447 pág.

Pré-visualização | Página 8 de 50
b se, e somente se, πi(a) = πi(b) para cada i = 1, . . . , n. Seja X ⊂ A1 × · · · × An. Os elementos x = (x1, . . . , xn) de X possuem n coordenadas. As func¸o˜es f : X → B, definidas em X, podem ser pensadas como func¸o˜es de n varia´veis (a primeira varia´vel estando em A1, a segunda em A2, etc.) Em particular, introduzindo-se coordenadas cartesianas no plano, este se identi- fica com o produto cartesiano R2 = R×R. As func¸o˜es f : X→ R, definidas em subconjuntos X ⊂ R2, sa˜o as func¸o˜es reais de duas varia´veis reais. Dada uma famı´lia de conjuntos (Aλ)λ∈L, seu produto cartesi- ano A = ∏ λ∈L Aλ 28 EXERC´ICIOS e´ o conjunto das famı´lias (aλ)λ∈L tais que, para cada λ ∈ L, tem-se a ∈ Aλ. Em outras palavras, A e´ o conjunto de todas as func¸o˜es a : L→ ∪Aλ tais que a(λ) = aλ ∈ Aλ para cada λ ∈ L. As projec¸o˜es πλ : A → Aλ sa˜o definidas por πλ(a) = aλ. Cada projec¸a˜o πλ e´ uma func¸a˜o sobrejetiva. Dada uma func¸a˜o f : X→∏Aλ, de um conjunto qualquer X no produto cartesiano dos Aλ, obte´m-se, para cada λ ∈ L, uma func¸a˜o fλ : X → Aλ, dada por fλ = πλ ◦ f. Assim, f(x) = (fλ(x))λ ∈ L para cada x ∈ X. Reciprocamente, se e´ dada, para cada λ ∈ L, uma func¸a˜o fλ : X → Aλ, enta˜o existe uma u´nica f : X → ∏Aλ tal que fλ = πλ ◦ f para cada λ ∈ L. Basta poˆr f(x) = (fλ(x))λ∈L para cada x ∈ X. As func¸o˜es fλ chamam-se as coordenadas de f. No caso particular em que todos os conjuntos Aλ sa˜o iguais ao mesmo conjunto A, escreve-se AL em vez de ∏ λ∈L Aλ. A L e´ portanto o conjunto de todas as func¸o˜es de L em A. Destaca-se, em especial, o produto cartesiano de uma sequ¨eˆn- cia de conjuntos A1, A2, . . . , An, . . . , o qual e´ representado pelas notac¸o˜es∏ n∈N An = ∞∏ n=1 An = A1×A2× · · · ×An× . . . . Os elementos deste conjunto sa˜o as sequ¨eˆncias a = (a1, a2, . . . , an, . . . ) sujeitas a` condic¸a˜o de ser an ∈ An para todo n ∈ N. Exerc´ıcios 1. Dados os conjuntos A e B, seja X um conjunto com as seguintes propriedades: 1a¯ X ⊃ A e X ⊃ B, 2a¯ Se Y ⊃ A e Y ⊃ B enta˜o Y ⊃ X. Prove que X = A ∪ B. EXERC´ICIOS 29 2. Enuncie e demonstre um resultado ana´logo ao anterior, ca- racterizando A ∩ B. 3. Sejam A,B ⊂ E. Prove que A ∩ B = ∅ se, e somente se, A ⊂ ∁B. Prove tambe´m que A ∪ B = E se, e somente se, ∁A ⊂ B. 4. Dados A,B ⊂ E, prove que A ⊂ B se, e somente se, A ∩ ∁B = ∅. 5. Deˆ exemplo de conjuntos A,B,C tais que (A ∪ B) ∩ C 6= A ∪ (B ∩ C). 6. Se A,X ⊂ E sa˜o tais que A∩X = ∅ e A∪X = E, prove que X = ∁A. 7. Se A ⊂ B, enta˜o, B ∩ (A ∪ C) = (B ∩ C) ∪ A para todo conjunto C. Por outro lado, se existir C de modo que a igualdade acima seja satisfeita, enta˜o A ⊂ B. 8. Prove que A = B se, e somente se, (A∩∁B)∪(∁A∩B) = ∅. 9. Prove que (A− B) ∪ (B−A) = (A ∪ B) − (A ∩ B). 10. Seja A∆B = (A − B) ∪ (B − A). Prove que A∆B = A∆C implica B = C. Examine a validez de um resultado ana´logo com ∩,∪ ou × em vez de ∆. 11. Prove as seguintes afirmac¸o˜es: a) (A ∪ B)× C = (A× C) ∪ (B× C); b) (A ∩ B)× C = (A× C) ∩ (B× C); c) (A− B)× C = (A× C) − (B× C); d) A ⊂ A ′, B ⊂ B ′ ⇒ A× B ⊂ A ′ × B ′. 12. Dada da func¸a˜o f : A→ B: a) Prove que se tem f(X − Y) ⊃ f(X) − f(Y), sejam quais forem os subconjuntos X e Y de A; 30 EXERC´ICIOS b) Mostre que se f for injetiva enta˜o f(X−Y) = f(X)−f(Y) para quaisquer X, Y contidos em A. 13. Mostre que a func¸a˜o f : A→ B e´ injetiva se, e somente se, f(A− X) = f(A) − f(X) para todo X ⊂ A. 14. Dada a func¸a˜o f : A→ B, prove: a) f−1(f(X)) ⊃ X para todo X ⊂ A; b) f e´ injetiva se, e somente se, f−1(f(X)) = X para todo X ⊂ A. 15. Dada f : A→ B, prove: a) para todo Z ⊂ B, tem-se f(f−1(Z)) ⊂ Z; b) f e´ sobrejetiva se, e somente se, f(f−1(Z)) = Z para todo Z ⊂ B. 16. Dada uma famı´lia de conjuntos (Aλ)λ∈L, seja X um con- junto com as seguintes propriedades: 1a¯ ) para todo λ ∈ L, tem-se X ⊃ Aλ; 2a¯ ) Se Y ⊃ Aλ para todo λ ∈ L, enta˜o Y ⊃ X. Prove que, nestas condic¸o˜es, tem-se X = ⋃ λ∈L Aλ. 17. Enuncie e demonstre um resultado ana´logo ao anterior, ca- racterizando ⋂ λ∈L Aλ. 18. Seja f : P(A)→ P(A) uma func¸a˜o tal que X ⊂ Y ⇒ f(Y) ⊂ f(X) e f(f(X)) = X. Prove que f(∪Xλ) = ∩f(Xλ) e f(∩Xλ) = ∪f(Xλ). [Aqui X, Y e cada Xλ sa˜o subconjuntos de A]. 19. Dadas as famı´lias (Aλ)λ∈L e (Bµ)µ∈M, forme duas famı´lias com ı´ndices em L×M considerando os conjuntos (Aλ ∪ Bµ)(λ,µ)∈L×M e (Aλ ∩ Bµ)(λ,µ)∈L×M. EXERC´ICIOS 31 Prove que se tem(⋃ λ∈L Aλ ) ∩ (⋃ µ∈M Bµ ) = ⋃ (λµ)∈L×M (Aλ ∩ Bµ), (⋂ λ∈L Aλ ) ∪ (⋂ µ∈M Bµ ) = ⋂ (λµ)∈L×M (Aλ ∪ Bµ). 20. Seja (Aij)(i,j)∈N×N uma famı´lia de conjuntos com ı´ndices em N×N. Prove, ou disprove por contra-exemplo, a igualdade ∞⋃ j=1 ( ∞⋂ i=1 Aij ) = ∞⋂ i=1 ( ∞⋃ i=1 Aij ) . 21. Dados os conjuntos A,B,C, estabelec¸a uma bijec¸a˜o entre F(A× B;C) e F(A;F(B;C)). Cap´ıtulo II Conjuntos Finitos, Enumera´veis e Na˜o-Enumera´veis De posse dos conceitos gerais e dos fatos ba´sicos a respeito de conjuntos e func¸o˜es, vamos aplica´-los, neste cap´ıtulo, para estudar as noc¸o˜es de conjunto finito e conjunto infinito. Deve-se a Cantor a descoberta fundamental de que ha´ diver- sos tipos de infinito, bem como a ana´lise desses tipos. Para os nossos propo´sitos, e´ necessa´rio apenas distinguir, quanto ao nu´mero de elementos, treˆs tipos de conjuntos: os fini- tos, os enumera´veis e os na˜o-enumera´veis. Aos leitores interessa- dos em mais informac¸o˜es sobre nu´meros cardinais de conjuntos, recomendamos [Halmos] ou a memo´ria original [Cantor]. A noc¸a˜o de conjunto enumera´vel esta´ estritamente ligada ao conjunto N dos nu´meros naturais. Por isso iniciaremos este cap´ıtulo com uma breve apresentac¸a˜o da teoria dos nu´meros na- turais a partir dos axiomas de Peano. Os axiomas de Peano exibem os nu´meros naturais como “nu´meros ordinais”, isto e´, objetos que ocupam lugares determi- nados numa sequ¨eˆncia ordenada: 1 e´ o primeiro nu´mero natural, 2 e´ o nu´mero que vem logo depois do 1, 3 vem em seguida ao 2, etc. Mas os nu´meros naturais tambe´m podem ocorrer como 33 “nu´meros cardinais”, isto e´, como resultado de uma operac¸a˜o de contagem, em resposta a` pergunta: quantos elementos possui este conjunto? No §2, empregamos os nu´meros naturais para a contagem dos conjuntos finitos, mostrando como eles podem ser considerados como nu´meros cardinais e completando, portanto, sua descric¸a˜o. Na memo´ria original [Dedekind], cuja leitura recomendamos, o conjunto N dos nu´meros naturais e´ definido a partir da teoria dos conjuntos e os axiomas, hoje conhecidos com o nome de Peano, sa˜o demonstrados como teoremas. Esta maneira de obter os nu´meros naturais pode ser encontrada na exposic¸a˜o recente de [Halmos]. Do ponto de vista de Peano, os nu´meros naturais na˜o sa˜o definidos. E´ apresentada uma lista de propriedades gozadas por eles (os axiomas) e tudo o mais decorre da´ı. Na˜o interessa o que os nu´meros sa˜o; (isto seria mais um problema filoso´fico) o que interessa e´ como eles se comportam. Embora os axiomas por ele adotados ja´ fossem conhecidos por Dedekind, tudo indica que Peano trabalhou independentemente. De qualquer maneira, o mais importante na˜o sa˜o quais os axiomas que ele escolheu e sim a atitude que ele adotou, a qual veio a prevalecer na Matema´tica atual, sob o nome de me´todo axioma´tico. Uma exposic¸a˜o sistema´tica dos sistemas nume´ricos utilizados na Ana´lise Matema´tica pode ser feita a partir dos nu´meros na- turais, atrave´s de sucessivas extenso˜es do conceito de nu´mero: primeiro amplia-se N para obter o conjunto Z dos nu´meros in- teiros; em seguida estende-se Z, passando ao conjunto Q dos nu´meros racionais, deste se passa para o conjunto R dos reais e, da´ı, para o conjunto C dos complexos. Essa elaborac¸a˜o, em- bora instrutiva, e´ um processo demorado. Os leitores