&view=arti cle&id=26&Itemid=23>. Acesso em: 19 jan. 2013. Em suma, a palavra ética está relacionada com o modo de ser, o caráter, a moral, baseando-se em comportamentos humanos que podem ser individuais ou em grupos. De acordo com Daft (1999, p. 83): Ética pode ser mais claramente entendida quando comparada com comportamentos governados por leis ou livre escolha. O comportamento humano se enquadra em três categorias. A primeira é o código de leis, no qual os valores ou padrões são escritos dentro de um sistema legal e cumpridos nos tribunais. Nesta área, os legisladoresestabelecem que as pessoas e organizações devem comportar-se de certo modo, tais como tirar carteira para dirigir ou pagar impostos. O domínio da livre escolha se refere ao comportamento sobre o qual a lei não diz nada e para o qual o indivíduo ou associação goza de completa liberdade. A liberdade religiosa individual ou a escolha da quantidade de lava-louças a serem fabricadas por uma empresa são exemplos de livre escolha. Assim, ética é o código de princípios e valores morais que governam o comportamento de uma pessoa ou um grupo quanto ao que é certo ou errado. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 96 Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto de estudo, consideramos importante, como ponto de partida, estudar o conceito de ética, estabelecendo seu campo de aplicação e fazendo uma pequena abordagem das doutrinas éticas que consideramos mais importantes para o nosso trabalho. A ética seria, então, uma espécie de teoria sobre a prática moral, uma reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral. Abbagnano, entre outras considerações, diz que a ética é, “em geral, a ciência da conduta” (ABBAGNANO, 1998, p. 360), e Vásquez (1995, p.12) amplia a definição afirmando que “a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano.” 4 O QUE É UM CÓDIGO DE ÉTICA? Códigos de ética são conjuntos de normas de conduta que procuram oferecer diretrizes para a tomada de decisões e estabelecer a diferença entre o certo e o errado em uma organização. Conforme Schermerhorn Junior (1999, p. 77): Códigos de ética formais – diretrizes escritas oficiais sobre como se comportar em situações capazes de criar dilemas éticos – são encontrados em profissões como engenharia, medicina, direito e contabilidade pública. Os códigos tentam assegurar que o comportamento dos indivíduos seja coerente com as normas históricas e compartilhadas pelo grupo profissional. Veja, a seguir, exemplos de códigos de ética aplicados por grandes empresas e conselhos de profissionais no Brasil. PRINCÍPIOS ÉTICOS DO SISTEMA PETROBRAS I. O respeito à vida e a todos os seres humanos, a integridade, a verdade, a honestidade, a justiça, a equidade, a lealdade institucional, a responsabilidade, o zelo, o mérito, a transparência, a legalidade, a impessoalidade, a coerência entre o discurso e a prática são os princípios éticos que norteiam as ações do Sistema Petrobras. II. O respeito à vida em todas as suas formas, manifestações e situações é o principio ético fundamental e norteia o cuidado com a qualidade de vida, a saúde, o meio ambiente e a segurança no Sistema Petrobras. III. A honestidade, a integridade, a justiça, a equidade, a verdade, a coerência entre o discurso e a prática referenciam as relações do Sistema Petrobras com pessoas e instituições, e se manifestam no respeito às diferenças e TÓPICO 1 | ÉTICA 97 diversidades de condição étnica, religiosa, social, cultural, linguística, política, estética, etária, física, mental e psíquica, de gênero, de orientação sexual e outras. IV. A lealdade ao Sistema Petrobras se manifesta como responsabilidade, zelo e disciplina no trabalho e no trato com todos os seres humanos e com os bens materiais e imateriais do Sistema, no cumprimento da sua Missão, Visão e Valores, em condutas compatíveis com a efetivação de sua Estratégia Corporativa, com espírito empreendedor e comprometido com a superação de desafios. V. A transparência se manifesta como respeito ao interesse público e de todas as partes interessadas e se realiza de modo compatível com os direitos de privacidade pessoal e com a Política de Segurança da Informação do Sistema Petrobras. VI. O mérito é o critério decisivo para todas as formas de reconhecimento, recompensa, avaliação e investimento em pessoas, sendo o favorecimento e o nepotismo inaceitáveis no Sistema Petrobras. VII. A legalidade e a impessoalidade são princípios constitucionais que preservam a ordem jurídica e determinam a distinção entre interesses pessoais e profissionais na conduta dos membros dos Conselhos de Administração, dos Conselhos Fiscais e das Diretorias Executivas e dos empregados do Sistema Petrobras. VIII. O Sistema Petrobras compromete-se com o respeito e a valorização das pessoas em sua diversidade e dignidade, em relações de trabalho justas, numa ambiência saudável, com confiança mútua, cooperação e solidariedade. IX. O Sistema Petrobras desenvolve as atividades de seu negócio reconhecendo e valorizando os interesses e direitos de todas as partes interessadas. X. O Sistema Petrobras atua proativamente em busca de níveis crescentes de competitividade, excelência e rentabilidade, com responsabilidade social e ambiental, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Brasil e dos países onde atua. XI. O Sistema Petrobras busca a excelência em qualidade, segurança, meio ambiente, saúde e recursos humanos, e para isso promove a educação, capacitação e comprometimento dos empregados, envolvendo as partes interessadas. XII. O Sistema Petrobras reconhece e respeita as particularidades legais, sociais e culturais dos diversos ambientes, regiões e países em que atua, adotando sempre o critério de máxima realização dos direitos, cumprimento da lei, das normas e dos procedimentos internos. FONTE: Disponível em: <http://www.br.com.br/wps/portal/portalconteudo/acompanhia codigode etica/!ut/p/c5/04>. Acesso em: 27 jan. 2013. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 98 Veja parte dos princípios éticos da organização Bradesco: VALORES E PRINCÍPIOS ÉTICOS – ORGANIZAÇÃO BRADESCO Todos os Colaboradores da Organização Bradesco devem seguir os padrões éticos pelos quais são incentivados e responsabilizados, regidos pelos valores e princípios abaixo: Valores a) Cliente como razão da existência da Organização. b) Transparência em todos os relacionamentos internos e externos. c) Respeito à concorrência. d) Crença no valor e na capacidade de desenvolvimento das pessoas. e) Respeito à dignidade e diversidade do ser humano. f) Responsabilidade socioambiental, com promoção e incentivo de ações para o desenvolvimento sustentável. g) Compromisso com a melhoria contínua da qualidade do atendimento, de produtos e de serviços. Princípios Integridade Integridade significa a qualidade de inteireza, de conduta reta e imparcial, cuja natureza de ação nos dá uma imagem de honestidade. Significa também o respeito integral às leis do país e às normas que regem as atividades de nosso setor e de nossa Organização. Conflito de Interesses O conflito de interesses ocorre quando existe a possibilidade de confronto direto ou indireto entre os interesses pessoais de colaboradores e os da Organização, que possam comprometer ou influenciar de maneira indevida o desempenho de suas atribuições e responsabilidades. O interesse é caracterizado por toda e qualquer vantagem material em favor próprio ou de terceiros (parentes, amigos etc.) com os quais temos ou tivemos relações pessoais, comerciais ou políticas. Diante desses conflitos, o colaborador deverá posicionar seu superior imediato para que este tome a decisão cabível, sempre zelando pelo patrimônio da Organização, de seus clientes, acionistas, investidores e demais partes relacionadas. Devemos recusar presentes, vantagens pecuniárias ou materiais, de quem quer que sejam, que possam representar relacionamento impróprio ou prejuízo financeiro ou de reputação para a Organização. TÓPICO 1 | ÉTICA 99 Equidade Equidade pressupõe o conceito de uma justiça fundada na igualdade de direitos, ou seja, é uma justiça natural com disposição para reconhecer imparcialmente o direito decada um. Esse princípio se materializa pela preservação da individualidade e privacidade, não admitindo a prática de quaisquer atos discriminatórios, tais como origem, condição social, posição hierárquica, grau de escolaridade, religião, crença ou filosofia de vida, deficiência, cor, raça, sexo, estado civil, situação familiar, ideologia política ou associação com entidades de classe. Compromisso com a Informação Uma Organização comprometida com a informação é a que vai além das obrigações legais e estatutárias. É aquela que é aberta à comunicação, ao diálogo e à busca de soluções para os problemas que afetam seus clientes, acionistas, investidores, colaboradores, os seus negócios, o meio ambiente e, enfim, toda a sociedade. a) Informação privilegiada Considera-se informação privilegiada aquela informação relativa a atos ou fatos relevantes até que sejam divulgados aos órgãos reguladores, às Bolsas de Valores ou outras entidades similares e, simultaneamente, aos acionistas e investidores em geral, por meio de ampla disseminação e publicação dessas informações pelos órgãos da imprensa. Com base nisso, os colaboradores, que em função de suas atividades tenham acesso à “informação privilegiada”, devem cumprir rigorosamente as políticas de divulgação de ato ou fato relevante e de negociação de valores mobiliários de emissão do Banco Bradesco S.A., aprovadas pelo Conselho de Administração do Banco. b) Proteção dos ativos de informação Na utilização de ativos de informação, como as bases de dados, arquivos, documentações, manuais, materiais de treinamento, procedimentos operacionais e de suporte, planos de continuidade de negócios etc., sejam eles tangíveis ou intangíveis, intelectuais, eletrônicos ou de investimentos, devemos: I) respeitar a propriedade intelectual, própria e de terceiros que estejam em nosso poder, sempre atentando para a ética e para a legislação aplicável. Todos os dados, informações, materiais e inventos desenvolvidos internamente em função da relação de trabalho são de uso exclusivo e de propriedade da Organização; UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 100 II) estabelecer efetivo programa de proteção dos ativos de informação da Organização e de terceiros, mediante a adoção da Política Corporativa de Segurança da Informação, sustentada por diretrizes de segurança, normas, procedimentos corporativos e melhores práticas adotadas pelo mercado; III) respeitar e salvaguardar o sigilo dos dados e informações que nos são confiados, com o compromisso de protegê-los e tratá-los, garantindo sua integridade, confidencialidade e disponibilidade; e IV) mitigar os riscos inerentes aos ativos de informação, empreendendo ações de conscientização em Segurança da Informação, voltadas a todos os abrangidos pelo presente Código. c) Exatidão das informações e dos relatórios da Organização Temos o dever de manter todos os registros e relatórios de maneira adequada e em conformidade com as leis aplicáveis. Todas as informações constantes de nossos relatórios devem ser consignadas de maneira precisa e completa, dotadas do grau de detalhamento necessário que reflita a transparência das operações das Empresas integrantes da Organização. As demonstrações financeiras serão sempre elaboradas em consonância com a lei e com os princípios fundamentais de contabilidade, de maneira a representar adequadamente a situação financeira da Organização. Valorização das pessoas a) Deveres para o exercício de cargo ou função I) consciência da responsabilidade de nossas funções e de que não devemos utilizá-las em benefício próprio ou de terceiros; II) o mérito como principal fator de avaliação dos funcionários da Organização; III) respeito e proteção à privacidade e confidencialidade das informações dos colaboradores. b) Ambiente de Trabalho Faz parte da cultura organizacional: I) propiciar oportunidades de crescimento profissional; e II) proporcionar ambiente seguro e saudável, com liberdade de expressão e respeito à integridade e privacidade das pessoas; e TÓPICO 1 | ÉTICA 101 III) coibir qualquer ato de assédio, não admitindo a sua prática nas relações de trabalho. Relacionamentos Construtivos a) Clientes Sem conduta ética como fundamento, não há relação cliente-empresa que pretenda ser duradoura, especialmente num mercado competitivo. Por isso, devemos identificar as necessidades dos clientes, para poder satisfazê-las, em consonância com os objetivos de segurança, qualidade e rentabilidade, usando, além da cortesia e presteza, os seguintes padrões de conduta: I) transparência nas operações realizadas; II) receptividade e tratamento adequado das sugestões e críticas recebidas; III) atendimento eficaz; e IV) confidencialidade das informações recebidas em razão de relações comerciais. b) Acionistas e investidores No relacionamento com acionistas e investidores é nosso dever observar fielmente as diretrizes constantes nas políticas de divulgação de ato ou fato relevante e de negociação de valores mobiliários de emissão do Banco Bradesco S.A., aprovadas pelo Conselho de Administração do Banco. Tanto a distribuição de resultados quanto a divulgação de informações deverão ser feitas de forma absolutamente simétrica, sem criar privilégios. c) Fornecedores de produtos e serviços e parceiros de negócios Devemos contratar fornecedores e estabelecer relações de negócios com parceiros que operem com padrões éticos compatíveis com os nossos, mediante rigoroso processo de seleção, e não transacionar com aqueles que, comprovadamente, desrespeitem disposições de nosso Código. d) Órgãos governamentais e reguladores Devemos coibir qualquer concessão de vantagem ou privilégio a agentes públicos. Devemos zelar pelo cumprimento de nossas políticas, normas e rígidos controles de prevenção e combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 102 ao terrorismo e a atos ilícitos de qualquer natureza, em estrito cumprimento das leis aplicáveis ao assunto e consoante as melhores práticas nacionais ou internacionais, nos locais onde forem aplicáveis. e) Imprensa Nosso relacionamento deve ser pautado pela transparência, credibilidade e confiança, observando sempre os valores éticos em nossa estratégia de marketing. Nossos representantes, quando autorizados a se manifestar em nome da Organização, devem expressar sempre o ponto de vista institucional. f) Comunidades e meio ambiente Devemos apoiar e fomentar iniciativas para a formação e valorização da cidadania, erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais, por meio de ações e projetos prioritariamente voltados à educação. Devemos repudiar qualquer forma de exploração das pessoas pelo trabalho, quer seja ele compulsório, forçado ou escravo e, em especial, o infantil. Na criação de produtos e serviços, assim como na concessão de crédito, devemos observar o princípio da responsabilidade socioambiental, com o objetivo de minimizar qualquer impacto negativo, direto ou indireto, nas condições de vida das comunidades e no meio ambiente. Devemos ter o firme compromisso de praticar, incentivar e valorizar a preservação ambiental, buscando convergir os objetivos empresariais para os anseios e interesses da comunidade em que atuamos, sempre em linha com o desenvolvimento sustentável. É fundamental envidar esforços para a preservação dos ecossistemas, principalmente os não renováveis, otimizando no nosso dia a dia o uso dos recursos naturais. Para tanto, assumimos, voluntariamente, os seguintes compromissos perante os acordos internacionais: Princípios do Equador São um conjunto de regras e critérios definidos pelo International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, que determina uma sériede análises socioambientais para o financiamento de empreendimentos constituídos sob a modalidade de project finance. TÓPICO 1 | ÉTICA 103 Pacto Global (Global Compact) O Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção, cujos princípios estão refletidos neste Código de Conduta Ética. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) fazem parte do Projeto do Milênio das Nações Unidas, que é uma causa humanitária global, para tornar o mundo mais solidário e mais justo, sendo eles: 1. Erradicar a extrema pobreza e a fome. 2. Atingir o ensino básico universal. 3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. 4. Reduzir a mortalidade infantil. 5. Melhorar a saúde materna. 6. Combater o HIV/ AIDS, a malária e outras doenças. 7. Garantir a sustentabilidade ambiental. 8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o desenvolvimento. g) Associações e entidades de classe Devemos reconhecer o importante papel das associações e entidades de classe legalmente constituídas, por intermédio de suas iniciativas e práticas, sempre dispostos a dialogar em qualquer situação que envolva a Organização, objetivando uma solução mutuamente satisfatória. h) Atividades político-partidárias A Organização não tem restrições a que os colaboradores exerçam seus direitos político-partidários, desde que em caráter estritamente pessoal e sem prejuízo para suas atividades profissionais. Liderança Responsável É de responsabilidade dos funcionários com função de liderança trabalhar para o sucesso de cada membro da equipe. Para isso devemos: a) Estimular as lideranças a promover o relacionamento entre os diversos níveis hierárquicos dentro da Organização, criando no ambiente de trabalho, mediante a observância da Política de Gerenciamento dos UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 104 Recursos Humanos, uma atmosfera adequada ao exercício de atribuições e desenvolvimento profissional e pessoal, propiciando a melhoria dos resultados organizacionais. b) Incentivar os funcionários a estabelecer um equilíbrio apropriado entre o trabalho, a família e a sociedade em geral, de modo a manter seu bem- estar profissional, pessoal e social. c) Estimular iniciativas de preservação da saúde e segurança no trabalho. NOVO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL As Entidades Nacionais repres- entativas dos profissionais da Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geo- logia, da Geografia e da Meteorologia pactuam e proclamam o presente Código de Ética Profissional. Brasília, 6 de novembro de 2002. 1 - Preâmbulo Art. 1º - O Código de Ética Profissional enuncia os fundamentos éticos e as condutas necessárias à boa e honesta prática das profissões da Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia e relaciona direitos e deveres correlatos de seus profissionais. Art. 2º - Os preceitos deste Código de Ética Profissional têm alcance sobre os profissionais em geral, quaisquer que sejam seus níveis de formação, modalidades ou especializações. FONTE: Disponível em: <http://www.bradescori.com.br/site/conteudo/interna/default3. aspx?secaoId=594>. Acesso em: 27 jan. 2013. Caro(a) acadêmico(a), vimos apenas parte do código de ética da organização Bradesco, você pode consultar no site indicado o código de conduta de ética completo. Veja o código de ética dos profissionais da Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia. TÓPICO 1 | ÉTICA 105 Art. 3º - As modalidades e especializações profissionais poderão estabelecer, em consonância com este Código de Ética Profissional, preceitos próprios de conduta atinentes às suas peculiaridades e especificidades. 2 - Da identidade das profissões e dos profissionais Art. 4º - As profissões são caracterizadas por seus perfis próprios, pelo saber científico e tecnológico que incorporam, pelas expressões artísticas que utilizam e pelos resultados sociais, econômicos e ambientais do trabalho que realizam. Art. 5º - Os profissionais são os detentores do saber especializado de suas profissões e os sujeitos proativos do desenvolvimento. Art. 6º - O objetivo das profissões e a ação dos profissionais voltam-se para o bem-estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e em suas diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade, nação e humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura. Art. 7º - As entidades, instituições e conselhos integrantes da organização profissional são igualmente permeados pelos preceitos éticos das profissões e participantes solidários em sua permanente construção, adoção, divulgação, preservação e aplicação. 3 - Dos princípios éticos Art. 8º - A prática da profissão é fundada nos seguintes princípios éticos nos quais o profissional deve pautar sua conduta: Do objetivo da profissão I - A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores; Da natureza da profissão II - A profissão é bem cultural da humanidade construído permanentemente pelos conhecimentos técnicos e científicos e pela criação artística, manifestando-se pela prática tecnológica, colocado a serviço da melhoria da qualidade de vida do homem; Da honradez da profissão III - A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã; UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 106 Da eficácia profissional IV - A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente dos compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória nos serviços e produtos e observando a segurança nos seus procedimentos; Do relacionamento profissional V - A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com espírito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatários, beneficiários e colaboradores de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na competição; Da intervenção profissional sobre o meio VI - A profissão é exercida com base nos preceitos do desenvolvimento sustentável na intervenção sobre os ambientes natural e construído e da incolumidade das pessoas, de seus bens e de seus valores; Da liberdade e segurança profissionais VII - A profissão é de livre exercício aos qualificados, sendo a segurança de sua prática de interesse coletivo. 4 - Dos deveres Art. 9º - No exercício da profissão são deveres do profissional: I - ante o ser humano e seus valores: a. oferecer seu saber para o bem da humanidade; b. harmonizar os interesses pessoais aos coletivos; c. contribuir para a preservação da incolumidade pública; d. divulgar os conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos inerentes à profissão; II - Ante a profissão: a. identificar-se e dedicar-se com zelo à profissão; b. conservar e desenvolver a cultura da profissão; c. preservar o bom conceito e o apreço social da profissão; d. desempenhar sua profissão ou função nos limites de suas atribuições e de sua capacidade pessoal de realização; e. empenhar-se com os organismos profissionais no sentido da consolidação da cidadania e da solidariedade profissional e da coibição das transgressões éticas;TÓPICO 1 | ÉTICA 107 III - Nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores: a. dispensar tratamento justo a terceiros, observando o princípio da equidade; b. resguardar o sigilo profissional quando do interesse de seu cliente ou empregador, salvo em havendo a obrigação legal da divulgação ou da informação; c. fornecer informação certa, precisa e objetiva em publicidade e propaganda pessoal; d. atuar com imparcialidade e impessoalidade em atos arbitrais e periciais; e. considerar o direito de escolha do destinatário dos serviços, ofertando-lhe, sempre que possível, alternativas viáveis e adequadas às demandas em suas propostas; f. alertar sobre os riscos e responsabilidades relativos às prescrições técnicas e às consequências presumíveis de sua inobservância; g. adequar sua forma de expressão técnica às necessidades do cliente e às normas vigentes aplicáveis; IV - Nas relações com os demais profissionais: a. atuar com lealdade no mercado de trabalho, observando o princípio da igualdade de condições; b. manter-se informado sobre as normas que regulamentam o exercício da profissão; c. preservar e defender os direitos profissionais; V - Ante o meio: a. orientar o exercício das atividades profissionais pelos preceitos do desenvolvimento sustentável; b. atender, quando da elaboração de projetos, execução de obras ou criação de novos produtos, aos princípios e recomendações de conservação de energia e de minimização dos impactos ambientais; c. considerar em todos os planos, projetos e serviços as diretrizes e disposições concernentes à preservação e ao desenvolvimento dos patrimônios sócio- cultural e ambiental. 5 - Das condutas vedadas Art. 10 - No exercício da profissão são condutas vedadas ao profissional: I - Ante o ser humano e seus valores: a. descumprir voluntária e injustificadamente com os deveres do ofício; b. usar de privilégio profissional ou faculdade decorrente de função de forma abusiva, para fins discriminatórios ou para auferir vantagens pessoais; UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 108 c. prestar de má-fé orientação, proposta, prescrição técnica ou qualquer ato profissional que possa resultar em dano às pessoas ou a seus bens patrimoniais; II - Ante a profissão: a. aceitar trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa para os quais não tenha efetiva qualificação; b. utilizar indevida ou abusivamente do privilégio de exclusividade de direito profissional; c. omitir ou ocultar fato de seu conhecimento que transgrida à ética profissional; III - Nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores: a. formular proposta de salários inferiores ao mínimo profissional legal; b. apresentar proposta de honorários com valores vis ou extorsivos ou desrespeitando tabelas de honorários mínimos aplicáveis; c. usar de artifícios ou expedientes enganosos para a obtenção de vantagens indevidas, ganhos marginais ou conquista de contratos; d. usar de artifícios ou expedientes enganosos que impeçam o legítimo acesso dos colaboradores às devidas promoções ou ao desenvolvimento profissional; e. descuidar com as medidas de segurança e saúde do trabalho sob sua coordenação; f. suspender serviços contratados, de forma injustificada e sem prévia comunicação; g. impor ritmo de trabalho excessivo ou exercer pressão psicológica ou assédio moral sobre os colaboradores; IV - Nas relações com os demais profissionais: a. intervir em trabalho de outro profissional sem a devida autorização de seu titular, salvo no exercício do dever legal; b. referir-se preconceituosamente a outro profissional ou profissão; c. agir discriminatoriamente em detrimento de outro profissional ou profissão; d. atentar contra a liberdade do exercício da profissão ou contra os direitos de outro profissional; V - Ante o meio: a. prestar de má-fé orientação, proposta, prescrição técnica ou qualquer ato profissional que possa resultar em dano ao ambiente natural, à saúde humana ou ao patrimônio cultural. TÓPICO 1 | ÉTICA 109 6 - Dos direitos Art. 11 - São reconhecidos os direitos coletivos universais inerentes às profissões, suas modalidades e especializações, destacadamente: a. à livre associação e organização em corporações profissionais; b. ao gozo da exclusividade do exercício profissional; c. ao reconhecimento legal; d. à representação institucional. Art. 12 - São reconhecidos os direitos individuais universais inerentes aos profissionais, facultados para o pleno exercício de sua profissão, destacadamente: a. à liberdade de escolha de especialização; b. à liberdade de escolha de métodos, procedimentos e formas de expressão; c. ao uso do título profissional; d. à exclusividade do ato de ofício a que se dedicar; e. à justa remuneração proporcional à sua capacidade e dedicação e aos graus de complexidade, risco, experiência e especialização requeridos por sua tarefa; f. ao provimento de meios e condições de trabalho dignos, eficazes e seguros; g. à recusa ou interrupção de trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa quando julgar incompatível com sua titulação, capacidade ou dignidade pessoais; h. à proteção do seu título, de seus contratos e de seu trabalho; i. à proteção da propriedade intelectual sobre sua criação; j. à competição honesta no mercado de trabalho; k. à liberdade de associar-se a corporações profissionais; l. à propriedade de seu acervo técnico profissional. 7 - Da infração ética Art. 13 - Constitui-se infração ética todo ato cometido pelo profissional que atente contra os princípios éticos, descumpra os deveres do ofício, pratique condutas expressamente vedadas ou lese direitos reconhecidos de outrem. Art. 14 - A tipificação da infração ética para efeito de processo disciplinar será estabelecida, a partir das disposições deste Código de Ética Profissional, na forma que a lei determinar. Veja parte do código de ética médica do Conselho Federal de Medicina. Disponível em: <www.crea-sc.org.br/portal/lib/download.php?id=16>. Acesso em: 24 mar. 2013. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 110 Comissão Permanente de Estudos do Código de Ética (COPECE) Veja parte do código de ética médica do Conselho Federal de Medicina. CAPÍTULO I PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza. II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. III - Para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa. IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão. V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente. VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade. VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente. VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.IX - A Medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida como comércio. X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa. TÓPICO 1 | ÉTICA 111 XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em lei. XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser humano, pela eliminação e pelo controle dos riscos à saúde inerentes às atividades laborais. XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida. XIV - O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços médicos e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde. XV - O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração digna e justa, seja por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu aprimoramento técnico-científico. XVI - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição, pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios cientificamente reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento do diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em benefício do paciente. XVII - As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente. XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de denunciar atos que contrariem os postulados éticos. XIX - O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos profissionais, resultantes de relação particular de confiança e executados com diligência, competência e prudência. XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo. XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 112 FONTE: Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/integra_1.asp>. Acesso em: 27 jan. 2013. Caro(a) acadêmico(a), vimos apenas parte do código de ética do conselho federal de Medicina, você pode consultar no site pesquisado o código completo. Os códigos de ética apresentados têm algo em comum: o respeito à vida e a todos os seres humanos, a integridade, a verdade, a honestidade, a justiça, a equidade, a lealdade, a responsabilidade, a transparência, a legalidade, a impessoalidade. A coerência entre o discurso e a prática são os princípios éticos que devem nortear as ações de qualquer organização ou classe de profissionais que se julga ética. 4.1 CÓDIGO DE ÉTICA OU GUIA DE CONDUTA Veja, a seguir, uma publicação sobre código de ética. CÓDIGO DE ÉTICA Maria do Carmo Whitaker* Maria Cecilia Coutinho de Arruda* O código de ética é um instrumento de realização dos princípios, visão e missão da empresa. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e explicitar a postura social da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage. É da máxima importância que seu conteúdo seja refletido nas atitudes das pessoas XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção e independência, visando ao maior benefício para os pacientes e a sociedade. XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa. XXV - Na aplicação dos conhecimentos criados pelas novas tecnologias, considerando-se suas repercussões tanto nas gerações presentes quanto nas futuras, o médico zelará para que as pessoas não sejam discriminadas por nenhuma razão vinculada à herança genética, protegendo-as em sua dignidade, identidade e integridade. TÓPICO 1 | ÉTICA 113 5 VANTAGENS DOS CÓDIGOS DE ÉTICA As empresas estão implantando códigos de ética por vários motivos. Segue uma relação dos principais: • Fornecer critérios ou diretrizes para que as pessoas se sintam seguras ao adotarem maneiras éticas de se conduzir. • Garantir homogeneidade na maneira de encaminhar questões específicas. a que se dirige e encontre respaldo na alta administração da empresa que, tanto quanto o último empregado contratado, tem a responsabilidade de vivenciá-lo. Para definir sua ética, sua forma de atuar no mercado, cada empresa precisa saber o que deseja fazer e o que espera de cada um dos funcionários. As empresas, assim como as pessoas, têm características próprias e singulares. Por essa razão os códigos de ética devem ser concebidos por cada empresa que deseja dispor desse instrumento. Códigos de ética de outras empresas podem servir de referência, mas não servem para expressar a vontade e a cultura da empresa, que pretende implantá-lo. O próprio processo de implantação do código de ética cria um mecanismo de sensibilização de todos os interessados, pela reflexão e troca de ideias que supõe. FONTE: Disponível em: http://www.eticaempresarial.com.br/site pg.asp?codigo=297&pag=2&subca t=2&tit=2&m=1&mdata=sim&ordenacao=DESC&mcat=2&nomecat=n&pagina=detalhe_ artigo&tit_pagina=C%D3DIGO%20DE%20%C9TICA>. Acesso em: 21 jan. 2013 O código de ética deve ser concebido pela própria empresa, expressando sua cultura. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e explicitar a postura da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage. É um instrumento que serve de inspiração para as pessoas que aderem a ele e se comprometem com seu conteúdo. É imperioso que haja consistência e coerência entre o que está disposto no código de ética e o que se vive na organização. Se o código de conduta de fato cumprir o seu papel, sem dúvida significará um diferencial que agregará valor à empresa. IMPORTANT E Agora que você possui a definição sobre ética, o que é um código de ética, você precisa saber quais são as vantagens da ética nos negócios. É exatamente o que faremos na sequência. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 114 • Aumentar a integração entre os funcionários da empresa. • Favorecer ótimo ambiente de trabalho que desencadeia a boa qualidade da produção, alto rendimento e, por via de consequência, ampliação dos negócios e maior lucro. • Criar nos colaboradores maior sensibilidade que lhes permita procurar o bem- estar dos clientes e fornecedores e, em consequência, sua satisfação. • Estimular o comprometimento de todos os envolvidos na elaboração do documento. • Proteger interesses públicos e de profissionais que contribuem para a organização. • Facilitar o desenvolvimento da competitividade saudável entre concorrentes. • Consolidar a lealdade e a fidelidade do cliente. • Atrair clientes, fornecedores, colaboradores e parceiros que se conduzem dentro de elevados padrões éticos. • Agregar valor e fortalecer a imagem da empresa. • Garantir a sustentabilidade da empresa. Escrito por Maria do Carmo Whitaker e publicado originalmenteno livro “Ética na Vida das Empresas - Depoimentos e Experiências”, o artigo defende que o código de ética é um facilitador para se aliar lucros, produtividade, qualidade e eficiência de produtos e serviços, além de outros valores intangíveis que advêm das pessoas que as integram às empresas, tais como honestidade, justiça, cooperação, compreensão. (WHITAKER, 2007). 6 ÉTICA NOS NEGÓCIOS Os líderes empresariais perceberam que a ética passou a ser um fator de competitividade. Por isso, é crescente a preocupação, entre os empresários brasileiros, com a adoção de padrões éticos para suas organizações. Sem dúvida, os integrantes dessas organizações serão analisados através do comportamento e das ações por eles praticadas, tendo como base um conjunto de princípios e valores. TÓPICO 1 | ÉTICA 115 Da mesma maneira que o indivíduo é analisado pelos seus atos, as empresas (que são formadas por indivíduos) passaram a ter sua conduta mais controlada e analisada, sobretudo após a edição de leis que visam à defesa de interesses coletivos (WHITAKER, 2007). 6.1 TODAS AS PESSOAS QUEREM SER ÉTICAS. E AS EMPRESAS? De modo muito simples e resumido, pode-se afirmar que é ético aquele que, livremente, com a consciência bem formada, responsabilidade e reta intenção, aplica a inteligência na procura da verdade e a vontade na busca do bem, em todas as circunstâncias. Nessa definição está a referência, o parâmetro da pessoa ética e pode-se afirmar, com toda segurança, que existem muitas pessoas que se esforçam para atingir essa meta. A fonte da Ética é a própria realidade humana, o ambiente em que se vive. Desta maneira, o ambiente de trabalho, no qual se passa grande parte do dia, se desenvolve em uma sucessão de escolhas para tomadas de decisões e de práticas de virtudes, que nada mais são do que os valores transformados em ação. A credibilidade de uma instituição é o reflexo da prática efetiva de valores como a integridade, honestidade, transparência, qualidade do produto, eficiência do serviço, respeito ao consumidor, entre outros. Conclui-se, portanto, que, quando se fala em empresa ética, faz-se referência às pessoas que nela trabalham, se são éticas e buscam a excelência. Que os princípios e valores eleitos pelos seus fundadores e que impregnam a cultura da organização são éticos. Que os seus colaboradores, desde a alta administração até o último contratado, zelam pela conduta ética, e procuram exercer a liberdade com responsabilidade, tanto no seu relacionamento interno, como com o público externo. Em resumo, as pessoas são éticas; a empresa é uma pessoa jurídica, porém constituída de pessoas. Então, a conduta desses refletirá na empresa que representam (WITAKER, 2007). 6.2 DOIS GRANDES DESAFIOS Na ética, distinguem-se dois grandes planos de ação que são propostos como desafios às organizações: UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 116 • Primeiro, em termos de projeção de seus valores para o exterior, fala-se em empresa cidadã, no sentido de respeito ao meio ambiente, incentivo ao trabalho voluntário, realização de algum benefício para a comunidade, responsabilidade social, sustentabilidade etc. • Segundo, sob a perspectiva de seu público mais próximo, como executivos, acionistas, empregados, colaboradores, fornecedores, envidam-se esforços para a criação de um sistema que assegure um modo ético de operar, sempre respeitando os princípios gerais da organização e os princípios do direito e da moral (WITAKER, 2007). IMPORTANT E Esses dois elementos são de fundamental importância para elaboração de um código de ética. São muito pesados os ônus impostos às empresas que, despreocupadas com a ética, enfrentam situações que, muitas vezes, em apenas um dia, destroem uma imagem que consumiu anos para ser conquistada. Multas elevadas, quebra da rotina, empregados desmotivados, fraude interna, perda da confiança na reputação da empresa, são exemplos desses ônus. Daí o motivo de muitas empresas terem adotado elevados padrões pessoais de conduta para seleção de seus empregados, cientes de que, atualmente, a integridade nos negócios exige profissionais altamente capazes de conciliar princípios pessoais e valores empresariais. 6.3 GESTÃO DA ÉTICA Ao lidar com pessoas, é imprescindível considerar a dignidade da pessoa, facilitando e promovendo o seu crescimento integral. Não se pode considerar as pessoas como simples elementos de produção e geração de lucros, que estão a serviço da empresa. Ao contrário, a empresa ética torna-se um instrumento do desenvolvimento econômico, a serviço da mulher e do homem integral, um campo riquíssimo de aperfeiçoamento da pessoa. O empresário ético, que tem visão de futuro, investe na formação de seus colaboradores e conquista o seu comprometimento; lança desafios para que cresçam e se superem (WITAKER, 2007). TÓPICO 1 | ÉTICA 117 Por essa razão, muitas empresas de respeito empreendem um esforço organizado, a fim de encorajar a conduta ética entre seus empregados. Para tanto, implantam códigos de ética, reciclam o aprendizado de seus executivos e colaboradores, idealizam programas de treinamento, criam comitês de ética, capacitam líderes que percorrem os estabelecimentos da organização incentivando o desenvolvimento de um clima ético. Nessa perspectiva, servem-se de consultores externos que os assessoram na elaboração de códigos de conduta e no desenvolvimento do clima ético, sensibilizando seus integrantes, mediante cursos e palestras, participando ativamente de treinamentos, procurando adequar tudo à legislação e aos critérios oferecidos por instituições internacionais de renome. 6.4 O EMPRESÁRIO ÉTICO NO SEU DIA A DIA Após inúmeras conversas e entrevistas com empresários que privilegiam a ética, foi possível identificar os seguintes itens em suas condutas: • Certificam-se de que sua consciência foi bem formada. • Seguem a voz de sua consciência. • Não transigem com seus princípios. • Agem com liberdade e responsabilidade. • Cercam-se de bons assessores. • Desenvolvem suas próprias competências e estabelecem planos estratégicos. • Aglutinam e mobilizam pessoas, estimulam iniciativas e novas ideias. • Conquistam a confiança de seus colaboradores e investem no seu treinamento. • Respeitam as pessoas, valorizando a dignidade de cada colaborador, cliente, fornecedor, concorrente e todas as demais pessoas de seu círculo de relacionamento (WITAKER, 2007). Pode-se concluir, portanto, que o código de ética é um facilitador para se aliar lucros, resultados, produtividade, qualidade e eficiência de produtos e serviços, além de outros valores típicos de empresa, com valores intangíveis que advêm das pessoas que a integram, tais como: honestidade, justiça, cooperação, tenacidade, compreensão, exigência, prudência, determinação, entre outros. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 118 7 CONFRONTO DE DUAS ÉTICAS: ÉTICA DO CAPITAL X ÉTICA DO SOCIAL A principal característica da Ética do Capital é o lucro a qualquer custo, seja no meio empresarial, profissional ou pessoal. A necessidade de se obter resultados financeiros leva à competição em todos os meios, tornando as pessoas menos solidárias, mais individuais e consumistas. As consequências dessa prática levam a desigualdades, problemas sociais e ambientais, aumentando a corrupção e comprometendo a ética em todos os meios. O lucro em si, deixa de ser simples consequência do esforço e criatividade da organização, e se torna a meta em si mesmo. A busca do lucro e a necessidade de seu acúmulo contribuem para institucionalizar a competição como prática dominante. Lucro é o objetivo principal e preferencial que surge como uma necessidade de sobrevivência. O lucro gera e é retroalimentado pela tríade poder-consumo-dinheiro, quesão os mecanismos geradores de competitividade do mercado. Tudo é feito em função do mercado. Resumindo, tais consequências implantam um sistema de perversidades que criam um quadro de violência contra o meio ambiente e as causas sociais. Para legitimar esse novo sistema, surgiu uma nova ética, exaltando a técnica, a competitividade, o consumo e o mercado. 8 A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Em contrapartida, na ética do capital, temos a Ética da Responsabilidade Social, dentro da qual organizações modernas e conscientes estão atuando no espírito da cidadania empresarial. Vimos anteriormente que a Ética do Capital apresenta pontos negativos em comparação com a Ética da Responsabilidade Social. A Ética da RS representa comportamentos sociais responsáveis, a solidariedade, o pensamento coletivo e tem como consequências dessa prática a igualdade, menos problemas sociais e ambientais, fortalecendo a ética em todos os meios. A nova ética da responsabilidade social veio para superar os efeitos perversos da ética anterior, do domínio do lucro, dinheiro e consumismo. Essa mudança de panorama ocorre da seguinte maneira: TÓPICO 1 | ÉTICA 119 ÉTICA RESPONSABILIDADE SOCIAL ÉTICA DO CAPITAL Promove associativismo Promove Individualismo Ênfase na solidariedade Ênfase na competitividade Prevalece o debate civilizatório Prevalece o discurso único do mercado Priorização dos problemas sociais Banalização dos problemas sociais Adoção de comportamentos éticos Adoção de comportamentos antiéticos Gera participação Gera alienação Enobrecimento e revigoramento do trabalho Deterioração do trabalho Exaltação do caráter das pessoas Contaminação do caráter das pessoas Redução das desigualdades Ampliação das desigualdades FONTE: Melo Neto; Froes (2004) QUADRO 5 – ÉTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL X ÉTICA DO CAPITAL Conforme verificamos acima, as éticas são antagônicas. Precisamos, então, encontrar a forma de subsistência da melhor ética ou fusão de ambas, pois, sem recursos, uma organização não terá condições de praticar ações de caráter social. No próximo tópico, vamos estudar um pouco mais sobre responsabilidade social em complemento ao assunto estudado nesse tópico. NOTA Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conhecimentos, sugerimos a leitura dos textos sobre ética, constantes dos seguintes sites: <www.sun.com/emrkt/boardroom/newsletter/brazil/0907expertinsight.html>. <www.fafibe.br/revistaonline/arquivos/wellington_responsabilidade_social_etica_nos_ negocios.pdf>. 120 RESUMO DO TÓPICO 1 Nesse tópico, caro(a) acadêmico(a), você pôde estudar os seguintes itens referentes à administração ambiental: • Foram abordadas noções de ética, valores morais e cultura em relação à responsabilidade social. A partir disso, oferecemos algumas indicações sobre como pensar a responsabilidade social, tomando a ética como ponto de partida. • Os pontos apresentados mostram que ser socialmente responsável nos negócios vem se tornando imprescindível para as empresas. • É cada vez maior a importância da relação entre a ética do capital e a ética do social, que cada vez mais essas éticas estarão entrelaçadas e precisarão conviver em harmonia. 121 AUTOATIVIDADE Realize uma pesquisa sobre os códigos de ética existentes no Brasil. Trace um comparativo entre os mesmos. Utilize, no máximo, cinco códigos. Ex: Código de ética dos profissionais liberais, médicos, professores, servidores públicos, advogados e outros. 122 123 TÓPICO 2 RESPONSABILIDADE SOCIAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico, trataremos do tema responsabilidade social. Mas, exatamente, o que é responsabilidade social? Muito se tem falado nos últimos tempos sobre essa questão, mas, exatamente, por que ela se tornou tão importante? Talvez, por causa do aumento da complexidade dos negócios, em decorrência da globalização e da velocidade das inovações tecnológicas, talvez devido ao aumento da conscientização empresarial, verificando que as empresas também possuem um papel social para diminuir a crescente disparidade e desigualdade na nossa sociedade atual. Seja qual for o motivo, todos estão obrigando as empresas atuais a repensar suas estratégias, buscando novas maneiras de obter lucro, porém, potencializando o desenvolvimento econômico, social e ambiental. 2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL A ideia de uma responsabilidade social das empresas não é nova. Já em 1920, Henry Ford defendia que as empresas tinham de participar no bem-estar coletivo. Também não é uma ideia que ressurgiu agora, como uma moda. É um valor que foi crescendo, evoluindo, tomando corpo até adquirir uma dimensão universal. De qualquer maneira, as origens e os exemplos de uma política socialmente responsável por parte das empresas vêm de longe e estão, por vezes, ligados a credos religiosos. O primeiro fundo de investimento socialmente responsável tem também origem religiosa. Denominado Pioneer Fund, foi lançado em 1928, pela Igreja Evangelista Americana, e opunha-se ao consumo do álcool e do tabaco. Em 1908, ainda nos Estados Unidos, o Conselho Federal das Igrejas lança um documento que ainda hoje, um século mais tarde, se mantém atual. Nesse UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 124 documento, o conselho manifesta-se a favor de direitos iguais e de justiça para todos, sem discriminação, da abolição do trabalho infantil, do fim da exploração dos trabalhadores, de uma diminuição progressiva das horas de trabalho, da proteção dos trabalhadores contra os perigos ligados às máquinas e contra as doenças profissionais, entre outros. Até aqui referimos apenas iniciativas tomadas por empresas e por instituições, mas o desenvolvimento do conceito de Responsabilidade Social teve, por outro lado, a pressão dos consumidores, a exigência por parte das comunidades de uma nova postura das empresas, que, muitas vezes, chega a ser confundida com a luta pelos direitos cívicos. Mas é no final dos anos sessenta que os movimentos dos consumidores, exigindo uma nova postura das empresas, tomam posição de uma maneira mais sistemática e generalizada. Foi o início da Responsabilidade Social das empresas, tal como a entendemos hoje, é o momento de as empresas assumirem essa responsabilidade de modo mais concentrado e de surgirem os primeiros esboços de relatórios de Responsabilidade Social. No final dos anos sessenta/setenta, a emergência dos movimentos ambientalistas e a crise petrolífera fizeram dos recursos naturais, da energia e do ambiente em geral, temas de importância política, econômica e social. A partir daí, o crescimento tem continuado a pequenos passos, mas de maneira sistemática e tendo como base orientações internacionais. A implantação do conceito dentro das empresas é ainda variável, mas, a nível das grandes multinacionais, podemos, hoje, verificar que quase todas realizam o seu relatório de Responsabilidade Social, no qual expressam os seus compromissos em relação ao ambiente, aos colaboradores e à comunidade. Esta ação das multinacionais tem contribuído e estimulado para a implementação de políticas socialmente responsáveis. Quando uma empresa abre uma fábrica em outro país, está, de algum modo, exportando para esse mesmo país a sua cultura. Frequentemente, é possível encontrar nas multinacionais traduções dos seus códigos de boas práticas, na língua do país em que estão implantadas, e dos seus procedimentos definidos em nível mundial. NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/ responsabilidade-social-na-empresa/responsabilidade-social-na-empresa2.shtml>. Acesso em: 21 jan. 2013. TÓPICO 2 | RESPONSABILIDADE SOCIAL 125 3 O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL? A expressão “responsabilidade social” suscitauma série de interpretações. Para alguns, representa a ideia de responsabilidade ou obrigação legal; para outros, é um dever que impõe às empresas padrões muito mais altos de comportamento que os do cidadão comum. Há outros que traduzem como prática social, papel social ou função social. Há ainda a visão de comportamento eticamente responsável ou uma contribuição caridosa. Bowen (1957) definiu responsabilidade social como “a obrigação dos homens de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com os fins e valores da sociedade”. Biroui (apud ASHLEY, 2003) definiu como “responsabilidade daquele que é chamado a responder pelos atos face à sociedade ou à opinião pública [...] na medida em que tais atos assumam dimensões ou consequências sociais.” Em 2001, a Comissão Europeia lançou o Livro Verde para a Responsabilidade Social e incentivou as empresas cotadas em Bolsa, que integram um mínimo de 500 trabalhadores, a publicar os seus relatórios anuais de maneira tripartida, ou seja, tendo em atenção os critérios sociais, ambientais e econômicos. Esta medida foi já adotada pela França. A Comissão apelou ainda para que, até 2004, em todos os estados membros, sejam desenvolvidos diretrizes e critérios comuns para a elaboração generalizada, por parte das empresas, de relatórios de Responsabilidade Social. Hoje em dia temos novos conceitos, como Sustentabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável, mas todos tiveram origem na Responsabilidade Social. Porém, estes novos conceitos confundem-se entre si, de tão entranhados que são, pois exigem por parte das empresas que levem em conta não só os aspectos econômicos, mas também os aspectos sociais e ambientais. NOTA A responsabilidade social, assim como o conceito da mesma, não é algo estático, está em contínuo processo de evolução, conforme será abordado nos próximos itens. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 126 Mas, então, o que é realmente responsabilidade social? Concluímos, na realidade, que responsabilidade social é o somatório de todas as definições apresentadas acima, em que a responsabilidade é o compromisso que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade de vida dos empregados, familiares e comunidade em geral. 4 RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA QUEM? Segundo Bowen, há cinco tipos de públicos beneficiados pela responsabilidade social: funcionários, clientes, fornecedores, competidores, entre outros, com os quais a empresa mantém relacionamentos de qualquer natureza, ou seja, responsabilidade social engloba o público interno e externo, que possui um relacionamento de qualquer nível e espécie com a empresa em questão e não se restringe somente à área social, ou privilegia uma categoria em particular, conforme demonstrado na figura a seguir. FONTE: Ashley (2003) FIGURA 10 – VETORES DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ESTUDOS FU TUROS Grave a definição de responsabilidade, mais tarde será elemento de apoio ao texto e distinção para novos conceitos. TÓPICO 2 | RESPONSABILIDADE SOCIAL 127 5.2 HISTÓRICO Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à Guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas ao conflito. A sociedade exigia uma nova postura ética e diversas empresas passaram a prestar contas de suas ações e objetivos sociais. A elaboração e divulgação anual de relatórios com informações de caráter social resultaram no que hoje se chama de balanço social. 5 BALANÇO SOCIAL A seguir, veja o que é balanço social, o histórico, por que fazer e os benefícios. 5.1 O QUE É? O balanço social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa, reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa. No balanço social, a empresa mostra o que faz por seus profissionais, dependentes, colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que buscam melhorar a qualidade de vida para todos. Sua função principal é tornar pública a responsabilidade social empresarial, construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente. O balanço social é uma ferramenta que, quando construída por múltiplos profissionais, tem a capacidade de explicitar e medir a preocupação da empresa com as pessoas e a vida no planeta. NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua. exe/sys/start.htm?sid=2>. Acesso em: 21 jan. 2013. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 128 No Brasil a ideia começou a ser discutida na década de 70. Contudo, apenas nos anos 80 surgiram os primeiros balanços sociais de empresas. A partir da década de 90, corporações de diferentes setores passaram a publicar o balanço social anualmente. 5.3 POR QUE FAZER? O balanço social tornou-se um importante instrumento de divulgação utilizado pelas organizações para explicitar todas as ações sociais realizadas anualmente. Veja a seguir outras justificativas da importância do balanço do social, em complemento ao assunto abordado: • Porque é ético... justo, bom e responsável já é um bem em si mesmo. • Porque agrega valor... o balanço social traz um diferencial para a imagem da empresa que vem sendo cada vez mais valorizado por investidores e consumidores no Brasil e no mundo. • Porque diminui os riscos... num mundo globalizado, em que as informações sobre empresas circulam através dos mercados internacionais em minutos, uma conduta ética e transparente tem que fazer parte da estratégia de qualquer organização nos dias de hoje. • Porque é um moderno instrumento de gestão... o balanço social é uma valiosa ferramenta para a empresa gerir, medir e divulgar o exercício da responsabilidade social em seus empreendimentos. • Porque é instrumento de avaliação... os analistas de mercado, investidores e órgãos de financiamento (como BNDES, BID e IFC) já incluem o balanço social na lista dos documentos necessários para se conhecer e avaliar os riscos e as projeções de uma empresa. • Porque é inovador e transformador... realizar e publicar balanço social anualmente é mudar a antiga visão, indiferente à satisfação e ao bem-estar dos funcionários e clientes, para uma visão moderna, em que os objetivos da empresa incorporam as práticas de responsabilidade social e ambiental. NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua. exe/sys/start.htm?sid=2>. Acesso em: 21 jan. 2013. TÓPICO 2 | RESPONSABILIDADE SOCIAL 129 5.4 OS BENEFICIÁRIOS O balanço social favorece a todos os grupos que interagem com a empresa. Aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos programas sociais que a empresa desenvolve. Seu processo de realização estimula a participação dos funcionários e funcionárias na escolha das ações e projetos sociais, gerando um grau mais elevado de comunicação interna e integração nas relações entre dirigentes e o corpo funcional. Aos fornecedores e investidores, informa como a empresa encara suas responsabilidades em relação aos recursos humanos e à natureza, o que é um bom indicador da maneira como a empresa é administrada. Para os consumidores, dá uma ideia de qual é a postura dos dirigentes e a qualidade do produto ou serviço oferecido, demonstrando o caminho que a empresa escolheu para construir sua marca. E ao Estado ajuda na identificação e na formulação de políticas públicas. Enfim, como disse Betinho, “o balanço social não tem donos, só beneficiários”. NOTA NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=2>. Acesso em: 21 jan. 2013. Este conteúdo está disponível em: <http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua. exe/sys/start.htm?sid=2>. Acesso em: 21 jan. 2013. DICAS Como sugestão, leia: • Ética e cidadania, um livro de Herbert José de Souza (Betinho), da Editora Moderna; • Cidadania corporativa: a gestão da ética nas empresas. Disponível em: <http://www.socialtec. org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=149:cidadania-corporativa-a-gestao- da-etica-nas-empresas&catid=25:responsabilidade-social&Itemid=2>. UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 130 6 TENDÊNCIAS E DESAFIOS PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS NEGÓCIOS Muito debatida no meio empresarial, a responsabilidade social vem se tornando, em muitos casos, um referencial de excelência para o mundo dos negócios, sob a perspectiva de um modelo de desenvolvimento sustentável, que resulta da harmonia entre as dimensões econômica, social e ambiental. Esse novo modelo de gestão desencadeou uma série de iniciativas, discussões e atitudes que deslocaram o foco da exploração para a preservação, impondo aos humanos o desafio de tornar a vida no planeta não apenas viável no presente, mas também no futuro. No âmbito empresarial, a responsabilidade social é o conceito que alinha o comportamento das organizações às perspectivas da sustentabilidade. E é seguindo essa tendência que a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ou Empresarial (RSE) evolui a cada dia, acompanhando a mudança do pensamento social sobre a manutenção da vida. Consumidores mais exigentes, empresas comprometidas com valores éticos universais, como o respeito aos direitos humanos, compõem uma combinação que vem transformando sociedades e desafiando as empresas na melhoria contínua em questão de padrões de produção e consumo que inviabilizam a vida no planeta. No que tange ao desenvolvimento das práticas voltadas à responsabilidade social corporativa, estas têm sido, significativamente, influenciadas pela evolução da normalização em sistemas da gestão empresarial que, por sua vez, vem possibilitando avaliar a conformidade do Sistema da Gestão da Responsabilidade Social - SGRS. (SORATTO ET AL., 2006, p.1). Podemos resumir que, num futuro próximo, empresas que não adotarem sistemas de responsabilidade social serão marginalizadas no mercado, pondo em risco até sua própria sobrevivência. Então, visto ser essa tendência irreversível, resta aos empresários um único caminho - a implantação de um SGRS ou a estagnação econômico-socioambiental de seu negócio até sua inexistência. 7 DA RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA A SUSTENTABILIDADE SOCIAL O conceito de sustentabilidade empresarial estava associado à questão da preservação ambiental. Uma empresa era socialmente sustentável, ou melhor, ambientalmente sustentável, se praticasse ações de desenvolvimento e preservação do seu capital natural, ou seja, sustentabilidade era basicamente sinônimo de meio ambiente. A sustentabilidade era uma dimensão da gestão ambiental e não social. Uma empresa socialmente sustentável era ecologicamente responsável. TÓPICO 2 | RESPONSABILIDADE SOCIAL 131 FONTE: Melo Neto; Froes (2004) FIGURA 11 – NOVAS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL Então, de uma visão estreita de responsabilidade empresarial centrada no meio ambiente, evolui-se para um termo mais amplo, conhecido como sustentabilidade, centrada no crescimento econômico, equilíbrio social e também na proteção ambiental. De acordo com este novo modelo, a empresa socialmente responsável e sustentável é aquela que atua nas três dimensões. Portanto, as empresas que adotam esse novo modelo devem criar e aprimorar novos mecanismos de gestão. A seguir, veja o artigo sobre sustentabilidade social. O que então impactou para mudança desse raciocínio? Foi principalmente o equilíbrio social, ou melhor, o desequilíbrio social como questão central, conforme demonstrado na figura 7. SUSTENTABILIDADE SOCIAL TAMBÉM É FUNDAMENTAL Raquel Nunes Nunca se falou tanto em sustentabilidade e em meio ambiente como nos dias de hoje. E é mesmo importante que as pessoas compreendam que a importância de se conservar os recursos naturais e levar uma vida mais condizente com a capacidade de produção e renovação dos recursos UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 132 planetários é nossa única chance de continuarmos ainda por um longo tempo por aqui. Contudo, o que muitos esquecem é de que nada adianta um meio ambiente cuidado e vigiado, bem como empreendimentos voltados para a preservação ambiental e para a sustentabilidade, se não forem observadas a manutenção e o oferecimento das condições mais básicas de vida para as populações inseridas no contexto desse mesmo meio ambiente. Para isso, a necessidade de ampliar-se a sustentabilidade ambiental, para que alcançasse também as pessoas, deu surgimento ao termo sustentabilidade social. Sim, porque da mesma forma que é necessário preservar os recursos ambientais de uma determinada região, é necessário que as pessoas que nela vivem o façam de forma completa e satisfatória. Desta forma, os habitantes locais serão muito mais facilmente permeáveis às ideias conservacionistas e se dedicarão com muito mais afinco à conservação e à evolução de comportamentos e tradições mais responsáveis em relação ao meio ambiente que as cerca. Pois onde há miséria, carências de toda espécie, pobreza extrema e a falta das mais básicas condições de vida, é impossível exigir-se, ou sequer sonhar, que as pessoas envolvidas nesse mar de carências se preocupem com a preservação do que quer que seja. Afinal de contas, ninguém pode se preocupar com o perigo de extinção do pássaro “negro de quatro olhos”, enquanto morre de fome à míngua e o pássaro dá um “caldo gostoso”. Por isso, todo o planejamento para tornar um determinado empreendimento sustentável deve, antes de qualquer coisa, levar em consideração a aplicação da sustentabilidade social. Perceber a importância desse fator e desse imperativo é a diferença entre o sucesso e o fracasso de quaisquer políticas ambientais que se desejem implantar. E compreender o quão difícil é preocupar-se com o ambiente e com a conservação da natureza enquanto se morre de fome, caminha-se no esgoto e bebe-se da água mais poluída possível, é a chave para o sucesso desses projetos. Assim, a sustentabilidade social deve preceder qualquer outra prática. No entanto, nem sempre é assim que acontece. Muitos governos e empresas jogam determinações para serem cumpridas de “cima para baixo” e sem entender a realidade que aflige determinado grupo humano. Um exemplo bem claro disso é o que ocorre na Amazônia. Proíbem-se as madeireiras e se deseja combater a exploração ilegal do lugar. Contudo, não se criam oportunidades de emprego e renda nas cidades que estão às margens da floresta e, muito menos, nas que estão localizadas dentro dessas áreas. O resultado é líquido e certo: entre morrer de fome e deixar a floresta vicejar ou aceitar o emprego na madeireira, botar as árvores abaixo e ir dormir todos os dias com a barriga cheia e aquecida, qual opção você escolheria? E é exatamente o que ocorre por lá. O povo inverteu a “ordem natural das coisas” e aliou- se aos criminosos, pois eles são a sua única fonte de renda e de sustento no TÓPICO 2 | RESPONSABILIDADE SOCIAL 133 meio da selva. Quando chegam os órgãos governamentais de meio ambiente e combatem as madeireiras, eles é que são considerados os inimigos. Se os preceitos de sustentabilidade social tivessem sido aplicados por lá, a história com toda a certeza seria muito diferente e o governo federal teria o apoio quase total dos moradores e habitantes daquela região. Essa é a importância e a relevância que deve ser dada e a urgência com que esse conceito deve ser debatidoe introduzido o mais rapidamente possível em todas as deliberações que tenham o tema sustentabilidade como pauta. Sustentabilidade social é e sempre será o início de qualquer projeto de sustentabilidade econômica ou ambiental que se preze. A figura a seguir apresenta as dimensões do novo modelo de responsabilidade e sustentabilidade social: FONTE: Disponível em: <http://www.ecologiaurbana.com.br/sustentabilidade/sustentabilidade- social-tambem-e-fundamental/>. Acesso em: 27 jan. 2013. FONTE: Melo Neto; Froes (2004) FIGURA 12 – MODELO DE RESPONSABILIDADE E SUSTENTABILIDADE SOCIAL UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 134 Portanto, uma empresa socialmente responsável e sustentável atua nestas três dimensões: na preservação ambiental, no fomento ao desenvolvimento econômico e na promoção da igualdade social. Durante o estudo sobre a responsabilidade social, verifica-se a relevante importância das organizações sobre as questões sociais, ambientais e econômicas. Uma empresa responsável também é uma empresa ética, isto é, idônea, na forma como se relaciona com a sociedade, incluindo seus funcionários. A partir do exposto, verifica-se que as questões sociais são de fundamental importância para qualquer estrutura empresarial. Atualmente, há uma mudança na cultura das empresas, que passam a se preocupar, cada vez mais, com a cidadania que está se transformando em agentes de renovação no mundo dos negócios. Com isso, percebe-se a preocupação que existe hoje por parte das empresas através da divulgação do seu balanço social, que evidencia os investimentos nas questões socioambientais. 135 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você teve oportunidade de estudar os seguintes itens referentes à administração ambiental: • A questão da responsabilidade social pode ser vista sob vários ângulos, como um conceito que está em evolução e que, portanto, necessita ser consolidado na sociedade. • Ao longo do tópico, vimos o termo responsabilidade social nos negócios e suas variantes, responsabilidade empresarial, responsabilidade social das empresas. Existem, ainda, outras não citadas, como responsabilidade corporativa. Entretanto, todas as terminologias possuem o mesmo significado, ou seja, a responsabilidade da empresa com a sociedade, através das diversas relações estabelecidas entre ambas as partes. 136 AUTOATIVIDADE Realize uma pesquisa sobre programas de responsabilidade social de melhor resultado no Brasil. Faça uma análise crítica, apresentando pontos fortes e fracos dos mesmos. Ex.: Boticário, Bradesco, Gessy Lever, Vale, Petrobras, Banco do Brasil, Johnson & Johnson etc. 137 TÓPICO 3 IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Relembrando nosso conceito de meio ambiente, abordado na Unidade 1, Tópico 1: meio ambiente não é somente fauna, flora ou recursos naturais, mas também todo integrante que nele esteja inserido, ou seja, seres humanos e suas atividades. Nesse tópico abordaremos justamente como as empresas impactam na sociedade e no meio ambiente, de maneira negativa e positiva, com suas consequências e tratativas que deveremos adotar. 2 AS RELAÇÕES DA EMPRESA COM A SOCIEDADE A empresa é o principal agente de transformação da sociedade, e vem assumindo novos papéis a cada dia. Verificamos que o Estado não tem sido bem- sucedido na diminuição das desigualdades sociais e na solução de um processo crescente de exclusão, não simplesmente econômico, mas das possibilidades de acesso a novas formas de trabalho, a novas maneiras de buscar o conhecimento, à criação de uma sociedade mais justa. Um dos desafios maiores da empresa, talvez, seja vencer a aparente contradição entre a sobrevivência e o crescimento, sem descuidar a humanização do trabalho e o resgate da dignidade da pessoa humana. Para a empresa, é importante ser reconhecida como uma empresa ética e socialmente responsável, seja no plano interno como na sociedade em que está inserida. A empresa atual tem que ser socialmente responsável. Isso ela o faz, também, gerando empregos, distribuindo riqueza, diminuindo a desigualdade social e distribuição, assumindo, então, um papel de liderança na transformação da sociedade atual para um futuro mais justo e equilibrado. 138 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 3 O QUE É UMA EMPRESA SOCIAL E AMBIENTALMENTE RESPONSÁVEL? Segundo o Portal Responsabilidade Social, a busca da responsabilidade social corporativa tem, de modo geral, as seguintes características: • É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus acionistas. Muito pelo contrário. O mercado deve agora prestar contas aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não governamental e ambiental e, por fim, às comunidades com que opera. Empresas só têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas representa uma mudança de comportamento da empresa, mas também significa maior legitimidade social. • É distributiva. A responsabilidade social nos negócios é um conceito que se aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum e, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo. Assim como consumidores, empresas também são responsáveis por seus fornecedores e devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços usados ao longo de seus processos produtivos. • É sustentável. Responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável, em relação ao ambiente e à sociedade, não só garante a não escassez de recursos, mas também amplia o conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não só se refere ao ambiente, mas, por via do fortalecimento de parcerias duráveis, promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento orientado. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais. • É transparente. A globalização traz consigo demandas por transparência. Não mais nos bastam os livros contábeis. Empresas são gradualmente obrigadas a divulgar sua performance social e ambiental, os impactos de suas atividades e as medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido, empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais, onde sua performance é aferida nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem em caráter voluntário, mas muitos preveem que relatórios socioambientais serão compulsórios num futuro próximo. FONTE: Disponível em: <http://www.responsabilidadesocial.com/institucional/institucional_view. php?id=1>. Acesso em: 27 jan. 2013. A dimensão socioambiental envolve muitas outras atividades, não apenas uso de papel reciclado em produtos e embalagens. Como exemplo, tem-se o uso de tecnologia limpa, implantação da gestão ambiental, política ambiental e outros procedimentos. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 139 SUA EMPRESA É SOCIALMENTE RESPONSÁVEL SE ELA FOR 1. Ecológica 5. Saudável 2. Filantrópica 6. Educativa 3. Flexível 7. Comunitária 4. Interessada 8. Íntegra FONTE: BSR - Business for Social Responsibility QUADRO 6 – OS MANDAMENTOS DA ÉTICA SOCIAL A filantropia é apenas uma ação que se insere no contexto mais amplo da responsabilidade social. Muitos especialistas não a consideram ação de responsabilidade social, mas um estágio de pré-responsabilidade social. A responsabilidade social exige da empresa uma gestão efetiva da sua força de trabalho, do ambiente de trabalho e da qualidadede vida no trabalho. Vai muito além do ajuste da jornada de trabalho às necessidades pessoais. O interesse da empresa por seus funcionários é apenas um dos indicadores da sua responsabilidade social. Não basta fazer pesquisas somente para conhecer os problemas dos funcionários, mas é necessário também pesquisar os problemas de seus familiares e dos prestadores de serviço. A ênfase na saúde dos funcionários extrapola questões como redução de peso e colesterol baixo, e engloba outras questões relacionadas à saúde mental, ocupacional e à segurança no trabalho. No campo da educação, o escopo é ainda maior - compreende ações de formação, treinamento e capacitação profissional, tanto para funcionários e seus dependentes, quanto para clientes, fornecedores e demais parceiros, além da sociedade e da comunidade. Em suas relações com a comunidade, a empresa socialmente responsável não se limita a ceder suas instalações para a prática esportiva e para atividades de cunho social e cultural dos alunos das escolas das redondezas. A amplitude é muito maior: ações de inserção social, ações de fomento do desenvolvimento social, ações de apoio social. A integridade é a base ética do comportamento da empresa socialmente responsável. É talvez a dimensão de maior amplitude. Envolve a ética não somente aplicada aos negócios (não lança mão de propaganda enganosa, vendas casadas e demais práticas de marketing desonesto), mas também em todo o ambiente organizacional. As empresas socialmente responsáveis destacam-se pelo seu padrão de comportamento social, econômico, cultural, político e ambiental. 140 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL O paradigma empresarial moderno é definido, atualmente, como cidadania empresarial, cujas principais características são: • alto comprometimento com a comunidade; • atua em parceria com o governo, demais empresas e entidades em programas e projetos sociais; • apresenta progressão de investimentos nas áreas sociais; • viabiliza projetos sociais independentemente dos benefícios fiscais existentes; • realiza ações sociais, cujo principal objetivo não é o marketing, mas um comprometimento efetivo com a comunidade; • seus funcionários, conscientes da responsabilidade social da empresa, atuam como voluntários em campanhas e projetos sociais; • os valores e princípios empresariais, além da missão e visão estratégica, incorporam responsabilidades diversas, envolvendo o seu relacionamento com o governo, clientes, fornecedores, comunidade, sociedade, acionistas e demais parceiros. A empresa socialmente responsável torna-se cidadã porque dissemina novos valores que restauram a solidariedade social, a coesão social e o compromisso social, com a equidade, a dignidade, a liberdade, a democracia e melhoria da qualidade vida de todos os que vivem na sociedade. IMPORTANT E NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://socibras.com.br/responsabilidadesocial/>. Acesso em: 27 jan. 2013. As características que definem a cidadania empresarial são o resumo das ações que empresas socialmente responsáveis devem praticar para serem consideradas atuantes nessa área. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 141 Com essa nova postura de responsabilidade social, as empresas passam por profundas mudanças em todos os campos, assim como nas questões ambientais. As decisões relacionadas ao meio ambiente tornaram-se importantes a ponto de influenciar nas práticas estratégicas das organizações. O que é uma empresa socialmente responsável no campo ambiental? O que vem a ser esta nova postura empresarial que caracteriza as relações da empresa com seu meio ambiente? Tal postura fundamenta-se nos seguintes parâmetros: • bom relacionamento com as comunidades; • bom relacionamento com os organismos ambientais; • estabelecimento de uma política ambiental; • eficiente sistema de gestão ambiental; • garantia de segurança dos empregados e das comunidades vizinhas; • uso de tecnologia limpa; • elevados investimentos em proteção ambiental; • definição de um compromisso ambiental; • associação das ações ambientais com os princípios estabelecidos na Carta para o Desenvolvimento Sustentável; • a questão ambiental como valor do negócio; • atuação ambiental com base na Agenda 21 local; • contribuição para o desenvolvimento sustentável dos municípios circunvizinhos. IMPORTANT E Da mesma maneira que no campo social, as posturas ambientais que caracterizam as empresas ambientalmente responsáveis são o resumo de ações que as mesmas devem praticar para serem consideradas atuantes nessa área. 142 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Além disso, a empresa deve implementar o seu sistema de gestão ambiental com base em três critérios básicos: realização de ações de treinamento e capacitação de recursos humanos; integração das ações de preservação ambiental com as ações de saúde e segurança industrial e certificação ambiental com base nas normas NBR ISO 14000 e Norma Britânica BS 8800. Portanto, uma empresa socialmente responsável no campo da preservação ambiental destaca-se pela sua excelência em política e gestão ambiental; pela sua atuação como agente de fomento do desenvolvimento sustentável local e regional, de preservação da saúde, da segurança e da qualidade de vida de seus empregados e da comunidade situada ao seu redor; e pela inserção da questão ambiental como valor de sua gestão e como compromisso, sob a forma de missão e visão do seu desempenho empresarial. 4 IMPACTO DAS EMPRESAS NA SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE Apesar do aumento crescente dos investimentos sociais, no Brasil e no mundo, é possível afirmar que a comunidade empresarial está dividida em dois segmentos. No primeiro, estão as empresas que privilegiam as atividades diretamente ligadas à rentabilidade dos seus negócios. Tais empresas creem que cumprem com a função social gerando empregos e pagando impostos. Elas veem iniciativas no campo social como responsabilidade do Estado, e, portanto uma função incompatível com os valores e natureza do mundo dos negócios. No segundo, estão as empresas que veem a responsabilidade e a sustentabilidade social como funções estratégicas destas organizações. Ambos os modelos diferem em um aspecto essencial. No primeiro caso, o exercício da responsabilidade social não é visto como parte integrante do portfólio de negócios da empresa; no segundo caso, a prática de ações socioambientais é vista como instrumento de gestão na procura da sustentabilidade. Como observamos, há uma grande polêmica em torno da extensão do exercício da responsabilidade social das empresas. Algumas firmas, atentas às necessidades do meio ambiente, acreditam que a função social das empresas é uma resposta a exigências de ordem moral, prática e baseada na realidade. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 143 4.1 IMPACTOS BENÉFICOS Os impactos benéficos das empresas estão ligados a ações do tipo: construção de equipamentos não poluentes, tecnologias limpas e reaproveitamento de resíduos. Com isso, as empresas desenvolvem e reconstroem o seu capital natural. Ao investirem no social, através de ações internas e externas (projetos sociais próprios e de terceiros) e abraçarem uma ou mais causas sociais, as empresas desenvolvem e reconstroem o seu capital social. Ao procederem dessa maneira, sustam o processo de deterioração crescente do seu capital natural e social, ou simplesmente não deixam tal fato ocorrer. E, assim, garantem a sustentabilidade do seu negócio, consolidam a sua imagem e a ação de empresa socialmente responsável e sustentável. 4.2 IMPACTOS NEGATIVOS Aos impactos negativos, as empresas possuem uma obrigação moral de remediá-los. Por que é umaobrigação moral? Porque as atividades empresariais contribuem significativamente para a deterioração do capital natural e social, como demonstrado na figura 9. Suas atividades, em muitos casos, causam danos irreparáveis ao meio ambiente (deterioração do capital natural) e, ao demitirem pessoas e utilizarem práticas trabalhistas não recomendáveis, também causam deterioração do capital social. É uma resposta prática, pois demanda das empresas conhecimento aprimorado de gestão social voltada para resultados de curto, médio e longo prazo. E é uma resposta empresarial baseada na realidade, porque compreende desafios urgentes e lida com obstáculos e limitações as mais diversas. A figura a seguir apresenta o quadro referencial dos danos causados pelas empresas e que justificam a sua atuação social como contrapartida. É o que denomina-se “base legitimadora das ações sociais”, cujos elementos estão demonstrados na figura. 144 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL FONTE: Melo Neto; Froes (2004) FIGURA 13 – DANOS CAUSADOS PELAS EMPRESAS (A BASE LEGITIMADORA DAS AÇÕES SOCIAIS) Verificamos que responsabilidade social e ética nos negócios vai além do cumprimento da legislação, isto é, cumprir a lei é uma obrigação básica das empresas. Acredita-se que as organizações que divulgam suas ações socioambientais já ultrapassaram esse nível e estão buscando fazer mais que suas obrigações. Existem, porém, muitas dificuldades por parte das empresas para cumprir o básico, conforme vamos verificar na publicação da sondagem especial sobre o meio ambiente, legislação e as indústrias. A INDÚSTRIA E O MEIO AMBIENTE Confrontadas com uma lista de seis opções, os problemas mais assinalados foram a demora na análise nos pedidos de licença e os custos dos investimentos necessários para atender às exigências requeridas pelo órgão ambiental responsável. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 145 As indústrias brasileiras estão conscientes da necessidade de adotarem práticas de gestão ambiental e pretendem ampliar seus investimentos destinados à proteção do meio ambiente. Não obstante, a grande maioria das empresas vem enfrentando dificuldades na relação com os órgãos ambientais face à necessidade de se cumprir exigências ambientais por vezes inadequadas sob o ponto de vista da aplicabilidade técnica e dos aspectos de sustentabilidade econômica. Das questões abordadas nesta Sondagem Especial, voltadas para aferir o processo de licenciamento ambiental e a relação empresa e órgãos público da gestão ambiental, destacam-se: os problemas relativos aos prazos para análise e deliberação das licenças, os custos elevados de todo o processo e o grande número de requisitos solicitados. Adicionalmente, a Sondagem investiga o comportamento da empresa frente aos procedimentos da autogestão ambiental e os investimentos em proteção do meio ambiente realizados em 2003 e previstos para 2004. Licenciamento Ambiental A grande maioria das empresas consultadas que já requisitaram licenciamento ambiental (74,5% das grandes e 71,3% das pequenas e médias) enfrentou alguma dificuldade para obtê-lo. Confrontadas com uma lista de seis opções, os problemas mais assinalados foram a demora na análise nos pedidos de licença e os custos dos investimentos necessários para atender às exigências requeridas pelo órgão ambiental responsável. Esses problemas foram selecionados, respectivamente, por 45% e 43,5% das empresas. As dificuldades apontadas já haviam sido detectadas em pesquisa anterior realizada pela CNI, em 1998, na qual esses problemas também foram os mais assinalados pelas empresas. Nesta Sondagem, a Região Sudeste apresentou o maior percentual de indústrias que declararam ter tido problemas no processo de licenciamento (78,3%), o que pode se justificar pela existência de órgãos públicos de gestão ambiental mais bem estruturados e atuantes. Já as indústrias da Região Centro-Oeste foram as que menos relataram dificuldades, embora o percentual continue elevado (63,6%). A Sondagem mostra que os setores industriais que mais registraram dificuldades em obter o licenciamento ambiental são: borracha (88,2%), papel e papelão (81,5%) e minerais não metálicos (78,4%). A indústria de produtos farmacêuticos apresentou o menor percentual de empresas que identificaram obstáculos (44,4%), o que pode ser justificado pelo fato de esse segmento já ter, em 1998, um percentual elevado de empresas com sistema de gestão ambiental implementado, como identificado na sondagem anterior. 146 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL O percentual de empresas consultadas que "nunca precisou requerer uma licença ambiental" não é desprezível: 16% do total da amostra. Tal resultado pode ser explicado pelo fato de que apenas os empreendimentos considerados efetiva ou potencialmente poluidores são obrigados a requerer o licenciamento ambiental. O maior percentual de empresas que já requisitaram licenças ambientais (91,4%) encontra-se na Região Norte, enquanto a Região Sudeste apresenta o menor (78,2%). Entre os elementos que podem explicar esta diferença, vale ressaltar o fato de que no Sudeste já foram implementados ou estão em implementação marcos regulatórios específicos que simplificam e modernizam os procedimentos de obtenção da licença ambiental. Relação das Empresas com os Órgãos Ambientais Entre as empresas de grande porte, 62,4% responderam ter enfrentado problemas com os órgãos ambientais. No caso das pequenas e médias empresas, esse percentual foi um pouco menor: 58,9%. Os requisitos exagerados de regulamentação ambiental e o alto custo para o seu cumprimento foram apontados como os principais causadores dos problemas. O terceiro item de desgaste identificado foi a complexidade da regulamentação ambiental. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 147 A região geográfica do país que registrou a maior proporção de indústrias com dificuldade na relação com os órgãos ambientais foi a Norte, com um percentual de 66,7%. No outro extremo, tem-se a Região Nordeste cujo percentual foi de 52,8%. Tais resultados devem-se, provavelmente, às características das principais atividades industriais desenvolvidas na região, bem como as estruturas dos órgãos ambientais ali existentes e a qualidade da implementação dos marcos regulatórios. Os setores de madeira (72,2%), química (70,3%) e minerais não metálicos (70,1%) foram os que apresentaram maior incidência de empresas que enfrentaram problemas na relação com os órgãos ambientais. O setor farmacêutico, novamente, aparece identificado como aquele que apresentou o menor número de empresas com esta dificuldade (33,3%). Gestão Ambiental A Sondagem sinaliza que a questão ambiental está cada vez mais integrada ao planejamento das empresas. Cerca de 80% das empresas pesquisadas realizaram procedimentos gerenciais associados à gestão ambiental, sendo que as indústrias de grande porte adotaram tais medidas em proporção maior do que as de pequeno e médio porte (87,7% e 72,2%, respectivamente). Observando-se a atuação das empresas por região geográfica, percebe-se que as localizadas na Região Norte são aquelas que mais adotaram procedimentos gerenciais de gestão ambiental (83,8%). As empresas da Região Centro-Oeste apresentaram o menor percentual de empreendimentos que adotam tais procedimentos (71,4%). Isso confirma o quadro identificado na Sondagem de 1998, que já apontava para o fato de que essas iniciativas poderiam estar relacionadas às características setoriais e de porte das indústrias predominantes na região. 148 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Os setores de bebidas (91,7%), farmacêutico (85,7%), química (84,7%), produtos alimentares (84,2%),minerais não metálicos (82,5%), madeira (82,1%) e material de transporte (81%) destacaram-se como os que mais implementaram medidas gerenciais associadas à gestão ambiental. O setor de vestuário e calçados foi o que apresentou o menor índice de atuação relacionada à gestão ambiental (58,8%). Indagadas sobre as principais razões para a adoção destes procedimentos, por meio de um conjunto de 12 opções, as empresas elegeram a necessidade de atender aos regulamentos ambientais, a busca de conformidade perante a política social da empresa e as exigências requeridas para o licenciamento ambiental como fatores mais importantes do que as motivações associadas à redução de custos. Destaca-se que a segunda razão mais assinalada - conformidade à política social da empresa - confere maior possibilidade de continuidade da ação ambiental. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 149 Pode-se sugerir, a partir da Sondagem, que as indústrias estão procurando minimizar, por meio da gestão ambiental estratégica, os eventuais conflitos advindos do processo de licenciamento ambiental e as dificuldades encontradas nas relações administrativas com os órgãos ambientais. Investimentos em Proteção Ambiental Em relação aos investimentos realizados pelas empresas com o objetivo de proteger o meio ambiente, a Sondagem revelou que, em média, 73% das indústrias destinaram recursos para esta finalidade em 2003. No ano corrente, o mesmo percentual de empresas pretende investir nesta área. Esse dado reafirma o fato de que o empresariado nacional está efetivamente compromissado com a proteção ambiental. Analisando os investimentos desagregados por região, verifica- se que, em 2003, a Região Norte foi a que registrou o maior percentual de empresas que investiram em proteção ambiental (79,2%). O número significativo de indústria do setor de madeira na Região Norte - atividade que apresenta substanciais possibilidades de impacto ambiental - justifica a maior preocupação das empresas da região em investir na proteção do meio ambiente. O previsto para 2004 é que a Região Norte permaneça como a que localiza o maior número relativo de empresas que investem em proteção ambiental (82,5%) e a Região Centro-Oeste passe a ser aquela que concentra o menor número relativo (62,7%). As empresas de vestuário e calçados foram as que menos investiram em proteção ambiental no ano passado (apenas 40% das empresas), enquanto o setor de bebidas foi o que apresentou o maior número relativo de empresas que investiram nesta área (94,7%). Em 2004, a expectativa é de que aquele setor permaneça como o que possui menos empresas que investem em proteção ambiental (apenas 40,5%), e de que o setor de madeira passe a apresentar o maior número relativo de empresas investindo nesta área (80,7%). Em 2003, das empresas que investiram em proteção ambiental, 58,5% destinaram até 2% dos seus investimentos totais para esta finalidade, enquanto 8,5% investiram mais de 10% dos seus investimentos totais em proteção do meio ambiente. Para 2004, porém, apesar da expectativa quanto ao número relativo de empresas que investirão em proteção ambiental ser praticamente igual ao observado em 2003, espera-se que o percentual relativo aos investimentos totais das empresas destinados para esta finalidade seja um pouco maior. A expectativa é de que, neste ano, o percentual de empresas que destinam até 2% dos investimentos para proteção ambiental caia para 54,5%. Já o percentual de empresas que destinam mais de 10% para esta iniciativa 150 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL deve subir para 10,6%. Estes fatores são mais uma demonstração da crescente importância dada pelas indústrias à prática do desenvolvimento sustentável. As indústrias de produtos farmacêuticos, papel e papelão e a de couros e peles, no item investimento, destacam-se em 2003, confirmando tendência apontada na Sondagem de 1998. Estes setores tiveram 23,5%, 19% e 15,4%, respectivamente, das empresas que investiram em proteção ambiental, destinando mais de 10% dos seus investimentos totais para tal finalidade. Em 2004, o previsto é que os setores de papel e papelão, química, couros e peles destaquem-se com, respectivamente, 27,3%, 20,4% e 20% das suas empresas que investirão em proteção ambiental, direcionando mais de 10% dos seus investimentos totais a este objetivo. Considerações Finais Os principais resultados obtidos mostram que o setor industrial vem enfrentando problemas nas relações com os órgãos ambientais e dificuldades para obter o licenciamento ambiental. Esses resultados confirmam as tendências e comportamentos, já verificados em pesquisas anteriores realizadas pela CNI. Mais especificamente quanto ao processo de licenciamento ambiental, a principal dificuldade identificada pelas empresas pesquisadas é a demora na análise dos pedidos e, consequentemente, na emissão da licença. Isso reflete a existência de procedimentos relativamente burocráticos, não sistêmicos e desarticulados para a obtenção da licença. No que diz respeito à relação entre as indústrias e os órgãos ambientais, os requisitos da regulamentação ambiental, por vezes inadequados e até excessivos, foram identificados como os maiores causadores de desgaste. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 151 Nesse contexto, podem-se identificar algumas iniciativas visando ao equacionamento das questões aqui observadas: (i) melhor definição quanto às competências dos órgãos que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA; (ii) simplificação do processo de licenciamento ambiental; (iii) implementação de uma política de informação/informatização dos órgãos ambientais, com vistas à maior transparência, automação e sistematização, sobretudo quanto aos processos de licenciamento; e (iv) padronização das decisões. Concluindo, a análise desta Sondagem Especial permite inferir que ainda há muito a se fazer e avançar tanto na iniciativa pública como privada. As respostas às questões aqui apontadas passam pela busca de maior agilidade, qualidade e eficiência do SISNAMA, sem comprometer o desenvolvimento econômico e social brasileiro. A Sondagem Especial sobre Meio Ambiente foi realizada em conjunto com a Sondagem Industrial. Ela contou com a participação de 1.007 pequenas e médias empresas e 211 grandes de todo o território nacional. FONTE: Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/artigos/a_industria_e_o_ meio_ambiente.html>. Acesso em: 27 jan. 2013. Pode-se observar nos estudos da unidade, que as empresas estão dispostas a praticar ações responsáveis que condizem com a ética nos negócios, incluindo, além do atendimento à legislação, ações de responsabilidade social. No entanto, podemos evidenciar, na publicação anterior, que as dificuldades para atender a legislação são encontradas já nos processos de licenciamentos que, devido à demora dos órgãos públicos no retorno de demandas das empresas, acabam prejudicando o processo de desenvolvimento social, econômico e ambiental. Por outro lado, também existem aquelas empresas que, de todas as formas, tentam burlar as obrigações ambientais básicas e ainda buscam demonstrar que são socialmente responsáveis perante a sociedade, negligenciando os princípios básicos de uma empresa responsável e ética, que no mínimo cumpre a legislação. Na Unidade 3, vamos aprofundar os estudos sobre os processos internos das empresas. 152 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL LEITURA COMPLEMENTAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Mário Augusto dos Santos Um dos traços mais marcantes da recente evolução da economia mundial tem sido a integração dos mercados e a queda das barreiras comerciais. Para grande parte das empresas, isso significoua inserção, muitas vezes forçada, na competição em escala global. Em curto espaço de tempo, elas viram-se compelidas a mudar radicalmente suas estratégias de negócio e padrões gerenciais para enfrentar desafios e aproveitar as oportunidades decorrentes da ampliação de seus mercados potenciais, do surgimento de novos concorrentes e novas demandas da sociedade. Esse novo contexto apresentou como desafio para as empresas a busca por níveis progressivamente maiores de competitividade e produtividade e introduziu nestas a preocupação com a legitimidade social de suas atuações. Em resposta a esse desafio, as empresas passaram a investir em qualidade, primeiramente centrando a atenção nos produtos, depois evoluindo para a abordagem dos processos e culminando no tratamento abrangente das relações entre a atividade empresarial, os empregados, os fornecedores, os consumidores, a sociedade e o meio ambiente. Assim, dentro desse novo contexto, a gestão empresarial que possua como referência apenas os interesses dos acionistas revela- se insuficiente. Tal gestão deve ser balizada pelos interesses e contribuições dos stakeholders. Isso faz com que a busca de excelência empresarial passe a ter como objetivos a sustentabilidade econômica, social e ambiental, ou seja, corresponda à ideia do Triple Bottom Line, que será melhor explicada no decorrer deste trabalho. A atuação baseada em princípios éticos elevados e na busca de qualidade nas relações é manifestação de responsabilidade social. Empregamos o termo stakeholder ao invés de “grupos de interesses” ou “partes interessadas” por ser mais abrangente, pois incorpora todos os membros da cadeia produtiva, as comunidades, as ONGs, o setor público, e outras firmas e indivíduos formadores de opinião, e não tem tradução em português. Além disso, o termo está consagrado na literatura especializada. A adoção de padrões de conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio ambiente é exigência cada vez mais presente no contexto empresarial. Mas o que caracterizaria a empresa como socialmente responsável? De forma simples, pode- se dizer que a empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa. Com esta performance, a empresa, além de agregar valor à sua imagem, conquistando, com TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 153 isso, uma maior fatia do mercado consumidor, também aumenta sua capacidade de recrutar e manter em seus quadros os melhores profissionais. No campo prático, a empresa demonstra sua responsabilidade social ao comprometer-se com programas sociais voltados para o futuro da comunidade e da sociedade. Outrossim, o investimento em processos produtivos compatíveis com a preservação ambiental e a preocupação com o uso racional dos recursos naturais também têm importante valor simbólico, por serem de interesse da empresa e da coletividade. No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a questão. A partir de então, as empresas brasileiras têm buscado uma adequação à prática vigente, sendo grande o número de empresas que, atualmente, procuram oferecer empregos a deficientes físicos e outras atitudes responsáveis, já que estas empresas visam obter certificados de padrões de qualidade e de adequação ambiental, as chamadas certificações ISO e, mais recentemente, como forma de comprovar sua observância quanto à responsabilidade social, as certificações sociais, tipo SA (Social Accountability) 8000. Apresentamos as características de uma empresa considerada socialmente responsável. Faz-se mister agora uma análise mais detalhada acerca das políticas e práticas a serem adotadas e respeitadas pelas empresas nos mais variados aspectos, de modo que estas internalizem, efetivamente, os princípios da responsabilidade social. E é justamente isso o que iremos agora examinar. Valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, procurar trazer benefícios para os parceiros e para o meio ambiente, além de retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações. Com relação a este aspecto, podemos destacar as seguintes implicações: a) Compromissos éticos – o código de ética ou de compromisso social é um instrumento de realização da visão e da missão da empresa, orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem mantém relações. Dessa forma, o comprometimento da alta gestão com sua disseminação e cumprimento são as bases de sustentação da empresa socialmente responsável. b) Atuação dos stakeholders – o envolvimento dos parceiros na definição das estratégias de negócios da empresa gera compromisso mútuo com as metas estabelecidas. Ele será tanto mais eficaz quanto sejam assegurados canais de comunicação que viabilizem o diálogo estruturado. 154 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL c) Balanço social - o registro das ações voltadas para a responsabilidade social permite avaliar seus resultados e direcionar os recursos para o futuro. O Balanço Social da empresa deve explicitar as iniciativas de caráter social, resultados atingidos e investimentos realizados, o que será abordado detalhadamente mais adiante. A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista, ainda que isso seja um pressuposto indispensável. Deve, também, ir além e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento dessas relações. Ademais, deve estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus interesses. Tal política interna pressupõe os seguintes princípios: a) Participação nos lucros e resultados – o justo reconhecimento da contribuição dos funcionários para os resultados da empresa é um poderoso instrumento de envolvimento e compromisso com o sucesso dos negócios. Os programas de participação acionária e de bonificação relacionada ao desempenho são componentes importantes dos programas de gestão participativa, e como tais incentivam o envolvimento dos empregados na solução dos problemas da empresa. Esta prática também favorece o desenvolvimento pessoal e profissional dos mesmos. b) Compromisso com o futuro das crianças – para ser reconhecida como socialmente responsável, a empresa não deve utilizar-se, direta ou indiretamente, do trabalho infantil (de menores de 14 anos), conforme determina a legislação brasileira. Por outro lado, é positiva a iniciativa de empregar menores entre 14 e 16 anos como aprendizes. c) Valorização da diversidade – a empresa não deve permitir qualquer tipo de discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento, remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados. Devem ser oferecidas oportunidades iguais a pessoas com diferenças relativas a sexo, raça, idade, origem, orientação sexual, religião, deficiência física, condições de saúde, etc. d) Comportamento frente a demissões – as demissões de pessoalnão devem ser utilizadas como primeiro recurso de redução de custos. Quando forem inevitáveis, a empresa deve realizá-las com responsabilidade, estabelecendo critérios para executá-las (empregados temporários, facilidade de recolocação, idade do empregado, etc.) e assegurando os benefícios que estiverem a seu alcance. e) Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade – cabe à empresa comprometer-se com o investimento na capacitação e desenvolvimento profissional de seus empregados, oferecendo apoio a projetos de geração de empregos e fortalecimento da empregabilidade para a comunidade com que se relaciona. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 155 f) Preparação para aposentadoria – a empresa socialmente responsável tem forte compromisso com o futuro de seus funcionários. Assim, deve criar mecanismos de complementação previdenciária, visando reduzir o impacto da aposentadoria no nível de renda, e estimular a participação dos aposentados em seus projetos sociais. A empresa relaciona-se com o meio ambiente causando impactos de diferentes tipos e intensidades. Dessa maneira, uma empresa ambientalmente responsável procura minimizar os impactos negativos e ampliar os positivos. Deve, portanto, agir visando a manutenção e melhoria das condições ambientais, minimizando ações próprias potencialmente agressivas ao meio ambiente e disseminando em outras empresas as práticas e conhecimentos adquiridos nesse sentido. Entre os parâmetros a serem seguidos com relação a este aspecto, destaco: a) Conhecimento sobre o impacto no meio ambiente – um critério importante para uma empresa consciente de sua responsabilidade ambiental é um relacionamento ético e dinâmico com os órgãos de fiscalização, com vistas à melhoria do sistema de proteção ambiental, pois a conscientização ambiental é base para uma atuação pró-ativa na defesa do meio ambiente. E, como tal, deve ser acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e intenções de proteção e prevenção ambiental para toda a empresa, cadeia produtiva e comunidade. b) Minimização de entradas e saídas do processo produtivo – uma das formas de atuação ambientalmente responsável da empresa é o cuidado com as entradas de seu processo produtivo, estando entre os principais parâmetros, comuns a todas as empresas, a utilização racional de energia, água e insumos necessários à produção e prestação de serviços. c) Responsabilidade sobre o ciclo de vida dos produtos e serviços – dentre as principais saídas do processo produtivo estão as mercadorias, suas embalagens e os materiais não utilizados, convertidos em potenciais agentes poluidores do ar, da água e do solo. Assim, são aspectos importantes na redução do impacto ambiental o desenvolvimento e a utilização de insumos, produtos e embalagens recicláveis ou biodegradáveis e a redução da poluição gerada. d) Educação ambiental – cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar e desenvolver campanhas, projetos e programas educativos voltados aos seus empregados, à comunidade e a públicos mais amplos e também envolver-se em iniciativas de fortalecimento da educação ambiental no âmbito da sociedade como um todo. A empresa que tem compromisso com a responsabilidade social envolve- se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de fornecedores. Deve, também, conscientizar-se de seu papel no fortalecimento dessa cadeia, atuando no desenvolvimento dos elos mais fracos e na valorização da livre concorrência. 156 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Com relação a este aspecto, duas são as mais importantes implicações: a) Critério de seleção de fornecedores – a empresa deve incentivar seus fornecedores a aderir aos compromissos que ela adota perante a sociedade. Também deve utilizar critérios voltados à responsabilidade social na escolha de seus fornecedores, exigindo, por exemplo, certos padrões de conduta nas relações com os trabalhadores ou com o meio ambiente. b) Apoio ao desenvolvimento de fornecedores – a empresa pode auxiliar no desenvolvimento de pequenas empresas ou cooperativas, priorizando-as na escolha de seus fornecedores e ajudando-as a desenvolverem seus processos produtivos e de gestão. Esta pode também oferecer treinamento aos fornecedores, transferindo a estes conhecimentos técnicos, valores éticos e de responsabilidade social. A responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores exige da empresa um investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas em geral. Dessa forma, informações detalhadas devem estar incluídas nas embalagens e deve ser assegurado ao cliente um suporte antes, durante e após o consumo, de modo a satisfazer suas necessidades. Disso derivam as seguintes práticas: a) Política de marketing e comunicação – a empresa é um produtor de cultura e influencia o comportamento da sociedade. Por isso, suas campanhas publicitárias devem ter uma dimensão educativa, evitando a criação de expectativas que extrapolem o que é efetivamente oferecido pelo produto ou serviço, não devendo, de forma alguma, constranger nem causar desconforto a quem recebê-las, e também informando os riscos potenciais dos produtos ou serviços oferecidos. A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe infraestrutura e capital social, contribuindo, decisivamente, para a viabilização de seus negócios. Dessa forma, o investimento por parte da empresa em ações que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes possuem da própria empresa. Também o respeito aos costumes e cultura locais e o empenho na educação e na disseminação dos valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais. Segundo esta ideia, as políticas de responsabilidade social imprescindíveis seriam: a) Mecanismos de apoio a projetos sociais – a destinação de verbas e recursos a projetos sociais terá resultados mais efetivos na medida em que esteja baseada numa política estruturada da empresa. Um aspecto relevante é a garantia de continuidade das ações, que pode ser reforçada pela criação de um instituto, fundação ou fundo social. TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 157 b) Estratégias de atuação na área social – a atuação social da empresa pode ser potencializada pela adoção de estratégias que valorizem a qualidade dos projetos sociais beneficiados, a multiplicação de experiências bem-sucedidas, a criação de redes de atendimento e o fortalecimento das políticas públicas da área social. c) Reconhecimento e apoio ao trabalho voluntário dos empregados – o trabalho voluntário tem sido considerado um fator de motivação e satisfação das pessoas em seu ambiente profissional. Assim, a empresa pode incentivar essa atividade, liberando seus funcionários em parte do horário de expediente para estes ajudarem organizações da comunidade ou incentivando aqueles que participam de projetos de caráter social. A empresa deve relacionar-se de forma ética e responsável com os poderes públicos, cumprindo leis e mantendo interações dinâmicas com seus representantes, visando a constante melhoria das condições sociais e políticas do país. Tal comportamento ético pressupõe que as relações entre a empresa e os governos sejam transparentes à sociedade, acionistas, empregados, clientes, fornecedores e distribuidores. Com isso, cabe à empresa responsávelmanter uma atuação política coerente com seus princípios éticos e que evidencie seu alinhamento com os interesses da sociedade. Para tanto, a empresa socialmente responsável deve observar os seguintes aspectos: a) Práticas anticorrupção e propina – o compromisso formal com o combate à corrupção e propina explicita a posição contrária da empresa ao recebimento e oferta, aos parceiros comerciais ou a representantes do governo, de qualquer quantia em dinheiro ou coisa de valor, além do determinado por contrato. b) Contribuição a campanhas políticas – a transparência nos critérios e nas doações a candidatos ou partidos políticos é um importante fator de preservação do caráter ético da empresa. A empresa pode ser, também, um espaço de desenvolvimento da cidadania, viabilizando a realização de debates democráticos que atendam aos interesses de seus funcionários. c) Liderança social – cabe à empresa socialmente responsável buscar participar de associações, sindicatos e fóruns empresariais, impulsionando a elaboração conjunta de propostas de interesse público e caráter social. O Balanço Social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa ,reunindo um conjunto de informação sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidos aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa. 158 UNIDADE 2 | ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Tudo começou em 1993. O sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido como Betinho, lançou um desafio que envolveu a sociedade. Através da ONG que fundou, o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), cobrou das empresas uma comunicação mais transparente a governos e grupos de interesse sobre a maneira pela qual encaram sua responsabilidade pública. No Balanço Social a empresa mostra o que faz por seus profissionais, dependentes, colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades que busquem melhorar a qualidade de vida para todos. Assim, a principal função do Balanço Social é tornar pública a responsabilidade social empresarial, construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o meio ambiente. Podemos enumerar várias razões que justifiquem a necessidade da existência de um Balanço Social por parte das empresas. Em primeiro lugar, o Balanço Social agrega valor à empresa, na medida em que traz um diferencial para a imagem da empresa, diferencial este que vem sendo cada vez mais valorizado por investidores e consumidores no Brasil e no mundo. Segundo, por ser um moderno instrumento de gestão e avaliação, dado que funciona como uma valiosa ferramenta para a empresa gerir, medir e divulgar o exercício da responsabilidade social em seus empreendimentos e também pelo fato de muitos analistas de mercado, investidores e órgãos de financiamento incluírem o Balanço Social na lista de documentos necessários para se conhecer e avaliar os riscos e projeções de uma empresa. Por último, por ser algo inovador e transformador, ou seja, realizar e publicar o Balanço Social anualmente é mudar a visão antiga, indiferente à satisfação e ao bem-estar dos funcionários e clientes, para uma moderna visão em que os objetivos da empresa incorporem as práticas de responsabilidade social e ambiental. Além do mais, o Balanço Social também favorece, da seguinte forma, a todos os grupos que interagem com a empresa: aos dirigentes fornece informações úteis à tomada de decisões relativas aos programas sociais que a empresa desenvolve e seu processo de realização estimula a participação dos funcionários na escolha das ações e projetos sociais, gerando um grau mais elevado de comunicação interna e integração nas relações entre dirigentes e o corpo funcional; aos fornecedores e investidores informa como a empresa encara suas responsabilidades em relação aos recursos humanos e ao meio ambiente, o que é um bom indicador de como a empresa é administrada; aos consumidores dá uma ideia de qual é a postura dos dirigentes e a qualidade do produto ou serviço oferecido, demonstrando o caminho que a empresa escolheu para construir sua marca; e, finalmente, ao Estado ajuda na identificação e na formulação de políticas públicas essenciais à sociedade. Como nem sempre correlacionar fatores financeiros com fatos sociais é uma tarefa de fácil execução, torna-se necessária a adoção de um modelo único e simples a ser utilizado na elaboração do Balanço Social de uma determinada empresa. Dessa forma, por entender que a simplicidade é a garantia do envolvimento do maior número de empresas, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), em parceria com diversos representantes de empresas públicas e privadas, a partir de inúmeras reuniões e debates com vários setores da sociedade, desenvolveu um TÓPICO 3 | IMPACTO DAS DECISÕES EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE E NO MEIO AMBIENTE 159 modelo que tem a vantagem de estimular todas as empresas a divulgar seu Balanço Social, independentemente do tamanho ou setor de atuação das mesmas. Isso se tornou necessário, na medida em que, se a forma de apresentação das informações não seguir um padrão, torna-se difícil uma avaliação adequada da função social da empresa ao longo dos anos. FONTE: Adaptado de: SANTOS, Mário Augusto dos. A responsabilidade social das empresas. In: Empresas, meio ambiente e responsabilidade social – um olhar sobre o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) - Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003, p. 10-20. 160 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você teve oportunidade de estudar itens importantes acerca da administração ambiental, tais como: • Abordamos as interações das empresas com a sociedade, seus impactos econômicos, sociais e ambientais. • As obrigações morais que as empresas possuem com a comunidade e a importância de uma postura ética e responsável perante a sociedade. 161 Assista ao filme Roger & Eu, de Michael Moore – 1989. Esse foi o primeiro filme de Michael Moore, através do qual ele tentou, incansavelmente, o que todo trabalhador sempre sonhou fazer: falar com quem manda. A cidade de Flint, no estado de Michigan, EUA, sempre girou em torno do parque industrial da General Motors, lá instalado. Por isso, a decisão da empresa de remover a fábrica de lá, em meados da década de 80, trouxe desemprego e pobreza à região. Esse filme narra a jornada de Moore, cidadão de Flint, para encontrar o presidente da GM, Roger Smith, e convencê-lo a visitar a cidade. Faça uma análise e elabore um resumo do filme. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ AUTOATIVIDADE 162 163 UNIDADE 3 GERENCIAMENTO AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a: • descrever o processo de gerenciamento ambiental de uma empresa; • traçar estratégias e diretrizes que permitam que uma empresa possa im- plementar um processo de gerenciamento ambiental; • apresentar modelos de gerenciamento ambiental, responsabilidade so- cial, sistemas de gestão de energia e sistemas de gestão de riscos; • descrever estratégias para a organização de um sistema de AdministraçãoAmbiental. • demonstrar a integração de sistemas de gestão. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão no aprimoramento dos co- nhecimentos. TÓPICO 1 – O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL TÓPICO 2 – GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS TÓPICO 3 – MODELOS DE GESTÃO TÓPICO 4 – INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO 164 165 TÓPICO 1 O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Tudo o que o homem realiza no mundo tem que levar em consideração compromissos com o meio ambiente. Atualmente, as grandes empresas procuram zelar pelo seu bom nome, adotando, como princípio inabalável, o compromisso total com a questão ambiental. A regra é praticamente geral. Tornou-se quase uma imposição - buscar a excelência no trato da questão ambiental, pois disso, também, dependerá sua sobrevivência no mercado. Já no Brasil, a regra ainda não vale tanto, visto que muitos ainda não alcançaram a percepção da necessidade de cuidar do meio ambiente, principalmente devido aos custos inerentes e também porque a consciência ecológica ainda não é tão difundida. Vez por outra, iniciativas interessantes à preservação são adotadas, mas, estranhamente, da mesma maneira com que aparecem, somem repentinamente de cena, evidenciando que surgiram no meio do caminho novas prioridades, ou mesmo, que a espontaneidade da iniciativa não era tão sincera ou que simplesmente visava o cumprimento de uma cobrança de um órgão fiscalizador. Evidente é que isso não ocorreria se houvesse um absoluto envolvimento na empresa, da sua direção e de seus empregados, concordando todos com as leis e regulamentos e evitando posturas defensivas que só conduzem às discussões desgastantes e inócuas. As atividades produtivas deveriam, entre outros aspectos, ser baseadas em posturas pró-ativas, visando à preservação ambiental, buscando-se todos os meios possíveis para não esconder a verdade dos fatos e atacando-se realmente, de frente, os problemas, à medida que forem surgindo. Então, ao entrarmos na última unidade deste caderno, abordaremos justamente os princípios de gerenciamento ambiental que devemos implantar em uma empresa para reverter o quadro anteriormente citado. Um bom estudo! UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 166 2 DIRETRIZES EM GERENCIAMENTO AMBIENTAL Todo gerenciamento ambiental deve buscar, no mínimo, o controle de aspectos e impactos ambientais, visando à prevenção da poluição, ao atendimento da legislação e à melhoria contínua de seus processos, tornando-os mais sustentáveis. Dessa forma, as diretrizes de um gerenciamento ambiental começam com a definição de políticas ambientais para alcançar esses objetivos básicos. Mas o que é uma política ambiental? A ABNT – NBR ISO 14001 – (2004, p. 3) define Política Ambiental como “[...] intenções e princípios gerais de uma organização em relação ao seu desempenho ambiental, conforme formalmente expresso pela alta administração”. Importante ressaltar que, mesmo aquelas empresas que não adotam a NBR ISO 14001:2004 como norma para gestão ambiental e utilizam outras formas de gerenciamento ambiental, suas políticas acabam sendo definidas pela alta administração, tendo intenções e princípios adequados aos seus produtos e serviços, inclusive o comprometimento com a prevenção, atendimento aos requisitos legais. Geralmente documentam suas políticas e as comunicam a todos, deixando-as à disposição do público. O gerenciamento ambiental deve buscar implantar, entre outros princípios: • educar, treinar e motivar os empregados, tendo como alvo a melhoria contínua da performance ambiental; • continuamente, conduzir pesquisas em todas as fases da produção, a fim de minimizar os impactos ambientais; • desenvolver planos de emergência para situações de risco ambiental, treinar e reciclar todo o pessoal envolvido, inclusive o público vizinho; • promover continuamente o diálogo com os empregados e o público próximo e longínquo; Na Unidade 3, vamos ver o que diz a ABNT - NBR ISO 14001 - sobre a política ambiental. ATENCAO TÓPICO 1 | O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL 167 • promover auditorias internas e avaliações regulares, através de auditorias externas e monitoramentos, não fazendo mistério acerca dos resultados. Os critérios devem, sempre que possível, utilizar como referência programas de sucesso nacional e internacional bem-sucedidos, mas adaptando-se à realidade da organização em questão. Pelo exposto, isso não é tão complicado. A questão é só começar, mesmo que passo a passo. 3 ATENDIMENTO LEGAL Especial importância nos estudos deveria ser dada aos princípios de implantação do gerenciamento ambiental. ATENCAO NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://www.ambientalms.com.br/ download/O_GERENCIAMENTO_AMBIENTAL.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2013. Todo sistema de gerenciamento ambiental tem como uma de suas premissas básicas o cumprimento da legislação ambiental, recomendando, então, que a organização seja capaz de demonstrar que ela tenha avaliado o atendimento aos requisitos legais identificados, incluindo autorizações ou licenças aplicáveis. Para isso, a organização necessita identificar os requisitos legais que são aplicáveis aos seus aspectos ambientais. Estes podem incluir: • requisitos legais nacionais e internacionais; • requisitos legais estaduais/municipais/departamentais; • requisitos legais do governo local. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 168 Exemplos de outros requisitos que uma organização pode subscrever incluem, se aplicável: • acordos com autoridades públicas; • acordos com clientes; • diretrizes de natureza não regulamentar; • princípios voluntários ou códigos de prática; • etiquetagem ambiental voluntária ou compromissos de administração do produto; • requisitos de associações de classe; • acordos com grupos comunitários ou organizações não governamentais; • compromissos públicos da organização ou de sua matriz; • requisitos corporativos/da empresa. A determinação de como os requisitos legais e outros se aplicam aos aspectos ambientais de uma organização é usualmente realizada no processo de identificação desses mesmos requisitos. Portanto, não se faz necessário ter um procedimento em separado ou adicional para fazer esta determinação. 4 ESTRATÉGIAS A estratégia ambiental moderna pressupõe a adoção da Produção Limpa e da Ecoinovação, que são as bases do Gerenciamento Ambiental de Alto Desempenho. IMPORTANT E Atenção aos requisitos legais! Pesquise a definição de aspecto ambiental e impacto ambiental, pois isso será importante para o entendimento desse item. TÓPICO 1 | O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL 169 Nessa estratégia, a melhor alternativa econômica é a eliminação e não o gerenciamento dos impactos ambientais. A Produção Limpa propõe um modelo sustentável do ponto de vista econômico, ambiental e social. Um dos princípios fundamentais da Produção Limpa é a prevenção da poluição (é melhor prevenir do que remediar os resíduos). Vejamos a definição de prevenção de poluição pela ISO 14001 e da EPA (agência ambiental norte- americana). A ABNT – NBR ISO 14001 (2004, p. 4) – define prevenção da poluição como: [...] uso de processos, práticas, técnicas, materiais, produtos, serviços ou energia para evitar, reduzir ou controlar (de forma separada ou combinada) a geração, emissão ou descarga de qualquer tipo de poluente ou rejeito, para reduzir os impactos ambientais adversos. [...] A prevenção da poluição pode incluir redução ou eliminação de fontes de poluição, alterações de processo, produto ou serviço, uso eficiente de recursos, materiais e substituição de energia, reutilização, recuperação, reciclagem, regeneração e tratamento. Para aEPA, prevenção de poluição é o “uso de materiais, processos ou práticas que reduzam ou eliminem a geração de poluentes ou resíduos na fonte”. Essa diferença conceitual, que, à primeira vista, parece insignificante, pode causar um impacto significativo nos resultados da organização. Ao incluir a reciclagem e o tratamento de resíduos como prevenção de poluição, a ISO 14001 ressalta que “podem incluir”. Essa simples colocação “podem” não traz consigo a obrigatoriedade. Se eu posso decidir incluí-la, eu também posso decidir não incluí- la. Então, as empresas estão sendo levadas a não compreenderem corretamente a Produção Limpa e, consequentemente, a não melhorarem seu desempenho ambiental. Portanto, é fundamental que uma mudança cultural preceda o processo de implantação do SGA. As empresas precisam adotar a Produção Limpa e a Ecoinovação antes de partirem para a certificação pela ISO 14001; ou, então, aquelas já certificadas precisam adaptar seus SGAs à moderna estratégia ambiental. Caso contrário, o desempenho ambiental poderá até aumentar, mas a um ritmo insuficiente para acompanhar as crescentes exigências da sociedade e do mercado. Dentro desse contexto, o corpo gerencial precisa ser formado nessa nova cultura ambiental e, principalmente, precisa acreditar que o caminho para o desenvolvimento sustentável é a eliminação e não o gerenciamento dos impactos ambientais da atividade. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 170 5 ISO 14001 E GERENCIAMENTO AMBIENTAL A ABNT NBR ISO 14001:2004 veio a contribuir para com as empresas no gerenciamento ambiental de suas respectivas atividades. Trata-se de um instrumento de gestão, capaz de direcionar os administradores na busca de um gerenciamento eficiente, que atenda as expectativas da empresa e as torne mais sustentáveis. Dessa forma, podemos afirmar que um SGA, com base na norma NBR ISO 14001, é uma forma de gerenciar os aspectos ambientais das atividades. A ISO 14001, que é a norma referente à implantação de um SGA, é a única norma certificável da série. Ela organizou, padronizou e sistematizou o gerenciamento ambiental nas empresas, trazendo vários resultados positivos, entre eles: • Trouxe a questão ambiental para a agenda da alta administração das empresas. • Levou o tema meio ambiente aos funcionários de todos os níveis. • Investiu nos processos com vistas à melhoria contínua. • Provocou um efeito cascata na cadeia produtiva, com fornecedores de empresas certificadas, sendo obrigados, por força do mercado, a também implantarem o SGA. Entretanto, com a valorização das questões econômicas, sociais e ambientais pela sociedade e pelo mercado, passou a ser decisivo para as empresas o desempenho ambiental e não somente a certificação. Está, assim, demonstrado que há uma grande distância entre a certificação pela ISO 14001 e um alto desempenho ambiental. O gerenciamento ambiental proposto na ISO 14001 não se baseia em uma estratégia ambiental moderna, o que pode levar as empresas a um baixo Segundo a ABNT – NBR ISO 14001 (2004, p. 2) –, sistema de gestão ambiental é a parte de um sistema da gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais. NOTA 1 - Um sistema da gestão é um conjunto de elementos inter-relacionados utilizados para estabelecer a política e os objetivos para atingir esses objetivos. NOTA 2 - Um sistema da gestão inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos. ATENCAO TÓPICO 1 | O PROCESSO DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL 171 desempenho ambiental e a prejuízos na imagem institucional. O modelo proposto pela ISO 14001 tem como foco principal: • Atendimento à legislação. • Gerenciamento dos resíduos gerados. • Administração dos impactos ambientais da atividade. Um sistema de SGA, nos dias atuais, tem que levar em consideração muito mais itens do que somente uma certificação ambiental. Então, a certificação pela ISO 14001 é algo ruim? Não, de maneira alguma. Mas, ela é apenas um dos itens que constitui um modelo mais abrangente e completo para tornar os resultados ambientais da organização expressivos, fortalecendo a imagem da organização, demonstrando sua consciência nas questões ambientais e do desenvolvimento sustentável. Ao insistirem no modelo de gerenciamento ambiental atual, as empresas serão duplamente prejudicadas. Não alcançarão o grau de desempenho ambiental exigido, o que acarretará custos ambientais cada vez maiores (com tratamento e disposição de resíduos, riscos ambientais etc.). NOTA Este conteúdo está baseado no artigo de Roberto Roche (consultor ambiental), disponível em: <http://www.intelog.net/site/default asp?TroncoID=907492&SecaoID=508074& SubsecaoID=627271&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=811838&Titulo=ISO%20 14000%20%20n%E3o%20%E9%20o%20suficiente%20%2C%20%20e%20o%20%20 Desempenho%20Ambiental%20%20da%20empresa%20%3F>. Acesso em: 4 fev. 2013. DICAS Como sugestão, leia o artigo a seguir sobre uma análise crítica dos SGAs. Acesse-o através do site: <HTTP://WWW.ABEPRO.ORG.BR/BIBLIOTECA/ENEGEP2007_TR680488_0461.PDF>. 172 Nesse tópico foram abordados os seguintes temas: • As diretrizes em gerenciamento ambiental, ou seja, os principais objetivos que devermos abordar num SGA. • A legislação legal que a empresa deverá cumprir, pois o sistema de gestão tem como premissa básica atender toda legislação ambiental, direta e indireta, relacionada à atividade industrial em questão. • As estratégias que a administração deverá traçar para implantar, manter e aperfeiçoar o sistema. • A Política Ambiental, que é a declaração que a empresa realiza, expondo seu compromisso com o público interno e externo, referente às questões ambientais. • A relação entre a ISO 14001 e gerenciamento ambiental. • A norma ISO 14001 é um guia de implantação, contendo os critérios básicos e genéricos para elaboração de um SGA. Ela constitui o esqueleto do sistema, enquanto o SGA é mais amplo, sendo elaborado conforme a realidade de cada empresa, não deixando de cumprir os requisitos obrigatórios da legislação ambiental e da norma. RESUMO DO TÓPICO 1 173 Realize pesquisa sobre alguns cases de sucesso de SGAs, a exemplo das seguintes empresas: Petrobras, Vale do Rio Doce, CSN, Boticário, Phillips. Identifique os pontos fortes e as oportunidades de melhoria. AUTOATIVIDADE 174 175 TÓPICO 2 GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Após implantarmos o SGA, tudo será como o eterno “felizes para sempre”, muito rotulado no cinema, certo? A implantação da gestão ambiental será a solução para todos os males ambientais de uma organização, OK? Ledo engano, caro(a) acadêmico(a). Na maioria das vezes, após a implantação de um SGA, teremos um período muito conturbado, porque, anteriormente, não importava para a empresa qualquer cumprimento às normas e leis ambientais. Porém, após a implantação, será obrigação da empresa cumprir com o que foi estabelecido. Por quê? Primeiramente, ninguém obrigou a empresa a implantar um SGA. Logicamente, houve pressões da comunidade, clientes, fornecedores e órgãos ambientais, mas, no fundo, o item de maior peso e significância foi a vontade da organização em mudar de atitude, assumindo uma nova postura ambientalmente correta. Portanto, se ela assumiu esse papel perante o público interno e externo, o que significará um descaso para com o sistema? Relembre o Tópico 2, as definições de ética e responsabilidade social, o que vocês concluiriam dessa empresa. ATENCAO Segundo, mesmo sem um SGA, a empresa já estava sujeita a uma série de obrigações legais, que deveriam ser cumpridas, mesmo após esse novo sistema. Então, nesse tópicoveremos exatamente o que faremos quando nosso “conto de fadas ambiental” parece estar se transformando num “castelo de areia”. 176 UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 2 O QUE FAZER QUANDO TUDO DÁ ERRADO? Mesmo após a implantação do SGA, podem existir situações não previstas ou fatalidades. Então, o SGA não consegue prever possíveis acidentes, porém, devemos ter procedimentos para quando esses acidentes ocorrerem ou possuir um plano pronto para saná-los. A ABNT – NBR ISO 14001 (2004, p. 8) –, sobre preparação e resposta a emergências, define: A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimento(s) para identificar potenciais situações de emergência e potenciais acidentes que possam ter impacto(s) sobre o meio ambiente, e como a organização responderá aos mesmos. A organização deve responder às situações reais de emergência e aos acidentes e prevenir ou mitigar os impactos ambientais adversos associados. A organização deve periodicamente analisar criticamente e, quando necessário, revisar seus procedimentos de prontidão e atendimento à emergência, em particular, após a ocorrência de acidentes ou situações emergenciais. A organização deve também periodicamente testar tais procedimentos, quando exequíveis. Vimos que a norma define que a organização tenha procedimentos para combater uma possível falha que ocasione um acidente, e esses procedimentos devem atender os cenários emergenciais específicos de cada empresa. Portanto, cada empresa deve avaliar seus riscos e definir o plano de emergência com base em seus aspectos ambientais emergenciais. A empresa deve estar preparada quando algo foge do controle e possuir um plano de emergência ou contingências, bem elaborado, com recursos disponíveis para o combate nas emergências, com pessoas treinadas. Isto certamente ajudará a mitigar as consequências em caso de um acidente. NOTA Lembre-se da plataforma P-36, que naufragou em 2001. Ela possuía os mais avançados sistemas de monitoramento de que a tecnologia poderia dispor. Na teoria, jamais deveria afundar, porém... TÓPICO 2 | GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS 177 3 PLANOS DE EMERGÊNCIA OU CONTINGÊNCIAS Toda empresa possui potencial para gerar uma ocorrência anormal, ou seja, ela está sujeita a riscos e acidentes, cujas consequências possam provocar sérios danos às pessoas, ao meio ambiente e a bens patrimoniais, inclusive de terceiros. É importante que haja, como atitude preventiva, um Plano de Contingência (ou Emergência). Analisando os riscos e acidentes, podemos entender que o perigo existe independente da vontade dos seres humanos, sendo inerente às instalações e natureza. Os planos de contingência e emergência têm por objetivo, primeiramente, a precaução e, em seguida, medidas para minimizar a ocorrência de acidentes com danos ao meio ambiente. NOTA A NORMA BRASILEIRA ABNT NBR 15219:2005 “[...] estabelece os requisitos mínimos para a elaboração, implantação, manutenção e revisão de um plano de emergência contra incêndio, visando proteger a vida e o patrimônio, bem como reduzir as consequências sociais do sinistro e os danos ao meio ambiente”. Essa norma é muito utilizada como base para elaboração de planos de emergência em muitas empresas. IMPORTANT E Definições: Risco é o potencial de ocorrência de consequências indesejáveis, decorrentes da realização de uma atividade. Perigo é a propriedade ou condição inerente a uma substância ou atividade capaz de causar dano às pessoas, às propriedades ou ao meio ambiente. FONTE: MOURA, Luiz Antônio Abdalla de. Qualidade e gestão ambiental. Belo Horizonte: Livraria Del Rey, 2004. 178 UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL O Plano de Contingência é um documento em que estão definidas as responsabilidades. É estabelecida uma organização para atender a uma emergência e que contém informações detalhadas sobre as características da área envolvida. É um documento desenvolvido com o intuito de treinar, organizar, orientar, facilitar, agilizar e uniformizar as ações necessárias às respostas de controle e combate às ocorrências anormais. A Equipe de Contingências deve possuir um corpo técnico altamente qualificado para desenvolver, auditar e estar preparada para atender às necessidades e condições da empresa. As ações para controle de emergência devem ser, prioritariamente, no sentido de preservar a vida e a integridade das pessoas, inclusive dos participantes do Plano de Contingência. Veja, a seguir, artigo da Redação Ambiente Brasil sobre o tema tratado. 3.1 PLANO DE CONTINGÊNCIAS PLANO DE CONTINGÊNCIA LOCAL - PCL O Plano de Contingência é um documento onde estão definidas as responsabilidades, estabelecidas numa organização, para atender a uma emergência e contém informações detalhadas sobre as características da área envolvida. Toda empresa com potencial de gerar uma ocorrência anormal, cujas consequências possam provocar sérios danos a pessoas, ao meio ambiente e a bens patrimoniais, inclusive de terceiros, devem ter, como atitude preventiva, um Plano de Contingência (ou Emergência). O Plano de Contingência é um documento onde estão definidas as responsabilidades, estabelecidas numa organização, para atender a uma emergência e contém informações detalhadas sobre as características da área envolvida. É um documento desenvolvido com o intuito de treinar, organizar, orientar, facilitar, agilizar e uniformizar as ações necessárias às respostas de controle e combate às ocorrências anormais. A Equipe de Contingências (Organização de Combate à Emergência – OCE) deve possuir um corpo técnico altamente qualificado para desenvolver e auditar o Plano de Contingência e sempre de forma a atender as necessidades e condições da empresa. TÓPICO 2 | GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS 179 3.2 GERENCIAMENTO DO PLANO As ações para controle de emergência devem ser, prioritariamente, no sentido de preservar a vida e a integridade das pessoas, inclusive a dos participantes do Plano de Contingência. Toda informação sobre anomalias externas com o potencial para se transformar em emergências, e que tiver relacionada com as atividades do local a que o PC se refere, deverá ser prontamente verificada. As ações de combate e controle às emergências terão prioridade sobre as demais atividades do local referente ao PC e serão exercidas em tempo integral com dedicação exclusiva enquanto durar a situação. Qualquer acidente que possa vir a apresentar um risco ao meio ambiente deve ser prontamente comunicado à Autoridade Legal. O Plano de Contingência Local - PCL - deve contemplar, no mínimo, os seguintes requisitos: • Campo de aplicação • Atividades do local de implantação/aplicação • Abrangência do plano e caracterização das instalações do local • Hipóteses acidentais • Dimensionamento dos recursos • Áreas vulneráveis • Organização para controle de emergências FONTE: Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/seguranca_meio_ambiente_ saude/gestao_integrada/plano_de_contingencia_local_-_pcl.html>. Acesso em: 7 fev. 2013. Considerando as constantes mudanças nas empresas, seja na estrutura física (incluindo troca de insumos, matérias-primas) ou na mudança de pessoas, o gerenciamento do plano é de relevante importância para atualização e manutenção do plano. Ocorre que os procedimentos, recursos humanos, equipamentos são definidos com base em uma avaliação inicial de riscos e, caso aconteça alguma mudança que altere as condições iniciais, há necessidade de atualizar o plano. Veja por que o plano deve ser gerenciado: 180 UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL • Todo plano de emergência define responsabilidades, cabe ao gerenciador do plano, quando há mudança de pessoas que fazem parte do plano, atualizá- lo, incluindo essas mudanças. Exemplo:imagine uma pessoa que tinha como responsabilidade no plano de emergência ajudar as pessoas na evacuação de área, mas que, no momento da emergência, não é mais funcionária da empresa. Se ela não foi substituída por outra no plano, é claro que a probabilidade de ocorrer problemas na retirada das pessoas do local sinistrado é grande. • Pessoas novas contratadas que estão chegando à empresa precisam conhecer o plano e ser capacitadas para atuar no plano, de acordo com as responsabilidades assumidas no plano. Exemplo: podemos utilizar a mesma situação anterior e imaginar a atuação de uma pessoa não capacitada em uma situação real de emergência, tendo que auxiliar as pessoas na fuga, sem a competência necessária. • Quando muda o layout em algum setor da empresa, alterando condições de riscos existentes, há necessidade de atualização do plano. Exemplo: podemos imaginar uma mudança que alterou a rota de fuga, mas o plano não foi atualizado e as pessoas não foram treinadas, com certeza vai dificultar a saída das pessoas do local sinistrado. • Muitas vezes as empresas mudam a matéria-prima e insumos em seus processos, ocorrendo mudança de riscos com novos produtos químicos, matérias-primas e outros insumos. Exemplo: vamos imaginar um produto químico novo que a empresa adquiriu e que apresenta riscos não identificados na avaliação inicial de riscos, e ocorra um acidente com esse produto, atingindo pessoas, contaminando a água e solo. Como será o combate a esse tipo de cenário, sendo que não foram definidos procedimentos de emergência e nem disponibilizados recursos para combater esse acidente? Essas são algumas situações que justificam o gerenciamento de um plano, mas existem outras como: mudança na legislação que trata de plano de emergência, após uma emergência ou simulação, em que alguma coisa não funcionou como deveria. Dessa forma, consideramos o gerenciamento do plano parte fundamental em todo esse processo de elaboração e manutenção do plano de emergência ou contingência. TÓPICO 2 | GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS 181 4 INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS E EFEITOS Como parte complementar, mas não menos importante, após um acidente deve-se realizar uma investigação das causas e efeitos, para evitar que o mesmo torne a ocorrer. Então, a empresa deve estabelecer, implementar e manter um procedimento para tratar os pontos identificados na investigação, reais ou potenciais, executando ações corretivas e preventivas. Tal procedimento deve definir requisitos para: • identificar e corrigir a causa do acidente, executando ações para reduzir seus impactos ambientais; • determinar ações para evitar sua repetição; • avaliar se ações tomadas foram apropriadas para evitar a ocorrência; • registrar os resultados das ações corretivas e preventivas executadas. Durante essa investigação, é importante levar em consideração que ações executadas devem ser adequadas à magnitude dos problemas e ao impacto ambiental encontrado. IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a), a NBR 14004:2005 foi cancelada e substituída pela versão corrigida NBR 14004:2007. Importante fazer uma consulta e verificar as mudanças ocorridas na versão 2007. Caro(a) acadêmico(a), lembra-se do PDCA estudado na Unidade 1? Você pode utilizar essa ferramenta como auxílio no gerenciamento do plano. Você planeja o plano (planejar), executa o plano (executar), acompanha o andamento do plano checando a execução (checar) e pode corrigir o plano se algo der errado (corrigir/melhorar). Pode ainda utilizar, para fins de elaboração e gerenciamento de um plano de emergência, a norma ABNT NBR ISO 14004 (2005), que trata de ajuda prática sobre preparação e resposta a emergências. ATENCAO 182 UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 5 COMUNICAÇÃO COM A COMUNIDADE, MÍDIA E ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO Vivemos na era da comunicação. O mundo tornou-se pequeno. Instantaneamente, podemos nos conectar com pessoas do outro lado do planeta, por internet, e-mail, telefone, celulares e outros meios. Como citado na Unidade I, Tópico 3, a comunicação para uma empresa que adota um SGA é a primeira urgência. Tanto internamente como externamente, a empresa tem que assegurar métodos de comunicação eficazes e transparentes, podem ser reuniões regulares de grupos de trabalho, boletins informativos, quadro de avisos e intranet. Essa comunicação não é uma única via, mas uma via de mão dupla, ou seja, da organização para colaboradores e parceiros, bem como um canal de abertura dos colaboradores/parceiros para a organização. Para isso, recomenda-se que as organizações implementem um procedimento para receber, documentar e responder essas comunicações das partes interessadas. A organização deve decidir se realizará comunicação externa sobre seus aspectos ambientais significativos, devendo documentar sua decisão. Se a decisão for comunicar, a organização deve estabelecer e implementar método (s) para esta comunicação externa. Dependendo da natureza da não conformidade, ao se estabelecerem procedimentos para lidar com esses requisitos, as organizações podem elaborá- los com um mínimo de planejamento formal, ou por meio de uma atividade mais complexa e de longo prazo. É recomendado que a documentação seja apropriada ao nível de ação. Finalizando a investigação, a organização busca assegurar que seja feita uma reavaliação do procedimento do Plano de Contigência, caso necessário, também, entre outros documentos do SGA. IMPORTANT E Parte interessada é toda pessoa ou empresa que tenha algum contato com a organização em questão, incluindo colaboradores, terceiros, fornecedores, clientes, vizinhança, órgãos ambientais e outros. 183 Neste tópico, caro(a) acadêmico(a), você pôde estudar os seguintes itens referentes à administração ambiental: • Aprendermos a importante questão de como lidar com crises ambientais. • Tivemos a noção de que o simples fato de implantarmos um SGA não significa que estamos imunes a acidentes ou ocorrências ambientais de qualquer natureza. • As pessoas não são perfeitas, e as SGAs também não. Entretanto, temos sempre que ter um plano de emergência para tratarmos dessa delicada questão. Temos que investigar as causas que levaram a essa ocorrência, tratando para que esse fato não se repita, bem como mitigando os impactos ambientais que tal acidente possa ter causado. • É importante analisar oportunidades de melhorias dentro do SGA, retroalimentando-o com os resultados encontrados, buscando sempre a melhoria contínua do mesmo documento. RESUMO DO TÓPICO 2 184 AUTOATIVIDADE Ao término desse tópico, sugerimos que você realize uma análise do conteúdo, descrevendo a importância da gestão de crises ambientais sobre o andamento do SGA de uma empresa que busca um alto desempenho ambiental. 185 TÓPICO 3 MODELOS DE GESTÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Chegamos ao terceiro tópico de nossa disciplina. Agora, abordaremos os modelos de sistemas de gestão ambiental, responsabilidade social, sistemas de gestão da energia e sistema de gestão de riscos. Esse tópico foi baseado nas normas internacionais e nacionais que regem ambos os sistemas, como a norma ABNT NBR ISO 14001:2004 sistemas de gestão ambiental - requisitos e diretrizes para uso; norma ABNT NBR ISO 14004:2005 sistemas de gestão ambiental - diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio; norma ABNT NBR ISO 50001:2011 - sistemas de gestão da energia - requisitos com orientações para uso; norma ABNT NBR ISO 31000:2009 - gestão de riscos, princípios e diretrizes; norma ABNT NBR 16001:2012 – responsabilidade social – sistema de gestão – requisitos; norma ABNT NBR ISO 26000:2010 - diretrizes sobre responsabilidade social; BS 7750 especifica os requisitos para o desenvolvimento, implantação e manutenção de sistemas de gestão ambiental;SA 8000 – Social Accountability. Serão apresentadas definições, modelos e critérios utilizados para a montagem de um sistema de gestão ambiental e da responsabilidade social. Lembramos que as normas em questão, assim como esse tópico, servirão apenas como um guia. Cada organização pode traçar seu sistema de acordo com sua realidade, desde que obedeça aos requisitos básicos das normas. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 186 2.1 CICLO PDCA 2 MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL O termo gestão ambiental é bastante abrangente. Ele é frequentemente usado para designar ações ambientais em determinados espaços geográficos, como, por exemplo, gestão ambiental de bacias hidrográficas, gestão ambiental de parques e reservas florestais, gestão de áreas de proteção ambiental, gestão ambiental de reservas de biosfera e outras tantas modalidades de gestão que incluam aspectos ambientais. Segundo Barbieri (2007, p. 25): Os termos administração, gestão do meio ambiente ou simplesmente gestão ambiental serão aqui entendidos como diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, quer reduzindo ou eliminando os danos ou problemas causados pelas ações humanas, quer evitando que eles surjam. O modelo de gestão ambiental mais utilizado é o baseado na norma ISO 14001:2004. Entretanto, o mesmo não deve ser adotado como padrão, visto que cada empresa tem peculiaridades próprias e devem realizar alterações para adaptarem-se à norma. Por sua vez, os modelos de gestão ambiental, independentemente de se basear na ISO 14001:2004, possuem em comum a utilização do método PDCA. De acordo com Assumpção (2011, p. 42), “A visão sistêmica da ISO 14001 está relacionada com a modelagem do PDCA que tem como objetivo garantir que os elementos do SGA sejam sistematicamente identificados, controlados e monitorados”, conforme demonstra a figura a seguir. Lembrando o que foi estudado na Unidade 1, o PDCA é uma ferramenta da qualidade que pode ser utilizada para qualquer tipo de sistema de gestão. Veja, a IMPORTANT E É muito importante saber a definição de gestão ambiental empresarial. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 187 seguir, a aplicação da ferramenta PDCA na implantação de um sistema de gestão ambiental com base na norma ABNT NBR ISO 14001:2004. FONTE: Adaptado da NBR-ISO 14001 FIGURA 14 – MODELO DE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – CICLO PDCA 2.2 IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL O processo de implementação de um sistema de gestão ambiental começa pela avaliação ambiental inicial. Esse procedimento pode ser realizado por pessoas da própria organização, pois, quando a empresa já dispõe de pessoal habilitado ou relacionado com questões ambientais, essa tarefa poderá ser feita internamente. Por outro lado, não existindo tal possibilidade, a organização poderá recorrer aos serviços de terceiros. Empresas em geral e as mais poluentes em particular possuem uma série de problemas ambientais que vão desde suas fontes poluidoras, destino dos resíduos e despejos perigosos, até o cumprimento da legislação ambiental. Muitas vezes, as empresas mal conseguem perceber suas deficiências em termos de meio ambiente. Há vários aspectos que contribuem para isso, como, por exemplo: UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 188 • falta de percepção ou conscientização ecológica de dirigentes e colaboradores; • forma tradicional de produção, tratamento de efeitos poluidores no fim do processo industrial; • redução de despesas, a qualquer custo, em detrimento do meio ambiente; • manutenção da competitividade em setores que em geral não cuidam das questões ambientais; • falta de monitoramento ou fiscalização dos órgãos ambientais competentes. A avaliação ambiental inicial permite às organizações: • conhecer seu perfil e desempenho ambiental; • adquirir experiência na identificação e análise de problemas ambientais; • identificar pontos fracos que possibilitem obter benefícios ambientais e econômicos, muitas vezes óbvios; • tornar mais eficiente a utilização de matérias-primas e insumos; • servir de subsídios para fixar a política ambiental da organização. Para a execução da avaliação ambiental podem ser usadas várias técnicas, isoladamente ou de forma combinada - sempre dependerá da atividade ou organização a ser avaliada. As principais técnicas comuns para fazer a avaliação podem incluir: • aplicação de questionários previamente desenvolvidos para fins específicos; • realização de entrevistas dirigidas, com o devido registro dos resultados obtidos; • utilização de listas de verificação pertinentes às características da organização. Estas se mostram muito apropriadas para analisar atividades, linhas de produção ou unidades fabris semelhantes, permitindo comparações; NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ gestao/bibliografia/avaliacao_ambiental_inicial.html>. Acesso em: 8 fev. 2013. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 189 • inspeções e medições diretas em casos específicos, como, por exemplo, emissões atmosféricas, quantidades e qualidade de despejos; • avaliação de registros de ocorrências ambientais, como infrações, multas etc. 2.2.1 O que diz a NBR ISO 14004 Abrangência da avaliação ambiental inicial: • identificação dos requisitos legais e regulamentares; • identificação dos aspectos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços, de modo a determinar aqueles que têm ou possam ter impactos ambientais significativos e impliquem responsabilidade civil; • a avaliação do desempenho em relação a critérios internos pertinentes, padrões externos, regulamentos, código de prática, princípios e diretrizes; • práticas e procedimentos de gestão ambiental existentes; • identificação de políticas e procedimentos existentes relativos às atividades de aquisição e contratação; • informações resultantes da investigação de incidentes anteriores, envolvendo não-conformidades. • oportunidades de vantagens competitivas; • os pontos de vista das partes interessadas; • funções ou atividades de outros sistemas organizacionais que possam facilitar ou prejudicar o desempenho ambiental. NOTA Este conteúdo está disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ gestao/bibliografia/avaliacao_ambiental_inicial.html>. Acesso em: 8 fev. 2013. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 190 A partir da avaliação inicial, a empresa terá uma visão geral da sua real situação em relação a todas as questões ambientais, tornando-se mais fácil para os administradores fazer o planejamento, pois terão noção de custos e recursos necessários para a adequação de seus processos. Para iniciar qualquer programa ambiental, deve-se conhecer a situação ambiental em que a organização se encontra, avaliando as políticas praticadas, os procedimentos elaborados, os objetivos e metas ambientais estabelecidos, os riscos e impactos ambientais documentados e os reais, os programas de treinamentos definidos e os estabelecidos, as condições operacionais e de manutenção dos sistemas, os passivos ambientais existentes, as documentações relacionadas etc. (ASSUMPÇÃO, 2011, p. 109). 2.3 ESTABELECIMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL Segundo a ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. 12), “A política ambiental é a força motriz para a implementação e o aprimoramento do sistema da gestão ambiental de uma organização, permitindo que seu desempenho ambiental seja mantido e potencialmente aperfeiçoado”. Veja, a seguir, artigo sobre política ambiental do site Ambiente Brasil. A política ambiental deve estabelecer um senso geral de orientação para as organizações e simultaneamente fixar os princípiosde ação pertinentes aos assuntos e à postura empresarial relacionados ao meio ambiente. Tendo como base a avaliação ambiental inicial ou mesmo uma revisão que permita saber onde e em que estado a organização se encontra em relação às questões ambientais, chegou a hora de a empresa definir claramente aonde ela quer chegar. Nesse sentido, a organização discute, define e fixa o seu comprometimento e a respectiva política ambiental. IMPORTANT E Junto ao texto sempre traremos a visão das normas que estão servindo de referência, para você tomar conhecimento de sua interpretação. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 191 O objetivo maior é obter um comprometimento e uma política ambiental definida para a organização. Ela não deve simplesmente conter declarações vagas; ela precisa ter um posicionamento definido e forte. Além da política ambiental, empresas também adotam a missão de que, em poucas palavras, expõem seus propósitos. A política ambiental da organização deve necessariamente estar disseminada nos quatro pontos cardeais da empresa, ou seja, em todas as áreas administrativas e operativas e também deve estar incorporada em todas as hierarquias existentes, ou seja, de baixo para cima e de cima para baixo – da alta administração até a produção. Ao adotar a política ambiental, a organização deve escolher as áreas mais óbvias a serem focalizadas com relação ao cumprimento da legislação e das normas ambientais vigentes específicas no que se refere a problemas e riscos ambientais potenciais da empresa. A organização deve ter o cuidado de não ser demasiadamente genérica afirmando, por exemplo: comprometemo-nos a cumprir a legislação ambiental. É óbvio que qualquer empresa, com ou sem política ambiental declarada, deve obedecer à legislação vigente. O compromisso com o cumprimento e a conformidade é de vital importância para a organização, pois, em termos de gestão ambiental, inclusive nos moldes das normas da série ISO 14000, a adoção de um SGA é voluntária, portanto nenhuma empresa é obrigada a adotar uma política ambiental ou procedimentos ambientais espontâneos, salvo em casos de requisitos exigidos por lei, como, por exemplo: licenciamento ambiental, controle de emissões, tratamento de resíduos etc. FONTE: Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/sistema_de_gestao_ ambiental/comprometimento_e_politica_ambiental.html>. Acesso em: 13 fev. 2013. Uma política ambiental estabelece os princípios de ação para uma organização. Estabelece o nível de responsabilidade e desempenho ambiental requerido de uma organização, contra o qual todas as ações subsequentes serão julgadas. Recomenda-se que a política seja apropriada aos impactos ambientais das atividades, produtos e serviços da organização (dentro do escopo definido do sistema de gestão ambiental) e que ela oriente o estabelecimento de objetivos e metas. (ABNT NBR ISO 14004, 2005, p. 9). A ABNT (NBR ISO 14004, 2005, p. 9) recomenda ainda que uma organização, no desenvolvimento de sua política ambiental, considere: • missão, visão, valores essenciais e crenças da organização; • coordenação com outras políticas da organização (por exemplo, qualidade, saúde e segurança ocupacional); UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 192 • requisitos das partes interessadas e comunicação das mesmas; • princípios orientadores; • condições locais e regionais específicas; • seus compromissos com a prevenção de poluição e com a melhoria contínua; • seu compromisso com o atendimento aos requisitos legais e outros requisitos subscritos pela organização. A alta administração deve definir a política ambiental da organização e assegurar que, dentro do escopo definido de seu sistema da gestão ambiental, a política: a) seja apropriada à natureza, escala e impactos ambientais de suas atividades, produtos e serviços; b) inclua um comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção de poluição; c) inclua um comprometimento em atender aos requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização que se relacionem a seus aspectos ambientais; d) forneça uma estrutura para o estabelecimento e análise crítica dos objetivos e metas ambientais; e) seja documentada, implementada e mantida; f) seja comunicada a todos que trabalhem na organização ou que atuem em seu nome; g) esteja disponível para o público. 2.3.1 O que diz a NBR ISO 14001 Conforme a ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. 4): NOTA A alta administração usualmente é constituída de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos que orientam e controlam uma organização em seu mais alto nível. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 193 2.4 PRINCÍPIOS E ELEMENTOS DE UM SGA Ao considerar a gestão ambiental no contexto empresarial, percebe-se, de imediato, que ela pode ter, e geralmente tem, uma importância muito grande, inclusive estratégica. Isso ocorre porque, dependendo do grau de sensibilidade para com o meio ambiente, demonstrado e adotado pela alta administração, já pode perceber e antever o potencial que existe para que uma gestão ambiental efetivamente possa ser implantada. De qualquer modo, dependendo do grau de vínculo com as questões ambientais, as empresas que já estão praticando a gestão ambiental ou aquelas que estão em fase de definição de diretrizes e políticas para iniciarem o seu gerenciamento ambiental devem ter em mente os princípios e os elementos de um SGA e as principais tarefas e atribuições que, normalmente, são exigidas para que seja possível levar a bom termo a gestão ambiental. 2.4.1 O que diz a NBR ISO 14004 São considerados princípios e elementos de um SGA: Comprometimento e política - é recomendado que uma organização defina sua política ambiental e assegure o comprometimento com o seu SGA. Planejamento: é recomendado que uma organização formule um plano para cumprir sua política ambiental. Implementação: para uma efetiva implementação, é recomendado que uma organização desenvolva a capacitação e os mecanismos de apoio necessários para atender sua política, seus objetivos e metas ambientais. Medição e avaliação: é recomendado que uma organização mensure, monitore e avalie seu desempenho ambiental. Análise crítica e melhoria: é recomendado que uma organização analise criticamente e aperfeiçoe continuamente seu sistema de gestão ambiental, com o objetivo de aprimorar seu desempenho ambiental global. Considerando que a política trata das intenções e princípios gerais de uma organização em relação ao seu desempenho ambiental, todas as ações da empresa devem estar alinhadas à política definida pela direção, e se tratando de uma política com base na Norma ABNT NBR ISO 14001:2004, deve também atender aos requisitos da cláusula 4.2 da norma. Veja a seguir, os princípios e elementos de um SGA. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 194 ASPECTOS AMBIENTAIS ASPECTOS COMERCIAIS Escala dos impactos Potencial de exposição legal e regulamentar Gravidade (importância) do impacto Dificuldade para redução ou eliminação dos impactos Probabilidade de ocorrência Custo para a redução ou eliminação dos impactos Duração do impacto Efeitos de uma alteração sobre outras atividades e processos Localização dos impactos Preocupação das partes interessadas Momento de ocorrência dos impactos Efeitos na imagem pública da organização FONTE: Adaptado de: NBR ISO 14004 Planejamento da implementação de um sistema de gestão ambiental, como qualquer atividade de planejar, exige alguns cuidados básicos para que as intenções possam ser transformadas em ações reais. Portanto, as organizações devem formular um plano para cumprir sua política ambiental. Para iniciar o planejamento propriamente dito, a organização deve estabelecer e manter procedimentos que permitam avaliar, controlar e melhorar os aspectosambientais da empresa, especialmente no que diz respeito ao cumprimento da legislação, normas, uso racional de matérias-primas e insumos, saúde e segurança dos trabalhadores e minimização de danos ambientais, dentre outros aspectos. Segundo o entendimento expresso na própria norma NBR-ISO 14.004, o relacionamento entre os aspectos ambientais e os impactos (danos) ambientais é o de causa-efeito. 2.4.1.1 Planejamento QUADRO 7 – IDENTIFICAÇÃO DE ASPECTOS AMBIENTAIS E COMERCIAIS OBJETIVOS METAS REFLEXOS ECONÔMICOS Reduzir o consumo de água industrial. Obter uma redução de 10% em relação ao ano anterior. Reduzir as despesas Prolongar a vida útil do aterro sanitário. Aumentar em 100% a capacidade de deposição. Não fazer novos investimentos. Substituir o uso de solventes químicos importados. Utilizar solventes biode- gradáveis nacionais. Favorecer a economia local. QUADRO 8 – EXEMPLOS DE OBJETIVOS E METAS AMBIENTAIS COM REFLEXOS ECONÔMICOS TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 195 FONTE: Adaptado de: NBR ISO 14004 Conforme a NBR ISO 14004, os elementos do sistema de gestão ambiental relativos ao planejamento são seis. Veremos cada um a seguir: 1 Identificação dos aspectos ambientais e avaliação dos impactos ambientais associados A norma ABNT NBR ISO 14001:2004 estabelece, na subcláusula 4.3.1, orientações para os aspectos ambientais: A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimento(s) para: - identificar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e serviços dentro do escopo definido de seu sistema da gestão ambiental, que a organização possa controlar e aqueles os quais possa influenciar, levando em consideração os desenvolvimentos planejados ou novos, ou as atividades, produtos e serviços novos ou modificados; e - determinar os aspectos que tenham ou possam ter impactos significativos sobre o meio ambiente (p. ex., aspectos ambientais significativos). A organização deve documentar essas informações e mantê-las atualizadas. A organização deve assegurar que os aspectos ambientais significativos sejam cobertos no estabelecimento, implementação e manutenção de seu sistema da gestão ambiental. Reconstituição da vegetação de áreas degradadas. Reconstituição de todas as áreas nos próximos cinco anos e não permitir o surgimento de novas multas ambientais e suspensão da licença de operação. Evitar a suspensão da licença de operação e não pagar multas. Quando a norma diz que a organização deve estabelecer, implementar e manter um procedimento, significa que deve ser definida uma metodologia que contempla o atendimento ao que a norma pede e ainda deve implementar e manter o procedimento, isto é, deve funcionar na prática. De acordo com Assumpção (2011, p. 125), “O objetivo de identificar os aspectos ambientais é para evidenciar quais são as atividades e quais são os produtos que possuem riscos de provocar acidentes ambientais”. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 196 De acordo com a norma ABNT NBR ISO 14001:2004, aspecto ambiental é “[...] elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”. NOTA Um aspecto ambiental significativo é aquele que tem ou pode ter um impacto ambiental significativo. Assumpção (2011) define alguns exemplos típicos de aspecto ambiental: - matérias-primas; - odor provocado pelo processo; - ruído provocado pelo maquinário; - resíduos industriais; - efluente líquido industrial; - produtos químicos; - lixo e materiais recicláveis; - produtos acabados; - resíduos industriais; - operar equipamentos; - efetuar manutenção em equipamentos etc. Todos os aspectos citados, se não controlados, podem causar impactos significativos ao meio ambiente. A norma ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. 2) define impacto ambiental como “[...] qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização”. Então, veja um quadro de aspectos e impactos ambientais: QUADRO 10 – RELAÇÃO DE ASPECTOS E IMPACTOS ASPECTO AMBIENTAL IMPACTO AMBIENTAL Lavar veículos Contaminação dos aquíferos superficiais decorrente da descarga contínua de efluente líquido com óleos e graxas Vazamento de inflamáveis Contaminação dos aquíferos subterrâneos em decorrência de avarias no tanque Executar tarefa de descarregar inflamáveis Contaminação dos aquíferos em decorrência de derramamento FONTE: Assumpção (2011, p. 133) TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 197 Conforme definido pela norma ABNT NBR ISO 14001:2004, a organização deve documentar e manter todas as informações atualizadas. Define também que todos os aspectos significativos, isto é, aqueles que possam causar um impacto significativo ao meio ambiente, devem ser considerados no estabelecimento, implementação e manutenção de seu sistema da gestão ambiental. Dessa forma, a organização deve ficar atenta aos aspectos significativos de seus processos, priorizando esses aspectos nas ações definidas pela empresa. 2 Requisitos legais Requisitos legais ambientais são exigências estabelecidas no âmbito federal, estadual ou municipal e ainda, em alguns casos, legislação internacional. Veja a seguir, o que estabelece a norma ABNT NBR ISO 14001:2004. A norma ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. 5) estabelece, na subcláusula 4.3.2, os requisitos legais e outros: A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimento(s) para: - identificar e ter acesso a requisitos legais aplicáveis e a outros requisitos subscritos pela organização, relacionados aos seus aspectos ambientais; e - determinar como esses requisitos se aplicam aos seus aspectos ambientais. A organização deve assegurar que esses requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização sejam levados em consideração no estabelecimento, implementação e manutenção de seu sistema da gestão ambiental. Nessa subcláusula, a norma também define que a empresa tenha um procedimento, devendo implementar e manter, de modo que seja possível identificar e ter acesso aos requisitos legais aplicáveis, e que estes estejam relacionados aos aspectos ambientais dos processos da empresa. Devido ao grande número de legislação existente e às mudanças que ocorrem com ela constantemente, as empresas têm adotado um banco de dados com todas as legislações aplicáveis para facilitar o trabalho e manter-se atualizadas no assunto pertinente. Importante ressaltar que os requisitos legais identificados e aplicáveis na empresa serão avaliados conforme previstos na subcláusula 4.5.2 da norma ABNT NBR ISO 14001:2004. A norma ABNT NBR ISO 14001:2004 estabelece, na subcláusula 4.5.2, orientações sobre avaliação do atendimento a requisitos legais e outros: UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 198 Vimos que não basta identificar os requisitos legais aplicáveis, a empresa deverá definir um procedimento para avaliar periodicamente o atendimento a estes requisitos. 3 Política ambiental A política ambiental é considerada elemento fundamental em um SGA, pois, a partir da política, a empresa define ações, considerando tudo que foi definido em sua política. Veja exemplo de políticas definidas por empresas no Brasil. A organização deve estabelecer, implementar e manter procedimentos(s) para avaliar, periodicamente, o atendimento aos requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização para demonstrar o comprometimento da organização com o atendimento a estes requisitos. A organização deve manter registros dos resultados das avaliações periódicas. POLÍTICA INTEGRADA – SAÚDE E SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E QUALIDADE – GERDAU Para a Gerdau, o ser humano em sua integridade é um valor que está acima dos demais objetivose prioridades da empresa. Nenhuma situação de emergência, produção ou resultado pode comprometer a saúde ou a segurança das pessoas, a proteção do meio ambiente e a qualidade dos produtos e serviços. A Gerdau, fornecedora de soluções e produtos de aço, busca a satisfação de acionistas, clientes, colaboradores, fornecedores e comunidades por meio da melhoria contínua de produtos e serviços, processos e sistema de gestão. Para tanto, atua comprometida com a qualidade, com o controle dos riscos à saúde e à segurança dos colaboradores e com a gestão de aspectos e a prevenção de impactos ambientais. Suas ações são sempre fundamentadas em objetivos e metas de desempenho e no atendimento consistente à legislação aplicável e aos compromissos assumidos, visando ao desenvolvimento sustentável (ambiental, social e econômico). PRINCÍPIOS • A liderança é a principal responsável pela segurança de todas as pessoas que atuam sob sua gestão, promovendo todos os esforços necessários para preservar a saúde e a segurança das pessoas, o desenvolvimento sustentável e a produtividade e eficiência dos processos. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 199 • Cada colaborador tem a responsabilidade de zelar por sua saúde e sua segurança, assim como pelas de seus colegas, pelo meio ambiente e pela qualidade dos produtos e serviços. Deve realizar seu trabalho de acordo com os procedimentos, instruções, normas e regras estabelecidas pela empresa. • A Gerdau e todos os seus colaboradores se comprometem a buscar a melhoria contínua em relação à saúde e à segurança das pessoas, ao meio ambiente, a eficácia dos processos e a satisfação dos clientes com a qualidade dos produtos e serviços. Os esforços devem ser orientados a ações de prevenção, buscando e compartilhando as melhores práticas e utilizando de forma efetiva o aprendizado em toda a organização. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL - 3M DO BRASIL Respeitar o meio ambiente faz parte dos valores da empresa, e praticar ações que resultam na preservação ambiental também é parte da cultura da corporação. A 3M acredita que por meio de seus recursos e de seus funcionários pode contribuir para a conscientização de outras empresas e pessoas sobre a importância do uso racional das reservas de energia e das matérias-primas utilizadas no dia a dia da empresa. Ao longo dos anos, a 3M tem demonstrado sua preocupação e postura consciente com relação à preservação do meio ambiente. Pioneira, a empresa estabeleceu em 1975 programas e políticas ambientais que desde então refletem o posicionamento da companhia no mercado como uma empresa ética, consciente e ambientalmente responsável. Com altos investimentos no desenvolvimento de tecnologias para tratamento do lixo industrial, reciclagem de produtos e prevenção à poluição, a 3M consegue obter soluções práticas e eficientes para a proteção do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida de seus funcionários e das comunidades em que atua. A Política Corporativa de Meio Ambiente, emitida em 1975, é válida para todas as fábricas da companhia no mundo e declara que a 3M reconhecerá e exercerá sua responsabilidade para: • solucionar os seus problemas de poluição ambiental; • prevenir a poluição na fonte, onde e quando possível; • desenvolver produtos que tenham o mínimo efeito no meio ambiente; • conservar os recursos naturais por meio da prática de reciclagem e outros métodos apropriados; FONTE: Disponível em: <http://www.gerdau.com.br/meio-ambiente-e-sociedade/meio-ambiente- politica-de-meio-ambiente.aspx>. Acesso em: 9 fev. 2013. UNIDADE 3 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL 200 • assegurar que suas instalações e produtos suportam e estão de acordo com os regulamentos das agências ambientais; • apoiar, sempre que possível, agências governamentais e organizações oficiais que defendem a preservação ambiental. Seguindo a política ambiental corporativa da companhia, a 3M do Brasil cumpre as normas internas, inclusive as que, eventualmente, ainda hoje não estejam previstas na legislação ambiental brasileira, mas que possivelmente serão no futuro. Um exemplo desta postura é o controle do lançamento de solventes na atmosfera, com a implantação de processos de fabricação que não utilizam este produto, sobre o qual ainda não existe legislação no Brasil. Política de Meio Ambiente, Saúde e Segurança Ocupacional As empresas 3M do Brasil, 3M Manaus Indústria de Produtos Químicos, Cuno Latina e Abzil Indústria e Comércio, fabricantes de produtos nos segmentos de Serviços de Segurança e Proteção, Elétrico & Comunicações, Industrial & Transportes, Consumo & Escritório, Displays & Gráficos e Cuidados da Saúde, destinados ao mercado local e de exportação, buscam: - proporcionar aos que nelas atuam um local de trabalho seguro, saudável e com responsabilidade ambiental e social; - analisar seus processos para determinar seus impactos e riscos significativos, buscando solucionar problemas por meio da melhor tecnologia viável, tendo o compromisso com a melhoria contínua; - preservar sempre os recursos naturais, sendo proativa, prevenindo e corrigindo poluição na fonte e trabalhando sempre na prevenção de lesões e doenças ocupacionais; - assegurar que nossas fábricas e produtos atendam toda a legislação municipal, estadual e federal e estejam em conformidade com outras obrigações aplicáveis; - assistir, sempre que possível, as agências governamentais engajadas em atividades de Saúde, Segurança e Meio Ambiente; - treinar os funcionários para exercer seus deveres e responsabilidades, desenvolvendo programas que promovam o comprometimento de todos com esta política; - promover a Análise Crítica periódica desta política, bem como do Sistema de Gestão, responsabilizando a liderança pela priorização destas atividades. TÓPICO 3 | MODELOS DE GESTÃO 201 Preservação da Água Os efluentes utilizados nos processos de fabricação dos produtos são enviados para as estações de tratamento de efluentes – ETE – das unidades 3M de Sumaré e de Ribeirão Preto. Depois de serem devidamente tratados e avaliados com relação ao atendimento dos requisitos legais estabelecidos pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), são descartados em corpos d'água. Os efluentes também podem ser enviados a ETEs municipais, como acontece na unidade 3M de Itapetininga. A companhia implementou diversos projetos que visam à otimização da utilização da água nos processos de manufatura e nas instalações da empresa, ao mesmo tempo em que possibilitam o atendimento eficiente ao crescimento da capacidade produtiva sem aumento na captação de água, coletada, atualmente, nas lagoas e poços artesianos das unidades da 3M no Brasil. Como exemplo, um dos projetos visa ao aumento da reutilização do efluente tratado, por meio do processo de osmose reversa. Programa de Redução e Segregação de Resíduos Outra grande preocupação da 3M com relação ao meio ambiente é o destino que é dado aos resíduos industriais – os lixos industriais, que são as sobras de materiais dos processos de produção, como embalagens de papelão, plásticas ou metálicas, ou produtos fora de especificação. Assim, para garantir o cumprimento de uma postura ambientalmente correta, a empresa investe na implantação de um projeto que gerencia o destino destes resíduos, visando, sempre que possível, à reciclagem destes materiais. O grande diferencial deste projeto é a participação dos funcionários, elementos fundamentais para a eficácia do processo, já que as atividades de segregação começam nas fontes geradoras. Além disso, depois de segregado, o lixo é enviado para uma área de preparação e destinado às empresas de reciclagem. O que não pode ser reciclado é enviado para disposição adequada em aterro sanitário, coprocessamento