Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Análise sensorial de alimentos Análise sensorial de alimentos Silvia Deboni Dutcosky 3 ª edição revista e ampliada Coleção Exatas, 4 Curitiba 2011 © 1996, Silvia Deboni Dutcosky 1996, Editora Universitária Champagnat 2007 – 2. ed.; 2009 – 1ª reimpressão; 2011 – 3. ed. Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização expressa por escrito do Editor. Editora Universitária Champagnat Editor-Chefe Prof. Vidal Martins Conselho Editorial Cesar Augusto Kuzma Maria Alexandra Viegas Cortez da Cunha Fernando Hintz Greca Rodrigo José Firmino Humberto Maciel França Madeira Rodrigo Sánchez Rios Luiz Alexandre Solano Rossi Direção: Ana Maria de Barros Coordenação: Viviane Gonçalves de Campos – CRB 9/1490 Capa: Naicele O. de Noronha. Adaptação de Christopher Hammerschmidt Impressão: Gráfica da APC Núcleo de Apoio Editorial: Edena Maria Beiga Grein, Giuliani Carneiro Dornelles Sato, Felipe Machado de Souza e Rene Faustino Gabriel Junior Projeto gráfico e diagramação: Christopher Hammerschmidt Revisão de texto: Bruno Pinheiro e Elisabete Franczak Editora Universitária Champagnat Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prédio da Administração - 3º andar Câmpus Curitiba - CEP 80215-901 - Curitiba, PR Tel. (41) 3271-1701 - Fax (41) 3271-1435 editora.champagnat@pucpr.br – www.editorachampagnat.pucpr.br D975a Dutcosky, Silvia Deboni Análise Sensorial de Alimentos / Silvia Deboni Dutcosky. 3. ed. rev. e ampl. – Curitiba : Champagnat, 2011. 426 p. ; 21 cm. (Coleção Exatas ; 4) Inclui Referências. ISBN 978-85-7292-244-9 1. Alimentos – Análise. 2. Alimentos – Avaliação Sensorial. I. Título. II. Série. CDD 664.07 Lista de Ilustrações Figura 1 – Anatomia da cavidade nasal ..................................................................... 31 Figura 2 – Classificação anatômica do sabor ............................................................ 34 Figura 3 – Terminações do nervo trigêmeo (córnea, oral e cavidade nasal) .............. 35 Figura 4 – Rota do alimento até o cérebro ................................................................. 39 Figura 5 – Exemplo de layout de um laboratório de análise sensorial: 1.Escritório; 2. Cabines; 3. Área de distribuição; 4. Área de preparação; 5. Mesa de reunião ou mesa para análise de grupo .................................................... 42 Figura 6 – Exemplo de layout de um laboratório de análise sensorial: 1. Escri tório; 2. Cabines; 3. Área de distribuição; 4. Área de preparação; 5. Mesa de reunião ou mesa para análise de grupo .................................................... 43 Figura 7 – Mesa redonda utilizada somente por equipes experientes, principal mente para perfis descritivos e para etapa de levantamento dos descritores da análise descritiva quantitativa (ADQ) ......................................................... 43 Figura 8 – Vista lateral das cabines individuais de análise ......................................... 45 Figura 9 – Portinhas das cabines para passagem das amostras ................................ 45 Figura 10 – Modelo de ficha para aplicação do teste de reconhecimento de odores ... 54 Figura 11 – Modelo de ficha para aplicação do teste de identificação de gostos ........ 56 Figura 12 – Modelo de ficha para aplicação do teste triangular .................................. 83 Figura 13 – Ficha utilizada no teste duo trio para o lenço facial .................................. 97 Figura 14 – Modelo de ficha para aplicação do teste “A” ou “Não A” ........................ 101 Figura 15 – Região de incerteza das diferenças de doçura entre amostras .............. 119 Figura 16 – Intensidades de resposta do estímulo para várias degustações de um alimento .................................................................................... 120 Figura 17 – Intensidades de resposta do estímulo para várias degustações do alimento “A” e do alimento “B”, não confundíveis ................................. 121 Figura 18 – Intensidades de resposta do estímulo para várias degustações do alimento “A” e do alimento “B”, quando as amostras são similares ....... 122 Figura 19 – Quanto maior a variância, maior será a sobreposição e menor d’ ......... 123 Figura 20 – Diferentes respostas ao estímulo mais fraco (A) e ao estímulo mais forte (B) em um teste pareado ............................................................. 124 Figura 21 – Caso (a) .............................................................................................. 125 Figura 22 – Caso (b) .............................................................................................. 126 Figura 23 – Caso (c) .............................................................................................. 127 Figura 24 – Caso (d) .............................................................................................. 127 Figura 25 – Modelo de ficha para aplicação do teste de ordenação ......................... 140 Figura 26 – Modelo de ficha para aplicação do teste de comparação múltipla ......... 143 Figura 27 – Modelo de ficha para aplicação do teste de limite ................................. 157 Figura 28 – Modelo de ficha para aplicação do teste de estímulo constante ............. 159 Figura 29 – Modelo de ficha para treinamento dos julgadores na utilização de escalas não estruturadas ..................................................................... 171 Figura 30 – Modelo de ficha para aplicação do teste de estimação de magnitude .... 176 Figura 31 – Procedimento para avaliação da textura sugerido por BRANDT; SKINNER; COLEMAN, 1963 ....................................................................................... 181 Figura 32 – Ficha de análise dos cereais matinais sabor banana marcas A, B, C e D ... 199 Figura 33 – Gráfico-aranha dos atributos de aparência dos cereais matinais A, B, C e D ................................................................................................... 209 Figura 34 – Gráfico aranha dos atributos de odor e aroma dos cereais matinais A, B, C e D ............................................................................................... 210 Figura 35 – Gráfico-aranha dos atributos de textura dos cereais matinais A, B, C e D ... 210 Figura 36 – Ficha de análise ................................................................................... 212 Figura 37 – Modelo de ficha para aplicação do teste de amostra única .................... 229 Figura 38 – Diagrama demonstrativo dos fatores que influenciam o processo de escolha de um alimento ....................................................................... 233 Figura 39 – Modelo de ficha para aplicação do teste pareado preferência ................ 242 Figura 40 – Modelo de ficha para aplicação do teste ordenação preferência ............ 242 Figura 41 – Escala hedônica de 9 pontos ................................................................ 244 Figura 42 – Escala hedônica facial de 7 pontos ....................................................... 245 Figura 43 – Escala hedônica facial de 5 pontos ....................................................... 245 Figura 44 – Escala hedônica de 9 pontos com amostra referência .......................... 247 Figura 45 – Ficha de análise Just About Right (JAR) – exemplo .............................. 248 Figura 46 – Modelo de ficha para aplicação do teste de aceitabilidade proporcional ... 261 Figura 47 – Modelo de ficha para levantamento de dados ....................................... 262 Figura 48 – Exemplo de tríade utilizado no Repertory Grid ....................................... 271 Figura 49 – Frequência dos termos entre os consumidores .....................................272 Figura 50 – Mapa de consenso dos consumidores obtido por Análise de Pro crustes Generalizada (GPA) .............................................................................. 273 Figura 51 – Ao plotar-se as correlações dos descritores com os eixos, descobrimos como os consumidores utilizam diferentemente os termos descritivos ............................................................................... 274 Figura 52 – Diagrama de agrupamento que mostra a variação entre e dentro de agrupamento ....................................................................................... 278 Figura 53 – Comparação de medidas de distância para ligação individual e ligação completa ............................................................................... 279 Figura 54 – Esquema representativo das medidas de distância para ligação média ... 280 Figura 55 – Dendrograma ilustrativo de agrupamento hierárquico ........................... 281 Figura 56 – Mapa de Preferência Interno, do atributo doçura, para bebida de goiaba adoçada com sacarose, aspartame, mistura sacarina/ ciclamato sódico/acesulfame-K, estévia, mistura ciclamato/sacarina e acesulfame-K ...................................................................................... 286 Figura 57 – Projeção dos consumidores nos componentes principais 1 e 2 ............ 287 Figura 58 – Projeção dos produtos nos componentes principais 1 e 2 .................... 288 Figura 59 – Dendrograma referente às preferências dos consumidores dos chocolates ........................................................................................... 289 Figura 60 – Superfície de resposta na forma de cúpula, referente ao escore hedônico (Y) em relação à quantidade de sal e açúcar no presunto cozido. Escala Hedônica: 1 = desgostei extremamente, 9 = gostei extremamente .......................................................................................... 294 Figura 61 – Superfície de resposta na forma de berço, referente ao escore hedônico (Y) em relação às variáveis independentes X1 e X2 ................................ 294 Figura 62 – Superfície de resposta na forma de sela de cavalo, referente ao escore hedônico (Y) em relação às variáveis independentes X1 e X2 ................. 295 Figura 63 – Superimposição das características sensoriais no mapa de preferência interno utilizando-se as correlações com as duas primeiras dimensões de preferência (CP1 e CP2) ............................................................................... 302 Figura 64 – A matriz da qualidade no contexto do desenvolvimento de produtos alimentícios ......................................................................................... 308 Figura 65 – Modelo de ficha utilizada no treinamento e avaliação das amostras ....... 326 Figura 66 – Diagrama triangular relativo ao atributo brilho da barra de cereais. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ .................................. 333 Figura 67 – Diagrama triangular relativo ao atributo de aparência de secura dos flocos de cereais. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ ....... 334 Figura 68 – Diagrama triangular relativo ao atributo aroma volátil de canela. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ .................................. 334 Figura 69 – Diagrama triangular relativo ao atributo de gosto doce. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ ........................................................ 335 Figura 70 – Diagrama triangular relativo ao atributo de textura dureza. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ ........................................................ 336 Figura 71 – Diagrama triangular relativo ao atributo de textura crocância. Os valores se referem à escala de 9 cm do ADQ .................................. 337 Figura 72 – Diagrama triangular relativo ao atributo de textura mastigabilidade. Os valores se referem ao número de mordidas até deglutição da amostra de 2 cm³, na velocidade de 1 mastigação/segundo ................. 337 Figura 73 – Diagrama triangular da escala hedônica (Ypreferência) para as misturas contendo inulina (I), oligofrutose (OF) e goma acácia (GA). Os valores referem-se aos 9 pontos da escala equivalentes ao grau de “gostar ou desgostar” .......................................................................................... 341 Figura 74 – Relação entre intensidade de doçura e concentração de “A” .................. 344 Figura 75 – Fluxo do processo e pontos de decisão para determinação da vida de prateleira pelo plano de avaliação em pontos múltiplos ......................... 357 Figura 76 – Fluxo do processo e pontos de decisão para determinação da vida de prateleira pelo plano de avaliação pontual ............................................. 364 Gráfico 1 – Distribuição de F em função do nível de erro, grau de liberdade da amostra e grau de liberdade do resíduo .................................................. 79 Gráfico 2 – Limiar de detecção da equipe, correspondente a 50% de acertos, equivalente à concentração de 0,0496g ácido cítrico/litro solução ........ 161 Gráfico 3 – Limiar de detecção de diluição, correspondente a 75% das respostas corretas no teste duo-trio, equivalente a 18,3% de leite em pó reconstituído ........................................................................................ 163 Gráfico 4 – Gráfico-aranha representativo dos atributos que melhor caracterizam o edulcorante aspartame em relação ao padrão sacarose ........................ 213 Gráfico 5 – Configuração dos julgadores × amostras de um atributo sensorial ....... 220 Gráfico 6 – Curva de tempo-intensidade e definição de adaptação e gosto remanescente ...................................................................................... 228 Gráfico 7 – Mapa de percepção das marcas de cerveja .......................................... 313 Gráfico 8 – Mapa de preferência para as oito marcas de cerveja ............................. 317 Gráfico 9 – Gráfico-aranha representativo das médias (escala de 9 cm) dos descritores do ADQ, obtidas para cada amostra do delineamento experimental ........................................................................................ 328 Gráfico 10 – Análise de componentes principais (ACP) ........................................... 330 Gráfico 11 – Análise de componentes principais (ACP) das 9 amostras de barras de cereais definidas pelo delineamento (Tabela 29). Plano fatorial “B”: representação das amostras .............................................................. 331 Gráfico 12 – Relação entre intensidade de doçura e concentração de “A” ................ 345 Gráfico 13 – Representação do valor de “y” constante ............................................ 345 Gráfico 14 – Correlação perfeita: R² = 1 ................................................................ 347 Gráfico 15 – Valores experimentais sugerindo uma correlação linear: R² = 0,74 = 74% ....................................................................................... 347 Gráfico 16 – Pontos experimentais sugerem correlação não-linear: R² = 0 ........... 348 Gráfico 17 – Pontos experimentais sugerem que não existe correlação entre “x” e “y”: R² = 0 ..................................................................................... 348 Quadro 1 – Exemplo da análise do resultado do teste sequencial triangular ............... 60 Quadro 2 – Probabilidade e tipos de erros ................................................................ 79 Quadro 3 – Relação das diferentes probabilidades de erro ........................................ 80 Quadro 4 – Análise de variância .............................................................................177 Quadro 5 – Definições das características de textura .............................................. 182 Quadro 6 – Escalas-padrão .................................................................................... 183 Quadro 7 – Definições e referências do grau máximo da escala ADQ cereais matinais sabor banana ......................................................................... 197 Quadro 8 – Esquema geral da análise de variância com duas fontes de variação e sua interação ....................................................................................... 214 Quadro 9 – Análise de variância univariada para o atributo aroma ........................... 216 Quadro 10 – Desdobramento das fontes de variação do modelo analisado no Quadro 9 ............................................................................................ 216 Quadro 11 – Análise de variância por julgador e atributo ......................................... 219 Quadro 12 – Valor da observação sobre o questionamento em pesquisas com consumidores .................................................................................... 240 Quadro 13 – Questionário sobre a escolha da alimentação ..................................... 266 Quadro 14 – Termos descritores selecionados para compor a ficha de avaliação .... 324 Lista de Tabelas Tabela 1 – Tabela de Adranees ................................................................................. 47 Tabela 2 – Julgamentos obtidos no teste “A” ou “Não A” de bebidas ........................ 102 Tabela 3 – Proporção de respostas corretas para o teste triangular não direcional e direcional ............................................................................................ 128 Tabela 4 – Valores de d’ para o teste triangular não direcional e direcional ............... 128 Tabela 5 – Tabulação dos resultados obtidos em teste de ordenação ...................... 131 Tabela 6 – Julgamentos obtidos no teste de ordenação de carnes ........................... 136 Tabela 7 – Somatório dos julgamentos de biscoitos ................................................ 138 Tabela 8 – Julgamentos obtidos no teste de ordenação de óleos ................................ 141 Tabela 9 – Julgamentos obtidos no teste de comparação múltipla de hambúrgueres ... 145 Tabela 10 – Resultados da análise de variância ....................................................... 148 Tabela 11 – Julgamentos obtidos no teste de comparação múltipla de geleias ......... 151 Tabela 12 – Julgamentos obtidos no teste de comparação múltipla de maioneses ... 151 Tabela 13 – Julgamentos obtidos no teste de comparação múltipla de refrigerantes ... 153 Tabela 14 – Julgamentos obtidos no teste de limite pelo olfatômetro ......................... 158 Tabela 15 – Julgamentos obtidos no teste de estímulo constante de soluções ácidas ... 160 Tabela 16 – Julgamentos obtidos no teste de escala estruturada de salsicha ........... 177 Tabela 17 – Médias de intensidade da escala de 10 pontos obtidas para cada descritor (com exceção da mastigabilidade que não utiliza escalas) ..... 205 Tabela 18 – Exemplo de experimento com cinco julgadores, três amostras e três repetições, para atributos sensoriais .................................................... 215 Tabela 19 – Comparação das etapas utilizadas no ADQ e no Perfil Livre .................. 224 Tabela 20 – Métodos qualitativos × quantitativos ................................................... 234 Tabela 21 – Comparativo de técnicas mais utilizadas nos anos 2005 e 2007 .......... 235 Tabela 22 – Equações para o cálculo da diferença mínima significativa (DMS) ou valor crítico (CV) para mais de 120 provadores (p) para os casos de 3 até 12 amostras ........................................................................... 243 Tabela 23 – Produtos e perfil dos consumidores analisados por CLT e HUT ............. 253 Tabela 24 – Comparação das médias hedônica obtidas por CLT × HUT .................. 253 Tabela 25 – Escores hedônicos dos consumidores (variáveis) para os chocolates amargo (A) e ao leite (L) das marcas 1, 2 e 3 ...................................... 286 Tabela 26 – Delineamento experimental simplex-centroide para três variáveis linearmente dependentes ..................................................................... 324 Tabela 27 – Níveis de significância para os julgadores em função da repetibilidade (prepetibilidade) ........................................................................................... 327 Tabela 28 – Médias da equipe para cada atributo avaliado ...................................... 328 Tabela 29 – Equações e análise estatística das modelagens obtidas dos descritores do ADQ ............................................................................................... 332 Tabela 30 – Demonstração parcial da ordem aleatória de apresentação das amostras para os primeiros dez julgadores em cada sessão do teste de preferência ..................................................................................... 339 Tabela 31 – Resultados da escala hedônica de 9 pontos (1 = Desgostei muitíssimo e 9 = Gostei muitíssimo) das barras de cereais ................................... 340 Tabela 32 – Valores ótimos para as respostas de textura calculadas a partir do ADQ e da análise de preferência .................................................................. 342 Tabela 33 – Resultados obtidos do experimento ...................................................... 350 Tabela 34 – Tabela auxiliar para cálculos ................................................................. 350 Tabela 35 – Resultados médios obtidos referentes à qualidade do sabor do café ........ 367 Tabela 36 – Tabela auxiliar para cálculos ................................................................. 367 Tabela 37 – Número de julgadores necessários para o Teste Triangular ................... 391 Tabela 38 – Número mínimo de respostas corretas necessárias para estabelecer diferença significativa entre as amostras ao nível de erro alfa (α) para o Teste Triangular para o correspondente número de julgadores (n). Rejeite a hipótese de que não há diferença se o número de respostas corretas for maior ou igual ao tabelado ................................................ 393 Tabela 39 – Número de julgadores necessários para o Teste Duo-Trio ..................... 395 Tabela 40 – Número mínimo de respostas corretas necessárias para estabelecer diferença significativa entre as amostras ao nível de erro alfa (α) para o teste Duo Trio para o correspondente número de julgadores (n) ........ 397 Tabela 41 – Valores críticos do qui-quadrado .......................................................... 400 Tabela 42 – Número de julgadores necessários para Teste Pareado Monocaudal ..... 401 Tabela 43 – Número de julgadores necessários para Teste Pareado Bicaudal ........... 403 Tabela 44 – Número mínimo de respostas corretas necessárias para estabelecer diferença significativa entre duas amostras para o Teste Pareado Monocaudal ........................................................................................ 405 Tabela 45 – Número mínimo de respostas necessárias para estabelecer diferença significativa entre duas amostras para o Teste Pareado Bicaudal .......... 406 Tabela 46 – Valores Críticos para o Coeficiente de Correlação de Spearman ............ 407 Tabela 47 – Valores críticos para o teste de Page aplicado ao teste de ordenação quando existe uma ordem prevista ou predeterminada ......................... 408 Tabela 48 – Valores críticos de F para o teste de Friedman (riscos de 0,05 e 0,01) ..... 409 Tabela 49 – Teste de ordenação - Tabela de Christensen .........................................410 Tabela 50 – Valores da amplitude Q a ser usada nas comparações múltiplas não-paramétricas, caso de grandes amostras ...................................... 414 Tabela 51 – Limites unilaterais de “F” em nível de 5% de probabilidade para o caso de F > 1 ............................................................................................. 415 Tabela 52 – Limite unilateral de “F” com 1% de probabilidade para o caso de F > 1 .... 417 Tabela 53 – Valores de D para teste unilateral de Dunnett para α (nível de erro) = 5%, segundo o número de graus de liberdade da amostra (GLA) e número de graus de liberdade do resíduo (GLR) ................................... 419 Tabela 54 – Valores de D para teste bilateral de Dunnett para α (nível de erro) = 5%, segundo o número de graus de liberdade da amostra (GLA) e número de graus de liberdade do resíduo (GLR) ................................... 420 Tabela 55 – Valores de amplitude total estudentizada (q), para uso no teste de Tukey .............................................................................................. 421 Tabela 56 – Soluções estoque para os testes de investigação da sensibilidade aos gostos .......................................................................................... 423 Tabela 57 – Série de diluições apropriadas para cada gosto .................................... 424 Tabela 58 – Delineamento balanceado completo MOLS (Mutually Orthogonal Latin Squares) para ordem de apresentação de 5 produtos e 20 consumidores ..................................................................................... 425 Tabela 59 – Coeficientes de correlação de Pearson crítico ...................................... 426 Sumário PREfáCIo à tERCEIRA EDIção .............................................................................. 19 INtRoDUção .......................................................................................................... 21 1 HIstóRICo DA ANálIsE sENsoRIAl ......................................................... 25 1.1 Definição .................................................................................................... 27 1.2 Aplicações .................................................................................................. 27 2 os RECEPtoREs sENsoRIAIs: elementos de avaliação sensorial ............ 29 2.1 o que é percepção? ................................................................................... 29 2.2 o olfato e o nariz ........................................................................................ 30 2.3 o gosto e a língua ...................................................................................... 32 2.4 A visão e o olho .......................................................................................... 36 2.5 tato e receptores do tato ............................................................................ 37 2.6 A audição e o ouvido ................................................................................. 38 2.7 Interações sensoriais ................................................................................. 39 3 CoNDIçõEs PARA A DEgUstAção ............................................................ 41 3.1 laboratório de análise sensorial ................................................................ 41 3.2 Procedimentos para os testes .................................................................... 46 3.3 Preparo da amostra ................................................................................... 46 4 sElEção E tREINAmENto DA EqUIPE ...................................................... 49 4.1 Perfil dos julgadores .................................................................................. 49 4.1.1 Preferência do consumidor .......................................................................... 49 4.1.2 Determinação do grau ou nível de qualidade ................................................ 50 4.1.3 Detecção de uma diferença/similaridade ...................................................... 50 4.1.4 Análise de controle de qualidade de rotina (CQ) ............................................ 51 4.1.5 Análise descritiva de um produto ................................................................. 51 4.2 Procedimento para seleção ........................................................................ 52 4.2.1 Entrevista .................................................................................................... 53 4.2.2 Teste de reconhecimento de odores ............................................................. 53 4.2.3 Teste de identificação de gostos .................................................................. 55 4.2.4 Teste de diferença aplicado ao produto ........................................................ 57 4.3 treinamento e motivação ........................................................................... 62 4.3.1 Técnicas especiais para treinamento ............................................................ 63 4.4 fatores que podem influenciar as respostas .............................................. 65 4.4.1 Fatores fisiológicos ...................................................................................... 65 4.4.2 Fatores psicológicos .................................................................................... 66 4.5 quanto ao estado dos julgadores ............................................................... 70 5 métoDos sENsoRIAIs .............................................................................. 73 5.1 Classificação .............................................................................................. 73 6 tEstEs DE DIfERENçA .............................................................................. 77 6.1 testes de diferença geral (não direcional) ................................................. 82 6.1.1 Teste triangular (ASTM E1885 – 04) ............................................................ 82 6.1.2 Teste duo-trio (ASTM E2610 – 08) .............................................................. 94 6.1.3 Teste “A” ou “NÃO A” (NBR 13171/1994) ................................................... 100 6.1.4 Teste dois em cinco ................................................................................... 103 6.2 testes de diferença de atributos (Direcional) ........................................... 104 6.2.1 Comparação Pareada ou Escolha Forçada entre duas alternativas (ASTM E2164 – 08) .................................................................................. 104 6.2.2 Teste triangular direcional (Teste de escolha forçada entre três alternativas) ... 116 6.3 Utilização de detecção de sinal e abordagem R-Index ............................. 116 6.4 teste de ordenação (Iso 8587: 2006) ...................................................... 129 6.5 teste de comparação múltipla ou teste de diferença do controle (NBR 13526/1995) ................................................................................... 141 6.5.1 Análise de variância ................................................................................... 146 6.5.2 Teste de Dunnett ........................................................................................ 149 7 tEstEs DE sENsIBIlIDADE ..................................................................... 155 7.1 teste de limite .......................................................................................... 156 7.2 teste de estímulo constante ..................................................................... 158 7.3 teste de diluição ......................................................................................162 8 métoDos DEsCRItIvos .......................................................................... 165 8.1 Aspecto qualitativo ................................................................................... 165 8.2 Aspecto quantitativo ................................................................................. 166 8.3 testes de escala ....................................................................................... 167 8.3.1 Tipos de escala ......................................................................................... 168 8.4 Perfil de textura ........................................................................................ 179 8.4.1 Características de textura ........................................................................... 180 8.4.2 Algumas técnicas para treinamento em textura ........................................... 186 8.4.3 Metodologia para traçar o perfil de textura de produtos cárneos ................. 188 8.4.4 Análise de textura em bebidas: termos descritivos ..................................... 190 8.5 Perfil de sabor .......................................................................................... 191 8.5.1 Procedimento do perfil de sabor ................................................................ 192 8.6 Análise descritiva quantitativa (ADq) ....................................................... 194 8.6.1 Procedimento do ADQ ............................................................................... 194 8.6.2 Análise estatística dos resultados de ADQ .................................................. 214 8.6.3 Considerações finais ................................................................................. 221 8.7 Perfil livre ................................................................................................. 222 8.7.1 Procedimento do perfil livre ....................................................................... 223 8.7.2 Perfil Livre Flash ........................................................................................ 225 8.8 tempo-Intensidade (t-I) ........................................................................... 227 8.9 teste da amostra única ............................................................................ 229 9 métoDos sUBjEtIvos oU AfEtIvos ..................................................... 231 9.1 testes qualitativos .................................................................................... 235 9.1.1 Grupos focais (Focus group) ..................................................................... 236 9.1.2 Técnicas etnográficas – baseadas na observação ...................................... 238 9.2 testes quantitativos .................................................................................. 239 9.2.1 Teste pareado ou ordenação preferência .................................................... 241 9.2.2 Escala hedônica ........................................................................................ 243 9.2.3 Escalas JAR – Just About Right ................................................................. 246 9.2.4 Quanto ao local de avaliação ..................................................................... 249 9.2.5 Qual o número de consumidores a serem testados? .................................. 253 9.2.6 A pergunta de aceitação ou preferência geral deve ser a primeira ou a última? .............................................................................................. 256 9.2.7 Delineamento experimental observando-se efeito de primeira posição e efeito de residual de uma amostra a outra na análise .................................. 257 9.3 Aceitabilidade por consumo ..................................................................... 258 9.3.1 Índice de aceitabilidade .............................................................................. 258 9.3.2 Índice de aceitabilidade proporcional .......................................................... 259 9.3.3 Frequência de consumo ............................................................................. 260 9.4 segmentação do mercado ........................................................................ 263 9.4.1 Variáveis demográficas, psicográficas, de atitudes e de consumo .............. 264 9.4.2 Entendendo a linguagem do consumidor. A utilização de RGT – Repertory Grid Technique .......................................................................................... 268 9.4.3 Segmentação de consumidores em função da preferência sensorial – análise de agrupamentos e mapa de preferência interno ............................. 276 10 RElACIoNANDo os DADos Dos CoNsUmIDoREs Com os DADos sENsoRIAIs ............................................................................................. 291 10.1 metodologia de superfície de Resposta (msR) ........................................ 292 10.2 Análise de Componente Principal (ACP) .................................................. 296 10.3 mapas de preferência .............................................................................. 297 10.3.1 Mapa de preferência interno (MDPREF) ...................................................... 300 10.3.2 Mapa de preferência externo (PREFMAP) ................................................... 303 10.4 Estudo do consumidor mediante ferramentas de gestão: Desdobramento da função qualidade (qfD) ..................................................................... 306 10.4.1 Mapa de percepção e sua utilização no contexto do desenvolvimento ......... 311 10.4.2 Mapa de preferência como alternativa ........................................................ 316 11 EstUDo DE CAso: teste descritivo combinado com teste de preferência, aplicados em desenvolvimento de novos produtos .................................. 323 11.1 Resultados da ADq ................................................................................... 325 11.2 Análise exploratória dos dados: análise de componentes principais (ACP) ... 329 11.3 metodologia de superfície de resposta para misturas de ingredientes .... 332 11.4 Análise de preferência: escala hedônica .................................................. 338 12 CoRRElAção ENtRE mEDIDAs sENsoRIAIs E INstRUmENtAIs ........... 343 12.1 Correlação linear simples entre duas variáveis ....................................... 344 13 EstImAtIvA DA vIDA DE PRAtElEIRA DE PRoDUtos AlImENtíCIos .... 353 REfERêNCIAs ....................................................................................................... 371 REfERêNCIAs ComPlEmENtAREs ....................................................................... 385 ANExos ................................................................................................................ 389 Prefácio à terceira edição A análise sensorial ocupa uma posição relevante na área de alimen- tos, cosmética e perfumaria, desenvolvendo-se cada vez mais associada à ciência dos consumidores. O crescimento do interesse despertado pela análise de alimentos e a sua atual importância podem bem ser demons- trados pelas edições deste livro. Entre a primeira e a segunda edição decorreu cerca de uma década; entretanto, entre a segunda e a presente terceira edição, pouco mais de três anos. O modo como a autora desenvolveu este livro, desde a sua pri- meira edição, permite que estudantes de graduação e pós-graduação, bem como profissionais da área de alimentos e bebidas possam fazer bom uso do texto, tanto para buscar os fundamentos básicos quanto para empregar as metodologias mais recentes e inovadoras. Este livro é destinado a servir como referência nãosó aos cientistas, tecnólogos e engenheiros de alimentos, mas também ao pessoal envolvido com pes- quisa, desenvolvimento e inovação, bem como profissionais que atuam na indústria, na academia e em órgãos governamentais e que precisam conduzir com sucesso uma avaliação sensorial. Deve-se registrar que as práticas e recomendações aqui apresenta- das são úteis em indústrias tão diversas como as de cosméticos, fragrân- cias, fármacos e tintas. O presente livro oferece também um suporte útil em pesquisa de mercado e base legal para quem deseja entender os resultados da análise sensorial. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS20 A terceira edição revista e ampliada incorporou muitos dos novos avanços e tendências na análise sensorial, com base na experiência da doutora Silvia Deboni Dutcosky como docente, pesquisadora, gerente de PDI e consultora. O livro acrescenta um número substancial de pá- ginas ricas em informação e conhecimento, um capítulo inteiramente novo e uma bibliografia ainda mais recente, importante e atual. Os testes de diferença no capítulo 6 foram atualizados com no- vidades quanto aos critérios de análise para os testes de diferenças e de similaridade. O teste de ordenação apresenta uma abordagem to- talmente nova e avançada, que irá trazer ao leitor a oportunidade de aprofundamento estatístico sem perda da facilidade no entendimento. No capítulo 8, o leitor encontra os métodos descritivos, como o ADQ (análise descritiva quantitativa), muito bem delineados. No capítulo 9, referente aos métodos subjetivos ou afetivos, a autora introduziu temas como segmentação do mercado e pesquisas sensoriais conduzidas com consumidores, além de reescrever e atualizar a descrição e aplicação dos mapas de preferência. O novo capítulo 10, que relaciona dados dos consumidores com dados sensoriais, é uma síntese bem-sucedida da análise sensorial com a ciência dos consumidores. O capítulo 11 traz um interessante estudo de caso como aplicação integrada do que cons- titui uma tendência na área de alimentos: o desenvolvimento de novos produtos ou a reformulação de produtos tradicionais. Certamente, o texto ainda mais atual, completo e abrangente desta terceira edição tem todas as condições para repetir o sucesso edi- torial e a excelente acolhida das duas edições anteriores. Rui sergio s. f. da silva Engenheiro químico, D.Sc. em Ciência de Alimentos, consultor de empresas Introdução A qualidade do alimento compreende três aspectos fundamentais: nutricional, sensorial e microbiológico. Com certeza o aspecto de qua- lidade sensorial é o mais intimamente relacionado à escolha do produto alimentício. Dessa maneira, as características de qualidade sensorial, tais como sabor, textura e aparência, precisam ser monitoradas desde o momento da percepção e escolha desta qualidade, por meio de estudos do consumidor, como em outras situações no processamento do ali- mento, por estudos da influência dos ingredientes e da tecnologia do processamento, na padronização e no controle de qualidade de rotina, na estabilidade da qualidade sensorial durante o armazenamento, isto é, determinação da vida de prateleira do produto até o momento da graduação ou avaliação do nível de qualidade do produto ou por testes de mercado de um novo produto ou produto reformulado. Graças à abrangência da análise sensorial como uma poderosa ferramenta em todas as etapas – desde a concepção de um novo produto alimentício até a padronização e avaliação do nível de qualidade do produto –, a proposta deste livro é fundamentar, descrever os princípios básicos, para depois apresentar metodologias mais recentes e inovadoras. A experiência descrita pela maioria dos colegas, analistas sensoriais, é que há muita gente trabalhando de forma errada em análise sensorial porque negligenciam os seus fundamentos. Não podemos esquecer que análise sensorial é uma ciência, uma ferramenta analítica e obedece a ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS22 princípios básicos, tal qual nas análises físico-químicas e microbiológicas. Para obter-se máxima sensibilidade, reprodutibilidade e confiabilidade dos resultados, os testes devem ser realizados com equipe de julgadores devidamente selecionados e treinados, em ambiente apropriado, sob condições rigorosamente controladas e aplicando-se técnicas estatísticas para avaliação dos resultados. No capítulo 2 descrevem-se os elementos de avaliação sensorial, isto é, nossos cinco sentidos ou receptores, como e de que forma eles são utilizados na percepção do alimento. No capítulo 3 são apresentadas as condições básicas para a realização da degustação; todos os procedimentos devem ter seus detalhes rigorosamente planeja- dos. O preparo, a forma de apresentação, codificação, homogeneidade, quantidade e temperatura da amostra, o número máximo de amostras por sessão, a forma de apresentação e aleatoriedade e/ou balanceamento na ordem de apresentação, horários e ambientes dos testes. Enfim, o protocolo deve verificar todos esses itens, normalmente normatizados, e ainda cuidar das necessidades de concentração, conforto e neutrali- dade para o julgador. No capítulo 4 apresenta-se o processo de seleção e treinamento da equipe de julgadores sensoriais. A partir daí, podemos considerar que estaremos trabalhando em bases sólidas. Em mais de 25 anos de experiência nesta área, o diagnóstico mais surpreendente é que a maioria dos erros acontece nessas etapas básicas, muitas vezes desprezadas ou subestimadas, porém responsáveis pela confiabilidade dos resultados. Os próximos quatro capítulos, 5 a 8, apresentam os métodos obje- tivos, classificados e normatizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e utilizados para a obtenção de resultados analíticos, os quais avaliam se existe diferença sensorial significativa entre as amostras, quais são as características sensoriais (atributos específicos de sabor, tex- tura, aparência, entre outros) que são significativamente mais ou menos intensas entre as amostras analisadas. Os testes de diferença estão sendo analisados com novos critérios, considerando-se o erro tipo I (alfa) e tipo II (beta), e foram apresentados no capítulo 6 de acordo com a ASTM INTRODUçÃO 23 (American Society for Testing and Materials), porque no momento desta publicação aguardamos a atualização das normas ABNT. O capítulo 9 apresenta os métodos subjetivos ou afetivos, com o obje tivo de descrever suas peculiaridades e metodologias absolutamente distintas daquelas aplicadas aos métodos objetivos. Os testes afetivos ou testes de consumidor podem ser classificados de diversas maneiras; quanto à forma podem ser classificados em testes qualitativos ou quan- titativos e quanto ao local de avaliação podem ser classificados como testes piloto de consumidor (laboratórios), testes em local centralizado (central location) ou testes a nível doméstico (in home). Existem os testes que medem a quantidade consumida do alimento: são chamados índices de aceitabilidade ou também testes que medem a frequência de con- sumo. Por último apresentamos todas as considerações pertinentes à segmentação do mercado. A análise de agrupamentos por preferência é o diagnóstico básico para o desenvolvimento de produtos e suas refor- mulações. Esta técnica tem o potencial de revelar estruturas dentro dos dados que não poderiam ser descobertas por outros meios. A segmenta- ção pressupõe heterogeneidade na preferência (nas escolhas) dos consu- midores e, se esta segmentação for significativa, precisamos conhecê-la para o real entendimento e validação dos resultados. Também com o objetivo de entender como os atributos sensoriais do produto influenciam e como são responsáveis pelas preferências dos consumidores, no capítulo 10 conhecemos a Metodologia de Superfície de Resposta (MSR), a Análise de Componente Principal(ACP) entre atributos sensoriais e escores hedônicos, os Mapas de Preferência Interno e Externo e o Desdobramento da Função Qualidade (mais conhecido como QFD – Quality Function Deployment). Precisamos lembrar sempre que qualidade sensorial não é uma característica própria do alimento. É o resultado da interação entre ali- mento/ homem, com suas características intrínsecas, tais como aparência, sabor e textura, interagindo com as condições fisiológicas, psicológicas e sociológicas do indivíduo. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS24 Daí a importância da análise sensorial ser tratada como uma ciência que engloba os estudos da Fisiologia humana, da Química e Bioquímica dos alimentos, da Psicologia, Sociologia, Marketing, entre outros. Todos os resultados obtidos em análise sensorial devem ser abso- lutamente reprodutíveis, isto é, um experimento estatisticamente signi- ficativo é aquele no qual os resultados podem ser repetidos 95 vezes de um total de 100 (isso representaria um fator p de menos de 0,05). O fator p é a probabilidade de que os resultados se devam ao acaso, quanto menor o fator p, maior a probabilidade de reproduzir os mesmos resultados em um experimento semelhante. Com o objetivo de demonstrar a importância da integração de toda esta metodologia, aplicada corretamente, no capítulo 11 apresenta- se um estudo de caso de desenvolvimento de produto, onde é utilizada a combinação de um teste descritivo com um teste de preferência. No capítulo 12 estuda-se a possibilidade de correlação entre medi- das sensoriais e instrumentais, e finalmente no capítulo 13 descreve-se como desenvolver um estudo de vida de prateleira de produtos alimentícios. 1 Histórico da análise sensorial Embora a indústria de alimentos sempre tenha reconhecido a im- portância da qualidade sensorial de seus produtos, os métodos utiliza- dos para medi-la variaram em função do estágio de evolução tecnológica da indústria. Distinguiram-se quatro fases na metodologia de avaliação da qualidade sensorial: 1ª fase (antes de 1940): época artesanal/pré-científica da indús- tria de alimentos. A qualidade sensorial era determinada pelo proprie- tário da empresa. 2ª fase (1940-1950): época de expansão da indústria de alimen- tos e incorporação de pessoal técnico, geralmente vindo da área quí- mica e farmacêutica. Conceitos de controle de processo e de produto final foram introduzidos, porém, os métodos utilizados eram químicos e instrumentais, não sensoriais. 3ª fase (1950-1970): foi nessa fase da indústria alimentícia que se considerou seriamente a utilização do homem como instrumento de medida das características sensoriais dos alimentos. Os principais avanços nesse período foram: 1 ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS26 a) a definição dos atributos primários que integram a qualidade sen- sorial dos alimentos e os órgãos sensoriais a eles relacionados – Círculo de Kramer; b) o entendimento de que o homem tem uma habilidade natural de comparar, diferenciar e quantificar atributos sensoriais, mas que era preciso normalizar a forma e as condições em que a pergunta era feita, bem como dar um tratamento estatístico aos dados obtidos; c) desenvolvimento de pesquisas básicas sobre o processo pelo qual o homem percebe um estímulo, como a sensação provocada pelo estímulo é elaborada e como o homem verbaliza essa sensação, dentro de áreas como Fisiologia, Psicologia e Sociologia. No fim da terceira fase, desenvolveram-se muito os métodos de avaliação sensorial. Paralelamente, instrumentos capazes de imitar ou duplicar a ação humana foram desenhados e métodos estatísticos ca- pazes de correlacionar medidas sensoriais e instrumentais foram desen- volvidos. Ocorreram dúvidas e discussões a respeito da melhor maneira para medir-se a qualidade sensorial, por meio de métodos sensoriais ou instrumentais. 4ª fase (após 1970): definiu-se que a qualidade sensorial de um alimento não é uma característica própria do alimento, mas sim o re- sultado da interação entre o alimento e o homem. Reconheceu-se que qualidade sensorial é função tanto dos estímulos procedentes dos ali- mentos como também das condições fisiológicas, psicológicas e socio- lógicas do indivíduo ou do grupo que avalia o alimento. É a resposta da percepção do ser humano que interessa. Definiu-se que medidas instrumentais são úteis tão somente quando apresentam boa correlação com as medidas sensoriais. As técnicas para análise sensorial objetiva (discriminação e descrição dos atributos) são distintas das técnicas utilizadas para estudos subjetivos (preferência e aceitabilidade). Para se obter máxima sensibilidade, reprodutibilidade e confiabilidade dos HISTóRICO DA ANÁLISE SENSORIAL 27 resultados, os testes devem ser realizados com equipe de julgadores devidamente selecionados e treinados (análise objetiva) ou público-alvo muito bem definido (análise subjetiva), em ambiente apropriado, sob condições rigorosamente controladas, aplicando-se técnicas estatísticas para avaliação dos resultados. 1.1 Definição Em suma, análise sensorial foi definida como uma disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar reações das características dos alimentos e materiais: como são percebidas pelo sentido da visão, olfato, sabor e audição (AMERINE; PANGBORN; ROESSLER, 1965). Evocar - envolve procedimentos para preparar e servir as amos- tras sob condições controladas para minimizar vieses. Medir - análise sensorial é uma ciência quantitativa, e dados numé- ricos são coletados para medir a relação entre as características do pro- duto e a percepção humana. Analisar - significa que são utilizados métodos estatísticos para análise dos dados. O delineamento experimental é importante para asse- gurar a obtenção de dados de boa qualidade. Interpretar - a base de dados e a informação estatística originadas de uma análise sensorial somente são úteis quando interpretadas dentro do contexto das hipóteses e do conhecimento prévio de suas implica- ções para a tomada de decisão. 1.2 Aplicações São muitas as aplicações da análise sensorial na indústria de alimen- tos e nas instituições de pesquisa: ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS28 a) controle das etapas de desenvolvimento de um novo produto: análise descritiva das amostras experimentais/ classificação de cada amostra de acordo com os padrões estabelecidos/estabelecimento de que um dos vários produtos experimentais tenha aceitabilidade igual ou melhor que o padrão; b) avaliação do efeito das alterações nas matérias-primas ou no pro- cessamento tecnológico sobre o produto final; c) redução de custos: um programa de redução de custos pode se ba- sear em elementos como ingredientes de menor preço, processos menos onerosos ou a produção num local diferente; d) seleção de nova fonte de suprimento; e) controle de efeito da embalagem sobre os produtos acabados; f ) controle de qualidade; g) estabilidade durante o armazenamento: vida de prateleira; h) graduação ou avaliação do nível de qualidade do produto; i) teste de mercado de um novo produto ou produto reformulado. Os processos utilizados para estudar a preferência ou aceitabili- dade de um produto são diferenciados dos usados pela equipe de julga- dores. O grupo interno de julgadores descreve e mede objetivamente as propriedades sensoriais do produto, e colabora com o técnologo, que conta com essa informação para controle do progresso durante o de- senvolvimento de um produto. O grupo de comercialização estuda a preferência e aceitabilidade desse produto, consequências do aspecto sensorial do alimento ao consumidor. O grupo tem que descobrir o impacto emocional do produto sobre o consumidor. A avaliação sensorial fornece suporte técnico para pesquisa, indus- trialização, marketing e controle de qualidade. 2 Os receptores sensoriaiselementos de avaliação sensorial 2.1 o que é percepção? A avaliação sensorial baseia-se em técnicas que são fundamentais na percepção psicológica e fisiológica. Todo objeto tem características inatas, seja uma flor, um produto alimentício ou um livro. Quando, num dado ambiente, um observador toma consciência de um objeto, esse objeto atua como um estímulo sobre os sentidos. O estímulo produz um efeito sobre o observador, uma sensação que é uma função das características inatas do objeto. “Percepção” ocorre quando o observador toma consciência da sensação. A percepção envolve a filtração, interpretação e reconstrução da vasta quantidade de informação que os receptores recebem. Entre sensação e percepção há uma diferença como entre “olhar e ver” ou “escutar e ouvir”. A mente armazena as percepções na memória, as quais são conti- nuamente modificadas pelas novas percepções. Essas modificações são, de fato, o que nós chamamos de “impressões”. No processo total de percepção, os sinais, a integração e a inter- pretação não são facilmente separáveis. O grau de apreciação de um produto alimentício está ligado a esse processo subjetivo, embora mais análise subjetiva possa ser feita pela introspecção e adoção consciente de uma atitude crítica. 2 ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS30 2.2 o olfato e o nariz O sentido do olfato é estimulado mais pela energia química do que pela energia física. Cheiros são produzidos por misturas extrema- mente complexas de moléculas voláteis odoríferas. Para alimentos, pre- ferimos utilizar o termo odor, em vez de cheiro. Podemos dizer que o odor é um dos elementos mais comple- xos, proveniente das substâncias voláteis dos alimentos, estando sujeito a variá veis como a fadiga e a adaptação. A fadiga pode ocorrer, por exemplo, ao provarmos perfumes seguidamente, ao ponto de não dis- tinguirmos mais diferenças entre eles. A adaptação ocorre, por exemplo, ao entrarmos em uma biblioteca velha: o cheiro de mofo e de pó vai nos causar um impacto, porém se neste ambiente permanecermos, a intensidade percebida deste odor cai rapidamente. Mas também, ao sairmos deste ambiente, a recuperação é rápida. Somente em alguns casos, quando a pessoa é exposta a alguns odores específicos em longos períodos de tempo (por exemplo: um dia), será necessário um período maior de recuperação após o estímulo ser removido. Enquanto mastigamos um alimento, seu aroma característico é liberado na boca, passando às narinas pela nasofaringe até o epitélio olfatório. O sistema olfatório, ilustrado na Figura 1, situado na parte posterior da cavidade nasal, possui um número limitado de receptores estruturalmente diferentes e sensíveis à forma e tamanho de moléculas específicas, ou seja, estes receptores apresentam sensibilidade variada de acordo com os diferentes formatos de moléculas odoríferas que se ade- rem a eles como um sistema chave-fechadura. Anatomicamente, esses receptores do olfato correspondem a neurônios com microvilosidades (10 a 20 por neurônio) que se projetam à superfície da mucosa olfatória. A percepção consciente do odor se dá quando os axônios (fibras nervosas do nervo olfatório) conduzem o estímulo através do prato cribriforme para sinapse nos bulbos olfatórios, permitindo a discriminação de odores e a ativação de componentes afetivos, desencadeando emoções ante um OS RECEPTORES SENSORIAIS 31 odor particular e o armazenamento de informações na memória olfativa (TEFF, 1996). Há uma curta conexão com o cérebro e a partir dele nu- merosas conexões para diferentes zonas do cérebro, que podem explicar o poder do olfato para evocar memórias e estimular fortes emoções. Bulbo olfatório Prato cribriforme Epitélio olfatório Fossa nasal Aspiração Percepção do odor Nasofaringe Percepção do aroma figura 1 – Anatomia da cavidade nasal Fonte: GUINARD, 2006a. O aroma do café da manhã atrai de maneira mais convincente que a visão dessa bebida através da janela de um bar. O aroma sugere con- tato direto e evoca o prazer de comer. As características de um alimento dependem mais do aroma do que apenas do gosto, e ambos, juntos, cons- tituem o sabor ou flavor. Chamamos de odor o aroma volátil percebido nas narinas posterio- res por meio da inalação ou inspiração dos componentes voláteis do alimen- to, antes de colocá-lo na boca. Este é também chamado olfato ortonasal. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS32 Denominamos aroma a percepção dos componentes voláteis do alimento na boca, os quais são percebidos nas narinas posteriores da nasofaringe durante a exalação respiratória ou após deglutição. Este é também chamado de olfato retronasal. O conjunto deste aroma refe- rente às propriedades olfativas, somado às gustatórias e aos estímulos trigeminais e de temperatura, é chamado de sabor. As análises do odor (por meio da inspiração) e do aroma (dentro da boca) de um alimento são realizadas de maneira independente e podem apresentar percepções bem diferenciadas. Isto se deve à termodinâmica de desprendimento do odor ser diferente em um copo de vinho ou em um pedaço de maçã, quando compararado à cavidade oral, que tem uma temperatura diferente, à influência da saliva e da mastigação e ainda a diferentes pressões de vapor para os mesmos componentes voláteis. O nariz humano ainda é mais sensível que as análises químicas. Alguns compostos são detectáveis em níveis de ppb (parte por bilhão) de concentração no nariz, como, por exemplo, as etil mercaptanas, com- ponentes aromáticos do repolho ou odores do gambá. As propriedades funcionais do odor incluem a sensibilidade, a discriminação da inten- sidade e qualidade, a tendência à adaptação e as inibições que ocorrem nas misturas. É mais difícil discriminar diferentes níveis de intensidades de odores do que qualificá-los ou reconhecê-los. A sensibilidade varia com o indivíduo e diminui com a idade. A não percepção de um certo odor é referida como anosmia específica, sendo possível também a total anosmia. A interpretação mental de um odor pode ser ilusória e efeitos variáveis são possíveis, quando, por exemplo, o β-feniletanol pode dar cheiro de rosa ou pode dar cheiro de poeira. 2.3 o gosto e a língua São reconhecidos cinco gostos por certas regiões da mucosa da boca e da língua: doce, salgado, ácido, amargo e umami. A percepção do OS RECEPTORES SENSORIAIS 33 metálico tem sido separada dos outros gostos, pois o metálico é definido como uma sensação olfatória-gustativa. A percepção do gosto ocorre por meio de células receptoras localizadas na parte frontal, lateral e no fim da língua, bem como no palato, bochechas e esôfago. Atualmente acredita- se que a sensibilidade a cada gosto em localizações particulares da língua é similar, contrariando a interpretação antiga de que o gosto doce seria sentido primariamente na ponta da língua, salgado e ácido nas laterais e amargo atrás (LAING; JINKS, 1996). Os botões gustativos dos recepto- res dos gostos são sensíveis ao estímulo. A transdução dos gostos ocorre através das células receptoras dos gostos, que devem espalhar neurotrans- missores através da sinapse a fim de criar um sinal nervoso. Existe alguma transposição: um receptor que responde a um açú- car não responderá necessariamente a outra substância de gosto doce, mas pode dar uma ligeira resposta para um composto amargo. Os gostos básicos interagem e podem mascarar ou reforçar outro. O gosto umami (termo japonês que significa “agradável”, “gostoso”) foi identificado a partir da pesquisa sobre a atuação do glutamato monossódico (MSG), na época chamado de realçador de sabor. A comunidade acadêmica reconheceu o umami como sendo um gosto básico, pelo fato de existir um receptor específico que o identifica e transmite o sinal para o cére- bro por meio de um nervo gustativo, assim como ocorre com os demaisgostos básicos (FUKE; UEDA, 1996). Mais recentemente, o umami também foi associado à presença de 5’-nucleosídeos – monofosfato de inosina (IMP) e monofosfato de guanosina (GMP). A sensibilidade para o gosto é medida utilizando-se substâncias puras em soluções aquosas. A sensibilidade é maior às temperaturas entre 20 °C e 30 °C. A não percepção de um gosto é denominada de ageusia. Outras anomalias podem ocorrer, como a hipoageusia (diminuição da percep- ção) ou disgeusia (distorção do gosto). Ainda nesse contexto, envolvendo o gosto juntamente com o olfa- to, temos a definição de sabor ou flavor como uma sensação mista, porém ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS34 unitária, que envolve os sentidos do olfato e gosto, e ainda um conjunto de elementos que influem na percepção do sabor, tais como: sensações de temperatura, pressão, adstringência, pungência, etc., que são as sensações de irritação quimica provenientes das terminações do nervo trigêmeo. Ilustramos na Figura 2 a classificação anatômica do sabor ou flavor. SABOR Sensações químicas orais Sensações químicas olfatórias Gosto doce, salgado, amargo, ácido, umami, outros? Sensibilidade química geral, irritação, frio, adstringência etc. Sensibilidade química geral, irritação etc. Olfato Olfato ortonasal (inspiração) Olfato retronasal (origem na boca) figura 2 – Classificação anatômica do sabor Quando os consumidores descrevem o “gosto” dos alimentos e bebidas, normalmente eles estão se referindo ao sabor. Quando estamos resfriados, costumamos dizer que não estamos sentindo o “gosto” dos alimentos, usando a terminologia errada. O aroma percebido pelo epi- télio olfatório é que está prejudicado e não os gostos básicos. Isso é o resultado de uma congestão nasofaringeal, que oclue os receptores olfativos e trigeminais nasais, porém quase não afetando os receptores OS RECEPTORES SENSORIAIS 35 trigeminais gustativos e orais. É que o aroma, retronasalmente estimu- lado pelo alimento dentro da boca, é geralmente reconhecido como pre- dominante nos sabores. A ausência destas notas fundamentais destrói a nossa habilidade em reconhecer os padrões perceptivos complexos de sensações, conhecidas como sabores particulares. O nervo trigêmeo, demonstrado na Figura 3, tem uma função mista (motora e sensitiva), porém há o predomínio da função sensitiva. Con- trola, principalmente, a musculatura da mastigação e a sensibilidade facial. 1 Nervo trigêmeo 3 2 figura 3 – Terminações do nervo trigêmeo (córnea, oral e cavidade nasal) Fonte: MAYO FOUNDATION FOR MEDICAL EDUCATION AND RESEARCH, 2010. A irritação química se refere ao estímulo das terminações no nervo trigêmeo localizado na córnea e cavidades nasal e oral (Figura 3) por uma grande variedade de irritantes químicos, tais como a capsaicina ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS36 (pimenta vermelha), piperina (pimenta preta), mentol, cinamaldeído, isoalil-tiocianato (mostarda), taninos, dióxido de carbono, etc. O nervo trigêmeo também processa sensações táteis, térmicas e de dor, e a distin- ção entre a irritação química e a tátil é algumas vezes confusa, como acontece com a sensação adstringente provocada pelos taninos. Os tani- nos são um estímulo químico, mas a adstringência é uma sensação tátil. A adstringência é a sensação de “amarra na boca” provocada pelos taninos (presentes em maior quantidade nas frutas verdes, como a banana e o caqui, e nas uvas). A pungência é a sensação de irritação nas mucosas bucal e nasal, por exemplo, provocada pelo vinagre ou pela mostarda. Outros termos também são utilizados para se referir à irritação química, como: “sensação química comum”, “sensação química terciária” ou “quimioestesia”. 2.4 A visão e o olho O sentido da visão dá informação sobre o aspecto de um alimento: estado, tamanho, forma, textura e cor. Antecipa-se na recepção a todas as outras informações e pode produzir uma resposta forte, tal como “sen- sação de água na boca”, quando se avistam frutas ou confeitos na vitrine. Sinais visuais são importantes no controle de qualidade da matéria- prima, quando do julgamento do frescor da fruta ou do peixe e, no pro- cessamento, quando, por exemplo, na avaliação da torração do café por meio da cor. O impacto visual é um elemento que a indústria alimentícia utiliza para tornar um alimento apetitoso, como, por exemplo, na colo- ração de doces ou na decoração de pratos preparados. As características visuais do alimento induzem o consumidor a esperar certo sabor corres- pondente, isto porque, cada vez que está ante determinada imagem, recor- dar-se-á de tudo o que já aprendeu sobre aquele alimento em particular. Luzes coloridas são usadas para mascarar diferenças de cores e reduzir sua influência na avaliação sensorial, mas o efeito psicológico OS RECEPTORES SENSORIAIS 37 destas luzes não foi ainda adequadamente mensurado. O ideal é traba- lhar-se com produtos incolores ou adequar a aparência das amostras, quando possível. O receptor é a retina, que contém células especializadas: os cones são para detecção da cor e os bastões para visualização da forma e da luz escura. A medição do poder discriminatório do olho é feita com uma carta de olho do oculista e a visualização da cor é checada com cartões referentes a pontos coloridos. A despeito de fatores como ilusões óticas e das especificidades individuais, tais como o daltonismo, o olho é sempre mais efetivo do que qualquer instrumento para detecção de diferenças de cor e de forma. A percepção da cor ocorre por meio do estímulo de diferentes comprimentos de onda da luz. As cores são caracterizadas por: - saturação: profundidade da cor; - tonalidade: a cor efetiva (vermelho, verde, azul); - intensidade: brilho (o vermelho brilhoso tem mais intensidade que o vermelho fosco). Cerca de 8% dos homens e 0,6% das mulheres são daltônicos. Mais pessoas confundem ou não identificam três cores do que duas ou uma cor. O teste mais comum é o teste do número de Ishihara (ver: http://www.toledo-bend.com/colorblind/Ishihara.asp). 2.5 tato e receptores do tato O sentido do tato fornece informação sobre a textura, forma ou figura, peso, temperatura e consistência de um produto alimentício em dois níveis: na boca e na mão. As sensações despertadas no manuseio do alimento complemen- tam a informação que chega pelo olho e podem, às vezes, causar surpresa. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS38 Os receptores do tato na boca, localizados nos lábios, bochechas, gen- givas, língua e palato, são extremamente sensíveis e discriminam par- tículas de 20 a 25 μ de diâmetro, no caso da textura granular. A língua move o alimento na boca para mudar sua posição durante a mastigação, pressionando-o contra o palato e sentindo a resposta do alimento à pressão. Os dentes também têm participação importante na avaliação sensorial da textura: as ramificações do nervo dental que terminam na membrana periodental que envolve o dente no maxilar são sensíveis a pressões e colaboram para a percepção da textura. Usualmente define-se a textura dos alimentos em função do seu estado físico. Utiliza-se a denominação de “viscosidade” ou “corpo” para os alimentos líquidos homogêneos, de “consistência” ou “firmeza” para os alimentos semissólidos ou líquidos heterogêneos e de “textura” para os alimentos sólidos. A textura é um importante atributo físico dos alimentos, que além de dar satisfação ao consumidor, ajuda no exercício mastigatório. As percepções táteis podem influenciar drasticamente o prazer de comer. É geralmente por causa de seu aspecto viscoso que muita gente não gosta de ostras. O aspecto vivo e a sensação escorregadia das gelatinas e geleias as tornam atraentes para algumas pessoas e desgostam outras. A percepção cinestésica está envolvida no exame de maturação de frutasou de queijo, por meio de pressão manual. 2.6 A audição e o ouvido Os alimentos originam, ao serem consumidos, certos sons carac- terísticos esperados pelo consumidor, por sua experiência prévia com determinado tipo de alimento. Os sons provocados pela mordida ou mastigação completam a percepção da textura e fazem parte da satisfa- ção de comer. É o caso dos biscoitos, chocolate ou uma maçã suculenta. OS RECEPTORES SENSORIAIS 39 O receptor é o ouvido interno, que é sensível a vibrações de 10−4 Hz de intensidade. As vibrações de mastigação e de deglutição alcan- çam o ouvido interno por meio da trompa de Eustáquio ou pelos ossos do crânio. Deve-se levar em conta também que os membros de um painel sensorial podem ter sua capacidade de avaliação alterada se estiverem presentes ruídos estranhos que lhes dispersem a atenção. 2.7 Interações sensoriais As informações provenientes das cinco vias sensoriais são detec- tadas no cérebro simultaneamente e há sempre interações e associações psicológicas (Figura 4). membrana nasal neurônios receptor língua papila neurônios célula gustativa cérebro bulbo olfativo nervos olfativos figura 4 – Rota do alimento até o cérebro Fonte: IFF do Brasil. Fragrâncias e essências. Catálogo técnico. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS40 Há associações entre cor e temperatura, textura e gosto, cor e odor, etc. Por exemplo, uma cor azul parece mais forte e mais escura quando apresentada em ambiente com som baixo, e parece mais clara com som agudo. Efeitos não fisiológicos também podem ocorrer, como em quantidades iguais de açúcar adicionadas em água e em um fluido viscoso produzem intensidades diferentes de doçura por causa da dife- rente atividade química e habilidade em contatar as partes do receptor, que desempenham a função de reforçar a associação existente entre o aroma e a textura. Há diferenças na sensibilidade individual para os gostos, formas, luzes, odores, de modo que cada um de nós é apresentado com um qua- dro global único no mundo. Essa variabilidade é reforçada um pouco pela educação, nível social, estrutura cultural e pela personalidade. 3 Condições para a degustação Todos os testes devem ser realizados em locais tranquilos, onde o analista fique livre de distúrbios e seja capaz de se concentrar. O ex- perimentador necessita saber o que é percebido com o mínimo de interpretação subjetiva, de modo que os resultados possam ser relacio- nados significativamente com as medições mecânicas e instrumentais e com as pesquisas de mercado. Necessita, portanto, de condições es- peciais (ISO 6658: 2005) para fazer com que o degustador não julgue o produto com interpretações pessoais, mas o avalie o mais objetiva- mente possível. 3.1 laboratório de análise sensorial Deve ser escolhido para o local do laboratório um ambiente longe de odores (inodoro) e de barulho, e de fácil acesso. As cabines indivi- duais, idealizadas para possibilitar total concentração e prevenir a in- teração entre os julgadores, devem ser planejadas para que o acesso seja independente do local de preparo das amostras. A ISO 8589 (2007) apresenta quatro exemplos de layout, considerando-se sempre os requi- sitos básicos de ventilação e de independência da cozinha em relação ao acesso dos julgadores ao local dos testes. Apenas dois exemplo são apresentados nas Figuras 5 e 6. 3 ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS42 O laboratório de análise sensorial normalmente contém: - uma área de testes onde as avaliações possam ser desenvolvidas individualmente em cabines ou em grupos de mesa redonda; - uma área de preparação das amostras; - um escritório; - um banheiro e rouparia; - uma sala de estocagem de materiais; - uma sala de estocagem para amostras; - uma sala de espera para os julgadores. É importante dispor de mesa redonda para as ocasiões em que o grupo tem por objetivo a análise de perfis descritivos, discussão e pa- dronização de procedimentos, caracterização de amostras de referência, treinamento e busca de consenso entre julgadores para análises descri- tivas. A Figura 7 mostra uma mesa redonda, com o centro giratório, muito utilizada em sessões de degustação. 1 5 4 3 2 figura 5 – Exemplo de layout de um laboratório de análise sensorial: 1.Escritório; 2. Cabines; 3. Área de distribuição; 4. Área de preparação; 5. Mesa de reunião ou mesa para análise de grupo Fonte: ISO 8589: 2007. CONDIçõES PARA A DEGUSTAçÃO 43 4 3 2 5 1 figura 6 – Exemplo de layout de um laboratório de análise sensorial: 1. Escri- tório; 2. Cabines; 3. Área de distribuição; 4. Área de preparação; 5. Mesa de reunião ou mesa para análise de grupo Fonte: ISO 8589: 2007. figura 7 – Mesa redonda utilizada somente por equipes experientes, principal- mente para perfis descritivos e para etapa de levantamento dos des- critores da análise descritiva quantitativa (ADQ) Fonte: TAKASAGO International Corporation. Catálogo técnico. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS44 O projeto das cabines sensoriais deve seguir dimensões adequa- das ao conforto e individualidade do julgador (Figura 8). As dimensões da cabine recomendadas pela norma ISO 8589 (2007) são de 90 cm de largura × 90 cm de profundidade (dividindo-se 60 cm para a mesa in- terna de análise com mais 30 cm de vão de entrada). O interior de uma cabine deve ser pintado com branco ou cinza opaco com um fator de luminância aproximado de 15% (Referência Munsell N4 a N5). Entre- tanto, quando for o caso de principalmente cores claras ou próximas do branco serem comparadas dentro da cabine, o interior pode ser pintado de modo a ter um fator de luminância de 30% ou mais (Referência Munsell N6), de modo a dar menor contraste de brilho com as cores que estão sendo examinadas. A iluminação deve ser preferencialmente natural, ou luz fluorescente, e para as cabines individuais utiliza-se ainda a opção de luzes coloridas para mascarar a aparência das amos- tras. Devem existir aberturas com portas para permitir a passagem das amostras da área de preparação para as cabines. A Figura 9 apresenta dois exemplos funcionais, porém outro design pode ser concebido para uma fácil passagem das amostras, com portinhas deslizantes silenciosas e convenientemente localizadas para não permitir que os julgadores ve- jam as amostras sendo preparadas ou codificadas e para acomodar equi- pamento elétrico que possa ser exigido em situação de teste. Também deverá ser instalado um sistema sinalizador para o analista sensorial que está conduzindo o teste, para saber quando o julgador chegou à cabine e está pronto para uma amostra ou para iniciar o teste. Pode ser por meio de um interruptor interno na cabine, para acender uma luz na parte da preparação, ou um sistema de identificação com cartão, entre outros. Se um sistema de computador é usado pelos julgadores para entrada de dados, os seus componentes devem ser configurados de modo a permitir que o julgador se concentre na tarefa sensorial, a tela deve estar a uma altura confortável, sem brilho mínimo, e evita-se pro- tetores de tela. CONDIçõES PARA A DEGUSTAçÃO 45 figura 8 – Vista lateral das cabines individuais de análise Fonte: ISO 8589: 2007. figura 9 – Portinhas das cabines para passagem das amostras Fonte: ISO 8589:2007. ANÁLISE SENSORIAL DE ALIMENTOS46 3.2 Procedimentos para os testes Inicialmente, é necessário reunir o maior número possível de infor- mações sobre o teste. A definição do problema, o que se deseja medir e o planejamento adequado do teste que será utilizado. O horário ideal dos testes é sempre duas horas antes ou depois das refeições. Deve ser oferecido água, pão ou biscoito água e sal para fazer o branco entre amostras. A quantidade de amostra servida deve ser precisamente contro- lada com um mínimo de manuseio
Compartilhar