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Crime e Desvio 
A sociologia do desvio 205 
Abordagens do crime e do desvio 207 
Explicações biológicas: os "tipos criminais" 207 
Explicações psicológicas: os "estados mentais anormais" 208 
Teorias sociológicas sobre o crime e o desvio 209 
As teorias funcionalistas 209 
As teorias interaccionistas 211 
As teorias do conflito: "a nova criminologia" 214 
As teorias do controlo social 217 
Conclusões teóricas 218 
Padrões do crime no reino unido 218 
O crime e as estatísticas criminais 219 
Estratégias de redução do crime na sociedade do risco 222 
Políticas para enfrentar o crime 223 
O policiamento na sociedade do risco 224 
O Policiamento comunitário 225 
As vítimas e o s perpetradores do crime 226 
Género e crime 226 
Crimes contra homossexuais 230 
A juventude e o crime 231 
O crime do colarinho branco 233 
Crime organizado 235 
A mudança de rosto do crime organizado 236 
O "cibercrime" 236 
As prisões serão uma resposta adequada ao crime? 239 
Conclusão: crime, desvio e ordem social 240 
Sumário 241 
Questões para reflexão 243 
Leituras adicionais 243 
Ligações à Internet 243 
Capítulo 8: Crime e Desvio 
Toda a gente sabe, ou pensa que sabe, quem são os 
indivíduos desviantes - pessoas que se recusam a 
viver de acordo com as regras pelas quais se rege a 
maioria. São criminosos violentos, drogados ou mar-
ginais, gente que não se encaixa no que a maior parte 
das pessoas define como padrões normais de com-
portamento aceitável. Contudo, as coisas não são 
exactamente o que parecem - uma lição que se apren-
de com frequência em Sociologia, porque esta nos 
incentiva a olhar para além do óbvio. A noção de 
indivíduo desviante não é exactamente fácil de defi-
nir, e entre crime e desvio não existe uma relação 
linear. 
Kevin Mitnick tem sido descrito como o "mais 
famoso pirata informático do mundo". Talvez seja 
justo dizer que este californiano com trinta e seis 
anos de idade é reverenciado e desprezado em igual 
medida. Para os 100.000 piratas informáticos que se 
pensa existirem no mundo, Mitnick é um génio pio-
neiro, cuja condenação a cinco anos de reclusão 
numa penitenciária norte-americana foi considerada 
injusta e injustificada - uma prova concreta de como 
a actividade de pirata informático se tornou mal inter-
pretada com a expansão das tecnologias de informa-
ção. Para as autoridades norte-americanas e as gran-
des empresas de tecnologia de ponta - como a Sun 
Microsystems, a Motorola ou a Nokia - Mitnick é um 
dos homens mais perigosos do planeta. Foi capturado 
pelo FBI em 1995, e mais tanle condenado por ter 
capturado códigos de origem e por ter roubado soft-
ware destas e doutras companhias que alegadamente 
valia milhões de dólares. Como condição para sair da 
prisão, em Janeiro de 2000, Mitnick foi proibido de 
usar computadores e de falar publicamente sobre 
temas tecnológicos. 
Ao longo da última década os piratas informáticos 
foram a pouco e pouco transformados de um grupo 
pouco conhecido de entusiastas dos computadores 
num grupo maligno de desviantes considerados uma 
ameaça à própria estabilidade da era da informação. 
Em Fevereiro de 2000, a distribuição de ordens de 
denegação de acesso a importantes páginas web de 
comércio electrónico provocou uma espécie de "his-
teria antipirataria informática" nos meios de comuni-
cação, no mundo empresarial e nas agências de segu-
rança internacional. Alguns dos sítios da Internet 
mais visitados - como o Yahoo, o Bay.com, e o Ama-
zon.com - tiveram de parar por algumas horas, 
enquanto os seus servidores eram bombardeados com 
milhões de solicitações de informações falsas prove-
nientes de computadores de todo o mundo. Antes que 
algum dos envolvidos nos "raids online" fosse detido 
os dedos acusadores foram apontados aos "piratas 
informáticos" - retratados como uma população 
sombria de "inadaptados sociais", gente jovem 
(sobretudo homens) que evita o contacto com outros 
seres humanos criando vidas alternativas para si pró-
prios ao abrigo do anonimato proporcionado pelos 
nomes de usuário electrónico. 
Contudo, para Mitnick e outros membros desta 
comunidade tais representações patológicas não 
podiam estar mais longe da verdade. "Pirata informá-
tico é um nome que implica honra e respeito", diz Mit-
nick num artigo escrito pouco tempo depois da sua 
saída da prisão. "É um nome que descreve uma com-
petência, não uma actividade, da mesma forma que o 
de médico descreve uma competência. O nome foi 
usado durante décadas para descrever o talento de 
alguns entusiastas dos computadores, pessoas cuja 
competência para usar computadores e resolver pro-
blemas técnicos e puzzles era - e ainda é - respeitada 
e admirada por outros que também possuem capacida-
des técnicas similares" (Mitnick, 2000). Os piratas 
informáticos não perdem tempo a assinalar que as suas 
actividades não são criminosas. Pelo contrário, o seu 
principal interesse reside na exploração dos limites da 
tecnologia informática, tentando desmontar as suas 
falhas e descobrir até onde é possível chegar na pene-
tração de outros sistemas informáticos. Uma vez des-
cobertas as falhas a "ética hacker" ordena que estas 
sejam publicitadas. Muitos piratas informáticos já 
foram inclusivamente consultores de grandes empre-
sas e agências governamentais, ajudando-os na defesa 
dos seus sistemas contra a intrusão vinda do exterior. 
C R I M E E D E S V I O 2 0 5 
Os piratas informáticos acreditam que têm sido 
injustamente diabolizados nos últimos anos, à medi-
da que o nome hacker tem sido aplicado de forma 
geral e incorrecta a um número crescente de vândalos 
informáticos que destroem sítios na Internet, levam a 
cabo crimes online, ou lançam ataques massivos de 
denegação de acesso. O espectacular roubo online de 
12 biliões de dólares, das contas do Citibank em 
1992, e o recente roubo de 300.000 números de car-
tões de crédito do sítio CD Universe são crimes que 
foram atribuídos à comunidade hacker contra a sua 
própria vontade. Também têm sido identificados 
como piratas informáticos o número crescente de 
"script kiddies" - adolescentes que se mascaram com 
a identidade online de outras pessoas, e que semeiam 
a confusão na Internet, interferindo na correspondên-
cia electrónica privada. Os hackers (piratas informá-
ticos) como Mitnick não se vêem a si próprios na 
mesma categoria daqueles cuja única intenção é cau-
sar danos. Como afirmou Mitnick aos meios de 
comunicação norte-americanos depois da sua saída 
da prisão: "Via-me como alguém que dá uma volta 
num carro alheio. Não me considero um ladrão". 
Como observámos nos capítulos anteriores, a vida 
social humana é governada por normas e regras. As 
nossas actividades desmoronar-se-iam se não cum-
príssemos as regras que definem certos tipos de com-
portamento como correctos em determinados contex-
tos e outros como inapropriados. Quando se começa 
a estudar o comportamento desviante, é necessário 
ter em conta as regras que as pessoas respeitam e 
aquelas a que desobedecem. Ninguém quebra todas 
as regras, assim como ninguém as respeita todas. 
Criamos e quebramos regras. Mesmo indivíduos que 
podem parecer estar totalmente à margem da socie-
dade respeitável - como os hackers informáticos, fre-
quentemente considerados uns vilões - seguem pro-
vavelmente as regras dos grupos a que pertencem. Os 
piratas informáticos, por exemplo, vêem-se a si pró-
prios como parte de uma comunidade maior compro-
metida com determinados princípio colectivos e com 
um código de honra. Aqueles que se desviam dos 
códigos estritos de conduta - como os "crackers" 
(vândalos) - podem ser expulsos da comunidade. 
O estudo do comportamento desviante é uma das 
áreas mais intrigantes e complexas da Sociologia, 
ensinando-nos que ninguém é tão normal quanto 
gosta de pensar que o é. 
Ajuda-nos igualmente a perceber que aquelas pes-
soas, cujo comportamento pode parecer estranho ou 
incompreensível, podem ser vistas como seres racio-
nais quando compreendemos porque agem desse 
modo. 
A sociologiado desvio 
Podemos definir o desvio como o que não está em 
conformidade com determinado conjunto de normas 
aceite por um número significativo de pessoas de 
uma comunidade ou sociedade. Como já foi enfatiza-
do, nenhuma sociedade pode ser dividida de um 
modo linear entre os que se desviam das normas 
e aqueles que estão em conformidade com elas. 
A maior parte das pessoas transgride, em certas oca-
siões, regras de comportamento geralmente aceites. 
Quase toda a gente, por exemplo, já cometeu em 
determinada altura actos menores de roubo, como 
levar alguma coisa de uma loja sem pagar ou apro-
priar-se de pequenos objectos do emprego - como 
papel de correspondência - e dar-lhe uso privado. 
A dada altura das nossas vidas podemos ter excedido 
o limite de velocidade, feito chamadas telefónicas de 
brincadeira, ou fumado marijuana. 
Desvio e crime não são sinónimos, embora muitas 
vezes se sobreponham. O âmbito do conceito de des-
vio é muito mais vasto do que o do conceito de 
crime, que se refere apenas à conduta inconformista 
que viola uma lei. Muitas formas de comportamento 
desviante não são sancionadas pela lei. Sendo assim, 
os estudos sobre desvio podem examinar fenómenos 
tão diversos como os naturalistas (nudistas), a cultu-
ra "rave" ou os viajantes "New Age". 
O conceito de desvio pode aplicar-se tanto ao 
comportamento do indivíduo, como às actividades 
dos grupos. O culto de Hare Krishna, um grupo reli-
gioso cujas crenças e forma de vida são bem diferen-
tes das da maioria das pessoas que vivem no Reino 
Unido, é um exemplo ilustrativo deste facto. O culto 
estabeleceu-se nos anos 60, quando Sril Prabhupada 
chegou da índia para difundir a palavra de Krishna no 
Ocidente. Dirigia a sua mensagem particularmente 
2 0 6 C R I M E E OESVIO 
i 
+ 
\ 
\ 
Este praticante de saltos tem um comportamento 
desviante? 
E este veste-se de modo "não*cor>vencionaT? • 
aos jovens consumidores de drogas, pregando que 
uma pessoa podia "estar sempre na maior, descobrin-
do o êxtase eterno", se seguisse os seus ensinamen-
tos. Os Hare Krisna tornaram-se conhecidos, dançan-
do e cantando nas ruas, aeroportos e outros locais. 
Eram vistos de forma tolerante pela maior parte da 
população, ainda que as suas crenças parecessem 
excêntricas. 
Os Hare Krishna representam um exemplo de 
uma subcul tura desviante. Embora os seus mem-
bros sejam hoje em menor número, têm sobrevivido 
facilmente na sociedade englobante. A organização é 
rica, sendo financiada através de donativos feitos 
pelos seus membros e simpatizantes. A sua posição 
diverge da posição de uma outra subcultura que pode 
ser aqui referida em contraste: a dos sem-abrigo per-
manentes. São pessoas que vivem nas ruas, passan-
do a maior parte do tempo em parques ou edifícios 
públicos (como bibliotecas), dormindo na rua ou 
refugiando-se em abrigos. A maioria dos sem-abrigo 
mantém a custo uma existência difícil nas margens 
da sociedade. 
Há duas disciplinas relacionadas, mas distintas, 
que estão envolvidas no estudo do crime e do desvio. 
A Criminologia trata das formas de comportamento 
sancionadas pela lei. Os criminologistas estão fre-
quentemente interessados nas técnicas que permitem 
medir o crime, nas tendências dos índices criminais, 
e nas políticas conduzidas com o intuito de reduzir o 
crime no seio das comunidades. A sociologia do des-
vio interessa-se pela pesquisa criminológica, mas 
também investiga a conduta que está fora do âmbito 
do direito penai. Os sociólogos que estudam o com-
portamento desviante procuram entender porque é 
que determinados comportamentos são vistos como 
desviantes, e como varia a aplicação da noção de des-
C R I M E E D E S V I O 2 0 7 
Normas e s a n ç õ e s 
De um modo gerai seguimos determinadas normas 
sociais porque, em virtude da socialização, estamos 
habituados a fazê-lo. Todas as normas sociais são 
acompanhadas por sanções que promovem a conter* 
midade e castigam a não conformidade. Chamamos 
sanção a qualquer reacção por parte dos outros em 
relação ao comportamento de um individuo ou grupo, 
a fim de assegurar que determinada norma seja cum-
prida. As sanções podem ser positivas (ofertas de 
recompensa no caso de conformidade) ou negativas 
(punição por comportamento inapropriado). 
As sanções podem ser divididas em formais ou 
informais. Uma sanção formal existe quando há um 
grupo definido de pessoas ou um agente encarre-
gado de assegurar que um conjunto particular de 
normas é seguido. Nas sociedades modernas, os 
principais tipos de sanção formal são os que fazem 
parte do sistema de punição representado pelos tri-
bunais e a s prisões. As leis são sanções formais 
definidas pelos governos como regras ou princípios 
que os seus cidadãos têm de seguir; são usadas 
contra as pessoas que não se conformam com 
estes mesmos princípios. 
As sanções informais são reacções menos orga-
nizadas e mais espontâneas em relação à inconfor-
midade, como sucede quando colegas de escola 
acusam na brincadeira um deles de estudar de 
mais e ser um "marrão", quando este decide passar 
a noite a estudar em vez de ir a uma festa. O san-
cionamento informal também pode ocorrer quando, 
por exemplo, um indivíduo faz um comentário sexis-
ta ou racista e é confrontado pelos amigos e cole-
gas de trabalho com respostas que não aprovam o 
seu comentário. 
vio a pessoas diferentes no interior de uma mesma 
sociedade. 
Por isso, o estudo do desvio dirige a nossa atenção 
para o poder social, bem como para a influência da 
classe social - as divisões entre ricos e pobres. Quan-
do olhamos para o desvio ou para a conformidade 
com as normas ou regras sociais, temos sempre de ter 
presente a questão: «quem dita as regras?». Como 
veremos, as normas sociais são fortemente influen-
ciadas pelas divisões de classe e de poder. 
Abordagens do crime e do desvio 
Em contraste com outras áreas da sociologia, nas 
quais uma perspectiva teórica particular foi emergin-
do com o tempo e tomando-se proeminente, no estu-
do do desvio muitos contributos teóricos continuam a 
ser relevantes. Depois de uma breve apresentação das 
explicações biológica e psicológica, iremos voltar às 
quatro abordagens sociológicas que continuam a 
influenciar a sociologia do desvio: as teorias funcio-
nalistas, o interaccionismo simbólico, as teorias do 
conflito e as teorias do controlo social. 
Expl icações b iológicas : kkos t ipos c r i m i n a i s " 
Algumas das primeiras tentativas de explicar o delito 
tiveram, essencialmente, um carácter biológico. Con-
sideravam que os indivíduos possuíam traços inatos 
que seriam a fonte do crime e do desvio. O crimino-
logista italiano Cesare Lombroso, que trabalhou nos 
anos setenta do século passado, acreditava que 
podiam ser identificados tipos de criminosos por 
meio de determinados traços anatómicos. Este autor 
investigou a aparência e as características físicas de 
criminosos, como a forma do cérebro e da testa, o 
tamanho dos maxilares e o dos braços, concluindo 
que apresentavam traços que remontavam aos pri-
meiros estádios da evolução humana. Embora acei-
tasse que a aprendizagem social podia influenciar 
o desenvolvimento do comportamento criminoso, 
Lombroso considerava que a maioria dos criminosos 
eram seres biologicamente degenerados ou patológi-
cos. Como ainda não se tinham desenvolvido inteira-
mente como seres humanos, tendiam a agir através de 
formas que não estavam em conformidade com as da 
sociedade humana. As teorias deste autor foram com-
2 0 8 C R I M E E OESVIO 
C. I.NIM0W — L'Jt»mm ÍHvímí. Pw n. 
- v. »t̂am*. T». x-Vt- frnirti i yipMm. 
fl(. L-MMU atmcn 
BH-
Tipos criminais, tais como foram apresentados por Cesa-
re Lombroso (1836-1909) no seu livro LHomrrte Criminei: 
um ladrão de Nápoles, um falsário do Piemonte» Boggia, 
o assassino, Cartouche, cuia tendência criminosa não é 
especificada, a mulher de um brigão e um envenenaòor. 
pletamente desacreditadas, mas perspectivas seme-
lhantes têm sido adoptadas repetidas vezes. 
Umateoria posterior distinguiu três tipos de cons-
tituição física humana, afirmando que um deles esta-
va directamente associado à delinquência. Segundo 
esta teoria, os indivíduos musculados e enérgicos 
(mesomorfos) são mais agressivos e propensos ao 
contacto físico e, por isso, têm mais probabilidade de 
se tornarem delinquentes do que os magros (ecto• 
morfos) ou gente mais carnuda (<endomorfos) (Shel-
don, 1949; Glueck e Glueck, 1956). Esta teoria foi 
também alvo de amplas críticas. Ainda que houvesse 
uma relação global entre o tipo de constituição física 
e a delinquência, tal não provaria nada acerca da 
influência da hereditariedade. Pessoas com uma com-
pleição física musculosa podem sentir-se atraídas por 
actividades criminosas, na medida em que estas per* 
mitem exibir o seu poder físico. Além disso, quase 
todos os estudos neste campo têm sido feitos a delin-
quentes internados em reformatórios, e pode suceder 
que os delinquentes mais fortes e atléticos apresen-
tem maior propensão ao internamento nestas institui-
ções do que os delinquentes de aparência mais frágil. 
Alguns indivíduos poderiam ter inclinação para a 
irritabilidade e a agressividade, o que se poderia 
reflectir em crimes de agressão física a terceiros. 
Todavia, não existem provas conclusivas de que 
qualquer traço de personalidade seja herdado desta 
forma e, ainda que o fosse, a sua relação com a cri-
minalidade parece, no mínimo, bastante distante. 
Expl icações ps icológicas: 
os " e s t a d o s m e n t a i s anormais 4 * 
Tal como as interpretações biológicas, as teorias psi* 
cológicas sobre o crime e o desvio incidem sobre o 
indivíduo, e não sobre a sociedade. Contudo, enquan-
to as abordagens biológicas associam determinadas 
características físicas a uma maior predisposição 
individual para o delito, as perspectivas psicológicas 
concentram-se nos tipos de personalidade. 
Muita da pesquisa criminológica inicial foi levada 
a cabo em prisões e outras instituições, como os asi-
los, onde as ideias psiquiátricas tinham bastante 
influência. Eram enfatizadas determinadas caracterís-
ticas dos criminosos - incluindo a 'debilidade men-
tal' e a 'degeneração moral*. Hans Eysenck (1964) 
sugeriu que os estados mentais anormais eram herda-
dos; estes poderiam predispor o indivíduo a cometer 
actos criminosos ou a criar problemas no processo de 
socialização. 
Alguns autores sugeriram que uma minoria de 
pessoas desenvolve uma personalidade amoral ou 
psicopática. Os psicopatas são introvertidos, perso-
nagens sem emoções que agem impulsivamente e 
raramente experienciam sentimentos de culpa. 
Alguns psicopatas satisfazem-se com a violência 
como um fim em si. É verdade que indivíduos com 
características psicopáticas cometem, por vezes, cri-
C R I M E E D E S V I O 2 0 9 
mes violentos, mas o conceito de psicopatia coloca 
problemas graves. Não é de todo claro que traços de 
personalidade psicopata sejam inevitavelmente cri-
minais. Praticamente, todos os estudos sobre pessoas 
que têm supostamente estas características foram fei-
tos sobre presidiários condenados, e as suas persona-
lidades tendem inevitavelmente a ser apresentadas de 
uma forma negativa. Se descrevermos os mesmos 
traços de uma forma positiva, o tipo de personalida-
de surge bastante diferente e não parece existir qual-
quer razão especial para que indivíduos deste tipo 
sejam inerentemente criminosos. 
As teorias psicológicas da criminalidade podem, 
na melhor das hipóteses, explicar apenas certos 
aspectos do crime. Embora alguns criminosos pos-
sam ter características de personalidade diferentes do 
resto da população, é altamente improvável que isto 
se verifique com a maioria dos criminosos. Há crimes 
de todo o tipo e não é plausível supor que aqueles que 
os cometem partilham algumas características psico-
lógicas específicas. 
Tanto a abordagem biológica e a psicológica à cri-
minalidade pressupõem que o desvio é um sinal de 
que algo de 'errado' se passa com o indivíduo, em 
vez de se passar algo na sociedade. Vêem o crime 
como sendo causado por factores fora do controlo do 
indivíduo, encrostados no seu corpo ou na sua mente. 
Sendo assim, se a criminologia científica pudesse 
identificar com êxito as causas do crime, estas possi-
velmente poderiam ser tratadas. No que diz respeito 
às teorias do crimes desenvolvidas pela biologia e 
pela psicologia, elas são na sua natureza positivistas. 
Como vimos na apresentação de Comte, no capítulo 
1, o positivismo é a crença na aplicação dos métodos 
científicos ao estudo do mundo social de modo a 
poderem ser reveladas as suas verdades essenciais. 
No caso da criminologia positivista, esta foi conduzi-
da com base na crença de que a pesquisa empírica 
podia apontar as causas do crime, e por consequência 
fazer recomendações sobre a melhor forma de erradi-
car estas mesmas causas. 
Teorias sociológicas sobre o crime 
e o desvio 
A criminologia positivista foi alvo de muitas criticas 
pelas gerações posteriores de académicos. Estes 
argumentam que uma explicação satisfatória do 
crime deve ser sociológica, já que o que se entende 
por crime depende das instituições sociais de uma 
determinada sociedade. Ao longo do tempo a ênfase 
foi sendo deslocada de teorias individualistas do deli-
to para teorias que acentuam o papel do contexto cul-
tural e social em que o mesmo ocorre. 
As t eo r i a s f unc iona l i s t a s 
As teorias funcionalistas vêem o crime e o desvio 
como o resultado de tensões estruturais e da ausência 
de regulação moral no seio da sociedade. Se as aspi-
rações dos indivíduos e dos grupos sociais não coin-
cidirem com as recompensas disponíveis, esta dispa-
ridade entre os desejos e a sua realização far-se-á sen-
tir nas motivações desviantes de alguns dos membros 
desta mesma sociedade. 
Crime e anomia: Durkheim e Merton 
Tal como foi referido no Capítulo 1, a noção de ano-
mia foi originalmente introduzida por Émile Dur-
kheim, um dos fundadores da Sociologia, que sugeria 
que nas sociedades modernas as normas e os mode-
los tradicionais desaparecem sem serem substituídos 
por outros novos. A anomia dá-se quando não há 
modelos claros de comportamento a seguir numa 
determinada área da vida social. Nestas circunstân-
cias, acreditava Durkheim, as pessoas sentem-se 
desorientadas e ansiosas; a anomia é, por conseguin-
te, um dos factores que influenciam a tendência para 
o suicídio. 
Durkheim via o crime e o desvio como factos 
sociais. Este autor acreditava que ambos eram ele-
mentos inevitáveis e essenciais das sociedades 
modernas. De acordo com Durkheim, as pessoas no 
mundo moderno sentem-se menos coagidas do que 
nas sociedades tradicionais. Por esta razão existe 
mais margem de manobra para a liberdade de escolha 
nas sociedades modernas, tomando-se assim inevitá-
vel que exista algum inconformismo. Durkheim pen-
sava que nenhuma sociedade conseguiria atingir um 
consenso completo sobre as normas e os valores que 
a governam. 
O desvio é algo necessário para a sociedade, de 
acordo com Durkheim, porque desempenha duas fun-
ções importantes. Em primeiro lugar, o desvio tem 
uma função adaptativa. O desvio é uma força inova-
2 1 0 C R I M E E OESVIO 
Robert K. Merton: ambições e recompensas 
Merton vé o desvio como uma reposta natural dos 
indivíduos à s situações em que se encontram. Iden-
tifica cinco reacções possíveis à s tensões entre o s 
valores socialmente aprovados e o s meios limitados 
de os alcançar: 
• Os conformistas aceitam tanto os valores geral* 
mente mantidos, como os meios convencionais 
de o s tentar realizar, sem se importarem se têm 
sucesso ou não. A maioria da população perten-
ce a es ta categoria. 
• Os inovadores s ão aqueles que aceitam igual* 
mente o s valores aprovados socialmente, embo-
ra usem meios ilegítimos e ilegais para o s tentar 
atingir. Os criminosos que adquirem riqueza 
através de actividades ilegais são exemplo 
deste tipo de resposta. 
• Os rítuatistas vivem em conformidade com os 
modelos socialmenteaceites, embora tenham 
dora, que impulsiona a mudança através da introdu-
ção de novas ideias e desafios na sociedade. Em 
segundo lugar, o desvio promove a manutenção de 
limites entre comportamentos 'maus ' e 'bons' na 
sociedade. Um acto criminoso pode provocar uma 
resposta colectiva que irá reforçar a solidariedade do 
grupo e clarificar as normas sociais. Por exemplo, os 
residentes de um dado bairro, em face de um proble-
ma relacionado com traficantes de droga, podem jun-
tar-se depois de um tiroteio relacionado com a droga, 
e comprometerem-se eles próprios em manterem a 
área livre da droga. 
As ideias de Durkheim sobre o crime e o desvio 
influenciaram a mudança de perspectiva das explica-
ções individualistas para as forças sociais. A sua 
noção de anomia foi recuperada pelo sociólogo ame-
ricano Robert K. Merton, que construiu uma teoria do 
desvio extremamente influente, que localizava a 
fonte do crime no interior da estrutura da sociedade 
americana (1957). 
Merton modificou o conceito de anomia para se 
referir à tensão a que o comportamento dos indiví-
perdido de vista o s valores que estão na sua 
base. As regras são seguidas por si só, de modo 
compulsivo, sem um objectivo mais amplo em 
vista. Um rítualista será alguém que se dedica a 
um emprego enfadonho, mesmo que pouco 
compensador e sem perspectivas de carreira. 
• Os retirados s ão pessoas que abandonaram por 
completo a perspectiva competitiva, rejeitando 
assim os valores dominantes e o s meios apro* 
vados de os alcançar Estes indivíduos colocam-
•se em grande medida "à margem da socieda-
de". Os membros de uma comuna auto-susten-
tada são exemplo desta reacção. 
m Os rebeldes são os indivíduos que rejeitam 
tanto o s valores existentes como os meios nor-
mativos para os alcançar, mas desejam activa* 
mente substituí-los por outros novos e recons-
truir o sistema social. Os membros de grupos 
políticos radicais fazem parte desta categoria. 
duos é sujeito quando as normas aceites entram em 
conflito com a realidade social. Na sociedade ame-
ricana - e, até certo ponto, noutras sociedades 
modernas ocidentais - os valores em geral aceites 
enfatizam o valor do sucesso material. As formas de 
atingir este sucesso são supostamente a autodisci-
plina e o trabalho árduo. De acordo com esta con-
vicção, as pessoas que realmente trabalham com 
esforço podem ser bem sucedidas na vida, seja qual 
for o seu ponto de partida. Na verdade, isto não é 
válido, pois a maioria dos desfavorecidos tem muito 
poucas, ou nenhumas, oportunidades de melhorar 
consideravelmente de vida. Contudo, aqueles que 
não têm "sucesso" sentem-se condenados pela sua 
aparente incapacidade para alcançar progressos 
materiais. Nesta situação, existe uma grande pres-
são para "subir na vida" seja como for, de modo 
legítimo ou não. Segundo Merton, o desvio é , então, 
uma consequência das desigualdades económicas e 
da ausência de iguais oportunidades. 
Os escritos de Merton ocupavam-se de um dos 
grandes enigmas do estudo da criminologia: porque é 
C R I M E E D E S V I O 2 1 1 
que os índices do crime continuam a subir no mo-
mento em que a sociedade se torna mais abastada? 
Ao enfatizar o contraste entre os desejos crescentes e 
as desigualdades persistentes, Merton aponta o senti-
mento de privação relativa como um elemento 
importante do comportamento desviante. 
A teoria dos grupos subculturais 
Autores posteriores associaram o desvio a grupos 
subculturais que adoptavam normas que encorajavam 
ou recompensavam comportamentos delituosos. Tal 
como Merton, Albert Cohen entendia que a causa 
principal do crime se encontrava nas contradições no 
seio da sociedade americana. No entanto, enquanto 
Merton colocava a ênfase nos comportamentos des-
viantes individuais como respostas à tensão gerada 
entre valores a atingir e meios disponíveis, Cohen 
sugeriu que estas respostas ocorriam colectivamente 
através de subculturas. Na obra Delinquent Boys 
(1955), Cohen argumenta que os rapazes da classe 
baixa trabalhadora que se sentem frustrados com a 
posição que atingiram na vida, agrupam-se com fre-
quência em subculturas delinquentes, como os 
gangs (bandos). Estas subculturas rejeitam os valores 
da classe média e substituem-nos por normas que 
celebram o desafio, como a delinquência e outros 
actos de não-£onformidade. 
Richard A. Cloward e Lloyd E. Ohlin (1960) con-
cordam com Cohen que a maior parte dos jovens 
delinquentes emergem da classe baixa trabalhadora. 
No entanto, para estes autores, os rapazes que estão 
mais em "risco" são aqueles que interiorizaram os 
valores da classe média, e foram encorajados, com 
base nas suas capacidades, a dirigir a sua ambição 
com vista a atingir um futuro na classe média. Quan-
do estes rapazes são incapazes de atingir os seus 
objectivos, tornam-se particularmente propensos à 
actividade delinquente. No seu estudo sobre bandos 
de jovens delinquentes, Cloward e Ohlin argumenta-
ram que estes surgem em comunidades subculturais 
onde as hipóteses de alcançar sucesso de uma forma 
legitima são muito diminutas, como é o caso de 
comunidades pobres de minorias étnicas. 
Conclusões teóricas 
As teorias funcionalistas enfatizam correctamente as 
ligações entre conformidade e desvio em diferentes 
contextos sociais. A falta de oportunidades para ter 
sucesso, segundo os termos estabelecidos pela socie-
dade mais ampla, é o grande factor diferenciador 
entre aqueles que optam por um comportamento cri-
minoso e aqueles que o não fazem. No entanto, é 
necessário pensar com cautela na ideia de que as 
pessoas das comunidades mais desfavorecidas aspi-
ram ao mesmo nível de sucesso material que as pes-
soas mais abastadas. A maioria das primeiras tende a 
ajustar as suas aspirações ao que consideram ser a 
realidade da sua situação. Merton, Cohen, Cloward e 
Ohlin podem ser criticados por presumirem que os 
valores da classe média são aceites por toda a socie-
dade. Contudo, seria também errado supor que as 
discrepâncias entre aspirações e oportunidades estão 
confinadas aos menos privilegiados. Há igualmente 
pressões que induzem à actividade criminosa no seio 
de outros grupos, como, por exemplo, os crimes 
ditos de colarinho branco-desfalque, fraude ou fuga 
aos impostos que serão analisados mais à frente, 
indiciam. 
As t eo r i a s i n t e r acc ion i s t a s 
Os sociólogos que estudam o crime e o desvio segun-
do a tradição interaccionista vêem o desvio como um 
fenómeno socialmente construído. Estes autores 
rejeitam a ideia de que existem tipos de conduta ine-
rentemente 'desviantes'. Pelo contrário, os interac-
cionistas intenrogam-se sobre o modo como os com-
portamentos são inicialmente definidos como des-
viantes, e porque é que determinados grupos e não 
outros são rotulados como 'desviantes1. 
O desvio aprendido: a associação diferencial 
Edwin H. Sutherland foi um dos primeiros investiga-
dores a sugerir que o desvio pode ser aprendido atra-
vés da interacção com os outros. Em 1949, Suther-
land avançou com uma noção que viria a influenciar 
muita da teoria interaccionista posterior: associou o 
crime ao que chamou associação diferencial. Esta 
ideia é muito simples: numa sociedade onde existem 
muitas subculturas diferentes, alguns ambientes 
sociais tendem a encorajar actividades ilegais, ao 
passo que outros não. Os indivíduos tornam-se delin-
quentes ou criminosos através da sua associação com 
outros que são portadores de normas criminais. De 
uma forma geral, de acordo com Sutherland, o com-
portamento criminoso é aprendido nos grupos primá-
2 1 2 C R I M E E O E S V I O 
rios, particularmente nos grupos de pares. Esta teoria 
contraria a ideia de que existem diferenças psicológi* 
cas que distinguem os criminosos das outras pessoas; 
concebe as actividades criminosas como sendo 
aprendidas em grande medida da mesma forma que 
as que estão de acordo com a lei e orientadas, no 
essencial, pelas mesmas necessidades e valores. Os 
ladroes tentam ganhar dinheiro, tal como as pessoascom empregos normais, mas escolhem formas ilegais 
de o fazer. 
.4 teoria da rotulagem 
Uma das abordagens mais importantes para entender 
a delinquência veio a ser conhecida como teoria da 
rotulagem. Os teóricos da rotulagem interpretaram o 
desvio não como um conjunto de características de 
um indivíduo ou grupos, mas como um processo de 
interacção entre aqueles que se desviam e os que o 
não fazem. Segundo estes autores, para poder perce-
ber a natureza do próprio desvio é necessário desço* 
brir a razão por que determinadas pessoas ficam mar-
cadas com um rótulo de «desvio». 
As pessoas que representam as forças da lei e da 
ordem, ou que são capazes de impor definições de 
moralidade convencional a outros, constituem os 
principais agentes da rotulagem. Os rótulos aplica-
dos na criação de categorias de desvio expressam, 
então, a estrutura de poder de determinada socieda-
de. De um modo geral, as regras que definem o des-
vio e os contextos em que são aplicadas são estabe-
lecidas pelos ricos para os pobres, pelos homens 
para as mulheres, pelos mais velhos para os mais 
novos e pela maioria étnica para as minorias. Muitas 
crianças, por exemplo, envolvem-se em certas acti* 
vidades, como correr nos jardins de outras pessoas, 
partir vidros das janelas, roubar fruta ou andar na 
vadiagem. Nos bairros abastados, estas atitudes 
podem ser consideradas pelos pais, professores ou 
pela polícia como aspectos relativamente inocentes 
do processo de crescimento. Em contrapartida, em 
bairros pobres as mesmas podem ser vistas como 
prova de tendências para a delinquência juvenil. 
Uma vez rotulada como delinquente, a criança é 
estigmatizada como criminosa e é provável que seja 
considerada como indigna de confiança pelos pro-
fessores e possíveis patrões. Nos dois casos referi-
dos os actos são os mesmos, mas são associados a 
significados diferentes. 
Howard Becker é um dos sociólogos associados 
mais claramente à teoria da rotulagem. Este autor 
preocupou-se em demonstrar como as identidades 
desviantes são produzidas através da rotulagem, em 
vez de o serem por meio de motivações ou compor-
tamentos desviantes. De acordo com Becker, "o com-
portamento desviante é aquele que as pessoas rotu-
lam como desviante". Becker foi extremamente críti-
co face à abordagem criminologista que clamava 
existir uma clara divisão entre "normal'* e "desvian-
te". Para este autor o comportamento desviante não é 
o factor determinante no processo de se tomar "des-
viante", pois existem processos que não estão rela-
cionados com o comportamento em si que exercem 
uma grande influência no rotular ou não uma dada 
pessoa como desviante. O modo de vestir de uma 
pessoa, a maneira de falar, o seu país ou região de ori* 
gem, são factores-chave que podem determinar se se 
aplica ou não o rótulo de desviante. 
A teoria da rotulagem ficou associada ao estudo 
efectuado por Becker sobre fumadores de marijuana 
(1963). No início dos anos 60, fumar marijuana era 
uma actividade marginal ligada a grupos subculturais 
em vez de ser uma opção de um determinado estilo 
de vida, como hoje. Becker descobriu que tomar-se 
um fumador de marijuana dependia da aceitação num 
dado grupo subcultural, da afinidade próxima com 
consumidores experientes, e das atitudes face aos que 
não consumiam marijuana. 
A rotulagem não só afecta a forma como os outros 
vêem o indivíduo, como também influencia a ideia 
que o indivíduo tem da sua própria identidade. Edwin 
Lemert (1972) concebeu um modelo para tentar com* 
preender como é que o desvio pode coexistir com a 
identidade ou ocupar um lugar central na mesma. 
Lemert defendeu que, contrariamente ao que se pensa, 
o desvio é bastante comum, e que as pessoas na gene-
ralidade têm comportamentos desviantes sem nin-
guém dar por isso! Por exemplo, alguns actos des-
viantes, como as violações dos sinais de tráfego, rara-
mente são assinalados, enquanto outros, como peque* 
nos furtos no local de trabalho, recebem pouca aten* 
ção. Lemert chamou desvio primário ao acto inicial 
de transgressão. Na maioria dos casos estes actos per-
manecem 'marginais* relativamente à identidade pes* 
soai do indivíduo - tem lugar um processo de nor-
malização do acto desviante. Contudo, em alguns 
casos, a normalização não ocorre e a pessoa é rotula-
C R I M E E D E S V I O 2 1 3 
Amplificação d o desvio 
Leslie Wilkins (1964) interessou-se pelas ramifica-
ções resultantes da "gestão" da identidade desvian-
te, e da sua integração na vida quotidiana de cada 
um. Este autor sugeriu que o resultado deste pro-
cesso é frequentemente a amplificação do desvio. 
Entende por este conceito a s consequências inde-
se jadas que podem advir quando uma agência de 
controlo rotula um determinado comportamento 
como desviante, provocando um aumento do 
mesmo. Se a pessoa rotulada incorpora o rótulo na 
sua identidade através do desvio secundário, é pro-
vável que este facto venha a provocar mais respos-
tas por parte das agências de controlo. Por outras 
palavras, o comportamento que era visto como 
indesejável tornasse predominante, e aqueles que 
são rotulados como desviantes tornam-se ainda 
mais resistentes à mudança. 
Exemplo dos efeitos mais vastos da amplificação 
do desvio aparecem no importante trabalho de Stan-
ley Cohen intitulado Foik Devils and Moral Panics 
(1960). Neste estudo clássico Cohen mostrou que o 
modo como a polida tentou controlar determinadas 
subculturas juvenis durante ao anos 60 - os chama-
dos Mods e Rockers - apenas serviu para chamar 
mais a atenção para estas mesmas subculturas e 
torná-las mais populares entre a juventude. O proces-
so de rotular um grupo como marginal ou agitador -
para o tentar controlar - teve um efeito de ricochete e 
criou ainda mais problemas à s forças policiais. 
A cobertura excessiva e sensacionalista que os meios 
de comunicação fizeram dos Mods e dos Rockers 
provocou um pânico moral - um termo usado pelos 
sociólogos para descrever uma reacção exagerada 
para com determinados grupos ou tipos de compor-
tamento, inspirada pelos meios de comunicação. Os 
pânicos morais emergem na maior parte dos casos à 
volta de temas públicos que são considerados como 
sintomáticos da desordem social gerai; nos anos mais 
recentes houve pânico moral em torno de tópicos 
como o crime juvenil e o s "falsos" refugiados. 
da como criminosa ou delinquente. Lemert usou o 
termo desv io secundário para descrever os casos em 
que o indivíduo acaba por aceitar o rótulo que lhe foi 
posto, vendo-se a si próprio como desviante. Em tais 
casos, o rótulo pode tomar-se central para a identida-
de da pessoa, e conduzir à continuação, ou intensifi-
cação, do comportamento desviante. 
Tome-se, como exemplo, um rapaz que parte a 
montra de uma loja, durante uma saída pela cidade 
com os amigos num sábado à noite. O acto pode por-
ventura talvez ser considerado como a consequência 
acidenta] de um comportamento turbulento, caracte-
rística desculpável nos jovens. O rapaz pode safar-se 
com uma reprimenda ou uma pequena multa. Se per-
tencer a um meio «respeitável» será este provavel-
mente o resultado. Partir o vidro de uma montra fica 
ao nível de um desvio primário, se o rapaz for visto 
como uma pessoa com um «bom carácter» que teve 
um pequeno deslize. Se, por outro lado, a polícia e os 
tribunais ditarem uma pena suspensa, obrigando o 
rapaz a apresentar-se a uma assistente social, o inci-
dente pode vir a ser o primeiro passo no processo de 
desvio secundário. Este processo de «aprender a ser 
desviante» tem tendência a ser enfatizado pelas pró-
prias instituições supostamente encarregues de corri-
girem o comportamento desviante - as prisões e os 
organismos de assistência social. 
Conclusões teóricas 
A teoria da rotulagem é importante na medida em que 
se baseia na presunção de que nenhum acto é intrin-
secamente criminoso. As definições de criminalidade 
são estabelecidas pelos poderosos, pela polícia, tribu-
nais e instituições correccionais, através das leis e das 
suasinterpretações. Os críticos da teoria da rotulagem 
têm por vezes defendido que existem de facto actos 
consistentemente proibidos em quase todas as cultu-
ras, como o assassínio, a violação ou o roubo. Este 
ponto de vista é por certo incorrecto: mesmo na nossa 
própria cultura, matar nem sempre é considerado 
2 1 4 C R I M E E OESVIO 
homicídio. Em tempo de guerra, o facto de se matar o 
inimigo é algo visto de modo positivo, e até há bem 
pouco tempo a legislação britânica não reconhecia a 
imposição do acto sexual pelo marido como violação. 
Podemos criticar mais convincentemente a teoria 
da rotulagem com outros argumentos. Em primeiro 
lugar, ao colocar o acento no processo activo de rotu-
lagem, esta teoria tende a deixar de lado os processos 
que conduzem aos actos definidos como desviantes. 
A rotulagem de certos actos como desviantes não é 
totalmente arbitrária; as diferenças na socialização, 
atitudes e oportunidades influenciam a forma como 
as pessoas se comprometem com um comportamento 
particularmente susceptível de ser rotulado como 
desviante. Por exemplo, há maior propensão entre as 
crianças de meios mais desfavorecidos a roubar em 
lojas do que entre as crianças ricas. Não é tanto a 
rotulagem que leva estas crianças a roubar, mas sim 
os meios de onde provêm. 
Em segundo lugar, não está claro que a rotulagem 
realmente incremente a conduta desviante. O com-
portamento delinquente tende a aumentar depois de 
uma condenação penal, mas isso será resultado da 
própria rotulagem? Podem estarem causa outros fac-
tores, como uma maior interacção com outros delin-
quentes ou saber da existência de novas oportunida-
des para cometer delitos. 
As t eo r i a s d o conf l i to : u a nova c r i m i n o l o g i a " 
A publicação de The New Criminology por Taylor, 
Walton e Young em 1973 marcou uma importante 
ruptura com as teorias do desvio anteriores. Estes 
autores basearam-se em elementos do pensamento 
marxista para defender que o desvio é uma opção 
deliberada e frequentemente de natureza política. 
Rejeitaram a ideia de que o desvio é 'determinado' 
por factores como a biologia, a personalidade, a ano-
mia, a desorganização social ou os rótulos. Pelo con-
trário, argumentaram estes autores, os indivíduos 
optam activamente por enveredar por um comporta-
mento desviante, em resposta às desigualdades do 
sistema capitalista. Sendo assim, os membros de gru-
pos contra-cultura vistos como desviantes - como os 
activistas do Black Power (Poder Negro) ou de movi-
mentos de libertação gay - envolviam-se em actos 
claramente políticos que punham em causa a ordem 
social. Os teóricos da nova criminologia enquadra-
vam a sua análise do crime e do desvio tendo em 
conta a estrutura da sociedade e a preservação do 
poder pela classe dominante. 
A perspectiva mais ampla delineada em The New 
Criminology foi desenvolvida por outros académicos 
em direcções específicas. Stuart Hall e outros autores 
ligados ao Centro de Estudos Culturais Contemporâ-
neos de Birmingham conduziram um importante 
estudo sobre um fenómeno que atraiu muita atenção 
durante a década de 70 na Gra-Bretanha - o crime 
dos assaltos de rua com intimidação física. Vários 
dos mais importantes assaltos foram amplamente 
divulgados e este facto alimentou uma enorme preo-
cupação em torno de uma possível explosão do crime 
de rua. Os assaltantes eram na sua maioria retratados 
como negros, facto que contribuiu para a visão dos 
imigrantes como responsáveis primários pelo desmo-
ronamento da sociedade. Em Policing the Crisis 
(1978), Hall e os seus colegas assinalaram que o 
pânico moral em torno dos assaltos havia sido enco-
rajado tanto pelo estado como pelos meios de comu-
nicação, como forma de afastar a atenção do desem-
prego crescente, do declínio dos salários, e de outras 
falhas estruturais profundas no seio da sociedade. 
Ao mesmo tempo, outros criminologistas exami-
naram a formação e o uso das leis na sociedade, 
defendendo que as leis são ferramentas usadas pelos 
mais poderosos para poderem manter as suas posi-
ções privilegiadas. Estes autores rejeitaram a ideia de 
as leis serem 'neutras' e aplicadas imparcialmente a 
toda a população. Pelo contrário, os autores argu-
mentam que quanto mais aumentarem as desigualda-
des entre a classe dominante e a classe trabalhadora, 
mais importante se torna a lei para os poderosos 
poderem manter a ordem social que pretendem con-
servar. Pode apreciar-se esta dinâmica nos procedi-
mentos do sistema judicial penal, que se tem tornado 
cada vez mais opressivo para os "réus" da classe tra-
balhadora; ou na legislação fiscal que favorece des-
proporcionalmente os mais abastados. Contudo, esta 
desigualdade em termos de poder não está confinada 
à criação das leis. Os poderosos também quebram as 
leis, segundo os estudiosos, mas raramente são apa-
nhados. No seu todo estes crimes são muito mais sig-
nificativos do que os crimes e a delinquência quoti-
diana, que atraem a maior parte da atenção. Contudo, 
com medo das implicações decorrentes de perseguir 
estes criminosos de "colarinho branco" a força poli-
C R I M E E DESVIO 215 
ciai concentra os seus esforços nos membros menos 
poderosos da sociedade, como as prostitutas, os toxico-
dependentes ou os ladrões de pouca monta (Pearce, 
1976; Chambliss, 1978). 
Estes estudos, bem como outros associados à nova 
criminologia, foram importantes na ampliação do 
debate sobre o crime e o desvio por incluírem questões 
relacionadas com a justiça social, o poder e a política. 
Estes autores sublinharam que o crime ocorre a todos 
os níveis da sociedade, e tem de ser compreendido no 
contexto das desigualdades e dos interesses contrapos-
tos que existem entre os grupos sociais. 
O Realismo da Nova Esquerda 
Durante a década de 80 emergiu uma nova escola de 
pensamento relacionada com a criminologia. Conhe-
cida como Realismo da Nova Esquerda, baseava-se 
em algumas das ideias neo-marxistas usadas pelos 
criminologistas discutidos anteriormente, mas distan-
ciava-se dos "idealistas de esquerda" por considerar 
que estes davam uma ideia romântica do desvio e 
menosprezavam o medo real da delinquência sentido 
por grande parte da população. Durante muito tempo, 
um grande número de criminologistas tenderam a 
minimizar a importância do crescimento dos índices 
de delinquência. Procuraram mostrar que os meios de 
comunicaçãQ criavam um alarme público desneces-
sário a este respeito, defendendo também que a maio-
ria dos crimes constituía uma forma dissimulada de 
protesto contra a desigualdade social. O Realismo da 
Nova Esquerda afastou-se desta posição, sublinhando 
que tinha realmente havido um aumento no número 
de crimes, e que a opinião pública tinha razão em 
estar preocupada. Os teóricos do Realismo da Nova 
Esquerda argumentaram que a criminologia precisa-
va de comprometer-se mais com assuntos da actuali-
dade como o controlo do crime e a política social, em 
vez de debater-se com estes temas abstractamente 
(Lea and Young, 1984; Matthews e Young. 1986). 
O Realismo da Nova Esquerda chamou a atenção 
para as vítimas do crime, e defendeu que os inquéri-
tos às vítimas fornecem um retrato mais válido da 
amplitude do crime do que as estatísticas oficiais 
(Evans, 1992). Os estudos sobre as vítimas revelaram 
que o crime é um problema sério, particularmente nas 
zonas mais empobrecidas do centro das cidades. Os 
criminólogos do Realismo da Nova Esquerda assina-
laram que os índices do crime e de vitimização esta-
vam concentrados nos subúrbios marginalizados - os 
grupos sociais desfavorecidos correm um risco muito 
maior de se envolver em crimes do que os outros. 
Esta perspectiva baseia-se em Merton, Cloward e 
Ohlin e outros autores, para sugerir que se desenvol-
vem subculturas criminais nos centros urbanos. Estas 
subculturas não derivam da pobreza propriamente 
dita, mas de uma falta de integração na comunidade 
mais ampla. Os grupos de jovens delinquentes, por 
exemplo, operam nas margens da «sociedade respei-tável» e revoltam-se contra ela. Atribui-se o facto de 
a percentagem de crimes cometidos por negros ter 
aumentado nos últimos anos à falência das políticas 
de integração racial. 
Para poder responder a estas tendências no crime, 
o Realismo da Nova Esquerda avança com propostas 
"realistas" para mudar os procedimentos policiais. 
Defende que a força policial necessita de ter mais em 
conta as necessidades da comunidade ao impor a lei, 
em vez de se apoiar em técnicas de "policiamento 
militar" que tendem a alienar o apoio popular. O Rea-
lismo da Nova Esquerda propôs um "policiamento 
mínimo" em que os cidadãos elegiam localmente as 
autoridades policiais que respondiam perante eles. Os 
cidadãos passariam a ter uma maior intervenção no 
estabelecimento de prioridades policiais na sua área. 
Acrescente-se também que, ao passar mais tempo a 
investigar e a solucionar os crimes, e menos tempo na 
rotina do trabalho administrativo, a polícia voltaria a 
ganhar a confiança das comunidades locais. No seu 
todo, o Realismo da Nova Esquerda representa uma 
abordagem mais pragmática e orientada policialmen-
te do que as perspectivas criminologistas que a pre-
cederam. 
Os críticos desta abordagem estão de acordo com 
a importância atribuída às vítimas. Contudo, chamam 
a atenção para o facto de as percepções públicas do 
crime assentarem frequentemente em estereótipos e 
imagens falsas. Sem o querer, o Realismo da Nova 
Esquerda pode estar a contribuir para o estereótipo 
que identifica o negro como criminoso. Hsta aborda-
gem tem sido igualmente criticada por dirigir exces-
sivamente a sua atenção para a vítima. O que é neces-
sário é uma investigação das experiências de ambos, 
vítima e delinquente. Ao concentrar a sua atenção nas 
vítimas, o Realismo da Nova Esquerda pode não ter 
prestado suficiente atenção aos motivos subjacentes 
ao comportamento criminoso (G. Hughes, 1991). 
216 C R I M E E O E S V I O 
A teoria d o s "vidros part idos" 
A teoria do controlo social está ligada à influente 
abordagem policial conhecida como a teoria dos 
vidros partidos..Desenvolvida há cerca de duas 
décadas (Wilson e Kelling, 1982), esta teoria defen-
de que existe uma relação directa entre a aparência 
de desordem e o aparecimento da delinquência. Se 
uma janela partida permanece sem ser reparada 
num dado bairro, tal constitui uma mensagem aos 
potenciais delinquentes de que nem a policia nem 
os residentes se preocupam com manter a comuni-
dade em boas condições. Com o tempo, irão ser 
acrescentados outros sinais de desordem à janela 
partida - grafitis, lixo, vandalismo e veículos aban-
donados. A área começará deste modo um proces-
so gradual de decadência, os 'residentes respeitá-
veis* começam a abandonar o espaço, e sào subs-
tituídos por recém «chegados 'desviantes' como os 
traficantes de droga, os senvabrigo, ou indivíduos 
em liberdade condicionada. 
A teoria dos vidros partidos serviu de base para 
o chamada policiamento de tolerância zero, uma 
abordagem que defende que o processo perma-
nente de manutenção da ordem é o conceito funda-
mental para reduzir o crime. As políticas de tolerân-
cia zero centram-se nos pequenos crimes e formas 
de conduta imprópria, como o vandalismo, a vaga-
bundagem, a pedinchice e a embriaguez pública. 
Acredita-se que a s rusgas policiais relativamente a 
desvios de pequena monta produzem um efeito 
positivo na redução de formas mais sérias de crime. 
O policiamento de tolerância zero foi largamente 
introduzido nas grandes cidades norte-americanas, 
depois do sucesso aparente obtido em Nova York. 
Começando por uma agressiva campanha para res-
taurar a segurança no metropolitano da cidade, a 
polícia de Nova York expandiu a política de tolerân-
cia zero à s ruas, impondo maiores restrições aos 
pedintes, aos sem-abrigo, aos vendedores de rua e 
aos proprietários de lojas e clubes para adultos. 
Como resultado, não só os níveis dos crimes mais 
comuns (como os assaltos) desceram drasticamen-
te, como também o índice de homicídios baixou 
para o seu nível mais baixo em quase um século 
(Kelling e Coles, 1997). 
Contudo, uma das falhas importantes da teoria 
dos "vidros partidos" reside no facto de permitir à 
polícia identificar uma 'desordem social' da forma 
que pretender. Dada a ausência de uma definição 
sistemática de desordem, a polícia está autorizada 
a poder encarar qualquer coisa como um sinal de 
desordem, e qualquer pessoa como uma ameaça. 
De facto, os níveis do crime desceram ao longo dos 
anos 90 na cidade de Nova York, mas o número de 
queixas sobre o abuso de poder e maus tratos por 
parte da polícia subiu, particularmente a s prove-
nientes dos jovens negros urbanos que se encai-
xam no "perfil" de criminoso potencial.

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