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MARKETING ESTRATÉGIC O E INTELIGÊNCIA COR PORATIVA 1 Marketing Estratégico e Inteligência Competitiva Marketing Estratégico e Inteligência Competitiva Introdução A disciplina que vai ser descrita a seguir está presente em grande parte das organizações atuais, principalmente, mas não exclusivamente, nas empresas, nas quais atua sob a forma orientação gerencial, tendo o cliente como o foco principal, e dando ao monitoramento do ambiente competitivo uma grande importância e boa parte dos esforços analíticos e criativos do profissional de Marketing. Iniciamos com uma abordagem ao conceito de marketing, a história e a importância dessa disciplina, relativamente jovem no cenário da gestão empresarial. Seguimos falando sobre o objeto principal do marketing, o cliente, estudando o seu comportamento. Entender e atender o cliente, as duas principais funções do marketing, acontecem dentro de um ambiente competitivo. Então, todo o planejamento de marketing é estratégico por natureza, porque pressupõe determinar objetivos e caminhos para atingi-los, considerando-se que outras organizações estão no mesmo mercado disputando o mesmo cliente. Os caminhos ou as estratégias de marketing são abordados na unidade que se dedica ao chamado composto de marketing, que contém as quatro ferramentas de marketing, ou as quatro variáveis controláveis de marketing, também conhecidas como os “4 Ps” do marketing: produto, preço, praça (distribuição) e promoção (comunicação). MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 2 MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 3 A forma mais comum para a definição dos objetivos de marketing é abordada na unidade que fala de segmentação, alvo e posicionamento. Nessa seção são abordados os critérios usados para eleger grupos de consumidores do mercado a que a empresa possa atender com maior probabilidade de sucesso, aumentando a concentração do foco e usando suas competências e diferenciais. Foram destacados dois assuntos que são muito importantes para o marketing estratégico nos dias atuais. Em primeiro lugar destacou-se o estudo dos canais de distribuição, dada a importância desses canais para a experiência de compra do cliente/consumidor. Também é destacado o marketing voltado aos serviços, tendo em conta a proporção majoritária que essa atividade exerce já há algum tempo na economia em termos de geração de riquezas. A disciplina é concluída pela abordagem da inteligência competitiva, que torna possível manter e ampliar a vantagem competitiva das organizações, mediante monitoramento sistemático dos concorrentes no ambiente competitivo, visando antecipar as tendências de suas estratégias, neutralizando-as com ações e decisões orientadas por conhecimento obtido a partir de análise criteriosa de informações que são agregadas aos conhecimentos já existentes. 1. A Importância do Marketing A disciplina marketing trata da orientação gerencial para as diversas organizações, tanto para aquelas que objetivam lucros quanto para aquelas sem fins lucrativos, em sua relação com seus clientes visando promover trocas. O marketing é também útil para pessoas e agremiações que desejem promover as suas ideias e imagem com finalidades políticas e para campanhas educativas de outra ordem. Mas qual a definição de marketing? MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 4 Existem várias definições de marketing, no entanto algumas das mais consagradas foram propostas por Philip Kotler (Kotler, 1994): • “Marketing consiste em determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e oferecer as satisfações desejadas de forma mais eficaz do que os concorrentes.” • “Trabalho com mercados na tentativa de realizar trocas de bens/serviços com o objetivo de satisfazer as necessidades e desejos humanos.” A definição da American Marketing Association (AMA) é a seguinte: “Marketing é um processo social e administrativo pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e o que desejam mediante a criação e a troca de produtos e valor com outras pessoas.” Pode-se notar que os conceitos de troca e satisfação das necessidades e desejos são centrais nas definições de marketing. Nota-se também, já em uma primeira análise desses conceitos, que o cliente está no centro das atenções do “processo social”. A tarefa do marketing se torna mais complexa na medida em que fica mais complexa a satisfação das necessidades e desejos dos clientes, considerando as necessidades de superar os concorrentes, e de realizar uma oferta sustentável no ambiente competitivo intenso dos nossos dias. Deve ser entendido que as trocas acima referidas envolvem dois tipos básicos de clientes: os clientes ou compradores organizacionais, que compram bens e serviços necessários para suas empresas privadas ou organizações públicas, e os consumidores que compram bens e serviços para si próprios ou para outras pessoas com o objetivo de satisfazer necessidades e/ou desejos (Churchill & Peter, 2000, p. 4). MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 5 “Necessidades dos consumidores ou compradores organizacionais são coisas necessárias a sua sobrevivência” (Ibid). Já o consumidor necessita de alimento, por exemplo, e deseja um sanduíche do McDonald’s. Empresas, por outro lado, podem necessitar de certos tipos de programas de computador para realizar a sua operação, portanto, para sobreviver. Quanto ao conceito de mercado, segundo Kotler: “Mercado consiste em todos os consumidores potenciais que compartilham de uma necessidade ou desejo específico, dispostos e habilitados a fazer uma troca que satisfaça essa necessidade ou desejo” (Kotler, 1994, p. 28). A amplitude da aplicação do marketing não se restringe à venda de produtos tangíveis. O marketing pode ser usado também para serviços (que são produtos intangíveis); para criar ações favoráveis em relação a pessoas (exemplo: marketing político); para atrair pessoas para determinados lugares (marketing turístico); para criar apoio a ideias e buscar a mudança de comportamentos sociais indesejáveis (marketing de causa); para atrair doadores, membros e participantes voluntários (marketing de organização) (Churchill & Peter, 2000, p. 5). O marketing nas organizações contemporâneas exerce as funções de entender o ambiente competitivo em seus elementos, e em seus detalhes mais profundos, visando realizar trocas com agregação de valor para todas as partes envolvidas, aumentar a participação da organização nos respectivos mercados onde ela atua; manter a relação com os clientes baseada em satisfação de seus desejos e necessidades, na superação de suas expectativas, e desenvolver marcas que representem e estabeleçam uma relação de confiança do cliente na organização, assim proporcionando as condições para o lançamento de novos produtos e a conquista de novos clientes (Teixeira, Santini, Gullaci, & Lima, 2012, p. 18). MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 6 As organizações existem porque existem necessidades de várias partes interessadas, ou públicos, a serem atendidas. Esses públicos ou stakeholders demandam produtos e/ou serviços das organizações públicas ou privadas, e estas orientam os seus recursos para atendê-los. Enquanto a oferta de produtos e serviços está relativamente equilibrada com a demanda, e as opções para satisfazer as necessidades e desejos dos públicos são relativamentepoucas, o esforço para produzir a troca entre as organizações e seus públicos é mais simples, bastando produzir bons produtos ou entregar bons serviços para se conseguir vendas em volumes adequados à sobrevivência da organização. Quando a concorrência se torna agressiva, como a que tem sido verificada desde o último quarto do século XX, passa a ser uma questão de sobrevivência o aperfeiçoamento das técnicas para compreender o que os públicos realmente necessitam e desejam, e como gerar vínculos de qualidade com esses públicos. Os stakeholders não são apenas os consumidores dos produtos e serviços das organizações, mas também outros públicos envolvidos diretamente, como os colaboradores associados à organização, a comunidade em torno da organização e o meio ambiente afetado de alguma maneira pelas suas operações. Até o momento em que a competição era relativamente baixa, o atendimento dos stakeholders era uma tarefa mais simples. “Enquanto não havia nenhuma ameaça do câncer da concorrência, as atividades amadoras de venda podem ter sido remédios suficientes, mas tão logo japoneses, alemães e outros invadiram os mercados tornou-se necessária uma medicação mais forte para aqueles que querem sobreviver” (Baker, 2005, p. 3). A evolução até este ponto de intensa competição passou por alguns estágios ao longo da história, e é conveniente conhecê-los para melhor entender a importância do marketing para a estratégia das organizações contemporâneas. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 7 A História do Marketing Desde o início existência do homem no planeta, vivendo em grupos de caçadores nômades, começaram a aparecer as primeiras trocas entre esses indivíduos ou entre os grupos. O processo de atribuição de um valor à mercadoria, da qual se tinha uma quantidade excedente, objetivando uma troca por outra da qual se necessitava, dava início à arte que atravessaria os séculos e as civilizações da Antiguidade até chegar aos nossos dias, agora sob a forma de uma disciplina chamada marketing. Com a revolução industrial nos fins do século XVIII e no século XIX, a produção aumentou bastante, mas mesmo assim, na maior parte desse período, não o suficiente para produzir um excesso de oferta em relação à demanda. Não obstante essa demanda tenha aumentado em função do aparecimento de uma nova categoria de consumidores, que obtinham renda com empregos assalariados na atividade industrial. A economia nessa fase continuou dedicada à produção de bens, e a venda das mercadorias ainda não representava um problema complexo. No início do século XX, o crescimento da produção e da renda promoveu o aparecimento da produção em massa para um consumo em massa. Um exemplo que marca esta época é o Ford Modelo “T”, que trouxe várias inovações no sentido de um aumento de produtividade da indústria, alcançando tanto uma qualidade confiável quanto uma redução de custos. Esta eficiência repassada ao preço promoveu uma grande penetração de produtos no mercado. Após um longo período de depressão da demanda provocado pela crise iniciada com a quebra da bolsa de Nova York em 1929 e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve um longo período de prosperidade econômica em nível mundial, também chamado de “anos de ouro do capitalismo”, entre o final da segunda Guerra Mundial e meados dos anos 1970. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 8 Até a metade do século XX permaneceu inabalável uma tendência de orientar as ações empresariais para a produção, baseada no pressuposto que os clientes comprariam produtos de boa qualidade que estivessem disponíveis a um preço acessível. Bastava então concentrar os esforços na produção bens/oferta de serviços e na redução dos custos para obter o sucesso empresarial. A concorrência era relativamente discreta, ou seja, formada por poucas empresas. Nesta fase histórica, nos anos 1950, o marketing seria marcado pelo esforço das empresas em empreender táticas de venda agressivas, com forte ênfase nas promoções de preços. Muitos autores atribuem ao Artigo “Miopia em Marketing” de Theodore Levitt para a Harvard Business Review, em julho-agosto de 1960, como o divisor de águas entre a abordagem produção/vendas para a abordagem de marketing (Kotler, 1997). Para Levitt, o fracasso ou a profunda crise de diversas indústrias1 estava relacionado com a sua estratégia excessivamente orientada para o produto. Por exemplo, a indústria de transportes ferroviários não percebeu que estava na realidade provendo os transportes seguros e rápidos que seus clientes demandavam. Quando surgiram as companhias aéreas oferecendo uma proposta de maior valor para os clientes ―, pois, além de segurança, ofereciam rapidez muito maior ― as ferrovias não investiram nessa nova modalidade de produto, perdendo significativa fatia de mercado. Outro exemplo semelhante ocorreu com a indústria cinematográfica nos anos 1950, com o surgimento da televisão. Vários autores reconhecem que as diversas orientações de gestão empresarial anteriormente descritas ocorreram como ciclos históricos, mas estão presentes ainda hoje, embora tenha havido uma grande transformação do ambiente competitivo, principalmente no século XX e na primeira década do século XXI. As orientações mais citadas são: orientação para o produto, orientação para a 1 O conceito de indústria aqui adotado é o mesmo usado por Michael Porter, ou seja, conjunto de empresas dedicadas a um determinado ramo de negócios. Por exemplo: indústria automobilística, indústria de transportes ferroviários etc. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 9 venda, orientação para o marketing e orientação para o valor (Baker, 2005; Churchill & Peter, 2000; Boone & Kurtz, 2009). As diversas orientações surgiram na medida em que o ambiente competitivo foi se tornando mais complexo, mas o surgimento de uma nova orientação não significou o desaparecimento total da ou das orientações que prevaleceram antes. A fronteira da orientação da gestão empresarial para o marketing estaria agora no chamado marketing pós-moderno, que ao mesmo tempo representa uma ruptura com o marketing moderno e um problema conceitual complexo, tendo em vista a dificuldade para se definir claramente o que vem a ser pós-moderno. O pós-modernismo seria um movimento mais ligado à cultura, a estética, com reflexos na comunicação. O consumidor pós-moderno não aceitaria a condição de objeto passivo das estratégias de marketing. Esse consumidor quer participar da formação dos significados, colocando a sua subjetividade em jogo. A proposta de valor do marketing moderno do momento imediatamente anterior não seria mais satisfatória, na medida em que o consumidor pós-moderno adquiriu uma maturidade em sua percepção de valor, e não aceita mais o tratamento de massa, originado nas pesquisas de mercado positivistas baseadas em métodos quantitativos (Brown, 2005). O marketing pós-moderno tem a experiência de compra como um importante componente da proposta de valor, pois o shopper2, sendo ou não o consumidor, é um ator com flexibilidade para participar e influenciar a experiência. “Os consumidores pós-modernos não são fiéis às marcas, mas aos símbolos e às imagens que eles produzem enquanto consomem” (Ibid, p. 17). 2 Shopper é o indivíduo que vai até as lojas (de autosserviço, shopping centers etc.) e é o sujeito da experiência de compra. Pode ou não se transformar em um comprador(caso positivo, houve uma conversão). Nem sempre o shopper é o consumidor, pois, às vezes, realiza apenas a tarefa de comprar. O shopper é o objeto do Trade Marketing ou marketing voltado para o canal de distribuição. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 10 2. Comportamento do Consumidor Na unidade anterior, abordamos a importância que o marketing assumiu na gestão das organizações a partir de meados do século XX e também entendemos que o foco da orientação de marketing é o consumidor ou cliente, enfim aquele que toma ou influencia decisivamente a decisão de comprar os produtos e serviços oferecidos. Entender melhor o comportamento do consumidor de produtos de consumo, serviços ou ideias, assim como o comportamento do comprador organizacional e como eles são influenciados por diversos fatores é o objetivo desta unidade. Primeiramente trataremos do consumidor individual para depois abordarmos o caso dos clientes organizacionais, por causa das diferenças existentes entre os dois casos. Consumidor Individual O consumidor recebe um conjunto de influências desde o seu nascimento até o final de sua vida. Para cada consumidor existe uma resposta a esse conjunto de influências graças às diferenças de características pessoais que sempre existem, e também considerando que as diversas variáveis que descreveremos brevemente a seguir podem formar uma infinidade de combinações para cada situação individual. Entender as influências recebidas pelo consumidor, e o processo de compra que resulta delas é uma função crucial do gerente de marketing, e servirá para apoiar a formulação de suas estratégias de produto, de preço, de comunicação e de distribuição. Em resumo as influências recebidas pelo consumidor que atuam em seu processo de decisão de compra podem ser divididas em duas categorias principais: fatores interpessoais e fatores pessoais. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 11 Fatores Interpessoais que Determinam o Comportamento do Consumidor Os fatores interpessoais são aquelas influências culturais, sociais e familiares a que todos os indivíduos de uma sociedade estão expostos, desde o seu nascimento. O consumidor não compra no escuro. Mesmo sem ter muitas vezes consciência disso, ele leva em consideração o que os outros pensam ou esperam dele (Boone & Kurtz, 2009, p. 163). “Cultura pode ser definida como valores, crenças, preferências e experiências passadas de uma geração a outra” (Ibid). No mundo atual, em que observamos a progressiva globalização dos mercados e a intensificação dos fluxos migratórios, os profissionais de marketing são desafiados a entender melhor as influências culturais sobre os consumidores. O que funciona bem para um país tipicamente ocidental como os Estados Unidos ou o Brasil, pode não funcionar em países orientais ou do Oriente Médio, por exemplo, a comercialização de bebidas alcoólicas. Além das culturas presentes no mercado a ser atendido, os profissionais de marketing devem entender a composição dessas culturas em várias subculturas de acordo com etnia, religião, região, localização nos centros urbanos, entre outras. Contingentes de imigrantes e seus descendentes aumentam em ritmo maior do que o crescimento das populações nativas em muitos dos países desenvolvidos, como é o caso dos próprios Estados Unidos, exigindo que se modifique a abordagem dada aos produtos e serviços, assim como à comunicação com esses segmentos, por causa das diferenças de cultura, preferências, língua valores entre outras características. As influências sociais sobre o consumidor começam a aparecer desde a infância, principalmente no grupo familiar a que a criança pertence, na escola e nos grupos de amigos assim que a criança vai crescendo e se tornando mais independente. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 12 Mais recentemente, a internet tem contribuído para que o consumidor forme e faça parte de grupos que o influenciam, desde a infância e adolescência. “A maioria das pessoas tende a assumir as expectativas gerais de qualquer grupo que considere importante, com frequência sem estar ativamente consciente dessa motivação” (Boone & Kurtz, 2009, p. 168). Esse fato faz as pessoas tomarem decisões de consumo com base nessa visão do grupo de referência, mesmo contrariando algumas crenças e preferências pessoais. O desejo de fazer parte dos grupos que apreciam tem grande influência nas decisões dos consumidores, principalmente das crianças. Uma forma utilizada com frequência pelo profissional de marketing para analisar a sociedade é levar em conta a divisão dessa sociedade em classes, que, segundo Kotler, “são divisões relativamente homogêneas e duradouras de uma sociedade, que são ordenadas hierarquicamente e cujos os membros compartilham interesses e comportamento similares” (Kotler, 1994, p. 163). Essa divisão pode ser feita em seis classes: alta alta, alta baixa, média alta, média baixa, classe trabalhadora e classe baixa (Boone & Kurtz, 2009, p. 169). Observe-se que a renda não é o único critério de classificação, pois esta envolve também ocupação, educação, passado familiar e local de residência, entre outros fatores, normalmente (Ibid). Características de família como profissão e renda de um ou ambos os pais têm sido as influências principais na classe social. Fica evidente, então, a influência da maior participação da mulher no mercado de trabalho, ocupando postos de maior complexidade e melhor remuneração, tornando-se consumidoras com maior poder de compra. É interessante notar também o fator aspiração social como determinante de comportamento de compra. Muitos indivíduos de uma classe social aspiram ascender a classes hierarquicamente superiores, e passam a adotar um comportamento de compra atribuído a essa classe almejada, comprando artigos MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 13 de maior prestígio, como roupas de grife, viagens ao exterior etc. Quando a mobilidade social é mais viável, esse comportamento de ascensão é mais frequente, já em algumas culturas tradicionais como a indiana, a mobilidade social ainda hoje é menor, pela existência de castas sociais fechadas no lugar das classes. Fatores Pessoais que Determinam o Comportamento de Compra Mesmo em meio a tantos fatores culturais, grupais e de classe social, o consumidor, em última análise, é um indivíduo e, como tal, único. Há fatores que atuam sobre o indivíduo que alteram seu comportamento como consumidor, pois cada pessoa tem suas necessidades, motivos, percepções e autoconceitos diferentes. “O comportamento de consumo individual é guiado pela motivação de preencher uma necessidade percebida” (Boone & Kurtz, 2009, p. 172). Uma necessidade é um desequilíbrio entre um estado real e o estado desejado pelo consumidor. Quando a necessidade urgente ou importante é sentida, a pessoa busca corrigir o desequilíbrio. Cabe ao profissional de marketing estimular a pessoa a sentir essa urgência em compensar esse desequilíbrio, efetuando o consumo (Ibid). As necessidades individuais foram estudadas por Maslow, que criou uma hierarquia das necessidades, segundo a qual uma pessoa deve satisfazer pelo menos em grande parte uma necessidade de natureza fisiológica, por exemplo, para estar motivada a satisfazer outras necessidades, como a de segurança. A hierarquia das necessidades de Maslow é composta de cinco níveis em ordem de urgência de satisfação: necessidades fisiológicas, de segurança,de associação ou pertencimento, de prestígio ou status e finalmente de autorrealização. Maslow notou que após, a satisfação da necessidade em um determinado nível, a pessoa não se sente motivada a agir naquele nível e procura a satisfação das necessidades do nível imediatamente superior. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 14 A percepção, ou como uma pessoa recebe os estímulos por meio dos cinco sentidos, também varia de pessoa para pessoa. A percepção de um objeto ou evento resulta da interação de dois fatores: fatores de estímulo devido às características do objeto como tamanho, cor, formato etc.; fatores individuais que incluem os sentidos, a experiência prévia e motivações básicas. As percepções sobre comida, por exemplo, são bastante individuais. O desafio para os profissionais de marketing é entender como as mensagens devem ser criadas e direcionadas para ultrapassar os chamados filtros perceptivos. Esses filtros são as formas que o consumidor usa, na maior parte das vezes inconscientemente, para selecionar aquelas mensagens que terão a sua atenção e aquelas que serão ignoradas. “As atitudes são resistências favoráveis ou desfavoráveis de uma pessoa às avaliações cognitivas, aos sentimentos e às tendências de ação em relação a um objeto ou ideia” (Kotler, 1994, p. 173). As pessoas vão formando as suas atitudes com o passar do tempo e a interação com os grupos, e essas atitudes se tornam cada vez mais resistentes a mudanças. As atitudes favoráveis têm um papel importante na preferência por marcas, e estimular estas atitudes é um papel do gerente de marketing, que deve analisar as atitudes, normalmente utilizando uma decomposição das atitudes em três componentes: o cognitivo que se refere aos estímulos racionais enviados pela comunicação; o componente afetivo que se refere aos estímulos recebidos por comentários dos outros a respeito das suas escolhas; e o componente comportamental que pode ser desencadeado pela atitude de pessoas de um grupo de referência e estimuladas também pela comunicação (Boone & Kurtz, 2009, p. 177). A aprendizagem descreve as mudanças no comportamento das pessoas por meio das experiências vividas. A maior parte do comportamento humano é aprendida, portanto atuar nesse processo de aprendizagem é uma forma de influenciar as mudanças de atitude do consumidor em favor das propostas da organização. Para MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 15 que o profissional de marketing possa incluir esse componente em seu universo de trabalho, é preciso entender que a aprendizagem de uma pessoa é produzida pela “atuação recíproca de impulsos, estímulos, sugestões, respostas e reforço” (Kotler, 1994, p. 172). A ideia da aprendizagem é criar no fim um ciclo virtuoso onde o consumidor recebe um estímulo para consumir, obtém uma resposta favorável pela experiência de consumo, recebe um reforço para consumir mais e repetir o ciclo com o mesmo produto ou com produtos associados e sob a mesma marca. É o caso dos programas de fidelidade de companhias aéreas e das degustações de produtos alimentícios em supermercados acompanhados de amostras grátis (Boone & Kurtz, 2009, p. 179; Kotler, 1994, p. 172). A teoria do autoconceito também traz uma contribuição importante para entendermos o comportamento do consumidor. Segundo essa teoria, o consumidor tem uma autoimagem que o influencia no processo de consumo. Um recém-egresso de um programa de trainees de uma grande corporação se vê como uma pessoa inteligente, em ascensão na carreira, com necessidade de aperfeiçoamento para atingir os níveis mais altos da corporação, e deve ter um comportamento de compra favorável a artigos de vestuário e acessórios condizentes com o status de futuro executivo. Processo de Decisão do Consumidor Os consumidores, envolvidos pelo sistema de influências do ambiente e da própria experiência pessoal, passam por algumas etapas antes de efetuar a compra. As decisões de compra dependerão ainda do grau de envolvimento ensejado em cada compra, podendo haver basicamente dois graus: alto envolvimento, quando há consequências sociais e econômicas são vistas como de alto nível, como, por exemplo, a compra de uma casa, a compra de um carro para a família; baixo envolvimento, quando se trata de compras de rotina, sem altos riscos ao consumidor, como a compra de um chocolate ou 500 g de pó de café. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 16 O processo de decisão do consumidor retratado na figura a seguir descreve seis passos que são: reconhecimento do problema/oportunidade; busca; avaliação de alternativas; decisão de compra; ato de compra e avaliação pós-compra. O consumidor influenciado pelos determinantes pessoais e interpessoais reconhece o problema ou a necessidade, e faz uma busca que vai depender do seu conhecimento prévio de marcas, alternativas de solução e tempo disponível para a busca. Feita a busca, o consumidor fará uma avaliação das alternativas mediante a ponderação dos benefícios prometidos e da natureza do produto ou serviço; desse ponto, irá para a decisão de compra, reunindo um conjunto de informações sobre o produto ou serviço, assim como fará provavelmente uma consulta a outros compradores em situação semelhante, para testar suas impressões. Há fatores situacionais que podem intervir até mesmo após uma decisão racional ter sido tomada, como o desapontamento de um usuário do produto escolhido ou uma súbita piora no quadro econômico. Influênc Reconhecimento do problema Busca Avaliação de Alternativas Decisão de compra Ato da Compra Avaliação Pós - Compra Determinantes Interpessoais - Influências Culturais - Influências Sociais - Influências Familiares Determinantes Pessoais - Necess idades e Motivações - Percepção - Atitudes - Aprendizagem Auto conceito Processo de Decisão d o Consumidor feedb ack MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 17 Após a compra, o consumidor pode apresentar um quadro de satisfação com o compra, ou um quadro chamado de dissonância cognitiva, quando alguma ou algumas das promessas da alternativa escolhida não são plenamente cumpridas. A dissonância é mais propensa a aumentar conforme o preço do produto aumenta e conforme a importância do efeito negativo para o comprador. Tanto a satisfação quanto a dissonância serão parte do acervo de informações do consumidor para as próximas compras e também referências para outros consumidores, principalmente nesses tempos em que as mídias sociais facilitam a propagação das informações em velocidades impressionantes. Comprador no Mercado Organizacional – B2B (Business to Business) Os mercados organizacionais são formados por indivíduos e organizações que compram bens e/ou serviços com o objetivo de produzir outros bens e/ou serviços, revender ou redistribuir os bens, melhorar o desempenho organizacional, reduzindo custos ou desenvolvendo seus métodos. O mercado organizacional apresenta um número bem menor de compradores que o mercado de produtos de consumo, porém as quantidades compradas são muito maiores e os compradores e outros atores envolvidos no processo de compra são profissionais crescentemente mais especializados, demandando uma abordagem adequadamente preparada, sobretudo no que diz respeito ao treinamento da equipe de vendas.A abordagem de marketing enfatiza muito a venda pessoal no caso dos compradores organizacionais. A comunicação deve encontrar as oportunidades para atingir um público específico no momento certo. A construção e manutenção de uma boa reputação são cruciais para que o fornecedor possa ser considerado uma boa alternativa no processo de compra, e venha a fazer parte das concorrências ou desenvolvimento de novos fornecedores. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 18 Existem basicamente três classes de compra no mercado organizacional: recompra direta, recompra modificada e a compra nova. A recompra direta apenas repõe os estoques de itens que já estão previamente aprovados e são comprados rotineiramente. A recompra modificada existe quando o departamento de compras, ou um setor desse departamento, decide alterar as especificações ou substituir um ou mais itens da pauta de compras, normalmente convocando os fornecedores já credenciados e abrindo espaço para novos fornecedores. A compra nova segue um processo de desenvolvimento da requisição de compra inteiramente novo, desde a sua origem até a especificação do (s) produto (s) e a seleção de fornecedores. Os compradores tomam decisões de acordo com essas classes de compra. Os papéis exercidos pelos atores envolvidos no processo de compra podem ser seis: o usuário, o influenciador, o comprador, o decisor, os aprovadores e os fiscais internos (Kotler, 1994, p. 200). A empresa fornecedora precisa conhecer quem são os participantes do processo de compra, em que decisões eles estão envolvidos, qual é o grau de influência de cada participante, qual é o critério de avaliação de cada participante, quais são as influências ambientais, interpessoais, individuais e organizacionais existentes. O processo de compra é composto de oito estágios ou fases de compra: identificação do problema, descrição da necessidade, especificação do produto ou serviço, busca de fornecedores, solicitação de propostas, seleção do fornecedor, rotina de compra e revisão pós compra (Ibid). Existe uma tendência que vem sendo concretizada há alguns anos de se desenvolverem centros de compra corporativos, agregando em uma única equipe todas as necessidades das diversas divisões das organizações, visando alcançar maior eficiência de custos. Isso implica uma imediata adaptação dos fornecedores, que precisam desenvolver estratégias de fornecimento competitivas. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 19 A variável interpessoal não está relegada a um plano inferior, mesmo com a grande evolução dos centros de compra e com a consolidação (concentração) da maioria dos mercados industriais. Os compradores tendem a valorizar os vendedores que lhes concedem maior respeito e distinção, cumprem os seus compromissos em dia, mantêm um fluxo de informações atualizado. A Wal-Mart, por exemplo, não aceita custos adicionais pelo fato de ser atendida por vendedores em pessoa, mas afirma que o relacionamento pessoal é um diferencial favorável ao fornecedor, quando todas as variáveis de custo estão no mesmo nível. A internet tem trazido grandes mudanças ao mercado B2B, na medida em que as organizações fornecedoras estão disponibilizando páginas para o acesso de seus clientes, com amplas possibilidades de apoio, mesmo na aquisição de itens com menor complexidade ou de reposição automática. Há mais de quinze anos as trocas eletrônicas de dados entre os fornecedores e os varejistas de grande porte respondem por boa parte das operações de compra para a reposição dos estoques, de forma automática. Mas essa facilidade tecnológica não substituiu outras funções do marketing como, por exemplo, entender as necessidades dos clientes e analisar o ambiente competitivo. 3. Composto de Marketing Nesta unidade, abordaremos o composto de marketing, ou seja, os ingredientes da receita que deve ser usada para cumprir a tarefa― cada vez mais difícil e complexa― de satisfazer o cliente, em meio a um ambiente competitivo progressivamente mais intenso e repleto de concorrentes. Os ingredientes da receita são representados pelos 4 Ps, (também conhecidas como variáveis controláveis, ou ferramentas estratégicas do marketing) propostos por McCarthy, nos anos 1960: produto, preço, praça e promoção. Entendemos que estes são os MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 20 únicos meios realmente à disposição das organizações para empreender uma estratégia de conquista dos objetivos de marketing (Lima, Basta, Oliveira, & Vilhema, 2012, p. 50), embora haja sempre a proposição de novos Ps, como Pesquisa e Público. Em seguida detalharemos, um por um, os elementos do de marketing. Produto A primeira noção que vem à mente quando se fala em produto é a de um produto físico, que se pode tocar com as mãos, e que pode ser oferecido em uma loja onde está estocado, à espera de um consumidor. Essa noção inicial não atinge toda a complexidade do produto. Primeiro porque não existem apenas produtos físicos, mas também serviços que são intangíveis e ainda assim atendem à finalidade de satisfazer as necessidades e desejos do consumidor ou cliente. Existem também produtos que contém serviços associados, como os automóveis que são vendidos com garantias e serviços de assistência gratuita. Na verdade, o que o consumidor está comprando quando adquire um bem ou serviço é a satisfação da necessidade ou desejo, e não simplesmente o produto físico ou o pacote de serviços (Boone & Kurtz, 2009, p. 377). A definição de produto segundo Philip Kotler é: “Produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para sua apreciação, aquisição ou consumo para satisfazer um desejo ou necessidade” (Kotler, 1994, p. 376). Cabem nessa definição os produtos físicos, os serviços, as pessoas (artistas, atletas profissionais, políticos etc.), os locais (cidades, destinos turísticos), ou ideias (campanhas educativas). Vamos, em primeiro lugar falar sobre os produtos físicos, para depois analisar os serviços, visando deixar claras as suas diferenças e coincidências. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 21 Produtos Físicos e seus Atributos Os atributos são características do produto que também podem ser chamadas de “qualidade do produto”, quando tomamos o conjunto dessas características. Essas características podem ser as mais variadas como, por exemplo, em um automóvel: velocidade final, potência do motor, tipo de combustível, número de passageiros, capacidade do porta-malas, revestimento dos assentos etc. Os atributos são muitas vezes entendidos pelo consumidor como um diferencial, ou seja, o consumidor atribui uma imagem de qualidade maior ao produto devido a um ou mais atributos percebidos como melhores do que os atributos dos produtos concorrentes. O conjunto de percepções a respeito dos atributos do produto em relação aos seus concorrentes resultará no valor percebido pelo cliente a respeito daquele produto. Embalagem e Design A embalagem tem diversas utilidades importantes para o produto, desde a sua utilização pelo cliente final para armazenagem e uso no dia a dia, até aquelas utilidades relativas ao transporte da fábrica ao ponto de venda, e a exposição nas lojas. Com relação ao transporte, as embalagens chamadas “de embarque” permitem o manuseio e o deslocamento por canais de distribuição, muitas vezes extensos e compostos de várias etapas. Nos dias de hoje, as embalagens contém informações de códigos de barra eaté mesmo etiquetas com chips, que permitem a sua identificação e a rápida localização e contagem nos depósitos. As embalagens no ponto de venda, já na sua apresentação final (embalagem de venda), servem para o profissional de marketing como forma de atrair o interesse do cliente, proporcionar ao cliente da loja uma boa experiência de compra por meio de cores, peso e formatos atraentes e adequados ao manuseio, da inclusão de informações úteis e de fácil visibilidade, além de favorecer as técnicas de MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 22 exposição que são aplicadas nos pontos de venda para melhorar saída do produto (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 53). O design é a concepção de um projeto e o produto desse projeto (Ibid, p. 54). O design é aplicado amplamente em diversos setores como na urbanização das cidades, na decoração de ambientes residenciais e de escritórios, na indústria de bens duráveis entre outros. A ideia é tanto criar a funcionalidade do produto desde a sua compra até o seu descarte, como atuar sobre a imagem que o produto tem aos olhos do consumidor. O chamado “design arrojado” é uma forma popular de se entender que o desenho inovador traduz a imagem de produto diferenciado das suas antigas versões ou dos produtos que venham a substituir, podendo ser determinante para a decisão de compra em diversas categorias de produto, como automóveis, por exemplo. Outras Classificações de Produtos Ainda falando sobre os aspectos gerais dos produtos de consumo, esses são classificados por vários autores levando em consideração a forma como os consumidores tomam as suas decisões de compra. Assim os produtos de consumo podem ser classificados em: - Produtos de Conveniência- compra com alta frequência, preços relativamente baixos, decisões de compra pouco complexas (alimentos, revistas, remédios que não requerem receita); - Produtos de Compra Comparada- são comprados geralmente após algum tipo de pesquisa devido às consequências de um eventual erro. São geralmente mais caros e têm maior impacto no orçamento do consumidor. Requerem decisões de compra mais complexas (carros, eletro/eletrônicos, roupas caras etc.); MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 23 - Produtos de Especialidade- são produtos que representam algum tipo de exclusividade de marca ou de benefício que levam o consumidor a realizar um esforço especial para a sua aquisição, com relativa dispensa de comparações (casas, carros de luxo, produtos eletrônicos sofisticados etc.); - Bens não Procurados- são bens normalmente não procurados pelos consumidores e dos quais se têm pouco conhecimento, antes que esforços concentrados de marketing sejam feitos para revelar a sua necessidade (Túmulos, seguros de vida, check-ups de rotina etc.) (Boone & Kurtz, 2009; Churchill & Peter, 2000; Kotler, 1994). Os produtos de consumo também são geralmente classificados quanto à sua perspectiva de durabilidade em: bens duráveis e bens não duráveis. Essa divisão é feita em virtude da diferença entre as estratégias que são exigidas para satisfazer as necessidades dos consumidores quando esses esperam um longo período de durabilidade do produto, por exemplo, de um automóvel. O papel dos serviços de garantia é destacado nesse último caso (Ibid). As organizações procuram desenvolver os seus produtos de acordo com as necessidades e desejos dos seus consumidores/clientes. É muito comum o desenvolvimento de linhas de produto, sob a mesma marca, visando atender a diferentes tipos de uso ou situações diversas de consumo. Assim, diz-se que um composto de produto pode ser definido por quatro dimensões básicas: abrangência, extensão, profundidade e consistência (Kotler, 1994, p. 378). A abrangência do composto de produtos diz respeito à quantidade de linhas de produto oferecida, por exemplo: uma empresa do ramo de café pode oferecer cafés torrados e moídos embalados à vácuo, cafés instantâneos, cafés em grão para máquinas de expresso, cappuccinos, acessórios para preparação de cafés, como filtros, jarras, suportes, cafeteiras elétricas. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 24 A extensão refere-se ao número total de itens de uma linha de produto, sendo o item representado por uma apresentação de produto, por exemplo, para empresa de café: café torrado e moído a vácuo, extra forte, embalagem de 250g, ou jarra para café de 500ml, ou ainda cafeteira elétrica 220V na cor preta. O número total de itens é igual ao número de linhas multiplicado pelo número médio de itens por linha. A profundidade do composto está relacionada com a quantidade de variações oferecidas para cada produto da linha, por exemplo, para a linha de cafés do exemplo anterior podem existir cinco tipos de cafés torrados e moídos: forte, extraforte, tradicional, origem controlada e descafeinado; cafés em grão para máquinas expresso tipos tradicional e descafeinado; O marketing de serviços será tratado mais adiante em unidade específica. Marcas e Valor de Marca A marca é parte constituinte do produto, sendo uma forma de identificá-lo, de distingui-lo dos demais produtos. A marca na definição de Churchill & Peter é “[...] nome, termo, design, símbolo ou qualquer característica que identifique o bem ou serviço de um vendedor como distinto dos bens ou serviços de outros vendedores” (Churchill & Peter, 2000, p. 244). Exemplos de marca são Avon, Bradesco, Sadia, Skol, Antártica, Unimed etc. A marca pode ser desdobrada em vários elementos: a marca nominal, o símbolo da marca, a marca registrada, marca de serviço, marca comercial e extensão de marca. A marca nominal é aquela parte da marca que “pode ser expressa em palavras” (Ibid). MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 25 O símbolo da marca é a parte não expressa em palavras, mas por meio de design gráfico, geralmente muito elaborado para representar todo o conceito que aquele produto ou linha de produtos, ou fabricante ou até mesmo uma pessoa ou campanha educativa ou político partidária. “A marca comercial é o nome legal sob o qual uma empresa opera”, por exemplo, Ambev é a marca comercial da empresa que produz e comercializa diversas bebidas alcóolicas e não alcóolicas, que por sua vez são apresentadas no mercado com diversas marcas nominais (Ibid). A escolha de uma marca deve seguir um processo criterioso e cauteloso, dada a importância que representam os benefícios da marca, tanto para a organização quanto para o consumidor e para a relação entre a primeira e o último. Assim as marcas devem ser positivas, transmitindo sentimentos de confiança, segurança e força; devem ser fáceis de falar e memorizar; devem ser capazes de conduzir aos benefícios do produto ou serviço, em uma espécie de associação instantânea de ideias. O nome da marca deve ser conforme com as normas legais, com relação à proteção de registros de outras marcas, e respeitar as regras da cultura do local onde é utilizado. Exemplos de marcas de sucesso que respeitam todos os critérios acima são a Nestlé, a Nike, a Shell, a Coca-Cola, a Brastemp, entre tantas outras. A relação de uma organização com os seus clientes/consumidores tem na marca um de seus principais canais no que se refere à ligação emocional-cognitiva. Por esse motivo as marcas devem ser tratadas com cuidado, e ser revitalizadas sempre para manter a sua imagem nas mentes e corações dos clientes. O resultado de todo esse investimento na criaçãoe manutenção de uma marca é a agregação de valor tanto para a organização quanto para o consumidor. A marca deve cumprir o papel de ser um benefício adicional ou uma representação dos benefícios simbólicos da organização. O consumidor tem, através da marca, um processo de compra simplificado, adquire mais confiança para comprar e maior prazer em desfrutar dos produtos ou serviços (Ibid, p.50). Um exemplo contundente do valor da marca vem de uma máxima do marketing. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 26 Se a Coca-Cola fosse destruída em toda a sua estrutura industrial e logística em nível mundial, conseguiria alavancar recursos de empréstimo da ordem de US$ 100 bilhões, para a sua imediata reconstrução, somente pelo valor extraordinário da sua marca (Churchill & Peter, 2000, p. 251). Garantia e Assistência Técnica A garantia e a assistência técnica compõem um pacote de serviços ligados ao produto. A finalidade principal da garantia é aumentar a confiabilidade do produto, e aumentar consequentemente o valor percebido pelo cliente. A garantia tem grande potencial para agregar valor à marca, mas, por outro lado, existe um risco considerável de haver prejuízos à imagem, caso a garantia não funcione como o prometido pela empresa fornecedora. Esse risco está sendo acentuado pela terceirização dos serviços de assistência técnica e garantia de produtos como, por exemplo, no caso dos aparelhos eletrônicos de uso doméstico. Mesmo o setor automobilístico depende quase integralmente de revendedores autorizados para prestar os serviços de garantias. Falando do setor automobilístico, recentemente assistimos a uma onda de aumento de prazos de garantias de várias marcas de automóveis, como, por exemplo, a Nissan e Renault (três anos); Hyundai (5 anos); JAC (6 anos). Preço O preço segundo a definição de Churchill & Peter ─ aliás, muito próxima da definição de Kotler─ é “ a quantidade de dinheiro, bens ou serviços que se deve dar para adquirir a propriedade de um produto ou uso de um serviço” (Churchill & Peter, 2000, p. 314). Na definição de Kotler é acrescentado que para que se estabeleça um preço é necessário que haja aceitação do fornecedor e do cliente. O preço é o único elemento do composto de marketing que produz receita, os outros só produzem custos (Kotler, 1994, p. 425). O preço é o elemento mais MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 27 fácil de ser alterado, ao mesmo tempo em que a sua alteração pode produzir grande impacto nos resultados da organização. Segundo Robert T. Lindgren (in Kotler, 1994) “O que importa é valor e não preço”. O preço é apenas o elemento de custo monetário da equação de valor. Essa equação nos dá uma noção bastante abrangente de como se forma a percepção de valor na cabeça do consumidor/cliente, e é simplificadamente representada pela expressão valor = benefício- custo. Formação de Preços Os preços devem ser formados basicamente pensando em dois limites: a demanda mínima de mercado e o preço mínimo que pode ser cobrado, visando cobrir os custos. O preço ideal vai se localizar entre estes dois limites. O estabelecimento de preços acima do limite superior leva a uma acentuada queda de demanda, tendendo a zero. Por outro lado, o estabelecimento de preços abaixo do limite inferior significa obter prejuízos a cada unidade vendida, pois os custos para produzir as unidades não são cobertos. Os preços devem então ser estabelecidos em função do preço dos concorrentes, podendo ser ligeiramente maior que a médias desses preços, na medida em que haja diferenciais de valor percebido que sustentem esse preço. Chama-se de prêmio a diferença entre o preço de um produto diferenciado e a média dos preços do mercado. O consumidor/cliente paga esse prêmio para desfrutar desses diferenciais (Kotler, 1994). Os preços de lançamento dos produtos podem ser estabelecidos em um patamar alto, que visa obter o máximo de margem, enquanto a concorrência não iguala ou reduz os diferenciais. Após esse momento inicial (também chamado de skimming ou “desnatação” do mercado), os preços devem ser reduzidos adequadamente para aumentar as vendas e buscar uma penetração mais ampla no mercado (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 62). MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 28 Em resumo, o composto de preço se desenvolve em duas dimensões básicas: a interna à organização, onde se deve buscar a redução de custos e o aumento das escalas de produção, e a dimensão externa, onde deve haver constante monitoramento dos preços da concorrência. Não adianta ser forte em uma ou noutra dimensão, é preciso estar atento às duas simultaneamente para poder proporcionar ao consumidor um preço que ele considere justo, e que finalmente o leve a comprar o produto ou serviço, objetivo final do marketing. Praça (ou Composto de Distribuição) O objetivo do composto de distribuição é tornar os produtos disponíveis aos consumidores, nos locais certos e no momento certo, segundo as necessidades e preferências desses consumidores, de maneira eficiente e eficaz (Churchill & Peter, 2000, p. 368). Este objetivo é alcançado por canais de distribuição de produtos e serviços. Entender o seu funcionamento, e como fazer uma boa seleção de canais de distribuição é uma das tarefas importantes do gerente de marketing. Canais de Distribuição “Canal de Distribuição é uma rede (sistema) organizada de órgãos e instituições, que, em combinação, executam todas as funções necessárias para levar os produtos aos usuários finais, a fim de realizar a tarefa de marketing” (Ibid). Os canais de distribuição podem ser considerados como os caminhos que os produtos ou serviços têm que percorrer para sair do local onde são produzidos para o local onde são consumidos. No caso dos serviços, existe a coincidência do local de produção e consumo, e os canais passam a atuar como canais de venda, ou locais para o acesso do consumidor ao serviço ou ao contrato de serviço. No caso de produtos físicos, os canais de distribuição são formados por intermediários, que são empresas ou agentes que atuam para que o bem seja MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 29 disponibilizado ao cliente final, o consumidor, através de uma sequência de operações de compra e venda. Pode haver casos em que não há intermediários, como nas vendas pela internet, onde o fabricante recebe o pedido e o pagamento do cliente pela sua página na web, e providencia a entrega em domicílio, com ou sem cobrança de frete, conforme o caso. Os intermediários são usados quando tornam as trocas mais eficientes e reduzem os custos de transação. Por exemplo, se a Unilever fosse adotar a venda porta a porta de seus produtos, amplamente penetrados no mercado, teria que efetuar milhões de operações de vendas e entregas. Esta operação geraria milhões de contatos diretos com seus consumidores, a um custo operacional proibitivo. Dessa forma, a adoção de canais compostos por vendedores próprios, atacadistas, distribuidores e varejistas, reduz radicalmente o número de contatos diretos, que passam a ser da ordem e alguns milhares, considerando todos os distribuidores e varejistas atendidos diretamente pela indústria. Pode haver canais muito curtos, sem mesmo nenhum intermediário, como no caso das vendas por website, até canais longos, envolvendo vários intermediários, como agentes, distribuidores, atacadistas, varejistas etc. A escolha do tipo de canal quanto a sua extensãoleva em consideração, geralmente três fatores (Urban & Urban, 2006, apud Miguel Lima [et. al], 2012): mercado, produto e a própria empresa. O fator mercado é expresso pela compra média dos clientes e sua dispersão geográfica: compras relativamente pequenas e clientes muito dispersos, como no caso da maioria dos produtos de consumo, requerem canais mais longos de distribuição, como muitos intermediários (Ibid). O fator produto pode ser evidenciado no caso dos produtos perecíveis, que impõem canais mais curtos, com menos embarques e desembarques de MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 30 mercadorias, devido a sua relativa sensibilidade ao manuseio e às variações de temperatura (Ibid). O fator empresa pode ser revelado no tamanho e na capacidade da empresa em financiar um conjunto de intermediários para fazer o seu produto chegar ao destino. Empresas menores e com poucos recursos são geralmente forçadas a atuar em um âmbito geográfico mais restrito para reduzir os custos de distribuição. Também no caso dos canais de distribuição dedicaremos uma unidade para estudá-los melhor, mais adiante. Promoção (ou Composto Promocional) O último P do composto de marketing a ser abordado é o de promoção, que na verdade contém todo o conjunto de ferramentas de comunicação com o consumidor. Esse composto de promoção ou de comunicação desempenha a função primeira de informar o consumidor da existência de um produto ou serviço que foi desenvolvido cuidadosamente, para atender as suas necessidades e desejos; e depois informar como esse produto proporciona valor e como pode ser encontrado para compra (Churchill & Peter, 2000, p. 446). A importância dada a esse composto, muitas vezes confundido com o próprio marketing, tem no mínimo duas razões: a comunicação é a faceta do marketing que mais aparece aos olhos do consumidor, por ser responsável pelo contato da empresa com o mercado e com a sociedade, para revelar as características e benefícios dos seus produtos e serviços e distingui-los das ofertas das demais empresas. O posicionamento das marcas na cabeça do consumidor somente é possível pelo destaque das mensagens da empresa em relação às milhares de outras mensagens de produtos concorrentes ou não, enviadas pelos mesmos meios de comunicação, as chamadas mídias, para os consumidores. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 31 Ou seja, não basta que a empresa seja muito bem-sucedida desenvolvendo um produto que atenda necessidades e desejos de um público-alvo, com preços competitivos dentro do posicionamento escolhido e que coloque esses produtos à disposição do consumidor em locais convenientes e de fácil acesso. É preciso que o público-alvo saiba disso. Por isso a comunicação é tão necessária para o marketing (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 66). O fluxo de mensagens para o consumidor é incessante por vários motivos: na fase inicial do ciclo de vida do produto ou serviço, o produto é pouco conhecido e precisa de um grande esforço de comunicação para se tornar uma alternativa na cabeça do consumidor; o público não percebe, com a exatidão necessária, quais são os benefícios do produto ou como desfrutar desses benefícios; a experimentação do produto é baixa, ou seja, poucas pessoas já tiveram contato real com o produto ou serviço; o público não sabe como encontrar os produtos embora esteja informado sobre a sua existência e benefícios; a empresa desenvolve esforços para contribuir com o equilíbrio ecológico e socioeconômico, mas não tem uma imagem correspondente junto ao público, devido a problemas de má interpretação de suas ações ou simples insuficiência de informações (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 66). O time de marketing da empresa deve, então, definir seus objetivos para comunicar, ensinar, conclamar, apresentar seus produtos [...] corrigir os problemas de má interpretação de ações por parte do público (Ibid), e, em seguida, preparar uma mensagem, escolher o meio que será usado para a veiculação, colocar a mensagem no ar, no meio impresso ou virtual e em seguida controlar os resultados da comunicação para eventualmente ajustá-la. Os objetivos do composto de comunicação são genericamente voltados para aumentar as vendas e lucros ou alcançar outras metas. Algumas dessas outras metas são: criar consciência informando o público sobre produtos, marcas, lojas ou organizações; formar imagens positivas, criando na mente das pessoas MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 32 avaliações positivas sobre produtos, marcas, lojas ou organizações; identificar possíveis clientes, descobrindo por meio de contatos diretos nomes, endereços e possíveis necessidades de compradores potenciais; formar relacionamento nos canais de distribuição: e finalmente reter clientes, criando valor para eles pela satisfação de suas necessidades e conquistando a sua lealdade (Churchill & Peter, 2000, p. 447). O desafio dos profissionais de marketing é criar uma comunicação que “rompa a desordem criada por todas as outras mensagens”, e faça com que o público-alvo, pelo menos, preste atenção a ela (Churchill & Peter, 2000, p. 451). Os elementos do composto de comunicação de marketing são: a propaganda, o marketing direto, a promoção de vendas, a venda pessoal e as relações públicas. Propaganda “A propaganda é a comunicação impessoal, paga, não interativa, veiculada por canais de terceiros” (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 67). “A propaganda é a veiculação de qualquer anúncio ou mensagem persuasiva nos meios de comunicação, durante determinado período, e em um determinado espaço pago ou doado por um indivíduo, companhias ou organizações identificados” (Churchill & Peter, 2000, p. 452). A propaganda é normalmente uma comunicação de mão única por não permitir contato direto com o receptor. No caso da internet, começa a haver a possibilidade de algum tipo de interação, assim como o retorno ou feedback pode ser ligeiramente analisado pelas respostas em redes sociais a alguns aspectos da mensagem veiculada. Marketing Direto O marketing direto é representado pela utilização de mala direta, catálogos e telemarketing para atingir o público-alvo onde quer que ele esteja. É um elemento MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 33 do composto de comunicação usado quando se quer uma resposta rápida de um alvo determinado, e por isso demanda uma base atualizada de clientes e potenciais clientes (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 67). O marketing direto é um tipo de comunicação direta com o consumidor para obter uma resposta em forma de: pedido (pedido direto); solicitação para obter informações adicionais (geração de orientação) ou visita a um local de negócios para efetuar compras de produtos ou serviços (geração de tráfego) (Boone & Kurtz, 2009, p. 535). Promoção de Vendas “É a entrega de benefícios adicionais ao cliente no ato da compra”. É muito usada para alavancar as vendas, desovar estoques encalhados, gerar experimentação mediante degustações no ponto de venda (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 67). A promoção de vendas pode ser dirigida diretamente ao consumidor no ponto de venda ou ao intermediário no canal de distribuição. A promoção de vendas pode também ser vista como um incentivo de curto prazo, não regular, e, algumas vezes, está associada a outros elementos do composto promocional, visando aumentar o poder destes. Neste caso, a promoçãode vendas pode assumir a forma de cupons de desconto, exibições, convenções, amostras, brindes anexados, bônus em produto, prêmios etc. Nos canais de venda, também segundo esta visão de incentivo, a promoção pode assumir a forma de um concurso com os vendedores dos distribuidores de um ou de vários atacadistas, visando incentivar a venda de um produto em lançamento ou outro objetivo relacionado com o volume ou a qualidade das vendas (Boone & Kurtz, 2009, p. 535). Relações Públicas Relações Públicas referem-se às comunicações e às relações da organização com seus públicos ou stakeholders. Os programas de relações públicas podem MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 34 conduzir a contatos formais ou informais, mas o importante é que a organização deve cuidar de suas relações públicas para gerar uma boa imagem, a boa vontade dos públicos para com a organização, criar empatia e prevenir problemas futuros (Boone & Kurtz, 2009, p. 535; Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 67). Venda Pessoal Esse elemento do composto de comunicação é o único onde as vendas são diretas, nos demais a venda é sempre indiretamente influenciada. As vendas pessoais são consideradas também como parte do composto promocional porque uma das mais importantes atividades dos vendedores em campo é levar a mensagem sobre o produto e sobre a proposta de valor da organização aos clientes, negociando com eles os pedidos de compra e ouvindo o feedback da comunicação pessoalmente para conduzi-lo à organização (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 68). A venda pessoal não só traz volumes de venda para a organização como também é um elemento chave na captura de informações sobre o microambiente. A combinação de todos os elementos do composto de comunicação de forma harmônica é o objetivo da comunicação integrada de marketing (CIM). O desafio de se destacar entre tantos milhares de mensagens pode ser amenizado relativamente, se os elementos do composto estiverem trabalhando sinergicamente, e principalmente se não estiverem em algum tipo de conflito com efeitos antissinérgicos, como, por exemplo, a propaganda sendo utilizada para posicionar o produto como Premium, à custa de um vultoso orçamento, enquanto a equipe de vendas engendra meios de conseguir aumentar os volumes, a custa de grandes descontos ou verbas promocionais que levarão a um posicionamento agressivo e incompatível com um preço Premium. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 35 Os elementos do composto de marketing, os 4 Ps, serão as ferramentas à disposição do gerente de marketing na tarefa de enfrentar a concorrência no ambiente competitivo que se encontra no mercado. A análise cuidadosa desse mercado, combinada com o uso eficiente e eficaz do composto de marketing farão a diferença para a organização fornecedora. Para iniciar esse processo de abordagem do mercado será descrita a seguir a estratégia de segmentação. 4. Segmentação e Posicionamento no Mercado A segmentação ─ ou divisão do mercado em grupos de pessoas ou clientes institucionais com a finalidade de melhor entendê-los─ é para alguns autores a mais importante das técnicas utilizadas pelo marketing para atingir os seus objetivos estratégicos, satisfazendo as necessidades dos consumidores de forma sustentável e criando valor para eles. Esta técnica é a que melhor representa a evolução do marketing desde uma mera ferramenta de venda de produtos indiferenciados no passado, até uma sofisticada gama de técnicas e ferramentas que está presente na maior parte das estratégias das organizações atuais. Essa técnica permite adequar as organizações a uma forte competição, focando parcelas de um mercado multifacetado e composto por uma infinidade de grupos distintos, de tamanhos relativamente menores (Teixeira, Santini, Gullaci, & Lima, 2012; Boone & Kurtz, 2009; Churchill & Peter, 2000; Kotler, 1994). A Segmentação trata da compreensão do mercado como um sistema composto por muitos subgrupos formados por consumidores que têm preferências semelhantes. A técnica da Segmentação pode ser comparada a um exame oftalmológico, quando nossa visão vai se tornando cada vez mais nítida, à medida que são trocadas as lentes. A ideia é enxergar os detalhes de cada grupo de clientes e formar novas subdivisões a partir do maior conhecimento dos hábitos e atitudes destes clientes. O conhecimento obtido na segmentação passa então a ser parte vital das informações que vão orientar a seleção de segmentos alvo, e a formulação/implementação das estratégias de marketing, para desenvolver MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 36 os produtos e serviços que realmente atendam as necessidades desses segmentos de consumidores. É o que Kotler chama de SAP (Seleção, Alvo e Posicionamento) ou o marketing baseado na seleção, escolha de um alvo e posicionamento de uma proposta de valor (Kotler, 1994, p. 235). Não basta apenas desenvolver produtos ou criar marcas em torno de produtos homogêneos destinados a uma massa de clientes. É fundamental ter em mente as preferências diversas dos vários segmentos, e focar os produtos na satisfação destas necessidades, de forma mais eficiente que a concorrência (Ibid). A utilização da segmentação como estratégia pressupõe a adoção de algumas etapas, que são a análise do mercado para identificar os segmentos visíveis “a olho nu”, o aprofundamento da análise por levantamentos e pesquisas para definir os segmentos em maiores detalhes, seleção dos segmentos de interesse para a empresa e finalmente a preparação e posicionamento de uma proposta de valor para os segmentos alvo (Churchill & Peter, 2000, p. 206). A Segmentação traz vantagens em primeiro lugar para a organização fornecedora que, conhecendo melhor o perfil dos clientes e suas necessidades e desejos, pode concentrar seus esforços na elaboração de produtos e serviços que realmente vão satisfazer as necessidades de seus clientes (Churchill & Peter, 2000, p. 206). A escolha dos segmentos passa por critérios racionais, para que se encontrem aquelas partes do mercado global que a organização pode atender com suas competências, de forma competitiva, e que sejam ao mesmo tempo atraentes em termos de tamanho e resultados para o negócio da organização. Mesmo que a organização não vise lucros, é preciso garantir que o atendimento dos segmentos selecionados possa gerar resultados suficientes para manter a organização. Seguem algumas características dos segmentos que servem para definir a sua escolha. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 37 a) Os Segmentos têm que ser mensuráveis. Deve ser possível medir a quantidade aproximada de consumidores e seu potencial de compra dos produtos e serviços que podem ser oferecidos pela empresa (Churchill & Peter, 2000, p. 224); b) Os segmentos devem ser atrativos para a organização, em termos de tamanho e potencial de negócios no momento e no futuro (Ibid); c) Os segmentos devem ser acessíveis à distribuição e a promoção pelos canais disponíveis. A organização orientada por marketing terá dificuldades para aplicar sua abordagem caso selecione segmentos com os quais não haja comunicação suficiente ou que tenham dificuldade de transportes para que se efetuem as entregas do produto (Ibid, p. 249); d) Os segmentos devem reagir aos estímulos de marketing. Segmentos inertes aos esforços de comunicação, ou mesmo com restrições culturais aos benefícios oferecidos não devem ter prioridade, pela dificuldadede percepção de valor dos clientes desses segmentos com relação à proposta de valor da organização vendedora (Ibid); e) Os segmentos devem apresentar indícios claros de estabilidade. É fundamental não confundir um modismo ou uma circunstância acidental como um segmento promissor. Investir recursos para satisfazer necessidades passageiras envolve um alto risco de prejuízos. Os conceitos iniciais acima dão uma ideia do que é a segmentação e de sua importância para a atividade do marketing. Mas a tarefa de segmentar o mercado enseja cuidados analíticos que só podem ser adequadamente satisfeitos por métodos estatísticos e experiência acumulada por especialistas e institutos de pesquisa, que se dedicam continuamente a este trabalho. Mesmo com essa complexidade é possível destacar alguns critérios gerais utilizados nesse trabalho de segmentação. Critérios de Segmentação MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 38 Os critérios de segmentação permitem ao profissional de marketing a distinção entre os diversos grupos de pessoas com características semelhantes entre si, existentes no mercado. Para distinguir um grupo do outro são usados conjuntos formados por variáveis, como: renda, idade, sexo, grau de instrução, local de residência, religião, etnia, motivos, percepções, cesta de consumo e outros. De acordo com a combinação das variáveis surgem diversos critérios, como: demográfico, geográfico, psicográfico, por benefício, por comportamento de compra ou uma combinação entre eles (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 72). Segmentação Geográfica Na segmentação geográfica os segmentos são separados simplesmente por regiões. Uma organização pode decidir atuar em uma, em algumas ou em todas as regiões do mercado de um país, ou mesmo do mercado global. As regiões podem apresentar características diferentes entre si. Por exemplo, uma organização produtora de café torrado e moído pode atender desde segmentos mais econômicos, que apreciam sabor forte e estão localizados no interior do Brasil, predominantemente nas regiões norte e nordeste. Outro segmento para a mesma empresa é o de cafés gourmet, geralmente localizado nas grandes metrópoles, particularmente no sul e sudeste do país. Este segmento exige sabores e aromas mais acentuados, além de outras características somente reveladas por cafés selecionados, e por torra menos profunda. Nos Estados Unidos, a marca de café Maxwell House é distribuída nacionalmente, mas com diferenças regionais em sabor (Kotler, 1994, p. 240). Segmentação Demográfica A segmentação demográfica utiliza variáveis relativas às características de uma população, como: sexo, idade, nível de renda, ocupação, educação, etnia, tamanho da família, ciclo de vida da família, religião. Cada uma dessas características pode representar uma forma de diferenciação entre os segmentos. MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 39 Este tipo de segmentação é o mais comum, pela maior disponibilidade de dados, ou pela relativa facilidade de se levantar dados, quando não estão disponíveis. A segmentação por idade procura captar as diferenças de resposta aos produtos e serviços nas diversas faixas etárias. A segmentação por sexo, ou em termos mais atuais, por orientação sexual, procura distinguir os segmentos por esse critério. A segmentação por renda é amplamente utilizada para entender a resposta das diversas faixas de renda pessoal ou familiar aos preços de produtos ou serviços. O estágio do ciclo de vida das famílias é igualmente importante para diferenciar pessoas que são solteiras, daquelas que estão iniciando a vida de casados, casais maduros, idosos que vivem sós (Churchill & Peter, 2000; Kotler, 1994). Segmentação Psicográfica A segmentação psicográfica “envolve a medição dos estilos de vida das pessoas, e está voltada para a maneira como as pessoas conduzem a sua vida, incluindo suas atividades, interesses e opiniões” (Churchill & Peter, 2000, p. 214). Assim as chamadas categorias psicográficas abrigam pessoas que são preocupadas com a ecologia e respondem bem a produtos orgânicos, por exemplo. Noutra categoria estão as pessoas preocupadas com o status, como, por exemplo, os novos ricos da Rússia e da China nesse começo de século XXI, que compram carros de luxo e ostentam joias e roupas caras, que exibem em lugares frequentados pelas minorias abastadas do planeta. Pesquisa realizada por uma loja de materiais de construção do interior de São Paulo identificou os seguintes segmentos na população estudada (88% composta por homens): Os lógicos (30%- buscam vantagens); Os criativos (12%- buscam novidades); Os estruturados (43%- buscam segurança) e os sensíveis (15%- buscam afetividade). (Lima, Basta, Oliveira, Vilhema, 2012, p. 75). Segmentação Comportamental MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 40 A exemplo do que ocorre na segmentação psicográfica, na segmentação comportamental as pessoas são vistas em grupos que reagem de formas diversas a um produto ou serviço que é oferecido (Kotler, 1994, p. 243). É muito comum as variáveis comportamentais serem usadas como ponto de partida para a segmentação. A segmentação comportamental também pode ser feita por status de uso, taxa de uso e status de lealdade. O status de usuário significa a divisão em não usuários, ex-usuários, usuários potenciais, novos usuários e usuários regulares de um produto. A taxa de uso divide o mercado em pequenos, médios e grandes usuários do produto. O status de lealdade mostra a lealdade à marca do grupo de clientes, podendo haver clientes altamente leais, leais divididos, leais mutantes e indecisos. As organizações devem monitorar o mercado continuamente, por intermédio do SIM (Sistema de Informações de Marketing), para estar atualizadas quanto ao comportamento dos segmentos, visando manter a base atual de clientes e conquistar aqueles clientes que estão indecisos ou oscilando entre as marcas da organização e as concorrentes. Segmentação por Benefícios A segmentação por benefícios utiliza os benefícios que grupos de pessoas esperam dos produtos ou serviços para dividir o mercado em segmentos. O mercado de café, por exemplo, pode ser segmentado em segmento gourmet (pessoas que esperam um sabor requintado e diferenciado da bebida, cremosidade e permanência da espuma superficial, aroma penetrante); segmento econômico (que espera uma bebida forte com alto rendimento do pó); segmento tradicional (que espera aroma e sabor acentuados, bebida sem amargor nem ardidos). Estratégia de Segmentação MARKETING ESTRATÉGICO E INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 41 Tendo cumprido os requisitos de elegibilidade acima descritos os segmentos devem passar por uma seleção que envolve além das suas características, os objetivos estratégicos das organizações e os seus recursos disponíveis para desenvolver uma proposta de valor e implementar estratégias de marketing visando aproveitar o potencial desses segmentos (Kotler, 1994, p. 251). As organizações podem optar por várias estratégias de segmentação para atingir seus objetivos: especializar-se em uma linha de produtos para adquirir muita experiência, vantagens competitivas e reconhecimento do seu público-alvo, como: especialização em produto, por exemplo, produção e comercialização de colchões; especializar-se em uma categoria de produtos ou em um conjunto de categorias associadas: por exemplo, lojas de pneus que fazem vários trabalhos de manutenção de suspensão, escapamentos
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