281 pág.

Pré-visualização | Página 32 de 50
de 1986, é semelhante à abordagem de Skinner sobre evolução cultural, e indica a consequência operante como uma consequência de curto prazo, e a consequênia cultural como uma consequência de longo prazo, que não tem efeito direto sobre o comportamento dos indivíduos. Todavia, esta concepção é modificada ao longo das publicações da autora. Posteriormente, Glenn passa a fornecer definições de metacontingência e relatos de eventos que tratam a consequência cultural na metacontingência como uma consequência análoga às operantes: Metacontingencies, like behavioral contingencies, involve two kinds of causality. …. First, the recurrences of IBCs produce outcomes (analogous to consequences produced by recurrences of operant responses). Second, the outcomes affect the future frequency and other measures of the future recurrences of those IBCs [grifo acrescentado]. The contingencies of selection in metacontingencies are between cultural-level units (IBCs) and their selecting environments. (linha: 245) 131 Diferentemente da consequência cultural em Skinner, as consequências culturais descritas por Glenn podem ocorrer logo após o comportamento, e não se relacionam, necessariamente, com a sobrevivência da cultura. Outra distinção importante é o fato de que a consequência cultural apresenta uma relação funcional com as contingências entrelaçadas e, portanto, exerce controle sobre o comportamento dos participantes. Como destacado no primeiro capítulo, contudo, para Skinner, diferentemente das consequências operantes, as consequências culturais não têm efeito direto sobre o comportamento, no sentido de aumentar sua freqüência ou alterar sua topografia. A consequência cultural em Skinner simplesmente seleciona ou não as práticas culturais: quando os membros da cultura sobrevivem, a prática cultural, conseqüentemente, sobrevive com eles: A culture, however, is the set of practices characteristic of a group of people, and it is selected by a different kind of consequence, its contribution to the survival of the group. That is an important point. Although the controlled use of fire may contribute to the survival of the culture of which it is a part, that consequence is too remote to reinforce [grifo acrescentado] the behavior of any member of the group. (linha: 477) Para Glenn, as consequências culturais diferenciam-se das operantes apenas no sentido de que são produzidas por mais de um indivíduo. Como exemplo, (linhas: 251, 252, 253) temos as peças plásticas moldadas, consideradas consequência operante quando produzidas por um indivíduo e produto agregado quando produzidas por mais de um indivíduo. Em Skinner, todavia, estamos considerando outro efeito. Este não se dá sobre a probabilidade de ocorrência das práticas culturais ou contingências entrelaçadas, mas sobre a sua manutenção na cultura quando promove a sobrevivência 132 física de seus membros. Portanto, é possível considerar a evolução cultural em Skinner análoga à filogênese e em Glenn à ontogênese. Para esclarecer esta distinção compararemos brevemente um relato de evento envolvendo seleção cultural em Skinner e outro em Glenn. Em Skinner, selecionamos o exemplo de da prática cultural de lavar batatas em macacos, por ser o único relato de evento no qual as variáveis estão suficientemente especificadas para a presente análise. Em Glenn, por sua vez, elegemos o experimento com metacontingências de Vichi, Andry e Glenn (2009) por ser baseado em dados empíricos. Em 1.4, foi apresentado integralmente o relato de evento identificado como evolução cultural por Skinner. No exemplo do grupo de macacos, Skinner (linha: 455) descreve o que sistematizamos em três eventos: (1) a aquisição de um operante por um indivíduo: ―A monkey accidentally dips a sweet potato into the sea water, and the resulting salted, grit-free potato is specially reinforcing. Dipping is therefore repeated and becomes a standard part of the monkey`s repertoire.‖; (2) a transmissão do operante entre os membros da cultura e a nomeação deste operante transmitido como prática: ―Other monkeys then imitate the behavior and come under the control of the same contingencies. Eventually, all the monkeys on a given island wash their sweet potatoes. Washing would usually be called a cultural practice.‖; (3) os efeitos desta prática cultural sobre as chances de sobrevivência da cultura: ―If, for example, washing sweet potatoes prevented the spread of a fatal disease, the resulting contribution to the survival of the group would not be a reinforcing consequence‖. Em Glenn, o termo evolução cultural refere-se a um fenômeno diferente. No experimento de metacontingências descrito em 2.4.2, identificamos: (1) comportamento de interação entre indivíduos - isto é, a contingência entrelaçada, (escolher a fileira, 133 determinar a quantidade de tokens a ser depositada no vaso, distribuir os tokens restantes entre si); (2) um produto da interação entre os indivíduos - isto é, o produto agregado, (distribuição igual ou desigual); e (3) os efeitos da consequência cultural comum aos participantes da metacontingência (sinal positivo ou negativo) sobre a recorrência de novos entrelaçamentos: ―The interrelated behavior of individuals in groups changes as a function of consequences upon the products of those behaviors‖(p. 53). No exemplo de Skinner não há interação entre indivíduos, exceto no momento da transmissão. O operante de lavar batatas é mantido por consequências individuais, e não por consequências comuns aos macacos do grupo. A consequência cultural é o efeito sobre a sobrevivência dos membros do grupo que seleciona ou não as práticas culturais, e não qualquer outro efeito que retroage funcionalmente sobre elas. De modo oposto, no experimento de metacontingência a interação entre indivíduos não envolve transmissão de operantes, mas indivíduos se comportando entre si e em relação a um ambiente comum. Além disso, na metacontingência a consequência cultural exerce controle sobre a contingência entrelaçada e altera sua probabilidade de ocorrência. 3.3.3 Sobrevivência da cultura como sobrevivência dos seus conjuntos de contingências de reforçamento social e a metacontingência. Ao tratar da evolução cultural em Skinner, discutimos que uma possibilidade de análise pautada por algumas ocorrências do conceito de sobrevivência da cultura, ou de termos utilizados por ele como sinônimos, é a de que a cultura sobrevive quando promove a sobrevivência dos próprios conjuntos de contingências de reforçamento social que a constituem. Esta possibilidade de interpretação foi identificada em trechos de um capítulo específico de Beyond freedom and dignity (1971) intitulado The evolution of a culture. Neste capítulo, Skinner fornece descrições que sugerem que uma 134 cultura sobrevive quando garante a sobrevivência de seu conjunto de contingências de reforçamento ou de determinadas práticas culturais. Como exemplos, temos os seguintes trechos: ―Why should I be concerned about the survival of a particular kind of economic system?‖ (linha: 249) e ―The simple fact is that a culture which for any reason induces its members to work for its survival, or for the survival of some of its practices, is more likely to survive‖ (linha: 247). Em relação à Skinner, concluímos que este posicionamento é raro em seus textos, e que é e incoerente com a noção apresentada na maior parte das ocorrências identificadas, que trata a sobrevivência da cultura como sobrevivência de conjuntos de contingências de reforçamento social que promovem a sobrevivência física dos membros da cultura. Ainda, argumentamos que a hipótese