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DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA 1.1 Desacato a superior Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. 1.2 Agravação de pena Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial general ou comandante da unidade a que pertence o agente. ATENÇÃO! Somente se pune o desacato se outro delito mais grave não se configurar, como, por exemplo, a lesão corporal. O mesmo não ocorre com a tentativa de lesão ou ameaça: STM: “Não deve prevalecer a sentença a quo que condenou o réu de forma autônoma pelos crimes de desacato, ameaça, tentativa de lesão corporal, violência contra militar, haja vista que, pelo princípio da consunção, tais condutas são absorvidas por um único crime de desacato, conforme pacífica e remansosa doutrina e jurisprudência.” (Ap. 0000014 – 34.2007.7.07.0007 – PE, Plenário, rel. Marcos Martins Torres, 06.02.2012, v.u.). 2.1 Desacato a militar Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime. 2.2 Desacato a assemelhado ou funcionário O sujeito ativo, conforme descrição feita no tipo, somente pode ser o militar, mesmo assim de hierarquia inferior. O sujeito passivo é o Estado; secundariamente, o oficial desacatado. Aliás, desacatar quer dizer desprezar, faltar o respeito ou humilhar. O objeto da conduta é o superior. A dignidade e o decoro simbolizam a honradez, o brio, a decência, em suma, a autoestima da pessoa. Deprimir significa causar angústia, mas também humilhar ou rebaixar, conectando-se ao termo autoridade. Essa disposição final é desnecessária, pois já abrangida pela conduta principal (desacatar). Tal conduta pode implicar qualquer tipo de palavra grosseira ou ato ofensivo contra a pessoa que exerce função pública, incluindo ameaças e agressões físicas. Não se concretiza o crime se houver reclamação ou crítica contra a atuação funcional de alguém. “Simples censura, ou desabafo, em termos queixosos, mas sem tom insólito, não pode constituir desacato. Nem importa que o fato não tenha tido a publicidade que o agravasse, especialmente. Importa, unicamente, que ele tenha dado, de modo a não deixar dúvida, com o objetivo de acinte e de reação indevida ao livre exercício da função pública. (...) No que toca às palavras oralmente pronunciadas, importam o tom acre e a inflexão dada à voz, quando as testemunhas possam, ao depor sobre o fato, auxiliar na prova de que a configuração do desacato é ou pode ser concluída como inegável” (cf. Fernando Henrique Mendes de Almeida) Art. 300. Desacatar assemelhado ou funcionário civil no exercício de função ou em razão dela, em lugar sujeito à administração militar: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime. Neste tipo penal, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que o passivo secundário (o principal é o Estado) seja militar no exercício da função ou atuando em função dela. 3.1 Desobediência Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena - detenção, até seis meses. 3.2 Ingresso clandestino Art. 302. Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento militar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar sujeito à administração militar, por onde seja defeso ou não haja passagem regular, ou iludindo a vigilância da sentinela ou de vigia: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o militar. Nesta hipótese, torna-se indispensável verificar se a ordem dada tem ou não relação com a função exercida, uma vez que, se tiver e não for cumprida, pode configurar-se o delito de prevaricação. Se o militar, que recebe ordem legal de outro, não pertinente ao exercício das suas funções, deixa de obedecer, é possível se configurar a desobediência, pois, nessa hipótese, age como particular. Entretanto, se receber a ordem e for da sua competência realizar o ato, pode concretizar- se outro tipo penal, como o supramencionado delito de prevaricação. O sujeito passivo é o Estado. Não há, nesta hipótese, sujeito secundário, pois o militar desatendido não defende nenhum interesse próprio. Desobedecer significa não ceder à autoridade ou força de alguém, resistir ou infringir. É preciso que a ordem dada seja do conhecimento direto de quem necessita cumpri-la. Na jurisprudência: STJ: “Nos termos do art. 301 do Código Penal Militar, para a caracterização do crime de desobediência, faz-se necessário que a ordem legal não cumprida seja emanada de autoridade militar” (CC 126.903-PB, 3.ª S., rel. Marco Aurélio Belizze, 24.04.203, v.u.). O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O passivo é o Estado, simbolizado pela administração militar. Trata-se de uma modalidade específica de desobediência, embora não se configure a conduta típica contra uma autoridade ou funcionário em particular; voltase a unidades militares. Noutros termos, inexiste pessoalidade na transgressão. Penetrar significa ingressar em algum lugar, porém com o caráter de invasão. Volta-se a conduta típica a unidades particularmente tuteladas pelo Estado, tais como fortalezas, quartéis, estabelecimento militares de toda ordem, navios, aeronaves, hangares e outros lugares sujeito à administração militar. Há que se buscar, em tais lugares, a vedação de ingresso. Na jurisprudência: STM: “Incorre no delito de ingresso clandestino o civil que, estando no portão de identificação da Academia da Força Aérea, ludibria a Sentinela e adentra na Unidade, danificando a cancela e provocando uma perseguição no local. Para a configuração do delito previsto no art. 302 do CPM basta o simples perfazimento do núcleo do tipo, ou seja, penetrar nos locais ali indicados, não se exigindo os motivos determinantes do comportamento.” DO PECULATO 4.1 Peculato Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de três a quinze anos. § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da apropriação ou desvio é de valor superior a 20 vezes o salário mínimo. O sujeito ativo somente pode ser o funcionário público, militar ou civil. O sujeito passivo é o Estado; secundariamente, a entidade de direito público ou o particular prejudicado. São duas as condutas típicas previstas no caput do artigo: a) apropriar-se, que significa tomar como propriedade sua ou apossar-se. É o que se chama de peculato apropriação; b) desviar, que significa alterar o destino ou desencaminhar. É o que se classifica como peculato desvio. STM: “O crime de peculato é praticado contra a Administração Pública e não contra o patrimônio, sendo certo que o dano necessário e suficiente para a sua consumação é aquele inerente à violação do dever de fidelidade para com ela. O peculato- desvio caracteriza-se quando o funcionário, muito embora sem ânimo de apossamento definitivo, emprega o objeto material em fim diverso de sua destinação, em proveito próprio ou alheio. A expressão posse descrita no tipo penal deve ser tomada em sentido amplo, não importando se direta ou indireta, incluindo-se, pois, a detenção” Assim como o furto, não se configura crime quando o funcionário público utiliza um bem qualquer infungível, em seu benefício ou de outrem, mas com a nítida intenção de devolver, isto é, sem que existaa vontade de se apossar do que não lhe pertence, mas está sob sua guarda. A vontade de se apropriar demonstra que a intenção precisa estar voltada à conquista definitiva do bem móvel. Portanto, inexiste crime quando o agente utiliza um veículo que lhe foi confiado para o serviço público em seu próprio benefício, isto é, para assuntos particulares. Configura-se, nessa hipótese, mero ilícito administrativo, mesmo de caráter disciplinar. Não se pode, ainda, falar em peculato de uso quando versar sobre dinheiro, ou seja, coisa fungível. Se o funcionário usar dinheiro que tem sob sua guarda para seu próprio benefício, pratica o delito de peculato. 4.2 Peculato-furto § 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo a posse ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou contribui para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de militar ou de funcionário. ATENÇÃO!!! Não basta que haja a subtração, sendo indispensável que ela se concretize em razão da facilidade encontrada pelo funcionário para tanto. Se o agente, ainda que funcionário, não se vale do cargo, nem de qualquer facilidade por ele proporcionada, para subtrair bem da Administração Pública, comete furto, e não peculato. 4.3 Peculato culposo § 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente para que outrem subtraia ou desvie o dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie: Pena - detenção, de três meses a um ano. 4.4 Extinção ou minoração da pena § 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 4.5 Peculato mediante aproveitamento do erro de outrem Art. 304. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo ou comissão, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de dois a sete anos. DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE EXAÇÃO E DESVIO Exemplificando: se um vigia de prédio público desvia-se de sua função de guarda, por negligência, permitindo, pois, que terceiros invadam o lugar e de lá subtraiam bens, responde por peculato culposo. O funcionário, neste caso, infringe o dever de cuidado objetivo, inerente aos crimes culposos, deixando de vigiar, como deveria, os bens da Administração que estão sob sua tutela. Vale ressaltar, ainda, que esta modalidade de peculato é sempre plurissubjetiva, isto é, necessita da concorrência de pelo menos duas pessoas: o funcionário (garante) e terceiro que comete o crime para o qual o primeiro concorre culposamente. É impossível que um só indivíduo seja autor de peculato culposo 4.6 Concussão Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos. 4.7 Excesso de exação Art. 306. Exigir imposto, taxa ou emolumento que sabe indevido, ou, quando devido, empregar na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 4.7.1 Desvio Art. 307. Desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente, em razão do cargo ou função, para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos. DA CORRUPÇÃO Corrupção passiva Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Aumento de pena § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. O sujeito ativo é somente o funcionário público, militar ou civil. O sujeito passivo é o Estado; secundariamente, a entidade de direito público ou a pessoa diretamente prejudicada. Exigir significa ordenar ou demandar, havendo aspectos nitidamente impositivos e intimidativos na conduta, que não precisa ser, necessariamente, violenta. Não deixa de ser uma forma de extorsão, embora colocada em prática por funcionário público. Quando o funcionário desviar (alterar o destino original) para si ou para outrem o que recebeu indevidamente (aceitar em pagamento sem previsão legal), pratica a figura qualificada do delito previsto neste artigo. O recolhimento, apesar de indevido, destina-se, sempre, aos cofres públicos, uma vez que se trata de exação (cobrança de impostos). Diminuição de pena § 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. ATENÇÃO !! O sujeito ativo é somente o funcionário público, militar ou civil. O sujeito passivo é o Estado; secundariamente, a entidade de direito público ou a pessoa prejudicada. Corrupção ativa Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Pena - reclusão, até oito anos Aumento de pena Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou omitido o ato, ou praticado com infração de dever funcional. Atenção !! O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado. Participação ilícita Art. 310. Participar, de modo ostensivo ou simulado, diretamente ou por interposta pessoa, em contrato, fornecimento, ou concessão de qualquer serviço concernente à administração militar, sobre que deva informar ou exercer fiscalização em razão do ofício: Pena - reclusão, de dois a quatro anos. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem adquire para si, direta ou indiretamente, ou por ato simulado, no todo ou em parte, bens ou efeitos em cuja administração, depósito, guarda, fiscalização ou exame, deve intervir em razão de seu emprego ou função, ou entra em especulação de lucro ou interesse, relativamente a esses bens ou efeitos. DA FALSIDADE Falsificação de documento Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento público ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o fato atente contra a administração ou o serviço militar: Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos; sendo documento particular, reclusão, até cinco anos. Agravação da pena § 1º A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce função em repartição militar. O sujeito ativo deve ser funcionário público, militar ou civil, conforme o caso concreto. Participar (tomar parte de algo, associar-se) é a conduta nuclear, cujo objeto é o contrato, o fornecimento de serviço ou a concessão de serviço no tocante à administração militar. Busca-se assegurar a lisura dos atos administrativos, pois quem fiscaliza ou informa sobre o evento torna-se parcial nesse mister quando se insere no processo. O tipo penal especifica as várias possibilidades de execução, procurando abranger todas as situações viáveis: a) de modo ostensivo (aparente, visível, às claras) ou simulado (camuflado, fingido); de maneira direta (pessoal) ou indireta (por interposta pessoa). Igualmente, quem adquire (obtém algo, com ou sem custo monetário) bens ou efeitos gerados em razão da administração, depósito, guarda, fiscalização ou exame sobreo qual deve exercer alguma atividade em virtude de seu emprego ou função. O mesmo se dá caso especule (informar-se em detalhes, negociar, tratar) lucro ou interesse no tocante a tais bens ou efeitos. As formas de execução são as mesmas já definidas, vale dizer, de maneira ampla e abrangente. Em suma, o funcionário – militar ou civil – encarregado de informar ou fiscalizar atos administrativos tem o dever de se abster da participação em qualquer negócio. O tipo é alternativo, evidenciando condutas geradoras de resultado naturalístico (adquirir bens, por exemplo) e outras, meramente formais, implicando simples atividade (participar ou especular). A tentativa é possível em qualquer situação, embora o momento consumativo seja variável, dependendo da forma material ou formal do delito. Documento por equiparação § 2º Equipara-se a documento, para os efeitos penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio de aparelho eletromagnético a que se incorpore declaração destinada à prova de fato juridicamente relevante. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado, em primeiro plano. Secundariamente, pode ser a pessoa prejudicada pela falsificação. Falsificar quer dizer reproduzir, imitando, ou contrafazer; alterar significa modificar ou adulterar. A diferença fundamental entre falsificar e alterar é que no primeiro caso o documento inexiste, sendo criado pelo agente, enquanto na segunda hipótese há um documento verdadeiro, atuando o agente para modificar-lhe o aspecto original. Este tipo penal preocupa-se com a forma do documento, por isso cuida da falsidade material. Não há necessidade de resultado naturalístico, nem de posterior uso do documento falsificado. A falsidade grosseira não é suficiente para a concretizar o delito, pois se exige a potencialidade lesiva do documento falsificado ou alterado; a contrafação ou modificação grosseira, não apta a ludibriar a atenção de terceiros, é inócua para esse fim. Eventualmente, pode se tratar de estelionato, quando, a despeito de grosseiramente falso, tiver trazido vantagem indevida, em prejuízo de outra pessoa, para o agente. Conferir: STM: “Demonstrada a grosseira falsificação, torna-se impossível a consumação do falsum, por absoluta ineficácia do meio. A evidente imprestabilidade do meio empregado leva ao afastamento de um dos elementos necessários para caracterização do crime, qual seja, a tipicidade. Ausente um dos elementos necessários para a configuração do crime, cabe a rejeição da Denúncia com espeque no art. 78, inciso II, do CPPM.” (RSE 0000241-41.2011.7.01.0301 – RJ, Plenário, rel. Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, 24.05.2012, v.u.). STJ: “A adulteração reconhecida como grosseira não configura, por si, o falsum (ou o crime de uso do falsum), podendo, isto sim, ser meio ou instrumento para a prática de outro crime” (HC 24.853-BA, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 16.12.2003, v.u., DJ 09.02.2004, p. 194). Documento público é o escrito, revestido de certa forma, destinado a comprovar um fato, desde que emanado de funcionário público, com competência para tanto. Pode provir de autoridade nacional ou estrangeira (neste caso, desde que respeitada a forma legal prevista no Brasil), abrangendo certidões, atestados, traslados, cópias autenticadas e telegramas emitidos por funcionários públicos, atendendo ao interesse público. Caso o agente construa um documento novo, pratica a primeira conduta. Caso modifique, de qualquer modo, um documento verdadeiro, comete a segunda conduta. Ressalte-se que somente pode ser objeto do crime o documento válido, pois o que for considerado nulo está fora da proteção do tipo penal. Documento particular é todo escrito, produzido por alguém determinado, revestido de certa forma, destinado a comprovar um fato, ainda que seja a manifestação de uma vontade. O documento particular, por exclusão, é aquele que não se enquadra na definição de público, isto é, não emanado de funcionário público ou, ainda que o seja, sem preencher as formalidades legais. Assim, o documento público, emitido por funcionário sem competência a tanto, por exemplo, pode equiparar-se ao particular. As fotocópias sem autenticação não podem ser consideradas documentos públicos para os efeitos deste artigo. Falsidade ideológica Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, desde que o fato atente contra a administração ou o serviço militar: Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; reclusão, até três anos, se o documento é particular. Cheque sem fundos Art. 313. Emitir cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, se a emissão é feita de militar em favor de militar, ou se o fato atento contra a administração militar: Pena - reclusão, até cinco anos. Circunstância irrelevante § 1º Salvo o caso do art. 245, é irrelevante ter sido o cheque emitido para servir como título ou garantia de dívida. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O passivo é o Estado; secundariamente, a pessoa prejudicada pela falsificação. Omitir (deixar de inserir ou não mencionar); inserir (colocar ou introduzir); fazer inserir (proporcionar que se introduza). Os objetos das condutas devem ser declarações relevantes a constar em documentos públicos e particulares. A diferença fundamental entre inserir e fazer inserir é o modo pelo qual o agente consegue a introdução de declaração indevida no documento: no primeiro caso, age diretamente; no segundo, proporciona meios para que terceiro o faça. Na falsidade ideológica, como ensina Sylvio do Amaral, “não há rasura, emenda, acréscimo ou subtração de letra ou algarismo. Há, apenas, uma mentira reduzida a escrito, através de documento que, sob o aspecto material, é de todo verdadeiro, isto é, realmente escrito por quem seu teor indica” (Falsidade documental, p. 53). STM: “Comete o crime de falsidade ideológica o Militar, responsável pelo recebimento de gênero em sua Organização Militar, que atesta a entrega total de bens adquiridos por meio de licitação, cuja entrega foi feita de forma parcelada e posteriormente ao atesto 2. A não ocorrência de prejuízo ao Erário não descaracteriza a conduta típica da falsidade ideológica” Atenuação de pena § 2º Ao crime previsto no artigo aplica-se o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 240. O sujeito ativo deve ser militar, na primeira forma; pode, ainda, ser o civil, quando emitido em favor da administração militar. O passivo é o Estado; secundariamente, quem recebe o cheque. Emitir (colocar em circulação) é a conduta nuclear do tipo, cujo objeto é o cheque (título de crédito consistente em ordem de pagamento à vista), sem provisão de fundos em poder do sacado. A forma similar, prevista no art. 171, § 2.º, VI, do Código Penal comum, constitui uma modalidade de estelionato, crime contra o patrimônio. Neste tipo penal, menciona-se, no seu título, a fraude, razão pela qual o delito é material, consumando-se quando o cheque não for pago pelo estabelecimento bancário. Na legislação penal militar, diversamente, o foco é diverso, voltando-se à credibilidade do título, bem como à moralidade administrativa. Pretende-se punir o militar, que coloca em circulação o cheque sem fundos, independentemente de prejuízo efetivo à vítima (outro militar). Aliás, o tipo menciona, ainda, a possibilidade do cheque ser colocado em circulação em favor da administração militar. De todo modo,o crime é formal, consumando-se com a simples emissão. Nos negócios em geral, costuma-se utilizar o cheque para garantir determinada dívida, o que se dá quando é pré-datado. Na legislação penal comum, a emissão de cheque dado em garantia, mesmo quando sem fundos, descaracteriza o delito de estelionato; afinal, quem o recebe sabe que o título não possui lastro bancário, não podendo ser considerado uma ordem de pagamento à vista. A descaracterização do título permite a atipicidade do fato. No cenário do art.313 do CPM tal situação não ocorre, pois, a emissão do cheque, sem provisão de fundos em poder do banco, é punida em função da atividade e não do resultado naturalístico. O objeto jurídico é a moralidade administrativa e não o patrimônio. Diante disso, menciona-se, com clareza, ser irrelevante, para a concretização do crime, a dação do título como garantia de dívida. Excepciona-se, entretanto, se o título for usado para caracterizar a extorsão indireta (art. 246, CPM). Parece-nos ter havido erro na redação deste artigo, referindo-se ao art. 245 (chantagem), quando, na realidade, o uso do título é instrumento da prática de extorsão indireta. Certidão ou atestado ideologicamente falso Art. 314. Atestar ou certificar falsamente, em razão de função, ou profissão, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo, posto ou função, ou isenção de ônus ou de serviço, ou qualquer outra vantagem, desde que o fato atente contra a administração ou serviço militar: Pena - detenção, até dois anos. Agravação de pena Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é praticado com o fim de lucro ou em prejuízo de terceiro. Uso de documento falso Art. 315. Fazer uso de qualquer dos documentos falsificados ou alterados por outrem, a que se referem os artigos anteriores: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. Supressão de documento Art. 316. Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento verdadeiro, de que não podia dispor, desde que o fato atente contra a administração ou o serviço militar: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o documento é público; reclusão, até cinco anos, se o documento é particular. Uso de documento pessoal alheio Art. 317. Usar, como próprio, documento de identidade alheia, ou de qualquer licença ou privilégio em favor de outrem, ou ceder a outrem documento próprio da mesma natureza, para que dele se utilize, desde que o fato atente contra a administração ou o serviço militar: Pena - detenção, até seis meses, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Falsa identidade Art. 318. Atribuir-se, ou a terceiro, perante a administração militar, falsa identidade, para obter vantagem em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. O sujeito ativo só pode ser o funcionário público, com atribuição para expedir o atestado ou a certidão. O sujeito passivo é o Estado. Atestar (afirmar ou demonstrar algo por escrito); certificar (afirmar a certeza de algo). Certificar é mais forte que atestar, pois representa a afirmação de algo que encontra respaldo em documento arquivado em alguma repartição do Estado e é, efetivamente, verdadeiro, estando na esfera de atribuição do funcionário público, enquanto o atestar representa uma afirmação passível de questionamento. Assim, atesta-se a idoneidade de alguém e certifica-se que a pessoa foi demitida do serviço público. Atestar provém do latim testis, ou seja, testemunhar, por isso é documento que contém o testemunho do signatário a respeito de um fato (Sylvio do Amaral, Falsidade documental, p. 126-127).
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