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A ARTE E SUAS LINGUAGENS ANDRÉA M. GIANNICO DE ARAÚJO VIANA CONSOLINO ELIANA DE CÁSSIA V. DE CARVALHO SALGADO A ARTE E SUAS LINGUAGENS 1ª Edição Editora da Universidade de Taubaté EDUNITAU 2017 Copyright©2017. Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof. Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto (interino) Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. Mario Celso Peloggia (interino) Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lucia Perondi Fortes Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti Coordenação Geral EaD Profa. Dra. Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa. Ma. Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Coordenação de Tecnologias de Informação e Comunicação Wagner Barboza Bertini Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Dra. Suzana Lopes Salgado Ribeiro Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Ma. Ely Soares do Nascimento Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me. Benedito Fulvio Manfredini Bruna Paula de Oliveira Silva Andréa M. Giannico de Araújo Viana Consolino Eliana de Cássia V. de Carvalho Salgado Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432 – Centro Taubaté – São Paulo. CEP:12.020-270 Central de Atendimento: 0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Polo São Bento do Sapucaí Avenida Marechal Deodoro, 605 – Jardim Santa Clara Taubaté – São Paulo. CEP: 12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12) 3621-1530 Secretaria: (12) 3622-6050 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h EMEF Cel. Ribeiro da Luz. Av. Dr. Rubião Júnior, 416 – São Bento do Sapucaí – CEP: 12490-000 Tel.:(12) 3971-1230 e-mail: polosaobento@ead.unitau.com.br Horário de atendimento: das 18h às 21h (de segunda a sexta-feira) / das 8h às 12h (aos sábados). Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C755a Consolino, Andréa M. Giannico de Araújo Viana A arte e suas linguagens. /Andréa M. Giannico de Araújo Viana Consolino; Eliana de Cássia V. de Carvalho Salgado. Taubaté: UNITAU, 2017 106f. : il. ISBN: 978-85-9561-008-8 Bibliografia 1. Artes visuais. 2. Linguagens híbridas. I. Salgado, Eliana de Cássia V. de Carvalho II. Universidade de Taubaté. III. Título mailto:polosaobento@ead.unitau.com.br 1 PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor 2 3 Prefácio Neste livro-texto, apresentamos a Arte – considerada como uma das mais antigas manifestações culturais da humanidade – e a variedade de Linguagens que vêm sendo utilizadas pelo homem para expressá-la. As Artes são importantes na escola, porque desempenham um relevante papel na formação integral do aluno, uma vez que têm o poder de transformar o estudante por meio da magia, da fantasia, da descoberta e da aventura, permitindo e estimulando o desenvolvimento da sensibilidade e da criatividade da criança, desde a mais tenra idade. Tendo em vista que os PCN preconizam que as aulas de Artes devem contemplar atividades que envolvam quatro linguagens: música, teatro, dança e artes visuais, o principal objetivo do estudo desenvolvido ao longo do presente livro e da disciplina homônima é o de propiciar aos participantes do curso, futuros professores de Artes, um conhecimento mais abrangente acerca das Linguagens da Arte, a fim de que possam refletir sobre as diferentes linguagens e suas possibilidades de aprendizagem nos processos educativos, compreendendo os elementos que estruturam e organizam as áreas da arte, suas linguagens e sua relação com a sociedade contemporânea; conhecendo as linguagens artísticas e refletir sobre suas especificidades; investigando as linguagens artísticas e suas potencialidades na pesquisa e na prática do educador. Bons estudos e sucesso! 4 5 Sobre o autor ANDRÉA MARIA GIANNICO DE ARAUJO VIANA CONSOLINO: é graduada em Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas e Música, pela Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba. É especialista em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba e mestre em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Taubaté. Foi curadora da Galeria Tangará vinculada à Faculdade Santa Cecília, em Pindamonhangaba. Foi professora do ensino superior na licenciatura em Educação Artística, com habilitação em Artes Visuais e Música, e do bacharelado em Música na Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba. Atualmente atua como Docente de Apoio no curso de licenciatura em Artes Visuais, na modalidade a distância, da Universidade de Taubaté. Foi Coordenadora do setor de Tecnologia de Informação e Comunicação e agora é Supervisora Pedagógica das salas virtuais da EAD/Unitau. ELIANA DE CÁSSIA VIEIRA DE CARVALHO SALGADO: licenciada em Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas, pela Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba; mestre em Desenvolvimento Humano: políticas e práticassociais pela Universidade de Taubaté (UNITAU). Professora efetiva da Rede Estadual do Estado de São Paulo, na cidade de Pindamonhangaba. É Coordenadora do Curso de Artes Visuais e Docente de Apoio no curso de Licenciatura em Artes Visuais, na modalidade a distância, da Universidade de Taubaté. Atua na área de artes visuais e educação, com ênfase nos temas: linguagens da Arte, práticas de ensino e formação docente. 6 7 Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das Unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU 8 9 Sumário Palavra do Reitor .............................................................................................................. 1 Prefácio ............................................................................................................................. 3 Sobre o autor ..................................................................................................................... 5 Caros(as) alunos(as) ......................................................................................................... 7 Ementa ............................................................................................................................ 11 Objetivos ......................................................................................................................... 12 Unidade 1 Conceituando Arte .................................................................................... 15 1.1 O que é Arte? ............................................................................................................ 16 1.2 Importância da arte na formação do ser humano ...................................................... 20 1.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 24 1.4 Para saber mais ......................................................................................................... 25 1.5 Atividades ................................................................................................................. 25 Unidade 2 As Linguagens da Arte ............................................................................. 27 2.1 Artes visuais ............................................................................................................. 30 2.2 Música ...................................................................................................................... 38 2.3 Teatro ........................................................................................................................ 54 2.4 Dança ........................................................................................................................ 59 2.5 Linguagens híbridas .................................................................................................. 63 2.6 Síntese da Unidade ................................................................................................... 67 2.7 Para saber mais ......................................................................................................... 67 2.8 Atividades ................................................................................................................. 69 10 Unidade 3 Dialogando com as Linguagens ................................................................ 71 3.1 Dialogando com outras linguagens artísticas ........................................................... 71 3.2 Dialogando com outras disciplinas ........................................................................... 74 3.3 Dialogando com os temas transversais ..................................................................... 77 3.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 78 3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 78 3.6 Atividades ................................................................................................................. 79 Unidade 4 As Áreas da Arte e Educação ................................................................... 81 4.1 Relação com a escola ................................................................................................ 83 4.2 O papel do educador ................................................................................................. 86 4.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 93 4.4 Para saber mais ......................................................................................................... 94 4.5 Atividades ................................................................................................................. 95 Referências ..................................................................................................................... 99 11 A ARTE E SUAS LINGUAGENS Ementa ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. EMENTA Significados e papéis da arte; definições e abrangências do termo arte. Experiências e vivências das diferentes linguagens artísticas e suas possibilidades de diálogo com as outras disciplinas do curso. A arte como princípio educativo. Organização curricular a partir dos conteúdos estruturantes que constituem uma identidade para a disciplina de Arte e possibilitam uma prática pedagógica que articula as quatro áreas da Arte: artes visuais, teatro, dança e música. 12 Objetivo Geral Este livro-texto tem por objetivo geral propiciar aos participantes do curso um conhecimento mais abrangente acerca das Linguagens da Arte, para que possam refletir sobre as diferentes linguagens e suas possibilidades de aprendizagem nos processos educativos.Obj eti vos Objetivos Específicos • Compreender os elementos que estruturam e organizam as áreas da arte, suas linguagens e sua relação com a sociedade contemporânea; • Conhecer as linguagens artísticas e refletir sobre suas especificidades; • Investigar as linguagens artísticas e suas potencialidades na pesquisa e na prática do educador. 13 Introdução A arte pode ser encontrada em diferentes lugares, tempos e contextos. Podemos percebê- la se estivermos atentos para ver, ouvir e sentir o que pode acontecer ao mesmo tempo. Somos seres contemporâneos e percebemos as novas linguagens por onde passamos, basta um olhar mais apurado. Também somos seres tecnológicos; vivemos em um mundo com grande diversidade de imagens, sons, gestos, movimentos e palavras. Houve uma época em que não estávamos acostumados a tudo isso, mas hoje essas manifestações fazem parte do nosso cotidiano. E, mesmo assim, ainda nos perguntamos: qual a razão disso tudo? Pode ser que o homem necessite de uma resposta para tudo o que percebe a sua volta. Interpretar as criações, ações e manifestações requer um diálogo com as leituras do mundo e suas diversas linguagens. Dar sentido e significados às coisas talvez possa responder a alguns desses questionamentos. Assim, na Unidade 1 desse livro-texto, abordaremos as definições de arte, suas linguagens e seus significados. A arte se constitui por algo muito especial, pois a atribuição de significados está atrelada a sua forma sensível de apresentação e é inseparável dela. Na Unidade 2, vamos apresentar as linguagens artísticas como as artes visuais, a música, a dança, o teatro, além das linguagens híbridas, como a performance e o happning, mas primeiramente vamos entender o que é linguagem. Na Unidade 3, veremos que as linguagens se misturam, são interdisciplinares, híbridas, isto é, dialogam entre si. A arte, pela sua própria natureza, tem o privilégio de conseguir transitar por outras áreas de conhecimento, assim como pelos temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1997). 14 Por fim, na Unidade 4, abordaremos os conhecimentos pertinentes à arte aplicados em suas diferentes linguagens, as quais devem ser investigadas e vivenciadas como produto da cultura, e compreendidas de maneira ampla, a fim de que se percebam os modos de produção, percepção e significação de sua trajetória, relacionando-os com a sociedade contemporânea; esses conhecimentos devem permear toda a Educação Básica. Bons estudos! 15 Unidade 1 Unidade 1Conceituando Arte A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas a de abrir portas fechadas (FISCHER apud MORAIS, 2002, p. 38). Ininterruptamente o ser humano confere significados ao mundo por meio de uma atividade para a qual damos o nome genérico de leitura. Não lemos apenas os textos escritos, mas lemos igualmente outros tipos, como os não verbais. A partir do momento em que começamos a estabelecer relações entre as situações que nos são impostas pela nossa realidade e a nossa atuação frente a elas, na tentativa de compreendê-las e resolvê- las, também passamos a conferir significados. A arte se constitui em um texto muito especial, pois, no que refere a ela, a atribuição de sentidos está presa a sua forma sensível de apresentação e é inseparável dela; a leitura se torna real quando estabelecemos essas relações. Na medida em que a arte é uma linguagem universal e integradora, compõe uma oportunidade para uma compreensão mais abrangente da própria leitura, no sentido de criar uma conexão entre o mundo pessoal interno e a realidade externa concreta. Essa transformação não ocorre apenas quando se frui das linguagens artísticas, mas estende-se a todas as áreas do conhecimento. Desenvolver a capacidade de entender as linguagens da arte talvez seja, no nosso dia a dia, o maior desafio. Vivemos em um mundo carregado de informações visuais, auditivas, táteis e olfativas, e nem sempre temos consciência disso. Por conta da correria cotidiana, deixamos, muitas vezes, de usar ou até mesmo de trabalhar nossa sensibilidade, mas com a arte temos essa oportunidade, pois essa é uma das suas funções. Não podemos nos deixar absorver por todas essas informações sem, ao menos, refletir sobre elas. 16 As diferentes linguagens da arte representam um dispositivo para uma aprendizagem totalizadora e integradora, possibilitando um desenvolvimento não fragmentado do conhecimento e do ser humano ao potencializar caminhos criativos. 1.1 O que é Arte? Poucos fenômenos são tão difíceis de definir quanto a arte. Uma das razões dessa dificuldade provém do fato de que a arte é uma produção histórica. Isso significa que não existe uma definição universal que dê conta de todas as variações da criação artística no tempo e no espaço (SANTAELLA apud FERRARI, 2015, p. 282). Como a arte está intimamente vinculada a seu tempo, não podemos afirmar que ela se esgote em um único sentido ou função. Segundo o Dicionário Houaiss (s. d.), a palavra arte se define assim: Produção consciente de obras, formas ou objetos, voltada para expressão da subjetividade humana, os nossos sentimentos e opiniões, assim como para retratar as nossas experiências, transmitir informações e semear beleza, divertimento e reflexão. [...] usa-se para referir o talento, a contribuição própria da inteligência e da sensibilidade de um artista. [...] obra humana, de funções práticas ou mágicas, e posteriormente considerada bela, sugestiva (HOUAISS, s. d.). Segundo Buoro (2009), conceituar arte não é fácil; a autora pontua que aquele que a realiza ou a estuda muitas vezes tem dela uma concepção, mesmo inconsciente. Luigi Pareyson, escritor, estudioso da arte em seu livro Os problemas da Estética, 1989, agrupa as definições de arte encontradas na história do pensamento ocidental em três vertentes principais, que predominam alternadamente em diferentes períodos da história. Arte como Fazer, como Conhecer e como Exprimir. Olhando por essa perspectiva, “o autor teoriza uma estética da formatividade, segundo a qual a atividade artística consiste propriamente no formar, isto é, exatamente num executar, produzir e realizar, que é, ao 17 mesmo tempo, inventar, figurar, descobrir” (PAREYSON, 1989, p. 32, apud BUORO, 2009, p. 25). A autora entende a arte como produto do embate vital entre homem/mundo, e considera que, por meio dela, o homem faz sua própria interpretação, construindo forma ao mesmo tempo em que se descobre, inventa, representa e conhece. Segundo Ferraz e Fusari (2010): A arte é uma das mais inquietantes e eloquentes produções do homem. Arte como técnica, lazer, derivativo existencial, processo intuitivo, genialidade, comunicação, expressão, são variantes do conhecimento arte que fazem parte de nosso universo conceitual, estreitamente ligado ao sentimento de humanidade (FERRAZ, 2010, p. 101). Considera-se a arte uma linguagem universal. Linguagem artística que vem atravessando séculos e milênios, fronteiras geográficas e culturas das mais diversas, preservando significados para os que viverão amanhã. A arte pode ser considerada uma linguagem natural do ser humano. Usamos todo o potencial dessa linguagem para nos comunicarmos com espontaneidade. São sempre as formas não verbais da comunicação artística que constituem o motivo concreto da arte ser tão acessível e não exigir a erudição das pessoas para ser entendida. O que ela exige é inteligência e sensibilidade sempre. A arte continua sendo uma necessidade para os homens, caminho essencial de conhecimento e realização de vida. Ostrower (2009) completa afirmando que a arte é a linguagem natural da humanidade e representa um caminho de conhecimento da realidade humana. SegundoOstrower (2009): As formas de arte representam a única via de acesso a este mundo interior de sentimentos, reflexões e valores de vida, a única maneira de expressá-los e também de comunicá-los aos outros. E sempre as pessoas entenderam perfeitamente o que lhes fora comunicado através da arte (OSTROWER, 2009, p. 25). 18 Segundo Coli (2007, p. 64), “é importante ter em mente que a ideia de arte não é própria a todas as culturas e que cada povo possui uma maneira muito peculiar de concebê-la”. A arte é o reflexo da cultura e da história, possibilitando ao homem expressar ideias, emoções, percepções e sensações. Como criação humana, ela se manifesta e se modifica em diferentes contextos socioculturais. A arte evolui com o tempo e em cada época, assim, de acordo com o contexto histórico, observa-se uma tendência a certo estilo. Ao longo da história, criamos diferentes formas de fazer arte, que são mantidas pelo contexto em que o homem se encontra e fundamentam identidades sociais. Para Ferrari (2015), a arte esteve presente na história da humanidade desde os primórdios dos tempos na forma de ofício, quando as pessoas desenhavam e confeccionavam seus materiais de trabalho. Esse conhecimento tornou-se parte da cultura de todos os povos porque foi transmitido de pessoa para pessoa. A arte trata das ideias e ideologias de culturas e etnias; assim a história da humanidade se faz mais compreensível em sua forma de manifestação, seja para representar a realidade ou simplesmente criar novas formas de se perceber a realidade. Aranha (2013) escreve que, do ponto de vista da antropologia, o termo cultura refere-se a tudo o que o ser humano faz, pensa, imagina, inventa, porque ele é um ser cultural. O homem não é capaz somente de viver conduzido por seus instintos, ele é levado a idealizar e construir ferramentas que possam auxiliá-lo a viver melhor, a sobreviver e desenvolver sua humanidade. A forma como nos relacionamos com a arte está sempre em mudança. O papel da arte não é o mesmo em cada época, lugar ou cultura. A arte nos faz perceber e expandir aquilo que somos porque passamos a observar o mundo e a nós mesmos sob diferentes prismas. Ela aguça nossa sensibilidade: ensina a ter nítida percepção dos estímulos que provêm dos nossos sentidos e a relacioná-los com nossos conhecimentos, lembranças e vivências, possibilitando a compreensão do mundo em que vivemos. “A arte, enfim, é uma ocasião de prazer porque nos oferece a compreensão profunda do mundo e de nós mesmos” (ARANHA, 2013, p. 345). 19 Costa (2004) afirma que, para alguns autores, a arte é a descoberta da intencionalidade artística da ação humana e dos princípios formais por meio dos quais ela se expressa e se torna comunicável. Alguns estudiosos escreveram que a arte é o conceito que engloba todas as criações realizadas pelo ser humano para expressar uma visão sensível do mundo, seja este real ou fruto da imaginação. Para esse fim, várias abordagens e recursos podem ser utilizados: pintura, escultura, desenho, cinema, teatro, dança, música, arquitetura, dentre outros. Segundo Vygotsky (2009), a arte é uma forma de expressão da linguagem, fazendo a mediação do homem com o mundo e servindo como instrumento de transformação e de desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. A arte pode elucidar o pensamento, ajudando o homem a construir seu espaço interior e a consciência de si. Lowenfeld e Brittain (1970) pontuam que a interação é importante, pois a criança gosta de imitar o que o adulto faz, ela percebe seus gestos e ações e tenta reproduzir, seu interesse é pela ação e não pelo que o adulto está fazendo. Sendo assim, é fundamental o incentivo, tanto da família como da escola, para que haja essa convivência. Para os autores, “a arte pode contribuir imensamente para esse desenvolvimento, pois é na interação entre a criança e seu meio que se inicia a aprendizagem” (p. 115). As manifestações da arte são inerentes ao homem; elas têm o seu espaço, que foi conquistado por sua autonomia. Como Elliot Eisner pontua: “existem quatro coisas principais que as pessoas fazem com a arte. Elas veem arte. Elas entendem o lugar da arte na cultura, através dos tempos. Elas fazem julgamentos sobre suas qualidades. Elas fazem arte” (BARBOSA, 2008, p. 84). Segundo Brasil (2011), a arte é uma linguagem de potência inquestionável que ousa e se aventura a falar de acontecimentos e percepções da vida pela voz de fazedores de práticas artísticas, sejam ou não artistas. 20 1.2 Importância da arte na formação do ser humano Segundo Frenda, Guzmão e Bozzano (2013), a arte está presente em todas as sociedades humanas. O fascínio pela arte e pela estética é um dos elementos que nos identifica como espécie. Essas manifestações podem ser muito peculiares, mas dificilmente conseguirão isolar-se completamente do seu contexto cultural e social. Em muitos grupos humanos, a arte se manifesta por meio de uma estética propositalmente coletiva, que representa a identidade e valores culturais daquela sociedade. Sendo assim, pontua-se que a arte pode ser estudada por meio da concepção dos conhecimentos das diversas áreas: filosofia, história, sociologia, antropologia entre outras. Nenhuma delas, de fato, consegue analisar a arte livremente. Todas as áreas citadas acabam se relacionando, por conta da complexidade que envolve as manifestações humanas. No Brasil, há um conjunto de diferentes culturas, porquanto o processo de colonização ocorrido aqui impôs a arte e a cultura de origem europeia. Isso não impediu a preservação de outras culturas ancestrais, como a indígena e a africana, que estão enraizadas em nossa formação cultural. Mesmo sabendo dessa presença, muitos brasileiros desconhecem essas culturas, ou as percebem simplesmente de um jeito estereotipado. A arte apresenta diferentes funções em cada sociedade. Ela pode contar histórias, educar, provocar reflexões; pode representar a realidade ou pode criticá-la; ser manifestação do artista, do sonho, da imaginação ou do fervor religioso; ou pode também não ter função alguma, ela mesma se basta. Ao entrar em contato com o público, a arte pode também gerar interpretações diferentes das que seriam as pretensões do artista. De forma geral, as manifestações artísticas possuem em comum o caráter estético. A arte manifesta-se por linguagens e é criada a partir de preocupações sociais, de sentimentos, de emoções, do que alguns chamam de inspiração e de ideias, a arte é feita pelos seres humanos desde sempre (FRENDA, GUSMÃO, BOZZANO, 2013). Ao pesquisar a história, descobrimo-nos criadores, tendo esse poder gerador dentro de nós, pronto para ser acessado e, assim, conceber nosso tempo segundo as nossas próprias potencialidades criativas (PEIXOTO, 2008). Portanto, quando o homem cria, ele 21 representa a expressão de uma cultura e de sentimentos, uma interpretação, um conhecimento do mundo, resultando em expressões imaginativas, provenientes de sínteses emocionais e cognitivas. Contudo hoje podemos dizer que uma das funções da arte é refletir a sociedade. Porém a arte é mais que um espelho da realidade, ela também é produtora dessa realidade. Ao longo dos tempos, criamos diferentes modos de fazer arte, por razões diversas. A forma como a arte se manifesta pode ser considerada estilo. Dentro de cada linguagem da arte, existem diversos estilos. Segundo Martins (2010), a arte é uma forma de criação de linguagens: linguagem visual, linguagem musical, linguagem do teatro, linguagem da dança e linguagem cinematográfica, entre outras. As linguagens artísticas possibilitam, de uma forma singular, a reflexão do homem, ou seja, é a reflexão/reflexo do seu existir no mundo. Quando o homem trabalha as linguagens da arte, seu coração e sua mente atuam juntos em poética intimidade.Há muitas linguagens dentro das linguagens artísticas que se movem, conectam-se, articulam-se e se transformam reciprocamente. Por ser inventada e produzida por meio de renovações, na linguagem da arte, tudo vira linguagem, tudo se transforma em signo, seja o suporte nas artes visuais; ou o corpo, no teatro. Por isso, na composição da linguagem da arte, do seu sistema sígnico, o homem induz ao extremo sua capacidade de inventar e ler signos com fins artístico-estéticos. Segundo Martins (2010), é na escolha de: operar e manejar a linguagem das cores, dos sons, do movimento, dos cheiros, das formas e do corpo humano para fins artístico- estéticos que o homem realiza a alquimia maior de criador: a linguagem da arte (MARTINS, 2010, p. 35). É importante destacar que cada estudante compreenderá a arte de maneira diferente, já que a experiência e as vivências são singulares. A cada momento em que os estudantes conectarem o conhecimento prévio, com experiências e novas informações, um 22 conhecimento é construído ou aprimorado. O resultado de tais associações pode ser o desenvolvimento da criatividade. Nesse sentido, o ensino da arte na educação deve considerar os conhecimentos que cada sujeito traz consigo para dentro da sala de aula e utilizá-la como parte do processo. Segundo Martins (2010), a arte sempre esteve presente por meio de suas diversas representações de natureza estética, as quais são adequadas aos valores de cada época, no desenvolvimento dos contextos histórico e sociocultural da humanidade. Tais representações acabavam sendo tomadas como elementos de fundação para a explicação de um determinado padrão de beleza, para o momento ao qual estavam relacionadas. O homem vem ao mundo com singularidades culturais, psicológicas e sociais, o que possibilita fazer ligações com a natureza e com o mundo. Sendo a arte parte essencial desse movimento, proporciona a representação e interpretação do mundo, pelas quais são desenvolvidas habilidades de seleção, classificação, identificação, entre outras indispensáveis para organização humana (BUORO, 2009). É evidente a importância da arte no desenvolvimento do ser humano como forma de expressão e de linguagem. Os Referenciais Curriculares Nacionais – RCN (BRASIL, 1998) – enfatizam o papel da disciplina de Arte na educação, considerando-a conhecimento indispensável à criança. A arte deve ser concebida como uma das mais relevantes formas de expressão humana, principalmente para as crianças; assim, é imprescindível refletir sobre a prática pedagógica, de modo a valorizar as diferentes formas de expressão possibilitadas pelas atividades artísticas, considerando seus aspectos distintos, determinados nos RCN (BRASIL, 1998), a apreciação, o fazer artístico e a reflexão; ou seja, o conhecimento sobre as obras e sua produção, e a reflexão sobre o que foi aprendido por parte dos educandos. Faz-se necessário evidenciar a importância da arte e das suas linguagens no processo de construção da identidade, no desenvolvimento da autonomia e na possibilidade de auxílio na formação do indivíduo integral. 23 Fischer (1983) define a arte, como substituto da vida, dessa forma: [...] a arte como meio de colocar o homem em estado de equilíbrio com o mundo que o rodeia – eis uma ideia que contém em si o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua necessidade. E já que não se pode esperar um permanente equilíbrio entre o homem e o mundo que o cerca mesmo na sociedade mais desenvolvida, a ideia sugere também que a arte não só foi necessária no passado como o continuará a ser sempre (FISCHER, 1983, p. 9). Segundo Fischer (1983), a arte surgiu com os primórdios da humanidade, mostrando-se com suas primeiras ações, particularmente por meio do trabalho, condição necessária para a subsistência, a partir do qual o homem utiliza a natureza, transformando-a. As pinturas rupestres caracterizavam as primeiras formas de ação e demonstravam que o homem da caverna, naquele tempo, já se interessava em se expressar de maneira diferente. A arte é, para o homem, a possibilidade de manifestação de seus sentimentos mais complexos, projetando por meio de formas, linhas, cores, sons, gestos e ritmos uma nova percepção da realidade. Assim, formas, cores, sons, movimentos e até mesmo recursos tecnológicos, em constante desenvolvimento, servem de base para o início de manifestações como o desenho, a pintura, a música, a dança, os quais foram mudando sua forma de apresentação e complexidade à medida que as civilizações se desenvolveram, sendo ainda contempladas por outras expressões, tais como a escultura, o teatro e, posteriormente, o cinema. Ao fazer arte, o homem cria, mas seu objeto artístico nem sempre condiz com a realidade ou com a representação da realidade por ele vivida, e sim com o modo como as coisas devem ou podem ser, segundo sua visão ou desejo. Assim, a função da arte e o seu valor para o homem estão na representação simbólica do mundo humano. Ferraz e Fusari (2009) afirmam que são vários os estilos representados por meio da arte pela sociedade, não sendo iguais a todas elas, pois cada uma apresenta seus próprios valores, sejam eles morais, religiosos e artísticos; cada região tem sua cultura; sendo assim, a arte se manifesta de acordo com elas . 24 A arte influencia ações em uma sociedade, pois é possível afirmar que a cultura é a base da formação do homem; por meio dela ele fala, pensa, reflete e realiza muitas coisas. Segundo os PCN (1997), conhecendo a arte de outras culturas, o homem poderá perceber a relatividade dos valores onde estão enraizados seus modos de pensar e agir, conceber um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana. Outrossim, torna-se capaz de perceber sua realidade cotidiana mais profundamente, reconhecendo objetos e formas que estão à sua volta, no exercício de uma observação crítica do que existe na sua cultura, criando condições para uma melhor qualidade de vida. Pode-se citar como exemplo a forma como o homem se manifesta ao utilizar as letras das músicas, pinturas, representações em uma apresentação teatral e, por que não, nos dias de hoje, ao fazer uso da tecnologia. A arte tem um papel fundamental no diálogo do homem com o mundo que o cerca. O mundo passa constantemente por diversas mudanças, mas, na história recente da humanidade, nenhuma mudança foi tão transformadora quanto os avanços tecnológicos das últimas décadas. Internet, Wi-fi, redes socais – essas são apenas algumas das tecnologias criadas nos últimos anos que se tornaram praticamente indispensáveis na vida de milhares de pessoas em todo o mundo. 1.3 Síntese da Unidade Nesta Unidade, apresentamos o que é arte. Segundo alguns estudiosos e autores, a arte é inerente ao ser humano. Discutimos também qual a importância da arte na formação do ser humano e as manifestações artísticas, as quais são criadas a partir das preocupações sociais. 25 1.4 Para saber mais Livros • Arte na Educação Escolar, das autoras Maria F. de Rezende e Fusari. Como saber arte? Como ser professor de arte? Esse livro visa contribuir para que o educador de arte possa organizar um trabalho com fundamentação teórico- metodológica. • A Educação nas Múltiplas Linguagens das Artes, da autora Carol de Kácia. Esse livro reúne reflexões de variadas manifestações artísticas e suas diversas possibilidades em sala de aula, na perspectiva de ampliar o repertório de práticas de educadores, bem como relatar significativas experiências. Os autores transitaram entre teorias e práticas, discutindo temas ligados às linguagens da arte. • A Necessidade da Arte, do autor Ernst Fischer. A leitura desse livro nos faz refletir sobre o porquê fazemos arte e utilizamosdiferentes linguagens para nos expressar. São questionamentos sobre os quais vale a pena pensar e compartilhar com nossos alunos. 1.5 Atividades Para aprofundar seu conhecimento sobre o conteúdo dessa Unidade, sugerimos a realização destas atividades: Atividade 1 - Selecione várias frases que definam “o que é arte”. Sugira que os alunos formem grupos para que se possa fazer uma roda de conversa sobre esse conceito. Distribua as frases entre eles, marque um tempo e depois permita que todos os grupos, cada um representado por um aluno, emitam suas opiniões. Vale lembrar que 26 nem sempre o que um grupo pontuar é o que o outro acredita ser o correto. Você deverá ser o mediador desse conhecimento, assim as informações serão significativas e possibilitarão o início de outra conversa. Atividade 2 – Trabalhando com temas. Converse com seus alunos sobre a importância da arte na formação do ser humano. Explique que, ao fazer arte, o homem cria. Sugira que eles pontuem o que têm em casa que possa representar a arte. Após essa conversa, convide-os a trazerem esses objetos para mostrar aos colegas em outro encontro, que poderá ser na próxima aula. Se o objeto não puder ser levado para a sala de aula, dê a sugestão de fotografarem. Certamente, esse será um momento de reflexão que poderá ser compartilhado. 27 Unidade 2 Unidade 2 .As Linguagens da Arte Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida – umas porque usam de fórmulas visíveis e, portanto, vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso. (FERNANDO PESSOA, 1982) Na Unidade anterior, você conheceu os conceitos de arte e, nesta Unidade, vai estudar as linguagens da arte. Primeiramente vamos entender o que é linguagem. O homem pré- histórico já utilizava vários tipos de linguagem para se comunicar, como demonstram as pinturas rupestres, e para expressar seu pensamento, sua cultura e sentimento, com desenhos, esculturas, danças e ritmos musicais. Portanto a linguagem sempre esteve presente na vida do ser humano. Segundo Martins (2010, p. 32), “a linguagem é a forma essencial da nossa experiência no mundo e, consequentemente, reflete nosso modo de estar no mundo. Por isso é que toda linguagem é um sistema de representação pelo qual olhamos, agimos e nos tornamos conscientes da realidade”. A linguagem da arte está por toda parte, em todos cantos do mundo. Não apenas em museus ou espaços culturais. Não conseguimos viver sem som, sem imagem ou dança. 28 O homem sempre teve necessidade de comunicar suas ideias e sentimentos de diversas formas, isto é, por sinais, gestos, signos, escrita, fala e códigos, e por meio de diferentes linguagens, como a verbal e não verbal. A linguagem verbal utiliza a palavra para se comunicar. É por ela que expressamos nossas ideias e sentimentos. Como exemplo, temos a fala e a escrita no teatro (encontramos os textos e os roteiros, entre outros). Segundo Fiorin: A linguagem verbal é, então, a matéria do pensamento e o veículo da comunicação social. Assim como não há sociedade sem linguagem, não há linguagem sem comunicação. Tudo o que se produz como linguagem ocorre em sociedade, para ser comunicado, e, como tal, constitui uma realidade material que se relaciona com o que lhe é exterior, com o que existe independentemente da linguagem (FIORIN, 2006, p. 6). A linguagem não verbal utiliza outros códigos (simbologia), que não fazem parte da palavra e da escrita, como a dança, os gestos, o corpo, as cores, os desenhos, a música, as imagens, a escultura, isto é, lança mão de signos visuais e sensoriais. Segundo Martins (2010), toda e qualquer linguagem é instrumento para recortar, categorizar e perceber o mundo. Sendo assim, para Lévy (1996) é também: Um instrumento com o qual os seres humanos podem se desligar parcialmente da experiência corrente e recordar, evocar, imaginar, jogar, simular. Assim, eles decolam para outros lugares, outros momentos e outros mundos. Não devemos esses poderes às línguas, mas igualmente às linguagens plásticas, visuais, musicais, matemáticas, etc. Quanto mais as linguagens se enriquecem e se estendem, maiores são as possibilidades de simular, imaginar, fazer imaginar um alhures ou uma alteridade (LEVY, 1996, p. 72). Toda linguagem é uma forma de comunicação e interação com o outro. 29 Vamos conhecer também as linguagens visuais (ou artísticas) que são formadas por muitas outras linguagens. A arte tem características próprias, as quais se manifestam de diversas formas ou estilos, e possui uma linguagem bem particular, isto é, seu próprio meio de se comunicar e de se “expressar”. Para Bakhtin: Expressão é tudo aquilo que, tendo se formado e determinado de alguma maneira no psiquismo do indivíduo, exterioriza-se objetivamente para outrem com a ajuda de algum código de signos exteriores. A expressão comporta, portanto, duas facetas: o conteúdo (interior) e sua objetivação exterior para outrem (ou também para si mesmo) (BAKHTIN, 2002, p. 111). A arte, sendo uma manifestação da linguagem, possui códigos e signos que são interpretados e/ou reconhecidos pelo público, quando ouvimos uma música, apreciamos um quadro, assistimos a um espetáculo de dança ou teatro. É pela linguagem que identificamos a cultura de um povo. Segundo Martins (2010, p. 35), “a arte é uma forma de criação de linguagens – a linguagem visual (artes visuais), a linguagem musical, a linguagem do teatro, a linguagem da dança, a linguagem cinematográfica, entre outras”. Essas linguagens são manifestações artísticas que fazem o homem pensar, sentir e criar. Existem ainda outras linguagens, como a formal (uso da escrita e do desenho, entre outros), a natural (uso da voz e do gesto, entre outros), a oral ou gestual (comunicação “Linguagem artística é constituída de conteúdo e forma, ou seja, é uma trama de signos emitidos voluntariamente para transmitir conteúdo. Esses signos podem ser verbais, no caso de obras escritas, cantadas ou faladas, e não-verbais, no caso de dança, pintura, escultura, desenho e algumas obras musicais e dramáticas” (RIZZALTI, MENDES, GODOY, 2002, p. 53). 30 por sinal) e as audiovisuais (televisão e cinema, entre outros), apenas para elencar algumas. O importante é fazer uso das linguagens para nos comunicar. Agora que entendemos o que é linguagem e quais são as linguagens da arte, iremos conhecer algumas delas. 2.1 Artes visuais As artes visuais são manifestações artísticas que envolvem o sentido da visão, como a pintura, a escultura, o desenho, a gravura e a fotografia, entre outras (FRENDA, GUSMÃO, BOZZANO, 2013). Pais et al. (2000) completam que elas também expressam mensagens, sensações, da mesma forma que a língua falada, gestual ou escrita. Desde a pré-história, as técnicas de artes visuais já existem, com a utilização de elementos bi e tridimensionais (duas e três dimensões). Além de serem consideradas manifestações artísticas, elas também são uma manifestação natural, pois expressam sentimentos. 2.1.1 Elementos da linguagem visual A linguagem visual se expressa por intermédio de elementos visuais que, combinados entre si, formam imagens. Aqui iremos apresentar apenas os elementos básicos, mas existem outros, como espaço, plano, movimento, escala, perspectiva, simetria, equilíbrio,proporção, dimensão, que podem contribuir para a análise de uma obra de arte. Muitas obras podem conter alguns desses elementos ou a maioria deles. Figura 2.1: Pontilhismo – Um domingo de verão na ilha da Grande Jatte, de Georges Seurat (imagem de domínio público). Fonte: commons.wikimedia.org. Acesso em: 20 jan. 2017. 31 Ponto: é o elemento mais simples da linguagem visual. Segundo Coll e Teberosky (1999), é o menor elemento visual, mas com ele podem-se construir imagens. Existe o ponto geométrico, físico, gráfico, pelos quais “podemos obter efeitos de luz e sombra, volume ou profundidade” (BUENO, 2008, p. 24), como nas técnicas de pontilhismo, desenvolvidas no final do Impressionismo e muito utilizadas por Georges Seraut. Jackson Pollock, artista plástico – expressionista abstrato – também utilizou pontos em suas pinturas (pontos feitos com tinta respingada). Seu trabalho era chamado de “pintura em ação” (action paint). Linha: é uma sequência de pontos. Quanto à forma, pode ser curva, reta, quebrada, sinuosa e espiral, entre outras. Quanto à posição, pode ser horizontal, vertical, fechada, paralela ou inclinada. Nas artes visuais, a linha tem, por sua própria natureza, uma enorme energia. Nunca é estática; é o elemento visual inquieto e inquiridor do esboço. Onde quer que seja utilizada, é instrumento fundamental da pré- visualização, o meio de apresentar, em forma palpável, aquilo que ainda não existe, a não ser na imaginação (DONDIS, 2003, p. 56). Figura 2.2: Banho em Asnieres, de Georges Serat. Fonte:commons.wikimedia.org/wiki /File:Baigneurs_a_Asnieres.jpg.Aces so em: 25 fev. 2017. Figura 2.3: O Grito, de Edvard Munch (1893). Fonte:commons.wikimedia.org/wiki /File:The_Scream.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2017. Fig 2.3 O Grito – Edvard Munch (1893) Fonte: Imagem de Domínio Público. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_S 32 A utilização de linhas nos dá sensações diferentes, como equilíbrio, movimento, harmonia, medo, entre outras. Na obra O Grito, de Edvard Munch, por exemplo, as linhas dão a sensação de medo, agonia e desespero. Pet Mondrian, pintor holandês, usou linhas retas negras, horizontais e verticais para transmitir segurança e estabilidade. Van Gogh, pintor pós-impressionista, usou linhas curvas nas texturas de seus quadros, dando a sensação de movimento. Forma: conhecida também como superfície, possui três formas básicas: quadrado, círculo e triângulo. Ela pode ser bidimensional (comprimento e altura) ou tridimensional (comprimento, altura e profundidade), e também abstrata e figurativa. Pode possuir também estrutura cheia, oca, transparente ou vazada. Podemos encontrar formas básicas nas pinturas indígenas ou até mesmo nas obras de arte de vários períodos, como. por exemplo, na arte abstrata (abstracionismo) de Mondrian e de outros. Cor: o emprego do elemento cor é, na maioria das vezes, fundamental nas artes visuais. Desde a pré-história, o homem já utiliza a cor, ao extrair da natureza os pigmentos naturais. Foram realizados vários estudos sobre a cor; em um deles, o físico Isaac Newton desenvolveu um disco colorido com cores primárias que, sendo girado em alta velocidade, produz a cor branca (Disco de Newton ou Círculo Cromático). Figura 2.4: Composição em vermelho, amarelo, azul e preto (1926), de Piet Mondrian (imagem de domínio público). Fonte:commons.wikimedia.org/wiki/File:Th e_Scream.jpg> Acesso em: 10 fev. 2017. Fig 2.4 Composição em vermelho, amarelo, azul e preto (1926). Piet Mondrian. (Imagem de domínio público) Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Piet_ Mondrian#/media/File:Piet_Mondriaan,_1 921_- _Composition_en_rouge,_jaune,_bleu_et_ 33 Existe a cor primária – luz (vermelho, verde e azul) e a cor primária – pigmento (vermelho, azul e amarelo), ao misturá-las em alta velocidade resultam, respectivamente, a luz branca e o cinza. Este último é utilizado nas artes gráficas. As cores primárias são formadas por pigmentos naturais. A combinação de duas cores primárias resulta nas cores secundárias (verde esmeralda, alaranjado e violeta). A mistura de uma cor primária com uma secundária resulta nas cores terciárias (verde primavera, azul violáceo, carmim, vermelhão, amarelo cromo) e cria contraste com outras cores. Existem também as cores complementares (cores diametralmente opostas no disco de Newton e que são contrastantes), as análogas (cores vizinhas no disco de Newton ou círculo cromático) e as neutras (preto e branco, criando tons monocromáticos). Elas também podem causar sensações, influenciando o comportamento das pessoas. Por exemplo, as cores quentes (de cromo, de vermelho, de alaranjado, de violeta) podem tornar as pessoas alegres, ao passo que as cores frias (tons de azul, violeta e verde) podem fazer as pessoas mais tristes. A cor tem papel fundamental na natureza, no cotidiano e na nossa emoção, pois, segundo a psicologia das cores, cada cor pode causar uma sensação diferente no homem. Existem várias técnicas e materiais para o emprego da cor e cada artista faz uso da que mais reflete sua emoção. Em alguns períodos da história da arte, os artistas abusaram mais das cores, como é o caso dos impressionistas, expressionistas, abstracionistas e fauvistas. Muitos fazem uso de pinturas monocromáticas (tons diferentes da mesma cor) ou policromáticas (tons de várias cores). Picasso, por exemplo, em sua fase azul, pintou apenas com tons de azul e, na fase rosa, pintou em tons de rosa temas de família. Textura: é a qualidade de uma superfície e pode ser reconhecida tanto pelo tato como pela visão, ou ainda combinando ambas (DONDIS, 2003). É um recurso que os artistas Figura 2.5: Disco de Newton. Autor: Geralt. Fonte: <pixabay.com/pt/cor- distrito-colorido- padr%C3%A3o-455365/>. Acesso em: 12 fev. 2017. 34 utilizam para dar a sensação de maior ou menor volume às obras. Algumas podem ser apenas sentidas: macias, lisas, ásperas, etc. Elas podem ser desenhadas com pontos, linhas curvas, sinuosas, entre outros modos. Vários artistas utilizaram textura em sua obra. O caricaturista e pintor francês Honoré Daumier utilizou linhas e pontos em suas gravuras. Picasso também fez uso desse elemento em várias de suas obras. Outra forma de desenhar texturas é utilizando a técnica de Frottage (consiste em rabiscar, com grafite, o papel sobre uma superfície com textura – ex.: piso cimentado áspero), muito utilizada pelo pintor surrealista Marx Ernest. 2.1.2 Manifestações das Artes Visuais No campo das artes visuais, são consideradas manifestações artísticas tradicionalmente o desenho, a pintura, a escultura e a gravura, mas existem outras manifestações que se expressam também pelas imagens visuais, como a fotografia, as artes gráficas, o cinema, a televisão, entre outras. Vamos discutir algumas das manifestações das artes visuais: Desenho: segundo Pereira (2007, p. 25), é “uma linha de contorno que envolve determinada forma”. Bueno (2008, p. 70) completa essa definição, dizendo que desenhar é também “utilizar a mão para executar gestos necessários para rabiscar e através de um objeto, que prolonga a mão, realizar os mais profundos sentimentos; transportar para o real algo presente apenas no pensamento”. Figura 2.6: Noite Estrelada, de Van Gogh. Fonte: <pixabay.com/en/starry-sky-van- gogh-oil-painting-1948523/>. Acesso em: 10 fev. 2017. 35 É uma das linguagens mais comuns de comunicação, pois mesmo quem não sabe desenhar consegue se expressar pelos grafismos. Existem vários tipos de desenhos: o figurativo, o de observação, o artístico, o técnico, o industrial, de ilustração, o cego, de memória, de imaginação, etc. Existem vários tipos de materiaise suportes para desenho. Como material, podemos mencionar o lápis grafite, lápis de cor, giz pastel, giz de cera, carvão, etc. Como suporte, podemos desenhar no papel, mas também na madeira, no tecido, etc. Vários artistas usam o desenho para esboçar uma obra e outros transformam seus croquis em obra de arte, como fez Michelangelo, por exemplo. Pintura: é uma manifestação artística existente em todos períodos da história da arte (desde a pré- história) e a que mais temos contato desde criança. Coll e Teberosky (2002) definem pintura como a “arte da cor”. Assim como no desenho utilizamos o grafismo, na pintura utilizamos a mancha da cor. Existem vários tipos de suportes (ou superfície) para pintar. Além das telas, podemos usar murais, paredes, papéis, metais, cerâmicas e até mesmo suportes mais contemporâneos, como o computador e o próprio corpo. Na pintura, são utilizados temas como natureza morta, mitologia, retrato, paisagem, abstrato, temas religiosos e históricos, entre outros. Além disso, o artista faz uso de diferentes técnicas para Figura 2.7: Esboço de Michelangelo. Fonte:<commons.wikimedia.or g/wiki/File:Michelangelo_libya n.jpg>. Acesso em: 15 fev. 2017. Figura 2.8: Cisne, pintura em aquarela digital. Fonte:<www.publicdomainpictures.net/view- image.php?image=78673&picture=&jazyk=P T>. Acessado em: 21 fev. 2017. 36 compor sua obra. Dentre elas, temos: pintura a óleo, pintura acrílica, pintura aquarela, têmpera e giz pastel, entre outras, além de técnicas mistas, como a assemblagem (técnica de pintura/colagem onde, pela qual se utiliza qualquer material como arte) por exemplo. Hoje, além das técnicas de pintura mencionadas, podemos pintar virtualmente, utilizando softwares específicos, como o Painter Essentials, Corel Painter, Gimp, Photoshop, entre outros. Com esses programas, podemos pintar com efeito de aquarela, tinta a óleo, lápis de cor, entre outros. Vale a pena praticar. Escultura: a escultura é uma linguagem visual que utiliza as três dimensões (largura, altura e profundidade). A essência da escultura consiste no fato de ser construída com materiais sólidos e existir em três dimensões. A maioria das outras formas de arte visual – pintura, desenho, artes gráficas, fotografia, cinema – apenas sugere as três dimensões através de uma utilização extremamente sofisticada da perspectiva e da luz e sombra do claro- escuro (DONDIS, 2003, p. 189). As esculturas existem em diferentes formas, materiais (argila, pedra, bronze, ferro, cimento, madeira, arame, plástico, papel, materiais expressivos como sabão, etc.) e técnicas, em relevo (formas esculpidas em baixo-relevo, alto-relevo e pleno-relevo), entalhada (quando ocorre subtração de material a partir de um bloco de pedra ou madeira), modelada (volume no qual o artista dá forma à escultura, acrescentando material de cera, gesso, argila, entre outros), montada (técnica de vanguarda que usa materiais inusitados, como solda, cola, encaixe, aglomeração, etc.), vazada (utiliza a transformação de vários materiais, como fundição do cobre, estanho, etc.). Figura 2.9: O Pensador, de Rodin – escultura entalhada. Fonte: <https://pixabay.com/pt/o- pensador-bronze-escultura-rodin- 1090226/>. Acessado em: 16 fev. 2017. 37 Gravura: “gravura é a linguagem artística que permite múltiplas reproduções a partir de uma matriz” (BUENO, 2008, p. 78). O artista entinta uma placa com relevos e, após pressionar fortemente, é reproduzida a imagem. Muitas vezes, dependendo da técnica, a própria matriz é a obra de arte. Essa técnica possui uma numeração diferente das outras, pois o número é colocado no canto inferior esquerdo, a lápis, antes de iniciar a reprodução, quer dizer, o gravador define quantas cópias vai tirar. Não existe número mínimo ou máximo de cópias, contudo quanto menor o número de cópias, mais valorizada é a obra. Assim como na pintura, na gravura também existem técnicas diferentes, que variam de acordo com o material da matriz, como a xilogravura (gravação em relevo usando como matriz a madeira), a calcogravura (gravação em relevo usando como matriz o metal), a linoleogravura (gravação semelhante à xilogravura, mas no linóleo – borracha), a monotipia (gravação de cópia única), a litogravura (gravação plana usando como matriz a pedra), a serigrafia (gravação por permeação), entre outras. A técnica de xilogravura é utilizada para ilustrar a literatura de cordel, cujo maior representante no Brasil é José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges. Para saber mais... Sugerimos que você assista ao filme A guerra do fogo, que aborda a experiência humana na transformação da natureza, por meio de três personagens pré-históricos que enfrentam adversidades na busca do fogo. As relações entre linguagem e necessidades humanas estão presentes nessa obra. Figura 2.10: Autorretrato. Xilogravura Fonte:<pixabay.com/pt/xilogravura- americana-auto-retrato-1178947/>. Acesso em: 21 fev. 2017. 38 2.2 Música A música é uma linguagem artística, que usa como elemento básico a linguagem sonora, isto é, o som. Portanto podemos dizer que a música é a “linguagem dos sons”. Gainza (1988, p. 119) completa essa ideia dizendo que a linguagem musical “é aquilo que conseguimos conscientizar ou aprender a partir da experiência”. Martins e Guerra (2010, p.121) afirmam que a linguagem musical possui, além do som, o silêncio, ambos articulados em pensamentos musicais, “assim, compor implica imaginar, relacionar e organizar sons, ouvindo-os internamente”. Sempre escutamos que a música é uma linguagem universal, entretanto, Jeandot (1993) afirma que: O conceito de música varia de cultura para cultura. Embora a linguagem verbal seja um meio de comunicação e de relacionamento entre os povos, constatamos que ela não é universal, pois cada povo tem sua própria maneira de expressão através da palavra, motivo pelo qual há milhares de línguas espalhadas pelo globo terrestre (JEANDOT, 1993, p. 12). Segundo o autor, a música pode ser considerada uma linguagem universal, mas com muitos dialetos, que variam de cultura para cultura. Cada local tem sua maneira de tocar e cantar. Ao contrário dos pássaros, o homem constrói e cria diversos instrumentos para o seu fazer artístico: ferramentas diversas, de pincéis a formões; pianos, flautas, todos os instrumentos musicais; tudo isso e muito mais. Já os pássaros não criam ferramentas para as suas atividades: não criam instrumentos para a construção de ninhos e nem para o seu cantar. Seria possível argumentar que, em várias atividades artísticas, o homem emprega apenas os recursos do próprio corpo – como para cantar ou dançar. No entanto, mesmo nestes casos, o homem cria técnicas que utilizam distintamente o corpo, que de uma certa forma selecionam e aprimoram possibilidades da natureza, muitas vezes quase a desafiando. E essas técnicas de utilização do corpo estão ligadas a determinadas concepções de arte (PENNA, 1999, s.p.). 39 O som pode ser da natureza, dos instrumentos musicais, do homem, etc. Enfim, os sons fazem parte do nosso ambiente, do nosso cotidiano, do nosso repertório desde a pré- história, quando homem produzia sons utilizando materiais da natureza. 2.2.1 Som SOM é uma palavra que vem do latim sonus e significa a vibração de um corpo percebida pelos ouvidos, ou energia sob a forma de vibrações chamadas ondas sonoras [...] (ARTAXO, MONTEIRO, 2008, p. 15). O nosso ouvido é capaz de ouvir e distinguir as sonoridades que nos rodeiam de acordo com nossos conhecimentos desde o nascimento. Portanto, quanto maior o nosso conhecimento de sons e de música, maior será nossa compreensão. Os sons são produzidos por vibrações, que se propagam no ar emforma de ondas sonoras, captadas por nossos ouvidos. As vibrações podem ser irregulares ou regulares. Irregulares ou desagradáveis, quando produzem sons de altura indefinida, como ruídos/ barulhos: Regulares ou agradáveis, quando produzem sons de altura definida, como os sons musicais: A vibração captada pelos nossos ouvidos, quando ouvimos um som, chega até nós pelo ar. Só que não podemos ver essas vibrações, porque o ar é invisível. Figura 2.11: Representação da vibração do som Fonte: imagem Andréa Consolino. 40 Ao longo da história, os sons foram se modificando e evoluindo, pois os compositores sentiam necessidade de novas descobertas. No início, os sons eram produzidos pela voz humana e, aos poucos, foram introduzidos os sons dos instrumentos musicais e os de percussão, mas com um papel secundário. Hoje, os compositores utilizam não só os sons da voz humana e dos instrumentos, como também os do cotidiano, chamados PAISAGEM SONORA, os quais, segundo Ferrari et al. (2015b), podem ser urbanos, do campo, da praia, entre outros, assim como podem ser exploradas pelo cinema, pela televisão, pela internet, etc. O músico Hermeto Pascoal criou músicas com sons produzidos por objetos do dia a dia, como garrafas, ferramentas, conservas e grunhidos de porcos. O compositor francês Pierre Henry utilizou o barulho de uma porta e o suspiro humano na sua obra chamada Variações para uma porta e um suspiro. O grupo Barbatuque (de São Paulo) cria música utilizando o próprio corpo como instrumento musical (muitas onomatopeias – reprodução de sons e ruídos naturais). Há também o grupo Stomp, que produz som usando vassouras, baldes, etc., e o grupo mineiro Uakti, que faz música com canos de P.V.C., bambu, cana, água e borracha, entre outros. O nosso ouvido pode identificar quatro PROPRIEDADES DO SOM (alguns autores também as identificam como parâmetros do som): Duração: é o tempo que o som permanece em nossos ouvidos, isto é, se ele é curto ou longo. A duração dos sons depende do tempo de vibração da fonte sonora. O resultado Figura 2.12: Representação da vibração do som. Fonte: imagem Andréa Consolino. Paisagem Sonora é um neologismo criado pelo compositor e professor Murray Schafer e abrange sons, ruídos e silêncios de um ambiente. 41 da vibração chama-se ressonância (é a maneira pela qual um corpo transmite as ondas sonoras). Na escrita musical, é representada pelas figuras rítmicas. Intensidade: é a força do som, isto é, a propriedade do som ser fraco, médio, forte ou muito forte (conhecido como volume sonoro). A intensidade é determinada pela amplitude, que é o tamanho da onda sonora. É medida em decibéis (Db) e, dependendo da intensidade, pode provocar muita dor e até danificar o aparelho auditivo. Uma conversa normal chega a 50 dB, uma sala de aula pode chegar a 70 dB, uma buzina de carro a 110 dB e a turbina de um avião a 140 dB, que é o limite da dor no ouvido; acima disso pode haver trauma no ouvido e consequente perda auditiva. Timbre: é também conhecido como a “cor do som”. Cada instrumento musical, pessoa ou objeto possui seu próprio timbre. A combinação das ondas sonoras produz o timbre. Ex.: Quando falamos com alguém no telefone, na maioria das vezes reconhecemos a voz da pessoa antes de falar seu nome. Altura: é a propriedade do som ser agudo ou grave (a posição do som). Quanto maior for a frequência de uma onda sonora (é o n. de vibrações por segundo), mais agudo é o som. Na música, a altura é identificada pela melodia (que constrói as canções). Os seres humanos captam sons graves e agudos em uma determinada faixa de vibração (fora desse limite não ouvem os sons). Alguns animais, como o cachorro e o morcego, podem ouvir os sons mais agudos (o ultrassom – para o homem passa despercebido) e os mais graves (o infrassom) podem ser ouvidos pelas baleias. A intensidade do som é responsável pela expressão musical. Timbre é a qualidade, a característica própria de cada som. 42 2.2.2 Elementos da música A composição musical é composta por três elementos: Melodia: é uma sequência de sons sucessivos e silêncios combinados (tons altos e baixos, graves e agudos, fortes e fracos, etc.) que se desenvolve num determinado espaço de tempo. Segundo Artaxo e Monteiro (2008, p. 25), “a melodia consiste na emissão linear de sons apoiados no ritmo”. Harmonia: é a combinação simultânea de dois ou mais sons (tocados ao mesmo tempo – acordes). Ritmo: é a parte essencial da música, intervindo naturalmente na construção da música, mas pode existir independente dela. É a batida do tempo de uma música. Assim como o relógio marca as horas, o ritmo nos diz como acompanhar a música. É a ordem dos sons no tempo. Existem ainda os elementos formais da música que são: timbre, intensidade, altura, densidade e duração. Na música, ainda temos os CONJUNTOS MUSICAIS, que podem ser vocais e instrumentais, como veremos a seguir. 2.2.3 Conjuntos vocais Os conjuntos vocais são grupos de pessoas que cantam em conjunto. São classificados pelo tipo de voz (infantil, masculinas, femininas e mistas), pela atuação, que pode ser a capela (puramente vocal, sem acompanhamento de instrumentos musicais) ou com acompanhamento de um ou mais instrumentos. Eles podem ser classificados também quanto à natureza: religioso (repertório religioso), erudito (repertório clássico, romântico, moderno), popular (repertório de músicas populares), cívico (repertório de hinos, canções, saudações cívicas e marchas), folclórico (música folclórica de diversos países) e regional (repertório de músicas eruditas, populares e folclóricas de uma região). Os conjuntos vocais estão divididos em pequenos e grandes conjuntos. 43 Os pequenos conjuntos podem ser: duo ou dueto, trio, quarteto, quinteto, sexteto, septeto e octeto, respectivamente, duas, três, quatro, cinco, seis, sete e oito pessoas. Os grandes conjuntos estão divididos em: - Canto Orfeônico: é um coral pedagógico de canto coletivo e não exige nenhum conhecimento musical. Surgiu na França (século XIX) e, no Brasil, tornou-se obrigatório em 1932, com Heitor Villa-Lobos, em todas as escolas. Para Villa-Lobos, o Canto Orfeônico era o meio eficaz para educação das massas, pois integrava a sociedade num sentimento coletivo e disciplinado de amor à pátria. Seu repertório foi baseado principalmente no folclore nacional, valorizando, dessa forma, as culturas dos povos. - Madrigal: é conhecido como pequeno coral, frequentemente para até 16 vozes, caracterizado pela execução de peças em cânones e fugato e, muitas vezes, como expressão de sentimentos de atores em cena. Foi o gênero mais importante do século XVI. - Coro: o coro é o mais antigo entre os grandes agentes sonoros coletivos. Vem do grego Khoros que significa dança, portanto era um conjunto de pessoas que dançavam, declamavam e cantavam em conjunto. Atualmente é um agrupamento de pessoas entoando simultaneamente uma, duas ou mais vozes (coro de igreja, de música erudita, etc.). - Coral: é um conjunto musical composto por mais de doze cantores profissionais ou não, que são classificados conforme o tipo de voz. O canto coral exige mais técnica vocal dos cantores, maiores conhecimentos de música, o repertório é mais elaborado e de execução mais complexa. O nome “coral” foi criado por Lutero, no século XVI. A classificação das vozes para a formação dos naipes (sopranos, contraltos, mezzosopranos, tenores, baixos e barítonos) é feita de acordo com a tessitura de cada voz. Cânone é um processo de composição de duas ou mais vozes, que não entram juntas e se desenvolvem de modo que pareçam fugir uma da outra. 44 2.2.4 Conjuntos instrumentais São grupos de diversos instrumentos reunidos, com diferentes timbres,combinando sons. Podem variar de dois instrumentos até uma orquestra, com mais de 100 instrumentos. A seguir, alguns tipos de conjuntos instrumentais. - Orquestra Sinfônica: conjunto de instrumentos e cordas aos quais se juntam instrumentos de sopro e de percussão para executar uma obra sinfônica. Atualmente, quando completa, atinge de 80 a 100 músicos. Possui quatro seções principais (cordas, sopros de madeira, sopros de metal e percussão). Os membros ficam sentados em semicírculos ao redor do maestro. - Orquestra Filarmônica: mesma formação da orquestra sinfônica. Basicamente é a mesma coisa, a única diferença é que a orquestra filarmônica é mantida por uma associação ou entidade, enquanto a sinfônica é subsidiada pelo poder público. - Orquestra de Cordas: não utiliza sopro ou percussão. - Conjunto de Câmara: também conhecida como orquestra de câmara. É para apresentações em pequenos ambientes, com até 30 músicos. - Fanfarra: é formada por instrumentos de percussão e sopros de metal. - Charanga: são pequenas bandas compostas, na maioria, por instrumentos de sopro e são muito populares nas cidades do interior. - Conjunto Regional: executa músicas regionais e possui acompanhamento de violão, cavaquinho, bandolim, etc. - Jazz-Band: é de origem norte-americana. É formada por bateria, piano, guitarra, clarineta e trompete. - Banda: é constituída por instrumentos de sopro e percussão (são mais fáceis de transportar) de acordo com o estilo musical. Existem ainda as bandas militares (apresentam-se em paradas cívicas e retretas). 45 - Bandas Rítmicas: são formadas, na maioria das vezes, por instrumentos de percussão, contribuindo para o desenvolvimento rítmico e psicomotor da criança. 2.2.5 Instrumentos musicais São objetos, feitos pelo homem ou não, capazes de produzir sons para fim musical, podem ser convencionais (flauta, violão, piano, etc.) ou não convencionais (caixa de fósforos, lata de refrigerante, etc.). Eles estão classificados em: - Cordofones: o som é produzido por uma ou várias cordas tensas, ampliadas por uma caixa de ressonância. Os instrumentistas dedilham, friccionam ou percutem as cordas. É também conhecido como instrumento de cordas. Ex.: violino, violão, harpa, cavaquinho, etc. (o piano é um cordofone acionado por teclado). Aerofones: o elemento que produz o som é o ar. Entram em ação mediante o sopro humano, mas há também os de sopro mecânico (sanfona, acordeom, órgão, gaita de fole, etc.), nestes o ar é empurrado para dentro do instrumento de forma semelhante a um fole. São conhecidos habitualmente como instrumento de sopro. Ex.: flauta, clarinete, saxofone, oboé, órgão de tubos, trompete, acordeom, etc. Figura 2.13: Harpa e violino. Cordofones. Fonte: <pixabay.com/pt/>. Acesso em: 10 fev. 2017. 46 - Membranofones: o som é produzido por membranas esticadas sobre uma caixa que amplia o som com a batida das mãos ou de baquetas. É conhecido como instrumento de percussão. Ex.: tambores, atabaques, tímpano, cuíca, Kazoo, entre outros. - Idiofones: o som é produzido pelo próprio corpo do instrumento batendo, sacudindo ou friccionando. É feito de materiais elásticos, naturalmente sonoros. Assim como os membranofones, é também conhecido como instrumento de percussão. Ex.: chocalho, reco-reco, clavas, triângulo, xilofone, triangulo, sino, etc. - Eletrofone: o som é produzido por instrumentos eletrônicos e somente um intérprete é capaz de controlar uma orquestra. É a categoria mais nova e conhecida, habitualmente, como instrumentos elétricos. Ex.: teclado, sintetizador e guitarras elétricas. Antes dos instrumentos serem classificados como aerofones, cordofones, idiofones e membranofones, existia outra classificação para eles: metais (trompete, trombone, trompa, tuba, eufônio, etc.), madeiras (flauta, flautim, fagote, clarinete), corda (percutida, friccionada e dedilhada) e percussão (de altura definida – Figura 2.15: Clarinete e Gaita de fole Fonte: <pixabay.com/pt/>. Acesso em: 10 fev. 2017. Figura 2.16: Tambor. Membranofone. Fonte: <pixabay.com/pt/>. Acesso em: 10 fev. 2017. Figura 2.17: Guitarra Fonte: <pixabay.com/pt/>. Acesso em: 10 fev. 2017. Figura 2.14: Xilofone Fonte: <pixabay.com/pt/>. Acesso em: 10 fev. 2017. 47 tímpanos, vibrafone – e de altura indefinida – tambor, triângulo, pandeiro, etc.) utilizados na orquestra clássica. Existem também classificações diferentes em outros países como citado por Ferrari (2015b); por exemplo, na Grécia os instrumentos são divididos em apenas duas categorias: instrumentos animados (voz humana) e inanimados (corda, sopro e percussão). 2.2.6 Gêneros musicais São os diferentes tipos de música em relação aos meios utilizados para sua interpretação, sua função ou sua procedência. Quanto ao gênero, a música pode ser: - Vocal: é cantada a uma ou várias vozes. Segundo Frenda et al. (2012), uma das partes mais usadas é a boca. Pode ser: religiosa (ladainhas), fetichista (candomblé, macumba), sentimental (toadas e modinhas), satírica (desafios), brejeira (lundu e embolada), trabalho (pregões e aboios), lírica (romances e xácaras), infantil (acalantos, cantigas de roda, etc.). - Instrumental: serestas, choros, valsas lentas, marchas e dobrados. - Sacra ou Religiosa: cultos e cerimônias religiosas. - Profana: sem função religiosa. - Incidental: música feita para dança, teatro e filmes. - Pura: não é utilizada para representações ou imagem. - Erudita: produzida por músicos com formação musical específica e popularmente conhecida como música clássica. Períodos medieval, renascentista, barroco, clássico, romântico, nacionalista, impressionista, neoclássico, expressionista, concretista, minimalista, etc. - Popular: são vários estilos e formas de música das culturas populares. Tipos: seresta, tango, modinha, lundu, polca, mazurca, samba, samba-canção, samba de breque, choro, chorinho, chorão, maxixe, frevo de rua, frevo canção, bossa-nova, jovem guarda, tropicália, rock, música sertaneja, música caipira, forró, rap, funk, baião, xote, jazz, reggae, valsa, axé, rancheira, swing, pagode, hip-hop, etc. 48 - Folclórica: pertence à cultura popular, é transmitida de geração em geração e é de autor desconhecido. Trata de quase todos os tipos de atividades humanas e muitas dessas canções expressam crenças religiosas ou políticas de um povo ou descrevem sua história. Tipos: cantigas de roda e infantil, desafio, cantos de trabalho, danças dramáticas e pregões. - Eletrônica: surgiu em 1948 sob influência do francês Pierre Schaeffer, criador da Musique Concréte, e passou a ser considerada um gênero musical na década de 1980. É um tipo de música cujo som é produzido eletronicamente. O compositor emprega equipamento eletrônico para produzir sons com uma determinada intensidade, altura e tonalidade. A música é gravada e ouvida por um ou mais amplificadores combinados. O compositor pode produzir sons eletrônicos empregando computadores (também chamada de música computacional, fundamentada na música e matemática); usam-se também sintetizadores para criar e combinar vários tipos de sons. Algumas sonoridades obtidas assemelham-se à voz humana ou, às vezes, ao som de instrumentos tradicionais. 2.2.7 Notação musical Para escrever uma história, usamos palavras; para escrever uma música, usamos as notas musicais. A escrita musical começou na Idade Média, com a invenção do papel, mas, na realidade, já existiam registros desde a Pré-história (pinturas rupestres). Na Idade Média, a escala era lida por hexacordes (sucessão de 6 tons) e os mais conhecidos são os Cantos Gregorianos (música vocal monofônica cantada apenas por homens em uma mesma linha melódica). Mais tarde, o sistema foi aperfeiçoado e acrescentou-se mais uma
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