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ao manejo adequado dos conectivos “e” e “ou”. Na realidade, podemos interpretar as propriedades acima como regras formais para o manejo desses conectivos. Demonstremos uma delas, a t´ıtulo de exemplo. Vamos demonstrar agora ∪7. Primeiramente provaremos que A∪ (B∩C) ⊂ (A∪B)∩ (A∪C). Ora, dado x ∈ A ∪ (B ∩ C), tem-se x ∈ A ou, enta˜o, x ∈ B ∩ C. No primeiro caso, vem x ∈ A ∪ B e x ∈ A ∪ C, donde x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C). No segundo caso temos x ∈ B e x ∈ C. De x ∈ B segue-se x ∈ A ∪ B e de x ∈ C conclui-se x ∈ A ∪ C. Logo, x ∈ A ∪ B e x ∈ A ∪ C, isto e´, x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C). Em qualquer hipo´tese, x ∈ A ∪ (B ∩ C) implica x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C). Isto quer dizer: A ∪ (B ∩ C) ⊂ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C). Agora mostra- remos que (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) ⊂ A ∪ (B ∩ C). Para isto, seja x ∈ (A ∪ B) ∩ (A ∪ C). Enta˜o x ∈ A ∪ B e x ∈ A ∪ C. Dentro desta situac¸a˜o, ha´ duas possibilidades: ou x ∈ A ou x /∈ A. Se for x /∈ A, enta˜o (como x ∈ A ∪ B e x ∈ A ∪ C) deve ser x ∈ B e x ∈ C, isto e´, x ∈ B ∩ C e, portanto, x ∈ A ∪ (B ∩ C). Se for x ∈ A enta˜o evidentemente x ∈ A ∪ (B ∩ C). Em qualquer hipo´tese, x ∈ (A∪B)∩ (A∪C) implica x ∈ A∪ (B∩C), ou seja, (A ∪ B) ∩ (A ∪ C) ⊂ A ∪ (B ∩ C), como quer´ıamos provar. A diferenc¸a entre os conjuntos A e B e´ o conjunto A − B, [SEC. 2: OPERAC¸O˜ES ENTRE CONJUNTOS 9 formado pelos elementos de A que na˜o pertencem a B. Em s´ımbolos: A− B = {x; x ∈ A e x /∈ B}. BA B Na figura acima, onde os conjuntos A e B sa˜o representados por discos, a diferenc¸a A− B e´ a parte hachurada. Na˜o se exige que B esteja contido em A para formar a dife- renc¸a A− B. Quando A e B sa˜o disjuntos, nenhum elemento de A pertence a B, portanto, A−B = A. Em qualquer caso, tem-se A− B = A− (A ∩ B). Quando se tem B ⊂ A, a diferenc¸a A − B chama-se o com- plementar de B em relac¸a˜o a A e escreve-se A− B = ∁AB. Frequ¨entemente, tem-se um conjunto E que conte´m todos os conjuntos que ocorrem numa certa discussa˜o. Neste caso, a diferenc¸a E − X chama-se simplesmente o complementar de X e indica-se com a notac¸a˜o ∁X. Por exemplo, nos cap´ıtulos seguintes, estaremos estudando subconjuntos do conjunto R, dos nu´meros reais. Dado X ⊂ R, a diferenc¸a R − X sera´ chamada o complementar de X e indicada pelo s´ımbulo ∁X, sem necessidade de mencionar explicitamente que se trata de complementar em relac¸a˜o a R. Confirmando: se nos restringimos a considerar elementos per- tencentes a um conjunto ba´sico E, enta˜o x ∈ ∁X⇔ x /∈ X. 10 [CAP. I: CONJUNTOS E FUNC¸O˜ES Exemplo 7. Sejam A = {x ∈ Z; x ≥ −3} e B = {x ∈ Z; x ≤ 2}. Enta˜o A − B = {x ∈ Z; x ≥ 3} e B − A = {x ∈ Z; x ≤ −4}. Tomando Z como conjunto ba´sico, enta˜o ∁A = {inteiros menores do que −3} e ∁B = {inteiros maiores do que 2}. A noc¸a˜o de diferenc¸a reduz-se a` de complementar, do seguinte modo: dados A e B, contidos num conjunto fundamental E, re- lativamente ao qual tomamos complementares, temos: A− B = A ∩ ∁B. Com efeito x ∈ A − B ⇔ x ∈ A e x /∈ B ⇔ x ∈ A e x ∈ ∁B⇔ x ∈ A ∩ ∁B. Relacionamos abaixo as principais propriedades formais da operac¸a˜o de tomar complementares. Os conjuntos A e B sa˜o partes de um conjunto fundamental E, em relac¸a˜o ao qual esta- mos tomando os complementares. C1) ∁(∁A) = A, C2) A ⊂ B⇔ ∁B ⊂ ∁A, C3) A = ∅⇔ ∁A = E, C4) ∁(A ∪ B) = ∁A ∩ ∁B, C5) ∁(A ∩ B) = ∁A ∪ ∁B. Demonstraremos estas cinco propriedades. C1) Temos x ∈ ∁(∁A)⇔ x /∈ ∁A⇔ x ∈ A. Logo ∁(∁A) = A. C2) Suponhamos A ⊂ B. Enta˜o um elemento x ∈ ∁B na˜o pode pertencer a B e, com maior raza˜o, na˜o pertencera´ a A. Logo x ∈ ∁B ⇒ x ∈ ∁A, ou seja ∁B ⊂ ∁A. Reciprocamente, se temos ∁B ⊂ ∁A enta˜o, pelo que acabamos de ver, deve ser ∁(∁A) ⊂ ∁(∁B). Usando C1, obtemos A ⊂ B. C3) A = ∅ ⇔ x /∈ A para todo x ∈ E ⇔ x ∈ ∁A para todo x ∈ E⇔ ∁A = E. C4) Como A ⊂ A ∪ B e B ⊂ A ∪ B, segue-se de C2 que ∁(A ∪ B) ⊂ ∁A e ∁(A ∪ B) ⊂ ∁B, donde ∁(A ∪ B) ⊂ ∁A ∩ ∁B. [SEC. 2: OPERAC¸O˜ES ENTRE CONJUNTOS 11 Seja X = ∁A ∩ ∁B. Temos X ⊂ ∁A e X ⊂ ∁B. Por C2, vem A ⊂ ∁X e B ⊂ ∁X, donde A ∪ B ⊂ ∁X. Por C2 e C1, vem X ⊂ ∁(A ∪ B), isto e´, ∁A ∩ ∁B ⊂ ∁(A ∪ B). Conclu´ımos que ∁(A ∪ B) = ∁A ∩ ∁B. C5) Demonstrac¸a˜o ana´loga a C4. As propriedades acima mostram que, tomando-se comple- mentares, invertem-se as incluso˜es, transformam-se reunio˜es em intersec¸o˜es e vice-versa. E A BA Na figura a` esquerda, A e´ um disco, contido no retaˆngulo, que e´ o conjunto fundamental E. O complementar de A e´ a parte hachurada com listras horizontais. Na figura da direita, A e B sa˜o discos. O complementar de A e´ hachurado com listras horizontais e o complementar de B com listras verticais. Enta˜o ∁(A∪B) e´ a parte quadriculada, enquanto ∁(A∩B) e´ a parte que tem alguma listra (vertical, horizontal ou ambas). Isto mostra que ∁(A ∪ B) = ∁A ∩ ∁B e ∁(A ∩ B) = ∁A ∪ ∁B. Outra operac¸a˜o u´til entre conjuntos e´ o produto cartesiano. Ela se baseia no conceito de par ordenado, que discutiremos agora. Dados os objetos a, b, o par ordenado (a, b) fica formado quando se escolhe um desses objetos (a saber: a) para ser a primeira coordenada do par e (consequ¨entemente) o objeto b para ser a segunda coordenada do par. Dois pares ordenados (a, b) e (a ′, b ′) sera˜o chamados iguais quando suas primeiras 12 [CAP. I: CONJUNTOS E FUNC¸O˜ES coordenadas, a e a ′, forem iguais e suas segundas coordenadas, b e b ′, tambe´m. Assim (a, b) = (a ′, b ′) ⇔ a = a ′ e b = b ′. Na˜o se deve confundir o par ordenado (a, b) com o conjunto {a, b}. Com efeito, como dois conjuntos que possuem os mesmos elementos sa˜o iguais, temos {a, b} = {b, a}, sejam quais forem a e b. Por outro lado, pela definic¸a˜o de igualdade entre pares ordenados so´ temos (a, b) = (b, a) quando a = b. Notemos ainda que {a, a} = {a}, enquanto que (a, a) e´ um par ordenado leg´ıtimo. O produto cartesiano dos conjuntos A e B e´ o conjunto A×B cujos elementos sa˜o todos os pares ordenados (a, b) cuja primeira coordenada pertence a A e a segunda a B. Portanto: A× B = {(a, b); a ∈ A e b ∈ B}. Quando A = B, temos o produto cartesiano A2 = A × A. O subconjunto ∆ ⊂ A × A, formado pelos pares (a, a) cujas coordenadas sa˜o iguais, chama-se a diagonal de A2. B A BA a (a,b)b Aa A a a (a,a) (a,a) Na figura a` esquerda, os conjuntos A e B sa˜o representados por segmentos e o produto cartesiano A × B por um retaˆngulo. A` direita, temos o quadrado A × A = A2, no qual se destaca a diagonal ∆. [SEC. 3: FUNC¸O˜ES 13 Exemplo 8. Sejam A = {1, 2, 3} e B = {x, y}. Enta˜o A× B = {(1, x), (1, y), (2, x), (2, y), (3, x), (3, y)}. Exemplo 9. A introduc¸a˜o de coordenadas cartesianas no plano faz com que cada ponto seja representado por um par ordenado (x, y), onde x e´ sua abscissa e y sua ordenada. Isto identifica o plano com o produto cartesiano R2 = R×R, onde R e´ o conjunto dos nu´meros reais. 3 Func¸o˜es Uma func¸a˜o f : A → B consta de treˆs partes: um conjunto A, chamado o domı´nio da func¸a˜o (ou o conjunto onde a func¸a˜o e´ definida), um conjunto B, chamado o contradomı´nio da func¸a˜o, ou o conjunto onde a func¸a˜o toma valores, e uma regra que permite associar, de modo bem determinado, a cada elemento x ∈ A, um u´nico elemento f(x) ∈ B, chamado o valor que a func¸a˜o assume em x (ou no ponto x). Usa-se a notac¸a˜o x 7→ f(x) para indicar que f faz corresponder a x o valor f(x). Muitas vezes se diz a “func¸a˜o f” em vez de “a func¸a˜o f : A → B”. Neste caso, ficam subentendidos o conjunto A, domı´nio de f, e o conjunto B, contradomı´nio de f. Na˜o se deve confundir f com f(x): f e´ a func¸a˜o, enquanto que f(x) e´ o valor que a func¸a˜o assume num ponto x do seu domı´nio. A natureza da regra que ensina como obter o valor f(x) ∈ B quando e´ dado x ∈ A e´ inteiramente arbitra´ria, sendo sujeita apenas a duas condic¸o˜es: 1a¯ Na˜o deve haver excec¸o˜es: a fim de que f tenha o conjunto A como domı´nio, a regra