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Educação e Direitos Humanos

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 
 
0800 283 8380 
 
www.portalprominas.com.br 
 
 
 
Todos os direitos reservados ao Instituto Prominas de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 
2 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 3 
UNIDADE 1 – OS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................... 6 
1.1 TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................................................. 6 
1.2 AS DECLARAÇÕES UNIVERSAIS DOS DIREITOS E OS TRATADOS INTERNACIONAIS ................................ 9 
1.3 AS DIMENSÕES/GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................... 16 
1.3.1 DIREITOS À PRESTAÇÃO JURÍDICA ............................................................................................... 21 
1.3.2 DIREITOS A PRESTAÇÕES MATERIAIS ........................................................................................... 22 
1.3.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PARTICIPAÇÃO ................................................................................ 24 
1.3.4 DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................. 24 
UNIDADE 2 – DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E COLETIVOS E O REGIME JURÍDICO 
DOS MILITARES .................................................................................................................................. 27 
UNIDADE 3 – OS MILITARES NA SOCIEDADE – TRATAMENTO DIFERENCIADO ....................... 33 
UNIDADE 4 – O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A SEGURANÇA PÚBLICA .................. 45 
UNIDADE 5 – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (PNEDH) .............. 52 
UNIDADE 6 – PRINCÍPIOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS ............. 60 
UNIDADE 7 – METODOLOGIAS DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS ................................. 68 
UNIDADE 8 – EIXOS TEMÁTICOS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA .................................... 72 
UNIDADE 9 – OS DIREITOS DAS MINORIAS ÉTNICAS E RACIAIS ................................................ 79 
UNIDADE 10 – POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO/AÇÕES AFIRMATIVAS ................................ 84 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 95 
 
 
Todos os direitos reservados ao Instituto Prominas de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 
3 
INTRODUÇÃO 
 
Em 1997, Arendt já ponderava que globalização, políticas neoliberais, 
segurança global, eram realidades que estavam acentuando a exclusão, em suas 
diferentes formas e manifestações. Evidentemente não afetam, igualmente, a todos 
os grupos sociais e culturais, nem a todos os países e, dentro de cada país, às 
diferentes regiões e pessoas. São os considerados “diferentes”, aqueles que, por 
suas características sociais e/ou étnicas, por serem pessoas com “necessidades 
especiais”, por não se adequarem a uma sociedade cada vez mais marcada pela 
competitividade e pela lógica do mercado, os “perdedores”, os “descartáveis”, que 
vêm, a cada dia, negado o seu “direito a ter direitos”. 
Entretanto, bem antes, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) já havia desencadeado um 
processo de mudança no comportamento social e a produção de instrumentos e 
mecanismos internacionais de direitos humanos que foram incorporados ao 
ordenamento jurídico dos países signatários. Esse processo resultou na base dos 
atuais sistemas global e regionais de produção dos direitos humanos (PNEDH, 
2007). 
Concordamos com Candau (2007) ao inferir que a Educação em Direitos 
Humanos ainda é um desafio fundamental, principalmente no sentido de avançar em 
sintonia com sua paixão fundante: seu compromisso histórico com uma mudança 
estrutural que viabilize uma sociedade inclusiva e a centralidade dos setores 
populares nesta busca. Estas opções constituíram – e acreditamos que continuam 
sendo – a fonte de sua energia ética e política. 
Este módulo que busca refletir, discutir, analisar, conhecer os objetivos da 
Educação em Direitos Humanos tem suas bases teóricas no Plano Nacional de 
Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e em três dimensões que são 
indispensáveis para o desenvolvimento dessa educação e para a cidadania 
democrática, a saber: 
 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 
4 
 a dimensão intelectual e a informação, pois o início da formação do cidadão 
começa por informá-lo e introduzi-lo nas diferentes áreas do conhecimento. A 
falta ou insuficiência de informações reforça as desigualdades, fomenta 
injustiças e pode levar a uma verdadeira segregação. No Brasil, aqueles que 
não têm acesso ao ensino, à informação e às diversas expressões da cultura 
“lato sensu”, são, justamente, os mais marginalizados e “excluídos”; 
 a dimensão ética, vinculada a uma didática dos valores republicanos e 
democráticos, que não se aprendem intelectualmente apenas, mas 
especialmente através da consciência ética, formada tanto por sentimentos 
quanto pela razão; fruto da conquista de corações e mentes; 
 a dimensão política, desde a escola de educação infantil e ensino 
fundamental, no sentido de enraizar hábitos de tolerância diante do diferente 
ou divergente, assim como o aprendizado da cooperação ativa e da 
subordinação do interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral, ao bem 
comum. 
Pois bem, nosso caminho passa necessariamente por uma introdução aos 
direitos fundamentais, a evolução das declarações e dos tratados internacionais, as 
dimensões/gerações desses direitos. 
Num segundo momento, veremos justamente o PNEDH, seus objetivos, os 
princípios norteadores e discorreremos sobre metodologias de Educação em 
Direitos Humanos. 
Não poderíamos deixar de fora os eixos que sustentam a cidadania, quais 
sejam, a ética, a convivência democrática e a própria cidadania; nem mesmo 
discorrer sobre os direitos das minorias étnicas e raciais, bem como ressaltar a 
importância das políticas de reconhecimento e ações afirmativas. 
Não só para aqueles que enveredam pela seara da educação, mas 
principalmente eles, é preciso sempre buscar caminhos que afirmem uma cultura de 
direitos humanos, que penetre todas as práticas sociais e seja capaz de favorecer 
processos de democratização, de articular a afirmação dos direitos fundamentais de 
cada pessoa e grupo sociocultural, de modo especial os direitos sociais e 
econômicos, com o reconhecimento dos direitos à diferença. 
 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Instituto Prominas. 
5 
Antes de iniciarmos nossas reflexões vamos a duas observações que se 
fazem necessárias: 
Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa 
ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença 
para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para 
que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicas. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das 
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se 
tratando, portanto, de uma redação original. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir 
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
 
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6 
UNIDADE 1 – OS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
1.1 Teoria dos direitos fundamentais 
Definir conceitos e esclarecer confusões que se fazem entre os direitos 
fundamentais e os direitos humanos é o primeiro passo para a construção do nosso 
pensamento que pretende chegar à Educação em Direitos Humanos e aos direitos 
das minorias étnico-raciais. 
Grosso modo, os direitos do homem são os direitos naturais, intrínsecos ao 
homem e reconhecidos em documentos internacionais, já os direitos fundamentais 
tem a marca da positivação, isto é, é um direito reconhecido pelo sistema. 
Bulos (s.d. apud ABREU, 2010) afirma que os direitos humanos além de 
fundamentais são inatos, absolutos, invioláveis, intransferíveis, irrenunciáveis e 
imprescritíveis, porque participam de um contexto histórico, perfeitamente 
delimitado. Não surgiram à margem da história, porém, em decorrência dela, ou 
melhor, em decorrência dos reclamos da igualdade, fraternidade e liberdade entre os 
homens. Homens não no sentido de sexo masculino, mas no sentido de pessoas 
humanas. Os direitos fundamentais do homem, nascem, morrem e extinguem-se. 
Não são obra da natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se ou 
limitando-se a depender do influxo do fato social cambiante. 
A expressão “direitos fundamentais” é empregada principalmente pelos 
autores alemães, na esteira da Constituição de Bonn, que dedicava o capítulo inicial 
aos Grundrechte, ou seja, exatamente direitos fundamentais (TORRES, 2006). 
Até a Emenda Constitucional nº 1/1969, o Brasil adotada a expressão 
“direitos individuais”, conforme se infere do seu artigo 153 (Capítulo IV – Dos 
Direitos e Garantias Individuais), como sinônimo da moderna denominação de 
“direitos fundamentais”. Naquela época vingava a influência dos albores do 
liberalismo, e a sua visão eminentemente individualista, que não distinguia as 
liberdades coletivas e não conhecia a definição de pessoa. 
Lorenzetti (1998, p. 151) afirma que a expressão “direitos fundamentais” é a 
mais apropriada porque não exclui outros sujeitos que não sejam o homem e 
 
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7 
também porque se refere àqueles direitos que são fundantes do ordenamento 
jurídico e evita uma generalização prejudicial. 
Sarlet (2007, p. 36) apresenta um traço de distinção, ainda que de cunho 
predominantemente didático, entre as expressões “direitos do homem”, “direitos 
humanos” e “direitos fundamentais”, sendo a primeira de cunho jusnaturalista, ainda 
não positivados; a segunda relacionado à positivação no direito internacional; e, a 
terceira, como direitos reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo direito 
constitucional interno de cada Estado. 
Segundo o doutrinador Pérez-Luño (1998 apud BELLINHO, 2010), os 
direitos fundamentais e os direitos humanos não se diferem apenas pelas suas 
abrangências geográficas, mas também pelo grau de concretização positiva que 
possuem, ou seja, pelo grau de concretização normativa. 
Os direitos fundamentais estão duplamente positivados, pois atuam no 
âmbito interno e no âmbito externo, possuindo maior grau de concretização positiva, 
enquanto que os direitos humanos estão positivados apenas no âmbito externo, 
caracterizando um menor grau de concretização positiva. 
Minardi (2008) afirma que o direito fundamental decorre de um processo 
legislativo interno de um determinado país, que eleva à positivação, sendo então um 
direito outorgado e/ou reconhecido. Já os direitos humanos possuem caráter 
supralegal, desvinculados a qualquer legislação escrita ou tratado internacional, pois 
preexiste a eles. 
Guerra (2007, p. 265) explica que a partir da Declaração dos Direitos 
Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, confirmou-se a ideia de que os 
direitos humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, invalidando o 
recurso abusivo ao conceito de soberania para encobrir violações, ou seja, os 
direitos humanos não são mais matéria exclusiva das jurisdições nacionais. 
Assim sendo, a positivação dos direitos humanos, dando origem aos direitos 
fundamentais, é a nítida amostra da consciência de um determinado povo de que 
certos direitos do homem são de tal relevância que o seu desrespeito inviabilizaria a 
sua própria existência do Estado. Aliás, ninguém mais nega, hoje, que a vigência de 
direitos humanos independe do seu reconhecimento constitucional, ou seja, de sua 
 
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8 
consagração no direito positivo estatal como direitos fundamentais (COMPARATO, 
2003, p. 136). 
No Brasil, os direitos fundamentais estão preconizados no Título II da 
CRFB/88, sendo que o constituinte considerou ilegítima qualquer proposta tendente 
a aboli-los, artigo 60, § 4º, IV da Constituição (as chamadas cláusulas pétreas) 
(MINARDI, 2008). 
Os direitos fundamentais se aplicam tanto às pessoas físicas quanto as 
pessoas jurídicas. Na primeira situação são titulares: 
a) brasileiros natos; 
b) brasileiros naturalizados; 
c) estrangeiros residentes no Brasil; 
d) estrangeiros em trânsito pelo território nacional; 
e) qualquer pessoa que seja alcançada pela lei brasileira (pelo ordenamento 
jurídico brasileiro). 
É preciso, porém, fazer uma ressalva: existem determinados direitos 
fundamentais cuja titularidade é restringida pelo próprio Poder Constituinte. Por 
exemplo: 
 existem direitos que se direcionam apenas a quem esteja pelo menos em 
trânsito pelo território nacional (garantias contra a prisão arbitrária); 
 outros direcionam-se apenas aos brasileiros, sejam natos ou naturalizados 
(direito à nacionalidade,direitos políticos); e, 
 outros são destinados apenas aos brasileiros natos (direito à não extradição, 
direito de ocupar determinados cargos públicos). 
Pode-se dizer que existe, então, uma verdadeira gradação na ordem 
enumerada anteriormente: os brasileiros natos possuem mais direitos que os 
brasileiros naturalizados que possuem mais direitos que os estrangeiros residentes, 
entre outros. (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas (inclusive 
as de Direito Público), desde que sejam compatíveis com a natureza delas. Por 
 
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9 
exemplo, pessoas jurídicas têm direito ao devido processo legal, mas não à 
liberdade de locomoção, ou à integridade física. 
A doutrina reluta em atribuir às pessoas jurídicas (empresas, associações, 
entre outras) direito à vida; com razão, prefere-se falar em “direito à existência”. 
Todavia, em concursos públicos, o CESPE / UnB (ver STJ / Técnico Judiciário / Área 
Administrativa / 2004) já deu como correta questão que afirmava terem as pessoas 
jurídicas direito à vida. 
Por outro lado, é pacífico que pessoas jurídicas não possuem direito à 
liberdade de locomoção. Justamente por isso é que em favor delas não se pode 
impetrar habeas corpus (pois esse é um remédio constitucional que protege apenas 
a liberdade de locomoção: art. 5º, LXVIII) (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
A jurisprudência considera que as pessoas jurídicas (empresas, 
associações, partidos políticos, entre outros) podem pleitear indenização por danos 
morais: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (STJ, Súmula nº 227)1. 
Concordamos que as nuances jurídicas fogem um pouco ao propósito do 
curso, mas conhecimento sempre é bem vindo, por isso justificamos essa alocação 
de questões pertinentes ao ramo do Direito. 
 
1.2 As declarações universais dos direitos e os tratados internacionais 
Segundo Campos (2008), os direitos humanos nasceram da necessidade 
dos cidadãos em serem titulares de certos direitos em relação a seu Estado 
soberano e, posteriormente, em relação à sociedade internacional. Desenvolveram-
se sempre com as necessidades impostas pelos indivíduos em determinadas 
épocas com o intuito de resguarda a dignidade humana, concebida como 
fundamento dos direitos humanos. 
Existe uma gama de autores (como Fábio Konder Comparato, João Baptista 
Herkenhoff, dentre outros defensores de que o fato de não existirem freios ao Poder, 
não quer dizer que não existiram as ideias) que sustentam que os direitos 
 
1 Questão de concurso: Cespe/TRE-MT/Técnico/2010: “O dano moral, que atinge a esfera íntima da vítima, 
agredindo seus valores, humilhando e causando dor, não recai sobre pessoa jurídica”. 
 
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fundamentais perfazem um longo caminho histórico, tendo posições que acreditam 
ser de meados de 2000 a.C., as primeiras manifestações, no direito da Babilônia, 
outras posições os reconhecem na Grécia Antiga e na Roma Republicana. Estas 
opiniões carecem de fundamentos históricos. 
Sarlet (2007, p. 33) entende como pacífico que os direitos fundamentais não 
surgiram na antiguidade, porém é notória a influência do mundo antigo nos direitos 
fundamentais por meio da religião e da filosofia, que colaboraram na concepção 
jusnaturalista de que o ser humano, pelo simples fato de existir, já é detentor de 
direitos fundamentais; esta fase costuma ser denominada pela doutrina como “pré-
história” dos direitos fundamentais. 
O Código de Hamurabi, primeiro que se têm notícias, defendia a vida e o 
direito de propriedade, e contemplava a honra, a dignidade, a família e a supremacia 
das leis em relação aos governantes. Esse código contém dispositivos que 
continuam aceitos até hoje, tais como a Teoria da Imprevisão, que fundava-se no 
princípio de talião: olho por olho, dente por dente. Depois deste primeiro código, 
instituições sociais (religião e a democracia) contribuíram para humanizar os 
sistemas legais (SILVA, 2006). 
Loewenstein (s.d apud CAVALCANTE FILHO, 2010) considera que a 
primeira Constituição teria surgido ainda na sociedade hebraica, com a instituição da 
“Lei de Deus” (Torah). O autor alemão aponta que, já naquele Estado Teocrático, a 
“Lei de Deus” limitava o poder dos governantes (chamados, naquela época, de 
“Juízes”). 
Igual posição é entendida por Tavares (2010, p. 5) ao inferir que “na 
antiguidade, os hebreus já possuíam um Estado teocrático limitado pela Torah. Os 
Juízes (como eram chamados os governantes) tinham que seguir as disposições da 
Torah (Lei de Deus). É nesse sentido que o autor alemão vê, nesse caso, um 
prelúdio do Constitucionalismo”. 
Na Grécia, já se fazia a distinção entre as normas fundamentais da 
sociedade (nomoi) e as meras regras (psefismata). Naquela civilização, a 
modificação de psefismata poderia ser feita de forma mais simples do que a 
alteração das normas fundamentais (nomos). Guardadas as devidas proporções, 
 
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11 
seriam institutos parecidos com a lei ordinária e as emendas constitucionais, 
atualmente. 
Também podemos citar, na Antiguidade, a Lei das XII Tábuas, aprovada em 
Roma, assegurando direitos conquistados pelos plebeus, fixados em leis escritas. 
Pérez Luño (1995 apud SARLET, 2007) chama de antecedentes dos direitos 
fundamentais, os documentos que, de alguma forma, colaboraram para a 
elaboração das primeiras ideias dos direitos humanos presentes nas declarações do 
século XVIII, talvez o principal documento a ser referenciado seja a Magna Charta 
Libertatum, assinada na Inglaterra, em 1215, pelo Rei João Sem-Terra. Cabe 
ressaltar que esse pacto não passou de mero referencial para as futuras 
elaborações dos direitos humanos, pois, neste pacto, apenas os nobres receberam 
prerrogativas, deixando a população em segundo plano, ou seja, na verdade, foi um 
documento imposto ao Rei pelos barões feudais ingleses. 
Já Carl Schmitt (1928 apud CAVALCANTE FILHO, 2010) defende que a 
Magna Charta não pode ser considerada a primeira Constituição, pois não era 
direcionada para todos, mas apenas para a elite formada por barões feudais. Dessa 
forma, a primeira Constituição propriamente dita seria o Bill of Rights (Inglaterra, 
1688/1689), que previa direitos para todos os cidadãos, e não apenas uma classe 
deles. 
Assim, em pleno século XVIII, que se pode encontrar a primeira aparição de 
reais direitos fundamentais, apesar do dissídio levantado Sarlet (2007) diante da 
“paternidade” dos direitos fundamentais, que seria disputada entre a Declaração de 
Direitos do povo da Virgínea, de 1776, a Constituição Americana de 1787 (primeira 
constituição escrita)e a Declaração Francesa, de 1789, estas declarações seriam os 
primeiros documentos a representar os direitos fundamentais. 
Já para Bonavides (2007), é neste sentido que a Revolução Francesa, 
fixando direitos civis e políticos para que gradativamente fossem alcançados os 
princípios universais do lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, fora a grande 
precursora dos direitos fundamentais caracterizados através da posição de 
resistência ou de oposição frente ao Estado. 
 
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12 
Para Nicolao (2010), não tem sustentação defender a existência de direitos 
fundamentais antes mesmo da existência de um estado social. Percebe-se que 
apenas com a promulgação das declarações, pode-se identificar a presença do que 
seria o início dos direitos fundamentais. 
Cavalcante Filho (2010) também entende que há várias correntes que 
divergem, sobre quando teria se manifestado pela primeira vez a limitação do poder 
do Estado por meio de uma Constituição ou de algo a ela assemelhado. 
Atualmente, o movimento constitucionalista passou a lutar por vários outros 
objetivos (democracia efetiva, desenvolvimento econômico e ambiental, entre 
outros). Mas, mesmo assim, não perdeu de vista a defesa dos direitos fundamentais, 
que continua sendo uma de suas matérias básicas. 
Para refletirmos a respeito da incorporação dos tratados internacionais de 
proteção dos direitos humanos no ordenamento brasileiro, à luz da Constituição 
Federal de 1988 e após a Emenda Constitucional nº 45/04, vamos entender o 
significado de um tratado. 
Rezek (1996, p. 14) define tratado como “[...] todo acordo formal concluído 
entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos 
jurídicos”. 
Siqueira Júnior (2003, p. 9) diz que há uma variedade de denominações 
para os tratados: convenção, ato, protocolo, convênio, ajuste e acordo. Tratados e 
Convenções são expressões sinônimas. Acordo, convênio, ajuste, arranjo são atos 
internacionais de maior ou menor alcance, tanto de caráter bilateral, como de caráter 
multilateral. 
Os tratados internacionais, na definição de Bastos (1994, p. 216) 
 
[...] são acordos formais, eis que, à moda do que acontece com os contratos 
no direito interno, demandam eles uma concordância de vontades, o que os 
distingue do ato jurídico unilateral. 
 
O tratado internacional é um instrumento formal, não é admitida a oralidade, 
assim consta da Convenção de Havana sobre Tratados, de 1928, em seu artigo 2º, 
que “É condição essencial nos tratados a forma escrita”. 
 
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13 
A Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, concluída em maio de 
1969, considerada a “Lei dos Tratados”, pois se constitui em importante instrumento 
no caminho da codificação do direito internacional público, mas que só entrou em 
vigor em 27 de janeiro de 1980, também mantêm a exigência da forma escrita para 
os tratados – ao dizer em seu artigo 2º, 1, 
a) que: [...] Tratado designa um acordo internacional concluído por escrito 
entre Estados e regido pelo direito internacional, quer esteja consignado num 
instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer que seja 
a sua denominação particular (LEITE, 2005). 
Pois bem, vamos então ao alcance do § 2º do art. 5º da nossa Constituição 
Federal de 1988, ou seja, vamos discorrer sobre as várias classificações dos direitos 
fundamentais inseridos neste artigo. 
Siqueira Júnior (2003) classifica os direitos fundamentais em dois grupos 
distintos: 
a) Direitos imediatos – são os direitos e garantias expressos de forma direta 
na Constituição (art. 5º, I a LXXVII); são explícitos na medida em que estão 
claramente enumerados no texto constitucional. 
b) Direitos mediatos – são os direitos e garantias decorrentes do regime e 
dos princípios constitucionais, direitos implícitos, e os expressos em tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isto é, são 
implícitos na medida em que não estão enumerados no texto constitucional; como o 
próprio nome designa surgem de forma mediata, pois decorrem do regime e dos 
princípios da República Federativa do Brasil, bem como dos direitos expressos nos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Nesse sentido concorda Araújo (2009) ao dizer que existem Direitos 
Fundamentais previstos na Constituição Federal, direitos materialmente 
fundamentais que estão fora daquele elenco. A fundamentalidade decorre da sua 
referência a posições jurídicas ligadas ao valor da dignidade humana e, em vista da 
sua importância, não podem ser deixadas à disposição discricionária do legislador 
ordinário. 
 
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14 
É possível, a partir do próprio catálogo dos direitos fundamentais e de seus 
princípios elementares constantes do texto constitucional, deduzir a existência de 
outros, a exemplo do que ocorreu com a redação do § 36 do art. 153 da Carta de 
1969. 
Todavia, para Mello (1999), o § 2º do art. 5º da Constituição Federal não 
apenas empresta hierarquia constitucional aos tratados de proteção dos direitos 
humanos, mas, além disso, faz com que a norma internacional prevaleça sobre a 
norma constitucional, mesmo naquele caso em que uma Constituição posterior tente 
revogar uma norma internacional constitucionalizada, cuja grande vantagem é a de 
evitar que o Supremo Tribunal Federal venha a julgar a constitucionalidade dos 
tratados internacionais. Essa é, segundo Leite (2005), uma visão extremamente 
radical. Os partidários dessa teoria defendem a supremacia do tratado internacional 
frente à Constituição, é a teoria da internacionalização do direito constitucional. Essa 
não é a corrente majoritária. 
Ferreira Filho (1993), referindo-se ao § 2º, do artigo 5º, da Constituição, 
afirma que esse dispositivo significa simplesmente que a Constituição brasileira, ao 
enumerar os direitos fundamentais, não pretende ser exaustiva. Por isso, além 
desses direitos explicitamente reconhecidos, admite existirem outros, decorrentes 
dos regimes e dos princípios que ela adota, os quais implicitamente reconhece. 
A técnica da cláusula aberta em relação aos Direitos Fundamentais deriva 
da IX Emenda da Carta Norte-americana, que diz que a enumeração de alguns 
direitos na Constituição Federal não pode ser interpretada no sentido de excluir ou 
enfraquecer outros direitos que o povo tenha. Parte da doutrina inclusive argumenta 
que o § 2º do art. 5º da Carta de 1988 confere status constitucional aos tratados 
sobre direitos humanos. 
Em relação ao § 1º do art. 5º, que estabelece que as normas definidoras dos 
direitos e garantias fundamentais são autoaplicáveis, diz-se, obviamente,que elas 
são aplicáveis até onde possam, até o limite em que as instituições e os institutos 
propiciem condições para o seu atendimento. O judiciário, sendo chamado para 
resolver pretensão concreta nelas garantida, não pode deixar simplesmente de 
 
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15 
aplicá-las ou de levá-las em linha de consideração em sua fundamentação e 
argumentação, mas segundo o direito posto existente (ARAÚJO, 2009). 
Outra cláusula de suma importância no art. 5º da CF é aquela visível no 
preceito do § 2º segundo a qual os direitos e garantias expressos na Constituição 
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adorados, ou dos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Tal preceito revela a conhecida “norma de encerramento”, que institui as 
liberdades residuais, inominadas, implícitas ou decorrentes, as quais, a despeito de 
não enunciadas ou específicas na Carta, resultam do regime e dos princípios que 
ela adota. O rol é apenas exemplificativo, não se admitindo no plano dos direitos 
fundamentais qualquer exegese que suprima, restrinja ou neutralize outros direitos e 
garantias que, embora não especificados, são titularizados pelo ser humano. O 
objetivo da cláusula constitucional é inibir ações, atentados ou abusos do Estado 
contra as liberdades públicas (ARAÚJO, 2009). 
Por fim, a EC nº 45, acrescentou o § 3º ao art. 5º, da CF/88. Esse dispositivo 
estabelece a possibilidade de os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos, terem status de emenda constitucional, desde que obedecidos dois 
requisitos: o conteúdo do tratado ou convenção ser sobre direitos humanos e a sua 
deliberação parlamentar obedeça aos limites formais estabelecidos para a edição 
das emendas constitucionais, quais sejam, deliberação em cada casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos de votação, só sendo aprovado se obtiver três quintos dos 
votos dos respectivos membros parlamentares. 
Essa Emenda veio por fim à discussão doutrinária interminável sobre a 
hierarquia dos tratados de direitos humanos no ordenamento pátrio, pois agora, 
efetivamente, poderá os tratados sobre direitos humanos virem a ter status 
constitucional, mas somente se preenchidos os requisitos do § 3º, do art. 5º (LEITE, 
2005). 
 
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16 
1.3 As dimensões/gerações dos direitos fundamentais 
A multiplicidade de funções dos Direitos Fundamentais leva a que a sua 
própria estrutura não seja unívoca e propicie algumas classificações úteis para a 
compreensão do conteúdo e da eficácia de cada um deles. 
Uma sistematização clássica é a dos quatro status (Jellinek), bem como a 
que classifica os Direitos Fundamentais em direitos de defesa e direitos à prestação. 
Sob outro ângulo, no estudo das funções dos Direitos Fundamentais devem ser 
analisadas suas dimensões subjetiva e objetiva. 
Souza (2006) e Araújo (2009) são alguns dos estudiosos que trabalharam 
sobre a teoria de Jellinek, a qual pressupõe que o indivíduo pode encontrar-se de 
quatro modos, diante do Estado, disso derivando direitos e deveres diferenciados. 
O status subjectionis ou status passivo revela a posição de subordinação, 
onde o indivíduo se obriga em face do Estado, tendo este competência para vincular 
comportamentos por meio de mandamentos e proibições (ARAÚJO, 2009). 
O status passivo é a posição de subordinação aos poderes públicos, 
caracterizando-se como detentor de deveres para com o Estado, tendo competência 
para vincular o indivíduo, através de mandamentos e proibições (SOUZA, 2006). 
Ocorre o status negativo quando o ter personalidade exige o desfrute de um 
espaço de liberdade com relação às ingerências do Poder Público. O homem deve 
gozar de algum âmbito de ação desvencilhado do império do Estado, posto que a 
autoridade é exercida sobre homens livres (ARAÚJO, 2009). 
[...] faz-se necessário que o Estado não se intrometa na autodeterminação 
do indivíduo (SOUZA, 2006). 
Verifica-se o status civitatis no direito de exigir do Estado uma atuação 
positiva, preordenada à realização de uma prestação. Aqui, o indivíduo se vê com a 
capacidade de pretender que o Estado atue em seu favor (ARAÚJO, 2009; SOUZA, 
2006). 
Por fim, no status ativo, o indivíduo desfruta de competência para influir 
sobre a formação da vontade do Estado (ex.: voto), como nos direitos políticos. 
 
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17 
Tomando como base a teoria dos quatro status, depuram-se os três grupos 
de Direitos Fundamentais mais destacados, quais sejam, os direitos de defesa 
(direitos de liberdade), os direitos a prestações (direitos cívicos) e os direitos de 
participação (observe que o status subjectionis identifica deveres do indivíduo). 
Quando a dimensão subjetiva dos Direitos Fundamentais está mais ligada a 
suas origens históricas e às suas finalidades mais elementares e corresponde a uma 
pretensão a que se adote um dado comportamento ou no poder de produzir efeitos 
sobre certas relações jurídicas. 
Nessa perspectiva, os Direitos Fundamentais correspondem à exigência de 
uma ação negativa (ex.: liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem. Do mesmo 
modo, correspondem à competência, isto é, ao poder de modificar determinadas 
posições jurídicas. 
A dimensão objetiva resulta do significado dos Direitos Fundamentais como 
princípios básicos da ordem constitucional. Os Direitos Fundamentais participam da 
essência do Estado democrático de direito, operando como limite do poder, bem 
como diretriz para sua ação. As Constituições de feição democrática assumem um 
sistema de valores que os Direitos Fundamentais revelam e positivam. Tal fenômeno 
faz com que eles influam sobre todo ordenamento jurídico (ARAÚJO, 2009). 
Tal dimensão faz com que os direitos fundamentais transcendam à 
perspectiva da garantia de posições individuais para atingir a estatura de normas 
que traduzem os valores básicos da sociedade política, fazendo sua expansão para 
todo o direito positivo. 
Constituindo, dessa forma, a base do ordenamento jurídico do Estado 
democrático, é possível afirmar que a dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais 
transporta-os para além da perspectiva individualista, como um valor em si, a ser 
preservado e fomentado. 
A perspectiva objetiva legitima inclusive restrições aos Direitos Subjetivos 
individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos Direitos Fundamentais em 
benefício de seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos. 
 
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18 
Mais uma consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais 
está em atrair um dever de proteção pelo Estado contra agressões dos próprios 
poderes públicos, de particulares ou de outros Estados (dever de proteção), 
cobrando adoção de providências materiais ou jurídicas, de resguardo dos bens 
protegidos, corroborando a assertiva segundo a qual a dimensão objetiva interfere 
na dimensão subjetiva, atribuindo-lhe reforço de efetividade. 
O propósito de reforço de posições jurídicas fundamentais pode exigir a 
elaboração de regulamentações restritivas de liberdades. 
Respeita-se a liberdade de conformação do legislador, a quem se reconhece 
certo grau de discricionariedade na opção normativa tida como mais oportuna para a 
proteção dos direitos fundamentais. 
Caberá, então, aos órgãos políticos, indicar qual a medida a ser adotada 
para proteger os bens jurídicos abrigados pelas normas definidoras dos direitos 
fundamentais. 
A dimensão objetiva cria um direito à prestação associado ao direito de 
defesa e esse direito à prestação há de se sujeitar à liberdade de conformação dos 
órgãos políticos e aos limites da reserva do possível (ARAÚJO, 2009). 
Parte da doutrina alude à necessidade de o Estado agir em defesa dos 
Direitos Fundamentais com um mínimo de eficácia, não se podendo exigir 
afastamento absoluto da ameaça que se procura prevenir. 
Se é possível visualizar um dever de agir do Estado, não é razoável impor-
lhe o como agir. Uma pretensão individual somente poderá ser acolhida nos casos 
em que o espaço de discricionariedade estiver reduzido a zero. 
Assim, o aspecto objetivo dos Direitos Fundamentais comunica-lhes uma 
eficácia irradiante, o que os converte em uma diretriz para a interpretação e 
aplicação das normas dos diversos ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja, 
ainda, a discussão sobre a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, eficácia 
destes direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares 
(ARAÚJO, 2009). 
 
 
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19 
Guarde... 
Os Direitos Fundamentais visam assegurar a todos uma existência digna, 
livre e igual, criando condições à plena realização das potencialidades do ser 
humano (BIANCO, 2006). 
Os Direitos Fundamentais são um conjunto institucionalizado de direitos e 
garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, 
por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de 
condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana (MORAES, 
2002). 
Por serem indispensáveis à existência das pessoas, possuem as seguintes 
características: são intransferíveis e inegociáveis, portanto inalienáveis; não deixam 
de ser exigíveis em razão do não uso, portanto, são imprescritíveis; nenhum ser 
humano pode abrir mão da existência desses direitos, ou seja, são irrenunciáveis; 
devem ser respeitados e reconhecidos no mundo todo, o que representa a sua 
universalidade e, por fim, não são absolutos, podem ser limitados sempre que 
houver uma hipótese de colisão de direitos fundamentais que significa a sua 
limitabilidade. 
É importante salientar que esses direitos são variáveis, modificando-se ao 
longo da história de acordo com as necessidades e interesses do homem. 
Segundo Cavalcante Filho (2010), existe uma classificação que leva em 
conta a cronologia em que os direitos foram paulatinamente conquistados pela 
humanidade e a natureza de que se revestem. Importante ressaltar que uma 
geração não substitui a outra, antes se acrescenta a ela, por isso a doutrina prefere 
a denominação “dimensões”. 
a) Os direitos da primeira geração ou primeira dimensão foram inspirados 
nas doutrinas iluministas e jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII (individuais ou 
negativos): seriam os Direitos da Liberdade, liberdades estas religiosas, políticas, 
civis clássicas como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal 
(perante a lei), as liberdades de expressão coletiva, entre outros. São os primeiros 
direitos a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos 
civis e políticos. Os direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, traduzem-se 
 
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20 
como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu 
traço mais característico, sendo, portanto, os direitos de resistência ou de oposição 
perante o Estado, ou seja, limitam a ação do Estado. 
b) Segunda geração ou segunda dimensão: seriam os Direitos da Igualdade, 
no qual estão à proteção do trabalho contra o desemprego, direito à educação 
contra o analfabetismo, direito à saúde, cultura, entre outros. Essa geração dominou 
o século XX, são os direitos sociais, culturais, econômicos e os direitos coletivos. 
São direitos objetivos, pois conduzem os indivíduos sem condições de ascender aos 
conteúdos dos direitos através de mecanismos e da intervenção do Estado. Pedem 
a igualdade material, através da intervenção positiva do Estado, para sua 
concretização. Vinculam-se às chamadas “liberdades positivas”, exigindo uma 
conduta positiva do Estado, pela busca do bem-estar social (MORAES, 2002; 
BONAVIDES, 2007). 
c) Terceira geração ou terceira dimensão (difusos e coletivos); foram 
desenvolvidos no século XX: seriam os Direitos da Fraternidade, no qual está o 
direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, 
entre outros. Essa geração é dotada de um alto teor de humanismo e 
universalidade, pois não se destinavam somente à proteção dos interesses dos 
indivíduos, de um grupo ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao 
desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum 
da humanidade (BONAVIDES, 2007). 
d) Quarta geração ou quarta dimensão, que surgiu dentro da última década, 
por causa do avançado grau de desenvolvimento tecnológico: seriam os Direitos da 
Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à democracia, à 
informação, à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida defendida 
pela bioética, direitos difusos, direito ao pluralismo, entre outros. A globalização 
política na esfera da normatividade jurídica foi quem introduziu os direitos desta 
quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do 
Estado social. Está ligada à pesquisa genética, com a necessidade de impor um 
controle na manipulação do genótipo dos seres, especialmente o homem. 
 
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21 
As três gerações que exprimemos ideais de Liberdade (direitos individuais e 
políticos), Igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais) e Fraternidade (direitos 
da solidariedade internacional), compõem atualmente os Direitos Fundamentais. 
 
1.3.1 Direitos à prestação jurídica 
 
Existem direitos fundamentais cujo objeto se esgota na satisfação, pelo 
Estado, de uma prestação de natureza jurídica. O objeto do direito será a normação 
(regulamentação) pelo Estado do bem jurídico protegido como direito fundamental. 
Essa prestação jurídica pode consistir na emissão de normas jurídicas penais ou de 
normas de organização e de procedimento. 
A Constituição, por vezes, estabelece diretamente ao Estado a obrigação de 
legislar para coibir práticas atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais (art. 
5º, LXLI), o racismo (art. 52, XLII) ou a tortura e o terrorismo (art. 5º, XLIII). 
Para além disso, há Direitos Fundamentais que dependem, essencialmente, 
de normas infraconstitucionais para ganhar pleno sentido. Há direitos que se 
condicionam a outras normas que definirão o modo do seu exercício e até mesmo o 
alcance do seu significado. 
Existem, portanto, direitos fundamentais que necessitam de criação por via 
de lei de estruturas organizacionais (ex.: Defensoria Pública), para que se tornem 
efetivos. Tais direitos podem reivindicar a adoção de medidas normativas que 
permitam aos indivíduos o desfrute efetivo da organização e a participação nos 
procedimentos estabelecidos (ARAÚJO, 2009). 
 
 
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22 
1.3.2 Direitos a prestações materiais 
 
Os direitos à prestação material são tidos como os direitos sociais por 
excelência – concebidos para atenuar desigualdades de fato na sociedade e para 
ensejar que a libertação das necessidades aproveite ao gozo da liberdade efetiva 
por um maior número de indivíduos. O seu objeto consiste numa utilidade concreta 
(bem ou serviço) (SOUZA, 2006). São exemplos de tais direitos à prestação material 
aqueles enumerados no art. 6º da Constituição Federal (direitos sociais) e que são 
devidos pelo Estado, embora, nesse caso, os particulares também estejam 
vinculados, como ocorre com os descritos no art. 7º da Carta Magna (direitos do 
trabalhador). 
No que concerne à estrutura dos preceitos que veiculam normas que 
consagram os direitos à prestação, podemos destacar algumas peculiaridades: 
 possuem alta densidade normativa; 
 não carecem de interposição do legislador para a aplicação sobre as relações 
jurídicas (direitos originais à prestação); 
 exigem, no entanto, legislação para a produção de efeitos plenos, em sua 
maior parte. 
Como já ressaltado, os direitos à prestação material visam atenuar 
desigualdades fáticas de oportunidades, distribuindo riqueza no âmbito da 
sociedade. Não é menos certo, porém, que tais direitos têm sua efetivação sujeita às 
condições em cada momento da riqueza nacional, sendo satisfeitos segundo as 
conjunturas econômicas e orçamentárias. Diz-se que estão submetidos à reserva do 
possível (ARAÚJO, 2009). 
Nosso texto constitucional não oferece comando indeclinável para as opções 
de alocação de recursos, salvo em casos excepcionais (ex.: arts. 198 e 212 da 
CF/88); tais decisões devem ficar a cargo de decisão política, com a legitimação da 
representação popular competente para delinear as balizas da política financeira, 
social e monetária. 
 
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23 
Essa legitimação popular é importante porque a realização de direitos 
sociais importa em privilegiar um bem jurídico em prejuízo de outro. A efetivação de 
tais direitos implica em favorecer determinados segmentos da população e 
necessitam da legitimação democrática do Parlamento, como sede natural dessas 
deliberações e, em segundo lugar, do Poder Executivo. 
Não cabe, assim, ao Judiciário, salvo em casos excepcionalíssimos, extrair 
direitos subjetivos das normas constitucionais que tratam de direitos não originários 
a prestação. O direito subjetivo pressupõe que as prestações materiais já tenham 
sido suficientemente delineadas (ARAÚJO, 2009). 
É tarefa do órgão legislativo e não do Poder judiciário. Exemplo bastante 
esclarecedor é o direito ao trabalho (arts. 6º e 170, VIII, da Constituição Federal), 
onde o desempregado não tem direito subjetivo a que o Estado lhe proporcione um 
posto de trabalho. 
Assim, os direitos sociais fundamentais (identificados com os de prestação 
material) não justificam pretensões invocáveis de forma direta. Em princípio não 
podem ensejar direitos subjetivos individuais, já que se denominam direitos na 
medida da Lei. Esses direitos, como se vê, não podem ser determinados pelos 
juízes quanto aos seus pressupostos, bem como à extensão do seu conteúdo. Para 
que se determine seu conteúdo é necessária a atuação legislativa que o defina 
concretamente, fazendo uma opção dentro de um quadro de possibilidades e 
prioridades a que obrigam a escassez de recursos, o caráter limitado da intervenção 
do Estado na vida em sociedade e, em geral, o próprio princípio democrático. 
Com isso, os direitos à prestação material se aproximam dos direitos à 
prestação normativa. Em se tratando de direito à prestação, o dever imediato que 
toca o Estado é, em primeiro lugar, o de legislar, já que a elaboração das leis é 
tarefa devida (no caso dos direitos a prestações jurídicas) como condição 
organizativa necessária (no caso dos direitos a prestações materiais) – caso 
exemplar do art. 215 da Constituição Federal (cultura). 
Nesse diapasão, os direitos à prestação material e à prestação jurídica 
recaem na esfera de liberdade de conformação do legislador, tanto a soluções 
normativas, quanto ao modelo de organização e ritmo de concretização. 
 
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24 
A eficácia constitucional dessas normas é a de servir de parâmetro de 
controle de constitucionalidade de medidas restritivas desses direitos e revogam 
normas anteriores incompatíveis com os programas de ação que entronizam. 
Servirão, ainda, como modelo interpretativo das demais normas do ordenamento 
jurídico, sob pena de quebra da harmonia do sistema e de invalidade da norma 
(ARAÚJO, 2009). 
É preciso advertir para o perigo que corre a força normativa da Constituição 
quando é tencionada com promessas demagógicas e excessivas que redundam em 
frustração de justas expectativas. A teoria do grau mínimo de efetividade dos direitos 
à prestação material, procura uma garantia, um mínimo social dos direitos à 
prestação, sem o que fica configurada indesejável omissão legislativa. 
Em mais de uma oportunidade o Supremo Tribunal Federal adotou a referida 
teoria, ao garantir um grau mínimo social do direito à saúde (art. 201, §5º, da 
CF/88), no caso de fornecimento de medicamentos para portadores de AlDS, e o 
acesso à pré-escola (art, 208, IV da CRFB/88). 
 
1.3.3 Direitos fundamentais de participação 
 
Os direitos de participação constituiriam uma categoria mista, reunindo 
elementos dos direitos de defesa e dos direitos a prestações; garantiriam a 
participação dos cidadãos na formação da vontade do país, por via dos direitos 
políticos. 
 
1.3.4 Dimensões dos Direitos Fundamentais 
 
A dimensão subjetiva dos Direitos Fundamentais está mais ligada a suas 
origens históricas e às suas finalidades mais elementares e corresponde a uma 
pretensão a que se adote um dado comportamento ou no poder de produzir efeitos 
sobre certas relações jurídicas. 
 
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25 
Nessa perspectiva, os Direitos Fundamentais correspondem à exigência de 
uma ação negativa (ex.: liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem. Do mesmo 
modo, correspondem à competência, isto é, ao poder de modificar determinadas 
posições jurídicas. 
A dimensão objetiva resulta do significado dos Direitos Fundamentais como 
princípios básicos da ordem constitucional. Os Direitos Fundamentais participam da 
essência do Estado democrático de direito, operando como limite do poder, bem 
como diretriz para sua ação. As Constituições de feição democrática assumem um 
sistema de valores que os Direitos Fundamentais revelam e positivam. Tal fenômeno 
faz com que eles influam sobre todo ordenamento jurídico (ARAÚJO, 2009). 
Tal dimensão faz com que os direitos fundamentais transcendam à 
perspectiva da garantia de posições individuais para atingir a estatura de normas 
que traduzem os valores básicos da sociedade política, fazendo sua expansão para 
todo o direito positivo. 
Constituindo, dessa forma, a base do ordenamento jurídico do Estado 
democrático, é possível afirmar que a dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais 
transporta-os para além da perspectiva individualista, como um valor em si, a ser 
preservado e fomentado. 
A perspectiva objetiva legitima inclusive restrições aos Direitos Subjetivos 
individuais, limitando o conteúdo e o alcance dos Direitos Fundamentais em 
benefício de seus próprios titulares ou de outros bens constitucionalmente valiosos. 
Mais uma consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais 
está em atrair um dever de proteção pelo Estado contra agressões dos próprios 
poderes públicos, de particulares ou de outros Estados (dever de proteção), 
cobrando adoção de providências materiais ou jurídicas, de resguardo dos bens 
protegidos, corroborando a assertiva segundo a qual a dimensão objetiva interfere 
na dimensão subjetiva, atribuindo-lhe reforço de efetividade. 
O propósito de reforço de posições jurídicas fundamentais pode exigir a 
elaboração de regulamentações restritivas de liberdades. 
 
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26 
Respeita-se a liberdade de conformação do legislador, a quem se reconhece 
certo grau de discricionariedade na opção normativa tida como mais oportuna para a 
proteção dos direitos fundamentais. 
Caberá, então, aos órgãos políticos, indicar qual a medida a ser adotada 
para proteger os bens jurídicos abrigados pelas normas definidoras dos direitos 
fundamentais. 
A dimensão objetiva cria um direito à prestação associado ao direito de 
defesa e esse direito à prestação há de se sujeitar à liberdade de conformação dos 
órgãos políticos e aos limites da reserva do possível (ARAÚJO, 2009). 
Parte da doutrina alude à necessidade de o Estado agir em defesa dos 
Direitos Fundamentais com um mínimo de eficácia, não se podendo exigir 
afastamento absoluto da ameaça que se procura prevenir. 
Se é possível visualizar um dever de agir do Estado, não é razoável impor-
lhe o como agir. Uma pretensão individual somente poderá ser acolhida nos casos 
em que o espaço de discricionariedade estiver reduzido a zero. 
Assim, o aspecto objetivo dos Direitos Fundamentais comunica-lhes uma 
eficácia irradiante, o que os converte em uma diretriz para a interpretação e 
aplicação das normas dos diversos ramos do Direito. A dimensão objetiva enseja, 
ainda, a discussão sobre a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, eficácia 
destes direitos na esfera privada, no âmbito das relações entre particulares 
(ARAÚJO, 2009). 
 
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UNIDADE 2 – DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS E 
COLETIVOS E O REGIME JURÍDICO DOS MILITARES 
 
2.1 Direitos e garantias individuais e coletivos dos militares 
Os direitos e garantias individuais e coletivos são aquele conjunto de 
preceitos jurídicos que, por sua natureza mesma, são inalienáveis ao homem como 
tal, fundamentados em seu sentimento de justiça; são manifestações de um 
resguardar-se frente à Organização Política e aos quais só se conhece, como 
limites, os mesmos direitos pertencentes a outro indivíduo, tal como no imperativo 
Kantiano: o direito de um determina onde começa o direito do outro (DANTAS, 2007, 
p. 94). 
PEDRO LENZA (2009) ressalta que estes direitos e garantias, enquanto 
direitos fundamentais, caracterizam-se pela universalidade, ou seja, destinam-se, de 
modo indiscriminado, a todos os seres humanos. 
O art. 5° da Constituição Federal de 1988 assegura aos brasileiros – 
inclusive aos militares2 - e aos estrangeiros direitos e garantias individuais. 
 
2
 Os princípios da hierarquia e da disciplina, ínsitos na seara militar (artigo 142, caput da CRFB/88) e 
necessários à estrutura organizacional miliciana, são dotados, na sua axiologia, de menor intensidade 
daqueles conferidos aos direitos e garantias fundamentais do homem, não chegando, assim, a ponto 
de retirar a validade plena e imediata destes. Os militares, conquanto insertos numa estrutura 
administrativa própria, são, antes de tudo, cidadãos cujos direitos e garantias estão amplamente 
assegurados em nosso direito constitucional. (TRF3. RHC - Petição de recurso ordinário em habeas 
corpus - 526. Processo: 200261030000036/ SP. Órgão Julgador: Quinta Turma. Relatora: Juiza 
Suzana Camargo. DJU 27/09/2005). 
Constitucional. Administrativo. Militar. Atividade científica. Liberdade de expressão independente de 
censura ou licença. Garantia constitucional. Lei de hierarquia inferior. lnafastabilidade. Processo 
administrativo disciplinar. Transgressão militar. Inexistência, Falta de justa causa. Punição anulada. 
Recurso provido. I - A Constituição Federal, à luz do princípio da supremacia constitucional, encontra-
se no vértice do ordenamento jurídico, e é a Lei Suprema de um País, na qual todas as normas 
infraconstitucionais buscam o seu fundamento de validade. II - Da garantia de liberdade de expressão 
de atividadecientífica, independente de censura ou licença, constitucionalmente assegurada a todos 
os brasileiros (art. 5°, IX), não podem ser excluídos os militares em razão de normas aplicáveis 
especificamente aos membros da Corporação Militar. Regra hierarquicamente inferior não pode 
restringir onde a Lei Maior não o fez, sob pena de inconstitucionalidade. III - Descaracterizada a 
transgressão disciplinar pela inexistência de violação ao Estatuto e Regulamento Disciplinar da 
Polícia Militar de Santa Catarina, desaparece a justa causa que embasou o processo disciplinar, 
anulando-se em consequência a punição administrativa aplicada. III - Recurso conhecido e provido. 
(STl RMS 11.587/SC, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 16/09/2004, DJ 
03/11/2004, p. 206). 
 
 
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Por outro lado, o art. 142 da CRFB/88 dispõe serem as Forças Armadas 
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, princípios essenciais e 
indispensáveis à própria existência de tais instituições. Logo, os militares, 
obrigatoriamente, devem se sujeitar à rigorosa disciplina e ao estrito acatamento à 
hierarquia militar, sob pena de responsabilização na esfera disciplinar ou penal, 
como preceitua a própria Constituição (art. 5°, LXI). 
JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2010) questiona e ele mesmo dá a 
solução sobre como, então, conciliar o exercício de direitos e garantias individuais e 
coletivos com a sujeição hierárquico-disciplinar quando, aparentemente, se 
conflitarem. 
Pois bem, a solução do impasse está na ponderação de valores ou 
ponderação de interesses. Como ensina LUÍS ROBERTO BARROSO (2001), trata-
se de técnica pela qual se procura estabelecer o peso relativo de cada um dos 
princípios contrapostos. Como não existe um critério abstrato que imponha a 
supremacia de um sobre o outro, deve-se, à vista do caso concreto, fazer 
concessões recíprocas, de modo a produzir um resultado socialmente desejável, 
sacrificando o mínimo de cada um dos princípios ou direitos fundamentais em 
oposição. O legislador não pode, arbitrariamente, escolher um dos interesses em 
jogo e anular o outro, sob pena de violar o texto constitucional. Seus balizamentos 
devem ser o princípio da razoabilidade e a preservação, tanto quanto possível, do 
núcleo mínimo do valor que esteja cedendo passo. Não há, aqui, Superioridade 
formal de nenhum dos princípios em tensão, mas a simples determinação da 
solução que melhor atende ao ideário constitucional na situação apreciada. 
Desse modo, os direitos e garantias individuais consagrados na Constituição 
Federal não podem servir de blindagem, de escudo, para a prática de atos que 
atentem contra a hierarquia e a disciplina militar. Em contrapartida, estas não podem 
servir de pretexto para excluírem aqueles. Consequentemente, o militar, no exercício 
de um direito ou garantia individual e coletiva, deve se abster de praticar ato 
atentatório à hierarquia e à disciplina castrense, sob pena de ser responsabilizado 
na esfera disciplinar ou penal, conforme dispuser a legislação de regência. É o que 
se passa, por exemplo, com um militar da ativa que, punido disciplinarmente com 
pena privativa de liberdade, por autoridade incompetente, de próprio punho, impetra 
 
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habeas corpus, referindo-se à aludida autoridade de forma desrespeitosa. Neste 
caso, o militar deverá ser responsabilizado pela ofensa ao dever militar – respeito à 
hierarquia e disciplina, ainda que lhe seja concedida a ordem no writ (ABREU, 
2010). 
Por fim, em razão das peculiaridades da carreira militar, a Carta Política, 
expressamente, vedou – ou ao menos limitou em parte – aos militares o gozo de 
alguns dos direitos e garantias individuais descritos no aludido art. 5°. Como 
exemplos, citamos: 
a) o habeas corpus em relação ao mérito das punições disciplinares, por 
força do art. 142, § 2°, da CRFB/88; 
b) o direito à liberdade de associação para fins lícitos e à criação de 
associações, diante da proibição de sindicalização prevista no art. 142, § 3°, IV, da 
CRFB/88; 
c) o direito ao livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, em 
razão do caráter compulsório do serviço militar inicial (art. 143 da CRFB/88); 
d) o direito à livre manifestação do pensamento, por força dos princípios da 
hierarquia e da disciplina (art. 142 da CRFB/88), motivo pelo qual o subordinado não 
pode censurar ou criticar ato de superior hierárquico, sob pena de incorrer em 
prática de transgressão disciplinar (Art. 10, nº 23, RDAer, por exemplo) ou, até 
mesmo, de crime militar (art. 199 do CPM), etc. 
 
2.2 O regime jurídico dos militares 
Os servidores públicos civis da União, excetuando-se os sujeitos ao regime 
celetista, e os militares estão submetidos a regime jurídico estatutário, instituído por 
lei de iniciativa privativa do Presidente da República. Aqueles têm a base de seu 
regime jurídico disciplinado, minuciosamente, pela Constituição Federal, ao passo 
que estes não. Isto se dá em razão das inúmeras peculiaridades da carreira militar, o 
que, de fato, inviabilizaria um disciplinamento analítico do tema, nos moldes 
realizados para os servidores civis. 
Ademais, como destaca IVAN BARBOSA RIGOLIN (2006, p. 211), não seria 
razoável a Constituição, além de enfeixar um grande universo de institutos civis 
 
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como faz, também pretender abarcar o todo particular e diverso mundo dos militares; 
tal não é papel para a Constituição, mas efetivamente para a lei e para os 
regulamentos infralegais, que de resto existem em volume nada desprezível. 
Portanto, agiu bem a Carta Política ao remeter à lei o disciplinamento do regime 
jurídico dos militares (art. 142, § 3°, X, da CRFB/88). 
Cumpre salientar que a atuação do legislador infraconstitucional na 
elaboração do regime jurídico dos militares está condicionada à observância das 
diretrizes mínimas fixadas no Texto Fundamental, a exemplo das contidas no art. 
142, que confere e impõe, respectivamente, direitos, prerrogativas e deveres aos 
militares (ABREU, 2010). 
Por estas razões, o regime jurídico dos militares, necessariamente, deverá 
contemplar os direitos sociais descritos no inciso VIII, § 3°, do art. 142 da CRFB/88, 
a saber: 
a) décimo terceiro salário; 
b) salário-família; 
c) férias anuais remuneradas com pelo menos um terço a mais do que o 
salário normal; 
d) licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com duração 
de 120 (cento e vinte) dias; 
e) licença-paternidade; 
F) assistência gratuita aos filhos e dependentes, desde o nascimento até 
cinco anos de idade, em creches e pré-escolas. 
Há de se esclarecer, ainda, que o rol de direitos sociais,definido no inciso 
VIII, § 3°, do art. 142, é taxativo, não cabendo ao intérprete ampliá-lo. Contudo, nada 
impede que o legislador infraconstitucional, no exercício da atribuição a ele 
outorgada pelo art. 142, § 3°, X, confira aos militares outros direitos sociais não 
abrangidos pelo mencionado inciso VIII, como, aliás, o tem feito. A título de exemplo, 
cita-se o direito ao salário-mínimo na forma descrita no art. 7°, IV e VII, da CRFB/88. 
Tem-se entendido que este direito social não foi estendido aos militares, pois o art. 
 
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142, § 3°, VIII, da Carta Maior, a ele não faz alusão (Ver Súmula Vinculante 6 do 
STF). 
Todavia, o legislador infraconstitucional conferiu-lhes este direito, excluindo, 
apenas, as praças prestadoras de serviço militar inicial e as praças especiais, salvo 
o guarda-marinha e o aspirante a oficial (art. 18, caput, e parágrafo 2º da MP nº 
2.215-10/01). 
Da mesma forma, o art. 142, § 3°, VIII, da CRFB/88 é silencioso em relação 
ao adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou perigosas, 
previsto no art. 7°, XXIII, razão pela qual os militares a ele não fariam jus. Contudo, o 
legislador assegurou-Ihes o direito em questão, na forma de adicional de 
compensação orgânica, parcela remuneratória mensal devida ao militar para 
compensação de desgaste orgânico resultante do desempenho continuado de 
determinadas atividades especiais (Art. 1º, II, d, da MP nº 2.215-10/01). O mesmo 
ocorre nas polícias militares e corpos de bombeiros militares, que, em regra, 
instituem, em lei, gratificações de risco ou de periculosidade. 
O regime jurídico dos militares deverá conter, também, as proibições e 
garantias descritas no art. 37, XI, XIII, XIV e XV, da CRFB/88, em razão do art. 142, 
§ 3°, VIII. Importante ressaltar que o legislador infraconstitucional não poderá isentar 
os militares das vedações nem excluí-los das garantias descritas nos incisos XI, XIII, 
XIV e XV do art. 37, sob pena de afronta à Constituição (ABREU, 2010). 
Convém destacar, ainda, que, como ensina CELSO ANTÔNIO BANDEIRA 
DE MELLO (2006), no liame de função pública, composto sob a égide estatutária, o 
Estado, ressalvadas as pertinentes disposições constitucionais impeditivas, deterá o 
poder de alterar legislativamente o regime jurídico de seus servidores, inexistindo a 
garantia de que continuarão sempre disciplinados pelas disposições vigentes 
quando de seu ingresso. Então, benefícios e vantagens, dantes previstos, podem 
ser ulteriormente suprimidos. Bem por isto, os direitos que deles derivem não se 
incorporam integralmente, de imediato, ao patrimônio jurídico do servidor (firmando-
se como direitos adquiridos), do mesmo modo que nele se integrariam se a relação 
fosse contratual. 
 
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Assim, exempli gratia, se o adicional por tempo de serviço a que os 
servidores públicos federais faziam jus, de 1% por ano de tempo de serviço, por 
força do art. 67 da Lei nº 8.112, viesse a ser extinto, como o foi pela inconstitucional 
Medida Provisória 1.909-15, de 29/06/1999, hoje 2.225-45, de 4/09/2001, os que já 
houvessem completado este período continuariam a perceber os acréscimos aos 
vencimentos que deles houvessem resultado, por já haver perfazido o necessário à 
aquisição do direito quanto às sobreditas parcelas; contudo, a partir da lei extintiva 
não mais receberiam novos acréscimos que lhes adviriam dos anuênios 
sucessivamente completados (MELLO, 2006, p. 243-4). Em sendo estatutário o 
liame que une os militares à União, poderá ser alterado por lei, sempre que 
necessário, vez que inexiste direito adquirido a regime jurídico estatutário. 
As considerações feitas também são empregáveis aos militares estaduais, já 
que a eles se aplica o art. 142, §§ 1º e 2°, da CRFB/88, por força do art. 42, § 1º. 
 
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UNIDADE 3 – OS MILITARES NA SOCIEDADE – 
TRATAMENTO DIFERENCIADO 
 
Vimos em outro momento do curso que a nossa última Constituição Federal, 
analítica, em vários de seus dispositivos referiu-se aos militares brasileiros, tratando-
os de forma específica e diferenciando-os do cidadão comum. Veremos agora seus 
direitos políticos, a questão da nacionalidade, a efetivação dos direitos sociais e 
explicaremos a objeção da consciência. 
 
3.1 Os direitos políticos – breve comparação 
O art. 14 da Constituição da República estabeleceu que a soberania popular 
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor 
para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
Dirigindo-se aos militares, seu § 2° impede o alistamento como eleitor tão 
somente dos conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório. 
Inicialmente, segundo JORGE CÉSAR DE ASSIS (2012), chegou-se a pensar que 
tal norma seria inócua, já que a Constituição Cidadã trouxe, como novidade em 
termos de direitos políticos, a faculdade de os adolescentes maiores de 16 e 
menores de 18 anos alistarem-se eleitores, se assim o quiserem. 
E, graças ao amadurecimento político de nossa juventude, o alistamento 
eleitoral nessa faixa de idade é maciço, vale dizer, via de regra, o conscrito já será 
um eleitor. 
Todavia, a posição do Tribunal Superior Eleitoral- TSE, é pela prevalência da 
norma constitucional restritiva. Na Resolução nº 20.165, de 07.04.1998, baixada em 
decorrência do Processo Administrativo 16.337 – Classe 19 – Goiás/GO, o TSE 
decidiu, com base no voto do relator o Ministro Nilson Naves, o seguinte: 
 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
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Alistamento eleitoral. Impossibilidade de ser efetivado por aqueles que 
prestam o serviço militar obrigatório – Manutenção do impedimento ao 
exercício do voto pelos concritos (aluno do órgão de formação de reserva) 
anteriormente alistados perante a Justiça eleitoral, durante o período da 
conscrição. 
 
A bem da verdade, esta amplitude do direito de voto aos militares ocorreu 
em 1988. Até então, cabos e soldados de uma forma geral, estavam excluídos do 
alistamento eleitoral – o que representava, a toda evidência, um capitis diminutio em 
sua cidadania. 
Situação restritiva ao direito de votar dos militares persiste ainda na 
República Dominicana, onde o voto é obrigatório para todos os cidadãos, pessoal, 
livre e secreto, mas não podem exercitá-lo

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