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APOSTILA CIRURGIA DE GRANDES

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1 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
FLUIDOTERAPIA 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS LÍQUIDOS CORPORAIS 
O corpo animal tem aproximadamente 60% do peso corporal em líquidos. O líquido 
presente dentro da célula denomina-se líquido intracelular (LIC) – 2/3, e, fora delas, 
líquido extracelular (LEC) – 1/3, que são separados pela membrana plasmática. É 
importante lembrar que entre as células, há líquido intersticial presente no espaço 
intersticial. Os responsáveis pelo transporte desse líquido, levando-o para o corpo e 
retornando ao coração são artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias. 
O LEC pode existir em compartimentos diferentes, por exemplo, o plasma, o interstício 
e, o líquido transcelular (1 a 6%) localizados em pequenos compartimentos do corpo – 
espaços sinoviais, peritoneais, pericárdicos, pleurais, intraoculares, líquido das vias 
digestivas e urinárias, e líquido cefalorraquidiano. 
O sangue contém LIC (hemácias) e LEC (plasma). O volume de sangue (volemia) do indivíduo corresponde 
a 7 – 8% do peso corporal. 
 
95% dos solutos estão distribuídos nos líquidos corporais – sendo o mais abundante no 
espaço intracelular o potássio, e o mais abundante no espaço extracelular o sódio. 
Outros íons importantes são os cloretos, bicarbonato, fosfato, vários íons inorgânicos 
como o cálcio. Possuem importância para a homeostase do indivíduo. 
 
CAUSAS DE DESIDRATAÇÃO 
 Falta do acesso à água – sempre questionar na anamnese 
se no local onde o animal se encontra, se possui acesso à água 
limpa e abundante. 
 Doenças que impedem o animal de se hidratar – a 
exemplo de animais acometidos pelo tétano, diarreia. 
 Refluxo – de 2 a 4L é normal; verificar o pH do líquido para 
verificar se é gástrico (entorno de 2) ou intestinal (> que 5). 
 Exercícios – 
 
SINAIS CLÍNICOS 
 Taquicardia; 
 Aumento do TPC; 
 Aumento do tempo de turgor cutâneo; 
 Ressecamento das mucosas; 
 Diminuição da produção de urina; 
 Diminuição da temperatura das extremidades – vasoconstrição periférica; 
Sódio é fundamental 
para a osmolaridade. 
Solução hipertônica 
salina (excesso de 
principalmente sódio) 
é utilizada em casos 
onde o animal está 
prestes a sofrer 
choque hipovolêmico, 
fazendo com que o 
sódio puxe toda a 
água do interstício de 
volta para o leito 
vascular. 
 
 
2 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
 Depressão – principalmente potros; 
 Choque. 
 
 
TIPOS DE FLUIDOS 
O ideal é utilizar o aparelho de hemogasometria afim de verificar o ph, as pressões de 
oxigênio e CO2, e a presença dos íons. A partir dessa observação é possível identificar 
se o animal está em acidose ou alcalose e se é metabólica ou respiratória, e com base 
nisso é estabelecido o protocolo de tratamento. 
Algumas doenças são descritas causadoras de alterações do Ph do animal, sendo uma 
delas, o abdômen agudo e/ou diarreia, proporcionando a acidose metabólica. Porém 
não se sabe o quanto que esse Ph está alterado, então na dúvida, utiliza-se o ringer com 
lactato. 
Líquidos colóides: 
Utilizados em situações em que o indivíduo apresenta uma hipoproteinemia 
(relacionada principalmente com albumina < 2g/dL). Caso não seja administrado, a 
possibilidade desse líquido não permanecer no leito vascular é enorme, ou seja, o 
indivíduo não vai possuir pressão oncótica da proteína plasmática no leito vascular para 
que esse líquido que saiu para o interstício retorne para o leito vascular – quadros de 
edema. 
 Plasma; 
 Dextran 40 e 70; 
 Polímeros de gelatina (Haemacel e Polisocel). 
 Voluven. 
Líquidos cristaloides: 
Geralmente utilizado para repor volume e correção de alterações relacionadas com 
eletrólitos e o equilíbrio ácido-base. 
 Ringer com Lactato; 
 Ringer simples; 
 Soro glicofisiológico (glicose a 5% e NaCl a 0,9%); 
 Soluções hipertônicas. 
 
 
3 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
 
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 
Via enteral – administração a partir da sonda por via oral (ruminantes – sonda 
ororuminal; equídeos – sonda nasogástrica). 
Via parenteral – subcutânea; intravenosa; intraperitoneal. É descrita também a via 
intraóssea, principalmente para neonatos. 
A escolha das vias de administração vai depender do grau de desidratação. Caso seja 
uma desidratação leve, as vias oral e subcutânea podem ser utilizadas. Porém, em graus 
mais elevados, a intravenosa é a de escolha, em situações que não se consiga canular as 
veias, lança-se mão da via intraperitoneal ou intraóssea. 
INDICAÇÕES DAS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 
Via enteral 
 Desidratação leve; 
 Manutenção; 
 Quando não houver refluxo; 
 Presença de motilidade intestinal. 
Dependendo do porte do animal, é possível fazer de 5 a 8 litros a cada 30 min a 1 hora. 
Componentes para hidratação enteral equinos: 
10g de NaCl 
75g de KCl 
15g de NaKCO3 
60g de K2HPO4 
2l de água 
Via parenteral 
 Desidratação moderada e severa; 
 Impedimento de absorção gastrointestinal; 
 Ausência de motilidade intestinal; 
 Endotoxemia; 
 Doença renal aguda. 
TIPOS DE MATERIAL UTILIZADOS PARA ADMINISTRAR OS FLUIDOS 
 Cateter – variam de acordo ao tamanho do animal. Quanto maior o número, 
menor é o diâmetro (14 e 16); 
 Scalp – mais utilizado em perfusões regionais; 
 PRN – 
 Cateter de acesso venoso central – utilizado principalmente para tratamentos 
longos (quimioterápicos, hemodiálise). 
 
4 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
 
CÁLCULOS DE ADMINISTRAÇÃO 
 Volume de reposição (VR) 
VR = grau de desidratação x peso kg 
 
 Volume de perdas atuais (VPA) - casos de diarreia, refluxo, vômitos 
VPA = volume estimado das perdas ou 50 – 70ml/kg/dia 
 
 Volume de manutenção diária (VMD) – necessidade diária de ingestão 
VMD = 50 – 100ml/kg/dia 
VELOCIDADE DE ADMINISTRAÇÃO 
 VR – ½ em 1 hr = 2 horas 
 VPA e VMD – ideal entre 22 e 24 horas 
 Sempre recalcular as perdas atuais. 
 
 Intravenosa rápida (VR) – 2 a 4 horas (depende do tamanho do animal); 
 Intravenosa contínua (VPA e VMD) – 12 a 24 horas; 
 Enteral – 5 a 8L a cada 40min (depende do tamanho do animal). 
CASO CLÍNICO 
 Equino, 400kg, com 8% de desidratação. 
VR = 0,08 x 400 = 32L 
VMD = 400 x 70ml = 28.000ml – 28L 
 
Velocidade de administração: 32L até 2 horas + 28L até 22 horas = 60L por dia 
 
 Equino, 16 anos, 500kg, castrado, cavando, querendo deitar, olhando para o 
flanco. Ao exame físico, aumento de FC, FR, TPC 2 – 3s, turgor cutâneo 2 – 3s, 
sem refluxo, palpação retal com compactação de flexura pélvica. 
VR = 0,05 x 500 = 25L 
VMD = 500 X 70ml = 35.000ml – 35L (via de adm – enteral) 
 
Velocidade de administração: 25L até 2 horas + 5 a 8L a cada 40 min = 35L = 60L 
por dia 
 
 Equino, 2 anos, 230kg, fêmea, apresentando diarreia. Ao exame físico, a cauda 
apresentava-se bastante suja, aumento de FC, FR, TPC 4s, turgor cutâneo 4s. 
VR = 0,08 x 230 = 18,4L 
VP = 50ml x 230 = 11.500 – 11,5L 
VMD = 70ml x 230 = 16.100 – 16,1L 
Velocidade de administração: 18,4L até 2 horas + 17,6L até 22 horas = 36L por 
dia 
SEMPRE REAVALIAR! 
 
 
5 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
CÁLCULO DE VELOCIDADE 
½ L = 500ml 
500ml em 60min = 8,4ml por minuto 
Equipo macrogotas: 1ml = 20 gotas 
 
8,4 x 20 = 168 gotas/min – cada minuto corresponde a 60 segundos, logo: 
168/60 = 2,8 gotas/segundos. 
Conta em 10s, que corresponde a 28 gotas. 
 
 
PARATOPIAS 
 
EVENTRAÇÃO 
Consiste em uma ampla abertura da parede abdominal (mais comum, mas não apenas 
ela) com saída das vísceras da cavidade recobertas porperitônio e pele. 
 
EVISCERAÇÃO 
Exposição de vísceras. Boa parte das vezes ocorre por deiscência de sutura ou pode 
ocorrer a partir de uma ferida perfurante (ex.: atividade com bovino com chifre). 
Diferenciar de prolapso, onde a saída das vísceras ocorre a partir de um orifício natural 
do paciente. 
 
HÉRNIA 
 
Saída ou projeção de um ou mais órgãos ou parte dele da 
sua cavidade natural por meio de uma abertura que pode 
ser congênita ou adquirida. Na hérnia, as vísceras não têm 
contato com o meio exterior. Incidência de 10% em 
grandes animais. As hérnias podem ser classificadas a 
partir da sua localização anatômica, conforme a sua 
estrutura e a alteração funcional. 
▪ Quanto a localização: 
Hérnia umbilical; 
Hérnia inguinal ou inguino-escrotal; 
Hérnia perineal; 
Hérnia diafragmática; 
Hérnia abdominal ou incisional. 
 
6 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
▪ Conforme a estrutura: 
Saco; 
Anel; 
Conteúdo. 
▪ Quanto a alteração funcional: 
Avaliar temperatura local, se o animal apresenta dor na manipulação, e se é 
passível de devolver o conteúdo por meio do anel para a cavidade de origem - 
redutíveis ou irredutíveis. Nos casos de hérnias irredutíveis, as vísceras 
encontram-se em sofrimento, pode haver presença de aderências na parede do 
saco herniário, e as vezes, só irá conseguir reposicionar as vísceras por meio de 
uma abordagem aberta. Quando são redutíveis, é passível de se fazer ou não o 
processo de redução com a hérnia fechada, não sendo possível de nenhuma 
maneira realizar essa técnica nos casos de hérnias irredutíveis. 
As hérnias podem apresentar o seu conteúdo encarcerado, quando as vísceras não 
conseguem retornar ao seu local de origem, podendo tornar-se inflamadas, 
promovendo a congestão, gangrena, evoluindo a estranguladas, quando há 
comprometimento de circulação sanguínea – hipoxemia e hipoperfusão – e 
posteriormente, a necrose desse segmento. Uma vez necrosado, a microbiota presente 
naquele local ganha a circulação sistêmica, há o rompimento do segmento e a 
contaminação do peritônio (peritonite). 
Quanto a etiologia, as hérnias podem ser de origem congênita ou adquiridas. Boa parte 
das vezes, as hérnias adquiridas estão relacionadas com algum tipo de defeito. E a 
ocorrência das hérnias dependem de fatores predisponentes e fatores determinantes. 
 Fatores predisponentes: 
 
▪ Regiões que são mais frágeis, tornando-se predisponentes para complicações 
relacionadas as hérnias, que são elas: umbigo, fundo da pelve, anéis inguinais 
externos e o diafragma; 
▪ A depender da espécie a localização das hérnias podem ser mais frequentes. Ex.: 
hérnias inguino-escrotais em garanhões; 
▪ Raça; 
▪ Idade. Ex.: hérnias umbilicais em neonatos; 
▪ Gênero; 
▪ Tipo de atividade exercida pelo animal; 
▪ Fatores hereditários; 
 
 Fatores determinantes: 
 
▪ Aumento da pressão intracavitária no abdômen, a partir de tosse, tenesmo, 
prenhez, cobertura, trabalhos pesados, ascite...; 
Os sinais clínicos estão relacionados com aumento de volume, dependendo do órgão 
herniado, o paciente pode apresentar dor abdominal, apatia, depressão, dificuldade 
respiratória, aumento de um ou dois lados da bolsa escrotal (aumento de temperatura 
inicialmente, evoluindo para uma hipotermia). 
 
7 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
O diagnóstico é feito a partir da anamnese, do histórico do paciente, realizar a inspeção 
afim de observar o aumento de volume, reconhecer as regiões anatômicas que são mais 
frágeis, realizar a palpação. Em casos de hérnias inguino-escrotais, é possível realizar a 
auscultação da motilidade intestinal na bolsa escrotal, evidenciando hipomotilidade e 
hipotermia é muito provável que a alça encarcerada esteja em isquemia. No exame 
complementar, lança-se mão de exames de imagem (radiografia e ultrassonografia). No 
diagnóstico tem que se estabelecer se a hérnia é congênita ou adquirida, se é direta – 
saindo da cavidade, passando pelo anel e apresentando-se no saco herniário – ou 
indireta – saindo da cavidade abdominal, passando pelo anel inguinal interno e externo, 
chegando na bolsa escrotal –, tempo de evolução (urgência ou emergência). 
As complicações das hérnias são decorrentes, muitas vezes, da forma em como ela se 
apresenta, e ter atenção caso haja a necessidade de fazer a punção da região para que 
não ocorra a perfuração das vísceras. O prognóstico é variado – bom a reservado – vai 
depender do tipo de hérnia e do tempo de evolução. Nas hérnias hereditárias a 
instrução ao tutor é proceder a orquiectomia. É necessário a fluidoterapia para fazer a 
reposição hidroeletrolítica desse paciente. Caso seja observado que o paciente se 
encontra com algum tipo de complicação, é passível de realizar a antibioticoterapia 
como medida profilática, a exemplo dos casos de hérnia inguino-escrotal onde as alças 
intestinais já se encontram desvitalizadas e o paciente já entra para a cirurgia com algum 
grau de infecção. Também é necessário atentar-se nos casos onde o paciente já se 
encontra em choque, sepse ou SIRS, lança-se mão de avaliar se o animal tem condições 
de ir para a mesa. 
Dificilmente é possível devolver e manter uma alça intestinal ou outras vísceras na sua 
região anatômica correta de forma manual, sendo necessária o procedimento cirúrgico. 
E o que vai depender do momento em que ele irá para a cirurgia, é se o paciente 
encontra-se em urgência ou emergência ou não. O objetivo do tratamento cirúrgico é 
redução da hérnia, e devolução e a manutenção dos órgãos que se encontram fora do 
seu local anatômico correto. Para que seja possível manter o conteúdo no seu local de 
origem, é necessário fazer a correção do defeito presente na região – herniorrafia 
(sutura do anel herniário). 
O tratamento clínico é descrito em literatura o uso de faixas compressivas. Porém, 
geralmente não são eficazes. Caso não esteja bem localizada, a compressão exercida 
pela faixa pode proporcionar um estrangulamento das vísceras presentes no saco 
herniário. Pode ser usada em casos de contenção para que não haja passagens maiores 
das vísceras. 
O procedimento pré-cirúrgico consiste: 
• Realização de uma consulta prévia; 
• Exames laboratoriais – exceto nos casos de urgência e emergência; 
• Jejum quando são eletivas; 
• Tricotomia; 
• Antissepsia; 
• Anestesia geral e local (na hérnia diafragmática não é realizada a anestesia 
inalatória). 
 
8 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
A incisão cirúrgica em pele ou subcutâneo pode ser realizada em elipse ou meia-lua, 
desviando de vasos cutâneos, prosseguindo com a divulsão romba do subcutâneo até 
chegar ao saco herniário. O saco herniário e o conteúdo é devolvido para a cavidade e 
prossegue com a rafia do anel. (Esse procedimento só é realizado quando se tem a 
certeza que não há nenhuma complicação no conteúdo herniado!) Em casos de hérnias 
irredutíveis, é realizada a avaliação das vísceras e caso seja necessário, proceder com a 
exérese das mesmas. Procede-se com a rafia do saco e do anel herniário. 
Quando são redutíveis pode ser feita a técnica aberta – abrir o saco herniário – para acessar o conteúdo, 
devolvê-lo e fechar o defeito. Quando é irredutível, obrigatoriamente tem que ser feita a técnica aberta. 
Quando há oclusão do fluxo sanguíneo, há também a liberação de radicais livres e outros 
produtos que são tóxicos ao organismo. Quando a circulação está comprometida, esses 
radicais livres e produtos tóxicos estão restritos aquele local, uma vez desfeita a oclusão 
e o restabelecimento do fluxo sanguíneo, os mesmos tendem a ganhar a circulação 
sistêmica e provocam uma endotoxemia (SIRS). 
Para a rafia do anel herniário é utilizado o padrão de sutura interrompido, podendo ser 
de aposição ou de sobreposição deMayo (jaquetão), o fio é inabsorvível nylon 
(formando uma fibrose). Alguns autores recomendam a sutura de Sultan para a rafia do 
anel inguinal (proporciona uma boa tensão). A rafia do saco herniário (subcutâneo) é 
feita com fio absorvível poligalactina 910 2-0, no padrão de sutura simples contínuo ou 
isolado. A depender da localização e do tamanho do defeito, lança-se mão de realizar a 
excisão do espaço morto para não criar seroma. O fechamento de pele é feito com um 
fio que não tenha capilaridade e que seja barato – fio inabsorvível (poliamida/nylon 
monofilamentar). 
As telas utilizadas podem ser orgânicas ou sintéticas (absorvíveis, parcialmente 
absorvíveis ou não absorvíveis), geralmente são utilizadas quando os defeitos são muito 
grandes e a tensão feita na rafia não é suficiente para fechá-los, provocando a sua 
reabertura. 
Para o pós-operatório: 
• Limpeza do curativo diário (solução fisiológica + clorexidine); 
• Flunixin meglumine; 
• Antibioticoterapia. 
• Remoção da sutura de 10 a 20 dias; 
• Fluidoterapia de suporte – se necessário; 
 
 
INFECÇÕES CIRÚRGICAS 
 
SIRS – Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica – ocorre quando há algumas 
condições referentes ao paciente, a exemplo de parâmetros fisiológicos (temperatura, 
FC e FR) e a quantidade de leucócitos. Em casos de pacientes apresentando hipertermia 
ou hipotermia somado a outras condições, pode se enquadrar na SIRS. Temperaturas 
elevadas indicam início da SIRS, ao passo que a diminuição da temperatura indica que a 
SIRS estava presente a mais tempo tendendo ao choque séptico e morte. Animais 
 
9 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
apresentando leucocitose (aumento de neutrófilo, monócito e/ou linfócito) é indicativo 
de infecção. O prognóstico pode ficar ruim se o animal apresentar uma leucopenia. Os 
ruminantes cursam primeiramente com uma leucopenia e depois uma leucocitose. 
Infecção – qualquer tipo de resposta inflamatória mediante à invasão de algum agente 
etiológico. 
Bacteremia – presença de bactérias na corrente sanguínea. 
Sepse – resposta sistêmica maior que a SIRS frente à infecção. Infecção mais grave. 
Comprometimento de um ou mais órgãos decorrentes da hipoperfusão e hipotensão 
dos tecidos. O primeiro órgão que geralmente apresenta uma falência mais marcada é 
o rim. 
Choque séptico – o organismo pode não responder as terapias. Difícil de reverter. A 
medida que o paciente vai ficando hipotenso, hipotérmico e hipoperfundido, o 
metabolismo fica cada vez mais debilitado e produzindo mais ácido lático e o balanço 
energético cada vez mais negativo, proporcionando o quadro de acidose bastante 
elevado, evoluindo a óbito. 
Síndrome da disfunção orgânica múltipla – falência múltipla de órgãos. 
 
INFECÇÃO A PARTIR DOS FATORES RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO: 
 Estado de saúde – principalmente a imunidade do paciente; 
 Idade – haja em vista que em grandes animais, até os 6 meses de idade o filhote 
tem apenas a imunidade passiva adquirida pela mãe. Idosos são susceptíveis por 
conta da diminuição do metabolismo, envelhecimento de células; 
 Infecções concomitantes; 
 Sexo; 
 Escore corporal – equinos obesos submetidos a celiotomia exploratória possuem 
tendência a hérnia incisional; 
 Falha na transferência da imunidade passiva; 
 Uso de corticoides – por conta da sua atuação impedindo a marginalização dos 
leucócitos, impedindo diapedese. 
INFECÇÃO A PARTIR DOS FATORES RELACIONADOS AO MICRORGANISMO: 
 Quantidade de microrganismos - 105 a 10⁶ bactérias/grama de tecido; 
 Local de infecção – lugares pouco irrigados não possuem vascularização para a 
chegada dos leucócitos para combater a infecção; 
 Virulência – a depender do agente etiológico, ele vai possuir um grau de 
virulência maior ou menor; 
 Evasão; 
 
INFECÇÃO A PARTIR DOS FATORES RELACIONADOS À CIRURGIA: 
 Cirurgia eletiva x cirurgia de emergência – pacientes que chegam em emergência 
não se encontram na homeostase, no estado físico fisiológico. Em casos de 
 
10 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
cirurgia eletivas em que o animal se apresenta anêmico, é passível de corrigir a 
anemia antes de realizar o procedimento cirúrgico. 
 Duração da cirurgia – quanto mais demorado for a cirurgia, maiores são as 
chances de infecção, pois o animal estará exposto ao ambiente. 
 Contaminação da ferida – quando o paciente já apresenta alguma ferida 
contaminada. Caso não seja retirado todo o tecido desvitalizado e infeccionado, 
a probabilidade de o animal permanecer com a infecção é grande. 
 Extensão da lesão tecidual – quanto mais tecido lesionado o animal apresenta, 
maiores as chances de infecções nesse local. 
 Tipos do fio de sutura – as duas características específicas relacionadas ao fio de 
sutura são: capilaridade; fios que apresentam capilaridades não são usados (fios 
de seda) e fios multifilamentar; alguns tipos de fios multifilamentar possuem 
uma capacidade de reter bactérias. 
 
ABCESSO 
 
Coleção de pus, circunscrita, em uma cavidade 
não formada, recoberta por uma membrana 
piogênica. Encontrados geralmente no corpo 
todo, exceto no dente, dentro do osso e 
cartilagem. Alguns abcessos são tratados 
clinicamente afim de acelerar a sua maturação, a 
camada entre o abcesso e a pele tende a ficar 
mais adelgaçada, podendo romper ou, caso não 
rompa, é realizada a remoção cirúrgica do 
abcesso. 
A etiologia pode estar relacionada com diversos agentes etiológicos, e a patogenia 
consiste em o organismo tentar isolar a infecção. E o desenvolvimento estar relacionado 
ao estado geral do paciente, idade, virulência e a presença de um corpo estranho (a 
exemplo de um fio cirúrgico). 
O objetivo na cirurgia é eliminar o agente etiológico ou então o corpo estranho. Os sinais 
clínicos vão variar de acordo a qual fase o abcesso se encontra e na localização. O que é 
sempre observado é o aumento de volume, e se houver de fato a tentativa do organismo 
de expulsar esse conteúdo, boa parte das vezes é encontrado um trajeto fistuloso. 
Em geral, os sinais clínicos consistem em: 
▪ Edema; 
▪ Dor; 
▪ Calor; 
▪ Rubor; 
▪ Anorexia; 
▪ Sepse. 
 
 
11 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
CLASSIFICAÇÃO: 
▪ Quanto ao tipo: agudo ou crônico. 
▪ Quanto a localização: superficiais ou profundos. 
▪ Quanto a evolução: imaturos ou maduros – ponto de flutuação (procedimento 
cirúrgico). 
O diagnóstico consiste inicialmente no exame clínico, podendo observar a presença do 
abcesso quando são superficiais – evidenciando o aumento de volume – determinar se 
são superficiais ou profundos. Realizar a palpação e analisar em que fase o abcesso se 
encontra (estágio inicial – o animal permanece no tratamento clínico com anti-
inflamatório, antibiótico e compressa quente na região. Estágio de flutuação – opta-se 
pela cirurgia). Pode lançar mão do exame de ultrassonografia, evidenciando uma 
imagem com uma superfície bastante regular, circunscrita, com conteúdo anecoico. A 
laparotomia e a celiotomia exploratória fazem parte do diagnóstico, assim como a 
necropsia. É importante realizar a colheita do material do abcesso e fazer um 
antibiograma, afim de saber qual o antibiótico específico que deve ser administrado. 
O tratamento clínico é feito a partir do tratamento de suporte. A antibioticoterapia é 
variável, haja em vista que alguns antibióticos não penetram na membrana piogênica, 
pode ser realizada para prevenir que outras regiões sejam contaminadas. Anti-
inflamatório não esteroidal, principalmente na fase aguda. Utilização de compressas 
quentes auxiliando na maturação do abcesso e fazendo com que ele alcance a fase de 
flutuação e aliviando a dor local. Pomadas com iodo, pois esse composto possui um 
poder residual paramaterial orgânico muito grande. 
O tratamento cirúrgico é realizado quando o abcesso se encontra na fase de 
flutuação/fase crônica. O ideal é que a incisão seja feita em elipse, divulsionar o abcesso 
e retirá-lo fechado, porém nem sempre é possível. É preciso ter cuidado ao manusear 
esse abcesso para que não haja contaminação ao médico veterinário e ao ambiente. Em 
casos em que não é possível remover o abcesso fechado, realiza-se a incisão em elipse, 
e prossegue com a curetagem e desbridamento da membrana piogênica. Administrar 
antissépticos (eleição – iodo) no local com auxílio de uma “bonequinha” de gaze e deixa-
la dentro da cavidade. O curativo é feito diariamente e consiste na remoção da gaze e 
lavagem com sabão neutro ou clorexidine, e é feita novamente a “bonequinha” de gaze 
embebida do iodo. Passar repelente ao redor! Dependendo da gravidade e da 
localização, lança-se mão de antibioticoterapia sistêmica. 
A principal complicação do abcesso é a sepse, principalmente quando estão localizados 
em intracavitários torácicos ou abdominais e é rompido. O prognóstico geralmente é 
bom, principalmente em abcessos superficiais. Dependendo do local e da evolução do 
quadro, é possível ter um prognóstico melhor. 
No que diz respeito a cirurgia, a maior casuística de abcessos está relacionada com o fio 
de sutura ou quando não é feita uma antissepsia adequada, nesses casos o organismo 
tenta restringir o corpo estranho formando o abcesso. Os fios que mais provocam 
reações são o fio de nylon, fio de seda, fio de algodão e o fio dental. 
 
 
12 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
FLEGMÃO 
 
É um processo infeccioso onde há uma coleção de pus difuso 
no tecido conjuntivo, sem a tendência de fazer uma 
circunscrição pois não tem a membrana piogênica. Não é 
delimitado em uma cavidade! 
A etiologia está relacionada com a presença de um agente 
etiológico. E os sinais clínicos dependem da região, caso esteja 
no membro, o animal irá apresentar claudicação, caso presente 
no pescoço, o animal apresentará dificuldade em mover a 
cabeça ou de beber água e se alimentar. É possível observar a 
presença de pus na região. No geral, a pele apresenta-se 
edemaciada, com calor, rubor, muita dor. 
Os períodos do flegmão consistem em: 
▪ Inflamatório; 
▪ Supuração; 
▪ Disseminação pelos tecidos; 
▪ Reparação – tecido conjuntivo é substituído por tecido fibroso. 
O diagnóstico é feito a partir do exame clínico e a observação da lesão. Muitas vezes são 
fáceis de serem identificados, ainda mais em animais que possuem peles 
despigmentadas. Observar se há presença de pus. Boa parte das vezes não é necessário 
fazer a punção. Lança-se mão da radiografia para observar a extensão da lesão, 
principalmente quando é em membro distal, observar se o flegmão atingiu a articulação 
ou osso. 
O tratamento é cirúrgico. Porém, pode ser realizada uma forte antibioticoterapia e 
avaliar a evolução, caso não haja resposta, o paciente é encaminhado para a cirurgia. É 
realizado o desbridamento cirúrgico, removendo todo o material contaminado. A 
incisão vai depender da localização. 
O pós-operatório consiste em antibioticoterapia forte, o ideal é que haja conhecimento 
do agente etiológico e com isso, utilizar o antibiótico específico. Caso não seja possível, 
administrar penicilina ou oxitetraciclina. O curativo é feito, pelo menos, uma vez ao dia. 
A primeira troca do curativo é realizada com 48 – 72 horas após o desbridamento, 
quando o flegmão está localizado em membros. Utilizar antibiótico tópico! Administrar 
anti-inflamatório não esteroidal. 
A complicação está quando o proprietário demora de encaminhar o paciente, o quadro 
evolui e o animal entra em sepse, evoluindo a óbito. O prognóstico vai depender do 
comprometimento e extensão da lesão. 
 
13 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
 
 
 
 
 
 
DISTROFIAS CIRÚRGICAS 
 
As distrofias cirúrgicas são alterações em tecidos específicos e podem causar distúrbios 
por ações exógenas. Geralmente são classificadas a disfunção do metabolismo do tecido 
afetado e, com o trauma constante, observa-se a alteração crônica dessas células. O 
organismo no intuito de promover a cicatrização, vai proporcionar que o tecido afetado 
seja modificado por tecido fibroso. A depender do local, é passível de acontecer a perda 
de função. Das distrofias cirúrgicas mais comuns, temos: 
▪ Anquilose; 
▪ Higroma; 
▪ Úlcera; 
▪ Gangrena, e; 
▪ Fístula. 
 
ANQUILOSE 
 
Diminuição ou impossibilidade de movimento de uma determinada 
articulação móvel, podendo ser parcial ou completa. Na anquilose 
observa-se uma inflamação crônica das estruturas articulares 
causando distúrbios a ponto de o tecido ser substituído por fibrose. 
Um dos casos mais comuns em grandes animais é a osteoatrite do 
tarso dos equinos, onde é observado anquilose das fileiras do tarso, 
na radiografia é visualizado uma porção de reabsorção e 
consolidação óssea, promovendo fusão dos dois ossos. 
É possível acelerar esse processo de forma cirúrgica realizando a 
artrodese, que pode ser feita tanto química (utilizando álcool 70%) 
ou com pinos. 
 
ABCESSO x FLEGMÃO x EMPIEMA 
Presença de pus 
em 
uma nova 
cavidade. 
Presença de pus 
difuso no 
tecido conjuntivo 
frouxo. 
 
Presença de pus 
em cavidade 
natural do corpo. 
 
14 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
HIGROMA 
 
É o espessamento da cápsula articular com acúmulo de 
líquido. Pseudocistos – são formações que não possuem 
revestimento epitelial ou sinovial. Os sinais clínicos estão 
relacionados com aumento de volume nas articulações. O 
tratamento consiste em educar o tutor e fazê-lo entender 
que a afecção é por conta de manejo inadequado (animais 
estabulados, sem cama adequada, traumas na articulação), 
não é necessário realizar a remoção cirúrgica, apenas para 
fins estéticos. Pode ser feita a punção e administração de corticoide. Se não remover a 
causa primária, tem recidiva. 
A correção cirúrgica consiste em uma incisão em elipse, divulsionar e retirar o higroma 
em bloco. Posterior rafia da pele. 
 
ÚLCERA 
 
É a perda da continuidade típica de epitélio de revestimento (pele 
e mucosa). Quando o animal apresenta úlceras, dificilmente 
consegue passar por as três etapas de cicatrização. A 
característica morfológica da úlcera, consiste em presença de 
material necrótico superficial na região central, e na periferia a 
presença de infiltrado inflamatório. Toda úlcera tem fundo, 
borda e secreção. No fundo da úlcera, geralmente, é encontrado 
a porção necrótica e o agente etiológico, a borda pode ser regular 
ou irregular e é a transição do tecido danificado e tecido sadio, e a 
secreção vai depender do agente etiológico. 
Na úlcera oral é possível observar as camadas em que o tecido está agredido. Quando 
presentes no intestino, e esteja de forma muito profunda ultrapassando todas as 
camadas, é possível de ocorrer um rompimento e extravasamento de conteúdo para a 
cavidade peritoneal. 
Caso as úlceras estejam em estágio inicial, é possível tratar de uma forma adequada. Em 
grandes animais são descritas muitas úlceras no trato gastrointestinal por uso 
indiscriminado de anti-inflamatórios não seletivos e pelo estresse em que os animais são 
submetidos. Nesses casos, as complicações maiores irão se relacionar com diminuição 
da produção, hiporexia, emagrecimento crônico e progressivo. Se não forem tratadas, e 
as úlceras virem a ser bastante profundas ao ponto de atingir as camadas mais 
profundas do órgão em que elas estão localizadas, ocasiona uma ruptura, provocandonos equinos a SIRS ou sepse podendo evoluir ao óbito, e nos ruminantes relata-se uma 
peritonite focal e não de forma generalizada como nos equinos. 
O prognóstico na grande maioria das vezes é bom e é possível retornar a sua função. 
 
15 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
Fatores predisponentes: 
 Porta de entrada; 
 Debilidade orgânica do metabolismo tecidual do local (animais 
anêmicos/desnutridos/doenças 
infecciosas/estresse/uremia/parasitismo/tumores). 
Fatores determinantes: 
 Irritações; 
 Agressões constantes ao tecido – mecânicas ou químicas. 
Classificações das úlceras: 
 Quanto a etiologia: 
▪ Idiopática – localizada. Ex.: úlcera de córnea; 
▪ Sintomática – generalizada. Ex.: estomatite. 
 Quanto a evolução: 
▪ Aguda; 
▪ Crônica. 
 
FÍSTULAS 
 
São trajetos acidentais que vão permitir passagem de secreções/líquidos do organismo. 
Essas fístulas podem ser classificadas como: 
• Secretórias – quando esses líquidos são fisiológicos; 
• Purulentas – quando esse processo é patológico. 
Independente dos dois tipos, as fistulas apresentam-se como trajetos incorretos da 
secreção fisiológica, e a presença constante dessa secreção impede a cicatrização. Das 
fístulas secretórias relata-se trajetos errôneos de saliva, leite, urina ou fezes, e das 
fístulas purulentas podem originar-se de um corpo estranho, sequestro ósseo ou 
qualquer outra contaminação em tecidos mais profundos, em que o organismo na 
tentativa de expulsar esse corpo estranho acaba causando o trajeto fistuloso. 
As fistulas são dividias em três porções: 
1. Orifício ou bordo – meio externo por onde está drenando a secreção produzida; 
2. Trajeto – por onde o líquido passa; 
3. Fundo – onde está localizada a origem do líquido. Em fístulas patológicas, é o 
local onde está contido o corpo estranho. 
Sinais clínicos dependem da classificação, localização e se haverá perda de função. 
Comum em equinos – fístulas mandibulares. Pode ser observado um aumento de 
volume quando a fístula está mais superficialmente. O local estará úmido ou drenando 
secreção purulenta. 
O diagnóstico é feito a partir da observação da queixa principal relatada pelo tutor. 
Realizar o histórico clínico do paciente e exame físico. Identificado o local da fístula, 
 
16 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
pode lançar mão de uma sonda uretral para explorar o trajeto, ultrassonografia para 
observar o conteúdo, e realizar uma fistulografia. Esse procedimento consiste na injeção 
de um corante (azul de metileno) e realizar a radiografia da região da fístula; também é 
possível colocar um objeto metálico (agulha hipodérmica) no trajeto fistuloso e 
radiografar. Outro método de diagnóstico é realizar a colheita do material presente na 
fístula e proceder com um antibiograma. 
As fístulas dificilmente se resolveram sozinhas, é necessário o tratamento cirúrgico para 
restabelecer o fluxo normal dessa secreção quando fisiológica ou interromper o fluxo 
das fístulas purulentas com a remoção da causa primária. O procedimento cirúrgico 
consiste na incisão ao redor dos bordos da fístula, posicionar uma pinça Allis e com o 
auxílio de uma tesoura romba-romba, realizar a divulsão romba do trajeto até chegar ao 
fundo da fístula. A depender do tecido acometido, realizar a lavagem com antisséptico 
e o fechamento do espaço morto criado a partir da divulsão com fio sintético absorvível 
0 – 2-0, rafia do subcutâneo em zig zag e aposição da pele com padrão de sutura simples 
isolado/contínuo ou Sultan (depende da quantidade de pele disponível). 
O pós-operatório consiste em 3 dias de anti-inflamatório, soro anti-tetânico, e nos casos 
de fístulas patológicas onde houve rompimento ou falha na técnica de antissepsia, 
lança-se mão de antibioticoterapia. Pode ser feito terapia com ultrassom terapêutico 
para diminuir edema ou formação de seroma. 
As complicações vão depender do local, extensão e do tempo de evolução da fístula. O 
prognóstico na maioria das vezes é bom. 
 
TRAUMATOLOGIA 
 
O traumatismo, do grego, significa ferida, e dentro da traumatologia relata-se feridas de 
diversos tamanhos e extensões. A razão dos traumas é diversa, desde ação violenta de 
natureza física ou química, acidentais ou deliberadas, ou feridas cirúrgicas. O 
traumatismo de pele pode cursar com uma perda de continuidade do tecido, formando 
uma solução de continuidade. As feridas obrigatoriamente são abertas, sempre 
apresentando a perda tecidual de continuidade. 
FERIDAS 
 
Cicatrização – a necessidade do tecido em promover a epitelização e reconstituir o 
defeito que foi ocasionado pelo trauma; restabelecer a continuidade do tecido 
traumatizado. O principal objetivo da cicatrização é que os tecidos lesionados tenham 
um bom processo cicatricial, associado ao restabelecimento da função do tecido e a uma 
boa estética. 
Classificação das feridas: 
• QUANTO AOS PLANOS ANATÔMICOS: 
▪ Superficiais; 
 
17 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
▪ Profundas – exposição de outras estruturas, inclusive tecido ósseo. 
 
• QUANTO AO GRAU DE CONTAMINAÇÃO: 
▪ Limpas – são feridas que foram criadas em ambiente cirúrgico e em 
condições assépticas; 
▪ Limpas contaminadas – são feridas que possuem uma mínima 
contaminação, porém esta contaminação pode ser efetivamente 
removida; feridas ocorridas em até 4 horas; 
▪ Contaminadas – são aquelas em que a contaminação é intensa devido a 
presença de corpos estranhos, porém sem sinais de infecção; não realiza 
sutura; ocorridas acima de 4 horas; 
▪ Sujas e infectadas – são caracterizadas pela presença de reação 
inflamatória e destruição de tecidos, além de processo infeccioso em 
curso; ocorridas acima de 12 horas; todas as feridas por mordida de cão 
é descrita como sujas e infectadas; não realiza sutura. 
 
• QUANTO A APRESENTAÇÃO CLÍNICA CIRÚRGICA: 
▪ Aberta – perda de continuidade tecidual; presença de solução de 
continuidade; 
o Penetrantes – ocasiona a perfuração de todas as camadas 
alcançando cavidades, onde geralmente resultam em perfuração 
de vísceras. 
o Perfurantes – causadas por picadas, mordidas, gravetos... 
o Punctórias – causada por elementos perfurantes como pregos e 
estiletes. 
o Incisas – é a ferida causada por objeto cortante e possui bordas 
irregulares. 
o Laceradas – é criada pelo rompimento dos tecidos e apresenta 
bordas irregulares; causa lesão variável ao tecido superficial e 
profundo. Ex.: feridas por arame. 
o E outras – acidentes por animais peçonhentos ou armas de fogo. 
▪ Fechada – peles e mucosas integras. 
O processo de cicatrização é dividido em dois tipos: 
• A cicatrização com regeneração dos tecidos, ou seja, o tecido lesionado vai ser 
substituído por um tecido morfofuncional semelhante. 
• Ou na reparação, onde o tecido lesionado será substituído por outro tecido 
diferente ao original, e geralmente, é um tecido fibroso. 
As fases da cicatrização são: 
• Fase aguda da inflamação – inicia-se logo após a ocorrência da ferida. A fase 
inflamatória promove a ativação do sistema de coagulação sanguínea e a 
liberação de mediadores químicos. Os neutrófilos presentes, liberam enzimas e 
produtos tóxicos do oxigênio, facilitando dessa forma a destruição das bactérias, 
resíduos extracelulares e do material necrosado, promovendo o desbridamento 
da ferida. Nesta fase a ferida pode apresentar edema, vermelhidão e dor. O 
objetivo da fase inflamatória é reduzir a contaminação da ferida para favorecer 
 
18 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
as defesas do hospedeiro e prevenir o desenvolvimento de infecção. A presença 
de infecção influencia a fase aguda, podendo retardar o organismo de sair dessa 
fase e iniciar a fase proliferativa,haja em vista que o tecido só irá cicatrizar se 
estiver sadio. É nessa fase em que há intervenção cirúrgica, fazendo com que o 
organismo acelere esse processo. 3 dias de fase aguda. 
• Fase proliferativa – é a fase regenerativa, caracterizada pela proliferação de 
fibroblastos, sob a ação de citocinas que dão origem a um processo chamado 
fibroplasia. Ao mesmo tempo, ocorre a angiogênese e infiltração densa de 
macrófagos, formando assim o tecido de granulação. A ferida tem que estar 
plana para ocorrer a cicatrização. Ocorre a partir do 3º dia e dura entorno de 15 
a 20 dias. 
• Fase de remodelamento – nessa fase ocorre a transição do tecido de granulação 
para a maturação cicatricial, onde é produzida a remodelação de colágeno. A 
densidade celular e a vascularização da ferida diminuem, enquanto há 
maturação das fibras colágenas. O alinhamento das fibras é reorganizado a fim 
de aumentar a resistência do tecido e diminuir a espessura da cicatriz. Inicia aos 
10 dias podendo se estender até 1 ano. 
 
As feridas limpas e algumas possíveis limpas contaminadas que ocorreram em até 4 
horas, podem ser tratadas por 1ª intenção, ou seja, realizar a rafia das estruturas 
lesionadas. A cicatrização por 2ª intenção, teoricamente, por ser feita em todos os 
outros casos (feridas contaminadas; que ocorreram a mais de 4 horas; feridas com 
necrose; que houve a rafia mas apresentou deiscência). 
O tempo de cicatrização está diretamente relacionado com a movimentação excessiva 
da região da ferida (regiões do cotovelo, boleto, tuberosidade coxal, codilho, jarrete), 
proporcionando um retardo do processo cicatricial; a presença de infecção/infestação 
de parasitos; presença de corpo estranho e tecido necrosado; regiões onde tem 
diminuição do suprimento sanguíneo, onde não chega substrato para que o organismo 
promova o metabolismo celular no local; pacientes mais velhos tendem a ter um 
metabolismo mais retardado, diminuição da síntese de colágeno; presença de 
granulação excessiva, principalmente em membros de equinos; e a presença de 
hematomas, sendo um excelente meio de cultura. 
 
CONTUSÕES 
A contusão é produzida por um impacto/trauma acidental e 
geralmente não apresenta laceração de pele, dessa forma, não é 
observado solução de continuidade na pele. 
 
ENTORSES 
 
As entorses são lesões ligamentares e/ou articulares devido a 
distensão ou a super extensão brusca ocasionada por algum 
 
19 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
desnível em solo, promovendo um deslocamento das superfícies articulares. E 
dependendo de o indivíduo possuir alguma fragilidade ligamentar/articular, ele pode 
possuir algumas outras lesões podendo agravar o quadro causado pela entorse. 
• Fatores predisponentes: 
▪ Idade – principalmente animais mais jovens onde encontram-se em 
desenvolvimento não possuindo o fortalecimento músculo-tendineo; 
relacionado também como animais senis, onde há o relaxamento dos 
ligamentos; 
▪ Temperamento – animais mais sanguíneos são mais agitados e tem 
resposta mais bruscas aos estímulos; reações mais exacerbadas; 
▪ Hipoproteinemia – relacionado a síntese proteica celular, promovendo 
alterações ligamentares; fragilidade músculo-tendinea. 
• Fatores determinantes: 
▪ Terreno onde o animal permanece/é exercitado; 
▪ Contrações ou pressões bruscas em determinada articulação. 
É possível observar claudicação em animais acometidos por entorses nos membros, e 
ao exame físico, é observado uma instabilidade da articulação afetada, variando de 
acordo ao grau da entorse. 
• 1º grau – lesões mais leves; 
• 2º grau – lesão maior, podendo ser observado ao exame de ultrassom a 
ruptura parcial do ligamento; 
• 3º grau – lesão mais grave, ruptura total do ligamento ou tendão. 
Nas entorses o que é mais evidenciado é o aumento de volume, boa parte das vezes está 
relacionado com claudicação. O diagnóstico consiste no histórico e anamnese, e 
posteriormente o exame físico, onde é visibilizado a alteração anatômica, e a partir disso 
é realizado o raio x e o ultrassom. A importância do exame de raio x está relacionada 
com a visualização da integridade da articulação acometida, diferenciando de possíveis 
subluxações e luxações. Na ultrassonografia é avaliado as estruturas de tecido mole 
(ligamentos e tendões) e baseado nisso, é possível identificar as estruturas acometidas 
e o grau da lesão. 
O tratamento vai depender do grau da entorse. No grau I é possível manter o paciente 
no tratamento conservativo, onde é feita a administração de um anti-inflamatório não 
esteroidal, caso não seja COX seletivo, é realizado a administração em no máximo 3 dias, 
mas caso seja seletivo, pode ser estendido o período do tratamento. Se a dor do 
paciente for grande, pode lançar mão de analgésicos (opióides). E procede com a 
imobilização e repouso de 10 a 30 dias. 
No tratamento cirúrgico, é possível realizar diversas abordagens cirúrgicas a depender 
do grau da entorse e quais estruturas acometidas: 
• Artrocentese – realizar a colheita do líquido sinovial e avaliar a sua característica 
afim de observar quais células inflamatórias estão presentes, fazendo o 
diagnóstico diferencial para artrite séptica. 
• Cartilografia – quando é utilizado um corante para observar a integridade das 
superfícies articulares do paciente. 
 
20 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
• Tenorrafia e dermorrafia – em casos de ruptura total 
de tendão (tenorrafia) com padrão de sutura locking 
loop. E em casos de rompimento de ligamentos 
(dermorrafia). Existem ligamentos em que não é 
necessário realizar a rafia, a imobilização já é curativa. 
O pós-operatório consiste em repouso (30 a 60 dias). Utilização 
de analgésico, anti-inflamatório não esteroidal de 3 a 5 dias, 
caso tenha que prolongar o fármaco, lançar mão de um AINES 
COX seletivo. Administração de protetor de mucosa gástrica e soro 
antitetânico. Nos dias subsequentes, movimentar o paciente de maneira controlada. A 
utilização de antibioticoterapia vai depender do procedimento que foi feito, como nos 
casos em que houve acesso à capsula articular. 
As complicações estão relacionadas em o paciente poder desenvolver artrite séptica ou 
tenossinovite séptica, comprometendo a qualidade da articulação, e dependendo do 
caso pode promover a inviabilidade do paciente de retornar ao esporte. 
O prognóstico vai depender do grau da lesão e da sua extensão: 
• Grau I – prognóstico bom; 
• Grau II – prognóstico bom; 
• Grau III – prognóstico reservado. 
 
LUXAÇÃO 
 
Perda total do contato das superfícies articulares. As causas 
estão relacionadas com uma lesão articular, promovendo 
uma perda de contato total ou parcial (Subluxação). 
• Fatores predisponentes: 
▪ Instabilidade da articulação; 
▪ Ação mais proeminente da relaxina – 
período do parto. 
• Fatores determinantes: 
▪ Trauma agudo. 
Os sinais clínicos são variáveis. Em grandes animais é possível observar aumento de 
volume na região da articulação, podendo ocorrer a perda da função da região 
acometida. O raio x é o exame de eleição para confirmar se o paciente está com uma 
luxação ou fratura. 
Diagnóstico consiste na palpação da articulação, é necessário o conhecimento da 
anatomia de origem e inserção dos ligamentos e tendões. Posteriormente, é realizado 
o exame radiográfico, seguido de ultrassom para identificar as estruturas que foram 
acometidas e a presença de efusão de cápsula articular. 
 
21 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
Como diagnóstico diferencial, relata-se as fraturas intra-articulares e periarticulares, e a 
depender do tipo de fratura, é difícil visibilizar apenas no exame de raio x. 
O tratamento clínico consiste em reposicionamento com o paciente em anestesia geral, 
posterior imobilizaçãopor 30 dias. O tratamento cirúrgico é realizado afim de promover 
a abertura da cápsula articular ou a rafia da cápsula que já foi rompida, e proceder com 
a reposição do membro, principalmente em casos crônicos (15 dias – 30 dias do caso 
inicial), ou a realização da reconstrução da cápsula articular e a rafia dos ligamentos e 
tendões, a abordagem depende do quadro do paciente. 
Nos casos mais severos, crônicos e recorrentes, o mais indicado é promover a 
artrodese da articulação acometida, o que irá interferir diretamente na vida atlética de 
um equino atleta. 
 
O pós-operatório consiste do mesmo modo descrito para as entorses. A 
antibioticoterapia pode ser realizada de forma profilática ainda na mesa de cirurgia a 
partir de perfusão regional 1 única vez. 
As complicações relatadas ocorrem quando não é possível recuperar a integridade 
articular e ligamentos colaterais, sendo necessária a artrodese. Artrite sépticas e 
tenossinovites sépticas. Laminite no membro contralateral – relacionada com o animal 
não ter apoio em um dos membros pélvicos, provocando sobrecarga excessiva no 
membro contralateral. O prognóstico vai depender da extensão e do tempo do trauma, 
tendendo a desfavorável. 
 
FRATURAS 
 
Perda de continuidade do tecido ósseo. Frequente em grandes animais. Ao realizar um 
exame ortopédico é preciso avaliar: 
• Estado geral do paciente – geralmente quando o animal apresenta uma fratura, 
o estado geral dele apresenta alterações relacionadas a dor (aumento de FC, de 
temperatura, sudorese); 
• Posição – o animal pode apresentar-se em posição antálgica sem apoiar o 
membro ao chão; 
• Comportamento – o animal não quer comer, não defeca e urina de forma 
normal; 
• Simetria – observar a simetria dos membros; 
• Alterações de forma e de tamanho – aumento de volume excessivo até desvio 
linear do membro; 
• Locomoção – boa parte das vezes o animal irá relutar para se locomover, e 
quando se locomove vão tentar poupar ao máximo o membro afetado. 
 
 
 
 
22 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
FATORES PREDISPONENTES: 
• Idade – animais muito novos estão susceptíveis a fraturas em placas epifisárias; 
animais idosos possuem perda da mineralização (cálcio) o que conferia uma 
maior resistência ao osso; 
• Deficiências minerais – paciente que não comem ração equilibrada ou está em 
pastos não adequados, promovendo um desbalanço entre o fósforo e o cálcio; 
FATORES DETERMINANTES: 
• Trauma agudo. 
 
O índice de fraturas em neonatos é elevado por conta de pisoteio materno – animais 
mantidos em baias pequenas – e relacionado a curiosidade do neonato, sendo mais 
susceptíveis aos traumas. Em animais jovens, as fraturas estão relacionadas com 
manejos, atropelamentos, terrenos acidentados, falta de espaço e nas atividades 
equestres. E independentemente da idade, a recuperação anestésica colabora para a 
promoção de fraturas. E em adultos, as fraturas estão relacionadas com o trabalho e o 
esporte. Os sinais clínicos são descritos em aumento de volume local, claudicação, não 
apoiar o membro no chão e dor. 
Entre as opções de tratamento e a realização da eutanásia do paciente, é preciso 
analisar questões como idade, peso, o tipo e localização da fratura. No manejo inicial, é 
necessário estabilizar o paciente com a administração de analgésicos para aliviar a dor 
e imobilizar o foco da fratura abrangendo a articulação distal e proximal. 
 
IMOBILIZAÇÃO 
 
Os materiais necessários para fazer uma tala gessada ou tala de Robert Jones são de fácil 
acesso, geralmente é utilizado uma fita adesiva com uma boa resistência, ataduras de 
crepom, ataduras gessadas, camadas de algodão (ortopédico e comum), PVC cortado ao 
meio (o diâmetro vai depender do tamanho do 
animal). 
O cano de PVC possui como vantagens o peso (leve) e a 
capacidade de conseguir moldar no membro do paciente. 
A imobilização mais comum utilizada em grandes 
animais é a tala de Robert Jones, que consiste em 
intercalar diversas camadas de algodão e 
ataduras de crepom e uma estrutura rígida, que 
irá promover a imobilidade da região acometida. 
A depender da biomecânica de cada membro, o 
posicionamento da estrutura rígida tem que 
estar localizado afim de impedir o movimento das 
articulações. 
 
23 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
Em membros torácicos, para estruturas distais ao carpo é posicionado a estrutura rígida 
na região cranial/dorsal do membro, para que não haja flexão. No membro pélvico 
ocorre o que chamamos de aparelho recíproco, ou seja, quando o animal faz a flexão de 
joelho é refletido no casco, desse modo, a imobilização não ocorre da mesma forma que 
no membro torácico. Então, em membros pélvicos a estrutura rígida é posicionada na 
face plantar. Em membros torácicos, na porção mais distal de rádio e ulna, a estrutura 
rígida é posicionada lateral e caudal, nos membros pélvicos é posicionada lateral e 
plantar. Em região próxima a articulação do cotovelo/joelho, a tala é colocada de forma 
lateral estendida, podendo ultrapassar a altura da cernelha. Regiões acima do 
cotovelo/joelho são de difíceis imobilização, haja em vista que a escápula não articula 
com nenhum outro osso do corpo, sendo ligada por meio de músculos, em literatura 
relata-se a tala posicionada de forma caudal para evitar a extensão do carpo. E tratando-
se de membros pélvicos, por conta de o fêmur articular-se com o coxal, acaba 
impossibilitando a imobilização da articulação coxofemoral. 
A primeira camada a ser colocada na tala de Robert Jones é a malha tubular que possui 
a função de proteção do membro, posteriormente, é colocado o algodão ortopédico ao 
redor de toda a extensão da malha tubular. Na sequência, a atadura de crepom, 
seguindo alternando entre algodão e atadura de crepom e por fim é posicionada a 
estrutura rígida. Fixa a bandagem com fita adesiva resistente. Pode ser colocado mais 
uma camada de algodão para proteger os acidentes ósseos do paciente e, na sequência, 
a atadura de crepom ao redor, finalizando com a fita adesiva em toda a extensão. Outra 
possibilidade, é utilizar a atadura gessada associado a estrutura rígida. 
O que confere resistência a tala de Robert Jones são as camadas associadas a estrutura rígida. 
O diagnóstico é realizado a partir da queixa principal relatada pelo tutor. No exame 
físico, é feita a avaliação do trauma afim de observar se a fratura é exposta ou não, se 
tem contaminação, a classificação da fratura, a localização, o peso do paciente e se o 
tutor tem condições financeiras de arcar o tratamento. O diagnóstico é definido a partir 
do exame de raio x. A ultrassonografia é utilizada nas porções proximais, onde muitas 
vezes não é possível de se fazer a radiografia, e ao exame ultrassonográfico observa-se 
perda da integridade óssea e a integridade dos tecidos moles adjacentes ao ponto de 
fratura. Em casos de fraturas muito pequenas, lança-se mão da artroscopia. TC e 
ressonância. 
 
 
 
 
 
 
 
A antibioticoterapia é realizada a partir da administração da penicilina, e em casos 
infectados, lança-se mão de um antibiograma para identificar o agente causador, no 
 
24 APOSTILA DE CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS POR: ÉRICA BARBOZA 
entanto, a administração de um antibiótico de amplo espectro (ceftriaxona ou 
amicacina) pode ser realizada por perfusão regional. AINES seletivos e não seletivos no 
manejo da dor; opióides são mais eficientes. A fisioterapia é necessária após 
procedimentos cirúrgicos ortopédicos, podendo iniciar logo após a cirúrgica com o uso 
de ultrassom terapêutico. Ozônio, shock wave, laserterapia. Assim que possível, iniciar 
o tratamento fisioterapêutico por meio da natação. 
As complicações estão relacionadas com infecções e laminite. Se a fratura acometer o 
canal medular,a probabilidade de o paciente desenvolver a osteomielite é grande. Em 
casos de infecção a cicatrização é retardada, haja em vista que o organismo estará 
constantemente tentando combater a infecção por meio do desbridamento, fazendo 
com que a ferida permaneça na fase aguda da cicatrização. O animal pode apresentar 
falência de fixação e a não união óssea, geralmente por conta da infecção. Potros e 
bezerros tem que ser observados pois podem desenvolver a formação de desvio 
angulares, sobrecarregando outras articulações e podendo inviabilizar o paciente ao 
exercício. Embolismo pode ocorrer nos casos de fraturas em ossos longos e expostas. 
O comportamento do paciente atua diretamente no prognóstico. Pacientes mais 
pesados possuem um prognóstico pior, assim como aqueles que possui fraturas 
expostas.

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