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Brasília-DF. Documentação para a engenharia De Segurança Do trabalho Elaboração Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS ....................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 PERÍCIA, PERÍCIA JUDICIAL, PERITO E PROCESSO .................................................................... 11 CAPÍTULO 2 FISCALIZAÇÃO EM SST ............................................................................................................ 28 UNIDADE II DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL .............................................................................................................. 42 CAPÍTULO 1 PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS - PPRA ................................................... 42 CAPÍTULO 2 LAUDO TÉCNICO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO TRABALHO — LTCAT ................................ 49 CAPÍTULO 3 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO – AET ......................................................................... 63 CAPÍTULO 4 DOCUMENTAÇÃO ESPARSA RELACIONADA À EST ................................................................... 65 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 73 4 Apresentação Caro aluno, A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Caro aluno, As competências e as atribuições vinculadas à Engenharia de Segurança do Trabalho – EST são muitas e variadas, passando pelas definidas em lei até chegar às ordinárias estabelecidas pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia – Confea. Para desenvolvimento dessas atribuições e competências, é importante dominar a documentação pertinente aos campos de atuação que fazem interface com a EST. Isso implica conhecer a semântica das palavras técnicas e usá-las corretamente segundo cada contexto e ramo do direito afim, tal como o tributário, o ambiental, o previdenciário e o trabalhista. Este caderno está estruturado em Unidades e Capítulos, a partir da visão sobre a documentação relacionada ao meio ambiente do trabalho no campo da Engenharia de Segurança do Trabalho EST, considerando o ramo do Direito para aplicação específica nessa área, como ilustrado na figura seguinte: Figura 1. Múltiplas dimensões da saúde do trabalhador submetidas à nova ordem constitucional. Documentação Relacionada ao Meio Ambiente do Trabalho no Campo da Engenharia de Segurança do Trabalho - EST Lei 6.514/1977 Art. 195 – Laudos de Insalubridade (LIns) Periculosidade (Lper) Lei 8.213/1991 Art. 57 – PPP Art. 58 – LTCAT Portaria 3.214/1978 NR 9 - PPRA NR 18 - PCMAT NR 16 - LPer NR 15 - LIns NR 18 - PCMAT Lei 7.410/1985 Cria EST. Resolução Confea 365/1991 define atribuições. Lei 6.496/1977 Cria ART. Resolução Confea 1.116/2019 define serviços especializados Fonte: próprio autor. 8 Na maioria das situações, a EST é chamada para dar consultoria, vistoriar, avaliar, coordenar, supervisionar e periciar, tendo que emitir um documento técnico com importante valor técnico e incisivas repercussões financeiras, sociais e jurídicas. Por isso, para efeito desta disciplina quanto ao exercício da profissão, e com base nos regramentos expedidos pelo Confea, são adotadas as seguintes definições: Quadro 1. Definições de Atribuições e Competências. Atribuição: ato geral de consignar direitos e responsabilidades no ordenamento jurídico que rege a sociedade. Atribuição profissional: ato específico de consignar direitos e responsabilidades, na defesa da sociedade, para o exercício da profissão, de acordo com a formação profissional obtida em cursos regulares do sistema oficial de ensino brasileiro. Título profissional: título constante da Tabela de Títulos do Confea, atribuído pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) ao portador de diploma de conclusão de cursos regulares, expedido por instituições de ensino credenciadas, em conformidade com as diretrizes curriculares, o projeto pedagógico do curso e o perfil de formação profissional, correspondente a um campo de atuação profissional sob a fiscalização do Sistema Confea/Crea. Atividade profissional: conjunto de práticas profissionais que visam à aquisição de conhecimentos, capacidades, atitudes, inovação e formas de comportamentos exigidos para o exercício das funções próprias de uma profissão regulamentada. Campo de atuaçãoprofissional: conjunto de habilidades e conhecimentos adquiridos pelo profissional no decorrer de sua vida laboral em consequência da formação obtida por ele em cursos regulares do sistema oficial de ensino brasileiro. Formação profissional: processo de aquisição de habilidades e conhecimentos profissionais mediante conclusão com aproveitamento e diplomação em curso regular do sistema oficial de ensino brasileiro, visando ao exercício responsável da profissão. Competência profissional: capacidade de utilização de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários ao desempenho de atividades em campos profissionais específicos, obedecendo a padrões de qualidade e produtividade. Laudo: peça na qual, com fundamentação técnica, o profissional habilitado, como perito, relata o que observou e apresenta as suas conclusões ou avalia o valor de bens, direitos, ou empreendimentos. Parecer técnico: opinião tecnicamente fundamentada sobre determinado assunto emitida por especialista. Avaliação: atividade que envolve a determinação do valor qualitativo ou monetário de um bem, de um direito ou de um empreendimento com base em critérios técnicos. Coordenação: atividade que visa garantir a execução da obra ou serviço pelo responsável técnico segundo determinada ordem e método previamente estabelecidos. Perícia: atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos, por meio da qual o profissional, por conta própria ou a serviço de terceiros, efetua trabalho técnico visando à emissão de um parecer ou laudo técnico, compreendendo: levantamento de dados, realização de análise ou avaliação de estudos, propostas, projetos, serviços, obras ou produtos desenvolvidos ou executados por outrem. Supervisão: atividade de acompanhar, analisar e avaliar, a partir de um plano funcional superior, o desempenho dos responsáveis técnicos pela execução de obras ou serviços. Vistoria: atividade que envolve a constatação de um fato, mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, sem a indagação das causas que o motivaram. Inspeção: atividade que envolve vistorias, exames ou avaliações das condições técnicas, de uso e de manutenção do objeto inspecionado, visando orientar a manutenção e corrigir as anomalias e falhas encontradas. Consultoria: atividade de prestação de serviços de aconselhamento, mediante exame de questões específicas, e elaboração de parecer ou trabalho técnico pertinente, devidamente fundamentado, com a finalidade de subsidiar a ação do responsável técnico pela execução de obra ou serviço. Fonte: próprio autor. A atribuição inicial do campo de atuação profissional se dá a partir do contido nas leis e nos decretos regulamentadores das respectivas profissões, acrescida do previsto nos normativos do Confea, em vigor, que tratam do assunto. As profissões que não têm atribuições regulamentadas em legislação específica terão suas atribuições mínimas definidas nos normativos do Confea, em vigor, que tratam do assunto. As eventuais atribuições adicionais obtidas na formação inicial serão objeto de requerimento do 9 profissional e decorrerão de análise do currículo escolar e do projeto pedagógico do curso de formação do profissional, a ser realizada pelas câmaras especializadas do Confea competentes. Neste caderno o uso da sigla SST para denominar Saúde e Segurança do Trabalhador – SST é correta e chama atenção, pois o bem jurídico tutelado é a saúde do trabalhador e não o trabalho. É incorreta essa última acepção, pois colide com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - CRFB-1988. Principais documentos aplicáveis à EST conforme norma de regência: » Direito Administrativo: Anotação de Responsabilidade Técnica ART. » Direito Tributário: Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho LTCAT. » Direito Previdenciário: LTCAT. » Direito Trabalhista: Laudo de Insalubridade – LIns e Laudo de Periculosidade – Lper. Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais do Trabalho – PPRA. Programa das Condições do Meio Ambiente do Trabalho – PCMAT. » Documentos Esparsos. Neste material, teremos informações sobre a documentação relacionada aos principais ramos do direito. Objetivos » Apresentar os documentos mais importantes para o exercício profissional no campo da SST. » Promover a capacitação para elaborar documentos relacionados à SST. » Compreender as responsabilidades advindas da emissão dos documentos. » Permitir a capacidade crítica para ler e interpretar artefatos comandados pelos atos normativos. 10 11 UNIDADE IASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS CAPÍTULO 1 Perícia, perícia judicial, perito e processo Atividade muito demandada ao engenheiro de segurança do trabalho é fazer perícia. Nem sempre judicial, mas, em qualquer caso, quem faz é um perito. E, se o assunto diz respeito ao meio ambiente do trabalho, ora o perito pronuncia- se por laudo pericial, se auxiliar do juiz, ora com parecer técnico, se assistente técnico da parte em processo judicial. Como nem sempre as peças periciais são suficientes para resolver as contendas entre os contratantes de modo amigável, administrativo, em autocomposição, há necessidade de o Judiciário arbitrar um desfecho, segundo o devido processo legal, estabelecido pelo Código de Processo Civil – CPC. Tem-se então duas veredas para o perito em SST: produzir os documentos técnicos ordinários que suportem as operações das empresas e os extraordinários quando houver disputa de interesses, individuais ou coletivos. Assim para contextualizar sobre documentação técnica a cargo do perito, na seara tributária, observam-se, por conta da contribuição social para custeio do Seguro Acidente do Trabalho – SAT e do Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – FACET e respectivo direito à Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – ACET, quais artefatos técnicos e seus respectivos responsáveis (Profissional Legalmente Habilitado – PLH) dão sustentação à contabilidade ambiental das empresas. Essa documentação técnica é necessária para verificar se o exercício de atividade em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador, com exposição a agentes nocivos de modo permanente, não- 12 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS ocasional nem intermitente, conforme disposto no art. 57 da Lei no 8.213, de 1991, é fato gerador de contribuição social previdenciária adicional para custeio da aposentadoria especial. Existem três espécies de tributos relacionados ao meio ambiente do trabalho que demandam documentação técnica especializada: Seguro Acidente do Trabalho – SAT e seus derivativos: Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais de Trabalho – FACET e Fator Acidentário de Prevenção – FAP conforme figura a seguir. Figura 2. Esquema com tributos relacionados ao meio ambiente do trabalho: SAT, FACET e FAP. Seguro Acidente do Trabalho - SAT Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – FACET Fator Acidentário de Prevenção – FAP Tributação sobre o Meio Ambiente do Trabalho Fonte: próprio autor. Seguro Acidente do Trabalho – SAT A matéria acidentária, quanto aos seus benefícios, é regulada pela Lei no 8.213/1991, que disciplina o funcionamento do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, compreendendo diversas prestações, inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho (art. 18, caput). Já o custeio do SAT consta no art. 22, II, da Lei no 8.212/1991. Os benefícios acidentários têm fontes de recursos respectivas, assim como as prestações previdenciárias em geral possuem custeio próprio. 13 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE IFigura 3. Esquema com fontes de custeio do SAT/FACET/FAP. Seguro Contra Acidentes de Trabalho – SAT. Base de Cálculo Remuneração Remuneração. Alíquota Específica para o SAT: 1%, 2% ou 3% x FAP, com adicional de 6%, 9% ou 12% para o FACET. Empregador Doméstico. Alíquota específica para o SAT. 0,8%. Fonte: próprio autor. A contribuição a cargo da empresa (SAT)1 em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho – GIILDRAT sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos é de: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. Além dessa alíquota do SAT, por Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE, de 1%, 2% e 3%, há o Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – FACET. Aposentadoria por condições especiais do trabalho – ACET e Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – FACET A ACET, desde os primórdios, é um benefício previdenciário não marcado pela incapacidade consumada, como aqueles custeados pelo Seguro Acidente do Trabalho – SAT, mas, sim, pela predição dessa incapacidade, o que enseja diminuição da carga em anos de trabalho. Assim, ao invés de 35 anos, para homens, tem-se 15, 20 ou 25 anos. A ACET tem por característica a predição de “falha” do trabalhador decorrente das condições especiais. Por isso, deve antecipar a aposentadoria por tempo de contribuição em função da dose resultante da intensidade/concentração da exposição pelo tempo de exposição. 1 Definida pelo art. 22, inc. II, da Lei n. 8.212/1991, conforme inciso IV do art. 32 da Lei n. 8.212, de 1991, do art. 22 e dos §§ 1o e 4o do art. 58 da Lei n. 8.213, de 1991, e dos §§ 2o, 6o e 7o do art. 68 e do art. 336 do RPS. 14 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Com a Lei 9.732/1998, veio a obrigação tributária para a empresa que possua trabalhador em condições especiais (fatores de risco) que prejudiquem a sua saúde ou integridade física. Essa tributação veio sob a forma de acréscimo ao Seguro Acidente do Trabalho – SAT, destinado a diminuir o desequilíbrio; todavia, longe de ser suficiente para fazer frente ao respectivo benefício. Nasceu o Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais de Trabalho — FACET. A conta é a seguinte: para segurado homem, a cada mês que haja ativação do fato gerador tributário, há a necessária contabilização de 1,4 mês (25 anos - 6%) para contagem de tempo convertido de especial para comum; de 1,75 mês (20 anos - 9%) e 2,33 meses (15 anos - 12%) contribuídos para fins de contagem de tempo de contribuição. Assim, no enquadramento de 25 anos (6%), para cada 10 meses trabalhados, tem-se uma contagem de tempo acelerada para 14 meses. Essa conversão é aplicada até o nível mensal. Basicamente a lei elegeu quatro categorias de fatores de riscos, a saber: i) químicos: substâncias; ii) físicos: energias; iii) biológicos: microrganismos; e iv) associação de fatores de riscos que incluem os psicoergonômicos, mecânicos ou de acidentes. No âmbito do RGPS, basicamente o que define a precocidade são os seguintes elementos: pessoalidade, onerosidade, proporcionalidade, nocividade e permanência. A coexistência desses elementos concretiza o direito à concessão de aposentadoria especial do trabalhador, bem como ativa a hipótese de incidência tributária do respectivo custeio (FACET). Documentação aplicada à EST no campo da Receita Federal do Brasil - RFB As demonstrações ambientais constituem obrigações acessórias2 relativas ao FACET34 e servem de evidência acerca da boa gestão em SST. Dessa forma, a RFB verificará, por intermédio de sua fiscalização – AFRFB, a regularidade e a conformidade das demonstrações ambientais e os controles internos da empresa relativos ao gerenciamento dos riscos ambientais em SST, em especial o embasamento para a declaração de informações na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do 2 A contribuição adicional de que trata o art. 292 é devida pela empresa ou equiparado em relação à remuneração paga, devida ou creditada ao segurado empregado, trabalhador avulso ou cooperado sujeito a condições especiais, conforme disposto no §6o do art. 57 da Lei n. 8.213, de 1991, e nos §§ 1o e 2o do art. 1o da Lei n. 10.666, de 2003. 3 IN 971 – RFB. Art. 293. A empresa ou pessoa física ou jurídica equiparada na forma prevista no parágrafo único do art. 15 da Lei no 8.212, de 1991, fica obrigada ao pagamento da contribuição adicional a que se referem o art. 292 desta Instrução Normativa e o § 2o do art. 1o da Lei n. 10.666, de 2003, incidente sobre o valor da remuneração paga, devida ou creditada a segurado empregado, trabalhador avulso ou cooperado associado à cooperativa de produção, sob condições que justifiquem a concessão de aposentadoria especial, nos termos do § 6o do art. 57 da Lei n. 8.213, de 1991. 4 Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP). Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). 15 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP para fins de ACET e FACET, tendo por objetivo: » verificar a integridade das informações do banco de dados do Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS, que é alimentado pelos fatos declarados em GFIP e eSocial; » verificar a regularidade do recolhimento do SAT/FAP/FACET; e » garantir o custeio de benefícios devidos. Dessa forma, as produções técnicas (peças periciais) elaboradas pelos PLH que embasam as informações prestadas em GFIP (eSocial)5 sobre a existência ou não de riscos ambientais em níveis ou concentrações que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador deverão ser comprovadas perante a fiscalização da RFB. O elenco de documentos técnicos cobrados pela RFB é o seguinte: » PPRA (Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais do Trabalho), que visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da antecipação, do reconhecimento, da avaliação e do consequente controle da ocorrência de riscos ambientais, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle, devendo ser elaborado e implementado pela empresa, por estabelecimento, nos termos da Norma Regulamentadora n. 9 (NR-9), do então Ministério do Trabalho e Emprego - MTE; » PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), que é obrigatório para as atividades relacionadas à mineração e substitui o PPRA para essas atividades, devendo ser elaborado e implementado pela empresa ou pelo permissionário de lavra garimpeira, nos termos da NR-22, do MTE; » PCMAT (Programa das Condições do Meio Ambiente do Trabalho), que é obrigatório para estabelecimentos que desenvolvam atividades relacionadas à indústria da construção, identificados no grupo 45 da tabela de CNAE, com 20 (vinte) trabalhadores ou mais por estabelecimento ou obra, e visa a implementar medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho, nos termos da NR-18, substituindo o PPRA quando contemplar todas as exigências contidas na NR-9, ambas do MTE; 5 O Decreto no 8373/2014 instituiu o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). 16 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS » PCMSO (Programa de ControleMédico da Saúde Ocupacional), que deverá ser elaborado e implementado pela empresa ou pelo estabelecimento, a partir do PPRA, PGR e PCMAT, com o caráter de promover a prevenção, o rastreamento e o diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive aqueles de natureza subclínica, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou de danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores, nos termos da NR-7, do MTE; » LTCAT (Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho), que é a declaração pericial emitida para evidenciação técnica das condições ambientais do trabalho, podendo ser substituído por um dos documentos entre os previstos nos incisos I e II, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece critérios a serem adotados pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; » PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário), que é o documento histórico-laboral individual do trabalhador, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece critérios a serem adotados pelo INSS; » CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), que é o documento que registra o acidente do trabalho, a ocorrência ou o agravamento de doença ocupacional, mesmo que não tenha sido determinado o afastamento do trabalho, conforme disposto nos arts. 19 a 22 da Lei no 8.213, de 1991, e nas NR-7 e NR-15 do MTE, sendo seu registro fundamental para a geração de análises estatísticas que determinam a morbidade e mortalidade nas empresas e para a adoção das medidas preventivas e repressivas cabíveis, sendo considerados, também, os casos de reconhecimento de nexo técnico epidemiológico na forma do art. 21-A da citada Lei, acrescentado pela Lei no 11.430, de 26 de dezembro de 2006. Destacam-se nesse rol, diretamente como competência do EST, o PPRA e o LTCAT como os principais documentos técnicos dependentes da lavra da engenharia de segurança do trabalho. Daí a importância de o perito dominar o conteúdo, bem como entender o entrelaçamento das repercussões de seu trabalho, que vai muito além de atender norma trabalhista para fins de pagar ou não adicionais de insalubridade ou periculosidade. 17 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Dicionário Michaelis: Perícia 1 Qualidade de perito. 2 Um conhecimento especial ou uma grande habilidade em uma atividade ou área específica; destreza, proficiência. 3 JUR Exame de caráter técnico, por pessoa especializada, nomeada pelo juiz, de um fato, estado ou valor de um objeto litigioso, cujos resultados servirão de meio de prova que o juiz precisará conhecer para tomar decisão. A perícia surge de um conflito de interesses com relação a um direito pleiteado (previsto na CRFB-88, lei, outros normativos), sendo que o juiz competente para decidir não possui os conhecimentos necessários para o deslinde da questão. Daí o Código de Processo Civil – CPC6 abrir a possibilidade de o Poder Judiciário chamar especialistas elencados em um cadastro de profissionais habilitados, conforme a especialidade, para auxiliar o juiz mediante produção de pareceres na qualidade de peritos judiciais. O EST pode comparecer judicialmente como especialista da parte, chamado de assistente técnico, ou como perito judicial. É importante que ele tenha conhecimento dos fragmentos do CPC (Seção X, art 464 ao 480) relativos à perícia, pois conhecer essa parte do direito processual possibilitará um diferencial competitivo ao profissional. A perícia tem por objetivo emitir parecer técnico para a tomada de decisão com objetividade, precisão, clareza, concisão, fidelidade, confiabilidade e plena satisfação da finalidade. Para o desempenho de sua função, o EST, na qualidade de perito ou assistente técnico, pode se valer de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia. Nesse ponto, deve dar grande destaque aos itens: planilhas, mapas, plantas, desenhos. Lançar mão de fluxogramas de processo e de engenharia, desenhos básicos e de detalhamento, além de datasheets de instrumentos, máquinas e equipamentos coloca o EST em situação privilegiada, pois escreverá o laudo em linguagem de Engenharia, ainda que para advogados e juízes lerem. Objetividade – não se desviar do objeto que motivou a questão; Precisão – oferecer respostas pertinentes e adequadas às questões formuladas ou finalidades propostas; Clareza – usar linguagem acessível para aquele que vai utilizar o trabalho, embora possa conservar a terminologia tecnológica e 6 BRASILIA (DF) Lei no 13.105/2015. Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm. Acesso em: 14 ago. 2019. 18 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS científica em seus relatos; Concisão – evitar ser prolixo e emitir um parecer que possa, de maneira simplificada, facilitar as decisões; Fidelidade – não se deixar influenciar por terceiros, nem por informes que não tenham materialidade e consistência; Confiabilidade – apoiar-se em elementos inequívocos e válidos sempre fundamentados e justificados; Plena satisfação da finalidade – fornecer resultado coerente com os objetivos que o ensejaram. Existe apenas perícia judicial? Não. Existe perícia extrajudicial. Avaliações ambientais para fins de poluição ambiental e dentro do PPRA, Análise Ergonômica do Trabalho – AET, Laudos de Insalubridade – LIns e periculosidade – LPer, valoração de risco, entre outros, podem ser considerados perícias ou Estudos Periciais. Quando se fala em perícia, pensa-se logo na perícia judicial. No entanto, grande parte das perícias acontecem de forma extrajudicial. Conforme comentado, Perícia é um estudo técnico, a partir de uma diligência realizada por Perito (profissional especializado), com intuito de esclarecer fatos (divergências). Prova pericial O que é prova? Dicionário Michaelis: 1 Aquilo que demonstra a veracidade de uma afirmação ou de um fato; confirmação, comprovação, evidência. 2 JUR Algo (fato, indício, testemunho etc.) que possa demonstrar a culpa ou a inocência de um acusado. 3 Ordálio7 Prova pericial8 é instrumento e/ou meio para convicção de fatos controvertidos, que possui uma tipologia definida pelo CPC, a qual pode ser depoimento pessoal, confissão, exibição de documento, prova documental, prova testemunhal, prova pericial, inspeção judicial. A prova pericial tem como objetivo a demonstração da verdade a respeito de fatos que estão sob julgamento. Ela interessa ao juiz pela sua “especificidade”, pois depende de conhecimentos técnicos especializados. Esse conhecimento técnico é exigido de perito, que deve ser especializado na matéria para a qual foi solicitada a sua intervenção. Esse profissional é nomeado pelo juiz dirigente do processo. Como visto, segundo o Art.464 do CPC: A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. Logo, a prova pericial é o exame, a vistoria ou a avaliação realizada por profissional especializado (legalmente habilitado) para dirimir dúvidas e/ou elucidar fatos. Prova Pericial é a prova realizada por Peritos em um estudo pericial (perícia). 7 Ordálio. substantivo masculino. Prova judiciária destinada a inocentar ou inculpar um acusado. (O ordálio, também chamado juízo de Deus, foi muito usado nos primeiros séculos da Idade Média. Consistia em submeter à prova do fogo ou da água o acusado, que, se dela saísse salvo, era em geral declarado inocente.). 8 NEGRÃO, Theotônio.Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 28ª edição. São Paulo: Saraiva, 1996. 19 ASPECTOSGERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Perito e profissional legalmente habilitado (PLH) Perito – Dicionário Michaelis: 1 Que ou aquele que é especialista em um determinado assunto ou atividade. 2 Que ou aquele que é experiente e hábil numa determinada área ou atividade. 3 JUR Que ou aquele que é judicialmente nomeado para uma avaliação, exame ou vistoria e fornece seu parecer técnico. O profissional legalmente habilitado é o engenheiro de Segurança do Trabalho, titulado nos termos da Lei no 7.410/1985, conforme atos normativos e resoluções do Confea. Nesse contexto, não apenas à demanda judicial para questões relativas à insalubridade e à periculosidade, mas àquelas de natureza civil, tributária, previdenciária e criminal, é importantíssima a figura do PLH. Art. 156 do CPC - O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. §1o Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Como exemplo, tem-se a NR-10, que traz o Trabalhador Qualificado (de acordo com o item 10.8.1 da NR-10, é aquele que comprovar conclusão de curso específico na área elétrica reconhecido pelo Sistema Oficial de Ensino.), oTrabalhador Legalmente Habilitado9 (de acordo com o item 10.8.2 da NR-10, é o trabalhador previamente qualificado e com registro no competente conselho de classe.), o Trabalhador Capacitado (de acordo ao item 10.8.3 da NR-10, é aquele que atenda às seguintes condições, simultaneamente: a) Receba capacitação sob orientação e responsabilidade de profissional habilitado e autorizado; b) Trabalhe sob a responsabilidade de profissional habilitado e autorizado) e o Trabalhador autorizado,(aquele que recebe anuência formal da empresa). Ser registrado significa que o órgão regulador, Confea/Crea, habilitou aquele profissional para trabalhar na área. Sem o registro, o profissional não consegue emitir a ART10. 9 Resolução n. 1.007/2003 – CONFEA. Art. 2o O registro para habilitação ao exercício profissional é a inscrição dos profissionais diplomados nas áreas abrangidas pelo Sistema Confea/Crea em cursos de nível superior ou médio, realizados no País ou no exterior, e de outros habilitados de acordo com as leis de regulamentação profissional específicas, nos assentamentos do Crea sob cuja jurisdição se encontrar o local de sua atividade. 10 BRASÍLIA (DF) Lei n. 6.496/1977. Institui a “ Anotação de Responsabilidade Técnica “ na prestação de serviços de engenharia, de arquitetura e agronomia; autoriza a criação, pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CONFEA, de uma Mútua de Assistência Profissional; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L6496.htm. Acesso em: 11 ago. 2019. 20 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Houve o tempo em que o perito era escolhido apenas entre os “amigos” do juiz; apesar de esse entrosamento (confiança) com o magistrado ainda ser importante, especialmente no caso de alguma impugnação de laudo. Por isso a necessidade do profissional se atualizar, não apenas no caso de ser perito nomeado pelo juiz, mas também para ser assistente técnico da parte, pois corre o risco de perder a perícia por incapacidade técnica. Tem-se ainda a necessidade de interagir com a Tecnologia da Informação, com processos eletrônicos e assinaturas digitais, além de desenvolver habilidades para saber lidar com pessoas e pressão, dado que o EST termina funcionando como para-raios emocional. Desenvolvimento de uma perícia judicial A Perícia é determinada pela Justiça, vara civil, federal, do trabalho, ou pelo juiz quando da necessidade de prova pericial (exame, vistoria ou avaliação) determinada pela Justiça, no caso de um litígio que não se resolveu na via administrativa. Exemplo: atuação do Ministério Público do Trabalho – MPT na instrução de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC (título extrajudicial) ou em audiência. Caso não haja acordo, o MPT ingressa com uma ação chamada Ação Civil Pública – ACP. Em geral, a ação nasce mediante petição inicial: meio formal pelo qual o autor demanda/solicita/provoca em juízo uma causa, fazendo nascer um processo, que atualmente é todo eletrônico, acessado pelo perito e advogado. Por meio desse acesso, o perito vai saber sobre sua nomeação e conhecer a petição inicial (pedido da parte autora), assim ele compreende o que deve ser feito, qual a demanda. Todos os documentos devem ser peticionados e juntados aos autos do processo (autor – demandante). Na sequência, marca-se uma audiência de conciliação na qual se busca o acordo. Essa é a regra básica. Frustrado o acordo, lavra-se o Termo de Audiência: uma ata onde constam todas as declarações da audiência. É nesta ata que o juiz defere o pedido de prova pericial. Na mesma ata, o juiz determina o prazo para a realização da perícia, bem como a indicação dos assistentes técnicos e dos quesitos. 21 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Quesitos preliminares: apresentados pelas partes litigantes no momento da indicação dos assistentes técnicos e no prazo determinado pelo juiz (15 dias, Inciso III do art. 465 do CPC); Quesitos suplementares:apresentados durante a diligência (perícia judicial), podendo ser respondidos pelo perito previamente ou na audiência de instrução e julgamento (art. 469 do CPC); Quesitos de esclarecimentos: apresentados após a perícia. Ferramenta geralmente utilizada para um laudo pericial desfavorável. Quesito: ponto ou questão para o qual se pede uma opinião ou um esclarecimento. Em termos jurídicos, diz-se sobre uma pergunta formulada ao perito criminal em vistorias, exames e avaliações, a fim de esclarecer uma determinada situação. Consiste em ponto principal da petição inicial da demanda, serve, inclusive, para o perito saber se vai aceitar o encargo ou não e também para calcular seus honorários. Às vezes os quesitos preliminares são suficientes, mas, caso seja necessário, por persistirem dúvidas de alguma das partes ou do juiz, são solicitados os quesitos suplementares. Faz-se elaboração dos quesitos preliminares para que o perito judicial os respondam. Geralmente quem pede prova pericial é o autor, no entanto, quando o réu está perdendo o processo, ele tende a pedir prova para ganhar tempo, na expectativa de conseguir algo. Frustrada a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos e determinará que as partes especifiquem as provas: provas técnicas, provas documentais, provas testemunhais, e, se o juiz não se convencer com todas essas, entra a prova pericial. Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. Importante ressaltar que, quando não depender de conhecimento técnico ou científico, a perícia será desnecessária e indeferida pelo juiz (às vezes, uma das partes pede perícias apenas para prolongar o litígio, ganhar tempo). Uma vez apresentados os quesitos preliminares, quando, antes da perícia percebe-se que falta alguma informação, ouna própria diligência surge algo novo: aí entra o quesito suplementar. 22 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS O perito pode responder antes da audiência, por meio de peticionamento nos autos, com seu laudo pericial, ou durante a audiência. Há vários momentos. O mais comum é o perito apresentar o laudo depois da diligência inicial. Junta todos os quesitos (inicial e suplementar) no laudo pericial. Todavia, se deixasse tudo para ser entregue ao final do prazo também estaria dentro da legalidade. Quando a parte percebe que o laudo pericial restou desfavorável, lança-se mão de quesitos de esclarecimentos na tentativa de reverter a conclusão pericial. Os quesitos de esclarecimentos podem demandar novas diligências e, se necessário, o perito poderá apresentar solicitação fundamentada de complementação de honorários ao juiz. Dica de quesito envolvendo Equipamento de Proteção Individual - EPI. Queira o Senhor Perito analisar e informar se a Reclamada atende aos requisitos da NR-06, item 6.6.1, alíneas de “a” até “h”. Por favor, justifique e fundamente. Item 6.6.1 Cabe ao empregador quanto ao EPI: a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; b) exigir seu uso; c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; f ) responsabilizar- se pela higienização e manutenção periódica; e, g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada. h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico. Analisar e informar: se houve observância: 1- da hierarquia estabelecida no item 9.3.5.4 da NR-09 do MTE (medidas de proteção coletiva, medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho e utilização de EPI, nesta ordem, admitindo-se a utilização de EPI somente em situações de inviabilidade técnica, insuficiência ou interinidade à implementação do EPC, ou ainda em caráter complementar ou emergencial); 2- das condições de funcionamento do EPI ao longo do tempo, conforme especificação técnica do fabricante, ajustada às condições de campo; 3- do prazo de validade, conforme Certificado de Aprovação do MTE; 4- da periodicidade de troca definida pelos programas ambientais, devendo esta ser comprovada mediante recibo; e 5- dos meios de higienização. E a principal pergunta: o senhor assegura, de forma rastreável, que o EPI foi usado o dia todo, todos os dias pelo trabalhador? Dificilmente as empresas atendem satisfatoriamente a todos esses quesitos. Em casos de demanda de insalubridade, o EPI pode acabar sendo determinante: sem proteção adequada, não há neutralização da atividade ou operação insalubre ou do agente insalutífero, logo o adicional é devido. Mais ainda, basta um desses itens falhar, para se alegar: como garantir que a proteção é eficaz? 23 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Impedimento e suspeição Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito (Art. 465): I - Arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II - Indicar assistente técnico; III - Apresentar quesitos. Quem são as partes? Reclamante, requerente da ação - parte que se sente prejudicada), geralmente o trabalhador ou o MPT quando de uma ACP - e o reclamado, geralmente uma empresa/empregador. Diz-se que há impedimento ao juiz, e ao perito, nas situações de foro íntimo da pessoa (por exemplo, quando a própria pessoa for parte da ação ou tiver interesse nela), enquanto a suspeição alcança situação externa à pessoa, como a relação com uma das partes da ação. Impedimento é objetivo (rol taxativo, hipóteses previstas em lei). Suspeição é subjetivo. São conceitos aplicados diretamente aos juízes, mas atingem também os auxiliares da justiça, como é o caso do EST perito judicial Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça11; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. Impedimento e suspeição não dizem respeito aos EST na qualidade de assistentes técnicos, pois estes, por definição, integram um dos lados: a parte. Ademais, expressamente o CPC afasta essa hipótese.12 É possível a substituição do perito que foi nomeado. Art. 468. O perito pode ser substituído quando: I - faltar-lhe conhecimento técnico ou científico; II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado. 11 Peritos, oficiais de justiça, entre outros. 12 Art. 466. (...) § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição. 24 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Perito é nomeado pelo juiz e Assistente Técnico é indicado pelas partes. Perito faz Laudo Pericial, Assistente Técnico faz Parecer Técnico. Basicamente são idênticos, diferem apenas no nome, para diferenciar a documentação. Laudo Pericial deverá conter (art 473 CPC): I - a exposição do objeto da perícia; II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. §1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões. §2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia. §3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia. Entrega do Laudo pelo Perito Art. 477 do CPC: O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento. §1o As partes serão intimadas para, querendo, manifestar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer. 25 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I §2o O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) dias, esclarecer ponto: I - sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das partes, do juiz ou do órgão do Ministério Público; II - divergente apresentado no parecer do assistente técnico da parte. §3o Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte requererá ao juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico a comparecer à audiência de instrução e julgamento, formulando, desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos. §4o O perito ou o assistente técnico será intimado por meio eletrônico, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência da audiência. As partes são convocadas para a Audiência de Instrução e Julgamento, podendo participar o perito e demais assistentes técnicos. O principal objetivo dessa audiência é a produção de provas orais. É a hora do teatro das partes. Os advogados primam muito por essa fase. O juiz tenta nova conciliação (regra). Sequência: 1 – tentativa de conciliação; 2 – arguição do perito(se necessário); 3 – produção de prova oral; 4 – alegações finais; prolação da sentença. Após sentença, as partes podem recorrer às instâncias superiores. Intervenção em SST do Ministério Público do Trabalho - MPT O MPT não possui poder de polícia, mas possui poder de investigação. Pode subsidiariamente solicitar ao Poder Judiciário a interdição/embargo/ encerramento de atividade. O MPT atua nos direitos difusos e coletivos, chamados transindividuais, junto à Justiça do Trabalho (tribunais regionais – TRTs e superior – TST). Poder de polícia é a faculdade que tem o Estado de limitar, condicionar o exercício dos direitos individuais, a liberdade e a propriedade, por exemplo, tendo como objetivo a instauração do bem-estar coletivo, do interesse público. Art. 129 – CRFB-88. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Categorias de direitos transindividuais segundo as suas origens: a) se o que une interessados determináveis é a mesma situação de fato (p. ex., os consumidores 26 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS que adquiriram produtos fabricados em série com defeito), temos interesses INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS; b) se o que une interessados determináveis é a circunstância de compartilharem a mesma relação jurídica (como os consorciados que sofrem o mesmo aumento ilegal das prestações), temos INTERESSES COLETIVOS EM SENTIDO ESTRITO; c) se o que une interessados indetermináveis é a mesma situação de fato (p. ex., os que assistem pela televisão à mesma propaganda enganosa), há INTERESSES DIFUSOS13. Direitos difusos: Os titulares de direitos difusos são indeterminados e indetermináveis, ou seja, atingem alguém em particular ou todos. Ex: Direito ao meio ambiente sadio, nele incluído o do trabalho. Direito à segurança pública. Direitos Coletivos: Os direitos coletivos são conquistas sociais reconhecidas em lei, como o direito à saúde, direitos trabalhistas. O MPT atua na prevenção, na investigação, na correção e na reparação. Para isso, faz uso de Ação: administrativa (IC e TAC) e judicial (ACP). Inquérito Civil (IC) - O inquérito civil público é um procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Público para descobrir se um direito coletivo foi violado. Para tanto, o membro do Ministério Público pode solicitar perícia, fazer inspeções, ouvir testemunhas e requisitar documentos para firmar seu convencimento, conforme o § 1o do art. 8o da Lei n. 7.347/1985: § 1o O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) – O TAC é um acordo que o Ministério Público celebra com o violador de determinado direito coletivo. Esse instrumento tem a finalidade de impedir a continuidade da situação de ilegalidade, reparar o dano ao direito coletivo e evitar a ação judicial. É reconhecido pelo CPC como título executivo extrajudicial, pois decorre de uma atuação ainda administrativa. O termo de ajustamento de conduta está previsto no § 6o do art. 5o da Lei no 7.347/1985 e no art. 14 da Recomendação do Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP no 16/2010: § 6o Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências 13 MAZZILLI, Hugro Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor e outros interesses difusos e coletivos. 12ª ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Saraiva, 2000, p. 41. 27 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. Ação Civil Pública (ACP) – A ACP é uma ação judicial proposta pelo MPT, e demais legitimados14, por dano moral ou patrimonial causado ao meio ambiente, ao consumidor, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo etc. (Lei no 7.347/1985). Quando a via administrativa não dá certo, a ACP se apresenta como bom instrumento. A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Obrigação de fazer e não fazer é mais comum. Empresas “preferem” tomar multa do Executivo do que do MPT (mais caro). 14 Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. 28 CAPÍTULO 2 Fiscalização em SST Como visto, a CRFB-88 definiu competências e poder de polícia à União Federal no tocante à inspeção do trabalho e à administração tributária dos tributos federais e suas obrigações acessórias, neles inclusos a contribuição social incidente sobre folha de salários; e aos Estados, Distrito Federal e Municípios no tocante à saúde do trabalhador e meio ambiente do trabalho. Por conta dessa repartição de competências, faz-se, mais à frente neste trabalho, um esmiuçamento dessas questões. O Ministério da Economia – que encampou o antigo MTE e, com ele, a Secretaria de Inspeção do Trabalho e seus auditores fiscais do trabalho – AFT, bem como a RFB e seus auditores fiscais – AFRFB – e os vigilantes sanitários no âmbito estadual e municipal possuem algo em comum: poder de polícia em matéria de meio de ambiente do trabalho. Quando a vigilância sanitária fecha um estabelecimento por suspeita de doenças do trabalho; o AFT embarga obra ou interdita máquina; ou o AFRFB lança um auto de infração para constituir crédito relativo ao seguro acidente do trabalho, há exercício estatal do poder de polícia pela respectiva autoridade administrativa. Auto de infração (AI) – é um documento lavrado de ofício por agente público competente ao ser constatada alguma infração à determinada legislação. No caso de SST, basicamente é emitido pela Fiscalização Federal, pelo Ministério da Economia, por intermédio dos AFT, para normas trabalhistas; e pelos AFRFB para as normas tributárias e previdenciárias. No âmbito estadual e municipal, o AI é emitido pelo vigilante sanitário conforme Lei no 8.080/1990 e código sanitário local. Fiscalização de SST pelo auditor fiscal da Receita Federal do Brasil – AFRFB A IN no 971 da RFB, 2009, traz um capítulo15 inteiro dedicado aos fatores de riscos ensejadores de tributo cujo descumprimento enseja lavratura fiscal mediante lançamento fiscal do crédito tributário. Esse lançamento se dá mediante um Auto de Infração emitido pelo AFRFB, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Dentro das prerrogativas 15 Capítulo IX. Dos Riscos Ocupacionais no Ambiente de Trabalho. 29 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I legais, destacam-se o poder de polícia relacionado à emissão de multas via Auto de Infração, que é o documento constitutivo de crédito, inclusive relativo à multa aplicada em decorrência do descumprimento de obrigação acessória, lavrado por AFRFB e apurado mediante procedimento de fiscalização. Competência fechada para autuação que nasce e termina na mão do AFRFB, diferentemente do AFT que tem poderes apenas para iniciar o AI, pois quemlança e decide em última instância pela certeza e liquidez do AI é o Superintendente Regional do Trabalho e Emprego – SRTE. O AFRFB perfaz todo o procedimento de autuação, conferindo-lhe liquidez e certeza, inclusive para os agravantes legais à cominação da pena. Auto de Infração (AI) é o documento constitutivo de crédito, inclusive relativo à multa aplicada em decorrência do descumprimento de obrigação acessória, lavrado por AFRFB e apurado mediante procedimento de fiscalização. Importante destacar que a autoridade administrativa competente para a lavratura do Auto de Infração pelo descumprimento de obrigação principal ou acessória, nos termos dos arts. 14216 e 19617 da Lei no 5.172 (Código Tributário Nacional – CTN), de 1966, e art. 6o da Lei no 10.59318, de 2002, é o AFRFB que presidir e executar o procedimento fiscal. Pela IN 971, conforme Art. 288 e Art. 296, a quantia da tributação referente ao FACET será lançada por arbitramento19 pelo AFRFB quando for constatada uma das seguintes ocorrências: » a falta do PPRA, PGR, PCMAT, LTCAT ou PPP, quando exigíveis, observado o disposto no inciso V do art. 291; » a incompatibilidade entre os documentos referidos no inciso I; 16 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. 17 Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas. Parágrafo único. Os termos a que se refere este artigo serão lavrados, sempre que possível, em um dos livros fiscais exibidos; quando lavrados em separado deles se entregará, à pessoa sujeita à fiscalização, cópia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo. 18 Art.6o. São atribuições dos ocupantes do cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil no exercício da competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil e em caráter privativo: a) constituir, mediante lançamento, o crédito tributário e de contribuições; b) elaborar e proferir decisões ou delas participar em processo administrativo-fiscal, bem como em processos de consulta, restituição ou compensação de tributos e contribuições e de reconhecimento de benefícios fiscais; c) executar procedimentos de fiscalização, praticando os atos definidos na legislação específica, inclusive os relacionados com o controle aduaneiro, apreensão de mercadorias, livros, documentos materiais, equipamentos e assemelhados; d) examinar a contabilidade de sociedades empresariais, empresários, órgãos, entidades, fundos e demais contribuintes, não se lhes aplicando as restrições previstas nos arts. 1.190 a 1.192 do Código Civil e observado o disposto no art. 1.193 do mesmo diploma legal; e) proceder à orientação do sujeito passivo no tocante à interpretação da legislação tributária; f) supervisionar as demais atividades de orientação ao contribuinte. 19 Com fundamento legal previsto no §3o do art. 33 da Lei n. 8.212, de 1991, combinado com o art. 233 do RPS. 30 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS » a incoerência entre os documentos do inciso I e os emitidos com base na legislação trabalhista ou outros documentos emitidos pela empresa prestadora de serviços, pela tomadora de serviços, pelo INSS ou pela RFB. Nesse contexto, uma empresa que apresenta PPRA desatualizado, com LTCATs incompatíveis, e PCMSO divergente, indiciam incoerência documental passível de lançamento de 6% sobre folha de salário daqueles trabalhadores expostos aos fatores de riscos de 25 anos. Compõem o relatório desse crédito tributário os AI referentes aos documentos com irregularidades (PPRA, LTCAT e PCMSO). » Auto de Infração (AI) - Deixar de elaborar e de manter atualizado o PPP. Por exemplo, deixar de elaborar e de manter atualizado o Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP, que é uma das infrações previstas na Lei no 8.213/1991, bem como deixar de observar qualquer dispositivo das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 1991, e 10.666, de 8 de maio de 2003, para a qual não haja penalidade expressamente cominada no Decreto no 3.048/1999, cabe AI. Os valores atualizados para 2019, conforme Portaria ME 09/201920, variam, conforme a gravidade da infração, de R$ 2.411,28 (dois mil quatrocentos e onze reais e vinte e oito centavos) a R$ 241.126,88 (duzentos e quarenta e um mil cento e vinte e seis reais e oitenta e oito centavos). O Artigo 283, do Decreto no 3.048/1999 - RPS, determina que a empresa que deixar de elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico com as atividades desenvolvidas pelo trabalhador, bem como de fornecer a este, no momento da rescisão contratual, cópia autêntica do aludido documento, incorrerá em multa. Tal multa será fixada observando os valores de R$ 2.411,28 a R$ 241.126,88, conforme estabelece o Artigo 283, I, “h”, do RPS/199921. h) deixar a empresa de elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e de fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento. 20 Portaria ME n. 9, de 15 de janeiro de 2019. Art. 9o. A partir de 1o de janeiro de 2019: (...) II - o valor da multa pelo descumprimento das obrigações, indicadas no: a) caput do art. 287 do Regulamento da Previdência Social (RPS), varia de R$ 317,23 (trezentos e dezessete reais e vinte e três centavos) a R$ 31.724,89 (trinta e um mil setecentos e vinte e quatro reais e oitenta e nove centavos); b) inciso I do parágrafo único do art. 287 do RPS, é de R$ 70.499,72 (setenta mil quatrocentos e noventa e nove reais e setenta e dois centavos); e c) inciso II do parágrafo único do art. 287 do RPS, é de R$ 352.498,64 (trezentos e cinquenta e dois mil quatrocentos e noventa e oito reais e sessenta e quatro centavos); III - o valor da multa pela infração a qualquer dispositivo do RPS, para a qual não haja penalidade expressamente cominada no art. 283 do RPS, varia, conforme a gravidade da infração, de R$ 2.411,28 (dois mil quatrocentos e onze reais e vinte e oito centavos) a R$ 241.126,88 (duzentos e quarenta e um mil cento e vinte e seis reais e oitenta e oito centavos); IV - o valor da multa indicada no inciso II do art. 283 do RPS é de R$ 24.112,64 (vinte e quatro mil cento e doze reais e sessenta e quatro centavos). 21 Art. 283. Por infração a qualquer dispositivo das Leis n. 8.212 e 8.213, ambas de 1991, e 10.666, de 8 de maio de 2003, para a qual não haja penalidade expressamente cominada neste Regulamento, fica o responsável sujeito a multa variável R$ 2.411,28 (dois mil quatrocentos e onze reais e vinte e oito centavos) a R$ 241.126,88 (duzentos e quarenta e um mil cento e vinte e seis reais e oitenta e oito centavos).conforme a gravidade da infração, aplicando-se-lhe o disposto nos arts. 290 a 292, e de acordo com os seguintes valores: I - a partir de R$ 2.284,05 (dois mil duzentos e oitenta e quatro reais e cinco centavos) nas seguintes infrações: h) deixar a empresa de elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e de fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento (...). 31 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Quadro 2. Capitulação Legal do Auto de Infração – PPP. O Artigo 283, do Decreto no 3.048/1999 -RPS, determina que a empresa que deixar de elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico com as atividades desenvolvidas pelo trabalhador, bem como de fornecer a este, no momento da rescisão contratual, cópia autêntica do aludido documento, incorrerá em multa. Tal multa será fixada observando os valores de R$ 2.411,28 a R$ 241.126,88 conforme estabelece o Artigo 283, I, “h”, do RPS/1999. Art. 283 Por infração a qualquer dispositivo das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 1991, e 10.666, de 8 de maio de 2003, para a qual não haja penalidade expressamente cominada neste Regulamento, fica o responsável sujeito a multa variável R$ 2.411,28 a R$ 241.126,88, conforme a gravidade da infração, aplicando-se-lhe o disposto nos arts. 290 a 292, e de acordo com os seguintes valores: I - a partir de R$ 2.411,28 nas seguintes infrações: h) deixar a empresa de elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e de fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento; e Nota: Os valores das multas foram atualizados pela Portaria MF n. 9, de 13/1/2019, Fonte: próprio autor. Deve-se atentar aos valores das obrigações ensejadoras de AI decorrentes de SST (meio ambiente do trabalho), nos termos do Art. 47 da IN 971 da RFB Seção Única - Das Obrigações Art. 47. A empresa e o equiparado, sem prejuízo do cumprimento de outras obrigações acessórias previstas na legislação previdenciária, estão obrigados a: (...) IV - lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada,os fatos geradores de todas as contribuições sociais a cargo da empresa, as contribuições sociais previdenciárias descontadas dos segurados, as decorrentes de sub-rogação, as retenções e os totais recolhidos, observado o disposto nos §§ 5o, 6o e 8o e ressalvado o disposto no § 7o; (...) VI - prestar à RFB todas as informações cadastrais, financeiras e contábeis de interesse desta, na forma por esta estabelecida, bem como os esclarecimentos necessários à fiscalização; VII - exibir à fiscalização da RFB, quando intimada para tal, todos os documentos e livros com as formalidades legais intrínsecas e extrínsecas, relacionados com as contribuições sociais; XI - comunicar ao INSS acidente de trabalho ocorrido com segurado empregado e trabalhador avulso, até o 1o (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato; XII - elaborar e manter atualizado Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT) com referência aos agentes 32 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores, conforme disposto no inciso V do art. 291; XIII - elaborar e manter atualizado Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) abrangendo as atividades desenvolvidas por trabalhador exposto a agente nocivo existente no ambiente de trabalho e fornecer ao trabalhador, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento, conforme disposto no inciso VI do art. 291 e no art. 295; XIV - elaborar e manter atualizadas as demonstrações ambientais de que tratam os incisos I a IV do art. 291, quando exigíveis em razão da atividade da empresa. § 1o-A Durante a implementação progressiva do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial) e da Escrituração Fiscal Digital de Retenções e Outras Informações Fiscais (EFD-Reinf), conforme calendário fixado por Resolução do Comitê Diretivo do eSocial e por Instrução Normativa da RFB: IV - as obrigações acessórias previstas nos incisos XI e XIII do caput serão cumpridas nas formas previstas nos citados incisos e mediante o envio, com sucesso, dos eventos S-1060, S-2210, S-2220, S-2240 e S-2241, relativos a Saúde e Segurança do Trabalhador (SST), ao eSocial. IV - as obrigações acessórias previstas nos incisos XI e XIII do caput deverão ser cumpridas na forma prevista nos citados incisos e mediante o envio, com sucesso, dos eventos S-1060, 2210, S-2220 e S-2240 relativos a Saúde e Segurança do Trabalhador (SST), ao eSocial, quando o envio destes se tornar obrigatório. § 11. Para o fim do inciso VIII do caput, considera-se informado à RFB quando da entrega da GFIP, conforme definição contida no Manual da GFIP. § 12. O contribuinte que deixar de apresentar a GFIP no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentá-la ou a prestar esclarecimentos e sujeitar-se-á às multas por descumprimento da obrigação acessória, aplicadas na forma do art. 475. 33 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I § 13. A empresa deve manter à disposição da RFB, pelo prazo decadencial previsto na legislação tributária, os documentos comprobatórios do cumprimento das obrigações acessórias referidas neste artigo, ressalvado o disposto no art. 48 e observadas as normas estabelecidas pelos órgãos competentes. Tem-se então na sequência, pela IN 971 Subseção I Das Multas, que diz: Art. 475. Por infração a qualquer dispositivo da Lei no 8.212, de 1991, exceto no que se refere aos prazos de recolhimento de contribuições, da Lei no 8.213, de 1991 e da Lei no 10.666, de 2003, fica o responsável sujeito a multa variável, conforme a gravidade da infração, limitada a um valor mínimo e um valor máximo previstos no RPS e atualizados mediante Portaria Interministerial, aplicada da seguinte forma: I - a partir do valor mínimo, limitada ao valor máximo estabelecido em Portaria Interministerial, para as infrações previstas no inciso I do art. 283 do RPS; II - a partir de 1/10 (um décimo) do valor máximo estabelecido em Portaria Interministerial, ao qual se limita, para as infrações previstas no inciso II do art. 283 do RPS; III - no valor mínimo, por segurado não inscrito, para a infração prevista no § 2o do art. 283 do RPS; IV - no valor mínimo, para as infrações para as quais não haja penalidade expressamente cominada, conforme o § 3o do art. 283 do RPS; » Auto de Infração (AI) - Deixar de emitir CAT - Art. 22 da Lei no 8.213/1991 combinado com art. 336 do RPS (Dec. no 3048/1999). Sempre que um empregado é envolvido em um acidente de trabalho – mesmo aqueles que não resultam no afastamento do empregado –, a empresa precisa emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para o INSS. Essa comunicação, no eSocial, deverá ser feita até o primeiro dia útil seguinte ao acidente, para os casos não fatais, ou imediatamente, caso tenha resultado no falecimento de algum trabalhador. Se essa determinação não for respeitada, a multa aplicada pode variar entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, e ainda pode dobrar de valor se acontecer mais de uma vez. Ou seja, para cada CAT não emitida o valor22 varia de R$ 998,00 a R$ 5.839,45. 22 Portaria ME n. 9, de 15 de janeiro de 2019. 34 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Quadro 3. Capitulação Legal do Auto de Infração – CAT 2324 Tipo Valor da Multa Fundamentação Legal Deixar a empresa de comunicar acidente de trabalho até o primeiro dia útil seguinte à ocorrência e de imediato em caso de morte Multa variável entre limites mínimo e máximo do salário de contribuição Art. 22.da Lei no 8213/1991 combinado com Lei no 8.212/1991 (Art. 22, Art. 28, parágrafos 3o e 5o). Regulamentado pelo RPS - Dec. 3.048/1999 (Art. 286 e Art. 336) Fonte: próprio autor. Fiscalização de SST pelo vigilante sanitário municipal e estadual No campo da competência concorrente (Estados, DF, Municípios e a União), todos têm competência para exercer a vigilância de forma plena. Conforme decisão do TRF-SP,complementarmente, não é mais apenas o Ministério do Trabalho e Emprego — MTE, como ocorria antes da CRFB-88. Para não ficar enfadonho, uma vez que a Lei n. 8.080/1991 pode ser consultada na íntegra pelo leitor mais acurado, faz-se aqui uma chamada ao art. 16 que lista as atribuições da direção nacional do Sistema Único de Saúde – SUS. Dentre outras, possui o SUS federal a competência de: » participar na formulação e na implementação das políticas (II,”c”) relativas às condições e aos ambientes de trabalho; » definir e coordenar os sistemas de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária (V, “b”, “c”); » participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador (V); » coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica (VI); 23 Art. 336. Para fins estatísticos e epidemiológicos, a empresa deverá comunicar à previdência social o acidente de que tratam os arts. 19, 20, 21 e 23 da Lei n. 8.213, de 1991, ocorrido com o segurado empregado, exceto o doméstico, e o trabalhador avulso, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena da multa aplicada e cobrada na forma do art. 286. §1o Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria. §2o Na falta do cumprimento do disposto no caput, caberá ao setor de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social comunicar a ocorrência ao setor de fiscalização, para a aplicação e cobrança da multa devida. §3o Na falta de comunicação por parte da empresa, ou quando se tratar de segurado especial, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo. §4o A comunicação a que se refere o §3o não exime a empresa de responsabilidade pela falta do cumprimento do disposto neste artigo. §6o Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a cobrança, pela previdência social, das multas previstas neste artigo. 24 Art. 286. A infração ao disposto no art. 336 sujeita o responsável à multa variável entre os limites mínimo e máximo do s alário-de-contribuição, por acidente que tenha deixado de comunicar nesse prazo. §1o Em caso de morte, a comunicação a que se refere este artigo deverá ser efetuada de imediato à autoridade competente. §2o A multa será elevada em duas vezes o seu valor a cada reincidência. §3o A multa será aplicada no seu grau mínimo na ocorrência da primeira comunicação feita fora do prazo estabelecido neste artigo, ou não comunicada, observado o disposto nos arts. 290 a 292. 35 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I » elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal (XVIII). Outro destaque que se faz está no parágrafo único do art. 16, que diz: A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que representem risco de disseminação nacional. Exemplo típico do caso em que o SUS em nível federal poderá exercer poder de polícia (fiscalização, interdição, lavraturas administrativas em geral) ocorre quando os empregadores apresentarem indicadores epidemiológicos (acidentes, doenças e mortes do trabalho) cujos arranjos técnicos, políticos e geográficos envolvidos constranjam ou impossibilitem o Município ou até mesmo o Estado de atuarem. Assim, para enfrentar uma endemia de Lesão por Esforços de Repetição/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho — LER/DORT causada pelas entidades financeiras ou de Hipertensão Arterial Sistêmica nas empresas de esgotamento sanitário (coleta e tratamento), dada a dispersão geográfica, o peso político-econômico e a complexidade técnica envolvidos, dificilmente o SUS lograria êxito no âmbito municipal ou estadual. Essa é a razão de ser desse dispositivo. Em recente decisão, o TRF julgou recurso (agravo de instrumento) da vigilância em saúde do SUS estadual (SP) contra decisão da 23ª Vara Federal de SP. O TRF reformou a sentença e confirmou a competência do SUS para atuação no meio ambiente do trabalho, sob o prisma da proteção da saúde do trabalhador, mantendo, inclusive, os autos de infração contra a empresa fiscalizada em ação proposta pela Shell contra o Estado de São Paulo. Outra evidência judicial desse entendimento consta de acórdão do TRT, 4ª vara do trabalho de Jundiaí, Processo no 01181-2008-097-15-00-5; recorrido Neumayer Tekfor Automotive Brasil Ltda., cuja ementa dispõe o seguinte: Segurança e Saúde do Trabalhador. Infração. Município. Secretaria Municipal de Saúde. Cerest. Fiscalização. Autuação. Cobrança de Multa. Competência. Não viola a competência privativa da União lei municipal que atribui poder de fiscalização, no âmbito do trabalho, a ente municipal integrante do Sistema Único de Saúde. Trata-se de competência concorrente dos entes federados. É dever do Poder 36 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Público e da coletividade defender, preservar e proteger o meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. A saúde do trabalhador não é monopólio da União, mas é tratada juridicamente por Estados e Municípios. O meio ambiente em condições dignas e salubres dá suporte ao mais fundamental direito do homem: o direito à vida. É legítima a fiscalização e autuação realizada por órgão municipal, que integra o Sistema Único de Saúde, visto que todos os entes federados têm competência concorrente para legislar sobre saúde. Aplicação dos arts. 21, XXIV, 22, I, 23, II e VI, 24, XII, 30, 196, 197, 198, 200 e 225 da Constituição Federal. No mesmo sentido de reconhecer a competência constitucional do SUS, aponta o processo25, que diz: “SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR. INFRAÇÃO. MUNICÍPIO. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. CEREST. FISCALIZAÇÃO. AUTUAÇÃO. COBRANÇA DE MULTA. COMPETÊNCIA. Não viola a competência privativa da União lei municipal que atribui poder de fiscalização, no âmbito do trabalho, a ente municipal integrante do Sistema Único de Saúde. Trata-se de competência concorrente dos entes federados. É dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar e proteger o meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. A saúde do trabalhador não é monopólio da União, mas é tratada juridicamente por Estados e Municípios. O meio ambiente em condições dignas e salubres dá suporte ao mais fundamental direito do homem: o direito à vida. É legítima a fiscalização e autuação realizada por órgão municipal, que integra o Sistema Único de Saúde, visto que todos os entes federados têm competência concorrente para legislar sobre saúde. Aplicação dos artigos21, XXIV, 22,I, 23, II e VI, 24, XII, 30, 196, 197, 198, 200 e 225 da Constituição Federal. (TRT15, Processo no 0118100-91.2008.5.15.0097, Rel. Des. Flávio Nunes Campos, 11ª Câmara, 6ª Turma) Assim, a lavratura do auto de infração e imposição de penalidade à recorrida se deu em razão da inobservância da norma sanitária, a qual ensejou o acidente de trabalho. Conforme pontuou o Ministério Público do Trabalho, “o auto de infração lavrado pela Vigilância Sanitária Municipal (órgão pertencente ao SUS) está de acordo com a competência fiscalizatória conferida pela Lei Federal no 8.080/1990 a qual, em seu 25 TRT/15ª REGIÃO Região n. 0011369-10.2014.5.15.0017. Recurso Ordinário Da 1ª Vara Do TrabalhoDe São José Do Rio Preto. Recorrente: Município De São José Do Rio Preto. Recorrido: Plante Amor Confecções Ltda. Juiz Sentenciante: Leandro Renato Catelan Encinas. 37 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I art. 6o, prevê expressamente que está incluída no campo de atuação do SUS a execução de ações de vigilância sanitária relativas à saúde do trabalhador. Assim, visando à efetiva proteção da saúde do trabalhador e de um meio ambiente do trabalho equilibrado, é de se reconhecer a competência da autoridade municipal para a fiscalização e imposição de penalidades por infração a tais preceitos. Dessa forma, reforma-se o r. decisório para reconhecer a competência do órgão municipal da vigilância sanitária (CEREST) para proceder à fiscalização, lavrar auto de infração e impor penalidade em relação a ambiente de trabalho, declarando-se a validade do auto de infração 000076 e do auto de imposição de penalidade 0413, julgando-se, por consequência, improcedente a ação anulatória. Fiscalização de SST pelo auditor fiscal do trabalho Diferentemente do Código Tributário Nacional – CTN e das leis fiscais que atribuem ao cargo – no caso AFRFB – a competência para autuar; a CLT atribui ao órgão, no caso à Superintendência Regional do Trabalho – SRTE, e não ao cargo de AFT, essa competência26. Dessa forma, há uma interferência política para que a lavratura fiscal pelo AFT seja confirmada em auto de infração e por consequência a multa seja cobrada. Isso porque, constatada a infração pelo AFT, o AI por ele lavrado só produzirá força e penalização efetiva se o STRE homologar. Em algumas SRTE, o Superintendente delega, via portaria, essa competência para o AFT-chefe da fiscalização, mais ainda assim em ato precário, pois a qualquer momento pode ser revisto. Além disso, a CLT traz algo impensável pelo CTN: o AFT deverá observar o critério de dupla visita! O AFT, portanto, lavra termo inicial do AI, que dependerá do SRTE para cálculo do valor atribuído; ponderação sobre acréscimos dos agravantes; e, por último, para imposição coercitiva. A controvérsia sobre competências do AFT decorre do aparente conflito entre o art. 156, III, do Capítulo V, que trata de SST, e o art. 62827, da CLT. O primeiro diz que cabe à SRTE (antiga DRT); o segundo, ao AFT. Para SST, cabe especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho (atuais SRTE), nos limites de sua jurisdição, impor as penalidades cabíveis, enquanto às normas gerais da CLT, a competência para lavrar o AI fica com o AFT. 26 Art. 156 - Compete especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdição: (...) III - impor as penalidades cabíveis por descumprimento das normas constantes deste Capítulo, nos termos do art. 201. 27 Art. 628. Salvo o disposto nos arts. 627 e 627-A, a toda verificação em que o Auditor-Fiscal do Trabalho concluir pela existência de violação de preceito legal deve corresponder, sob pena de responsabilidade administrativa, a lavratura de auto de infração. 38 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS Percebe-se que há um aparente conflito, pois parece duplo comando, mas não é. Isso porque se tratam de dois verbos: impor e lavrar. A lavra cabe ao AFT, mas a imposição de multa ao SRTE. Só há imposição se houver lavra, mas é possível lavrar sem gerar multa. Não há conflito, mas sim um ato subalterno do AFT passível de homologação do superintendente ou por quem ele delegar. É que no ato da autuação, competência privativa de AFT, não há imposição da multa. A multa só é imposta depois, no trâmite do processo administrativo regulado pela Portaria MTe 85428, de 2015. Segundo essa Portaria, na Seção II - Do auto de infração, Art. 14: O auto de infração será lavrado em 03 (três) vias conforme modelos e instruções emitidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego e conterá, essencialmente, os seguintes elementos: I - nome, inscrição, endereço e CEP do autuado constantes dos cadastros de pessoa física ou jurídica da Secretaria da Receita Federal do Brasil; II - código de atividade segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE e número total de empregados de todos os estabelecimentos do autuado; III - ementa da autuação e seu código; IV - narrativa clara e precisa do fato caracterizado como infração, com referência às circunstâncias pertinentes, relacionando, quando tecnicamente possível, pelo menos um empregado em situação ou atividade irregular, exceto quando a lei cominar multa per capita, hipótese em que deverão ser relacionados todos os empregados em situação ou atividade irregular e o local onde ocorreu o fato, se diverso do citado no inciso I; V - capitulação do fato mediante citação expressa do dispositivo legal infringido; VI - elementos de convicção; VII - ciência do prazo para apresentação de defesa e indicação do local para sua entrega; VIII - local e data; IX - assinatura e identificação do AFT autuante contendo nome e número de sua Carteira de Identidade Fiscal - CIF; X - assinatura e identificação do autuado, seu representante ou preposto. Na sequência, uma vez feita a autuação pelo AFT, o auto de infração terá a seguinte destinação, conforme Art. 18 dessa Portaria: a) uma via será entregue no protocolo da unidade de exercício do AFT para instauração do processo administrativo, em até dois dias úteis contados de sua lavratura; b) uma via será entregue ao empregador ou seu preposto; c) uma via será destinada ao AFT emitente. 28 BRASILIA (DF). Portaria MTE no 854/2015. Aprova normas para a organização e tramitação dos processos de multas administrativas e de Notificação de Débito de FGTS. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=286179. Acesso em: 11 ago 2019. 39 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Destaque-se que apenas o AFT tem poderes para análise dos processos e emissão de pareceres para a motivação de decisão de auto de infração e de notificação de débito de FGTS. De resto, a competência para impor penalidade é exclusiva da autoridade administrativa, Superintendente Regional do Trabalho e Emprego – SRTE que poderá delegar matéria e poderes aos seguintes agentes administrativos: I - Chefe da Unidade de Multas e Recursos; II - Gerentes Regionais de Trabalho e Emprego; III - Chefias de Fiscalização ou da Inspeção do Trabalho; IV - demais servidores das Unidades de Multas e Recursos; V - parte de sua competência a outros titulares, desde que servidores efetivos do órgão, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Cuidado: SRTE poderá! O Ato é discricionário. Importante o leitor se apropriar desse rito administrativo, dos meandros legais e da documentação que o acompanha, notadamente em matéria de SST, para desempenhar seu papel de profissional prevencionista com profundidade, inclusive para abrir espaço de atuação no âmbito do contencioso administrativo e judicial contra atos do AFT e SRTE. Nesse sentido, compreenda que o julgamento do processo administrativo uma vez consumado pelo SRTE, ou por seu delegado, compete: I - em primeira instância, ao próprio Superintendente Regional do Trabalho e Emprego; II - em segunda instância, ao Coordenador-Geral de Recursos. Finalmente, resume-se: a autoridade competente para impor a multa é o SRTE, que muitas vezes delega essa competência para os chefes das seções de multas, que, em sua grande parte, são AFT. Mas o parecer que motiva a decisão do Superintendente para impor ou não a multa (após a lavratura do auto de infração) é de competência exclusiva dos AFTS. Se o Superintendente discordar do parecer, terá que pedir a outro AFT que faça outra fundamentação. » Auto de Infração (AI) - Deixar de emitir CAT - CLTArt. 169 combinado com NR 07 e NR 28. Exemplificando, tome-se uma empresa com 50 empregados que comete infração no tema SST. Segundo a NR 28 que define penalidades, tem-se que a multa é baseada em UFIR. Em 2001, a base de cálculo da UFIR29 ficou congelada em R$ 1,0641. Consultando o anexo I da NR 28 verifica-se: 29 A Unidade de Referência Fiscal - UFIR foi extinta em decorrência do §3o do art. 29 da Medida Provisória 2095/1976. Valor da UFIR. Subsecretaria de Arrecadação, Cadastros e Atendimento da Receita Federal do Ministério da Economia. 5 nov, 2018. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-parcelamentos/valor-da-ufir. Acesso em: 11 ago. 2019. 40 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS 28.3.1.1 Em caso de reincidência, embaraço ou resistência à fiscalização, emprego de artifício ou simulação com o objetivo de fraudar a lei, a multa será aplicada na forma do art. 201, parágrafo único, da CLT, conforme os seguintes valores de multa (em UFIR) estabelecidos: a) Segurança do Trabalho: 6.304 e b) Medicina do Trabalho: 3.782 Primeiro passo: Consultar na NR 07 qual o item da infração e qual o grau da infração representado pelo alfanumérico entre parêntesis. No caso, item 7.4.8, grau 4 (I = 4). Segue-se ao Anexo I da NR 28, que diz: Anexo I - Gradação de Multas. Número de Empregados = 50. Na sequência, verificar se é multa de Segurança do Trabalho ou Medicina do Trabalho e a quantidade de funcionários. No exemplo: Medicina do Trabalho Infração Tipo I 4 varia de 1999 a 2320. Ou seja, a multa variará do mínimo 1999 UFIR ao máximo de 2320 UFIR Segundo passo é identificar o item da NR que foi descumprido. No caso da CAT, o dispositivo é 7.4.8 (a) da NR 07, que diz: 7.4.8 Sendo constatada a ocorrência ou agravamento de doenças profissionais, através de exames médicos que incluam os definidos nesta NR; ou sendo verificadas alterações que revelem qualquer tipo de disfunção de órgão ou sistema biológico, através dos exames constantes dos Quadros I (apenas aqueles com interpretação SC) e II, e do item 7.4.2.3 da presente NR, mesmo sem sintomatologia, caberá ao médico-coordenador ou encarregado: a) solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT; b) indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição ao risco, ou do trabalho; 5 c) encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento de nexo causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta previdenciária em relação ao trabalho; d) orientar o empregador quanto à necessidade de adoção de medidas de controle no ambiente de trabalho. Conforme Anexo II, verifica-se que é de grau 4, relativo à medicina. Agora há todos os dados, basta cruzar as informações e chegar ao valor determinado da multa. No mínimo da infração: 1.999 x R$ 1,0641 (valor da UFIR) = R$ 2.127,14. No máximo da infração: 2.320 x R$ 1,0641 (valor da UFIR) = R$ 2.459,20. 41 ASPECTOS GERAIS E NORMATIVOS │ UNIDADE I Conclusão: NÃO emitir CAT gera multa mínima de R$ 2.127,14 e máxima de R$ 2.459,20 para a empresa de até 50 funcionários. » Auto de Infração (AI) - Deixar de Atender Itens das NR. Esse exemplo usado para CAT no tópico anterior serve de base para todas as infrações aos itens das Normas Regulamentadoras, conforme NR 28, com ementa de multa, quer dizer com código e gradação. 42 UNIDADE IIDOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL CAPÍTULO 1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA O PPRA constitui um dos programas que integram o programa de gestão do meio ambiente do trabalho e está estruturado em: antecipação/reconhecimento dos riscos; avaliação ambiental; controle e medidas de prevenção dos riscos ambientais; monitoramento; registro e divulgação. Deve ser elaborado, implementado e atualizado pela empresa, por estabelecimento, nos termos da NR-9 do MTE. Essa atualização decorre das avaliações ambientais dentro do cronograma e das metas estabelecidas no próprio PPRA, cujo desenvolvimento deve ser aferido ao menos uma vez por ano. Em que pese a discricionariedade do empregador em eleger qualquer um como responsável pela condução do PPRA, há restrições quanto ao item de avaliação ambiental que necessariamente deve ser feita por um engenheiro de segurança do trabalho mediante uma peça pericial, que nada mais é que um laudo técnico, que a Previdência Social dele se apropriou, nomeando--o de LTCAT. Essas avaliações devem se repetir quantas vezes forem necessárias em função dos fatores de risco reconhecidos, bem como para: a) comprovar o controle da exposição ou a inexistência de riscos identificados na etapa de reconhecimento; b) dimensionar a exposição dos trabalhadores; c) subsidiar o equacionamento das medidas de controle; d) assegurar os níveis de ação toda vez que houver ultrapassagem da dose em 50% do tolerável; e e) com o custeio da aposentadoria especial, provar porque paga (ou não) tributo. A execução de um PPRA passa necessariamente pela produção periódica de laudos técnicos que avaliem as condições ambientais para cada um dos riscos. Em outras palavras, usando a figura metafórica para ilustrar o argumento aqui desenvolvido, o 43 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II PPRA é um filme cinematográfico (com história, roteiro, trama e locação), e o LTCAT é um retrato fotográfico, uma foto solta, sem significado se descontextualizado de seu roteiro de cinema. O PPRA, dinâmico, é formado por uma sucessão de LTCAT estáticos. O conjunto de LTCAT dá a dinâmica do PPRA, que é por ele retroalimentado para fins de medidas de controle e tomadas de ação. Com o advento da informação mensal em GFIP prestada pela empresa ao fisco e ao INSS, o PPRA, além das questões prevencionistas, deve suportar, como obrigação acessória30 tributária, a decisão do empregador relativa a pagar ou não tributo; se houve ou não fato gerador de contribuição social destinada ao custeio da aposentadoria especial; se há ou não crime de sonegação fiscal ou ainda crime de informação falsa. A novidade aqui é exatamente a periodicidade dessa avaliação, que deve ser mensal porque mensal é a produção de informação pela empresa para fins de salário, retenção de imposto de renda — IRPF, pagamento de horas extras e, por conseguinte, a alimentação de GFIP e recolhimento ao fisco dos tributos federais e contribuições sociais, além do FGTS. A verificação da sintonia entre essa periodicidade é dada a partir das demonstrações ambientais levadas a efeito pelas avaliações ambientais contemporâneas, tempestivas e metodologicamente rastreáveis de forma a produzir evidências cabais quanto aos seguintes itens de controle: há exposição a agentes nocivos? Qual é a população exposta em cada mês? Quais medidas de controle foram adotadas? São eficazes tais medidas? Deve-se deixar claro que essas avaliações ambientais são peças periciais produzidas a partir da concepção do PPRA e de seus parâmetros e diretrizes; em outras palavras, quem faz PPRA faz necessariamente LTCAT. 30 Art. 47 da IN RFB 971/2009: A empresa e o equiparado, sem prejuízo do cumprimento de outras obrigações acessórias previstas na legislação previdenciária, estão obrigados a (...) VII — exibir à fiscalização da RFB, quando intimada para tal, todos os documentos e livros com as formalidades legais intrínsecas e extrínsecas, relacionados com as contribuições sociais; VIII — informar mensalmente, à RFB e ao Conselho Curador do FGTS, em GFIP emitida por estabelecimento da empresa, com informações distintas por tomador de serviço e por obra de construção civil, os dados cadastrais, os fatos geradores, a base de cálculo e os valores devidos das contribuições sociais e outras informações deinteresse da RFB e do INSS ou do Conselho Curador do FGTS, na forma estabelecida no Manual da GFIP; XI — comunicar ao INSS acidente de trabalho ocorrido com segurado empregado e trabalhador avulso, até o 1o (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato; XII — elaborar e manter atualizado Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT) com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores, conforme disposto no inciso V do art. 291; XIII — elaborar e manter atualizado Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) abrangendo as atividades desenvolvidas por trabalhador exposto a agente nocivo existente no ambiente de trabalho e fornecer ao trabalhador, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste documento, conforme disposto no inciso VI do art. 291 e no art. 295; XIV — elaborar e manter atualizadas as demonstrações ambientais de que tratam os incisos I a IV do art. 291, quando exigíveis em razão da atividade da empresa. 44 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Programa Gestão do Meio Ambiente do Trabalho – PGMAT (PPRA ampliado) Nada impede que, para além dos fatores químicos, físicos e biológicos pertinentes ao PPRA, acrescentem-se os fatores de riscos de acidentes mecânicos ou ergonômicos, de incêndios, de pânico, de contingências, de espaço confinado, de trabalho em altura, enfim, todos de interesse a SST. Programa Gestão do Meio Ambiente do Trabalho – PGMAT evidencia a vontade política da empresa em assegurar o meio ambiente equilibrado, tendo o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA como parte integrante do acervo técnico-político relativo ao gerenciamento ambiental. O PGMAT encerra quatro linhas de interesse estratégico da empresa: i) política, ante o compromisso de respeito ao meio ambiente do trabalho equilibrado, com transparência, como eixo estruturante de modo a assegurar compliance e governança corporativa, inclusive aos stakeholders; ii) gerencial, com definição de matriz de riscos, metas, responsáveis, cronograma e orçamento iii) legal, como suporte às exigências fiscais, sanitárias, ambientais, previdenciárias e trabalhistas e iv) técnico, com estruturação de variáveis de controle, medições, cálculos e equacionamento. O PGMAT foi pensado pelo autor deste Caderno de Estudos para servir de plataforma única à gestão ambiental de modo a atender as demandas oriundas dessas quatro linhas de interesse. Assim, a despeito do nome restrito, que pode ensejar uma redução, registre-se que além dos fatores de risco químicos, físicos e biológicos determinados pela NR-09 (Portaria no 25, de 29 de dezembro de 1994) do Ministério do Trabalho alcança os demais fatores: acidentes, mecânicos, ergonômicos, confinamento, pânico e incêndio, e demais contingências, inclusive seus planos operacionais. Por opção estratégica da empresa, todas as diretrizes de prevenção e ações programáticas estão concentradas nessa proposta de Programa Global, aqui chamado de PGMAT. Dessa forma, há uma gestão de tudo (coletividade dos riscos) para todos (conjunto dos clientes internos e externos do programa, entes fiscalizadores, seguradoras, auditoria interna), ou seja a partir do PGMAT atende-se a todas as Normas do Ministério do Trabalho, da RFB, do INSS, da vigilância sanitária, mas também às exigências políticas e gerenciais da empresa, bem como aquelas decorrentes de demandas judiciais, administrativas e comerciais. Com essa abordagem, há uma prontidão empresarial que atende ao legalismo, mas o supera e avança para assegurar à empresa segurança jurídica, mas principalmente econômica. 45 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II As ações do PGMAT são desenvolvidas no âmbito de cada estabelecimento da empresa, com forte interação, articulação e intercâmbio com as empresas prestadoras de serviços, com a participação dos trabalhadores (diretos e indiretos), mediante discussão, registro em ata e divulgação por intermédio da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA regularmente constituída. O PGMAT, como PPRA ampliado aos demais riscos, possui uma estrutura disposta por: » planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e cronograma; » estratégia e metodologia de ação; » forma do registro, manutenção e divulgação dos dados; e » periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA, conforme escopo e competência. O PGMAT fundamenta-se em dispositivos, como: » Estatuto da Empresa. » Plano de Negócio Empresarial. » Planejamento Estratégico Trienal. » Emenda Constitucional no 20/1998 (Art. 15). » Código Tributário Nacional – CTN (SEÇÃO II - Modalidades de Lançamento). » Arts. 57 e 58 da Lei no 8.213/1991 . » Arts. 20 e 32 da Lei no 8.212/1991. » Decreto 3.048/1999. » Instrução Normativa – IN no 971/2009 da RFB (Inciso XII e Capítulo IX). » Instrução Normativa – IN no 77/2015 – INSS (Artigos 262, 263 e 276). » Normas de Higiene Ocupacional – NHO da FUNDACENTRO. » Consolidação das Leis do Trabalho (Capítulo V). » Normas Regulamentadoras – NR do MT. 46 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL » American Conference of Governmental Industrial Higyenists – ACGIH (subsidiariamente, quando não previstos pelo Anexo IV do RPS, em se tratando de avaliações quantitativas que não tenham limites de tolerância determinados na NR-15). Quanto ao escopo, pode-se afirmar que o PGMAT inclui o PPRA que, por sua vez, substitui o LTCAT, conforme estabelece a IN 971/RFB, que diz: Art. 291. As informações prestadas em GFIP sobre a existência ou não de riscos ambientais em níveis ou concentrações que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador deverão ser comprovadas perante a fiscalização da RFB mediante a apresentação dos seguintes documentos: (...) V – LTCAT, que é a declaração pericial emitida para evidenciação técnica das condições ambientais do trabalho, podendo ser substituído por um dos documentos dentre os previstos nos incisos I e II, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece critérios a serem adotados pelo INSS; Tem-se como escopo precípuo do PGMAT fazer prova perante a RFB e o INSS quanto às condições especiais para as quais se subordinam os segurados do estabelecimento empresarial, de modo a conferir suporte material às informações subsequentes, via GFIP ou eSocial. A contabilidade é de grande interesse empresarial. O pulo do gato é usar a abordagem contábil na temática SST, no âmbito do planejamento da empresa. Pode-se, por exemplo, no planejamento anual inserir metas, como: » Baixar acidentalidade média apurada de 5,33 por 100.000 para 4,50 no primeiro ano; para 3,5 no segundo e 3,0 no terceiro. » Baixar o FAP de 1,7544 para 0,8500 no triênio 2019 a 2021, conforme apurado » Baixar ocorrência de afastamentos alcançados pelo Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - NTEP (CNAE 2222 x CID_Agrup) » Reduzir despesas decorrentes de acidentes de trabalho de R$ 1.000.000,00 ao ano para 250.0000,00 ao ano, apuradas com base em planilha. » Redução de despesas decorrentes de impactos ambientais de R$ 500.000,00 para R$ 100.000,00. 47 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II Nas prioridades, avançar sobre os mais prevalentes Fatores de risco: » Tendinites. » Hipertensão. » Traumas. A revisão periódica da documentação confere materialidade às informações contábeis e tributárias decorrentes da escrituração feita a partir das folhas salariais mês-a-mês. Assim, poder-se-ia definir uma competência para a Avaliação Gerencial (efeitos administrativos e corporativos) viger no triênio novembro/2022 e outubro/2025, com periodicidade de avaliação semestral, enquanto a competência para Avaliação das Intensidades e Concentrações dos fatoresde riscos (efeitos fiscais e previdenciários) seguir um marco temporal de vigência a partir novembro/2018 com periodicidade de avaliação mensal. Quadro 4. Exemplo de Estruturação de um PGMAT (PPRA Ampliado). Introdução Fundamentação corporativa e legal Escopo Competência Planejamento anual Metas Prioridades Cronograma de ações - trienal Estratégia e metodologia de ação Estratégia de amostragem Critérios e definições de grupo homogêneo de exposição - GHE Forma do registro, manutenção e divulgação dos dados Dados da empresa Descrição do processo produtivo do estabelecimento Fluxograma de processo Planta baixa da produção Descrição e códigos para cargos e funções Descrição e códigos para ambientes e funções Fatores de risco reconhecidos Descrição ambiente do trabalho Fatores de riscos – por GHE Avaliação quantitativa Técnicas de medição – amostragem ativa e passiva Gases e vapores: meios de amostragem Definições e unidades de conversão Meios de amostragem – material particulado Detectores em tempo real 48 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Técnicas analíticas Medidas de controle Métodos de controle Intervenção: fatores a considerar Nível aceitável de exposição Inspeção de campo periódica Nível de ação – NA Monitoramento. Registro de dados. Responsabilidades Ações cruzadas entre empregadores Fonte: próprio autor. 49 CAPÍTULO 2 Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho – LTCAT Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho – LTCAT é parte integrante do acervo relativo ao gerenciamento ambiental por parte da empresa, consistindo em uma declaração pericial emitida para evidenciação técnica das condições ambientais do trabalho. Trata-se de fonte primária de natureza tributária e previdenciária, nos termos dos regramentos estabelecidos pela RFB e pelo INSS. Deve-se contextualizar de pronto que as metodologias, procedimentos e limites de tolerâncias por essas entidades adotadas seguem o mesmo marco regulatório, cuja colimação, por hierarquia descendente, está posta no Anexo IV do RPS, com redação dada pelo Decreto no 3.048/1999 e, por isso, são rigorosamente os mesmos para fins tributários e previdenciários, pois emanam dessa única orientação regulamentar. Em que pese serem originárias de fundamentações legais distintas (Custeio pela Lei no 8.212/1991 e Benefício pela Lei no 8.213/1991) que remetem à subsunção de dupla face do fato social, constituindo uma ambivalência jurídica, tal fato social dispara, a um só tempo, a hipótese de incidência tributária (RFB) e de reconhecimento ao benefício (INSS). Frise-se que a exigência de LTCAT para todos os agentes nocivos é uma inovação trazida pela Lei no 9.032/1995, aplicável para períodos laborados a partir da sua vigência. Entretanto, para os agentes nocivos do calor e do ruído, mesmo antes da Lei no 9.032/1995, era indispensável a apresentação de laudo técnico, pois somente com ele poderiam ser aferidos os níveis de ruído e a intensidade do calor – visto que apenas a partir de determinados níveis a atividade poderia ser considerada especial. Assim, a um só tempo, o LTCAT possui natureza jurídica de obrigação acessória tributária (custeio) e instrumental para fins previdenciários (benefício de precocidade na aposentadoria por tempo de contribuição por prejudicialidade à saúde ou à integridade física). O custeio se dá pela tributação relativa ao Financiamento da Aposentadoria por Condições Especiais do Trabalho – FACET, cujo fato gerador se consigna pela remuneração paga, devida ou creditada a trabalhador submetido à exposição, de modo permanente, que ultrapasse valores limites (quantitativo) ou que possua fator de risco (qualitativo), nos termos do Anexo IV do RPS. 50 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Esse custeio – com natureza jurídica de taxa, dada a individualização, destinação específica e contrapartida vinculada – aponta para o sustento do benefício correspondente – Aposentadoria por Condições Especiais de Trabalho – ACET, que resulta em uma redução do tempo de contribuição por trabalhar subordinado às condições especiais prejudiciais à saúde e à integridade física. A ACET se dá segundo a mesma matriz de hipótese de incidência tributária, pois comunga dos mesmos elementos essenciais à concretude do fator gerador. Depreendem-se assim os elementos essenciais dessa matriz ao FACET e, por conseguinte, à ACET, cujo público-alvo legal são os segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais (cooperados): i) remuneração; ii) pessoalidade; iii) subordinação jurídica; iv) nocividade; e v) permanência. O núcleo da hipótese de incidência tributária é composto por esses cinco requisitos cumulativos. Mira-se então no art. 57 da Lei no 8.213/1991, cujo detalhamento normativo está disposto no RPS e nas instruções IN 971/2009 da RFB e IN 77/2015 do INSS. Mais especificamente no art. 292 da IN 971 da RFB, percebe-se que há uma articulação entre a IN da RFB e a do INSS, esta última como complemento à primeira. Diga-se de passagem que a norma tributária, como campo autônomo do Direito, poderia remeter a qualquer outra ou até ela mesma os critérios da hipótese de incidência. Preferiu-se, para assegurar eficiência normativa nacional, respaldada pela uniformização da legislação pela União Federal, substabelecer ao INSS tais critérios. Assim, tem-se a dicção da RFB, via IN 971, que vincula expressamente norma previdenciária à exação tributária do FACET. Vê-se que a União Federal teve o cuidado de compatibilizar os textos infralegais de modo a preservar a funcionalidade de cada entidade, respeitando, também, as respectivas competências. Destaca-se que, de forma cruzada, há disposições sobre a mesma matéria em ambas as dimensões (norma de benefício dispõe sobre custeio e vice-versa), tendo as duas INs (RFB e INSS) qualificado a subsunção de dupla face do fato social, constituindo uma ambivalência jurídica, pois tal fato social dispara a um só tempo a hipótese de incidência tributária (RFB) e o reconhecimento ao benefício (INSS). Isso se dá quando a norma da RFB remete àquela do INSS, e igualmente o INSS especifica e detalha, via Instrução Normativa INSS/PRES no 77, de 21/1/2015, em seu art. 278, os elementos que compõem o núcleo da hipótese de incidência tributária das contribuições previdenciárias que financiam o benefício da aposentadoria especial. 51 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II Tem-se então a razão de ser do LTCAT: Apresentar, de modo científico, a concretude, ou não, da nocividade do meio ambiente do trabalho para cada segurado do estabelecimento, de modo a suportar as declarações fiscais, mensais, enviadas pelos contribuintes do FACET, via eSocial (ou GFIP, esta em desativação progressiva à medida que o eSocial a substitui), bem como instrumentalizar o reconhecimento da contagem de tempo de contribuição acelerada à medida que essa nocividade seja apontada, nas respectivas competências remuneradas sob essa condição especial. Quadro 5. Fundamentação legal para LTCAT. Emenda Constitucional n. 20/1998 (Art. 15) Código Tributário Nacional – CTN - SEÇÃO II - Modalidades de Lançamento) Arts. 57 e 58 da Lei no 8.213/1991 Arts. 20 e 32 da Lei no 8.212/1991 Decreto no 3.048/1999 - Regulamento da Previdência Social (Art. 68 e Anexo IV) Instrução Normativa – IN no 971/2009 da RFB -(Artigo 47 – Inciso XII e Capítulo IX) Instrução Normativa – IN no 77/2015 do INSS (Artigos 262, 263, 276, 277 e 278) Fonte: próprio autor. O LTCAT tem sua gênese em 1960 com a Lei no 3.807/1960 (LOPS) para efeito de comprovação de tempo para aposentadoria especial; portanto, tem natureza jurídica estritamente previdenciária. Foi criado para cobrir a exceção da aposentadoria especial, pois a regra geralera conceder a aposentadoria especial — de 15, 20 ou 25 anos — ao segurado pelo simples enquadramento numa lista de profissões (exposição presumida por profissão). A exceção diz respeito às situações não presumidas, segundo a qual é necessário aferir a existência de exposição nociva à saúde. O LTCAT nasce exatamente para preencher esse vazio administrativo previdenciário. Ou seja, o trabalhador, mesmo com profissão não arrolada como especial, tinha o benefício, desde que conseguisse e entregasse ao INSS uma declaração (LTCAT) atestando, para determinados períodos, que foi submetido pelo patrão a intoleráveis riscos, em regra, a ruído. Se não fosse o laudo, o INSS não teria como processar o pedido de aposentadoria precoce. O LTCAT é uma peça pericial para fins previdenciários, estático, emitido pela empresa que expôs o trabalhador, assinado por especialista — Engenheiro do Trabalho ou Médico do Trabalho — que servia apenas para facilitar a vida do INSS nessas exceções, que com o laudo conseguia manter o reconhecimento do direito na esfera meramente cartorária. 52 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Em outras palavras, a juntada do laudo aos discriminativos das atividades do trabalhador — declarados em SB-40, DSS 8030, DIRBEN 8030 e atualmente o PPP — e ao pedido de aposentadoria especial permitia ao INSS operar da mesma forma com a qual concedia a aposentadoria por tempo de contribuição. Isso valeu para períodos anteriores a março de 1997. Dada à evolução normativa ao longo desses 50 anos, é possível separar, para efeito de argumentação, a funcionalidade do LTCAT em duas: cartorário e sistêmico. LTCAT aspecto cartorário A partir da Lei no 9.032/1995, o que era exceção se tornou regra: LTCAT para todo e qualquer agente nocivo. Acabou-se a presunção de exposição por atividade profissional. Assim, desde 1960 até abril de 1995 (apenas para atestar exposição a ruído) e entre abril de 1995 e dezembro de 1998 (para atestar todos os fatores de risco), o LTCAT funciona como documento estático, solto e desconectado de qualquer programa de gestão, pois para esses períodos é praticamente impossível o INSS não conceder o benefício da especial, dada a voracidade das empresas em produzir laudos atestando que o ambiente de trabalho é deletério à saúde do trabalhador. Vários são os motivos, mas alguns se destacam: » LTCAT para enxugar máquina (notadamente com as privatizações), sem se indispor com os sindicatos e com a tranquilidade de que nada do LTCAT necessitaria de comprovação, rastreabilidade ou qualquer forma de controle sistêmico; » Baixíssimo limite de tolerância para ruído, que à época era de apenas 80 dB(A); » a empresa não pagava nada a mais em termos de tributo por produzir ambientes insalubres e sobrecarregar a Previdência Social e o SUS. Depreende-se desse breve relato histórico o quão precário e inócuo era o LTCAT do ponto de vista prevencionista. Hospedava em sua gênese a precariedade óbvia de sua restritíssima funcionalidade, qual seja: instrumentalizar a concessão de aposentadoria especial. Não havia qualquer preocupação sistêmica, nenhum compromisso com rastreabilidade ou método, muito menos com a reprodutibilidade. Bastava conferir se havia registro do CREA ou do CRM no corpo do laudo para acreditar que tudo ali era válido, sem qualquer tipo de admoestação. Daí a designação: cartorário. Mero papel carimbado! 53 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II LTCAT sistêmico Acontece uma revolução desburocratizante na linha administrativa de reconhecimento de direito pela previdência sequenciada, surgindo outra de natureza arrecadatória e atuarial. Toda a estrutura de concessão de benefício pensada na LOPS de 1960 foi reformada, notadamente aquela relativa à aposentadoria especial. A pressão social para aumento de eficiência da máquina pública, redução de exigências probantes por parte do trabalhador, equilíbrio fiscal, reafirmação do seguro social na esfera do poder público, responsabilização tributária, cível e penal do empregador negligente com o meio ambiente do trabalho conduziram o Estado brasileiro a uma verdadeira reforma previdenciária, silenciosa, mas contundente. Essa reforma foi institucionalizada por um conjunto de normas jurídicas e princípios, a saber: » A Lei no 9.528/1997 criou a Guia de Recolhimento do FGTS e Informação à Previdência Social — GFIP, que elimina burocracia à medida que gera informações magnéticas para o reconhecimento dos direitos previdenciários dos segurados abrangidos pelo Regime Geral de Previdência Social, bem como dispôs que a empresa deveria elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico previdenciário — PPP, devidamente respaldado em LTCAT. » A Lei no 9.732/1998, com efeitos a partir de abril de 1999, estabeleceu o financiamento específico para a aposentadoria especial — FACET mediante adicionais de contribuição SAT de 6%, 9% ou 12%, respectivamente, ao direito do benefício aos 25, 20 ou 15 anos de trabalho em condições especiais; determinou a suspensão do benefício para o segurado que retornasse à atividade com exposição a agente nocivo; manteve a obrigação de comprovação de efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos por meio de formulário PPP preenchido pela empresa com base em LTCAT. » A Emenda Constitucional n. 20/1998, mediante § 1o do art. 201 da CRFB- 1988, proibiu a utilização de requisitos e critérios diferenciados para concessão da aposentadoria aos beneficiários do RGPS, com exceção dos casos de atividades exercidas sob condições especiais, cuja definição deve ser feita por meio de lei complementar — LC, sendo válido nesse ínterim os arts. 57 e 58 da Lei no 8.213/1991, o que confere status constitucional ao LTCAT. 54 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL » A Lei no 10.403/2002, que inverteu o ônus da prova e passou a conferir presunção de verdade aos registros hospedados no Cadastro Nacional de Informações Sociais — CNIS provenientes da GFIP. O INSS passou a assumir como verdadeiros todos os registros nele inseridos pelo patrão, notadamente aqueles relacionados à saúde do trabalhador. Nesse cenário, a empresa precisa se documentar no sentido de sustentar as informações sobre exposição a agentes nocivos, principalmente quando não houver ocorrências por causa da forte suspeita de sonegação fiscal. Em outras palavras: deve-se fazer um LTCAT todo mês para sustentar as informações mensais enviadas via GFIP pela empresa ao fisco. Com a GFIP, a RFB é informada de todos os fatos geradores de contribuições previdenciárias, compreendendo as remunerações, comercialização da produção, pagamentos efetuados às cooperativas de trabalho, receitas de eventos desportivos e patrocínios, exposição ou não a agente nocivo, afastamento ocupacional. Os dados coletados alimentam o CNIS, que instrui o reconhecimento de direitos e concessão de benefícios previdenciários. » A Lei no 10.666/2003 criou o FAP e ampliou o direito à aposentadoria especial, mediante a contribuição adicional para o filiado à cooperativa de trabalho nos percentuais de 5%, 7% e 9%, e à de produção em 6%, 9% ou 12%. » O Decreto no 4.729/2003 fez alterações no art. 68 do RPS para estabelecer que a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos deve ser feita por meio do PPP. Esse formulário possui quatro seções e vinte campos, com destaque para a seção 2 (campos 15 e 16), que trata dos registros ambientais, e a seção 3 (campos 17 e 18), que trata da monitoração biológica. A seção 2 é de responsabilidade do engenheiro de segurança, médico ou enfermeiro do trabalho e a seção 3, exclusivamente do médico do trabalho. O PPP passou a ser obrigatório a partir de 1o de janeiro de 2004 (Anexo XV da IN INSS 45/2010). » O Decreto no 4.882/2003, na prática, uniformizou os critérios de insalubridade(trabalhista) e aposentadoria especial (previdenciário) ao afirmar que as avaliações ambientais (LTCAT ou PPRA) deveriam considerar a classificação dos agentes nocivos e os limites de tolerância estabelecidos pela legislação trabalhista, bem como a metodologia e os procedimentos de avaliação estabelecidos pela Fundacentro. Explicou que trabalho permanente é aquele cuja exposição do segurado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço, bem como informou o que deve constar no LTCAT (informação 55 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva, de medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho, ou de tecnologia de proteção individual, que elimine, minimize ou controle a exposição a agentes nocivos aos limites de tolerância, respeitado o estabelecido na legislação trabalhista). » A Lei no 11.430/2006, com efeitos a partir de abril de 2007, criou o NTEP, que inverte o ônus da prova acidentário, aliviando o trabalhador acidentado de provar a natureza ocupacional de seu agravo. » As Leis Complementares no 123/2006 e 128/2008 expandiram a base de registro do CNIS para fins de concessão de benefício, além de terem ratificado a inversão do ônus da Lei no 10.403/2002. Dito de outra maneira, as informações declaradas em GFIP, sustentadas ou não em LTCAT, além de possibilitar a inscrição do respectivo crédito tributário diretamente em dívida ativa, quando não quitado, servem para alimentar o CNIS, cujas informações sobre vínculos e remunerações dos segurados são utilizadas pelo INSS para fins de cálculo do salário de benefício, comprovação de filiação ao Regime Geral de Previdência Social — RGPS, tempo de contribuição, e tudo mais relacionado à aposentadoria especial que é espécie do gênero aposentadoria por tempo de contribuição. Há um peso enorme sobre esses registros oriundos da empresa exatamente para assegurar confiabilidade ao sistema previdenciário e possibilitar, por via de consequência, a redução da burocracia do INSS no momento da concessão, desonerando o cidadão de produzir provas sobre situações de domínio da empresa. Esse é o espírito da lei. Não à toa, o legislador brasileiro tipificou no Código Penal os seguintes crimes, conforme sinopse apresentada a seguir: Quadro 6. Tipos penais relacionados ao LTCAT a partir dos registros em GFIP das empresas. Conduta (em linhas gerais) Capitulação legal Deixar de recolher contribuição descontada na época própria Apropriação indébita previdenciária - CP, art. 168-a Proceder ilicitamente com a finalidade de reduzir ou excluir tributo ou contribuição social Sonegação de contribuição previdenciária - CP, art. 337-a Inserir nome de pessoa que não seja segurado em folha de pagamento Art. 297, §3o , i Falsificação de CND - (desconhecido o seu uso) Falsificação de documento público - CP, art. 297 Usar ou tentar usar CND falsa ou falsificada CP, art. 171 Falsificar GRPS (GPS) CP, art. 293 Proceder ilicitamente com a finalidade de reduzir ou excluir tributo ou contribuição social Sonegação de contribuição previdenciária - CP, art. 337-a Prestar informação falsa em documento público (GFIP, eSocial, PPP, CAT, LTCAT, PPRA, PCMSO, ASO) Falsificação de documento público - (art. 297, §3o, ii) Fonte: próprio autor. 56 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Assim, expressamente, presumem-se verdadeiras todas as informações prestadas pela empresa na GFIP, para a concessão ou não da aposentadoria especial, constituindo crime a prestação de informações falsas neste documento. Comparece o PPRA (LTCAT) como meio de prova para salvaguardar o empresário desse contencioso penal. Ostensiva a compreensão de que a empresa, ao cumprir a obrigação tributária acessória de informar os seus segurados na GFIP, quando for o caso, com o código “4” (25 anos) no campo ocorrência, estará confessando que é sujeito passivo das contribuições FACET previstas no § 6o, do art. 57, da Lei no 8.213/1991, relativas a esses segurados e, simultaneamente, estará permitindo que eles (segurados associados ao citado código “4”) sejam presumidamente titulares do direito subjetivo à contagem do tempo de contribuição como especial. Impõe-se ressaltar que as informações prestadas pelo contribuinte nas suas demonstrações ambientais, além de respaldar a elaboração da própria GFIP e o recolhimento das suas contribuições na qualidade de contribuinte empregador ou tomador de serviços de cooperados intermediados por cooperativa de trabalho, bem como na qualidade de responsável pela retenção, também servirão para embasar as GFIP de todas as empresas que lhe prestarem serviços3132. O cumprimento dos deveres jurídicos descritos acima, imputados ao contratante pela legislação fazendária do FACET, permitirão às empresas contratadas para a prestação de serviços intramuros: » elaborar o PPP de cada trabalhador exposto a riscos ambientais; » prestar as informações na GFIP, relativas à exposição a riscos ambientais; » implementar o PPRA/PCMSO. Função de gestão de contratos tão comum em empresas grandes não pode desprezar as nuances ambientais de seus contratados. Assim, o controle interno das empresas relativo ao gerenciamento dos seus riscos repercutirá na obrigação de recolher o FACET de todas as empresas prestadoras de serviço, e, em consequência, na concessão futura, cumpridos os requisitos legais necessários, da aposentadoria especial de todos os trabalhadores terceirizados que laboraram sob condições especiais. 31 Art. 22, IV, da Lei n. 8.212/1991 c/c art. 1o, §1o, da Lei no 10.666/2003, c/c art. 31 da Lei no 8.212/1991, c/c art. 6o da Lei no 10.666/2003. 32 Art. 161 da IN RFB 971/2009: Quando da quitação da nota fiscal, da fatura ou do recibo de prestação de serviços, cabe ao contratante, observado o disposto no §4o, exigir: (...) II — da empresa construtora contratada por empreitada total: (...) e) a partir da competência outubro de 2002, Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), LTCAT, Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), para empresas com 20 (vinte) trabalhadores ou mais por estabelecimento ou obra de construção civil, e Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que demonstrem o gerenciamento de riscos ambientais por parte da construtora, bem como a necessidade ou não da contribuição adicional prevista no §2o do art. 72, observado, quanto ao LTCAT, o disposto no inciso V do art. 291. 57 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II De clareza solar a transformação sofrida pelo LTCAT no bojo dessa nova ordem jurídica, com evidente alteração de significado e fortes desdobramentos, que o elevam à condição de item de controle de importância sistêmica, corporativa, administrativa, jurídica e estratégica para empresa e para empregador, que inclusive passa a responder por crime de informação falsa e sonegação fiscal. Pode-se afirmar, sem medo de exageros, que há duas realidades para LTCAT a serem consideradas pelo gestor: LTCAT antes e depois da GFIP combinada ao FACET. Ou, melhor dizendo: LTCAT cartorário ou sistêmico. Para fins práticos, sugere-se uma estruturação do LTCAT com a seguinte moldura: Quadro 7. Itens Estruturantes de um LTCAT. Introdução Controle de Versão, Data, Periodicidade Fundamentação legal Escopo e competência Descrição do processo produtivo do estabelecimento Fluxograma de processo Fluxograma de engenharia Planta baixa Desenhos, croquis Descrição e códigos para cargos e funções Descrição e códigos para ambientes e funções Critérios e definições de grupo homogêneo de exposição - GHE Fatores de risco reconhecidos por área Descrição do ambiente do trabalho Avaliações qualitativas de riscos - fatores de riscos – por GHE Avaliações quantitativasde riscos - fatores de riscos – por GHE Identificação dos Trabalhadores por área, GHE e fatores de risco Recomendações Conclusão por Trabalhador, por área, GHE e fatores de risco Encerramento Anexo 1 – resultados das análises químicas Anexo 2 – resultados das dosimetrias Anexo 3 – certificação dos equipamentos Anexo 4 – responsável técnico Anexo 5 – ART - anotação de responsabilidade técnica Fonte: próprio autor. Por escopo deve constar dizeres como: Este LTCAT tem por escopo fazer prova perante RFB e INSS quanto às condições especiais para as quais se subordinam os segurados deste estabelecimento empresarial de modo a conferir suporte material às informações subsequentes, via eSocial, 58 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL aduzindo os seguintes elementos probantes: se individual ou coletivo; identificação da empresa; identificação do setor e da função; descrição da atividade; identificação de agente nocivo capaz de causar danos à saúde e integridade física, arrolado na Legislação Previdenciária; localização das possíveis fontes geradoras; via e periodicidade de exposição ao agente nocivo; metodologia e procedimentos de avaliação do agente nocivo; descrição das medidas de controle existentes; conclusão; assinatura e identificação do engenheiro de segurança; data da realização da avaliação ambiental. Para identificar o estabelecimento, pode-se utilizar algo como o quadro a seguir: Quadro 8. Sugestão de Identificação de Estabelecimento no âmbito do LTCAT. CNPJ 11.111.111./0001-11 Nome Empresarial ALIMENTOS SAUDAVEIS LTDA Endereço Logradouro RUA DA SAUDE, 51 Bairro VILA VIDA Cidade / Estado SAUDADE/SP CEP 12345-000 Telefone 4444-4444 CNAE-Preponderante 10.13-9-01 GIILDRAT Grave Alíquota do GIILDRAT 3% FAP 0,7544 SAT AJUSTADO 2,2632 Número total de Segurados Empregados 57 SEXO MASCULINO SEXO FEMININO 52 5 Número total de Segurados Contribuintes Individuais 14 SEXO MASCULINO SEXO FEMININO 10 4 Número total de Segurados Trabalhadores Avulsos SEXO MASCULINO SEXO FEMININO Número total de Segurados Prestadores de Serviço 30 SEXO MASCULINO SEXO FEMININO 30 Número total de Trabalhadores 101 SEXO MASCULINO SEXO FEMININO 92 9 Fonte: próprio autor. 59 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II Contornos de desfecho Com esse apanhado, fica clara a necessidade de assumir a saúde do trabalhador e o meio ambiente do trabalho como itens estratégicos (variáveis essenciais de controle) a qualquer programa de gestão. Nessa esteira, define-se como desautorizado qualquer argumento relacionado ao tema PPRA e LTCAT que desconsidere a multidimensão sistêmica com a qual esses instrumentos de gestão devem ser tratados, notadamente pelo fato de repercutirem diretamente na credibilidade e na pessoa do empresário (e seus stakeholders), com fortes impactos e responsabilizações, inclusive ambientais, previdenciárias, tributárias e penais, cíveis e trabalhistas. Dessa forma, espera-se ter demonstrado o suporte teórico ao programa de gestão no tocante às consequências estratégicas, administrativas e econômicas, em especial àquelas jurídicas referentes às obrigações trabalhistas (PPRA) e tributário-previdenciárias (LTCAT). Reafirma-se a proposição, colocada no início deste capítulo, segundo a qual as empresas devem resistir ao assédio argumentativo de setores atrasados de Medicina e Engenharia de Segurança do Trabalho que alimentam a proliferação de programas trabalhistas de segurança e saúde ocupacional apenas para cumprimento das normas regulamentadoras NR-9 (PPRA) e NR-7 (PCMSO); para produção de atestados de saúde ocupacional — ASO e elaboração de laudos (insalubridade, periculosidade e LTCAT) sem a menor visão sistêmica ou alinhamento político-estratégico com governança corporativa. Pior, além de não resistir, muitas vezes, as empresas (e os empresários) contratam, remuneram e são feitos reféns desses profissionais que representam a lógica obscura e cartorária que apenas gera papel desprovido de qualquer valor agregado; que sustenta o LTCAT não integrante do PPRA; que afirma o PPRA como não substituto do LTCAT — como se um filme cinematográfico não fosse composto por um conjunto cinético de “n” fotografias. Diz-se refém, porque a empresa e o empresário assumem deliberadamente o polo passivo das relações jurídicas penais, sanitárias, ambientais, previdenciárias, tributárias, cíveis e trabalhistas, por culpa in vigilando ou in elegendo; ficam presos às definições e atitudes de SST tomadas por esses profissionais de mentalidade obsoleta, representantes de um programa obsoleto; não conseguem demonstrar a gestão eficaz do meio ambiente do trabalho. 60 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL Em tom de arremate, desfecha-se que — no limite do raciocínio aqui defendido, usando a figura da ilação — se nenhuma norma jurídica impusesse ou facultasse a substituição do LTCAT pelo PPRA, ainda assim, ou mesmo por tudo isso, seria fundamental que isso acontecesse, sob pena de alvejar de morte qualquer movimento, minimante sério, de gestão que se queira fazer no tocante ao meio ambiente do trabalho. Nos tempos atuais, o que se cobra do empresário não é se ele tem esse ou aquele documento ou programa; mas, essencialmente, resultados. Sem programa de gestão é impossível dizê-los, produzi-los, demonstrá-los, muito menos usá-los para fins de prestação de contas empresariais, sociais ou judiciais (absolvição penal ou resistência às fortes contendas sanitárias, ambientais, previdenciárias, tributárias, cíveis e trabalhistas decorrentes da má ou da ausência de gestão). Como sustentar inocência, competência, responsabilidade social, elisão e regularidade fiscal, credibilidade e governança corporativa da empresa se as métricas ambientais, sanitárias, previdenciárias, tributárias e trabalhistas produzidas pela própria empresa dão provas cabais do contrário? Entende-se por métrica, por exemplo: a quantidade e duração de benefício acidentário (permanente ou temporário); a quantidade de SAT paga pela empresa em contrapartida aos valores desembolsados pelo INSS para sustentar esses acidentados; a quantidade de segurados declarados em GFIP como expostos até abril de 1999 que deixaram de sê-lo de maio em diante; a quantidade de LTCAT declaratórios de aposentadoria especial (ambiente ruim ou péssimo) antes da edição da lei que cria o tributo correlato; contradição explícita entre pagar insalubridade e não reconhecer especial em GFIP a partir de novembro de 2003, data em que tais institutos são sinônimos (passam a ter os mesmos requisitos); e por aí vai! Basta olhar o teor dessas métricas para perceber o quão obsoleto é suscitar a não consideração do LTCAT como parte integrante do PPRA. Pode parecer exagero, mas é disso (métricas) que se trata ao se questionar a lisura, conveniência e pertinência, inclusive política, de não se adotar um programa de gestão, que, em outras palavras, não substitui o LTCAT pelo PPRA. Esse item de discussão faz parte de um todo corporativo que prenuncia de que lado está a empresa: amarrada a um modelo sabidamente esgotado baseado em papeleira cega (cartorário) ou avançada em direção à governança corporativa, baseada em gestão de resultados (sistêmica)? Detalhe: a figura da métrica só faz sentido sob o âmbito da gestão sistêmica. 61 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II Vantagens — ponto a ponto O correto e bastante vantajoso para a empresa é elaborar apenas o documento base do PPRA, com as avaliações ambientais — LTCAT — quantitativas, periódicas, compatíveis com a GFIP e com todas as retroalimentações sistêmicas, com outputs — LTCAT individual — apenas para aqueles casos de exceção (para fins de aposentadoria especial), uma vez quea regra geral é considerar os dados do CNIS. A exceção se dá quando o INSS suspeita de alguma irregularidade no CNIS ou no PPP do requerente para fins de investigação de fraude ou simples verificação administrativa ou quando não houver obrigatoriedade de fazer o PPRA, como nos casos das cooperativas. Nesse caso, faz-se um programa de gestão com o PPRA como estrutura que, além dos itens programáticos afins (exigências do MTE), contemple avaliações ambientais que assegurem suporte documental às declarações periódicas feitas em GFIP, mês a mês pela empresa, inclusive para dizer que não deve tributo (exigências tributárias — RFB e penais), bem como instrua processo de concessão da aposentadoria especial nos casos de suspeição do CNIS ou PPP, abrangendo os requisitos do LTCAT (exigência do INSS). Dessa forma, consegue-se transformar uma questão política em metodológica, pois agregar as respostas a toda e qualquer demanda, interna e externa à empresa, a um único documento (sistema), além das vantagens corporativas de economia processual, aumento de eficiência e segurança jurídica, produz um reforço na solidez das argumentações levadas a efeito pela empresa. Melhor dizendo, ter-se-ia a emancipação de um documento (LTCAT isolado) pecuniário (dar ou não direito, pagar ou não tributo) e sindical (item constante de discussão em acordo/convenção coletivos) ao status de documento técnico essencialmente de prevenção (PPRA), visto que vai permitir, por exemplo, eliminar qualquer questionamento quanto aos adicionais de insalubridade, periculosidade, entre outras coisas, exatamente porque o PPRA é apresentado e discutido institucionalmente com a CIPA e com os demais programas, e, por conseguinte, por ela chancelado a priori. Sem dúvida essa é uma enorme vantagem política ao tempo que elimina um grande campo de atrito com os trabalhadores e sindicatos. Outra vantagem expressiva de considerar o PPRA como substituto do LTCAT diz respeito à eliminação de incompatibilidades, muito comum quando se fracionam os documentos que retratam uma mesma realidade, notadamente depois da 62 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL unificação de critérios de insalubridade e aposentadoria especial33 baseados na NR-15 do MTE, segundo os quais as referências internacionais (ACGIH) só seriam demandadas quando norma brasileira fosse omissa. Por sucedâneo e na sequência do argumento acima, acaba-se também com a incongruência absurda (existente hoje para quem faz vários laudos: insalubridade, especial, RFB, ambiental, todos para retratar uma mesma realidade laboral) de dizer em um documento que o empregado tem direito e noutro, que não tem. Com o PPRA como chassi único para várias avaliações ambientais (laudos), e substituto do LTCAT, isso definitivamente acaba. Vale destacar que, adotando o PPRA como chassi único, adota-se, por conseguinte, a tese do filme cinematográfico, como coletânea cinética de várias fotos (LTCAT). Assim, em que pese o PPRA ser um programa, nada afasta sua natureza técnica no tocante à avaliação ambiental periódica nele inclusa. Assim, por causa do caráter híbrido (gerencial e técnico; programas e laudos), o PPRA como substituto do LTCAT cumpre perfeitamente as duas funções, o que permite à empresa responder prontamente às eventuais lides ou demandas. Isso vale inclusive como elemento de fomento à melhoria do meio ambiente de trabalho, pois, ao sugerir adoção de documento único, estará, via de consequência, delimitando as competências e responsabilidades. Finalmente, todo laudo ambiental para produzir efeito precisa de ART no CREA, especificamente, LTCAT, precisa de uma ART para profissional de Engenharia de Segurança do Trabalho. Isso já é assim, por força da lei que regula essa profissão e por conta da Resolução Confea 359/1991. Como a parte de avaliação ambiental do PPRA tem várias fases, a adoção de PPRA como documento único traz vantagem competitiva e dá segurança jurídica à empresa que assim proceder, pois normatiza quem é quem em relação a cada etapa do PPRA, de forma que há ART para elaboração e ART para execução. Em qualquer empreendimento de Engenharia funciona assim, como exemplo: ART de calculista, ART de projeto, ART de construção e ART de operação. 33 Decreto no 4.882/2003 uniformiza os critérios de insalubridade (trabalhista) e aposentadoria especial (tributário-previdenciário). 63 CAPÍTULO 3 Análise Ergonômica do Trabalho – AET O Ministério da Economia – ME, via Secretaria de Inspeção do Trabalho (antigo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE) desenvolve, de forma tripartite, sustentabilidade, empregabilidade e produtividade, as Normas Regulamentadoras visando atender ao previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As Normas Regulamentadoras, também conhecidas como NR’s, regulamentam e fornecem orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à SST. Entre essas regulamentações, a Ergonomia surge como importante disciplina para o desenvolvimento de práticas com outras áreas do conhecimento, tornando-as compatíveis às necessidades, às habilidades e às limitações humanas. Palavra de origem grega ergon (trabalho) e nomos (leis), a Ergonomia é a ciência que estuda a interação do Homem com outros elementos ou sistemas visando à promoção da segurança, da saúde, do conforto e do bem-estar ao trabalhador. A Norma Regulamentadora no 17 (NR17), que trata da Ergonomia, tem por objetivo estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A Norma indica ao empregador a incumbência de realizar a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), buscando compreender o trabalho, para transformá-lo, com a participação dos trabalhadores no processo de elaboração, efetivação e validação das ações a serem implementadas. A abordagem ergonômica contribui para que as ações atendam às necessidades psicofisiológicas dos trabalhadores e, consequentemente, para a melhoria das condições de trabalho quanto à segurança, à saúde e à qualidade de vida, influenciando também nos ganhos em termos de produtividade e empregabilidade (BRASIL, 2002). A Análise Ergonômica do Trabalho é elaborada de acordo com as diretrizes do eSocial, Decreto no 8.373, de 11 de dezembro de 2014 - Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas, e com as diretrizes da NR-17. É feita a partir da análise de uma demanda, que pode ser sobre a consequência da concepção de equipamentos ou da melhoria do ambiente do trabalho (demanda preventiva), do número elevado de doença ou acidente do trabalho (demanda de saúde), das reclamações de sindicato dos trabalhadores 64 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL (demanda social), da notificação de auditores fiscais do trabalho ou das ações civis públicas (demanda legal). A Análise Ergonômica do Trabalho é parte integrante das Normas Regulamentadoras, devendo estar articulada com as demais normas de Segurança e Medicina do Trabalho, em particular com o Programa de Controle Médico da Saúde Ocupacional – PCMSO e com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. Com ela, espera-se chegar às causas e possíveis sugestões de melhorias ergonômicas nos ambientes e funções laborais, diagnosticando e estabelecendo medidas que visem à melhoria dos postos de trabalho, com o objetivo de proporcionar uma efetiva adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, proporcionando o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Para fins práticos, sugere-se uma estruturação da AET com a seguinte moldura: Quadro 9. Itens Estruturantes de uma AET.I. I. Introdução II. Bases Legais III. Identificação e Caracterizaçãoda Empresa IV. Análise da Demanda e do Contexto V. Análise Global da Empresa VI. Análise da População de Trabalhadores VII. Registro e Divulgação de Dados VIII. Das Responsabilidades IX. Metodologia para Avaliação dos Agentes Ambientais X. Metodologia para a Análise Ergonômica do Trabalho XI. Relação dos Ambientes que demandam a AET XII. Descrição do Ambiente XIII. Modelo de Mapa Ergonômico XIV. Análise Ergonômica do Trabalho - Produção XV.Tabela 23 - riscos ergonômicos - eSocial XVI.Gráfico de criticidades por atividade XVII.Conclusões e constatações XVIII.Equipamentos sugeridos XIX.Considerações finais XX.Termo de responsabilidade técnica Fonte: Próprio autor. 65 CAPÍTULO 4 Documentação Esparsa Relacionada à EST Ademais à documentação destacada, há uma documentação periférica, igualmente importante, que se destaca, conforme listagem abaixo: » PPP34. » CAT35. » Sinan3637. » Plano de cargas para gruas – Anexo III da NR 18. » Plataformas de trabalho aéreo – PTA - Anexo IV da NR 18. » Permissão de entrada e trabalho – PET- Anexo II da NR 33. » Comunicação de incidente em plataforma – CIP Anexo IX da NR 37. » Projeto de instalações de segurança contra incêndio e pânico. » Para o PPP, há uma abordagem na sequência; para CAT38, sugere-se consulta ao site indicado na nota de rodapé, idem para Sinan39. Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) é um documento histórico-laboral do trabalhador que reúne, entre outras informações, dados administrativos, registros ambientais e resultados de monitoração biológica, durante todo o período em que este exerceu suas atividades. Desse modo, o PPP é um formulário com campos a serem preenchidos com todas as informações relativas ao empregado, tais como: a atividade exercida, o tipo de agente nocivo ao qual o trabalhador foi exposto, a 34 Anexo I da Instrução Normativa no 85 /PRES/INSS de 18 de fevereiro de 2016. Substitui o Anexo XV da IN no 77/PRES/INSS, de 21 de janeiro de 2015. 35 Portaria MPAS no 5.817, de 6 de outubro de 1999 - DOU de 7/10/1999. 36 Brasília (DF). Portaria de Consolidação MS no 4/ 2017. Disponível em: http://www.portalsinan.saude.gov.br/images/ documentos/Legislacoes/Portaria_Consolidacao_4_28_SETEMBRO_2017.pdf. Acesso em: 11 ago. 2019. 37 Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN. Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.portalsinan. saude.gov.br/. Acesso em: 11 ago. 2019. 38 Cadastramento da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. INSS. Disponível em: http://cat.inss.gov.br/servicos/cat/cat. shtm. Acesso em: 11 ago 2019. 39 Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN. Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.portalsinan. saude.gov.br/. Acesso em: 11 ago. 2019. 66 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL intensidade e a concentração do agente, os exames médicos clínicos realizados. A finalidade do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) é: » comprovar as condições para habilitação de benefícios e serviços previdenciários; » prover o trabalhador de meios de prova produzidos pelo empregador perante a Previdência Social, a outros órgãos públicos e aos sindicatos, de forma a garantir todo direito decorrente da relação de trabalho, seja ele individual, difuso ou coletivo; » prover a empresa de meios de prova produzidos em tempo real, de modo a organizar e a individualizar as informações contidas em seus diversos setores ao longo dos anos, possibilitando que a empresa evite ações judiciais indevidas relativas a seus trabalhadores; » possibilitar aos administradores públicos e privados acessos a bases de informações fidedignas, como fonte primária de informação estatística, para desenvolvimento de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como definição de políticas em saúde coletiva. Os documentos que servem de base para a emissão do PPP são parte integrante das seguintes demonstrações ambientais: » Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA); » Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR); » Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT); » Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); » Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), que poderá ser substituído ou complementando pelos seguintes documentos: › laudos técnico-periciais emitidos por determinação da Justiça do Trabalho, em ações trabalhistas, acordos ou dissídios coletivos; › laudos emitidos pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro); › laudos emitidos pelo MTE ou, ainda, pelas Superintendências Regionais do Trabalho em Emprego (SRTE), anteriormente denominadas DRTs; 67 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II › laudos individuais acompanhados de: · Autorização escrita da empresa para efetuar o levantamento, quando o responsável técnico não for seu empregado; · Cópia do documento de habilitação profissional do engenheiro de segurança do trabalho ou médico do trabalho, indicando sua especialidade; · Nome e identificação do acompanhante da empresa, quando o responsável técnico não for seu empregado; · data e local da realização da perícia. O Inciso V do art. 291 da IN 971 da RFB autoriza substituição do LTCAT pelo PPRA. I - PPRA, que visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da antecipação, do reconhecimento, da avaliação e do consequente controle da ocorrência de riscos ambientais, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle, devendo ser elaborado e implementado pela empresa, por estabelecimento, nos termos da NR-9, do MTE; II - Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que é obrigatório para as atividades relacionadas à mineração e substitui o PPRA para essas atividades, devendo ser elaborado e implementado pela empresa ou pelo permissionário de lavra garimpeira, nos termos da NR-22, do MTE; V - LTCAT, que é a declaração pericial emitida para evidenciação técnica das condições ambientais do trabalho, podendo ser substituído por um dos documentos dentre os previstos nos incisos I e II, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece critérios a serem adotados pelo INSS. Quando o PPRA substituir o LTCAT, deve obedecer a exigências complementares dadas pela IN 77 do INSS, de forma a deixar clara a individualização das informações por trabalhador, com data, assinatura e conclusão, para fins de reconhecimento de direito previdenciário. O PPP deverá ser atualizado sempre que houver alteração que implique mudança das informações contidas nas suas seções, com a atualização feita pelo menos uma vez ao ano, quando permanecerem inalteradas suas informações. 68 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL A cooperativa de trabalho, bem como a empresa contratada para prestar serviços mediante cessão de mão de obra, emitirá o PPP com base nos laudos técnicos de condições ambientais de trabalho emitido pela empresa contratante de cooperados ou de empregados, conforme o caso, para a prestação de serviços que os sujeitem a condições ambientais de trabalho que prejudiquem a saúde ou a integridade física, quando o serviço for prestado em estabelecimento da contratante. Geratriz do eSocial – Semente da SST40. PPP meio magnético. Após a implantação do PPP em meio magnético pela Previdência Social, este documento será exigido para todos os segurados, independentemente do ramo de atividade da empresa e da exposição a agentes nocivos, e deverá abranger também informações relativas aos fatores de riscos ergonômicos e mecânicos. IN INSS No 96, DOU 27/10/2003. Art. 187-A. A partirde 1o de janeiro de 2004, a empresa ou equiparada à empresa deverá elaborar PPP, conforme o Anexo XV, de forma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos e cooperados, expostos a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial. Parágrafo único. Após a implantação do PPP em meio magnético, pela Previdência Social, esse documento será exigido para todos os segurados, independentemente do ramo de atividade da empresa e da exposição a agentes nocivos. O PPP foi informatizado pelo Grupo de Trabalho41, segundo §1o O Grupo de Trabalho deverá elaborar as definições e escopo do projeto para elaboração de sistema informatizado, cujo objetivo geral é o estabelecimento de um meio eletrônico de preenchimento, encaminhamento e formação de banco de dados da profissiografia dos trabalhadores brasileiros a fim de atender ao disposto na Instrução Normativa INSS/DC no 96, de 23 de outubro de 2003. 40 IN INSS no 78 de 16/7/2002, Art 188. VI – o Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP (Anexo XV), é o documento histórico- laboral, individual do trabalhador que presta serviço à empresa, destinado a prestar informações ao INSS relativas a efetiva exposição a agentes nocivos que entre outras informações registra dados administrativos, atividades desenvolvidas, registros ambientais com base no LTCAT e resultados de monitorização biológica com base no PCMSO (NR-7) e PPRA (NR-9);§ 1o O PPP deve ser emitido pela empresa com base no LTCAT e assinado por representante administrativo e médico do trabalho, e ainda pelo engenheiro de segurança do trabalho, de conformidade com o dimensionamento do SESMT;§ 2o O PPP deverá ser emitido magneticamente com a seguinte periodicidade: a) anualmente, na mesma época em que se apresentar os resultados da análise global do desenvolvimento do PPRA, do PGR e do PCMAT, nos termos dos itens 9.2.1, 9.2.1.1 e 93.1 da NR – 09, do MTE; b) nos casos de alteração de “lay out” da empresa com alterações de exposições de agentes nocivos mesmo que o código da GFIP/SEFIP não se altere; § 3o O PPP deverá ser emitido fisicamente (meio papel) nas seguintes situações: a) por ocasião do encerramento de contrato de trabalho, quando deverá ser emitido em meio físico (papel), em duas vias, com fornecimento de uma das vias para o empregado mediante recibo; b) para ser encaminhado à Perícia Médica da Previdência Social, em meio físico (papel), por ocasião de requerimento de benefícios por incapacidade; c) para fins de requerimento de reconhecimento períodos laborados em condições especiais; § 4o A não manutenção de Perfil Profissiográfico Previdenciário atualizado ou o não fornecimento do mesmo ao empregado, por ocasião do encerramento do contrato de trabalho ensejará aplicação de multa prevista na alínea “o”, inciso II, art. 283 do RPS. 41 Portaria MPS n. 552, de 21 de novembro de 2012 - DOU de 23/11/2012. 69 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II Tem-se então a gênese dos eventos do eSocial: o PPP. Graças a esse documento e suas características previdenciárias e tributárias, que houve força para se criar os eventos de SST no âmbito do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas - eSocial. O eSocial foi instituído oficialmente pelo Decreto no 8. 373/2014, sendo o instrumento de unificação de prestação das informações referentes à escrituração das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas. Tem por finalidade padronizar sua transmissão, validação, armazenamento e distribuição. É um produto do Serviço Público de Escrituração Digital (SPED) que substitui e simplifica uma série de obrigações como a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, GFIP, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED, Manual Normativo de Arquivos Digitais – MANAD, entre outras rotinas, exigindo maior rigor na administração da empresa, pois envolverá todos os seus setores, como o de pessoal, contábil, fiscal, de segurança, de medicina ocupacional e gestores. Com ele, o Governo pretende atender as necessidades de todos os órgãos públicos participantes, como a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Caixa Econômica Federal (CEF) e Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), bem como a Justiça do Trabalho, em especial no módulo relativo ao tratamento das Ações Reclamatórias Trabalhistas. A prestação das informações ao eSocial substituirá, na forma disciplinada pelos órgãos competentes, a obrigação de entrega das mesmas informações em outros formulários e declarações atuais a que estão sujeitos todos os empregadores e fontes pagadoras. Foi nesse compasso e grande senso de oportunidade que se fez o acoplamento entre o SPED e a SST, graças ao PPP que consegue ativar as duas pontas: tributação e meio ambiente do trabalho. Tem-se então os eventos S-2210 – Comunicação de Acidente de Trabalho, S-2220 – Monitoramento da saúde do trabalhador e S-2240 – Condições Ambientais do Trabalho – Fatores de Risco para Aposentadoria Especial. O S-2220 e S-2240 são resultantes da pulverização dos campos e registros do PPP, antes em papel, agora em meio magnético via eSocial, impresso apenas quando da rescisão contratual para entrega ao trabalhador com contrarrecibo. Conforme Anexo I da IN 85, de 2016, a empresa ou equiparada deverá elaborar o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), de forma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos e cooperados, que trabalhem expostos 70 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou a associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, ainda que não presentes os requisitos para a concessão desse benefício, seja pela eficácia dos equipamentos de proteção, coletivos ou individuais, seja por não caracterizar a permanência da exposição do trabalhador a tais agentes. O PPP deverá ser emitido: » pela empresa empregadora quando se tratar de empregado; » pela cooperativa de trabalho ou de produção, no caso de cooperado filiado; » pelo Órgão de Gestão de Mão de Obra – OGMO, no caso de trabalhador avulso portuário a ele vinculado; » pelo sindicato de classe, no caso de trabalhador avulso não portuário a ele vinculado. Em relação aos agentes químicos e ao agente físico ruído, a exigência do PPP ficará condicionada: » ao alcance dos níveis de ação de que trata o subitem 9.3.6, da NR no 9 (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA); » aos demais agentes, mediante simples presença no ambiente de trabalho. Considera-se nível de ação o valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposição. As ações devem incluir o monitoramento periódico da exposição, a informação aos trabalhadores e o controle médico. Deverão ser objeto de controle sistemático as situações que apresentem exposição ocupacional acima dos níveis de ação, conforme indicado nas alíneas que seguem: » para agentes químicos, a metade dos limites de exposição ocupacional considerados de acordo com a alínea “c” do subitem 9.3.5.1 da NR 942; 42 O subitem 9.3.5 prevê: Deverão ser adotadas as medidas necessárias suficientes para a eliminação, a minimização ou o controle dos riscos ambientais sempre que forem verificadas uma ou mais das seguintes situações: (...) c) quando os resultados das avaliações quantitativas da exposição dos trabalhadores excederem os valores dos limites previstos na NR-15 ou, na ausência destes os valoreslimites de exposição ocupacional adotados pela ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Higyenists, ou aqueles que venham a ser estabelecidos em negociação coletiva de trabalho, desde que mais rigorosos do que os critérios técnico-legais estabel. 71 DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL │ UNIDADE II » para o ruído, a dose de 0,5 (dose superior a 50%), conforme critério estabelecido na NR 15 (Atividades e Operações Insalubres), Anexo I, item 6. O PPP será impresso nas seguintes situações: » por ocasião da rescisão do contrato de trabalho ou da desfiliação da cooperativa, sindicato ou OGMO, em 2 vias, com fornecimento de uma das vias para o trabalhador, mediante recibo; » sempre que solicitado pelo trabalhador, para fins de requerimento de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais; » para fins de análise de benefícios por incapacidade, a partir de 1/1/2004, quando solicitado pelo INSS; » para simples conferência por parte do trabalhador, pelo menos uma vez ao ano, quando da avaliação global anual do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), até que seja implantado o PPP em meio magnético pela Previdência Social; e » quando solicitado pelas autoridades competentes. O PPP deverá ser assinado por representante legal da empresa, com poderes específicos outorgados por procuração, contendo a indicação dos responsáveis técnicos legalmente habilitados, por período, pelos registros ambientais e resultados de monitoração biológica. A comprovação da entrega do PPP, na rescisão de contrato de trabalho ou na desfiliação da cooperativa, sindicato ou OGMO, poderá ser feita no próprio instrumento de rescisão ou de desfiliação, bem como em recibo à parte. O PPP e a comprovação de entrega ao trabalhador, na rescisão de contrato de trabalho ou na desfiliação da cooperativa, sindicato ou OGMO, deverão ser mantidos na empresa por 20 (vinte) anos. A prestação de informações falsas no PPP constitui crime de falsidade ideológica, nos termos do art. 297 do Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n. 2.848/1940. As informações constantes no PPP são de caráter privativo do trabalhador, constituindo crime, nos termos da Lei no 9.029/1995, práticas discriminatórias decorrentes de sua exigibilidade por outrem, bem como de sua divulgação para terceiros, ressalvado quando exigida pelos órgãos públicos competentes. 72 UNIDADE II │ DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL O PPP deverá ser atualizado sempre que houver alteração que implique mudança das informações contidas nas suas seções. A atualização deve ser feita pelo menos uma vez ao ano, quando permanecerem inalteradas suas informações. Considerações finais A Saúde do Trabalhador aqui discutida suscita ao estudante prevencionista um amplo espectro de possibilidades a partir da Constituição da República Federativa do Brasil - CRFB-1988. Deve-se dominar as interfaces do Direito, sem renunciar aos conhecimentos técnicos relacionados ao meio ambiente do trabalho, como uma base comum e universal a qualquer sistema produtivo. Os trabalhadores brasileiros precisam de um esforço acadêmico para transformar os processos produtivos “adoecedores” em ambientes sadios e, pela instrumentação jurídica aqui discutida, apontar saídas técnicas que valorizem as boas empresas. Para isso, há um imperativo de gestão que passa pelas métricas e indicadores, que necessariamente são suportados por documentação técnica concatenada, coerente, compatível, assertiva que garanta segurança técnica, administrativa, contábil e jurídica. 73 Referências BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. v. 1, 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social. Disponível em: HTTP://WWW81.DATAPREV.GOV.BR/ SISLEX/PAGINAS/42/1991/8213.htm. Acesso em: 11 ago. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília, 580 p., 2001. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora N. 17. Brasília, pp. 2-3, 2002. BRASIL,Supremo Tribunal Federal. Súmula no 229. A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador. Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal – Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, p. 110, 1964. CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Parte Geral. v. 1, 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. DALCIN, E. R. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o descumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho. In: Cadernos de Ciências Criminais n. 8, São Paulo: Revista dos tribunais. FONTES, L. S. Culpabilidade: pressuposto da pena ou característica do crime? Jus Navigandi, Teresina, ano 8, no 271, 4 abr. 2004. Disponível em: HTTP:// JUS2.UOL.COM.br/doutrina/texto.asp?id=5047. Acesso em: 17 fev. 2009. GONÇALVES, C. R. 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São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. _GoBack art465§1ii art465§1iii art148i art148ii art148iii art468i art468ii art473i art473ii art473iii art473iv art473§2 art473§3 art477§1 art477§2 art477§2i art477§2ii art477§3 art477§4 _Hlk13651204 RANGE!B2 art15 _Hlk13614841 _Hlk2258588 art196p