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SEGURANÇA DO TRABALHO Acidentes e incidentes 2 3 Analisando com mais atenção essa lei, é possível concluir que, na legislação brasileira, para que seja consi- derado acidente do trabalho, é necessário que tenha ocorrido uma lesão em pelo menos uma pessoa. Essa pessoa machucada deve estar a serviço da empresa, dentro ou fora das suas instalações, e em exercício do trabalho normal e típico da sua função. Outro ponto importante a ser destacado nesse conceito, é o de que a lesão pode ocasionar afastamento do trabalho para a sua recuperação, de forma temporária ou definitiva, e, em última possibilidade, morte do acidentado. Porém, o efeito do acidente pode ocasionar pequenas lesões, e o acidentado não precisa se afastar do trabalho para a sua recuperação. Neste material veremos diversos conceitos necessários para o entendimento do assunto relativo a acidentes, incidentes, teorias para registro e análise dos acidentes no trabalho, metodologias de análise e investigação de acidentes, plano de ação e acompanha- mento das ações implantadas, todas oriundas dessas análises. No desempenho das funções do técnico de segurança no traba- lho, essas atividades fazem parte da rotina diária das atividades, porque todo esse procedimento a respeito dos acidentes, é uma ferramenta de prevenção de acidentes. A partir do momento que é estabelecida uma gestão do assunto, estaremos prevenindo e, principalmente, evitando novas ocorrências. Quando bem analisa- dos e bem controlados com ações corretas, os acidentes podem ser minimizados. Conforme a Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, no seu artigo 19, acidente do trabalho é conceituado da seguinte forma: Art. 19. Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Introdução Conceitos 4 5 Continuando a analisar a mesma lei, no artigo 20, também são considerados acidentes do trabalho os seguintes casos: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no item anterior. Nos dois casos, cabe ressaltar que para ser considerada uma doença do trabalho ou doença profissional obrigatoriamente ela deve fazer parte da lista de doenças reconhecidas como tal. Esta lista é elaborada pelo ministério do trabalho e da previdência social. I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conse- quência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou compa- nheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacio- nada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de compa- nheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da em- presa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar preju- ízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, indepen- dentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qual- quer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. § 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfa- ção de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. § 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior. Em seu artigo 21, a mesma lei, equipara acidente do trabalho com os seguintes eventos: 6 7 Além desse conceito legal de acidente do trabalho que possui um cunho único para atender a legislação previdenciária, a NBR 14280:2001 mostra um conceito prevencionista, voltado única e exclusivamente para alavancar as atitudes de prevenção de acidentes do trabalho. Esse conceito estabelece o seguinte: A característica principal desse conceito é a de considerar como acidente do trabalho qualquer evento com potencial de causar lesões, mesmo que essas não ocorram, bastando apenas o potencial de ocorrer. Esse é um conceito bem amplo para a segurança no trabalho, pois esses eventos serão analisados e investigados na sua essência, de forma a descobrir as causas e eliminá-las, fazendo com que não voltem a ocorrer. A legislação brasileira não define e não reconhece o termo incidente. Porém, é uma boa prática adotada pela maioria das empresas, chamar de incidente ou quase acidente, o evento ocorrido com potencial de causar lesão, mas que não tenha ocorrido efetivamente. Para fins de realizar uma exce- lente gestão da segurança, é necessário e muito importante estabelecer a mesma rotina de análise entre os dois tipos de eventos: acidentes com lesão e incidentes. Porém, a norma certificadora em segurança e saúde no trabalho, OHSAS 18001:2007, define como incidente todo e qualquer evento danoso para as pessoas ou para o patrimônio, independentemente de ter ocorrido lesão ou não. Diferentemente do que consta na legislação brasileira. A seguir, vamos trazer diversas definições necessárias para o entendimento do assunto. Essas definições estão de acordo com a NBR 14280:2001, da associação brasileira de normas técnicas. O acidente do trabalho pode ser definido como uma ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil ou lesões aos trabalhadores e/ou danos materiais. Portanto, mesmo ocorrências que não resultem lesões ou danos materiais, devem ser encaradas como acidente do trabalho. Acidente sem lesão Acidente que não causa lesão pessoal. Acidente de trajeto Acidente sofrido pelo empregado no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do em- pregado, desde que não haja interrupção ou alteração de percurso por motivo alheio ao trabalho. Agente do acidente Coisa, substância ou ambiente que, sendo inerente a condição ambiente de insegurança, tenha provocado o acidente. Fonte da lesão Coisa, substância, energia ou movimento do corpo que diretamente provocou a lesão. Fator pessoal de insegurança Causa de acidente relativo ao comportamento humano, que pode levar a ocorrência do acidente ou a prática de um ato inadequado. Ato inadequado É a causa do acidente que por ação ou omissão que, contrariando preceito de segurança, pode causar ou favorecer a ocorrência de acidente. Condição ambiente de insegurança Condição do meio que causou o acidente ou contribuiu para a sua ocorrência. Lesão pessoalQualquer dano sofrido pelo organismo humano, como consequência de acidente do trabalho. Natureza da lesão Expressão que identifica a lesão, segundo suas características principais. Localização da lesão Indicação do local da lesão. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 8 9 Lesão imediata Lesão que se manifesta no momento do acidente. Lesão mediata Lesão que não se manifesta imediatamente após a circunstância acidental da qual resultou. Morte Cessação da capacidade de trabalho pela perda da vida, independentemente do tempo ocorri- do desde a lesão. Lesão com afastamento (lesão incapacitante ou lesão com perda de tempo) Lesão pessoal que impede o acidentado de voltar ao trabalho no dia imediato ao do acidente ou que resulte incapacidade permanente. Lesão sem afastamento (lesão não incapacitante ou lesão sem perda de tempo) Lesão pessoal que não impede o acidentado de voltar ao trabalho no dia imediato ao do aciden- te, desde que não haja incapacidade permanente. Incapacidade permanente total Perda total da capacidade de trabalho, em caráter permanente, sem morte. Incapacidade permanente parcial Redução parcial da capacidade de trabalho, em caráter permanente que, não provocando a morte ou a incapacidade permanente total, é causa de perda de qualquer membro ou parte do corpo, perda total do uso desse membro ou parte do corpo, ou qualquer redução permanente de função orgânica. Incapacidade temporária total Perda total da capacidade de trabalho de que resulte um ou mais dias perdidos, excetuadas a morte, a incapacidade permanente parcial e a incapacidade permanente total. Análise de acidente Estudo do acidente para a pesquisa de causas, circunstâncias e consequências. Registro de acidente Registro metódico e pormenorizado, em formulário próprio, de informações e de dados de um acidente, necessários ao estudo e à análise de suas causas, circunstâncias e consequências. ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Cadastro de acidentes Conjunto de informações e de dados relativos aos acidentes ocorridos.! Típico Este é o tipo de acidente mais comum. Ele acontece dentro da empresa e durante o horário de expediente. Esse acidente está diretamente relacionado com a atividade do trabalhador e com os riscos rela- cionados à função desempenhada. De trajeto Acontece durante o percurso do tra- balhador até a sua casa ou até o local de trabalho. Pode ocorrer no início, durante ou no final do expediente. Esse acidente não está relacionado com a atividade desempenhada e com os riscos no trabalho, mas sim com o deslocamento do funcionário fora do local de trabalho. Atípico (ou doença do trabalho) São os acidentes que acontecem dentro ou fora da empresa, devido ao exercício do trabalho. Assemelham- -se aos acidentes típicos. Atípicos são os eventos considerados como acidentes pela Lei n.º 8.213 e que constam como doenças pro- fissionais ou do trabalho, de acordo com a lista elaborada pela previdên- cia social. Tipos de acidentes do trabalho 10 11 Ao longo do tempo, inclusive desde o século passado, foram elaboradas diversas teorias para analisar os acidentes ocorridos. O objetivo era buscar ações e formas preventivas para inibir a ocorrência de acidentes, de forma a reduzir as consequências. Sendo assim, duas teorias são amplamente estudadas, difundidas e aceitas no campo da se- gurança do trabalho. Ambas têm como finalidade realizar a prevenção de acidentes. Caminho pelo qual são alcançados os melhores resultados, no sentido de evitar a ocorrência desses eventos danosos à população trabalhadora. São elas: teoria de Heinrich e teoria de Frank Bird. Em vários estudos realizados no campo da segurança do trabalho, temos os estudos que Herbert William Heinrich. Ele é o responsável por elaborar a chamada teoria de Heinrich. Esta teoria mostra que o acidente e a sua consequência são causados por situações imediatamente anteriores ao fato ocorrido e intimamente relacionadas ao homem, ou seja, todo acidente é causado e nunca simplesmente ocorre. Ele é causado pelo homem por meio de suas atitudes, pois se entende que as atitudes inseguras do trabalhador são as principais causas dos acidentes. Na década de 1920, Heinrich estudou mais de 75.000 acidentes, ele chegou a proporção de 1:29:300 (le-se:1 por 29 por 300). Isso quer dizer que, a cada lesão grave ou fatal, haveria 29 lesões leves, e outros 300 acidentes, sem lesão. Em outras palavras: a cada 330 acidentes, haveria 1 acidente sério ou fatal. Acidente com lesão grave Acidente com lesão leve Quase acidente Teoria de Heinrich Figura 1 – Pirâmide de Heinrich Fonte: <http://www.btseguranca.com/wp-content/uploads/2015/11/piramide.jpg>. Acesso em: 18 ago. 2017. Pirâmide de Heinrich mostrando a relação existente entre os tipos de acidentes ocorridos em uma empresa. Na base da pirâmide consta o número 300 e as palavras quase acidentes; no meio, o número 29 e as palavras acidente com lesão leve e, no topo, temos o número 1 e as palavras lesão grave. 1 29 300 12 13 A primeira pedra faz referência à personalidade das pessoas. Quando o trabalhador inicia em uma empresa, ele traz consigo a formação adquirida ao longo do tempo; ou seja, com características de responsabilidade ou irresponsabilidade, positivas ou negativas, podendo cometer ações inapropriadas no trabalho ou mesmo criando condições inadequadas que causem acidentes. A segunda pedra representa as falhas humanas no exercício do trabalho. Devidos aos traços negativos que o trabalhador pode apresentar, ele poderá cometer falhas, as quais poderão ocasionar acidentes do trabalho. A terceira pedra faz referência às condições inseguras no local de trabalho oferecido pela empresa. Essa pedra está ligada diretamente às condições de trabalho oferecidas pela empresa e que podem causar acidentes. A quarta pedra se refere ao acidente propriamente dito. Nesse momento o fato já ocorreu. Portanto, a prevenção falhou, mas ainda existe a possibilidade de evitar a repetição do fato. A quinta pedra indica as lesões ocasionadas pelo acidente. Com a ocorrência do acidente provavelmente teremos lesões a serem tratadas e, talvez, com graves sequelas, dependendo da gravidade da situação. De acordo com a teoria de Heinrich, não é possível agir em todas as variáveis que influenciam para a ocorrência de acidentes. Ou seja, não é possível agir na personalidade das pessoas, pois isso é inerente ao caráter de cada um, por isso cabe buscar a eliminação de outras variáveis. Com isso, de forma básica e de acordo com a teoria mencionada, devermos agir nas condições do ambiente de trabalho, em conjunto com a conscientização das pessoas, para que seja possível evitar falhas humanas. Heinrich procurou mostrar nesses fatos que, a partir da personalidade das pessoas e com o auxílio de cinco pedras do jogo de dominó, as causas dos acidentes ocorreriam da seguinte forma: PE RS ON AL ID AD E FA LH AS H UM AN AS AT OS IN SE GU RO S CO ND IÇ ÕE S IN SE GU RAS AC ID EN TE LE SÃ O 14 15 Frank Bird, trabalhador de uma empresa siderúrgica, nos Estados Unidos, entre os anos de 1950 e 1968, atuando como gestor dos programas de segurança e saúde, foi responsável por atua- lizar a relação entre os acidentes, anteriormente proposta por Heinrich. Por meio da análise de 90.000 acidentes, ele estabeleceu uma relação de 1:100:500. Ou seja, para cada acidente sério ou fatal, ocorreriam 100 acidentes com lesões leves, e outros 500, com danos a propriedade. Com essa pesquisa ele estabeleceu uma nova re- lação entre os diferentes tipos de acidentes, o que hoje conhecemos como a pirâmide de Bird. Ela está amplamente divulgada e é utilizada pelos sistemas de gestão em segurança e saúde no mundo todo. A finalidade do estudo é a de prevenir acidentes.Teoria de Frank Bird Essa nova relação é apresentada da seguinte forma: 1:10:30:600. Isso quer dizer que em uma empresa quan- do ocorre 1 lesão grave ou fatal, antes dela ocorreram 10 lesões leves, 30 acidentes com danosa propriedade e 600 incidentes ou quase acidentes. Após a realização desse estudo, Bird elaborou outro mais aprofundado. Nesta reflexão, foram analisados 1.752.498 acidentes, 297 empresas, 21 grupos industriais diferentes e mais de 1.750.000 funcionários. Foi necessário mais de 3 bilhões de horas de estudo. Figura 2 – Primeira pirâmide de Bird Fonte: <https://segurancaesaudeocupacional.wordpress. com/2014/11/11/cuidando-dos-incidentes-evitando-aci- dentes/ >. Acesso em: 05 set. 2017. Figura 3 – Segunda pirâmide de Bird Fonte: <http://femass.wixsite.com/trabalhosemrisco/single-pos- t/2015/09/11/A-Teoria-de-Heinrich-e-a-Pir%C3%A2mide-de-Frank-Bird >. Acesso em: 05 set. 2017. A primeira pirâmide de Bird mostra a relação existente entre os tipos de acidentes ocorridos em uma empresa. Na base da pirâmide consta o número 500, relacionado com acidentes com dano ao patrimônio; no meio da pirâ- mide, consta o número 100, correlacionado com lesão não incapacitante, e, no topo da pirâmide, consta o número 1 que está ligado diretamente com lesão incapacitante. 1 100 500 Lesão incapacitante Lesão não incapacitante Acidente com dano ao patrimônio A segunda pirâmide de Bird mostra a relação existente entre os tipos de acidentes ocorridos em uma empresa. Na base da pirâmide, consta o número 600, relacionado com quase acidentes; depois, consta o número 30, ligado às perdas materiais; logo acima, consta o número 10, correlacionado com lesões leves, e, no topo da pirâmide, consta o número 1 e as palavras morte ou lesão grave. Morte ou lesão grave Lesões leves Perdas materiais Quase acidentes 1 10 30 600 16 17 Esse estudo evidenciou que as lesões graves são esporádicas, frente a uma grande ocorrência de acidentes ou incidentes menores ocorridos anteriormente. Com essa constatação fica latente que o trabalho das empresas deve ser focado na prevenção dos casos que ocorrem ao longo do tempo, de forma que não geram lesões e nem danos ao patrimônio. Muitas empresas costumam agir somente após a ocorrência do fato grave. Ou seja, são ações reativas e implantadas após o fato ocorrido. Porém, a prevenção nos ensina ao longo do tempo, e esse estudo nos mostra a retidão desse pensamento. Desta forma, devemos estudar e agir sempre frente aos fatos qualificados como quase acidentes. Assim, estaremos evitando a ocorrência dos fatos mais graves ou, pelo menos, será possível retardar o tempo da ocorrência. Como vimos nas teorias estudadas, podemos identificar a forma de ocorrência e a evolução dos eventos considerados danosos para as pessoas. No entanto, atrelado a esse estudo, é necessário estabelecer uma metodologia de investigação e de acompanhamento. Com esta prática, podere- mos zerar os números apresentados no topo das pirâmides anteriores. Para realizar uma ótima investigação de acidente, todas as pessoas envolvidas devem ser consideradas como testemunhas, tornando-se elementos da investigação. A finalidade da realização de uma investigação de acidentes, é determinar as causas e o planejamento das ações corretivas para que o acidente não volte mais a ocorrer. Deve ser orientada única e exclusivamente para determinar as causasse e não buscar culpados. Para isso, é necessário recolher todos os dados possíveis a respeito do acidente, para que sejam determinadas as causas. Podemos realizar uma investigação de acidente de duas formas: direta ou indireta. Direta é quando acontece diretamente no local do fato ocorrido, buscando todas as evidências na área do acidente. Indireta é a forma realizada fora do local em que o acidente ocorreu, e os dados são fornecidos por pessoas que presenciaram ou participaram do evento. Um detalhe muito importante na metodologia de investigação é a entrevista com o acidentado, se for possível. Para isso, devemos seguir as informações referentes às técnicas de investigação. Esse material está disponí- vel em outro capítulo dentro dessa mesma unidade curricular. Nesse ponto da investigação, devemos estar apropriados de todas as informações possíveis e necessárias para que possamos passar para a etapa seguinte. Neste segundo momento, tentaremos responder à seguinte pergunta: por que o acidente ocorreu? Para prevenir a ocorrência de acidentes similares, os investigadores devem encontrar todas as possíveis res- postas para essa questão. Você deve estar disponível para todas as possibilidades e deve permanecer atento a todos os fatos pertinentes. Pode haver algumas falhas no seu entendimento da sequência de eventos que resultaram no acidente. Mas, o objetivo final, é encontrar as causas que realmente influenciaram para que o acidente acontecesse. Metodologia de investigação e acompanhamento de ocorrências: elaboração de relatórios e formulários 18 19 Quando a sua análise estiver concluída, registre em um relatório as suas conclusões; desde o momento anterior ao acidente, passando pelo fato ocorrido e listando todas as possíveis causas que podem estar amparadas pelas evidências colhidas ao longo da investigação. É muito comum que as empresas apre- sentem um relatório padrão para registro, análise e investigação de acidentes. Então, você terá apenas o trabalho de preencher o documento com as suas anotações. Devemos estar atentos ao fato de que os leitores do relatório não estão apropriados do conhecimento adequado para entendê-lo, por isso é necessário que a explicação seja objetiva, mas detalhada. Desta- camos que ela precisa indicar que as conclusões estão baseadas em evidências e em fatos. As suas conclusões devem ser seguidas pelas suas recomendações que, na realidade, são as medidas e as ações que devem ser implantadas para corrigir a situação e evitar que o acidente volte a ocorrer. Essa etapa é considerada a mais importante, pois as medidas e as ações devem ser bem específicas, com o objetivo de eliminar a raiz do fato. É preciso ter atenção para que as conclusões sejam de ordem geral, desta forma, reduzem tempo e es- forço. Por exemplo, se você determinar que a causa de um fato foi um corredor escuro, a recomendação não deve ser apenas em iluminar melhor esse corredor, mas também verificar outros locais com pouca iluminação e corrigir esse detalhe em todos os lugares, dessa forma estaremos realmente agindo na prevenção de acidentes de forma geral e não apenas corretiva e pontual. Recomendações para ações disciplinares, caso tenha ocorrido um erro humano, jamais deverão ocorrer, pois esse não é o papel da investigação. Portanto, não devem constar no relatório. Esse tipo de atitude, se for o caso, deverá partir do gestor da área ou do setor de recursos humanos, a partir de uma avaliação realizada fora do contexto do relatório do acidente. Recomendações Após a conclusão do relatório, é o momento de implantar as recomendações realizadas. Para isso, o plano de ação deve ser elaborado com a participação de várias pessoas. Os participantes podem ser da manutenção, da enge- nharia, da parte predial e da produção. Ao técnico de segurança, cabe o acompanhamento ou o monitoramento das ações, com o objetivo de verificar se as ações estão sendo implantadas conforme foi acordado entre todos. A melhor forma para realizar esse acompanhamento, é por meio da utilização de um plano de ação. Este que é um documento normalmente elaborado em forma de tabela, na qual constam diversos itens informativos sobre as ações, os quais permitem o acompanhamento da execução de cada uma delas. Vamos analisar um modelo: Plano de ação O que será feito? Onde será feito? Quem fará? Quando? Situação Instalar lâmpadas no corredor Administrativo José da Silva – Eletricista 31/10/2017 Em andamento ou concluído Figura 4 – Plano de Ação 20 21 Nesta sugestão de plano de ação, é fácil monitorar e acompanhar a situação de cada uma das demandas. A primeira coluna corresponde à ação; ou seja, a medida a ser implementada ou a recomendação de um relatório de acidente. A segunda coluna será preenchida com o local da ação,que pode ser um setor, uma área ou a empresa toda. Na terceira coluna, constará o responsável por concluir a ação planejada. É primordial que essa pessoa seja nominada, a fim de estabelecer a real responsabilidade de efetivação do trabalho, podendo vir acompanhado pela função ou pela área a que pertence o profissional. Na quarta co- luna, vamos preencher com o prazo final para instalar essa ação. Ele deve ser discutido com o responsável para que seja real e adequado ao trabalho e aos resultados esperados. Por fim, na quinta coluna, vamos acompanhar a execução desse planejamento. Durante a execução podemos preencher com o termo em andamento, acrescentado a porcentagem de finalização. Quando encerrada a implantação, preenchemos, esta última coluna, com a palavra concluído. O ciclo do PDCA é um método gerencial para a promoção da melhoria contínua. Ele reflete, em suas quatro fases, na base da filosofia do melhoramento contínuo. Por ser uma ferramenta bastante intuitiva, pode ser aplicada a qualquer tipo de projeto, dos mais simples aos mais complexos. É uma ferramenta que ajuda a direcionar, no sentido de obter uma melhoria substancial nos trabalhos, pois ela identifica possíveis falhas e oportunidades, as quais podem ser aprimoradas, tornando possível vislumbrar as implantações das recomendações formuladas em qualquer análise de eventos danosos, podendo ser de qualquer tipo e de qualquer área. No caso específico da segurança no trabalho, essa ferramenta pode muito bem ser utilizada para a pre- venção de acidentes e para agir corretivamente; isto é, depois de ocorrido o acidente. Serve também para fazer o acompanhamento das ações implantadas, verificando se os resultados esperados estão sendo alcançados. Ciclo PDCA As quatro fases do PDCA são as seguintes: 1.ª Fase Plan (planejamento) Nessa fase é realizado todo o planejamento para implantar uma ação visando eliminar um problema. Do (execução) Esta é a fase da implementação do planejamento. 2.ª Fase 3.ª Fase Check (verificação) É quando se verifica se o planejado foi consistentemente alcançado, por meio da comparação dos dados. 4.ª Fase Act (agir correti- vamente) Nessa fase existem duas alternativas: agir, se os resultados esperados não foram alcançados, ou adotar como padrão o que foi planejado na primeira fase. 22 23 O ciclo do PDCA pode ser desdobrado em oito passos, sendo normalmente conhecido como método de análise e solução de problemas. Esses oito passos estão representados a seguir: Action (Agir) Plan (Planejar) Do (Executar) 1 2 3 4 Execução5 8Padronização 7Ação 6 A C B D Nosso problema Medição Mão de obra Método Meio ambiente Máquinas Matéria-prima Passo 1 Passo 2 Passo 3 Identificação do problema Selecionar o problema a ser resolvido, priorizando os temas existentes É preciso ser específico para identificar o problema. Nada de histórias longas especifican- do dados ou soluções, esses detalhes serão colocados posteriormente em campos especí- ficos. Análise do fenômeno Entender o problema, levantando seu histórico e a frequência de ocorrência Observar as características no local, tais como: ambiente, instrumentos, confiabili- dade dos padrões, treinamento, entre outras De forma resumida, é o momento de encontrar todos os dados possíveis sobre o problema a ser estudado. Análise do processo Identificar e selecionar a causa-raiz do problema Buscar todas as possíveis causas do problema estudado. Colocá-las na “espinha de peixe” (diagrama de causa e efeito ou 6M), dentro das seis dimensões (6M) que são: mão de obra, método, material, meio ambiente, máquina e medida. Em seguida, fazer uma verificação e descobrir as causas do problema. A seguir, apresentamos as explicações de cada uma das seis dimensões do diagrama do tipo espinha de peixe: Método São todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com a forma de realização da tarefa e que se referem diretamente ao problema levantado. Medida São todas as possíveis causas do problema que podem ser mensuradas e que se relacionam com o problema. Mão de obra São todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com a pessoa que está envolvida na execução da tarefa. Máquina São todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com uma máquina ou dispositivos envolvidos na tarefa do problema. Meio ambiente São todas as possíveis causas do problema que podem ser relacionadas com meio ambiente, saúde e segurança. Material São todas as possíveis causas do problema que se relacionem com o material envolvido na tarefa do problema. Figura 5 – Ciclo do PDCA Fonte: <http://www.portal-administracao.com/2014/08/ciclo-pdca-conceito-e-aplicacao.html >. Acesso em: 05 set. 2017. Figura 6 – Espinha de peixe Fonte: <http://tecnologospetrolina.blogspot.com.br/2010/05/ >. Acesso em: 05 set. 2017. 24 25 Passo 4 Plano de ação Elaborar a estratégia de ação atacando diretamente a causa-raiz do problema Elaborar o plano de ação Caso duas causas-raiz sejam constatadas, devem ser elaborados dois planos de ação, um para cada uma delas. Neste passo, deve ser utilizada a ferramenta de plano de ação que foi vista anteriormente. Passo 5 Execução Divulgar o plano de ação Treinar e capacitar as pessoas, buscando o comprometimento de todos Executar e acompanhar a ação Neste passo, o principal segredo é sempre acompanhar. Passo 6 Verificação Registrar resultados Coletar dados Comparar os resultados com os dados coletados no passo 2. Caso não estejam de acordo com a meta estabelecida, deve-se retornar ao passo 2 e recomeçar toda a metodologia Listar eventuais efeitos secundários Coletar todos os dados possíveis, com o objetivo de comparar as melhorias que podem ter ocorrido, após a implantação das medidas corretivas. Passo 7 Ação Elaborar ou alterar o padrão Comunicar internamente as alterações Educar e treinar todos os envolvidos no novo padrão Estabelecer, por meio de documento oficial da empresa, que, a partir desse momento, todo problema que apresentar essas características deverá ser tratado dessa forma. Consolidando, assim, um padrão. Passo 8 Padronização Registrar os avanços obtidos pelo grupo Relacionar os problemas remanescentes Planejar a solução dos problemas remanescentes, voltando a executar o ciclo do PDCA Refletir sobre o trabalho, visando a melhoria contínua Esse é o momento para refletir sobre o trabalho realizado. Nesta etapa, é preciso buscar uma nova oportunidade de melhoria, identificando um novo problema a ser tratado. 26 Para concluir essa reflexão, cabe ressaltar o quanto é importante o estudo dos acidentes de trabalho, contemplando a sua análise e a proposição de melhorias. Para chegar nesse ponto, precisamos en- contrar adequadamente as causas deles, pois só assim será possível recomendar e implantar ações corretas, as quais impedirão novas ocorrências do mesmo problema. Nesse momento, devemos ter consciência de que todo o processo utilizado para tratar dos acidentes do trabalho também deve ser utilizado para os eventos que ocorram e não sejam caracterizados como tal. Isso é, os que não causam lesão, mas apenas danos ao patrimônio; os que poderiam causar lesões e também aqueles com potencial para causar ferimentos nas pessoas. Para um profissional técnico em segurança no trabalho, essa atividade é considerada uma ferramenta de trabalho e de prevenção, a partir do momento que possibilita prevenir acidentes. Portanto, essa ativi- dade é rotineira e faz parte de uma gestão adequada, a qual mantenha o foco na segurança e na saúde no trabalho.
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