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História do Brasil ESTADO NOVO: A CONSTITUIÇÃO OUTORGADA DE 1937 1 Sumário Introdução ...................................................................................................................................................... 2 Objetivo ........................................................................................................................................................... 2 1. A Constituição outorgada de 1937 ............................................................................................... 2 1.1. Os primeiros anos do Estado Novo .......................................................................................... 2 1.2. Elementos totalitários do Estado Novo .................................................................................. 3 Exercícios ........................................................................................................................................................ 6 Gabarito .......................................................................................................................................................... 8 Resumo............................................................................................................................................................ 8 2 Introdução Na apostila anterior, compreendemos como se desenvolveu a radicalização ideológica e as ações estratégicas do Governo Constitucional de Getúlio Vargas (1934- 1937). Iniciado com a promulgação da Constituição de 1934, encerrou com o Golpe de Estado em 1937, culminando no início da ditadura varguista do Estado Novo (1937- 1945). Nessa apostila, vamos iniciar nossa análise sobre o Estado Novo (1937-1945), nos debruçando sobre seus anos iniciais. Em 1937, Getúlio Vargas outorgou uma Constituição. Nessa época, em seu governo, já apresentavam elementos totalitários que vão nortear todo o seu regime ditatorial e são fundamentais para entender as marcas desse período da História do Brasil. Objetivos • Identificar e compreender os elementos totalitários presentes na Constituição outorgada de 1937; • Relacionar os elementos totalitários do estado Novo com a construção de uma imagem carismática do ditador Getúlio Vargas. 1. A Constituição outorgada de 1937 1.1 Os primeiros anos do Estado Novo Após a suspenção da Constituição que estava vigente no Brasil, das eleições que estavam previstas o cancelamento dos trabalhos do Poder Legislativo, Vargas outorgou um novo conjunto de leis. Você sabe qual a diferença entre uma Constituição outorgada e uma Constituição promulgada? A Constituição promulgada é aquela que foi elaborada, discutida e votada por uma Assembleia Constituinte, ou, de forma geral, pelos representantes do país e depois promulgada pelo Poder Executivo. Isto é, tem como princípio legitimador a ideia de conciliação, consenso e negociação política. Também possuí a legitimação da autoridade representativa que definia os deputados como porta-vozes dos anseios da população, os quais estariam presentes em seu texto. Diferentemente, a Constituição outorgada, tal como foi por Getúlio Vargas, é formulada por membros escolhidos pelo Poder Executivo e por ele decretada, sem a necessidade de aprovação dos representantes nacionais. Nesse sentido, a autoridade e a legitimidade são dadas pelo próprio Vargas, ao mesmo tempo, depositando e centralizando sob sua pessoa a ideia que ele representava os interesses de toda a 3 população. Além disso, com a outorga de uma Constituição Vargas criava a aparência de legalidade para seu governo que, na verdade, foi estabelecido por um golpe de Estado que, por definição, é uma quebra da normalidade e legalidade política. A Constituição outorgada foi redigida às pressas pelo jurista Francisco Campos, ministro da Justiça de Vargas. Inspirada nas constituições fascistas da Itália e da Polônia, na época foi apelidada de forma pejorativa de Polaca, aludindo ao nome vulgar que se dava para as prostitutas. De toda maneira, um exame das suas diretrizes revela a patente centralização dos poderes no Poder Executivo, fortalecendo o poder do presidente. A mesma também estabelecia a subordinação do Poder Judiciário ao Executivo. Retomava a prática da indicação dos governadores para o governo dos estados pelo presidente, tal como os interventores. Além disso, determinava a legislação trabalhista. Apesar de prever a reabertura do Legislativo, na prática isso não aconteceu, mantendo suas atribuições concentradas no poder Executivo. FIQUE ATENTO! 1.2 Elementos totalitários do Estado Novo Apesar de não se definir como um regime totalitário, o Estado Novo apresentava alguns traços totalitários. Antes de mais nada, é importante frisar que o golpe de Estado sofreu pouquíssima oposição da população, o que pode ser entendido pelo anticomunismo disseminado pelo Governo Provisório e, depois, propagandeado oficialmente pelo Estado Novo. Getúlio Vargas estrategicamente também cooptou os principais líderes político liberais de oposição, absorvendo-os em cargos na máquina do Estado. Os interventores construíram uma espécie de nova política de governadores, comprometidos pessoalmente com as exigências do O Estado Novo pode ser considerado um regime fascista? Apesar da inspiração em constituições dessa natureza, é importante salientar que a ditadura de Vargas não foi um regime fascista. Autoritário, ditatorial e nacionalista, o Estado Novo não era dirigido por um partido e, por mais violento e repressor que tenha sido, não controlava os indivíduos de forma total, como esses totalitarismos. Por sua vez, nesses sistemas não era reservado nenhuma liberdade nem no espaço privado ou mesmo subjetivo para os indivíduos, por isso, o nome totalitarismo. 4 governo federal. Os operários urbanos se viam órfãos das principais lideranças de esquerda desde as perseguições e repressão iniciadas em 1935. O nacionalismo declarado de Vargas fazia com que estabelecesse uma aliança ambígua com os integralistas. Eles apoiaram o golpe de 1937, simpatizavam com as medidas autoritárias do governo e receberam autorização de Vargas para sua sobrevivência, porém não tinham uma ligação oficial com o governo, mantidos à margem do poder instituído. Isso não bastava para os integralistas que em 1938 tentaram tomar o Palácio Guanabara e derrubar Vargas, porém, mal organizados, foram frustrados na tentativa que ficou conhecida pejorativamente como Intentona Integralista. Plínio Salgado foi para o exílio e o movimento perdeu força até o quase completo desaparecimento. A consolidação do Estado Novo contou com mais um elemento totalitário: o monopólio da propaganda do governo, com o estabelecimento da censura. Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para controlar e produzir a criação de uma imagem valorativa do regime, tanto enaltecendo os atos do governo, quanto a figura do presidente. O DIP controlava todos os meios de comunicação de massa, com uma violenta fiscalização e censura prévia (Figura 01). 01 Festividade em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, em frente ao Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro, 21 de abril de 1941. O evento foi promovido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. 5 SAIBA MAIS!A perseguição à oposição recebeu um incremento com a criação da Polícia Especial, chefiada por Filinto Muller, considerado truculento. Além do fortalecimento do poder policial, esta Polícia perseguia, torturava e vigiava os opositores do regime ferozmente. EXEMPLO O caso de Olga Benário (1908-1942), mulher de Prestes, causou muita comoção por conta da crueldade e violência. Ela, judia, alemã de nascimento e agente da União Soviética no Brasil, foi presa com o marido, deportada ainda grávida para a Alemanha nazista (Figura 02), onde foi aprisionada no campo de concentração de Ravensbruck. Poucos anos depois foi assassinada pela câmara de gás. Nas décadas de 1930 e 1940, o rádio era o principal meio de comunicação de massa, sendo um período conhecido como Era do Rádio. Vargas utilizava o rádio para pronunciar seus discursos e, em 1938, instituiu a Hora do Brasil, mais tarde chamada de Voz do Brasil. Era um programa diário, de transmissão obrigatória por todas as emissoras do Brasil e que servia para dar informações sobre o governo. Em 1942, o ministro do trabalho divulgava e explicava as leis trabalhistas decretadas. 6 02 Passaporte português falso apreendido no dia da captura de Luís Carlos Prestes e Olga Benário, registrados como Antônio Vilar e Maria Bergner Vilar. Exercícios 1. (ENEM, 2016) Em 1935, o governo brasileiro começou a negar vistos a judeus. Posteriormente, durante o Estado Novo, uma circular secreta proibiu a concessão de vistos a “pessoas de origem semita”, inclusive turistas e negociantes, o que causou uma queda de 75% da imigração judaica ao longo daquele ano. Entretanto, mesmo com as imposições da lei, muitos judeus continuaram entrando ilegalmente no país durante a guerra e as ameaças de deportação em massa nunca foram concretizadas, apesar da extradição de alguns indivíduos por sua militância política. (GRIMBERG, K. Nova língua interior: 500 anos de história dos judeus no Brasil. In: IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000 (adaptado)). Uma razão para a adoção da política de imigração mencionada no texto foi o(a): a) receio do controle sionista sobre a economia nacional. b) reserva de postos de trabalho para a mão de obra local. c) oposição do clero católico à expansão de novas religiões. d) apoio da diplomacia varguista às opiniões dos líderes árabes. e) simpatia de membros da burocracia pelo projeto totalitário alemão. 7 2. (ENEM, 2009) O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político. (CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940 (adaptado).). Segundo as ideias de Francisco Campos: a) os eleitores, políticos e juízes seriam mal intencionados. b) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório. c) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos. d) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal. e) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto. 3. (ENEM, 2009) A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado Novo, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na legislação de proteção ao trabalho. (GOMES, A. C. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ / Vértice. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988 (adaptado). Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para: a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos sociais foram conquistados por seu esforço, após anos de lutas sindicais. b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio de uma linguagem simples e de fácil entendimento. c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam um aprofundamento dos direitos trabalhistas. d) consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas. e) aumentar os grupos de discussão política dos trabalhadores, estimulados pelas palavras do ministro. 8 Gabarito 1. [e]. O governo Vargas na ditadura do Estado Novo apresentava diversos elementos totalitários que mostravam a sua simpatia para com os regimes totalitários então vigentes na Europa. 2. [e]. A Constituição de 1937 legitimou o Estado Novo com elementos notadamente totalitários e que podem ser percebidas nas formulações de Francisco Campos no texto como a críticas à democracia e a defesa do poder centralizado na figura do líder. 3. [d]. Getúlio Vargas foi a expressão maior do populismo no Brasil. Manipulava as massas trabalhadoras em seu proveito político através dos meios de comunicação de massa, especialmente, o rádio. O programa de rádio a “Hora do Brasil” foi criado durante o Estado Novo para disseminar as realizações do governo e contribuiu pra promover a imagem positiva de Vargas como o “Pai dos pobres” junto aos trabalhadores. Resumo Nessa apostila analisamos a outorga da Constituição em 1937 por Getúlio Vargas, no início do Estado Novo. Apelidada de Polaca, esta promovia a centralização e o fortalecimento dos poderes no poder Executivo e, dentre outras medidas, estabelecia uma espécie de política de governadores com os interventores, nomeados pelo presidente e que governavam os estados. Dessa forma, o Estado Novo aparentava um regime de legalidade que, na verdade, encobria a ditadura varguista. Além disso, apesar de não ser considerado um regime fascista ou totalitário, identificamos e examinamos os elementos totalitários presentes na Constituição outorgada e na política do Estado Novo. Destacam-se a criação de um aparato de Estado para a perseguição política da oposição, tal como a Polícia Especial, bem como, de censura e criação de uma propagando oficial de exaltação do regime e de Vargas, denominado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). 9 Referências bibliográficas ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda História – História Geral e História do Brasil. São Paulo: Ática, 1996. COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 1997. FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. _____. História Geral do Brasil. São Paulo: Elsevier, 2016. NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República. Da Queda da Monarquia ao Fim do Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016. Referências imagéticas Figura 01: FLICKR. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/arquivonacionalbrasil/25585567948>. Acesso em: 03/04/2019 às 21h37min. Figura 02: HISTORIANOVEST. Disponível em: <http://historianovest.blogspot.com/2009/02/as-muitas-tragedias- de-olga.html>. Acesso em: 03/04/2019 às 21h42min.
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