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SISTEMAS DE GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL U N O PA R SISTEM A S D E G ESTÃ O E A U D ITO R IA A M B IEN TA L9 788587 686596 ISBN 978-85-87686-59-6 SISTEMAS DE GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL U N O PA R SISTEM A S D E G ESTÃ O E A U D ITO R IA A M B IEN TA L9 788587 686596 ISBN 978-85-87686-59-6 SISTEMAS DE GESTÃO E AUDITORIA AMBIENTAL U N O PA R SISTEM A S D E G ESTÃ O E A U D ITO R IA A M B IEN TA L9 788587 686596 ISBN 978-85-87686-59-6 Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima Jamile Ruthes Bernardes Rodrigo de Menezes Trigueiro Sistemas de gestão e auditoria ambiental Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Lima, Rosimeire Midori Suzuki Rosa L732s Sistemas de Gestão e Auditoria Ambiental / Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima, Jamile Ruthes Bernardes, Rodrigo de Menezes Trigueiro — Londrina: UNOPAR, 2014. p. 184 ISBN 978-85-87686-59-6 1. Gestão. 2. Ambiental. I Título. CDD 657.45 2014 Pearson Education do Brasil Rua Nelson Francisco, 26 CEP: 02712 ‑100 — São Paulo — SP Tel.: (11) 2178 ‑8686, Fax: (11) 2178 ‑8688 e ‑mail: vendas@pearson.com © 2014 by Unopar Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Unopar. Diretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer Gerente de produção editorial: Kelly Tavares Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso Coordenador de produção editorial: Sérgio Nascimento Editor: Casa de Ideias Editor assistente: Marcos Guimarães Revisão: Thais Nakayama Capa: Solange Rennó Diagramação: Casa de Ideias Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 4 08/01/14 19:21 Unidade 1 | Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial Seção 1 - Gestão ambiental sustentável nas empresas Seção 2 - Dimensões da sustentabilidade Unidade 2 | Considerações sobre a ISO 14000 Seção 1 - Normas ISO 14000 1.1 | Classificação das normas 1.2 | Níveis de normalização 1.3 | Uso de normas 1.4 | Voluntariedade das normas 1.5 | Divisão da normalização no Brasil 1.5.1 | Normas técnicas 1.5.2 | Normas nacionais 1.6 | ISO: International Organization for Standardization 1.6.1 | A série ISO 14000 1.7 | Norma para certificação ambiental 1.8 | Normas de rotulagem ambiental Seção 2 - Normas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) 2.1 | Normas de desempenho ambiental Unidade 3 | Considerações sobre o sistema de gestão ambiental (SGA) Seção 1 - O sistema de gestão ambiental 1.1 | A ISO 14001 1.2 | Sistema 1.3 | Política Ambiental 1.4 | “Princípios de Valdez” 1.5 | “Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável” 1.6 | Aspectos do planejamento em um SGA 1.6.1 | Ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action) 1.6.1.1 | Etapa Planejamento (P) 1.6.1.2 | Etapa Desenvolvimento (D) ou execução 1.6.1.3 | Etapa Verificação (C) 1.6.1.4 | Etapa Corretiva (A) 1.6.2 | Brainstorming (tempestade de ideias) 1.6.3 | Diagrama de causa e efeito: diagrama de Ishikawa 1.6.4 | Lista de verificação 1.6.5 | Gráfico ou diagrama de Pareto 1.6.6 5 | W + 2 H Seção 2 - Considerações sobre a implementação de um sistema de gestão ambiental 2.1 | Estrutura e responsabilidades 2.2 | Treinamento, conscientização e competência 2.3 | Comunicação 2.4 | Documentação do Sistema de Gestão Ambiental — SGA 2.5 | Controle dos documentos Sumário 7 10 15 27 30 31 33 33 34 34 35 36 37 38 40 41 44 48 53 56 58 58 58 58 59 61 63 63 64 64 64 64 65 66 66 67 68 68 69 70 71 74 2.6 | Controle operacional 2.7 | Preparação para atendimento às emergências 2.8 | Verificação e ações corretivas — monitoramento e medição 2.9 | Não conformidade, ações corretiva e preventiva 2.10 | Registros 2.11 | Auditoria do sistema de gestão ambiental 2.12 | Análise pela administração 76 78 79 82 84 85 85 Unidade 4 | Auditoria ambiental Seção 1 - Auditoria como ferramenta de gestão 1.1 | Sujeitos envolvidos no processo de auditoria 1.2 | Classificação das auditorias 1.3 | Planejamento da auditoria 1.4 | Instrumentos de coleta de evidências 1.4.1 | Formulário para coleta de dados e evidências de auditoria ambiental 1.4.1.1 | Identificação do auditado 1.4.1.2 | Identificação da área a ser auditada 1.4.1.3 | Passivo ambiental 1.5 | Análise de documentos 1.6 | Práticas de gerenciamento ambiental 1.7 | Inventário de resíduos sólidos 1.8 | Controle de impactos ambientais 1.9 | Licenciamento ambiental 1.10 | Uso e reuso da água 1.10.1 | Efluentes líquidos 1.11 | Uso de energia: consumo racional e energias alternativas 1.12 | Critérios de auditoria 1.13 | Relatório de auditoria 1.14 | Reunião de encerramento Seção 2 - Auditoria de certificação do SGA 87 90 96 99 112 116 119 119 120 120 121 121 123 124 124 125 126 128 130 137 140 142 Unidade 5 | Imagem corporativa e rotulagem ambiental Seção 1 - Imagem corporativa 1.1 | Histórico 1.2 | Responsabilidade social e ambiental 1.2.1 | Indicadores de responsabilidade socioambiental Seção 2 - Rotulagem ambiental 2.1 | Ciclo de vida dos produtos 2.2 | Os rótulos ambientais 153 156 157 159 162 169 169 171 Apresentação Atualmente nos defrontamos com inúmeros problemas ambientais, decorrentes em grande parte do crescimento populacional, da elevação da taxa de urbanização, da concentração de indústrias e, consequentemente, da poluição. Nesse cenário, a busca pelo desenvolvimento sustentável é uma necessidade e pode ser constatada por meio das ações das organizações, que têm recorrido a uma gestão preventiva, implementando normas ambientais e práticas sustentáveis. A necessidade de atendimento à legislação, assim como as atuais exigências do mercado, somadas à responsabilidade ambiental, tem direcionado a procura pelo desenvolvimento sustentável. Isso se dá por meio de ações proativas alicerçadas na implantação de Sistemas de Gestão Ambiental, que, tendo por base as normas ambientais, buscam garantir a qualidade ambiental. Este livro está dividido em cinco unidades. A Unidade 1 apresenta uma abordagem sobre a gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial, na Unidade 2 são apresentadas as normas que compõem a série ISO 14000, na Unidade 3 são apresentados os passos para implantação do Sistema de Gestão Ambiental — SGA de acordo com a ISO 14001, e na Unidade 4 apresentamos os conceitos de auditoria e como ela é planejada, estruturada e aplicada. Existem muitos exemplos para que você possa analisar e entender como ocorre tal processo. Também é discutido o planejamento das auditorias ambientais e são mostrados formulários para consulta. Os tipos de auditoria são exemplificados para que você possa compreender que cada auditoria possui seu objetivo e objeto de análise, o que modifica o foco de atuação do auditor dependendo da ação que será desenvolvida. Ainda nesta unidade estudaremos também a certificação ambiental, exemplificando como ocorre o processo de certificação, qual formulário pode ser utilizado para essa etapa e quais são os atores envolvidos nesse processo. Finalmente, na Unidade 5 você poderá analisar conceitos muito atuais, referentes aos selos verdes e a responsabilidade socioambiental das empresas. O marketing verde e indicadores ambientais também são abordados, mostrando que vale a pena obter a certificação para agregar valor ao produto ou serviço que será oferecido pela empresa. Esperamos que você aprecie o livro. Boa leitura! Unidade1 Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial Nesta unidade, você será levado a compreender a importância da gestão ambiental no setor empresarial por meio de ações que incorporem as dimensões de sustentabilidade com a devida responsabilidade socioambiental. Objetivos de aprendizagem Nesta seção, você compreenderá a importância de incorporar a gestão ambiental nas empresas, sua relação com as dimensões de sustentabilidade e aspectos da responsabilidade socioambiental. Nesta seção, discutiremos alguns conceitos e aspectos importantes sobre sustentabilidade, de maneira que se possam compreender as vantagens da aplicação de seus princípios na administração das empresas. Seção 1 | Gestão ambiental sustentável nas empresas Seção 2 | Dimensões da sustentabilidade Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima Introdução à unidade É evidente o aumento da pressão das atividades antrópicas sobre os recursos naturais. A influência direta e/ou indireta do homem tem causado diversas consequências, como desmatamento, erosão, contaminação do solo, do ar e da água, resultando na perda da biodiversidade. Existem fortes pressões do sistema produtivo sobre os recursos naturais, devido à extração de matéria-prima empregada na produção e utilizada para o crescimento econômico. Diante desse cenário, um sistema produtivo deve se preocupar com a forma de desenvolvimento e dar maior atenção a questões relacionadas ao aumento da geração de resíduos sólidos, à poluição das águas, à baixa proteção à saúde ambiental e à falta de preservação do meio ambiente. U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial10 Seção 1 Gestão ambiental sustentável nas empresas O desenvolvimento econômico deve incorporar um novo modelo estratégico, tanto do ponto de vista do fabricante como do consumidor, que devem adotar uma nova postura frente às questões ambientais. Nesse modelo, “[...] os interesses dos acionistas dividem espaços com as demandas da comunidade e dos clientes, funcionários e fornecedores. É para esse grupo, os chamados ‘stakeholders’, que a empresa do futuro terá de gerar valor” (KRAEMER, 2013, p. 1). Para saber mais Stakeholders é um termo muito utilizado no meio empresarial e significa público estratégico, ou seja, os colaboradores, funcionários, clientes, consumidores, acionistas, fornecedores e outros. É inegável que houve, nos últimos anos, avanços consideráveis no que se refere à proposição de instrumentos técnicos, políticos e legais, assim como na consolidação do atendimento às diretrizes que tratam da questão ambiental de forma mais sistematizada e integrada. Atualmente, existe uma grande pressão pela qualidade ambiental tanto no desenvolvimento dos produtos quanto no pós-consumo. Buscar soluções para minimizar os impactos gerados passou a ser um fator determinante para o sucesso nos negócios. Essa pressão é consequência do poder que as empresas conquistaram nas últimas décadas. Essas empresas devem buscar conhecimentos e atualizar suas técnicas de gestão. Essa nova estratégia de gestão demanda investimentos em pessoas e tecnologias para melhorar a qualidade ambiental a que as empresas se propõem. Nesse contexto é que o desenvolvimento da tecnologia deve ser compatível com as metas de equilíbrio com a natureza. Para Meyer (2000), o conceito de desenvolvimento sustentável deve considerar o crescimento econômico, incorporando a percepção dos resultados sociais decorrentes, assim como o equilíbrio ecológico U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 11 na utilização dos recursos naturais. Compreende-se que as reservas naturais são finitas e que as soluções podem ser obtidas por meio da adoção de tecnologias mais adequadas ao meio ambiente. Segundo Donaire (1999), o retorno do investimento, que antes era entendido somente como lucro e enriquecimento de seus acionistas, agora passa pela sustentabilidade. Essa mudança de paradigma tem introduzido novos sistemas operacionais em que as práticas passam a ser positivas e proativas, o que induz ao desenvolvimento de novos métodos e experiências. Souza (1993) confirma essa visão ao dizer que as estratégias de marketing ecológico adotadas pela maioria das empresas visam à melhoria da imagem da empresa e dos seus produtos por meio da proposição de novos produtos com enfoque sustentável, além de ações voltadas para a proteção ambiental. Dessa forma, a alta administração de uma empresa deve implantar um gerenciamento que incorpore a variável ambiental de forma a subsidiá-la na tomada de decisão, mantendo assim uma postura proativa e responsável de respeito à questão ambiental. Questão para reflexão Por que é tão importante que as empresas atendam aos requisitos ambientais em seus processos? Muitas empresas que já implantaram o gerenciamento integrando a variável ambiental reconhecem ter tido resultados positivos em relação aos aspectos econômicos e estratégicos. Entretanto, esses resultados não são visualizados logo de início, sendo necessário um planejamento e a implementação de ações na organização para que ela incorpore o atendimento às questões ambientais na sua atividade, trazendo com isso a vantagem competitiva. Uma das questões mais polêmicas que surge quando discute- se a importância do atendimento às questões ambientais é sobre o aspecto econômico, devido ao aumento das despesas e, consequentemente, do acréscimo dos custos do processo produtivo. De acordo com Donaire (1999), algumas empresas têm U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial12 demonstrado que é possível ganhar dinheiro e proteger o meio ambiente desde que se utilizam da sua criatividade e viabilizem condições internas que possam transformar as restrições e ameaças ambientais em oportunidades de negócios. Outra questão muito importante é a responsabilidade ambiental da empresa. Vamos conhecer um pouco mais sobre este assunto. O mundo corporativo tem papel fundamental na preservação do meio ambiente. Empresas socialmente responsáveis conquistam resultados melhores e se tornam mais competitivas. Nesse novo enfoque, a responsabilidade social deixou de ser uma opção e passou a ser uma questão de planejamento estratégico para as empresas que passam a ter o compromisso de oferecer mais informação ao consumidor e de desenvolver produtos mais sustentáveis. Nos dias atuais, a necessidade de implantar uma gestão da qualidade empresarial não pode desconsiderar a dimensão ambiental. As empresas devem contar com sistemas organizacionais e de produção que valorizem os recursos naturais, potencializem e capacitem seu quadro de funcionários e interajam com as comunidades locais. Algumas atividades básicas como a reciclagem, o incentivo à redução do consumo, a minimização da geração e o destino adequado dos resíduos sólidos são desafios desse novo cenário. A incorporação da proteção do ambiente entre os objetivos de uma empresa traz diversas mudanças devidas à adoção de práticas que representem o cuidado com as questões ambientais. Uma organização gera bens e serviços, empregos e dividendos, porém também consome recursos naturais escassos e gera resíduos sólidos, efluentes e outros poluentes que podem causar contaminação. Dessa forma, é necessário que a empresa defina e amplie sua visão e estabeleça metas para a solução dos problemas ambientais. De acordo com Callenbach (1993), é possível que os investidores e acionistas incorporem cada vez mais o conceito de sustentabilidade no lugar da estrita rentabilidade como critério para avaliar o posicionamento estratégico das empresas. O Quadro 1.1 apresenta a evolução dos modelos de gestão social e ambiental dos anos 1950 até o ano 2002, com a previsão da U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial13 passagem para o século XXI, incluindo direcionadores de conduta, foco do modelo, comportamento organizacional, padrão de gestão, motivação e as ações ou ferramentas utilizadas ou recomendadas para boas práticas e responsabilidade socioambiental. Quadro 1.1 | Evolução dos modelos de gestão social e ambiental dos anos 1950 até 2002 G e s t ã o a m b i e n t a l s u s t e n t á v e l n o a m b i e n t e e m p r e s a r i a l 5 que a empresa defina e amplie sua visão e estabeleça metas para a solução dos problemas ambientais. De acordo com Callenbach (1993), é possível que os investidores e acionistas incorporem cada vez mais o conceito de sustentabilidade no lugar da estrita ren‑ tabilidade como critério para avaliar o posicionamento estratégico das empresas. O Quadro 1.1 apresenta a evolução dos modelos de gestão social e ambien‑ tal dos anos 1950 até o ano 2002, com a previsão da passagem para o século XXI, incluindo direcionadores de conduta, foco do modelo, comportamento organizacional, padrão de gestão, motivação e as ações ou ferramentas utili‑ zadas ou recomendadas para boas práticas e responsabilidade socioambiental. Quadro 1.1 Evolução dos modelos de gestão social e ambiental dos anos 1950 até 2002 Anos Direcionadores Foco Comportamento Padrão de gestão 1950 Prevenção de despesas A natureza resolve Indiferença Inexistente 1960 Acumulação de resíduos Poluição Diluição e dispersão Inexistente Capacidade li‑ mitada natureza Legislação Ambientalismo industrial Confinamento e tratamento de resíduos e emissões Comando e controle Fim‑de‑tubo 1970 Legislação Pressão social Proteção am‑ biental Proteção am‑ biental Comando e controle Fim‑de‑tubo 1980 (com ênfase em 1989) Legislação Pressão social Mercado e com‑ petitividade Gerenciamento Abordagem híbrida Comando e controle Fim‑de‑tubo Redução de poluição 1990 Legislação Pressão social Mercado e com‑ petitividade Conhecimento e inovação Ambientalismo estratégico res‑ ponsável Ecologia indus‑ trial Inovação Comando e controle Produção mais limpa Produção limpa Ecoeficiência Séc. 21 Legislação Pressão social Mercado e competitividade Conhecimento Responsabili‑ dade corporativa Sustentabilidade Inovação Gestão do co‑ nhecimento Produção Ecoeficiência Gestão socioam‑ biental respon‑ sável continua Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 5 08/01/14 19:21 6 S I S T E M A S D E G E S T Ã O E A U D I T O R I A A M B I E N T A L continuação Anos Motivação Ação/ferramentas 1950 Liberdade para crescimento Descarte descontrolado 1960 Crescimento Descarte descontrolado Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores 1970 Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção 1980 (com ênfase em 1989) Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção 1990 Taxas e penalidades Externalidades e passivos Competitividade: custos, diferen‑ ciação e posicionamento Imagem Globalização Políticas públicas Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção Avaliação do ciclo de vida Ecodesign Precaução Séc. XXI Sustentabilidade da organização Responsabilidade corporativa Precaução Emissão zero Intensidade de material por unidade de serviço Avaliação de resultado final tríplice ou me‑ dição de desempenho de sustentabilidade Fonte: Furtado (2003, p. 8). Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 6 08/01/14 19:21 continua U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial14 6 S I S T E M A S D E G E S T Ã O E A U D I T O R I A A M B I E N T A L continuação Anos Motivação Ação/ferramentas 1950 Liberdade para crescimento Descarte descontrolado 1960 Crescimento Descarte descontrolado Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores 1970 Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção 1980 (com ênfase em 1989) Taxas e penalidades Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção 1990 Taxas e penalidades Externalidades e passivos Competitividade: custos, diferen‑ ciação e posicionamento Imagem Globalização Políticas públicas Estação de tratamento Aterros Incineração Filtros e lavadores Minimização ou redução de resíduos Reciclagem Prevenção Avaliação do ciclo de vida Ecodesign Precaução Séc. XXI Sustentabilidade da organização Responsabilidade corporativa Precaução Emissão zero Intensidade de material por unidade de serviço Avaliação de resultado final tríplice ou me‑ dição de desempenho de sustentabilidade Fonte: Furtado (2003, p. 8). Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 6 08/01/14 19:21 Fonte: Furtado (2003, p. 8). continuação U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 15 Seção 2 Dimensões da sustentabilidade Introdução à seção Já discutimos anteriormente sobre a importância do desenvolvimento sustentável. Vamos conhecer um pouco mais sobre sua conceituação e dimensões de sustentabilidade. Você sabe o que é desenvolvimento sustentável? A expressão ecodesenvolvimento surgiu na década de 1970 e foi substituída ao longo do tempo por desenvolvimento sustentável. Na década de 1980, esse conceito foi popularizado por meio do Relatório Nosso Futuro Comum, denominado Relatório Brundtland, de 1987. Na década de 1990, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (MUNRO, 1991) definiu desenvolvimento sustentável como o processo que melhora as condições de vida das comunidades humanas e, ao mesmo tempo, respeita os limites de carga dos ecossistemas. Ainda nessa década, negociações ocorridas durante a Conferência Rio 92 refletiram as preocupações das nações mais pobres ao declarar como um princípio básico o direito ao desenvolvimento. Os estudos conduzidos como subsídios a essas negociações mostraram claramente que os padrões de consumo do hemisfério norte foram os principais responsáveis pelos problemas emergentes de mudança climática (PARIKH et al., 1991). A Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992, foi a consagração do paradigma do desenvolvimento sustentável ampliou as expectativas da construção de uma nova perspectiva mundial para romper com o ciclo de insustentabilidade do planeta. Na ocasião, o termo desenvolvimento sustentável caracterizou- se como um modelo de desenvolvimento baseado na conservação e utilização racional de recursos naturais e no objetivo de atender às necessidades das gerações atuais e futuras, em que as ações de desenvolvimento não existem desvinculadas do meio ambiente, e o que se busca são limites para essa relação. U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial16 Nesse sentido, as empresas assumem um papel de extrema importância, pois sua prática empresarial deve assumir a diretriz da sustentabilidade, e essa prática provocará mudanças de valores e de orientação em suas rotinase sistemas operacionais, que deverão estar sempre voltadas para o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente. Donaire (1999) defende que a questão do desenvolvimento econômico deve considerar o novo conceito de desenvolvimento sustentável, induzindo a um espírito de responsabilidade comum em que o desenvolvimento da tecnologia deverá estar em equilíbrio com a natureza. Para Almeida (2002) a ideia do desenvolvimento sustentável é de integração e interação, por meio de uma nova maneira de olhar baseada no diálogo entre saberes e conhecimentos diversos. De acordo com o autor, todas as dimensões estão inter-relacionadas, em permanente interação, e apresentam as diferenças entre o velho e o novo paradigma da sustentabilidade, como pode ser visto no Quadro 1.2. Links Para que você possa analisar o conteúdo do Relatório “Nosso Futuro Comum”, acesse: <http://pt.scribd.com/doc/12906958/Relatorio- Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-Em-Portugues>. Quadro 1.2 | Paradigma cartesiano versus paradigma da sustentabilidade 8 S I S T E M A S D E G E S T Ã O E A U D I T O R I A A M B I E N T A L mudanças de valores e de orientação em suas rotinas e sistemas operacionais, que deverão estar sempre voltadas para o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente. Donaire (1999) defende que a questão do desenvolvimento econômico deve considerar o novo conceito de desenvolvimento sustentável, induzindo a um espírito de responsabilidade comum em que o desenvolvimento da tecnologia deverá estar em equilíbrio com a natureza. Para Almeida (2002) a ideia do desenvolvimento sustentável é de integração e interação, por meio de uma nova maneira de olhar baseada no diálogo entre saberes e conhecimentos diversos. De acordo com o autor, todas as dimensões estão inter‑relacionadas, em permanente interação, e apresentam as diferenças entre o velho e o novo paradigma da sustentabilidade, como pode ser visto no Quadro 1.2. Quadro 1.2 Paradigma cartesiano versus paradigma da sustentabilidade Cartesiano Sustentável Reducionista, mecanicista, tecnocêntrico Orgânico, holístico, participativo Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionados Preceitos éticos desconectados das práticas cotidianas Ética integrada ao cotidiano Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e o subjetivo Seres humanos e ecossistemas separados, em uma relação de dominação Seres humanos inseparáveis dos ecossistemas, em uma relação de sinergia Conhecimento compartimentado e empírico Conhecimento indivisível, empírico e intuitivo Relação linear de causa e efeito Relação não linear de causa e efeito Natureza entendida como descontínua, o todo formado pela soma das partes Natureza entendida como um conjunto de sistemas inter‑relacionados, o todo maior que a soma das partes Bem‑estar avaliado por relação de poder (di‑ nheiro, influência, recursos) Bem‑estar avaliado pela qualidade das inter‑ ‑relações entre os sistemas ambientais e sociais Ênfase na quantidade (renda per capita) Ênfase na qualidade (qualidade de vida) Análise Síntese Centralização de poder Descentralização de poder Especialização Transdisciplinaridade Ênfase na competição Ênfase na cooperação Pouco ou nenhum limite tecnológico Limite tecnológico definido pela sustentabili‑ dade Fonte: Almeida (2002, p. 65). Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 8 08/01/14 19:21 continua U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 17 8 S I S T E M A S D E G E S T Ã O E A U D I T O R I A A M B I E N T A L mudanças de valores e de orientação em suas rotinas e sistemas operacionais, que deverão estar sempre voltadas para o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente. Donaire (1999) defende que a questão do desenvolvimento econômico deve considerar o novo conceito de desenvolvimento sustentável, induzindo a um espírito de responsabilidade comum em que o desenvolvimento da tecnologia deverá estar em equilíbrio com a natureza. Para Almeida (2002) a ideia do desenvolvimento sustentável é de integração e interação, por meio de uma nova maneira de olhar baseada no diálogo entre saberes e conhecimentos diversos. De acordo com o autor, todas as dimensões estão inter‑relacionadas, em permanente interação, e apresentam as diferenças entre o velho e o novo paradigma da sustentabilidade, como pode ser visto no Quadro 1.2. Quadro 1.2 Paradigma cartesiano versus paradigma da sustentabilidade Cartesiano Sustentável Reducionista, mecanicista, tecnocêntrico Orgânico, holístico, participativo Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionados Preceitos éticos desconectados das práticas cotidianas Ética integrada ao cotidiano Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e o subjetivo Seres humanos e ecossistemas separados, em uma relação de dominação Seres humanos inseparáveis dos ecossistemas, em uma relação de sinergia Conhecimento compartimentado e empírico Conhecimento indivisível, empírico e intuitivo Relação linear de causa e efeito Relação não linear de causa e efeito Natureza entendida como descontínua, o todo formado pela soma das partes Natureza entendida como um conjunto de sistemas inter‑relacionados, o todo maior que a soma das partes Bem‑estar avaliado por relação de poder (di‑ nheiro, influência, recursos) Bem‑estar avaliado pela qualidade das inter‑ ‑relações entre os sistemas ambientais e sociais Ênfase na quantidade (renda per capita) Ênfase na qualidade (qualidade de vida) Análise Síntese Centralização de poder Descentralização de poder Especialização Transdisciplinaridade Ênfase na competição Ênfase na cooperação Pouco ou nenhum limite tecnológico Limite tecnológico definido pela sustentabili‑ dade Fonte: Almeida (2002, p. 65). Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 8 08/01/14 19:21 Fonte: Almeida (2002, p. 65). Os empresários, nesse novo enfoque da sustentabilidade, são levados a compreender melhor as mudanças estruturais e a interrelação das áreas ambiental, econômica e social. O novo paradigma de desenvolvimento sustentável introduz as dimensões de sustentabilidade na gestão empresarial de forma a considerar o desenvolvimento dentro de um processo de mudança social, com previsão da democratização do acesso aos recursos naturais. Sachs (1993, p. 25) enfatizou a necessidade de incorporar cinco dimensões de sustentabilidade no planejamento do desenvolvimento, as quais deveriam ser consideradas de forma simultânea: Sustentabilidade social — entendida como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado no crescimento orientado pela visão do que é a boa sociedade; Sustentabilidade econômica — refere-se à alocação e gestão mais eficiente dos recursos e por um fluxo regular do investimento público e privado; Sustentabilidade ecológica — que pode ser incrementada por meio do uso racional dos recursos naturais, limitação do consumo de combustíveis fósseis, redução do volume de resíduos e de poluição; intensificação da pesquisa e implantação de tecnologias limpas; Sustentabilidade espacial — refere-se a uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas; principalmente no que se refere à concentração excessiva nas áreas metropolitanas, destruição de ecossistemas frágeis e estabelecimento de uma rede de reservas naturais e de biosfera para proteger a biodiversidade e; Sustentabilidade cultural — visando a um desenvolvimento que respeite as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local. continuação U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial18 Entretanto, para Guimarães (1997, p. 32), oprocesso de construção social do desenvolvimento sustentável é baseado em sete dimensões que podem aparecer ora isoladas, ora de forma combinada nas várias dinâmicas: Sustentabilidade ecológica — base física do processo de crescimento; tem como objetivo a conservação e o uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às atividades produtivas; Sustentabilidade ambiental — relacionada à capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das agressões derivadas da ação humana (ação antrópica), implicando um equilíbrio entre as taxas de emissão e/ou produção de resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base natural de recursos; Sustentabilidade demográfica — revela os limites da capacidade de suporte de determinado território e de sua base de recursos; implica cotejar os cenários ou as tendências de crescimento econômico com as taxas demográficas, sua composição etária e os contingentes de população economicamente ativa esperados; Sustentabilidade cultural — necessidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas existentes no planeta, no país e/ou em uma região e que integram ao longo do tempo as identidades dos povos; Sustentabilidade social — objetiva promover a melhoria da qualidade de vida e a reduzir os níveis de exclusão social por meio de políticas de justiça redistributiva; Sustentabilidade política — relacionada à construção da cidadania plena dos indivíduos por meio do fortalecimento dos mecanismos democráticos de formulação e de implementação das políticas públicas em escala global, diz respeito ainda ao governo e à governabilidade nas escalas local, nacional e global; e, Sustentabilidade institucional — necessidade de criar e fortalecer engenharias institucionais e/ou instituições cujo desenho e aparato já levem em conta critérios de sustentabilidade. Guimarães (1997) apresenta duas dimensões a mais que Sachs (1993), sendo a política e a institucional. A primeira relacionada aos mecanismos de democracia, visando à cidadania e à implementação de políticas públicas; e a segunda relacionada ao fortalecimento dos aspectos institucionais. U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 19 De acordo com Kraemer (2004, p. 8), as empresas que integram a lista do Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) possuem diversos benefícios, tais como: • Reconhecimento público da preocupação com a área ambiental e social; • Reconhecimento dos stakeholders importantes tais como legisladores, clientes e empregados (por exemplo, conduzir a uma lealdade melhor do cliente e do empregado); • Benefício financeiro crescente pelos investimentos baseados no índice; • Os resultados altamente visíveis, internos e externos à companhia, como todos os componentes são anunciados publicamente pelo Boletim do Índice e a companhias são intituladas a usar “membro da etiqueta oficial de DJSI”. Dessa forma, observa-se que as empresas estão mais preocupadas com os aspectos sociais e ambientais, o que reduz o risco dos seus investimentos. É crescente a quantidade de empresas preocupadas em incorporar um processo de gestão ambiental. Um dos principias aspectos que as motiva é a análise do ciclo de vida dos produtos e também os aspectos relacionados à questão dos passivos ambientais. A gestão ambiental faz parte da gestão de uma empresa: nessa área planeja-se e se implanta políticas e estratégias ambientais por meio de ações preventivas e corretivas. Para Meyer (2000, p. 38) a gestão ambiental tem como objetivo: Questão para reflexão Por que é tão importante existir a gestão ambiental sustentável em uma empresa? E por que ela gera tantas mudanças? • Manter o ambiente saudável de forma a atender às necessidades humanas atuais, sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras; • Buscar meios de atuar sobre as modificações causadas no meio ambiente pelo uso e/ou descarte dos bens e detritos U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial20 gerados pelas atividades humanas, a partir de um plano de ação viáveis técnica e economicamente, com prioridades perfeitamente definidas; • Identificar instrumentos de monitoramentos, controles, taxações, imposições, subsídios, divulgação, obras e ações mitigadoras, além de treinamento e conscientização; • Identificar bases de atuação de diagnósticos ambientais da área de atuação, a partir de estudos e pesquisas dirigidos em busca de soluções para os problemas que forem detectados. É inevitável que quando uma empresa implanta a gestão ambiental passa por uma mudança significativa em sua rotina diária, seus hábitos e atitudes mudando a cultura empresarial existente. Dessa forma, a gestão ambiental altera muitos paradigmas e tem se apresentado como um dos grandes desafios na atualidade. Macedo (1994) apresenta no Quadro 1.3 uma visão geral da gestão ambiental. Quadro 1.3 | Visão geral da gestão ambiental 12 S I S T E M A S D E G E S T Ã O E A U D I T O R I A A M B I E N T A L Quadro 1.3 Visão geral da gestão ambiental GESTÃO AMBIENTAL Gestão de processos Gestão de resultados Gestão de sustentabilidade Gestão do plano ambiental Exploração de recursos Emissões gasosas Qualidade do ar Princípios e compromissos Transformação de recursos Efluentes líquidos Qualidade da água Política ambiental Acondicionamento de recursos Resíduos sólidos Qualidade do solo Conformidade legal Transporte de recursos Particulados Abundância e diversi‑ dade da flora Objetivos e metas Aplicação e uso de recursos Odores Abundância e diversi‑ dade da fauna Programa ambiental Quadros de riscos ambientais Ruídos e vibrações Qualidade de vida do ser humano Projetos ambientais Situações de emergência Iluminação Imagem institucional Ações corretivas e preventivas Fonte: Macedo (1994 apud KRAEMER, 2004, p. 9). De acordo com Macedo (1994 apud KRAEMER, 2004, p. 10), a gestão ambiental se divide em quatro níveis: Gestão de processos — envolvendo a avaliação da qua‑ lidade ambiental de todas as atividades, máquinas e equipamentos relacionados a todos os tipos de manejo de insumos, matérias‑primas, recursos humanos, recursos logísticos, tecnologias e serviços de terceiros; Gestão de resultados — envolvendo a avaliação da qua‑ lidade ambiental dos processos de produção, através de seus efeitos ou resultados ambientais, ou seja, emissões gasosas, efluentes líquidos, resíduos sólidos, particulados, odores, ruídos, vibrações e iluminação; Gestão de sustentabilidade — envolvendo a avaliação da capacidade de resposta do ambiente aos resultados dos processos produtivos que nele são realizados e que o afe‑ tam, através da monitoração sistemática da qualidade do ar, da água, do solo, da flora, da fauna e do ser humano; Gestão do plano ambiental — envolvendo a avaliação sis‑ temática e permanente de todos os elementos constituintes do plano de gestão ambiental elaborado e implementado, aferindo‑o e adequando‑o em função do desempenho ambiental alcançado pela organização; Os instrumentos de gestão ambiental objetivam melhorar a qualidade ambiental e o processo decisório. São apli‑ Sistema Gestao Auditoria Ambiental.indd 12 08/01/14 19:21 Fonte: Macedo (1994 apud KRAEMER, 2004, p. 9). De acordo com Macedo (1994 apud KRAEMER, 2004, p. 10), a gestão ambiental se divide em quatro níveis: • Gestão de processos — envolvendo a avaliação da qualidade ambiental de todas as atividades, máquinas e U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 21 equipamentos relacionados a todos os tipos de manejo de insumos, matérias-primas, recursos humanos, recursos logísticos, tecnologias e serviços de terceiros; • Gestão de resultados — envolvendo a avaliação da qualidadeambiental dos processos de produção, através de seus efeitos ou resultados ambientais, ou seja, emissões gasosas, efluentes líquidos, resíduos sólidos, particulados, odores, ruídos, vibrações e iluminação; • Gestão de sustentabilidade — envolvendo a avaliação da capacidade de resposta do ambiente aos resultados dos processos produtivos que nele são realizados e que o afetam, através da monitoração sistemática da qualidade do ar, da água, do solo, da flora, da fauna e do ser humano; • Gestão do plano ambiental — envolvendo a avaliação sistemática e permanente de todos os elementos constituintes do plano de gestão ambiental elaborado e implementado, aferindo-o e adequando-o em função do desempenho ambiental alcançado pela organização; • Os instrumentos de gestão ambiental objetivam melhorar a qualidade ambiental e o processo decisório. São aplicados a todas as fases dos empreendimentos e podem ser: preventivos, corretivos, de remediação e proativos, dependendo da fase em que são implementados. É importante que as corporações se organizem internamente para atingir um grau de excelência em seus sistemas de gestão, já que seu sucesso está intimamente relacionado com seus resultados, inclusive os ambientais. Vamos conhecer agora os beneficios da incorporação da gestão ambiental em uma organização. De acordo com North (apud CAGNIN, 2000) os benefícios da gestão ambiental se dividem em benefícios econômicos e estratégicos e se apresentam da seguinte forma: Benefícios econômicos • Economia de custos. • Redução do consumo de água, energia e outros insumos. • Reciclagem, venda e aproveitamento de resíduos, e diminuição de efluentes. • Redução de multas e penalidades por poluição. • Incremento de receita. U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial22 • Aumento da contribuição marginal de produtos, que podem ser vendidos a preços mais altos. • Aumento da participação no mercado, devido à inovação dos produtos e à menor concorrência. • Linhas de novos produtos para novos mercados. • Aumento da demanda para produtos que contribuam para a diminuição da poluição. Benefícios estratégicos • Melhoria da imagem institucional. • Renovação da carteira de produtos. • Aumento da produtividade. • Alto comprometimento do pessoal. • Melhoria nas relações de trabalho. • Melhoria da criatividade para novos desafios. • Melhoria das relações com os órgãos governamentais, comunidade e grupos ambientalistas. • Acesso assegurado ao mercado externo. • Melhor adequação aos padrões ambientais (CAGNIN, 2000, p. 67). A gestão ambiental envolve funcionários, alta direção, acionistas, fornecedores, comunidade e clientes na busca da preservação do meio ambiente, de forma não mais exclusiva de uma atitude ecologicamente correta, mas para uma mudança de postura, evidenciando uma responsabilidade corporativa e, para tanto, busca formas de amenizar os impactos causados pela sua atividade junto às partes interessadas. Dessa forma a incorporação da gestão ambiental apresenta-se como uma visão estratégica que contempla relacionamento com comunidade e sociedade, em uma visão de longo prazo e demonstração nítida de sustentabilidade. Há muito tempo que os problemas ambientais restringiam-se somente a ecologistas idealistas, porém, atualmente essa questão faz parte do cotidiano. A crise ambiental é fenômeno presente em todos os países, a acentuada degradação que ocorreu pós-Revolução Industrial impacta diretamente na sobrevivência do homem, tendo em vista que os recursos naturais necessários para manutenção do consumo humano são finitos, enquanto que o atual estilo de vida da sociedade que contempla um consumismo exacerbado é ilimitado. Andreoli (2002, p. 62) ressalta que: U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 23 Justamente a responsabilidade ética de empresários e políticos mais arrojados foi capaz de comprovar na prática que há vantagens em ultrapassar essa visão unilateral do meio ambiente como um custo e considerá-lo uma oportunidade. A iniciativa de adotar os princípios da gestão ambiental, numa economia que se caracteriza pelo elevado desperdício de recursos, determina um importante diferencial competitivo. Há anos a comercialização superou a produção como fator limitante da atividade econômica; tornou-se mais difícil vender do que produzir. A colocação de produtos no mercado globalizado exige diferenciais de competitividade, definidos principalmente pelo preço e pela qualidade. Devemos observar cuidadosamente que os clássicos conceitos de qualidade do produto estão bastante ampliados, com um grande destaque à qualidade ambiental. Dentro dessa perspectiva os investimentos na sustentabilidade, além de essenciais à qualidade ambiental, podem representar um importante diferencial especialmente para exportações a mercados altamente promissores. As organizações já perceberam que para se manter competitivas é necessário bem mais que uma simples campanha de marketing. Atualmente os consumidores estão mais atentos e valorizam os investimentos realizados para melhoria de produtos, em especial aqueles voltados para a qualidade de vida, por meio de ações e atitudes que visam à qualidade ambiental. De acordo com Andreoli (2002), alguns princípios de gestão ambiental tais como a eliminação de desperdícios, a inserção de tecnologias limpas e a reciclagem de insumos são condição de sobrevivência empresarial. As exigências ambientais variam de um país para outro, em alguns as exigências são maiores e as práticas ambientais são constantes, fazendo parte da rotina de uma organização e seus fornecedores que precisam se adequar para atender aos rigorosos padrões de exigência ambiental para sustentação de seus clientes. Nesse contexto, quanto maior for o potencial poluidor ou extrativista das atividades de uma empresa, maior ênfase deve ser dada à questão ambiental. U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial24 Para saber mais Para que você possa refletir um pouco mais sobre o tema sustentabilidade, dedique cerca de cinco minutos de seu tempo e assista ao vídeo A sustentabilidade — Gestão para Sustentabilidade, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=GZ8js2FX0mU>. Acesso em: 16 out. 2017. Outro grupo preocupado em pressionar o atendimento das empresas aos requisitos ambientais são os investidores, que desejam saber se estão aplicando seus recursos em uma empresa sólida; outro que também se preocupa com esse atendimento são os agentes financeiros e as seguradoras que vinculam a liberação de recursos ou contratos de seguros somente após uma avaliação ambiental. Além desses já citados, está a sociedade e as ONGs protetoras do meio ambiente, cada vez mais conscientes e exigentes em relação ao cumprimento ao atendimento legal. A incorporação da gestão ambiental em uma empresa propicia melhorias em produtos, processos e serviços, possibilitando reduções nos impactos ambientais por ela causados. De acordo com Viterbo Júnior (1998, p. 51), “[...] a gestão ambiental nada mais é do que a forma como uma organização administra as relações entre suas atividades e o meio ambiente que as abriga, observadas as expectativas das partes interessadas”. Para concluir o estudo da unidade Resumo Chegamos ao final desta unidade, momento para reflitir sobre a importância da gestão ambiental inserida na gestão empresarial e avaliar os benefícios que ela pode vir a obter. Participe de todas as atividades propostas nesta unidade, estude os materiais indicados, assista aos vídeos, estude o conteúdo desta unidade e com certeza você estará apto para contribuir na condução e gestão sustentável de uma empresa. Esta unidade trouxe assuntos muito atuais, levando-nos a compreender a importância da gestão ambiental nas empresas/ organizações.U1 - Gestão ambiental sustentável no ambiente empresarial 25 Você pôde observar as características das empresas com o paradigma da sustentabilidade e a importância da inter-relação das áreas ambiental, econômica e social. Você teve acesso à discussão das questões relacionadas à responsabilidade socioambiental no que diz respeito à importância do papel do mundo corporativo na preservação do meio ambiente. Para finalizar, gostaria de ressaltar a importância da necessidade de incorporar a variável ambiental na gestão empresarial, não somente por uma necessidade de cumprimento à legislação, mas como uma mudança de postura voltada à sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Atividades de aprendizagem da unidade 1. Busque saber sobre os riscos que as empresas estão expostas quando não incorporam a variável ambiental em sua gestão. 2. Busque informações na sua cidade sobre os requisitos exigidos para o licenciamento ambiental. 3. Procure analisar projetos de empresas com ações de responsabilidade socioambiental. 4. Chegando ao final desta unidade, faça uma revisão do conteúdo e verifique se ficou claro para você a importância da gestão ambiental nas empresas. Unidade 2 Considerações sobre a ISO 14000 Nesta unidade, você conhecerá a normalização brasileira, sua cronologia e a série de normas que compõem a ISO 14000. Objetivos de aprendizagem Nesta seção, você conhecerá os objetivos das normas ambientais e, assim entenderá melhor os benefícios e motivações que levam as empresas a implementarem o sistema de gestão ambiental. Nesta seção, você conhecerá as normas relacionadas à avaliação do ciclo de vida e compreenderá para que serve essa ferramenta. Seção 1 | Normas ISO 14000 Seção 2 | Normas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima Introdução à unidade A busca da qualidade tem conduzido as empresas ao sucesso organizacional, pois a qualidade está diretamente relacionada à satisfação de um produto ou serviço. Com o passar do tempo, a qualidade passou a integrar também o conceito da qualidade ambiental nas estratégias de gestão das empresas, devido principalmente à preocupação com a extração ilimitada dos recursos naturais que demonstrou ser insustentável. Fatores tais como a necessidade em atender aos requisitos legais e à exigência de investidores, o cliente consciente e a sociedade passaram a exigir empresas voltadas para a proteção ambiental. Diante de tais pressões, as organizações de um modo geral não tinham mais como desconsiderar os aspectos relacionados à preservação do meio ambiente, ou seja, a qualidade ambiental das empresas torna-se requisito para sua manutenção. Atualmente, mesmo as organizações que já possuem um sistema documentado de qualidade, por meio da padronização de seus processos e produtos, necessitam ir além, e para isso devem incluir em seu sistema de gestão o instrumento da qualidade ambiental: a gestão ambiental. Para alcançar a qualidade ambiental, utilizam-se as mesmas ferramentas utilizadas pela empresa para assegurar a qualidade de sua produção: treinamento, planos de ação, controle de documentação, organização e limpeza, injeções e análises periódicas da situação (as auditorias). Estes procedimentos são realizados por meio da normalização pelas empresas, de forma a representar, efetivamente, um instrumento de administração e de gerência da produção nos processos industriais. U2 - Considerações sobre a ISO 1400030 Seção 1 Normas ISO 14000 Introdução à seção Você sabia que a ISO 14000 não é obrigatória? Ela tem caráter voluntário, isto é, é uma decisão da empresa implantá-la. Você sabe o que é normalização? Podemos definir normalização como o processo de estabelecer e aplicar normas, ordenando uma atividade específica, com a participação de todos os interessados e, em particular, de promover a otimização da economia, levando em consideração as condições funcionais e as exigências de segurança. A normalização tem por objetivo: aumentar a produtividade, melhorar a qualidade do produto e proporcionar uma maior segurança e satisfação para o consumidor, visando proteger a saúde e a segurança humana; a busca constante por melhores índices de produtividade; a conservação das fontes de recursos naturais; a minimização do desperdício; ajudar na incorporação de novas tecnologias; e facilitar o comércio nacional e internacional. A normalização pode ter um ou mais objetivos específicos, conforme o produto, processo ou serviço, a saber: • Proteção ao consumidor: comprar produtos normalizados nos induz a estarmos comprando um produto com qualidade comprovada, fabricado de acordo com as respectivas normas técnicas, no qual temos a garantia de que o fabricante utilizou processos e matérias-primas controlados e também, o que é mais importante, que o produto adquirido irá atender aos nossos desejos e/ou necessidades. • Simplificação: a simplificação traz como principal virtude a limitação da variedade dos produtos fabricados e seus componentes, o que leva à intercambialidade, ou seja, a capacidade de o fabricante produzir grandes lotes dos produtos e componentes, garantindo a substituição, pois mantém as características originais dos produtos e não altera o seu desempenho em caso de consertos ou substituições de peças. • Eliminação de barreiras comerciais: com a normalização é U2 - Considerações sobre a ISO 14000 31 possível eliminar as barreiras técnicas do comércio internacional, pois com ela pode-se alcançar a concordância com relação às normas técnicas internacionais de fabricação, a exemplo do que acontece nos Comitês Técnicos da ISO e IEC, a respeito do conteúdo técnico das normas. Na fabricação aplica-se o princípio da referência às normas nas regras dos desenhos e regulamentos de cada país. • Segurança: a segurança talvez seja o objetivo maior das normas técnicas e da normalização industrial, pois traz consigo a proteção da vida humana. Segundo as normas, os produtos devem ser fabricados dentro de critérios que os façam alcançarem elevado grau de confiabilidade não só quando novos, mas também ao longo de sua vida útil. • Economia: a normalização traz em seu bojo a sistematização e ordenação das atividades e procedimentos de produção, o que leva à redução dos custos dos produtos e serviços, trazendo economia para os fornecedores e clientes. • Comunicação: na engenharia podemos buscar exemplos nos quais a comunicação normalizada pode levar à simplificação dos entendimentos dos produtos elaborados independentemente do país onde foram produzidos. As ISO 128 e 129 (Desenhos de Engenharia) apresentam a uniformalização dos desenhos dos projetos de engenharia, permitindo a sua compreensão em qualquer parte do globo. Já as ISO 31 e 1000 (Prática dos Sistemas Internacionais) nos fornece os meios de representar as dimensões e quantidades de forma igual em tudo o mundo. Nesses casos, os requisitos especificados são expressos de forma a serem compreendidos facilmente, o que facilita e garante a comunicação entre fabricante/cliente. Para saber mais Saiba que para a classificação das normas são adotadas duas categorias: tipo e nível. 1.1 Classificação das normas As normas podem ser classificadas de várias maneiras, conforme a ênfase que se deseja. As normas quanto ao tipo e nível apresentam duas classificações principais. Existem sete tipos de normas, a saber (NUNES et al., 2003): U2 - Considerações sobre a ISO 1400032 • De especificação: são normas que especificam quais características, sejam elas físicas, químicas ou outras, os produtos ou materiais devem apresentar. Destinam-se a determinar as características de materiais, processos, componentes, equipamentos e elementos de construção, assim como as condiçõesde aceitação ou rejeição de materiais, produtos semiacabados ou acabados. Como exemplo, temos a NBR 10.721/96, que especifica as características e os ensaios a que devem satisfazer os extintores de incêndio com carga de pó químico. • De procedimento: essas normas fixam as rotinas ou condições de procedimento para a realização de algo, como, por exemplo, elaboração de cálculos estruturais, projetos, obras, serviços e instalações, emprego de materiais e produtos industriais etc. A norma NBR 5410 — Instalações elétricas de baixa tensão é um exemplo desse tipo de norma. • De classificação: essas normas destinam-se a ordenar, designar, distribuir e subdividir conceitos, materiais ou objetos de acordo com determinada sistemática. Elas agrupam ou dividem em classes um determinado campo do conhecimento. Um exemplo é a NBR 5980, que estabelece os critérios para a designação dos diferentes estilos de caixas de papelão. • De ensaio: são normas que preconizam como realizar o teste das propriedades de materiais ou artigos manufaturados. Têm a finalidade de indicar o modo de determinar ou verificar as características, condições ou requisitos exigidos de um material ou produto de acordo com suas especificações ou de uma obra ou instalação de acordo com seus respectivos projetos. A NBR 11.768 — Aditivos para concreto de cimento Portland é exemplo de uma norma de ensaio. • De terminologia: as normas de terminologia servem para definir os termos e expressões associadas a um dado campo de conhecimento. Visam o estabelecimento de uma linguagem uniforme em um determinado setor de atividade. Como exemplo, a NBR ISO 9000, que define os termos relativos aos conceitos de qualidade. • De simbologia: normas que estabelecem símbolos visuais para serem associados a produtos e indicações de serviços. Essas normas fixam condições gráficas, ou seja, símbolos gráficos paragrandezas, U2 - Considerações sobre a ISO 14000 33 sistemas, com a finalidade de representar esquemas de montagem, circuitos, componentes de circuitos, fluxogramas etc. Um bom exemplo é a NBR 5444 que estabelece símbolos gráficos referentes às instalações elétricas prediais. • De padronização: essas normas destinam-se a reduzir a variedade de tamanhos de produtos ou opções de serviços. Restringem a variedade pelo estabelecimento de condições precisas a serem satisfeitas de modo a uniformizar as características geométricas ou físicas de elementos de fabricação, produtos semiacabados, desenhos e projetos. Como exemplo, a NBR 6017, que padroniza as dimensões das válvulas usadas para inflar e desinflar pneus. 1.2 Níveis de normalização Conforme seus níveis, as normas técnicas podem ser de caráter internacional (ISO — IEC), regional (Mercosul — Copant), Nacional (ABNT — DIN — ANSI) ou normas de empresas. Como já vimos, as normas técnicas se aplicam a produtos, processos, sistemas de gestão, pessoal, ou seja, nos mais diversos campos da atividade humana e são usualmente estabelecidas pelo próprio cliente, no fornecimento de bens ou serviços; esse estabelecimento pode ser feito explicitamente (quando o cliente define claramente a norma a ser aplicada) ou quando ele simplesmente espera que as normas em vigor sejam seguidas. Sem as normas, existiriam dificuldades no avanço tecnológico, na execução de algumas atividades e também na comercialização de produtos entre países. As normas podem vir a ser usadas para ordenar o cumprimento de regulamentos técnicos e também com grande frequência referem-se a outras normas necessárias para a sua aplicação. 1.3 Uso de normas Você sabe para que servem as normas? São inúmeras as utilidades das normas, desde a proteção aos projetos estruturais de um edifício até outras variadas finalidades como, por exemplo, a realização de ensaios ou para a certificação. É comum o cliente desejar que o produto, além de seguir U2 - Considerações sobre a ISO 1400034 determinada norma, tenha conformidade com essa mesma norma demonstrada, utilizando-se de procedimentos de avaliação desta conformidade. Existem casos nos quais esses referidos procedimentos de avaliação da conformidade, em particular a certificação, são obrigatórios legalmente para determinados mercados, ou existem também casos nos quais as práticas correntes de mercado exigem a certificação, mesmo esta não sendo obrigatória por força legal. Na verdade, a maioria dos mercados exige que as normas em vigor sejam atendidas, e é de fundamental importância que uma empresa, ao introduzir seus produtos ou serviços num determinado mercado, procure seguir as normas que lá se aplicam e adequar seus produtos ou serviços a elas. 1.4 Voluntariedade das normas As normas têm seu uso como voluntário, ou seja, não são obrigatórias por lei, e podem existir produtos ou serviços que não sigam a norma que se aplica àquele determinado segmento. Em diversos países, existe a obrigatoriedade de se seguir as normas, ao menos em algumas áreas, como no caso do Brasil, onde se obedece ao preconizado no Código de Defesa do Consumidor, por exemplo. É evidente que fornecer um produto “fora da norma” significa maiores esforços para a sua entrada no mercado, inclusive com a necessidade de se demonstrar de maneira convincente que o referido produto atende às necessidades do cliente e que as questões como intercambialidade de componentes e insumos não representam problemas futuros aos que irão adquiri-lo. Em muitos locais, até do ponto de vista legal, quando não se segue a norma vigente naquele mercado, o fornecedor do produto ou serviço tem responsabilidades adicionais sobre as garantias de uso do mesmo. 1.5 Divisão da normalização no Brasil No Brasil, a normalização encontra-se dividida em duas áreas; NORMAS TÉCNICAS — que são de caráter voluntário e consensado; REGULAMENTOS TÉCNICOS — que têm caráter obrigatório. U2 - Considerações sobre a ISO 14000 35 1.5.1 Normas técnicas Trata-se de documentos, gerados por consenso, e aprovados por instituições ou organismos tecnicamente reconhecidos e que disponibilizam, para uso comum e repetido, as regras, diretrizes ou características para produtos, processos ou métodos de produção, sendo que seu cumprimento é voluntário por parte de quem produz. As normas visam, fundamentalmente, otimizar benefícios para as empresas produtoras e para a comunidade consumidora, e para tanto buscam embasamento na ciência, na tecnologia e nas experiências acumuladas. Podemos então dizer que o objetivo fundamental das normas é estabelecer o que fazer e como fazer. O campo de aplicação das normas técnicas é vasto e variado, pois podem ser adotadas nos setores produtores de bens de capital, bens de insumos, componentes e partes, em produtos acabados e de largo consumo, nos setores de prestação de serviços e na agricultura, ou seja, nos setores industriais e seus segmentos. Por outro lado, como as normas apresentam linguagem precisa e comum, melhoram sobremaneira o funcionamento do mercado e seu emprego oferece segurança tanto para o fabricante como para o consumidor. Ao adotar voluntariamente uma norma técnica vigente, o produtor está se enquadrando nas prescrições referentes à simbologia, terminologia, métodos de ensaios, cor, padronizações, embalagens, procedimentos, tamanhos, entre outras, e essas prescrições servem para melhoram a comunicação entre o cliente e o fornecedor. Você já ouviu falar na ABNT, não é mesmo? No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a entidade responsável pela normalização técnica. Apesar de ser uma entidade privada, não tem fins lucrativos, e é a única representante do Brasil nas entidades internacionais relacionadas a seguir: • ISO — International Organization for Standardization; • IEC — International Electrotechnical Comission;• COPANT — Comissão Panamericana de Normas Técnicas; • AMN — Associação Mercosul de Normalização. A ABNT tem como missão “harmonizar os interesses da sociedade U2 - Considerações sobre a ISO 1400036 brasileira, provendo-a de referenciais, através da normalização e atividades afins”. Entre seus objetivos, destacam-se os seguintes: • Fomentar e gerir o processo de normalização nacional; • Promover a participação efetiva e representar o país nos fóruns regionais e internacionais de normalização; • Atuar na área de avaliação de conformidade com reconhecimento nacional e internacional; • Buscar e difundir informação nas suas áreas de atuação; • Promover e atuar na formação de profissionais nas suas áreas de atuação; • Ser reconhecida pela qualidade dos serviços que presta (à sociedade). 1.5.2 Normas nacionais São normas técnicas criadas por organismos nacionais de normalização para aplicação num dado país. No caso do Brasil, as normas técnicas — NBRs — são elaboradas pela ABNT, mas em cada país geralmente existem organismos nacionais para a elaboração de suas normas técnicas. A ABNT é reconhecida pelo estado brasileiro como sendo o Fórum Nacional de Normalização, e isso significa que suas normas, as NBRs, são reconhecidas como sendo as normas brasileiras. Os Comitês Brasileiros (ABNT/CB) e os Organismos de Normalização Setorial (ONS) são os órgãos que elaboram as normas brasileiras e ambos são organizados numa base setorial ou por temas de normalização afetos a diversos setores, como na qualidade ou gestão ambiental, por exemplo. Qualquer pessoa interessada pode se preparar para participar do processo de elaboração das normas e, portanto, até interferir em seus resultados. Para tanto, basta ficar atento e saber qual norma se planeja desenvolver num determinado setor, em determinado tempo, até porque, antes de publicadas definitivamente, as normas permanecem durante um tempo em consulta publica, sujeitas às observações do público em geral. Todos os anos a ABNT pública o Plano Nacional de Normalização, que contém os títulos que se pretendem desenvolver naquele ano. Ao acessar a página da ABNT na internet (<http://www.abnt.org.br>) é U2 - Considerações sobre a ISO 14000 37 possível saber quais os Projetos de Normas Brasileiras que estão em consulta pública, assim como as NB publicadas, emendas, erratas, NBR canceladas etc. Conforme já dissemos, é comum uma norma se referir a outras normas que são necessárias para sua aplicação e também as normas podem ser necessárias para o cumprimento de regulamentos técnicos ou na certificação compulsória. 1.6 ISO: International Organization for Standardization ISO é a organização internacional para normalização, fundada em 1947 e localizada em Genebra, na Suíça. A sigla ISO remete à palavra grega ISO, que significa igualdade. Trata-se de uma organização não governamental (ONG) que tem como missão promover o desenvolvimento da normalização e atividades correlatas no mundo, beneficiando e facilitando as trocas de bens e serviços entre os países, assim como o desenvolvimento da cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e das atividades econômicas. Os trabalhos da ISO resultam em acordos que são publicados como normas internacionais. A ISO trabalha com comitês técnicos (TC) e centenas de subcomitês e grupos de trabalho. Um comitê e seus subcomitês incluem em seu escopo representantes de indústria, do governo, organizações ambientais e organismos neutros. Dessa forma, para aqueles que pretendem ser competitivos a nível internacional, é de fundamental importância seguirem os trabalhos de normalização internacional e procurarem maneiras para que seus produtos, serviços e sistemas de gestão atendam ao que é preconizado por essas normas. Pode-se afirmar que a maioria das normas adotadas pelos países da comunidade europeia são de caráter internacional, diminuindo ou eliminando as barreiras técnicas nos contatos comerciais. As normas ISO são elaboradas nos seus comitês técnicos (ISO/ TC), que por sua vez são organizados em bases técnicas, e a aprovação das normas é feita pela votação entre os seus membros. A representação brasileira na ISO é feita pela ABNT, que participa dos trabalhos de elaboração das normas técnicas daquela instituição internacional. U2 - Considerações sobre a ISO 1400038 1.6.1 A série ISO 14000 Com o aumento dos padrões ambientais em todo o mundo, a ISO detectou a necessidade de elaborar padrões ambientais empresariais, criando em 1991 o Grupo Aconselhador Estratégico no Ambiente (Salva) para a promoção da administração ambiental analogamente à administração da qualidade. Aparece, então, a nova série ISO 14000, projetada para sistemas de administração ambiental, avaliação de desempenho ambiental, etiquetas ambientais, análise do ciclo de vida e aspectos ambientais em padrões de produtos. São documentos que, por serem genéricos, se aplicam a todo tipo de indústria, de todos os tamanhos, e são elaboradas para atender às diversidades geográficas, culturais e sociais. Compõem a Série ISO 14000: • 14001:2004 — Sistemas de gestão ambiental — requisitos com orientações para uso; • 14004:2004 — Sistemas de gestão ambiental — diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio; • 14061:1998 — Informações para auxiliar as organizações florestais no uso das normas ISO 14001 e ISO 14004; • 14063:2006 — Gestão ambiental — comunicação ambiental — diretrizes e exemplos; • 14064-1:2006 — Gases de efeito estufa — parte 1: especificações com guia para quantificar e relatar as emissões e remoções de gases do efeito estufa no nível da organização; • 14062-2:2006 — Gases de efeito estufa — parte 2: especificações com guia para quantificar, monitorar e relatar as emissões e remoções de gases do efeito estufa no nível do projeto; • 14064-3:2006 — Gases de efeito estufa — parte 3: especificações com guia para validação e verificação de afirmações sobre gases do efeito estufa; • 14010:1996 — Diretrizes para auditoria ambiental — princípios gerais; • 14011:1996 — Diretrizes para auditoria ambiental — procedimentos de auditoria — auditoria de sistemas; U2 - Considerações sobre a ISO 14000 39 • 14012:1996 — Diretrizes para auditoria ambiental — critérios de qualificação para auditores ambientais; • 19011:2002 — Diretrizes para auditorias de sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiental (substitui as normas ISO 14010,14011 e 14012); • 14015:2001 — Gestão ambiental — avaliação ambiental de locais e organizações (AALO); • 14031:1999 — Gestão ambiental — avaliação do desempenho ambiental — diretrizes; • 14032:1999 — Gestão ambiental — exemplos de avaliação do desempenho ambiental; • 14021:1999 — Rótulos e declarações ambientais — reivindicações de autodeclarações ambientais — rotulagem ambiental tipo II; • 14024:1999 — Rótulos e declarações ambientais — rotulagem ambiental tipo I — princípios e procedimentos; • 14025:2000 — Rótulos e declarações ambientais — declarações ambientais tipo III; • 14040:1999 — Avaliação do ciclo de vida — princípios e estruturas; • 14041:1998 — Avaliação do ciclo de vida — objetivos e escopo, definições e análise de inventários; • 114042:2000 — Avaliação do ciclo de vida — avaliação de impacto do ciclo de vida; Produtos à disposição dos consumidores; Avaliação do ciclo de vida ISO/TR; • 114043:2000 — Avaliação do ciclo de vida — interpretação dos resultados de um estudo de avaliação do ciclo de vida; • 114048:2002 — Avaliação do ciclo de vida — informações sobre apresentação de dados para um estudo de avaliação do ciclo de vida; • 114049:2002 — Avaliação do ciclo de vida — exemplos para aplicação da norma ISO 14041:1998; • GUIA 64:1997 — Guia para a inclusão de aspectos ambientaisem normas de produtos; • 114062:2002 — Integração dos aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos — diretrizes; • 114050:2002 — Gestão ambiental — vocabulário; U2 - Considerações sobre a ISO 1400040 Com relação às auditorias ambientais, há diretrizes das normas ISO 14010, 14011 e 14012 que foram substituídas pelas diretrizes da ABNT NBR ISO 19011:2002. 1.7 Norma para certificação ambiental Da série 14000, a única norma empregada para fins de certificação é a NBR ISO 14001, pois se trata de uma norma de gerenciamento e não de produto ou processo. Em outras palavras, a ISO 14001 é um padrão ambiental empresarial e não um padrão de produto, pois não estabelece padrões de desempenho ambiental e sim exigências de um SGA — Sistema de Gestão Ambiental efetivo, ao passo que as outras ISO 14000 (tanto as já publicadas quanto as a publicar) são documentos que apresentam diretrizes para auxiliar as empresas a desenvolver e manter seus SGA, assim como para auxiliá-los com os elementos do programa de gerenciamento ambiental, como a avaliação do ciclo de vida, por exemplo, e com ferramentas de identificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais. O objetivo da ISO 14001 é auxiliar as empresas a melhorar seu desempenho ambiental, porém são as próprias empresas que devem estabelecer seus padrões para tanto, bem como suas metas de melhoria. Assim sendo, a ISO 14000 tem alguns aspectos diferenciados e importantes: • Proatividade: seu objetivo é na ação e no pensamento proativo, em vez de reação a comandos e políticas de controle do passado; • Norma de sistema: ela reitera o melhoramento da proteção ambiental pela utilização de um único sistema de gerenciamento permeando todas as funções da organização; • Compreensividade: a ISO 14001 pode ser utilizada por qualquer tipo de empresa industrial ou de serviço, de qualquer porte ou ramo de atividade. Nela são utilizados processos de identificação de Para saber mais Busca por ISO amplia campo de trabalho do ambientalista. Folha de S. Paulo, 13 set. 2001. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ folha/educacao/ult305u5926.shtml>. Acesso em: 16 out. 2017. U2 - Considerações sobre a ISO 14000 41 todos os impactos ambientais e todos os membros da organização participam na proteção ambiental, sejam eles clientes, fornecedores, funcionários, diretores, acionistas e até a sociedade em geral. A ISO 14001 pode ser empregada na implantação e no desenvolvimento de um SGA que pode vir a ser credenciado ou não. O credenciamento ou CERTIFICAÇÃO é o reconhecimento formal de parte de uma organização autorizada, de que uma empresa possui processos, produtos ou serviços em conformidade com as normas vigentes. O atendimento à ISO 14001 requer que a empresa desenvolva uma política ambiental que seja apoiada pela administração da organização e que não seja direcionada apenas ao pessoal interno, mas ao público em geral, e para tanto precisa ser clara e estar relacionada com a legislação ambiental e fundamentalmente se pautando pelo compromisso com a melhoria contínua. A empresa deve declarar de maneira firme quais são seus objetivos ambientais primários, formando as áreas primárias de consideração dentro do processo de melhoria e do programa ambiental da organização, que deve ser planejado para alcançar metas específicas ou objetivos de metas específicas, descrevendo os meios para alcançá-los. Os procedimentos, instruções de trabalho e controle que garantem a implementação da política ambiental e realização dos objetivos são estabelecidos pelo SGA. Finalmente, é fundamental que a comunicação seja bem-feita, de maneira a permitir que as pessoas estejam atentas às suas responsabilidades na empresa e sejam capazes de contribuir para o sucesso da política ambiental da mesma. 1.8 Normas de rotulagem ambiental Essas normas constituem apoio à elaboração de programas de rotulagem ambiental cujo objetivo é apresentar aos clientes informações claras e precisas de modo a auxiliarem-nos a tomar decisões de compra com algum fundamento técnico. Na verdade, essas normas estão embutidas em um objetivo maior, qual seja, a melhoria do desempenho ambiental das operações industriais. Em geral, utiliza-se o termo “selo verde” para definir qualquer U2 - Considerações sobre a ISO 1400042 sistema de certificação ambiental de produtos, porém o correto seria a utilização da expressão “rótulo ecológico dos produtos”, uma vez que o selo verde é a tradução do Green Seal, que é um selo patenteado nos Estados Unidos da América. Constantemente, as organizações, associações de classe, órgãos de normalização e até setores empresariais lançam diversos tipos de selos, porém nem todos são destinados ao reconhecimento ambiental dos produtos. As normas de rotulagem ambiental da série ISO 14000 são: • ISO 14020 — Objetivos e Princípios Básicos da Rotulagem Ambiental: norma que fornece os princípios gerais para o direcionamento mais específico de reclamações dos clientes para as empresas, em termos de não conformidades constatadas em seus produtos. Concomitantemente, esta norma pretende ser um instrumento que facilite a escolha de produtos e serviços “ambientalmente corretos”, pelos clientes, através da padronização dos critérios ou processos industriais; prevenção e minimização das reclamações não garantidas; maior habilidade dos compradores para que possa fazer escolhas informadas, com maior participação no mercado; • ISO 14021 — Termos e Definições para Reclamações Ambientais Autodeclaradas: esta norma estabelece os parâmetros gerais em relação ao fornecimento de bens e serviços para clientes. Seu objetivo é contribuir para a redução dos impactos ambientais associados ao consumo de produtos e serviços, através de autodeclarações ambientais e seus respectivos termos e definições. Os benefícios incluem a verificação de reclamações apuradas, verificáveis e não ilusórias; melhorias ambientais em produtos, processos e entrega dos serviços; e a redução das restrições e barreiras ao comércio internacional; • ISO 14022 — Símbolos de Rotulagem Ambiental: esta norma tem por objetivos identificar os principais símbolos utilizados em diferentes produtos, ou setores industriais. Atualmente, esta norma está integrada à ISO 14021 e 14023 num único documento; • ISO 14023 — Testes e Procedimentos de Verificação: este documento tem por objetivos padronizar metodologias de teste e verificação entre diferentes países para o estabelecimento de benchmarking em rotulagem ambiental; U2 - Considerações sobre a ISO 14000 43 • ISO 14024 — Rotulagem Ambiental — Princípios-Guia, Práticas e Critérios Procedimentos de Certificação: esta norma tem por objetivos otimizar os princípios e os protocolos de rotulagem ambiental da terceira parte, ou programas mais específicos para determinados segmentos de um produto em particular. A intenção é unificar os critérios usados em programas mundiais, conduzindo-os a um acordo entre os países para certificar, e garantir aos consumidores que certos produtos têm certas características ambientais ou atributos específicos; • ISO 14025 — Título III. Etiquetas: seu objetivo é estabelecer os requisitos de estruturação das etiquetas que deverão acompanhar os produtos, além de seus elementos internos, como a linguagem, símbolos e informações adicionais. U2 - Considerações sobre a ISO 1400044 Seção 2 Normas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) Introdução à seção Por sua vez, as Normas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) da série ISO 14000 têm como objetivo fazer uma avaliação adequada dos impactos ambientais de um produto, em todas as etapas de sua cadeia produtiva, desde a extração da matéria-prima da qual ele é fabricado até a sua disposição final. São elas: • ISO 14040 — Avaliação