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Mariana Queiroz LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA INTRODUÇÃO • Zoonose (ou Protozoonose): ❖ Doenças transmitidas ao ser humano, por animais (no caso, por um protozoário). • Doença infecciosa não contagiosa, com evolução crônica, que atinge a pele e mucosas, causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida ao homem pela picada do flebótomo fêmea infectado, que e o vetor da doença. EPIDEMIOLOGIA • Problema de saúde pública (doença de notificação compulsória). • Segunda protozoonose transmitida por vetores, sendo superada apenas pela malária. • Incidência mundial: 2 milhões de casos novos (Azulay)/1,5 milhão de caso (Sampaio. • Incidência no brasil: ❖ 35 mil novos casos por ano (Azulay); ❖ 22 mil novos casos em 2010 (DATASUS); ❖ 23 mil novos casos em 2012 – estado mais acometido é a Bahia (DATASUS). • Relacionada a subdesenvolvimento. • Prevalência nas Américas: do sul dos EUA até o norte da Argentina. ❖ No Brasil, a doença está se disseminando, alcançando todas as regiões: atualmente os maiores focos são a fronteira sul da Amazônia e a região de Foz do Iguaçu. • Dos 88 países com casos registrados, 76 estão em desenvolvimento e somente 32 realizam a notificação compulsória. ETIOPATOGENIA • Vetores: ❖ Flebótomo/Flabotomíneo – fêmea; ❖ Gênero: Lutzomyia; ❖ Espécie: Lu. whitmani, Lu. flaviscutellata, Lu. umbratilis, Lu. intermedia • Agente etiológico: protozoário do gênero Leishmania, subgênero Leishmania e Viannia. ❖ Leishmania: compreende parasitas que se desenvolvem somente no intestino médio anterior do flebótomo. ❖ Viannia: compreende parasitas que se desenvolvem no intestino médio e posterior do flebótomo. Leishmania Leishmania amazonenses ✓ Predomina da Amazônia; ✓ Forma cutânea anérgica difusa e formas cutâneas com lesões únicas ou múltiplas; ✓ Única do subgênero Leishmania no Brasil. Leishmania Viania brazilienses ✓ Mais comum agente das formas cutâneas e mucocutâneas nas Américas e no Brasil (esncontradas em todas regiões). Leishmania Viania guyanensis ✓ Forma cutânea com lesões múltiplas; ✓ Região norte, acima do rio Amazônia. • Perfis epidemiológicos de transmissão: ❖ Silvestre: quando o homem penetra na selva e é picado pelo flebótomo infectado, rompendo, assim, acidentalmente o ciclo biológico natural da zoonose. *O ciclo biológico natural é representado pela equação: animal silvestre reservatório → flebótomo fêmea infectado → animal silvestre sadio. ❖ Ocupacional/Lazer: a incidência é preponderante no adulto masculino que realiza atividades na floresta (ecoturismo, derrubada de mata e comércio de madeira, agronegócio). *Nessas condições o ciclo passa a ser: animal silvestre reservatório → flebótomo fêmeas infectado → homem. ❖ Periurbana/rural: a adaptação do flebótomo ao peridomicílio estabelece o ciclo biológico com participação do animal doméstico ou não, e até Mariana Queiroz mesmo, do homem como reservatório. Nesse caso, a LTA acomete pessoas de todas as idades e sexos indistintamente. *Nessa condição o ciclo passa a ser: homem ou cão doente → flebótomo fêmea infectado → homem suscetível. • Reservatório: ❖ Animal silvestre: roedores, marsupiais, tamanduá, tatú; ❖ Perfil peridomiciliar/rural: animais domésticos e o homem. • Ciclo de vida: ❖ Dentre os aspectos epidemiológicos, cabe destacar que animais silvestres vertebrados (roedores, preguiças) são infectados (com ou sem manifestação clínica) pelas formas leishmânicas amastigotas (sem flagelo); ❖ O flebótomo fêmea infectado, necessitando de sangue para o desenvolvimento de sua progênie, pica o animal doente e absorve as formas amastigotas, que crescem no tubo gastrintestinal sob a forma de promastigotas (com flagelo, leptomonas); ❖ Depois pica um animal sadio, inocula, por regurgitação, as formas promastigotas, que, no hospedeiro, vão novamente transformar-se em amastigotas; ❖ E o ciclo recomeça. *A forma parasitária das leishmânias é a amastigota, isto é, ovoide e sem flagelo, intracitoplasmática nos macrófagos; *Por se tratar de um parasita intracelular obrigatório, a imunidade celular – perfil de resposta Th1 – tem papel central no controle da infecção. ✓ Nos pacientes com resposta Th1 adequada, há produção de interferon-α e IL- 2, e tendência a formas clínicas limitadas e melhor evolução da doença. ✓ Deficiência na resposta Th1 ou o desenvolvimento de um padrão de resposta Th2, com produção de IL-4 e IL-10, estão relacionados com formas mais graves da doença. ⬧ Tal situação é observada na coinfecção por HIV e Leishmania, em que ocorre mudança da resposta imune celular Th1 para Th2 e, consequentemente, formas mais agressivas, com maior número de lesões, acometimento mucoso mais frequente e pior resposta ao tratamento. Nestes pacientes, níveis elevados de TNF-α podem estar relacionados com aumento na replicação viral e progressão da infecção pelo HIV para AIDS. QUADRO CLÍNICO • Inoculação em áreas expostas (principalmente MMII e MMSS). ❖ Em geral, a lesão de inoculação é única. • Período de incubação: 2 semanas a 2 anos. • Lesão com aspecto variado: ❖ Eritema com edema e infiltração; ❖ Pápula; ❖ Verrucosidade; ❖ Úlcera: → Presente em 95% dos casos; → Caracteristicamente redonda/circula, com bordas infiltradas e elevadas (em moldura), fundo com granulação grosseira e avermelhada com exsudato discreto, seroso ou seropurulento. → Tendência a involuir espontaneamente na maioria dos casos, após 6- 15 meses, deixando cicatriz atrófica (lembra os raios da roda de uma bicicleta). *As manifestações clínicas dependem: da espécie da Leishmania; da espécie do flebótomo transmissor; do tamanho do inóculo; do estado imunológico do hospedeiro. • A partir da lesão de inoculação, pode surgir, com certa frequência, infangite centrípeta discreta e, às vezes, com adenopatia insignificante. • Disseminação hematogênica para as mucosas da nasofaringe com consequente disfunção e/ou destruição destes tecidos. ❖ Não tendem à cura espontânea e são também de morfologia variada. • Acometimento mucoso: ❖ Lesões destrutivas ou não das VAS, meses ou anos após o início da doença, em uma fase em que NÃO há mais tem leishmaniose cutânea ativa. CLASSIFICAÇÃO 1. Leishmaniose cutânea: Mariana Queiroz a. Forma Cutânea Localizada: → Acometimento primária da pele – inoculação; → Lesão única ou múltiplas lesões na pele; → Melhor prognóstico e boa reposta ao tratamento; → 3% dos pacientes evoluem com lesão mucosa. b. Forma Cutânea Disseminada: → Disseminação hematogênica; → Acomete o tronco e a face – lesões acneiformes; → 30% dos pacientes evoluem com lesão mucosa. c. Forma Recidiva Cútis: → Reativação localizada após cicatrização espontânea ou medicamentosa. d. Forma Cutânea Difusa/Anérgica: → Deficiência específica da resposta imune celular a antígenos de Leishmania. → Caracteriza-se por lesões difusas, infiltração e polimorfismo. 2. Leishmaniose mucosa: a. Forma Cutânea Tardia: → Lesão mucosa aparece anos pós leão cutânea; → Quadro clínico: lesão mucosa + cicatriz na pele. b. Forma Mucosa Indeterminada: → Não se acha cicatriz na pele. c. Forma Mucosa Concomitante: d. Forma Mucosa Primária: → Inoculação na mucosa (principalmente lábios). e. Forma Mucosa Contígua: DIAGNÓSTICO • Quadro clínico: lesões cutâneas, lesões mucosas; cicatriz atrófica pode ser um sinal. • História da procedência do paciente. • Exame direto: ❖ Exame direto corado com Giemsa: revela as formas amastigotas no interiordos macrófagos; ❖ Diagnostica 90% dos casos; ❖ Borda interna da úlcera; ❖ Quanto antes melhor: positividade diminui com a duração da lesão. • Cultura: diagnostica 80% dos casos. • Biópsia e exame histopatológico. • Teste de Montinegro: ❖ Teste intradérmico; ❖ Detecta que o paciente entrou em contato com Leishmania e desenvolveu imunidade. ❖ Peculiaridades: → Pode persistir positivo por 10 anos após contato. → Negativo na forma anérgica. → Em pacientes doentes pode ser negativo: ▪ Nas primeiras 4-6 semanas (30 dias); ▪ Nos precocemente tratados. *A reação de Montenegro é positiva na maioria dos casos de LMC, sendo, entretanto, negativa nas primeiras semanas da doença; e permanentemente negativa na forma difusa anérgica. Vale lembrar que pessoas infectadas pela leishmânia podem apresentar apenas a infecção, e não a doença, e, portanto, mostrarão positividade ao teste de Montenegro. • Testes sorológicos: imunofluorescência indireta (detecta anticorpos contra a Leishmania). • Exames moleculares: PCR (pode ser útil sobretudo nos casos de mucosos). TRATAMENTO • N-metilglucomina – EV ou IM; usar por 20-30 dias. • Anfotericina B – contraindicado para gestantes.
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