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QUIMICA FARMACEUTICA

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FUNDAMENTOS 
DE QUÍMICA 
MEDICINAL
Elenilson Figueiredo 
da Silva
Desenvolvimento 
de fármacos 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Distinguir as etapas do desenvolvimento de fármacos.
 � Identificar as estratégias do desenvolvimento de novos fármacos.
 � Analisar as propriedades farmacocinéticas implicadas no desenvol-
vimento de fármacos.
Introdução
O químico farmacêutico é o profissional que deverá permear diversas 
áreas do conhecimento. Como você já deve ter percebido, é necessário 
ter entendimento profundo sobre Química e processos biológicos para 
que se possa projetar novos fármacos ou melhorar a ação dos que já 
existem. Assim, neste capítulo, você irá utilizar, para a construção do seu 
conhecimento acerca do desenvolvimento de fármacos, vários conceitos 
de Química e Farmacologia.
Após a descoberta e a otimização de um protótipo, este é submetido a 
ensaios de triagem in vitro. Uma vez aprovado, esse protótipo seguirá para 
ensaios de atividade terapêutica in vivo. Essa fase do desenvolvimento 
de fármacos é bastante complexa, demanda tempo e acarreta altos 
custos para a indústria farmacêutica. Vários parâmetros e estratégias são 
utilizados na fase de desenvolvimento de fármacos e esses parâmetros 
relacionam tanto aspectos farmacocinéticos, quanto aspectos farmaco-
dinâmicos dos protótipos.
Neste capítulo, você irá aprender sobre o desenvolvimento de fárma-
cos, com base na estrutura do receptor e do ligante (fármaco), as fases 
clínicas do desenvolvimento de fármacos e a sua importância. Por fim, 
você irá estudar sobre a influência dos parâmetros físico-químicos para 
a atividade dos fármacos.
Desenvolvimento de fármacos
Depois de estudar as propriedades, as formas de administração e o mecanismo 
de ação, uma nova molécula ou forma farmacêutica que apresentou atividade 
biológica deverá ser testada em diversos níveis para comprovar sua segurança 
e, dessa forma, poder chegar às farmácias. De forma geral, essas fases são 
divididas em pré-clínicas e clínicas (Figura 1).
Nas fases pré-clínicas, as moléculas mais promissoras passam por su-
cessivos testes, inicialmente in vitro e posteriormente in vivo, para que seu 
potencial possa ser estudado. Nessas etapas, iniciam-se os estudos sobre a 
toxicidade dessa molécula, porém, o foco maior está na sua atividade, ou seja, 
se ela é efetiva ou não o fim a que está destinada. Apesar de os testes já serem 
muito bem descritos na literatura e serem muito confiáveis, os organismos 
são diferentes e não há como garantir que a molécula que é ativa em modelos 
com camundongos será também para seres humanos. Por esse motivo, as fases 
clínicas são muito importantes e merecem muita atenção. 
Figura 1. Linha do tempo do desenvolvimento de novos fármacos com a estimativa de 
tempo para cada fase da pesquisa. 
Fonte: Adaptada de Marajó Health Economics Consulting (2016, documento on-line).
Anos
0 2 4 6 8 10 12 14
Invenção
Fase I
Fase II
Fase III
Aprovação do governo
Fase IV
1 medicamento
Testes pré-clínicos
(testes laboratoriais e em animais)
100 mil
compostos
selecionados
250 entram
em teste
pré-clínico
Estratégias de planejamento de novos fármacos
A descoberta de uma molécula bioativa, seja por meio de fontes naturais ou 
pela síntese orgânica, procede de triagens biológicas, bioquímicas ou virtuais 
Desenvolvimento de fármacos2
que permitem determinar seu potencial biológico. No entanto, para que essas 
moléculas sejam consideradas candidatas a fármacos, é necessária a aprovação 
nas fases clínicas do processo de desenvolvimento de fármacos.
Na maioria das vezes, as moléculas bioativas (compostos protótipos) ne-
cessitam de otimização estrutural, a fim de melhorar a sua performance 
farmacodinâmica envolvendo características que determinam a interação 
com o sítio-ativo, como afinidade, potência e seletividade, assim como as 
propriedades farmacocinéticas, como a absorção, a biodisponibilidade e o 
metabolismo.
As moléculas otimizadas, ou seja, as que passaram por modificação es-
trutural, em seguida são selecionadas experimentalmente para compostos 
líderes que passam por outras fases do desenvolvimento até se tornarem novas 
entidades químicas candidatas a fármaco (Figura 2).
Figura 2. Etapas da abordagem fisiológica para o desenvolvimento de novos candidatos 
a fármaco. 
Fonte: Adaptada de Barreiro (2009, p. 29).
Biorreceptor
Eleição do
alvo-
-terapêutico
Abordagem
�siológica
Hibridação
molecular
Bioligante
Simpli�cação
molecular
Bioensaios
Desenho
estrutural
Bioisosterismo
Série
congênere
Análogo-ativo
Modi�cação
molecular
In vitro/in vivo
Novo
protótipo
Contribuições
farmacofóricas
Ensaios
pré-clínicos
Ensaios
clínicos
Fármaco
Protótipo
otimizado
Ausência de
toxicidade
Inovação farmacológica
3Desenvolvimento de fármacos
A racionalização do desenho de novas moléculas teve seu início após os 
enunciados da teoria do modelo chave-fechadura, em 1885, o qual conduz à 
concepção da teoria dos receptores e descreve uma relação de complemen-
tariedade com o fármaco, dando início aos estudos de Química Medicinal.
O planejamento racional de novos fármacos tem como base estratégica a 
abordagem fisiológica, que se fundamenta na definição prévia do alvo tera-
pêutico. A partir de estudos computacionais, bioquímicos, biotecnológicos, 
genéticos ou citológicos acerca do mecanismo de ação da molécula bioativa, 
os alvos terapêuticos podem ser eleitos.
Por meio da abordagem fisiológica, existem dois principais métodos de 
planejamento de fármacos:
 � planejamento de fármacos com base na estrutura do receptor;
 � planejamento de fármacos com base na estrutura do ligante.
Planejamento de fármacos com base 
na estrutura do receptor
A escolha do alvo terapêutico no planejamento racional de fármacos é essencial 
para o sucesso no desenvolvimento de um candidato a fármaco. Nessa vertente 
de planejamento, é necessário que já se conheça a estrutura tridimensional 
da biomacromolécula-alvo (p. ex., receptor, proteína ou enzima) para que 
então ocorram os estudos de planejamento do fármaco.
As estratégias utilizadas nesse tipo de planejamento se baseiam em técnicas 
de química computacional, as quais consideram os aspectos estereoquímicos 
e eletrônicos da interação do fármaco no sítio-ativo, porção do receptor res-
ponsável pelo reconhecimento molecular do ligante.
Inicialmente, determina-se a organização espacial do complexo ligante-
-receptor por meio de técnicas, como ressonância magnética nuclear ou crista-
lografia de raios X (Figura 3). Subsequentemente, os pontos de interação desse 
complexo serão avaliados por uma ferramenta computacional (p. ex., métodos 
de modelagem molecular) capaz de determinar os parâmetros geométricos e 
conformacionais do fármaco e do receptor.
Desenvolvimento de fármacos4
Figura 3. Modelo espacial e de interação do complexo ligante-receptor. 
Fonte: DockThor (c2017, documento on-line).
A partir da determinação de todos esses aspectos do complexo ligante-
-receptor, correlações simuladas em nível molecular, espacial e eletrônico serão 
realizadas com outras estruturas, a fim de se encontrar novos candidatos a 
fármaco capazes de interagir com o mesmo ambiente molecular, cujo propósito 
é potencializar a ativação da resposta biológica. A técnica de triagem virtual 
(VS, do inglês virtual screening) traz uma biblioteca virtual de compostos 
que podem ser testados no sítio de ação selecionado.
A escolha do novo protótipo se baseia em estudos quantitativos da relação es-
trutura-atividade (QSAR, do inglês quantitative structure-activity relationship), 
os quais calculam as principais características biologicamente ativas da estrutura 
do ligante, ou melhor dizendo, os grupos farmacofóricos do protótipo que melhor 
atendem aos critérios de complementariedade com o receptor.
Planejamento de fármacos com base na 
estrutura do ligante
O planejamento dos fármacospode ser realizado por uma estratégia alternativa, 
de acordo com a estrutura do ligante, quando a estrutura do biorreceptor for 
desconhecida. Dessa maneira, a investigação se dá por métodos de Química 
Farmacêutica voltados para o estudo da relação estrutura-atividade (REA) de 
compostos análogos a um composto protótipo.
Inicialmente, essa estratégia parte da obtenção de um composto protótipo, 
ou seja, uma molécula que apresenta uma atividade biológica de interesse. 
Posteriormente, a otimização estrutural desses compostos se faz necessária 
para melhorar algum comportamento farmacocinético ou para a obtenção de 
candidatos mais potentes e seletivos ou menos tóxicos. Para tanto, uma série 
5Desenvolvimento de fármacos
congênere é sintetizada e avaliada biologicamente. Essa série congênere é 
formada por compostos análogos que apresentam semelhanças estruturais 
em comparação aos compostos protótipos (Figura 4).
Alguns métodos da Química Medicinal são utilizados para a síntese ra-
cional desses compostos análogos, como o bioisosterismo, a hibridação e a 
simplificação molecular.
Figura 4. Exemplo de uma série congênere de compostos análogos.
Fonte: Barreiro (2015, documento on-line).
R =
O
N
Ar
H
H
W
O
O
R
R
R
R
RR
R
R
R
R
N
N
N
O
Cl
ClCl
Cl
H3CO
O método de bioisosterismo utiliza como princípio de modificação estrutural a 
substituição de grupos funcionais que têm propriedades químicas, físico-químicas 
e/ou biológicas semelhantes a um grupo relacionado ao composto protótipo. Esses 
grupos que têm similaridade são conhecidos como bioisósteros (Figura 5). 
Por outro lado, a hibridação molecular é uma tática de modificação mole-
cular em que dois ou mais farmacóforos são conjugados em uma só estrutura 
química. A escolha por esse método geralmente tem como objetivo a produção 
de um fármaco que tenha mais de um alvo biológico, quando dois ou mais 
farmacóforos conjugados têm respostas biológicas aditivas ou sinérgicas.
Outro método de otimização molecular que tem sido bastante utilizado para 
resolver, principalmente, incompatibilidades farmacocinéticas do composto 
Desenvolvimento de fármacos6
protótipo é a latenciação. Essa estratégia consiste na alteração estrutural do 
composto protótipo em um pró-fármaco, ou seja, uma molécula inativa, mas 
capaz de transpassar as barreiras farmacocinéticas. No sistema biológico, essa 
molécula terá de sofrer uma reação enzimática, liberando o fármaco ativo.
Por fim, a simplificação molecular, como o nome já diz, é a estratégia 
que busca produzir compostos estruturalmente mais simples, preservando as 
porções farmacofóricas previamente identificadas.
Figura 5. Exemplos das principais estratégias de modificação estrutural.
O O
O
O
ON
H
Benorilato
Paracetamol
Hibridação Latenciação
Simpli	cação Bioisosterismo
Ácido acetilsalicílico Pró-fármaco Reação
enzimática
HO HO
OH
17-β-estradiol Dietilestilbestrol
OH
NH NH
N
O
O
O
O
O
O
O
S
S
N
CH3
CH3 CH3
CH3
H3C
Sultoprida DU 122290
Fármaco
Alvo
biológico
Propriedades farmacocinéticas 
e a ação biológica
A fase farmacocinética que envolve os processos de absorção, distribuição, 
metabolização e excreção, repercutindo diretamente na biodisponibilidade 
e no tempo de meia-vida do fármaco, pode ser afetada pela variação das 
propriedades físico-químicas dos fármacos. Essas variações se tornam mais 
pronunciadas quando analisamos fármacos administrados via oral, uma vez 
que por essa via de absorção os fármacos precisam passar pela fase fármaco 
farmacêutica (dissolução ou desintegração da forma farmacêutica) e atravessar 
barreiras biológicas (como as membranas celulares), além de sofrer influência 
de variações de pH dos diferentes órgãos pelos quais é absorvido e distribuído. 
7Desenvolvimento de fármacos
É importante salientar que, atualmente, a maioria dos fármacos disponíveis 
são desenvolvidos de forma a permitir sua absorção via oral, uma vez que essa 
via é de fácil administração e pouco invasiva ao paciente, fato que auxilia na 
adesão ao tratamento.
Dessa forma, o desenvolvimento de fármacos pode ser drasticamente 
afetado por tais parâmetros físico-químicos e, muitas vezes, torna-se um dos 
principais limitantes que contribuem para a descontinuidade da investigação 
de novos candidatos a fármacos nas etapas iniciais de triagem clínica.
As principais propriedades físico-químicas de um fármaco capazes de 
alterar seu perfil de biodisponibilidade da ação terapêutica são: o coeficiente 
de partição, que expressa a relação entre o seu perfil de hidro e lipossolubili-
dade, e o coeficiente de ionização, expresso pelo pKa, que traduz o grau de 
contribuição relativa das espécies neutras e ionizadas.
Lipofilicidade (Log P) e a absorção dos fármacos
Como mencionado anteriormente, depois de ser administrado (no caso 
dos fármacos via oral), o fármaco passará pela fase farmacêutica. Nessa 
fase, ocorre o desmanche da fórmula farmacêutica e a posterior liberação 
do princípio ativo do fármaco. Esse fenômeno é favorecido pelo perfil de 
hidrossolubilidade relativo ao fármaco. Com isso, ele deve ter uma hidros-
solubilidade capaz de desintegrá-lo ou permitir que seja dissolvido quando 
entrar em contato com fluidos corpóreos, porém, o princípio ativo desse 
fármaco deve ter um perfil de lipossolubilidade adequado para que este seja 
absorvido pelas membranas celulares. É importante, portanto, que o novo 
fármaco em desenvolvimento (protótipo) apresente características físico-
-químicas balanceadas, de tal forma que ele esteja adequado às diferentes 
fases percorridas no organismo vivo.
A lipossolubilidade é uma das características determinantes para a absorção 
dos fármacos pelas membranas celulares, uma vez que tais estruturas são for-
madas por cadeias de fosfolipídios (cadeias hidrofóbicas). Você deve se lembrar 
do princípio “semelhante dissolve semelhante”. Essa frase é bastante utilizada 
para explicar as interações entre compostos de polaridade semelhantes, assim, 
compostos hidrofóbicos (como os lipídios e os fármacos lipossolúveis) são 
atraídos por estruturas também hidrofóbicas, como as membranas celulares. 
Agora fica fácil entender que, quanto maior a lipossolubilidade de um fármaco, 
maior será sua afinidade pelas membranas celulares, porém, não se deve 
esquecer que este não é o único parâmetro determinante para a ação de 
um fármaco.
Desenvolvimento de fármacos8
O coeficiente de partição (P) é um parâmetro utilizado experimentalmente 
para prever a lipossolubilidade de um dado fármaco em membranas, o qual 
pode ser calculado com auxílio da equação matemática a seguir:
P =
concentração na fase orgânica
concentração na fase aquosa (Equação 1)
Quanto maior o coeficiente de partição (P), maior é o perfil de afinidade 
do fármaco por membranas celulares. Os valores de concentração das fases 
aquosas e orgânicas são determinados experimentalmente pelo método de 
Shake Flask, empregando n-octanol como fase orgânica, devido à sua seme-
lhança estrutural com os fosfolipídios de membrana. 
A Figura 6 mostra a mistura de duas soluções imiscíveis, sendo que uma 
tem características lipossolúveis (como o n-octanol) e outra apresenta carac-
terísticas hidrossolúveis (como a água), ambas com densidades diferentes. 
Quando misturadas em um recipiente fechado e em equilíbrio atmosfé-
rico, as duas substâncias tendem a se separar, formando duas fases, uma fase 
orgânica (n-octanol) e outra fase aquosa (água), a essa mistura é adicionado o 
fármaco ao qual se deseja estudar. A razão entre a concentração do fármaco 
que irá permanecer na fase orgânica e na fase aquosa é definido como coe-
ficiente de partição, como vimos na equação acima. É importante salientar 
que o coeficiente de partição costuma ser representado na função logarítmica, 
assim, costumamos utilizar Log P para representar o algoritmo de partição.
Figura 6. Determinação do coeficiente de partição de um 
fármaco (soluto) em dois solventes imiscíveis.
Fonte: Adaptada de Paula(c2015, documento on-line).
Água
Óleo
Funil de bromo
Torneira
Suporte
universal
9Desenvolvimento de fármacos
O Log P é um parâmetro de grande relevância no planejamento de fár-
macos, pois, a partir dele, podemos estimar parâmetros, como capacidade de 
absorção, tempo de meia vida e facilidade de eliminação de fármacos. Como 
comentamos anteriormente, o fármaco deve ter uma estrutura que se adapte 
às diferentes fases de absorção, assim, um Log P elevado, embora aumente 
a afinidade por membranas, pode desfavorecer a atividade terapêutica por 
diminuição da biodisponibilidade, visto que o fármaco necessita ter certa 
hidrossolubilidade para que possa completar com sucesso a fase farmacêutica 
(dissolução e desintegração da forma farmacêutica). 
De acordo com diversos estudos experimentais aplicados em modelos 
matemáticos, foi possível estabelecer, ao longo dos anos, uma correlação 
matemática entre a biodisponibilidade e o Log P ótimo (1 a 3) para um fármaco 
via oral (Figura 7).
Figura 7. Relação entre o Log P e biodisponibilidade oral.
Fonte: Adaptada de Barreiro e Manssour (2014, p. 30).
1
0,5
0,25
–2 –1 0 1 2 3 4 5
Bi
od
is
po
ni
bi
lid
ad
e 
or
al
Faixa ideal
de Log P
Log P
Desenvolvimento de fármacos10
É importante salientar que a lipossolubilidade não é o único parâmetro 
que define a absorção dos fármacos via membrana celular, devemos também 
levar em conta o peso molecular do fármaco. As membranas celulares são 
estruturas bastante complexas e apresentam diversos constituintes em sua 
bicamada fosfolipídica, como algumas proteínas transportadoras.
Fármacos com peso molecular baixo, mesmo quando apresentam Log P 
diminuído, conseguem ser absorvidos por membranas pela passagem por pro-
teínas transportadoras (transporte passivo). Além disso, a estrutura organizada 
da membrana celular (modelo mosaico fluido) confere uma estrutura rígida 
e compacta à bicamada lipídica, assim, fármacos moleculares com elevado 
peso, mesmo quando apresentam Log P apreciável pelas membranas, podem 
ter sua absorção diminuída (Figura 8).
Figura 8. Biodisponibilidade com base nos parâmetros de Log P e massa molar.
Acetoaminofeno
O
O
O
O O
O
OO
O
O
O
HO
HO
OH
NH
O HN
OH
H
Log P = 0,46
MM = 151,18g/mol
t1/2 = 1,35 a 3,5 horas
Paclitaxel
Carbamazepina
Log P = 3,94
MM = 853,9g/mol
t1/2 = 13,1 a 52,7 horas
Log P = 2,77
MM = 286,2g/mol
t1/2 = 36 horas
OH2N
Paclitaxel > Carbamazepina > Acetoaminofeno
Biodisponibilidade
11Desenvolvimento de fármacos
Na Figura 8, observe que a ordem crescente da biodisponibilidade é influen-
ciada tanto pelo Log P, quanto pelo tamanho da molécula (peso molecular). 
Assim, o paclitaxel, um fármaco anticâncer, apesar de ter um Log P maior que 
o paracetamol e a carbamazepina, apresenta uma menor biodisponibilidade, 
tendo em vista seu maior peso molecular. É importante ressaltar que o peso 
molecular influencia também a lipossolubilidade da molécula e, consequen-
temente o aumento de seu Log P.
Coeficiente de ionização (α) fármacos
A maioria dos fármacos disponíveis na terapêutica clínica é composta por 
ácidos ou bases fracas. Essa característica confere, ao fármaco, a habilidade 
de atravessar as membranas plasmáticas, ou seja, a capacidade de serem 
absorvidos. Como você aprendeu anteriormente, as membranas plasmáticas 
são formadas por cadeias de fosfolipídios compostos por características hi-
drofóbicas (apolar). Assim, para que um fármaco possa ser absorvido pelas 
membranas, ele deve estar na sua forma molecular, e não na ionizada.
Os ácidos e as bases fracas são compostos que se dissociam ou ionizam 
parcialmente quando estão em solução. Isso implica dizer que tal composto, 
dependendo do meio em que se encontra, pode estar na sua forma ionizada 
ou molecular. 
Observe a equação a seguir.
HA(aq) → H
+
(aq) + A
–
(aq)
BOH(aq) → B
+
(aq) + OH
–
(aq)
Na equação acima, é possível perceber que um ácido ou uma base, quando 
estão em solução, podem estar na sua forma molecular ou ionizada. A fórmula 
molecular HA ou BOH é a forma absorvida pelas membranas celulares, pois, 
nessa conformação, o fármaco está livre de cargas e, portanto, tem caráter 
apolar (hidrofóbico). Já a forma ionizada é polar devido às cargas existentes 
nos íons, e essa forma não é absorvida por membranas celulares.
De forma geral, a maioria dos fármacos é absorvida no intestino, porém, 
uma grande quantidade é absorvida no estômago. A principal característica 
que determina o local de absorção dos fármacos é a sua acidez ou a base fraca. 
Assim, os fármacos ácidos são mais bem absorvidos em meio ácido, como no 
estômago, enquanto os fármacos básicos são mais bem absorvidos no intestino, 
Desenvolvimento de fármacos12
onde o pH é básico. Ao analisar a Figura 9, perceba que a forma molecular é 
a forma absorvida tanto para o fármaco ácido quanto para o fármaco básico.
Figura 9. Absorção de um fármaco ácido ou com base fraca.
Fonte:Adaptada de Barreiro e Manssour (2014, p. 32).
(Meio extracelular)
(Meio intracelular)
HA H+ BH+A–+
HAH+ A–+
H+ B+
BH+H+ B+
(Fármaco ácido) (Fármaco básico)
A constante de ionização (α) mostrada na equação de Henderson-Hassel-
bach (equação 2) é um parâmetro bastante útil no planejamento de fármacos, 
pois a partir dela é possível prever, estimar ou melhorar os parâmetros farma-
cocinéticos de absorção. Com isso, é possível predizer se um fármaco estará 
preferencialmente na forma ionizada ou molecular.
% de ionização (α) = 100 – 100
1 + antilog (pH – pKa)
 (Equação 2) 
Em resumo, os principais parâmetros físico-químicos associados ao pla-
nejamento de fármacos são o coeficiente de partição (Log P), que pode ser 
alterado por modificações moleculares, e o coeficiente de ionização, que 
define os parâmetros farmacocinéticos de absorção.
Pesquisa clínica
Depois de todos os testes in vitro e in vivo, as moléculas com maior potencial 
são selecionadas para só então começarem os testes em seres humanos. De-
13Desenvolvimento de fármacos
vido à sua grande relevância, iremos detalhar melhor os passos associados à 
pesquisa clínica. 
Como você já viu, a pesquisa pré-clínica tem um foco maior na ação 
do fármaco, agora, na pesquisa clínica, o foco recai sobre a segurança do 
medicamento. Para isso, ela é dividida em quatro fases, as quais envolvem a 
participação de voluntários sadios ou com a patologia-alvo, dependendo da fase.
Fase I
Esta é a fase de iniciação, quando os testes em humanos começam, portanto, 
é muito importante tomar todas as precauções possíveis, pois não se sabe ao 
certo como o organismo irá responder à ingestão do medicamento. 
Para isso, a fase I compreende o estudo toxicológico em um pequeno nú-
mero de voluntários sadios, com doses variadas do fármaco, assim, é possível 
observar quais são os efeitos adversos de curto e médio prazo. Nessa etapa, 
conta-se com a colaboração de 20 a 80 voluntários em um período de duração 
de, aproximadamente, 1,5 a 3 anos.
Fase II
Depois de estudos em voluntários sadios com a comprovação da segurança, 
inicia-se a segunda fase. Nesse momento, os voluntários devem ter a patologia-
-alvo, sendo assim, o objetivo é estudar a atividade do fármaco, bem como a 
faixa adequada de dose-resposta e as informações adicionais sobre a toxicidade. 
Aproximadamente 100 voluntários são criteriosamente avaliados e sele-
cionados para participar dessa fase, cuja duração vai de 2,5 a 3,5 anos.
Fase III
Ao obter resultados satisfatórios nas fases I e II, centenas e milhares de vo-
luntários com a patologia são selecionados para participarem da terceira 
fase da pesquisa. Nesse momento, já se tem ideia de dose ótima e segurança, 
portanto, o objetivo é testar no maior número de voluntários possível para que 
mais efeitos possam ser observados, pois, como os grupos de fase I e II são 
pequenos, muitos efeitos adversos não se manifestaram até ali.
É nessa fase que os voluntários são separados em grupospara controle e 
teste, podendo ser comparados com o fármaco de referência, com placebo, 
com outros fármacos, entre outros. Assim, obtém-se uma grande quantidade 
Desenvolvimento de fármacos14
de dados com informações mais concretas de ação e segurança do fármaco e, 
com isso, a indústria pode entrar com a solicitação do registro dessa nova droga.
Fase IV
Assim que é recebida a aprovação e a liberação por meio de órgãos competen-
tes, inicia-se a comercialização do medicamento e a utilização pelo público. 
Com isso, também se inicia a fase IV, conhecida como farmacovigilância. 
Essa fase tem como objetivo a observação em massa de mais efeitos adver-
sos. Com uma certa frequência, medicamentos são retirados do mercado por 
apresentarem algum efeito indesejado nessa fase. Com ela, também se pretende 
averiguar quais são os efeitos por exposição prolongada, ou seja, quais são os 
efeitos crônicos decorrentes da utilização do medicamento.
Para saber mais sobre os processos de desenvolvimento de fármacos, acesse os links 
a seguir.
https://goo.gl/Pcaj7h
https://goo.gl/X6CwjR
BARREIRO, E. J. A química medicinal e o paradigma do composto-protótipo. Revista 
Virtual de Química, Niterói, v. 1, n. 1, p. 26-34, 2009.
BARREIRO, E. J. Introdução à química farmacêutica medicinal: parte 4. 2015. Disponível 
em: <http://www.evqfm.com.br/xxi_evqfm/download/cursos/qm2015_4.pdf>. Acesso 
em: 25 set. 2018.
BARREIRO, E. J.; MANSSOUR, C. A. M. Química medicinal: as bases moleculares da ação 
dos fármacos. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
DOCKTHOR. Site. c2017. Disponível em: <https://dockthor.lncc.br/v2/>. Acesso em: 
25 set. 2018.
15Desenvolvimento de fármacos
MARAJÓ HEALTH ECONOMICS CONSULTING. Desenvolvimento de medicamentos - post 
1. 2016. Disponível em: <http://marajoeconomics.blogspot.com/2016/06/desenvolvi-
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