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TEORIA PSICANALITICA – NP2
MÓDULO 5: O complexo de Édipo e a sua dissolução
 
O complexo de Édipo (ou Édipo simplesmente, para abreviar) designa o complexo definido por Freud, assim como é um mito fundador, pois a partir deste conceito a teoria psiacanalítica procura elucidar as relações do ser humano com suas origens e sua genealogia familiar e histórica.
O Édipo responde a duas questões: 
1. Como se forma a identidade sexual de um homem e uma mulher;
2. Como uma pessoa torna-se neurótica. 
 
Serve-nos, assim, para compreender como um prazer (de ordem sexual) toma conta de  uma criança - na idade entre 3 e 5 anos - e se transforma em um sofrimento neurótico que atormentará o sujeito na vida adulta.
Foi na escuta de seus pacientes neuróticos, adultos, que Freud, inicialmente, criou a teoria da sedução que, em seguida, foi substituída pela teoria da fantasia e no escopo desta movimentação teórica surge a invenção do complexo de Édipo (o mito de Édipo surge na teoria psicanalítica no exato momento do nascimento da psicanálise, consecutivo ao abandono da teoria da sedução). O que é relevante, apesar da mudança - da teoria da sedução para a da fantasia - é que o acontecimento,  real ou fantasiado, é que tenha sido recalcado. A histeria é principalmente uma doença do esquecimento, já que não se quer lembrar do que foi doloroso. 
No entanto, a posição do sujeito é diferente no acontecimento real e no fantasiado: no primeiro, a criança da cena de sedução é vítima; no segundo, a criança da cena edipiana/fantasiada é atormentada entre o desejo de ser seduzida e o medo de sê-lo, entre o medo de sentir prazer e o medo de experimentá-lo. 
A identidade sexual de todo homem ou mulher tem como ponto de partida o complexo de Édipo e é por isto que o que se encontra na clínica, sob esta ótica, são pessoas adultas sofrendo, não raras vezes, pelas vicissitudes de um complexo não liquidado e que retorna à consciência, de forma compulsiva e repetitiva, delineando-se, assim, um sofrimento neurótico.
O Édipo é um esquema teórico que permite ao psicanalista esclarecer e compreender uma gama infindável de conflitos e sofrimentos psíquicos; é, do ponto de vista clínico,  uma fantasia que atua desde o âmago de ser e o toma por inteiro. Quanto ao mito, sua força na cultura se explica porque através de uma fábula que traz à cena personagens familiares, o faz de tal forma que estes personagens verdadeiramente encarnam as forças do desejo humano e os seus interditos, suas proibições necessárias.
Fantasia ou mito, o complexo edipiano é um conceito central, nuclear (acha-se presente em toda obra freudiana, desde 1897 até 1938), indispensável à consistência da teoria e à eficácia da prática psicanalítica. 
 Dissolução do Complexo de Édipo
O complexo de Édipo é a representação inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. Essa representação pode se inverter e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do sexo oposto.
O complexo de Édipo está ligado à fase fálica da sexualidade infantil e surge quando o menino (por volta dos 2 ou 3 anos) começa a sentir sensações prazerosas e, apaixonado pela mãe, quer possuí-la, colocando-se como rival do pai, antes admirado. Uma posição inversa é adotada: ternura em relação ao pai e hostilidade em relação à mãe. Há, ao mesmo tempo, o complexo de Édipo e um complexo de Édipo invertido; estas duas posições - positiva e negativa - no contato com os pais são complementares e constituem o Édipo completo.
Será, por volta dos cinco anos, com o complexo de castração que, no menino, o complexo desaparecerá: o menino reconhece a partir de então na figura paterna o obstáculo à realização de seus desejos, abandona o investimento na mãe e passa para uma identificação com o pai, que lhe permitirá, na vida adulta, uma outra escolha de objeto e novas identificações: ele se desliga da mãe (desaparecimento do complexo de Édipo) para escolher seu próprio objeto de amor. Seu declínio marca a entrada num período chamado de latência, e sua resolução após a puberdade concretiza-se num novo tipo de escolha de objeto. 
A tese da tese da libido única, de essência masculina, está ligada ao complexo de Édipo. O menino sai do Édipo através da angústia de castração, por seu lado, a menina ingressa nele pela descoberta da castração e pela inveja do pênis e, nela, o complexo se manifesta pelo desejo de ter um filho do pai. A dessimetria se apresenta no tocante ao fato de a menina desligar-se de um objeto do mesmo sexo (a mãe) por outro de sexo diferente (o pai). Não há um paralelismo exato entre o Édipo masculino e seu homólogo feminino, mas encontramos uma simetria: nos dois sexos a mãe é o primeiro objeto de amor, o elemento comum e primeiro.
 O complexo de Édipo liga-se desde o começo à dupla questão do desejo incestuoso e de sua proibição necessária, a fim de que nunca se transgrida o encadeamento das gerações.
Mantém uma ligação estreita com o complexo de castração e com a existência da diferença sexual e das gerações. 
Freud viu a tragédia Édipo rei (Sófocles) a revelação ou, em outras palavras, a simbolização, do universal do inconsciente que vinha disfarçado em destino, a lenda grega apoderou-se de uma compulsão que todos sentiram, por isto reconhecem-se, inconscientemente, na dramatização e se assombram diante da realização do sonho transposto para a realidade. 
Assim também ocorre com o drama de Hamlet (Shakespeare) que era, para Freud, o drama do recalcamento, através da história de uma  subjetividade culpada.
Esta aproximação de ficções pode ser relacionada ao afã de Freud por entender as questões relativas ao destino, àquilo que a vida reserva e que se ignora. a isto podemos correlacionar o próprio conceito de inconsciente, ninguém o conhece e, igualmente, dele não pode se desvencilhar. O complexo de Édipo é, como foi dito inicialmente, a representação psíquica do desejo inconsciente e, como consequência, traz em seu bojo a iniciação em uma experiência de perda e de luto, referente aos pais como parceiros sexuais.
 
 MÓDULO 6: A psicanálise na clínica
O surgimento da transferência
A descoberta do narcisismo.
 A Psicanálise na clínica e a transferência
Quando Freud (1915[1914]) diz que só o analista pode tratar a neurose que, do contrário, sem o tratamento adequado (psicanalítico) está fadada a se repetir em seus sintomas ‘ad infinitum’, afirma que o psicanalista deve saber fazer algo que nenhum outro profissional ou pessoa terá condições de fazer. Este algo a ser feito depende de quem o faz, precisa ser feito no enfrentamento da neurose, e para isto é preciso que seja um psicanalista e refere-se diretamente à sua formação. E este deve estar capacitado a suportar o peso da repetição. E, o faz, através do manejo da transferência. 
A associação livre abre caminho para a investigação e para o tratamento psicanalíticos e coloca para o analista um novo horizonte a partir do qual poderá trabalhar e que diz respeito ao manejo da transferência. Para Freud, em seu texto Recordar, repetir e elaborar (1914), há uma relação estreita entre a compulsão à repetição e a transferência, afirmando uma estreita proximidade entre as duas: a transferência seria um fragmento da repetição e esta é uma transferência do passado, seja para o analista seja para diferentes aspectos da vida atual do paciente. 
Mas o que se repete? Seguindo Freud nos textos citados trata-se justamente de um processo inconsciente no qual o sujeito se sente compelido a repetir atos, ideias, pensamentos e sonhos que, na sua origem, foram geradores de sofrimento e ao serem repetidos não perdem esta conotação, mas também não é possível abandoná-los por força da vontade. E, como analistas, o que nos convoca a pensar, desde Freud, é justamente o caráter enigmático (ou sinistro) desta necessidade de repetição ao ser confrontada com o princípio de prazer. E é particularmente no texto de 1914, Recordar, repetir e elaborar que podemos ver explicitada umatrama que liga repetição e transferência, na medida em que coloca que a repetição é a forma de o paciente recordar, ainda que sob o signo da resistência, daquilo que lhe é mais difícil, dado que está ligado às conotações sexuais que não passam pelo crivo da censura e, portanto, não podem ser rememoradas. E, assim, será o manejo da transferência que permitirá que se transforme a compulsão à repetição num motivo para recordar: A transferência cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para outra é efetuada (Freud, 1914, p.201). 
 No entanto, transferência e repetição não são uma e mesma coisa, ainda que se refiram exatamente àquilo que está na visada principal do analista, a saber, o inconsciente. A primeira como uma técnica que serve de contrapeso ao que é próprio das formações inconscientes, a compulsão à repetição. E também está na visada do analista e da direção da análise trabalhar como isso pode ser “acolhido” na situação analítica de tal forma que, ao propiciar uma experiência abrandada de seus efeitos, aquilo que era um movimento repetitivo dê lugar a algo, se não radicalmente novo, pelo menos uma criação própria do sujeito na sua relação com seu inconsciente.
Transferência não é repetição e esta não aparece de um só jeito. Mas na transferência o lugar ocupado pelo analista revigora o status ficcional da transferência na medida em que, ao encarnar uma abertura, o analista remete o sujeito à sua própria errância, à suas infindáveis tentativas de criar algo a partir do nada, ou melhor, da falta – falta de sentido, falta de norte ou de rumo, que não se cansa de se repetir. A técnica que serve de contrapeso a esta exigência pulsional de repetição não exclui este movimento, mas permite que algo se produza, se crie nas movimentações possíveis a cada momento, para cada um e chega-se a um pouco de verdade.
 A descoberta do narcisismo
As primeiras considerações de Freud sobre o narcisismo surgem por volta de 1909, época da segunda edição dos Três Ensaios..., em cartas (junho de 1913) e no artigo sobreLeonardo da Vinci (1910). Mas é somente com o texto de 1914 que a discussão sobre as relações entre o eu e os objetos externos culmina numa diferenciação entre duas formas distintas de investimento libidinal: uma voltada para o próprio eu e outra voltada para os objetos. São desta mesma época também as indagações de Freud sobre a escolha da neurose e será em 1914 que afirmará o narcisismo como um conceito à parte, capaz de esclarecer uma forma de investimento libidinal que não diz respeito somente ao que podemos ver nas perversões, estendendo-se à totalidade do curso regular do desenvolvimento sexual humano, ou seja, passa a ser considerado como um estágio necessário entre o auto-erotismo e o amor objetal. Então, podemos situar o narcisismo como um conceito que auxilia tanto na compreensão da etiologia das neuroses, das psicoses e das perversões quanto na reformulação das noções anteriores sobre o curso dos investimentos libidinais.
 Os dois narcisismos: primário e secundário
É certo que, num primeiro momento das investigações psicanalíticas, o narcisismo surge associado às disposições patológicas, porém ao longo do tempo e dos progressos teóricos, o narcisismo encontrado nas disposições patológicas seria mais adequadamente explicado como um fenômeno posterior a um ‘narcisismo primário’, este sim etapa necessária no desenvolvimento da vida psíquica. A partir disto pode-se falar numa relação diferente entre esta nova acepção de narcisismo e a constituição do psiquismo, pois com o texto de 1914, há um primeiro abalo nas construções psicanalíticas no que diz respeito à clássica oposição entre pulsões sexuais e pulsões do eu.
Antes de formular esta sua teoria sobre o narcisismo, acreditava-se que os investimentos no eu eram tão somente relacionados às necessidades de auto-conservação, ficando reservada a libido para as relações objetais. Porém as investigações posteriores demonstraram que esta ‘libido do eu’ estava sendo ocultada por esta pressuposição. A importância destas formulações acerca do narcisismo concentra-se no fato de estar diretamente vinculado à própria constituição do eu, pois num primeiro momento – anterior ao descobrimento do narcisismo como etapa necessária na formação da vida psíquica – acreditava-se que as pulsões do eu eram exclusivamente não-sexuais e que o auto-erotismo, enquanto estágio inicial da sexualidade, não teria nenhuma finalidade de sobrevivência, assim como seria anterior à formação do eu como uma unidade. Reconhecer que há um investimento libidinal no eu leva à ideia de que estão presentes na constituição deste diferentes energias psíquicas e que a passagem do estado do auto-erotismo para o narcisismo se dá quando se acrescenta ao auto-erotismo o eu, ou seja, quando este último passa a ser o objeto de amor. Assim é que o narcisismo ganha o estatuto de primário, perde sua conotação patológica e passa a ser um elemento fundamental na constituição da vida psíquica.
Porém esta libido dirigida ao eu é a mesma energia que se dirige para os objetos, trata-se nos dois casos da manifestação da mesma pulsão sexual, só que agora compreendida como capaz de investir em diferentes objetos: o próprio eu e os objetos externos. O eu seria então constituído por esta energia, estaria investido, desde o princípio da sua constituição, de pulsões de auto-conservação e de pulsões sexuais, o que significa dizer que é um ‘reservatório’ destas pulsões: dele tanto partem quanto retornam os investimentos sexuais.
 O retorno e o represamento da libido no eu, num grau mais elevado, são experimentados como desagradáveis pelo sujeito, impelindo-o a ultrapassar os limites deste narcisismo e ligar-se a outros objetos – é assim que se processaria a transformação da libido narcísica em libido objetal ou, a passagem do narcisismo primário para a relação objetal propriamente dita. Portanto, o aparelho psíquico teria como tarefa elaborar as excitações para que não se tornem aflitivas, o que pode ocorrer tanto na sua relação com objetos reais quanto com imaginários.
Esta libido do eu, ou mais especificamente este narcisismo primário, é um conceito que ajudará na reformulação das disposições patológicas no tocante ao investimento do eu nele mesmo ou nos objetos, ou em outras palavras no modo como as relações do eu com os objetos ficam comprometidas quando há um retorno a um investimento no próprio eu que substitui o investimento objetal. Falar de narcisismo primário remete necessariamente à teoria da libido, podendo ser considerado como uma extensão desta última. 
Poderíamos assim considerar a palavra ‘retorno’ como tendo um duplo sentido: primeiro porque a libido desloca-se dos objetos para o próprio eu - se o seu destino natural e normal deve ser os objetos, a ideia de retorno tanto estaria ligada à noção de patologia (uma perversão, por exemplo) quanto de um caminhar para trás, retorno igual a movimento na direção contrária e esta conotação se referiria ao narcisismo secundário. Um segundo sentido tomaria a palavra retorno focalizando o eu não só como seu ponto de partida, mas como também alvo inicial (original) deste investimento, este seria o narcisismo primário. A distinção entre narcisismo primário e secundário está relacionada com a necessidade de se distinguir entre o que seria um investimento no eu com ou sem conotação patológica, assim como com questões referentes ao próprio estatuto destes conceitos ao longo da obra freudiana e de alguns de seus seguidores, mais especificamente no que diz respeito à demarcação de modos de investimentos no eu, anteriores ou posteriores ao estabelecimento de relações de objeto.
 No que concerne à primeira tópica, Freud adota uma concepção de narcisismo primário comportando uma dose de relação intersubjetiva, pois na medida em que o narcisismo dos pais é reavivado na relação com ‘sua majestade, o bebê’, pode-se afirmar que este narcisismo incipiente e contemporâneo da constituição do eu, não está situado nem nointerior da criança, nem no interior dos pais, exclusivamente. Ele seria mais bem definido neste momento da teoria freudiana como uma identificação (narcísica) com o objeto e, por parte dos pais, uma projeção de seu próprio narcisismo decaído.
Mas esta concepção não se mantém assim ao longo da obra freudiana - e mesmo os psicanalistas contemporâneos estão divididos quanto a esta questão – pois com a segunda tópica o narcisismo primário seria descrito como uma fase anobjetal, referindo-se a total ausência de intercâmbios com o meio e de indiferenciação entre o eu e o isso. Aqui, as analogias mais pertinentes a este estado da vida psíquica seriam a vida intra-uterina e o sono. 
A confluência destes dois fatores – a imagem unificada que a criança passa a ter do próprio corpo e a revivência do narcisismo dos pais incidindo sobre a criança – é que inaugura a constituição do Eu Ideal (Ideal Ich). É a imagem idealizada do eu, é a experiência de um eu real que tem exatamente os mesmos atributos que são percebidos pelos objetos de amor, no caso os pais.
Esta imagem unificada do próprio corpo tem o valor de passagem de um estado em que reinavam as pulsões parciais, para um estado mais organizado, que coincide com a constituição do eu enquanto entidade autônoma, e isto só se dá com a entrada no estágio do narcisismo, o narcisismo infantil que logo sofre um abalo, sua duração enquanto modo de ligação com os objetos é limitada e o fator principal de sua ‘queda’ provém do complexo de castração e também de outras situações que lhe são correlatas. A imagem idealizada de si mesmo não se mantém nos intercâmbios com o meio, a percepção de si como totalmente adequada ao desejo do outro e o objeto reconhecido na justa medida da identidade com o eu tem como destino, do ponto de vista psíquico, um refúgio, que ao mesmo tempo em que perpetua esta representação, desloca-a para o que vem a se chamar instância ideal.
  
 MÓDULO 7: PSICANÁLISE NA CLÍNICA - O TRABALHO ANALÍTICO : A psicanálise na clínica: a atitude frente à castração - neuroses, psicoses, perversões
Considerações sobre o objetivo e o final de uma análise
  
 Castração
Tanto quanto o complexo de Édipo é a representação psíquica de uma experiência, o complexo de castração também diz respeito a uma experiência psíquica vivida inconscientemente pela criança, por volta dos seus cinco anos de idade e que tem peso decisivo no tocante à identidade sexual, ou em outras palavras, à escolha de objeto de amor. É neste momento que a criança reconhece, tomada pela angústia, a diferença sexual, ou seja, que o mundo é composto por homens e mulheres e que o corpo tem seus limites e, para o menino, isto significa que, apesar de possuir o pênis, este não lhe permitirá realizar seus sonhos e desejos sexuais com sua mãe, pois até então vivia na ilusão da onipotência.
Apesar da ênfase atribuída à castração enquanto etapa da evolução da sexualidade infantil, é importante lembrar que sua relevância transcende o que seria uma significação cronológica, na medida em que é uma experiência re-vivida - inconscientemente - ao longo de toda a existência. A psicanálise - como prática clínica - é uma oportunidade para reativar esta experiência, possibilitando assim que, na vida adulta, retome-se o curso da vida sem desconsiderar os limites do corpo em relação à vastidão dos desejos, experiência vivida e sofrida desde tenra infância.
O complexo de castração para o menino assinala a saída do complexo de Édipo e a identificação com o pai (ou seu substituto) no núcleo do superego. A consequência da constatação da diferença sexual está relacionada à rememoração ou atualização de ameaça de castração - ouvida ou fantasiada - quando por ocasião de atividades masturbatórias e é o pai o agente desta ameaça.
O complexo de castração na menina passa-se de maneira distinta, pois é sob o efeito deste complexo que ela entrará no complexo de Édipo e se afastará da mãe, pois a esta última é atribuída a culpa pela privação do pênis. Afasta-se do objeto materno e orienta-se para o desejo do pênis paterno e de sua própria heterossexualidade.
Além da importância deste conceito para a clínica - no que diz respeito ao diagnóstico e à direção de um tratamento psicanalítico -, o complexo de castração tem sua implicação na ordem cultural e social na medida em que nele estão representadas, junto com o complexo de Édipo, questões sobre a instituição das leis e proibições que regulam as relações e organizações humanas.
 Neurose, psicose e perversão
 Neurose
Freud emprega o termo neurose para falar de uma doença nervosa, na qual os sintomas representam simbolicamente um conflito psíquico recalcado, de origem infantil e causa sexual. Em termos de uma classificação, designam-se os seguintes registros freudianos: neurose histérica, neurose obsessiva, neurose atual (neurose de angústia e neurastenia) e a psiconeurose (neurose de transferência e neurose narcísica).
A neurose advém como resultante de um mecanismo de defesa contra a angústia e de uma formação de compromisso, entre esta defesa e a possível realização de um desejo. Este desejo - e sua proibição - é aquele à que se refere o complexo de Édipo e o complexo de castração. Na neurose há um conflito entre o ego e o id, coexistindo, interna e inconscientemente, tanto impulsos que exigem satisfação quanto moções que levam em conta a realidade.
 
Psicose
Freud julgava a psicose quase sempre incurável e este era um dos motivos pelos quais não se dedicava ao seu tratamento. Definiu, inicialmente, em sua obra, a psicose como um distúrbio entre o ego e o mundo externo; no contexto da segunda tópica e com o desenvolvimento da teoria do narcisismo, a psicose foi explicada a partir da reconstrução de uma realidade alucinatória na qual o sujeito fica unicamente voltado para si mesmo, numa situação sexual auto-erótica em que toma literalmente o próprio corpo (ou parte deste) como objeto de amor (sem alteridade possível). Portanto aqui a castração, enquanto experiência psíquica, não pode ser experienciada.
 
Perversão
Tanto quanto na psicose, Freud caracterizou a perversão a partir de uma clivagem do ego, em que coabitam duas realidades distintas: a recusa e o reconhecimento da ausência do pênis na mulher. Assim, a perversão surge como renegação ou desmentido da castração, aliada à fixação da sexualidade infantil; trata-se dos efeitos sobre o sujeito da confrontação com a diferença sexual, existindo tanto no homem quanto na mulher.
 Considerações sobre o objetivo e o final de uma análise
Uma análise se inicia e se mantém ao longo do tempo quando e se aquele que a procura apresente uma queixa (ou mais de uma), é preciso que se mostre, enfim, queixoso  quanto ao sofrimento que seus sintomas lhe trazem e que aspire a algum tipo de mudança. Esta mudança, sonhada, mais ou menos explicitada nas entrevistas/consultas com um analista/terapeuta são, por força da tradição e das origens, quase sempre associadas à ideia de cura, ideia esta que está ligada ao modelo médico e do qual o analista terapeuta deve fazer um esforço constante no sentido de se diferenciar.
Entende-se que, para a psicanálise, os sintomas são a expressão de um conflito inconsciente, uma luta entre o ego e um sofrimento inconsciente, por isto qualquer noção de cura que carregue a expectativa de eliminação ou desaparecimento dos sintomas não se justifica numa perspectiva psicanalítica. Mas, como os sintomas são a forma encontrada pelos sujeitos de enfrentar algo que pareceria insuportável - a dor e o sofrimento inconscientes - será através da relação transferencial, em que o analista/terapeuta será incluído como testemunha deste sofrimento que se pode, psicanaliticamente falando, trabalhar para que as mudanças nas relações subjetivas com o mundo e consigo mesmo possam ocorrer.
Trabalha-se para dissipar a dor inconsciente, mas isto não pode ser feito pensando em eliminar sintomas, atitude mais relacionada a um “orgulho terapêutico” que acaba por privilegiar a figura do analista/terapeuta e seus sucessos ou fracassos. O objetivode uma análise pode ser pensado como Freud o colocou em termos de uma reorganização ou ampliação do ego em benefício do id, na medida em que a escuta analítica, através da relação transferencial, serve de palco para o jogo de forças pulsionais que não desaparecerão ao fim de uma análise, mas se poderá dizer de uma experiência mais abrandada de seus efeitos na vida dos sujeitos.
MÓDULO 8: PSICANÁLISE E SOCIEDADE - VIDA EM GRUPO / IDENTIFICAÇÃO / IDEAL DO EGO
A compreensão da vida em grupo a partir do referencial psicanalítico.
  
Psicanálise e Sociedade
Depois de Mais-além do princípio de prazer (1920), o texto que trata das relações entre psicanálise e sociedade - Psicologia das massas e Análise do ego (1921) - é um outro marco importante na reformulação teórica freudiana, conhecida como a segunda tópica. Trata-se de um texto que explora os caminhos que vão da compreensão do indivíduo para a da sociedade. 
Freud refutou em seu texto uma oposição categórica entre uma psicologia do indivíduo e uma psicologia social e, seu ponto de partida para isto, é o fato inegável de que todo indivíduo está sempre referido a um outro na constituição mesma de seu psiquismo, o que leva à conclusão que toda psicologia individual é, desde sempre, social, por causa deste laço inerente à própria constituição do humano, ainda que uma não se confunda com a outra, na medida em que os efeitos de um narcisismo sempre presente, em que não há lugar para a diferença ou para a alteridade, não deixam de existir enquanto possibilidades individuais que se diferenciam de atos sociais.
Quais são e como se definem as relações dos indivíduos com a massa, foram as questões que nortearam as investigações freudianas neste texto, pensando nas mudanças evidenciadas nos indivíduos quando estão sós e quando estão fazendo parte de uma organização que os transcende.
Freud associa os movimentos de massa a partir do que definiu em sua teorização sobre o psiquismo individual como a fonte energética das pulsões - a libido - e que é o que move as relações amorosas e que será concebido também como o que estará operando nos movimentos de massa, inclusive quanto à relação da massa com um líder. Neste aspecto, Freud irá diferenciar os agrupamentos sem e com líder, sendo estes últimos representados em seu texto pela igreja e pelo exército, instituições nas quais é possível identificar tanto as relações da massa com o líder, quanto as relações dos membros entre si, evidenciando estes laços como de natureza amorosa. 
No entanto será a relação - ou o investimento libidinal - com o líder uma espécie de protótipo das relações dos membros entre si e disto resulta um aspecto fundamental deste momento no pensamento freudiano, a saber, o desenvolvimento da teoria da identificação. De um lado tem-se a teorização de como a relação entre os membros se dá justamente pela identificação com o líder e, por outro lado, surge a distinção entre o ego e o ideal do ego (predecessor do superego). Os indivíduos têm no líder um objeto externo que ocupa o lugar de ideal do ego, assim como, identificam-se entre si por causa desta identificação ao líder, na qual a dimensão sexual seria sublimada.
Como este texto trata das relações entre o indivíduo e as organizações, não escapou à análise de muitos comentadores, as implicações do que Freud expõe com a própria institucionalização da psicanálise, dado que os psicanalistas não estão a salvo das mesmas vicissitudes pelas quais os indivíduos passam em seus embates mais ou menos conflituosos com as instituições.
 
Ego ideal e ideal do ego
As instâncias ego ideal e ideal do ego, tais como são conhecidas hoje em psicanálise, não se encontram de forma alguma claras e evidentes na obra de Freud. Remontam desde 1895 e desembocam na constituição do superego, porém a distinção clara entre estes dois conceitos só será proposta por sucedâneos do pensamento freudiano.
Apesar da não diferenciação no texto sobre o narcisismo (1914) entre as duas instâncias ideais - ego ideal e ideal do ego - é possível lá entrever a ideia de substituição do narcisismo como modo de ligação com os objetos pelo surgimento do ego ideal, que seria aquela imagem idealizada de si mesmo que se mantém inconscientemente no psiquismo. Através das trocas com o mundo, particularmente da relação da criança com a mãe e desta com outros, a criança percebe que a mãe deseja algo fora dela. Isto leva a uma experiência em que a criança é atingida e ferida em seu narcisismo primário, sentindo uma importante frustração no que diz respeito à sua necessidade de ser amada pelo outro de forma absoluta: para voltar a ter o amor total do outro é preciso corresponder àquilo que o preencheria de tal forma que não precisaria amar outros. O ego bastaria e isto seria chegar à perfeição narcísica, esta corresponderia ao ego ideal.
Porém o desenvolvimento do ego só se dará a partir de um distanciamento do narcisismo primário e do estabelecimento de relações objetais; para se chegar a este seu objetivo é preciso que aquele desejo totalizante de ser amado leve em conta, por sua vez, as representações e os imperativos culturais, sociais e éticos que são transmitidos pelas figuras parentais e que funcionam como mediadores, representantes externos, constituídos pelo discurso dos pais. Ao assumir de uma certa forma como seus os valores e ideais que fariam parte de uma suposta demanda do outro e do desejo de satisfazê-la, inaugura o surgimento de uma outra instância ideal, o ideal do ego, que comporta uma imagem do objeto e uma imagem do eu, mantendo sua relação com a libido.
Na constituição do ego há, portanto, elementos tanto do ego ideal quanto do ideal do ego, devido a um deslocamento da libido em relação ao narcisismo primário, a partir do momento em que algo é imposto de fora - este ‘fora’ aqui se refere a fora do imaginário, refere-se à passagem da imagem para a ideia, mediada pela linguagem. 
 
Sobre a identificação
Uma teoria da identificação, tal como a encontramos em Freud, é um esforço conceitual para se compreender as formações inconscientes constitutivas da vida do sujeito, os conflitos que podem advir desta sua condição e em que situações estas identificações podem desempenhar um papel patológico.
No início de ‘A Identificação’ já encontramos uma referência a esta operação como um mecanismo que marca os primeiros passos da vida afetiva de um sujeito, ela é um modo de pensamento constituinte da vida psíquica e há uma importância particular no fato de estar relacionada ao complexo de Édipo. A ênfase das investigações deve recair mais sobre os modos como ela se processa nas diferentes formações psíquicas, sem se prender na busca de suas causas.
A identificação da qual se trata em psicanálise refere-se à situação em que o sujeito confunde-se com outra pessoa, mas esta confusão não é percebida conscientemente pelo sujeito, na medida em que não tem o mesmo caráter de uma imitação ou de um disfarce. Nestes casos - da imitação ou do disfarce - sabe-se que se parece com um outro, mas isto não se confunde com o que se é. No caso da identificação propriamente dita - inconsciente - há um completo desconhecimento por parte do sujeito de que se atribuiu características de outro(s).
Estamos falando sobre as identificações de modo bastante generalizado, no entanto, existem algumas nuances que lhe são próprias, como por exemplo, se estão referidas a identificações com objetos ou com traços destes e que dizem respeito a modos diferenciados de se estabelecer laços afetivos ao longo do desenvolvimento da vida psíquica. 
 No desenvolvimento do conceito de identificação dentro da teoria psicanalítica, desde Freud até seus sucessores, distinguem-se principalmente três tipos de identificação, a histérica, a primária e a secundária. A identificação histérica, a primeira a ser delineada, é aquela que se encontra mais visível no sintoma, isto porque através das manifestações histéricas exprime-se o elemento inconsciente a partir do qual ocorreu a identificação e o sintoma funciona como uma defesa contra os impulsose fantasias sexuais que lhes são correlatos.
A identificação primária é aquela que antecede, em termos de estruturação do psiquismo, o estabelecimento de relações de objeto, e está relacionada aos primeiros investimentos no objeto, do qual o sujeito se torna dependente. Ela está estreitamente ligada à fase oral de incorporação, realçando aí a não diferenciação entre sujeito e objeto. Assim como no narcisismo primário, também cabe aqui ressaltar que é difícil conceber tal modo de ligação como totalmente indiferenciado ou anobjetal, mesmo sendo um momento em que não é possível para o sujeito conceber que o objeto exista independentemente dele.
Todas as outras identificações que se sobrepõem a esta identificação primária e têm sua ocorrência posterior ao estabelecimento de uma relação objetal, são chamadas identificações secundárias. O que as diferencia radicalmente é o fato de que na identificação primária ocorre uma modalidade de ligação com o objeto que supõe uma total alienação do sujeito neste, de tal forma que a imagem de um deveria ilusoriamente corresponder à imagem do outro. Na identificação secundária este tipo de ligação é abandonado a partir das trocas com o meio, nas quais o sujeito substitui a identificação e o desejo de posse do objeto pela identificação com alguns traços do objeto, que vão formando sua personalidade.
 
Um dos aspectos mais importantes das identificações, que se manifesta essencialmente pelo desejo de ser como o objeto, é a ambivalência. Há tanto intensos sentimentos de amor e admiração pelo objeto, que convergem para um ou outro traço deste, quanto há desde o princípio uma boa dose de agressividade, na medida em que, em certo sentido, identificar-se com alguém ou com algo significa querer incorporar em si mesmo este alguém ou algo, portanto destruí-lo ou despojá-lo de seu lugar. Nos primórdios do desenvolvimento psíquico, naquilo que é denominado sua fase oral, as identificações são precedidas por este desejo de incorporação, que é reconhecido como o protótipo primitivo das identificações.
O palco onde estas representações mostram-se evidentes é o das relações interpessoais, em que o sujeito ao identificar-se com um objeto desaparece sob a ‘sombra’ deste, mas sem que possa, conscientemente, aperceber-se disto. 
A fase ou momento das primeiras identificações marca o início de um processo que transcorrerá ao longo de toda a vida, e que também estará ligado à formação dos sintomas, através das sucessivas identificações que vão sendo substituídas ao longo do tempo com maior ou menor êxito; como situação exemplar teríamos a própria formação e resolução do complexo de Édipo.
Neste processo, as identificações vão se sucedendo, elas mesmas não se mantêm, mas algum traço é mantido e quase poderíamos dizer que se trata de um jogo, onde se alternam momentos em que ocorrem as identificações e momentos em que algumas se desfazem e, ao se desfazerem, vão dando origem à própria constituição do ego.

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