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6 150 Livro: Introdução à Álgebra Linear Autores: Abramo Hefez Cecília de Souza Fernandez Capítulo 6: Transformações Lineares e Matrizes Sumário 1 Matriz de uma Transformação Linear . . . . . . . 151 2 Operações com Transformações Lineares e Ma- trizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 3 Operadores Lineares em R2 e em R3 . . . . . . . . 163 4 Mudança de Base e Matrizes Semelhantes . . . . 171 1. MATRIZ DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR 151 Neste capítulo, mostramos como associar matrizes a transformações line- ares, reduzindo as operações com transformações lineares a operações com matrizes, o que permite ganhar computabilidade. 1 Matriz de uma Transformação Linear Nesta seção, veremos que se V e W são espaços vetoriais de dimensão finita, com bases fixadas, então uma transformação linear T : V → W pode ser representada por uma matriz. A vantagem de uma tal representação é que muitos problemas associados às transformações lineares entre espaços de dimensão finita podem ser resolvidos com a teoria das matrizes, como veremos na próxima seção e nos capítulos a seguir. Seja T : V→W uma transformação linear, em que dimV=n e dimW=m. Sejam α = {v1, v2, . . . , vn} e β = {w1, w2, . . . , wm} bases de V e W , respec- tivamente. Como β é uma base de W , podemos determinar de modo único números reais aij, com 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m, tais que T (vi) = a1iw1 + · · ·+ ajiwj + · · ·+ amiwm. (1) Tomemos agora v em V . Temos que v = k1v1 + · · · + knvn, em que ki ∈ R para 1 ≤ i ≤ n. Pela linearidade de T e por (1), segue que T (v) = k1T (v1) + · · ·+ knT (vn) = k1(a11w1 + · · ·+ am1wm) + · · ·+ kn(a1nw1 + · · ·+ amnwm) = (a11k1 + · · ·+ a1nkn)w1 + · · ·+ (am1k1 + · · ·+ amnkn)wm. Logo, [T (v)]β = a11k1 + · · ·+ a1nkn.. . am1k1 + · · ·+ amnkn = a11 · · · a1n.. . . . . am1 · · · amn k1.. . kn = [T ]αβ · [v]α, (2) 152 CAPÍTULO 6. TRANSFORMAÇÕES LINEARES E MATRIZES onde definimos [T ]αβ = a11 · · · a1n.. . . . . am1 · · · amn . A matriz [T ]αβ , que representa T em relação às bases α e β, é chamada a matriz de T nas bases α e β. Por (2), temos a expressão [T (v)]β = [T ] α β · [v]α para todo v em V . (3) Observemos que [T ]αβ é uma matriz de ordem m × n tal que, para cada 1 ≤ i ≤ n, a i-ésima coluna de [T ]αβ é dada pelas coordenadas de T (vi) na base β. Exemplo 1. Sejam α = {(1, 1), (0, 2)} e β = {(1, 0, 1), (0, 1, 0), (1, 2, 0)}, bases de R2 e R3, respectivamente. Calculemos [T ]αβ , onde T : R2 → R3 é dada por T (x, y) = (2x, x− y, 2y). Como T é uma transformação linear de R2 em R3, [T ]αβ é uma matriz 3× 2, digamos [T ]αβ = a11 a12a21 a22 a31 a32 . Pelo que vimos, a11, a21 e a31 são as coordenadas de T (1, 1) na base β e a12, a22 e a32 são as coordenadas de T (0, 2) na base β. Ou seja, T (1, 1) = (2, 0, 2) = a11(1, 0, 1) + a21(0, 1, 0) + a31(1, 2, 0) e T (0, 2) = (0,−2, 4) = a12(1, 0, 1) + a22(0, 1, 0) + a32(1, 2, 0). Equivalentemente, a11 + a31 = 2 a21 + 2a31 = 0 a11 = 2 e a12 + a32 = 0 a22 + 2a32 = −2 a12 = 4 . 1. MATRIZ DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR 153 Resolvendo os sistemas lineares acima, obtemos a11 = 2, a21 = 0, a31 = 0, a12 = 4, a22 = 6 e a32 = −4. Portanto, [T ]αβ = 2 40 6 0 −4 . No exemplo anterior, determinamos [T ]αβ a partir da transformação linear T . No próximo exemplo, vamos considerar o problema inverso: dada a matriz [T ]αβ , determinar T a partir desta matriz. Exemplo 2. Sejam α e β as bases dadas no Exemplo 1. Determine a transformação linear T : R2 → R3 tal que [T ]αβ = 1 01 2 0 1 . Para determinar T usaremos a expressão (3). Assim, computemos inici- almente [v]α. Ora, se (x, y) ∈ R2, então (x, y) = x(1, 1) + ( y − x 2 ) (0, 2), o que nos dá [(x, y)]α = xy − x 2 . Portanto, [T (x, y)]β = 1 01 2 0 1 xy − x 2 = x y y − x 2 e, consequentemente, 154 CAPÍTULO 6. TRANSFORMAÇÕES LINEARES E MATRIZES T (x, y) = x(1, 0, 1) + y(0, 1, 0) + ( y − x 2 ) (1, 2, 0) = ( y + x 2 , 2y − x, x ) . O Exemplo 2 pode ser resolvido por um outro método. De fato, sabemos que, na base β, a primeira coluna de [T ]αβ nos dá as coordenadas de T (1, 1) e a segunda coluna nos dá as coordenadas de T (0, 2). Assim, T (1, 1) = 1(1, 0, 1) + 1(0, 1, 0) + 0 · (1, 2, 0) = (1, 1, 1) e T (0, 2) = 0 · (1, 0, 1) + 2(0, 1, 0) + 1(1, 2, 0) = (1, 4, 0). Para (x, y) ∈ R2 arbitrário, temos (x, y) = x(1, 1) + ( y − x 2 ) (0, 2). Agora, pela linearidade de T , segue que T (x, y) = x(1, 1, 1) + ( y − x 2 ) (1, 4, 0) = ( y + x 2 , 2y − x, x ) , como encontrado anteriormente. Quando a transformação linear for de um espaço vetorial V nele mesmo, ela será chamada de operador em V . Exemplo 3. Consideremos o operador identidade em um espaço vetorial V ; isto é, o operador definido por IV (v) = v para todo v ∈ V . Tem-se que [IV ] α α é a matriz identidade de ordem n. De fato, para cada 1 ≤ j ≤ n, a j-ésima coluna de [IV ]αα é dada pelas coordenadas de IV (vj) na base α. Mas, para cada 1 ≤ j ≤ n, IV (vj) = vj = 0v1 + · · ·+ 0vj−1 + 1vj + 0vj+1 + · · ·+ 0vn, 1. MATRIZ DE UMA TRANSFORMAÇÃO LINEAR 155 o que implica que [IV ] α α é a matriz identidade de ordem n: [IV ] α α = 1 · · · 0 · · · 0 0 0 0 . . . . . . . . . 0 · · · 1 · · · 0 . . . . . . . . . 0 · · · 0 · · · 1 . ↑ ↑ ↑ coordenadas coordenadas coordenadas de IV (v1) de IV (vj) de IV (vn) na base α na base α na base α Seja T : V → W uma transformação linear entre espaços vetoriais de dimensão finita. Vimos que, uma vez fixadas bases α e β de V e W , res- pectivamente, existe uma única matriz [T ]αβ que representa T nessas bases. Uma pergunta natural é o que ocorre com a matriz [T ]αβ se diferentes bases são escolhidas. Consideremos a transformação linear dada no Exemplo 1. Se α e β são as bases canônicas de R2 e R3, respectivamente, então [T ]αβ = 2 01 −1 0 2 . Assim, podemos ter matrizes diferentes representando uma mesma trans- formação linear. Isto deixa bastante claro que, embora uma transformação linear T : V → W não dependa de bases particulares escolhidas para V e W , a matriz associada depende dessas bases. Terminamos esta seção observando que escolhidas bases quaisquer α e β de Rn e Rm, respectivamente, uma matriz A ∈ M(m,n) define uma trans- formação linear T : Rn → Rm como segue: [T (v)]β = A · [v]α, v ∈ Rn. 156 CAPÍTULO 6. TRANSFORMAÇÕES LINEARES E MATRIZES Mais ainda, tem-se que [T ]αβ = A (veja Problema 1.2). Em particular, se α e β são as bases canônicas de Rn e Rm, respectiva- mente, então a transformação linear T é chamada transformação multiplica- ção por A, sendo representada por TA. Exemplo 4. Seja A = [aij] uma matriz de ordem m× n. Temos que TA(x1, . . . , xn) = a11 a12 . . . a1n a21 a22 . . . a2n . . . . . . . . . am1 am2 . . . amn x1 x2 . . . xn = a11x1 + a12x2 + · · ·+ a1nxn a21x1 + a22x2 + · · ·+ a2nxn . . . am1x1 + am2x2 + · · ·+ amnxn = x1w1 + x2w2 + · · ·+ xnwn, onde w1, . . . , wn são os vetores colunas da matriz A. Assim, temos que ImTA é o subespaço de Rm gerado pelas colunas da matriz A, chamado espaço coluna de A e denotado por C(A). Por outro lado, o núcleo KerTA de TA é o conjunto solução Sh(A) do sistema linear homogêneo AX = 0. Problemas 1.1 Dadas duas transformações lineares T, T ′ : V → W e bases α e β de V e W , respectivamente, mostre que se [T ]αβ = [T ′]αβ , então T = T