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Sociologia ASPECTOS ESSENCIAIS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX: AS CONTRADIÇÕES SOCIAIS E O MÉTODO DIALÉTICO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. Fundamentos da metodologia de Marx ...................................................................................2 1.1. O método materialista histórico-dialético ............................................................................2 1.2. Infraestrutura e superestrutura ..............................................................................................6 Exercícios .............................................................................................................................................8 Gabarito ...............................................................................................................................................9 Resumo ............................................................................................................................................. 11 2 Introdução A Sociologia possui diferentes perspectivas teóricas. Isso significa que a explicação sobre as razões e formas de agir dos seres humanos difere do seu ponto de partida e em seu processo. Nesta aula aprenderemos como funciona o fundamento da concepção teórica de Marx: a metodologia materialista histórico-dialética, entendendo a história como processo central para a compreensão da organização humana. Mais do que uma metodologia, se trata de uma concepção filosófico-epistemológica do autor. O movimento dialético presente nessa concepção, está ligado à compreensão da ação dos seres humanos e da história como um processo de devir, ou seja, um contínuo vir a ser, sem um fim, mas formado por uma tese e uma antítese que geram uma síntese continuamente. Karl Marx é um dos principais autores a desenvolver uma teoria sociológica sobre os fundamentos do capitalismo e compreender como esse sistema funciona. Compreenderemos como se desenvolve a concepção estruturalista da sociedade, ou seja, uma concepção que analisa a influencia das estruturas nas ações humanas. Veremos que as estruturas são divididas em duas por Marx: a infraestrutura – a base econômica das forças produtivas que influencia diretamente a superestrutura – as manifestações organizacionais e culturais dos seres humanos. Objetivos • Apresentar o materialismo histórico-dialético e suas características. • Compreender o estruturalismo na teoria marxista. 1. Fundamentos da metodologia de Marx 1.1. O método materialista histórico-dialético Karl Marx (Figura 01), nascido em 1818, no Reino da Prússia (atualmente compreendido em território alemão) desenvolveu uma das mais significativas teorias clássicas da Sociologia sobre política, economia e relações sociais. Suas teorias, elaboradas tanto a nível macrossociológico (conhecidas e replicadas mundialmente) quanto a nível microssociológico influenciam não apenas o desenvolvimento teórico da disciplina, como também influenciaram e influenciam práticas políticas até os dias de hoje. 3 01 Retrato de Karl Marx Durante período de avançada Revolução Industrial na Europa (combinada com o crescimento urbano desenfreado) ao lado de seu amigo pessoal e de trabalho, Friedrich Engels, Marx elaborou complexas explicações sobre o sistema político- econômico de sua época: o capitalismo. Esse sistema foi alvo de duras críticas de Marx e Engels, que observavam as condições precárias de trabalho, alimentação e moradia dos trabalhadores fabris (adultos e crianças) em suas viagens e estudos de campo na Grã-Bretanha, França e Alemanha. DICA DE FILME O jovem Karl Marx. 2017. Dirigido por Raoul Peck. Neste filme é possível acompanhar o relacionamento de Marx com sua família e com seu amigo Friedrich Engels, bem como suas viagens a locais em que as condições de trabalho estavam precarizadas na Europa durante a Revolução Industrial. Também é possível acompanhar seu envolvimento com movimentos sociais e partidos anticapitalistas. 4 A partir de suas críticas, a teoria marxista demonstrou que a síntese de uma nova sociedade desembocaria em um sistema político-econômico com ideologia de esquerda, ou seja, oposta aos anseios capitalistas: o comunismo. Mais à frente nos aprofundaremos sobre o capitalismo, o socialismo e o comunismo. Antes, veremos os pilares da construção teórico-metodológica de Marx: os princípios do materialismo histórico-dialético (GIDDENS, 2005). Um dos pontos centrais nessa metodologia é o estudo e a compreensão dos contextos históricos. Para compreender as estruturas de poder do presente, Marx se debruça sobre o passado a partir da teoria do conflito, ou seja, para Marx: “a história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história da luta de classes.” (manifesto comunista) Assim, entende-se que, para o autor, o motor da história é a luta de classes. O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) exerceu grande influência sobre o pensamento de Marx. No entanto, Marx critica o idealismo do seu antecessor. Para ele, a teoria que fica no mundo das ideias não pode responder às questões do mundo material, concreto. Seguindo o modelo explicativo de Hegel, se estabelece um objetivo ou um pensamento inicialmente no mundo das ideias para depois partir para o mundo concreto. Para Marx, é necessário partir da realidade concreta para o mundo das ideias, ou seja, analisar a realidade material da vida social, política e econômica para então estabelecer conceitos e modelos explicativos sobre a mesma. 02. O materialismo histórico •Mundo das ideias Idealismo •Realidade concretaMaterialismo Realidade concreta Mundo das ideias 5 Só assim seria possível compreender as limitações colocadas pelo condicionamento histórico às ações dos seres humanos, que fazem sua história não da maneira que desejam, mas a transformam ativamente a partir da realidade presente que carrega consigo toda a carga histórica do passado. Outro ponto importante na elaboração explicativa da realidade de Marx e de sua metodologia histórico-dialética para analisar a sociedade é a predominância da estrutura econômica no engendramento das demais estruturas sociais. As relações econômicas e o modo de produção estariam para o filósofo na base das relações de poder. O materialismo histórico é, então, uma réplica aos pensadores neo- hegelianos de sua época (GIDDENS, 2005). A materialidade da realidade concreta não depende da perspectiva do observador, ela é objetiva, ou seja, externa ao observador e é única. O que cria o mundo no qual vivemos não são ideias, mas ações de seres humanos condicionados pela dinâmica e condição histórica em que vivem. Seu método de estudo, portanto, não pode ser facilmente replicado (como muitos pesquisadores comumente o fazem), sem antes ser realizada uma minuciosa análise da realidade histórica na qual o objeto de estudo está inserido. Marx viveu em uma época em que o Positivismo era o paradigma principal do estudo social, então, além de compreender a sociedade, buscavafazer uma previsão do que ocorreria no futuro com objetivo de transformação da ordem social capitalista que considerava injusta. Vimos a importância da historicidade na metodologia de Marx. Agora compreenderemos o que significa entender a realidade de um ponto de vista dialético. A perspectiva dialética pressupõe uma tese que vai gerar uma antítese, por fim formando uma síntese. Concretamente, o que isso significa para Marx? A partir da teoria do conflito, ele entende que a contradição é inerente ao mundo social e que a partir dela ocorrem as grandes transformações nas estruturas sociais. 6 03. Ciclo dialético As contradições a partir do materialismo dialético levam em conta o modo de produção de cada época (tese) como parte da base social, sendo as classes sociais e suas outras contradições (antítese) a chave dos antagonismos de cada época. A superação das contradições sociais, no entanto, geraria a síntese ao criar condições para a implementação de um novo modo de produção, como veremos com mais exemplos concretos na próxima aula. Nessa perspectiva, a história está se movendo em um contínuo devir, um vir a ser, não ficando estática. 1.2. Infraestrutura e superestrutura A infraestrutura econômica definiria as condições materiais dos indivíduos, e delas que surgiriam as superestruturas, etc. Segundo Marx, em sua obra “A ideologia alemã” (apud Quintaneiro, 2010, p. 69): O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a História, é que os homens devem estar em condições de viver para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir- se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos. Tese AntíteseSíntese 7 Com base na busca da satisfação das necessidades primárias, o ser humano cria modos de produção que facilitam e modificam suas relações sociais. Por exemplo, é necessário o fogo para o preparo de alimentos, assim o ser humano cria o machado para cortar árvores de maneira mais hábil, aprimorando sua tecnologia. Para Marx, essa criação de novas formas de produção é o que determinaria aspectos considerados por ele superestruturais, como a ideologia, a política, as artes, etc., igualmente importantes na reprodução dos modos de produção. O trabalho é atividade central na reprodução da vida: “(...) a principal atividade humana (...) é o fundamento do materialismo histórico, enquanto método de análise da vida econômica, social, política, intelectual.” (QUINTANEIRO, 2010, p. 70). De acordo com a autora Quintaneiro (2010), são conceitos centrais na teoria marxista as forças produtivas – engendradas pela transformação que o ser humano exerce na natureza em benefício próprio, sendo seu resultado a material-prima, a divisão do trabalho, entre outros – e as relações sociais de produção – que envolvem mais do que um indivíduo na reprodução social, a partir da produção e da distribuição de mercadorias. Como já mencionado, para Marx existe uma infraestrutura (modo de produção/economia/forças produtivas/relações sociais de produção) e uma superestrutura (ideias, cultura, ideologia, religião, sistemas educacionais, etc.). Isso significa que sua forma de enxergar a organização social é estruturalista, existindo assim um padrão de atividades que delineiam modos de vida das pessoas e suas relações em sociedade. Assim, seguindo a metodologia materialista, Marx entende-se que se parte do material (infraestrutura) para o mundo das ideias (superestrutura) (Figura 04). 04. O estruturalismo é como uma árvore em que as raízes são a infraestrutura e os galhos a superestrutura. Forças produtivas Religião Ideologia Manifestações artísticas 8 Exercícios 1. (Uece, 2010) Leia com atenção o texto a seguir. “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006. Baseado no texto, assinale a afirmação verdadeira. a) A história não é construída pelos homens porque ela é predefinida pelo destino. b) A história permite perceber que a realidade depende unicamente das escolhas dos homens. c) A história é feita pelos homens dentro de condicionamentos herdados do passado. d) A história não é feita pelo passado, e sim pelas circunstâncias das escolhas. e) A história não é relevante no estudo da materialidade pois traz aspectos ideais. 2. (NUCEPE, 2015) O materialismo histórico dialético é o método de análise da sociedade criado por Karl Marx, um dos clássicos da Sociologia. A respeito desse método, é possível afirmar que: a) O materialismo explica que as condições materiais de existência não são fatores determinantes para o modo de ser e pensar de cada um. b) A sociedade e a política surgem da ação da natureza e não da ação concreta dos seres humanos no tempo. c) O materialismo explica que são as relações sociais de produção que determinam o modo de ser e pensar de cada indivíduo. É um modo histórico, já que a sociedade e a política surgem da ação concreta dos seres humanos no tempo. d) A História é um processo contínuo e linear, logo a realidade é estática e o movimento da história possui uma base material e econômica, mas não obedece a um movimento dialético. e) A base material ou econômica constitui a “superestrutura” da sociedade, que exerce influência direta na “infraestrutura” da sociedade, ou seja, nas instituições jurídicas, políticas e ideológicas. 9 3. (Autora, 2019) A visão marxista é estruturalista, dividida em infraestrutura e superestrutura. Sobre essa divisão, escolha a alternativa que apresenta melhor a distinção dessas duas categorias. a) A infraestrutura se trata da ideologia (formas de comunicação, educação, religiosas, etc.) que determina as formas de produção presentes na superestrutura. b) A infraestrutura é a tese que vai gerar a antítese presente na superestrutura, concepção básica do materialismo histórico dialético. c) A infraestrutura é representada por qualidade de moradia, da pavimentação das ruas, encanamento, etc. base da sobrevivência humana, enquanto a superestrutura são as instituições sociais como escolas, igrejas e assembleias legislativas. d) A infraestrutura é determinada pela burguesia enquanto a superestrutura é determinada pelo proletariado. e) A infraestrutura é a base do modo de produção, onde estão as formas de produção econômicas e a superestrutura designa as concepções ideológicas, religiosas, artísticas, etc. da sociedade. Gabarito 1. c) A história é feita pelos homens dentro de condicionamentos herdados do passado. Justificativa: Marx, partindo do materialismo histórico, entende que as ações do ser humano ao longo da história, a partir da realidade concreta, afetam seu modo de viver. 2. c) o materialismo explica que são as relações sociais de produção que determinam o modo de ser e pensar de cada indivíduo. É um modo histórico, já que a sociedade e a política surgem da ação concreta dos seres humanos no tempo. Justificativa: Diferentemente do idealismo, em que se parteda ideia para a análise concreta, Marx, a partir do materialismo histórico e dialético entende que as ações na vida real ao longo da história, em especial as relações de produção, faem com que a sociedade seja tal como é. 10 3. e) A infraestrutura é a base do modo de produção, onde estão as formas de produção econômicas e as superestruturas são as concepções ideológicas, religiosas, artísticas, etc. da sociedade. Justificativa: As ideias para Marx não compõem a forma de organização da sociedade, mas a forma de organização da sociedade, sua base econômica e relações de trabalho é que vão gerar as condições para as manifestações artísticas, religiosas e ideológicas. 11 Resumo Nesta aula pudemos compreender como o materialismo histórico-dialético é fundamental na concepção marxista, sendo o ponto materialista o desenvolvimento de sua teoria a partir da realidade concreta, em especial dos modos de produção, e então partir para o mundo das ideias, ou seja, para a análise teórica. Já a história é vista pelo autor como essencial na condicionalidade da vida presente, e a luta de classes o motor dessa história. A partir do movimento dialético de tese-antítese-síntese podemos notar que as profundas transformações sociais estão num constante vir a ser, sendo de responsabilidade dos seres humanos e tendo como limitação sua condição histórica. Também pudemos observar o local central que o trabalho possui na teoria de Marx, sendo assim de suma importância as forças de produção – considerada a infraestrutura, ou seja, a base social de onde se desenvolvem as superestruturas, implicando no engendramento e na reprodução da ideologia vigente (superestruturas como a arte e a religião). Assim, é exposta a maneira estruturalista pela qual Marx enxerga a reprodução da vida social, agindo as estruturas sobre aspectos e instituições centrais na vida dos indivíduos, de forma geral, favorecendo a classe exploradora. 12 Referências bibliográficas GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010. Referências imagéticas Figura 01. DEDUCA. Disponível em: https://delinea.deduca.com.br/mediabank/6603 Acessado em: 03/02/2019 às 22h19min. Figura 02. Autora, 2019. Figura 03. Autora, 2019. Figura 04. DEDUCA. Disponível em: https://delinea.deduca.com.br/mediabank/734 Acessado em: 03/02/2019 às 22h23min.
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