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Nova Lei de Abuso de Autoridade INAPI

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1 
 
NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE COMENTADA - LEI 13.869/2019 
 
 
AUTORA: ALYNNE PATRICIO DE ALMEIDA SANTOS 
 
Possui graduação em Bacharelado em Direito pela Universidade Federal do Ceará-UFC 
(2003). Especialista em Ciências Penais pela Universidade do Sul de Santa Catarina-
UNISUL. Desde 2004 é Defensora Pública do Estado do Piauí atualmente titular da 8a 
Defensoria de Familia. Vice-Presidente da OAB PI Gestão triênio 2019/2021. Professora 
da Pós Graduação em Ciências Criminais da Escola do Legislativo do Piauí. Professora 
de Direito Penal e De Direito Processual Penal do Instituto INAPI. Coach de Carreiras 
Jurídicas formada pelo Instituto Brasileiro de Coaching. Já foi Professora da Faculdade 
Tecnológica do Piauí-FATEPI, da Faculdade Maurício de Nassau-FAP Teresina e do 
CERS Cursos Online. Membro da Comissão Nacional de Acesso à Justiça do Conselho 
Federal da OAB. 
 
 
“É uma verdade eterna: 
Qualquer pessoa que tenha o poder tende a 
abusar dele. 
Para que não haja abuso, é preciso organizar as 
coisas de maneira que o poder seja contido pelo 
poder”. 
 
Barão de Montesquieu 
 
 
 
LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019 
VIGÊNCIA A PARTIR DE 03/01/2020 
 
Dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade; altera a Lei nº 7.960, de 21 de 
dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei nº 8.069, de 13 de julho 
de 1990, e a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994; e revoga a Lei nº 4.898, de 9 de 
dezembro de 1965, e dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 
(Código Penal). 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA 
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
CAPÍTULO I 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente 
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, 
abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade 
quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou 
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. 
 
 2 
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não 
configura abuso de autoridade. 
CAPÍTULO II 
DOS SUJEITOS DO CRIME 
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, 
servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, 
compreendendo, mas não se limitando a: 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele 
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, 
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, 
cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo. 
CAPÍTULO III 
DA AÇÃO PENAL 
Art. 3º (VETADO). 
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública 
incondicionada. (Promulgação partes vetadas) 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no 
prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer 
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de 
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar 
a ação como parte principal. 
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado 
da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. 
CAPÍTULO IV 
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
Seção I 
 
 3 
Dos Efeitos da Condenação 
Art. 4º São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o 
juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos 
danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo 
período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são 
condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são 
automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. 
Seção II 
Das Penas Restritivas de Direitos 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade 
previstas nesta Lei são: 
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 
(um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; 
III - (VETADO). 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma 
ou cumulativamente. 
CAPÍTULO V 
DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA 
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das 
sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta 
funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. 
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, 
não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas 
questões tenham sido decididas no juízo criminal. 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-
disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de 
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício 
regular de direito. 
 
 4 
CAPÍTULO VI 
DOS CRIMES E DAS PENAS 
Art. 9º (VETADO). 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade 
com as hipóteses legais: (Promulgação partes vetadas) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de 
prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder 
liberdade provisória, quando manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.’ 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado 
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 11. (VETADO). 
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade 
judiciária no prazo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou 
preventiva à autoridade judiciária que a decretou; 
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde 
se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; 
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de 
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das 
testemunhas; 
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de 
prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo 
justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido 
ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. 
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou 
reduçãode sua capacidade de resistência, a: 
 
 5 
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; 
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; 
III - (VETADO). 
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: (Promulgação partes 
vetadas) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena 
cominada à violência. 
Art. 14. (VETADO). 
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. (VETADO). 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o 
interrogatório: (Promulgação partes vetadas) 
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou 
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor 
público, sem a presença de seu patrono. 
Art. 16. (VETADO). 
Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião 
de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou 
prisão: (Promulgação partes vetadas) 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por 
interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de 
identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função. 
Art. 17. (VETADO). 
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso 
noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, 
consentir em prestar declarações: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à 
autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das 
circunstâncias de sua custódia: 
 
 6 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento 
ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo 
competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária 
que o seja. 
Art. 20. (VETADO). 
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com 
seu advogado: (Promulgação partes vetadas) 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o 
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou 
defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e 
com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso 
de audiência realizada por videoconferência. 
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de 
confinamento: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança 
ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, 
observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente). 
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da 
vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas 
mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em 
lei: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem: 
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso 
a imóvel ou suas dependências; 
II - (VETADO); 
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma 
horas) ou antes das 5h (cinco horas). 
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver 
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de 
flagrante delito ou de desastre. 
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de 
processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de 
 
 7 
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a 
responsabilidade: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de: 
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no 
curso de diligência; 
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos 
para desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo. 
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado 
de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito 
já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua 
apuração: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou 
fiscalização, por meio manifestamente ilícito: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do 
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude. 
Art. 26. (VETADO). 
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de 
infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da 
prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação 
preliminar sumária, devidamente justificada. 
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que 
se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a 
imagem do investigado ou acusado: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou 
administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. (VETADO). 
 
 8 
Art. 30. (VETADO). 
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem 
justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente: (Promulgação partes 
vetadas) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo 
do investigado ou fiscalizado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução 
ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em 
prejuízo do investigado ou do fiscalizado. 
Art. 32. (VETADO). 
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de 
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro 
procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como 
impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em 
curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja 
imprescindível: (Promulgação partes vetadas) 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer 
ou de não fazer, sem expresso amparo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função 
pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigaçãolegal ou 
para obter vantagem ou privilégio indevido. 
Art. 34. (VETADO). 
Art. 35. (VETADO). 
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros 
em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida 
da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de 
corrigi-la: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que 
tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento 
ou retardar o julgamento: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
 9 
Art. 38. (VETADO). 
Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, 
inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e 
formalizada a acusação: (Promulgação partes vetadas) 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
CAPÍTULO VII 
DO PROCEDIMENTO 
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, 
no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 
1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. 
CAPÍTULO VIII 
DISPOSIÇÕES FINAIS 
Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, passa a vigorar 
com a seguinte redação: 
“Art.2º ....................................................................................................... 
........................................................................................................................ 
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão 
temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá 
ser libertado. 
......................................................................................................................... 
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela 
custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr 
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação 
da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. 
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de 
prisão temporária.” (NR) 
Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar com a 
seguinte redação: 
“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de 
informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, 
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a 
execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em 
lei.” (NR) 
 
 10 
Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 227-A: 
“Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do 
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes 
previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são 
condicionados à ocorrência de reincidência. 
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá 
da pena aplicada na reincidência.” 
Art. 43. (VETADO). 
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do 
seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas) 
‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos 
incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’” 
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 
150 e o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código 
Penal). 
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua 
publicação oficial. 
Brasília, 5 de setembro de 2019; 198o da Independência e 131o da República. 
 
 
 
NOÇÕES GERAIS 
 
A NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 
 
Lei nº 4.898/65 
O abuso de autoridade já era punido criminalmente pela Lei nº 4.898/65. 
A Lei nº 4.898/65 é revogada pela Lei nº 13.869/2019, que passa a regular inteiramente 
o tema. 
 
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por 
agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto 
de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
 
Lei nº 13.869/2019 
 
A Lei nº 13.869/2019 define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por... 
- agente público, 
- seja ele servidor ou não, 
 
 11 
- que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, 
- abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
 
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente 
público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de 
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios 
e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo 
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou 
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos 
pelo caput deste artigo. 
 
SUJEITOS DO CRIME 
 
Crimes próprios 
Os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são próprios, ou seja, só podem ser 
praticados por “agentes públicos”, nos termos do art. 2º. 
 
Sujeito ativo 
É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade... 
- qualquer agente público, 
- seja servidor público ou não, 
- da administração direta, indireta ou fundacional 
- de qualquer dos Poderes 
- da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território. 
 
Conceito de agente público 
Reputa-se agente público, para os efeitos da Lei de abuso de autoridade: 
- todo aquele que exerce, 
- ainda que transitoriamente ou sem remuneração, 
- por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de 
investidura ou vínculo, 
- mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade da Administração Pública 
direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes, em todas as esferas. 
 
Rol exemplificativo de sujeitos ativos 
A Lei traz um rol exemplificativo de sujeitos ativos. 
Assim, podem ser sujeitos ativos dos crimes de abuso de autoridade, dentre outros: 
 
 12 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
 
Concurso de pessoas 
Embora sejam crimes próprios, os delitos previstos na Lei nº 13.869/2019 admitem a 
coautoria e a participação. Isso porque a qualidade de “agente público”, por ser 
elementar do tipo, comunica-se aos demais agentes, nos termos do art. 30 do Código 
Penal, desde que eles tenham conhecimento dessa condição pessoal do autor: 
Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. 
 
ATENÇÃO!! Deve-se destacar que, por força da proibição de analogia in mala partem, 
não se admite que os tutores, curadores, inventariantes judiciais, administradores 
judiciais, depositários judiciários, diretores de sindicatos ou quaisquer outros que 
exerçam os chamados múnus públicos não podemser sujeitos ativos isolados dos 
crimes de abuso de autoridade, salvo a hipótese acima aventada de concurso de 
agentes. 
 
Sujeito passivo 
Os crimes de abuso de autoridade previstos na Lei nº 13.869/2019 são delitos de “dupla 
subjetividade passiva”. Isso porque são condutas que atingem dois sujeitos passivos. 
O sujeito passivo principal ou imediato é a pessoa física ou jurídica diretamente atingida 
ou prejudicada pela conduta abusiva. Ex: o preso, no caso do art. 13. 
O sujeito passivo secundário ou mediato é o Estado (Poder Público) que tem a sua 
imagem, credibilidade e até patrimônio ofendidos quando um agente seu pratica ato 
abusivo. 
 
ELEMENTO SUBJETIVO 
 
Elemento subjetivo especial 
Todos os delitos previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019) são 
dolosos. 
Além disso, exige-se um elemento subjetivo especial (especial fim de agir, “dolo 
específico”). 
 
Elemento subjetivo especial dos crimes de abuso de autoridade 
O agente só 
comete crime de 
abuso de 
autoridade se: 
1) ao praticar a conduta tinha a finalidade específica de: 
• prejudicar alguém; ou 
• beneficiar a si mesmo ou a terceiro; OU 
2) tiver praticado a conduta por mero capricho ou satisfação 
pessoal. 
 
É o que prevê o § 1º do art. 1º da Lei: 
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade 
quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem 
ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação 
pessoal. 
 
Divergência de interpretação ou de avaliação dos fatos 
 
 13 
A atuação dos operadores do Direito envolve constantemente a interpretação de leis e 
atos normativos e a apreciação de fatos e provas. 
Ocorre que, por mais que sejam utilizados critérios e métodos teóricos para o exercício 
de tais atividades, o certo é que elas possuem boa dose de subjetividade. Essa 
subjetividade faz com que surjam divergências na interpretação da lei ou na avaliação 
dos fatos e provas. 
Tais divergências, por si só, não poderiam ser punidas como abuso de autoridade. 
Pensando nisso, o § 2º do art. 1º da Lei prevê tais situações como causa de exclusão 
da tipicidade nos seguintes termos: 
 
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não 
configura abuso de autoridade. 
 
Ex: o membro do Ministério Público denuncia o acusado afirmando que sua conduta 
configura o crime “X”. Ocorre que existe uma segunda corrente – diversa daquela 
sustentada pelo MP – que defende que essa conduta é atípica. O juiz adota essa 
segunda posição e rejeita a denúncia por entender que não a situação não se amolda 
àquele tipo penal. O simples fato de haver essa divergência de interpretação não gera 
a conclusão de que o integrante do Parquet tenha agido com abuso de autoridade. 
 
Ex2: o Promotor de Justiça denuncia o acusado por furto por entender que ele é o único 
que estava no local quando o bem foi subtraído, tendo ele sido visto pelas testemunhas 
com um objeto escondido debaixo da camisa. Durante a instrução ficou demonstrado 
que o acusado não estava com a res furtiva e que, portanto, ele era inocente. A simples 
divergência na avaliação dos fatos e das provas não gera a conclusão de que o membro 
do MP tenha agido com abuso de autoridade. 
 
O objetivo deste dispositivo foi o de evitar aquilo que Rui Barbosa chamou de “crime de 
hermenêutica”, que ocorre quando o operador do Direito (em especial o magistrado) é 
responsabilizado criminalmente pelo simples fato de sua intepretação ter sido 
considerada errada pelo Tribunal revisor. 
O tema não é novo e, como dito, Rui Barbosa, há muitos anos, já condenava as 
tentativas de se criar o “crime de hermenêutica”: 
“Para fazer do magistrado uma impotência equivalente, criaram a novidade da doutrina, 
que inventou para o Juiz os crimes de hermenêutica, responsabilizando-o penalmente 
pelas rebeldias da sua consciência ao padrão oficial no entendimento dos textos. 
Esta hipérbole do absurdo não tem linhagem conhecida: nasceu entre nós por geração 
espontânea. E, se passar, fará da toga a mais humilde das profissões servis, 
estabelecendo, para o aplicador judicial das leis, uma subalternidade constantemente 
ameaçada pelos oráculos da ortodoxia cortesã. Se o julgador, cuja opinião não condiga 
com a dos seus julgadores na análise do Direito escrito, incorrer, por essa dissidência, 
em sanção criminal, a hierarquia judiciária, em vez de ser a garantia da justiça contra 
os erros individuais dos juízes, pelo sistema dos recursos, ter-se-á convertido, a 
benefício dos interesses poderosos, em mecanismo de pressão, para substituir a 
consciência pessoal do magistrado, base de toda a confiança na judicatura, pela ação 
cominatória do terror, que dissolve o homem em escravo. (...)” (Obras Completas de Rui 
Barbosa, Vol. XXIII, Tomo III, p. 228). 
 
Na vigência da antiga Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 4.898/65), a jurisprudência já 
rechaçava a possibilidade de se responsabilizar criminalmente o magistrado pela mera 
divergência de interpretação: 
(...) 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício in judicando e in 
procedendo, razão por que, para a configuração do delito de abuso de autoridade há 
necessidade da demonstração de um mínimo de "má-fé" e de "maldade" por parte do 
julgador, que proferiu a decisão com a evidente intenção de causar dano à pessoa. 
 
 14 
2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do 
magistrado sem a configuração mínima do dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso 
presente, não restou demonstrado na própria descrição da peça inicial de acusação 
para se caracterizar o abuso de autoridade. (...) 
STJ. Corte Especial. APn 858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 
24/10/2018. 
 
 
AÇÃO PENAL 
 
Ação pública incondicionada 
Todos os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são de ação penal pública 
incondicionada: 
 
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
 
Mesmo que o caput do art. 3º da Lei não previsse isso, a ação penal seria pública 
incondicionada por força do art. 100 do Código Penal. 
 
Ação penal privada subsidiária da pública 
 
O § 1º do art. 3º da Lei nº 13.869/2019 prevê o seguinte: 
 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo 
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer 
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer 
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do 
querelante, retomar a ação como parte principal. 
 
Trata-se da chamada ação penal privada subsidiária da pública. 
O Ministério Público tem um prazo previsto na lei para o ajuizamento da ação penal 
pública. Se o membro do Parquet não oferece a denúncia neste prazo, o ordenamento 
jurídico permite que o ofendido (a vítima) tome a providência que o MP deveria ter feito 
e ofereça a ação penal em nome próprio. Neste caso, o ofendido apresenta uma queixa-
crime substitutiva (supletiva) da denúncia. 
Ex: imagine que João foi vítima de abuso de autoridade praticado pelo Delegado; o MP 
não oferece a denúncia no prazo legal; João (ofendido) poderá suprir essa inércia do 
MP propondo uma queixa que substituindo a denúncia que deveria ter sido oferecida 
pelo Parquet. Isso é chamado de ação privada subsidiária da pública. 
 
O prazo para o oferecimento da denúncia está previsto no art. 46 do CPP: 
• estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério 
Público receber os autos do inquérito policial; 
• se o réu estiver solto ou afiançado, o prazo é de 15 dias. 
 
Ação privada subsidiária é instrumento para suprir eventual inércia do MP, não 
para se contrapor à providência adotada pelo órgão ministerial 
Ao final do prazo legal previsto no art. 46 do CPP, o membro do Ministério Público tem, 
basicamente, quatro possibilidades: 
a) oferecer denúncia; 
b) requisitar a realização denovas diligências; 
c) pedir o arquivamento; 
d) requerer a declinação de competência. 
 
 
 15 
Para que o ofendido possa ajuizar a ação privada subsidiária, é necessário que o 
membro do MP fique completamente inerte no prazo legal do art. 46 do CPP, ou seja, 
que não adote nenhuma dessas quatro providências. 
Assim, se o Promotor de Justiça/Procurador da República pedir o arquivamento do 
inquérito policial, o ofendido, mesmo que discorde disso, não poderá ajuizar a ação 
privada subsidiária considerando que não houve inércia do MP. Se o ofendido oferecer 
ação privada subsidiária neste caso, o juiz deverá rejeitar a queixa substitutiva por 
ilegitimidade de parte. 
Reiterando: a ação privada subsidiária só pode ser ajuizada em caso de inércia do MP, 
não servindo como instrumento para que o ofendido discorde da providência tomada 
pelo Parquet. 
 
Alguns julgados sobre o tema: 
Somente é possível a ação penal subsidiária da pública quando restar configurada 
inércia do Ministério Público, não sendo cabível nas hipóteses de arquivamento de 
inquérito policial promovido pelo membro do Parquet e acolhido pelo juiz. 
No caso concreto, não houve desídia do órgão acusador que, conforme reconhecido 
pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, propôs o arquivamento do inquérito 
policial, entendendo não haver condições de procedibilidade para o oferecimento da 
denúncia em razão da inexistência de relevância jurídica na conduta investigada. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1508560/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 
06/11/2018. 
 
A ação privada subsidiária da pública só é possível quando o Órgão Ministerial se 
mostrar desidioso e não se manifestar no prazo previsto em lei. Se o Ministério Público 
promove o arquivamento do inquérito ou requer o seu retorno ao delegado de polícia 
para novas diligências, não cabe queixa subsidiária; se oferecida, a rejeição se impõe 
por ilegitimidade de parte, falta de pressuposto processual da ação. 
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1049105/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado 
em 18/10/2018. 
 
É incabível a impetração de mandado de segurança por parte da vítima contra decisão 
que determina o arquivamento de inquérito policial, seja por considerá-la desprovida de 
conteúdo jurisdicional, seja devido ao fato de que o titular da ação penal pública 
incondicionada é o Ministério Público, não sendo cabível o eventual oferecimento de 
ação penal privada subsidiária sem a prova de sua inércia. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 51.404/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/05/2019. 
 
O tema foi objeto de recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão 
geral, tendo sido fixadas as seguintes teses: 
(...) Questão constitucional resolvida no sentido de que: (i) o ajuizamento da ação penal 
privada pode ocorrer após o decurso do prazo legal, sem que seja oferecida denúncia, 
ou promovido o arquivamento, ou requisitadas diligências externas ao Ministério 
Público. Diligências internas à instituição são irrelevantes; (ii) a conduta do Ministério 
Público posterior ao surgimento do direito de queixa não prejudica sua propositura. 
Assim, o oferecimento de denúncia, a promoção do arquivamento ou a requisição de 
diligências externas ao Ministério Público, posterior ao decurso do prazo legal para a 
propositura da ação penal, não afastam o direito de queixa. Nem mesmo a ciência da 
vítima ou da família quanto a tais diligências afasta esse direito, por não representar 
concordância com a falta de iniciativa da ação penal pública. (...) 
STF. Plenário virtual. ARE 859251 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 
16/04/2015. 
 
Legitimidade 
 
 16 
A legitimidade para a ação privada subsidiária é do ofendido (vítima) ou de seu 
representante legal (art. 31 do CPP). 
 
Prazo para oferecimento da ação privada subsidiária 
Segundo o § 2º do art. 3º, o ofendido tem o prazo de 6 meses para oferecer a queixa 
substitutiva: 
 
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado 
da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. 
 
Importante esclarecer que se trata de um prazo decadencial impróprio considerando 
que, mesmo após ele se esgotar, o Ministério Público pode ajuizar a denúncia ou tomar 
outras providências. O simples decurso do prazo de 6 meses não gera a extinção da 
punibilidade. A única consequência que acarreta é o fato de o ofendido não poder mais 
ajuizar a ação privada subsidiária não influenciando nos poderes do MP. 
Conforme explicam Klaus Negri Costa e Fábio Roque Araújo: 
“O prazo para oferecimento da queixa-substitutiva é de 6 meses, de natureza 
decadencial. É interessante notar que, mesmo tendo natureza decadencial, o 
escoamento desse prazo in albis não acarretará a extinção da punibilidade. O único 
efeito da perda do prazo decadencial será, tão somente, a impossibilidade de 
ajuizamento da queixa-substitutiva pelo ofendido - mas o Ministério Público continuará, 
respeitado o prazo prescricional, legitimado a oferecer denúncia.” (COSTA, Klaus Negri; 
ARAÚJO, Fábio Roque. Processo Penal didático. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 199) 
 
Esse art. 3º da Lei nº 13.869/2019 era juridicamente necessário? 
Não. Isso porque a ação penal privada subsidiária da pública já é prevista 
expressamente no art. 5º, LIX, da CF/88, sendo considerada, inclusive, uma cláusula 
pétrea: 
Art. 5º (...) 
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada 
no prazo legal; 
 
Além disso, em nível infraconstitucional, o tema já era disciplinado da mesma forma pelo 
CPP: 
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada 
no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer 
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de 
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar 
a ação como parte principal. 
 
 
COMPETÊNCIA 
 
Foro por prerrogativa de função 
O primeiro passo para se definir a competência no caso de crimes da Lei do Abuso de 
Autoridade é verificar se a Constituição Federal prevê foro por prerrogativa de função 
para o agente público que praticou o delito. 
Se a autoridade que praticou o delito no exercício das suas funções goza de foro por 
prerrogativa de função, deverá ser julgada pelo respectivo Tribunal. Ex: Juiz Federal 
que pratique abuso de autoridade será julgado pelo Tribunal Regional Federal, nos 
termos do art. 108, I, a, da CF/88: 
 
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: 
I - processar e julgar, originariamente: 
 
 17 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça 
do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério 
Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; 
 
Vale lembrar que, segundo a interpretação restritiva do STF: 
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o 
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. 
STF. Plenário AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 
900). 
 
Justiça Federal ou Estadual 
Sendo a competência do juízo de 1ª instância, será necessário analisar se a 
competência é da Justiça Estadual ou Federal. 
A competência para julgar o delito será, em regra, determinada pela esfera ao qual 
estiver vinculado o agente público que praticou o crime. 
Assim, em regra: 
• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa 
função: o crime será de competência da Justiça Federal, considerando que, neste caso, 
o delito terá sido praticado em detrimento de um serviço público federal, nos termos do 
art. 109, IV, da CF/88: 
Art. 109 (...) 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços 
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, 
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da JustiçaMilitar e da Justiça 
Eleitoral; 
 
Obviamente, para a competência ser da Justiça Federal, o crime deve estar relacionado 
com as funções federais exercidas pelo agente público, conforme se aprende pela 
súmula 147 do STJ: 
Súmula 147-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados 
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. 
 
• Se o delito foi praticado por autoridade (agente público) estadual ou municipal no 
exercício dessa função: o crime será, em regra, de competência da Justiça Estadual, 
que é residual. 
 
Justiça Militar pode julgar crime de abuso de autoridade? 
SIM. 
Em 1996, o STJ editou um enunciado dizendo o seguinte: 
Súmula 172-STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de 
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. 
 
Ocorre que o entendimento contido nesta súmula está superado pela Lei nº 
13.491/2017, que alterou o art. 9º, II, do CPM. 
Antes da alteração, se o militar, em serviço, cometesse abuso de autoridade ele seria 
julgado pela Justiça Comum porque o art. 9º, II, do CPM afirmava que somente poderia 
ser considerado como crime militar as condutas que estivessem tipificadas no CPM. 
Assim, como o abuso de autoridade não está previsto no CPM, mas sim na Lei nº 
4.898/65, este delito não podia ser considerado crime militar nem podia ser julgado pela 
Justiça Militar. Isso, contudo, mudou com a nova redação dada pela Lei nº 13.491/2017 
ao art. 9º, II, do CPM. 
Com a mudança, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no 
inciso II do art. 9º, pode estar prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal 
“comum”. Dessa forma, o abuso de autoridade, mesmo não estando previsto no CPM 
 
 18 
pode agora ser considerado crime militar (julgado pela Justiça Militar) com base no art. 
9º, II, do CPM. 
Logo, a Justiça Militar pode sim julgar crime de abuso de autoridade. 
 
É possível a Justiça Eleitoral julgar crime de Abuso de Autoridade? 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 109, IV73, deixou bem claro o caráter 
absoluto da jurisdição eleitoral sobre a jurisdição comum, motivo pelo qual a 
competência para o julgamento dos crimes comuns conexos aos eleitorais é da justiça 
especializada, sem maiores questionamento por parte da doutrina ou da jurisprudência 
de todos os Tribunais Eleitorais74, inclusive do Supremo Tribunal Federal75. A força 
atrativa da Justiça Eleitoral (fixada também por força do artigo 35, II, do Código Eleitoral) 
é tão forte que, descumprida essa regra, a nulidade dos atos posteriores à denúncia é 
medida de rigor. 
 
Além disso, se no julgamento das infrações eleitorais e conexas, houver absolvição 
quanto aos crimes especializados, tal não modificará a competência da Justiça Eleitoral 
para os demais que lhe forem conexos, como já decidiu a Corte Eleitoral (TSE). Pois 
bem, dito isso, é possível que, em tese, a Justiça Eleitoral julgue crime de abuso de 
autoridade conexo com crime eleitoral. Tal hipótese fica bem clara, por exemplo, no 
possível concurso de crimes tipificados no artigo 9°, da Lei n°13.869/2019 e no artigo 
298, do Código Eleitoral, haja vista a objetividade jurídica diversa entre eles. 
 
Dos Efeitos da Condenação 
Art. 4º São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo 
o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para 
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele 
sofridos; 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo 
período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo 
são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade 
e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. 
Seção II 
Das Penas Restritivas de Direitos 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de 
liberdade previstas nesta Lei são: 
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo 
de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; 
 
 19 
III - (VETADO). 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas 
autônoma ou cumulativamente. 
 
EFEITOS DA CONDENAÇÃO E PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
 
Efeitos da condenação 
São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a 
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos 
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 
1 (um) a 5 (cinco) anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
 
Os efeitos previstos nos incisos II e III: 
• são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e 
• devem ser declarados motivadamente na sentença (não são automáticos). 
 
ATENÇÃO!! A condenação por crime de abuso de autoridade não acarreta 
automaticamente a perda do cargo. Na nova Lei, somente ocorrerá a perda do cargo 
como decorrência da condenação se o criminoso for reincidente em crime específico de 
abuso de autoridade. 
 
Penas restritivas de direitos 
 
A nova Lei de Abuso de Autoridade prevê penas alternativas em favor do autor do delito. 
Em seu art. 5.º, estabelece que as penas privativas de liberdade podem ser substituídas 
pelas seguintes penas restritivas de direito: 
a) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 
b) suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 
6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens. 
 
OBS: as penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou 
cumulativamente. 
 
 
As penas alternativas são sanções de natureza penal diversa das penas restritivas de 
liberdade. O objetivo do legislador é impedir que o autor de um crime de abuso de 
autoridade tenha contra si aplicada uma pena de constrição da sua liberdade, 
justamente porque a lesividade deste delito não necessitaria da medida mais drástica 
(aprisionamento) como resposta estatal. Nada impede que as penas restritivas de direito 
mencionadas sejam aplicadas autônoma ou cumulativamente. São autônomas, porque 
não dependem de uma pena principal, isto é, não são aplicadas como penas acessórias. 
São ainda substitutivas, porque o juiz primeiro estabelece a pena privativa de liberdade 
para, na sequência, verificando o preenchimento dos requisitos legais, substituí-la por 
uma ou mais pena restritiva de direito (penas alternativas). Em outros termos, não 
podem ser aplicadas diretamente, nem cumuladas com as penas privativas de 
liberdade. Em essência, são autônomas e substitutivas. A sua aplicação depende 
exclusivamente do preenchimento dos requisitos legais, daí porque não se trata de uma 
faculdade do juiz aplicá-las ou não. É um direito subjetivo do condenado por crime de 
abuso de autoridade receber o benefício das penas alternativas e não uma mera 
faculdade. 
 
 20 
 
Como a Nova Lei de abuso de Autoridade traz tipos penais que cominam penas de 1 
(um) a 4 (quatro) anos, antes mesmo da aplicação de penas alternativas, deve ser 
verificada a possibilidade de suspensão condicional do processo (sursis processual), 
prevista no art. 89 da Lei n.º 9.099/95: “Nos crimes em que a pena mínima cominada for 
igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao 
oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, 
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por 
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional 
da pena.” Por fim, algumas condutas de abuso deautoridade constituem infração penal 
de menor potencial ofensivo, com pena de detenção cominada de 6 (seis) meses a 2 
(dois) anos, diferentemente das condutas mais graves com pena de detenção de 1 (um) 
a 4 (quatro) anos. Nessas infrações de abuso de autoridade de menor potencial 
ofensivo, será possível a aplicação do instituto da transação penal, previsto no art. 76 
da Lei n.º 9.099/95: “Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal 
pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá 
proporá aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada 
na proposta.”. Nessas infrações de abuso de autoridade de menor potencial ofensivo, a 
transação penal somente não será aplicada se restar comprovado (§2.º, art. 76): “I – ter 
sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, 
por sentença definitiva; II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa; III – não indicarem os 
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e 
as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.” 
 
DICA DA MEGA!! 
 
Na nova Lei, todos os crimes serão responsabilizados com pena de detenção e 
multa. Não foi prevista pena de reclusão. A medida é correta. Os crimes de abuso 
de autoridade não possuem gravidade suficiente para se cominar pena de 
reclusão. 
 
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das 
sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem 
falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. 
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da 
criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato 
quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal. 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-
disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado 
de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no 
exercício regular de direito. 
 
SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA 
 
Princípio da independência de instâncias 
Em regra, as penas (sanções criminais) previstas na Lei nº 13.869/2019 devem 
aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. 
 
 21 
Assim, em regra, as responsabilidades civil e administrativa são independentes da 
criminal. 
 
Exceções 
1) Se o juízo criminal decidir sobre a existência ou a autoria do fato, essas questões não 
poderão mais ser questionadas nas esferas civil e administrativa. 
2) Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a 
sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em 
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
 
 
Em caso de falta funcional, o órgão correicional deverá ser informado 
As notícias de crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 que descreverem falta funcional 
deverão ser informadas à autoridade competente com vistas à apuração. 
 
OS TIPOS PENAIS PREVISTOS 
 
OS CINCO DOLOS 
Os elementos subjetivos especiais ou dolos específicos ou elementos subjetivos do 
injusto trarão a gravidade necessária para justificar a tipificação das condutas mas, ao 
mesmo tempo, dificultarão, e muito, a comprovação da parte subjetiva da conduta. 
 São finalidades específicas previstas na lei, alternativas, as seguintes: 
– prejudicar outrem 
– beneficiar a si mesmo 
– beneficiar terceiro 
– por mero capricho 
– por satisfação pessoal 
 
 
DECRETAÇÃO DE MEDIDA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM DESCONFORMIDADE 
COM A LEI 
 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade 
com as hipóteses legais: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de 
prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder 
liberdade provisória, quando manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. 
 
CRIME DO CAPUT 
 
Em que consiste o delito: 
 
 
 22 
A autoridade judicial decreta medida privativa de liberdade em desacordo com as 
hipóteses autorizadas pela lei. 
 
Medidas de privação de liberdade 
Medidas de privação de liberdade previstas no ordenamento jurídico e que podem ser 
objeto deste crime: 
• Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva); 
• Prisão para cumprimento da execução provisória da pena; 
• Prisão para cumprimento da execução definitiva da pena; 
• Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP); 
• Semiliberdade (art. 120 do ECA); 
• Internação (art. 121 do ECA); 
• Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001). 
 
Sujeito ativo 
A autoridade judicial (Juiz, Desembargador, Ministro). 
 
Sujeito passivo 
É o Estado e também a pessoa que teve privada a sua liberdade. 
 
Elemento subjetivo 
Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de prejudicar 
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou 
satisfação pessoal). 
Não se pune a conduta culposa. 
 
Consumação 
O crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão 
determinando a medida de privação da liberdade, ainda que ela não se consuma. 
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado 
naturalístico. 
Desse modo, imagine que o juiz decreta a prisão mesmo sendo manifestamente 
descabida. Antes que a providência seja cumprida, o indivíduo consegue do Tribunal 
uma ordem em habeas corpus cassando a decisão de 1ª instância. Em tese, o crime 
estará consumado mesmo não tendo havido a efetiva condução coercitiva. 
 
Suspensão condicional do processo 
Como a pena mínima é igual a 1 ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89 
da Lei nº 9.099/95). 
 
CRIME DO PARÁGRAFO ÚNICO 
 
Providências que o juiz deverá adotar diante de uma prisão em flagrante 
 
Segundo o art. 310 do CPP, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá, 
fundamentadamente: 
I - relaxar a prisão ilegal; ou 
II - converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, quando: 
• estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP e 
• se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; 
ou 
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
 
Os incisos I e II do parágrafo único do art. 9º têm por objetivo principal punir o magistrado 
que, dentro de prazo razoável, deixa de dar cumprimento adequado ao art. 310 do CPP. 
 
 23 
 
Inciso I 
 
A prisão ilegal deve ser relaxada pela autoridade judiciária competente. 
É o caso, por exemplo, em que o juiz recebe o auto de prisão em flagrante e constata 
que o indivíduo foi preso por conta de um fato atípico ou percebe que não havia situação 
de flagrância. Nestas hipóteses, exemplificativas, cabe ao juiz relaxar a prisão do 
indivíduo, colocando-o em liberdade, salvo se houver algum outro motivo para o cárcere. 
 
Inciso II 
 
O estudo do inciso II deve ser dividido em duas partes: 
1) deixar de “substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa”. 
Prisão preventiva é uma espécie de prisão de natureza cautelar, decretada na fase das 
investigações ou durante a ação penal, desde que presentes os pressupostos e 
requisitos previstos nos arts. 312 e 313 do CPP. 
Ocorre que a prisão preventiva é uma medida extrema e somente deve ser decretada 
(ou mantida) se não couber nenhuma outra medida cautelar. A prisão é a última das 
medidas cautelares que deverá ser adotada. Assim, somente será determinada a prisão 
quando não for cabível a sua substituição por outramedida cautelar (art. 282, § 6º do 
CPP). 
 
O art. 319 do CPP prevê a lista de medidas cautelares diversas da prisão: 
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: 
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para 
informar e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante 
desses locais para evitar o risco de novas infrações; 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou 
necessária para a investigação ou instrução; 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado 
ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica 
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações 
penais; 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência 
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 
26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; 
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do 
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada 
à ordem judicial; 
IX - monitoração eletrônica. 
 
2) deixar “de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível” 
Liberdade provisória é uma medida de contracautela concedida pela autoridade judicial 
que, ao receber o auto de prisão em flagrante, constata que a prisão efetuada foi legal, 
mas que não há motivos para se decretar a prisão preventiva, razão pela qual o 
flagranteado deverá ser solto, com ou sem a imposição de medidas cautelares diversas. 
A liberdade provisória é relacionada, portanto, com a prisão em flagrante, não sendo a 
medida adequada para o caso de já ter sido decretada a prisão preventiva. Vamos 
comparar e entender os institutos: 
 
 
 24 
Relaxamento da prisão 
Revogação 
da prisão 
preventiva 
Liberdade provisória 
É a decisão do magistrado 
reconhecendo que a 
prisão é ilegal, ou seja, que 
não atende os requisitos 
formais. 
É a decisão do magistrado 
reconhecendo que não há 
motivos para a prisão 
preventiva, devendo, 
portanto, esta medida ser 
revogada. 
É a decisão do magistrado 
reconhecendo que a 
prisão em flagrante foi 
legal, mas que não há 
motivos para convertê-la 
em prisão preventiva, 
motivo pelo qual o 
flagranteado deve ser 
solto, com ou sem a 
imposição de medidas 
cautelares. 
 
Inciso III 
Deixar de “deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível”. 
Este inciso III é extremamente amplo. Isso porque ele não se limita aos casos de prisão 
em flagrante. Na verdade, não se restringe nem mesmo aos casos de prisão. 
Explico. No Brasil, o habeas corpus apresenta uma feição bem ampla, sendo cabível 
mesmo quando o paciente não está preso e mesmo quando ato impugnado não implicar 
risco imediato de prisão. 
Nesse sentido, o STF recentemente decidiu que: 
Cabe habeas corpus mesmo nas hipóteses que não envolvem risco imediato de prisão, 
como na análise da licitude de determinada prova ou no pedido para que a defesa 
apresente por último as alegações finais, se houver a possibilidade de condenação do 
paciente. Isso porque neste caso a discussão envolve liberdade de ir e vir. 
STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. 
Ricardo Lewandowski, julgado em 27/8/2019 (Info 949). 
 
Assim, o inciso III do parágrafo único do art. 9º pune, em suma, a demora no julgamento 
do habeas corpus. 
 
Liminar em habeas corpus: é a decisão concedendo o pedido formulado pelo impetrante 
antes que o processo de habeas corpus chegue ao fim. 
Ordem de habeas corpus: é a decisão concedendo o pedido formulado pelo impetrante, 
mas já ao final do processo de habeas corpus. 
Vale relembrar que, apesar de ser mais comum a impetração de habeas corpus nos 
Tribunais, existe também a possibilidade de o juízo de 1ª instância julgar habeas corpus. 
É o caso, por exemplo, em que o impetrante questiona um ato do Delegado de Polícia. 
 
Dentro de prazo razoável 
A grande dúvida e polêmica envolvendo este tipo penal diz respeito ao conceito de 
“prazo razoável”. Trata-se de conceito aberto que deverá ser analisado com base nas 
peculiaridades do caso concreto. 
 
DECRETAR CONDUÇÃO COERCITIVA DESCABIDA OU SEM PRÉVIA INTIMAÇÃO 
DE COMPARECIMENTO 
 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado 
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 
 
 
 25 
NOÇÕES GERAIS SOBRE A CONDUÇÃO COERCITIVA 
 
Condução coercitiva 
 
Condução coercitiva consiste em capturar a testemunha, o perito, o ofendido, o 
investigado ou o réu e levá-lo, ainda que contra a sua vontade, à presença de uma 
determinada autoridade para que seja ouvido, identificado ou pratique outros atos de 
interesse da investigação ou da ação penal. 
 
Natureza jurídica 
A condução coercitiva, embora não listada no rol das medidas cautelares diversas da 
prisão dos arts. 319 e 320 do CPP, também funciona como medida cautelar de coação 
pessoal (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 
2019, p. 694). 
 
Espécies 
 
A legislação prevê a possibilidade, em tese, da condução coercitiva de: 
a) testemunha: 
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo 
justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou 
determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força 
pública. 
 
b) perito: 
Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade 
poderá determinar a sua condução. 
 
c) ofendido (vítima): 
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as 
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa 
indicar, tomando-se por termo as suas declarações. 
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido 
poderá ser conduzido à presença da autoridade. 
 
d) investigado (fase pré-processual) ou réu (fase processual): 
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento 
ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá 
mandar conduzi-lo à sua presença. 
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos 
mencionados no art. 352, no que lhe for aplicável. 
 
A condução coercitiva é sempre determinada pelo magistrado? 
Não. A legislação prevê a possibilidade de que outras autoridades também determinem 
a condução coercitiva. Veja alguns exemplos: 
• autoridade policial; 
• membros do Ministério Público; 
• Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). 
 
Condução coercitiva do investigado na deflagração de operações policiais 
Nos últimos anos temos visto diversas “operações” da Polícia Federal nas quais há 
ordens judiciais de condução coercitiva de investigados para que sejam interrogados. 
Vamos entender como isso funcionava. 
A condução coercitiva para interrogatório nas operações policiais é a ordem judicial, 
materializada em um mandado, por meio do qual a polícia fica autorizada a levar o 
 
 26 
investigado, compulsoriamente, para a Delegacia (ou outro lugar escolhido) a fim de que 
ali ele seja interrogado, no dia e horário escolhidos pela autoridade policial. 
Em geral, o objetivo idealizado para a condução coercitiva é que o órgão de investigação 
criminal atue com o “fator surpresa”, fazendo com que o investigado preste suas 
declarações no interrogatório sem ter tido muito tempopara refletir naquilo que irá 
responder e sem ter tido a oportunidade de conversar com os outros investigados ou 
ainda de conhecer quais os outros elementos informativos que a polícia já dispõe contra 
ele. 
Por isso, normalmente, o mandado de condução coercitiva é cumprido logo no início do 
dia, por volta das 6h, ao mesmo tempo em relação a todos os investigados naquela 
operação. A polícia chega à residência do investigado, explica o mandado, pede que 
ele se vista e já segue com ele imediatamente para a Delegacia, onde já há um 
Delegado esperando para conduzir o interrogatório. 
Vale ressaltar que, na condução coercitiva, o investigado é obrigado a comparecer à 
Delegacia, mas lá poderá permanecer em silêncio e não responder a qualquer das 
perguntas formuladas. 
Importante destacar também que o investigado, durante o interrogatório, poderá se fazer 
acompanhar por advogado ou Defensor Público. 
O caso mais famoso de condução coercitiva ocorreu com o ex-Presidente Lula. O Juiz 
Federal Sérgio Moro, a requerimento da Polícia Federal, deferiu a condução coercitiva 
de Lula, que foi efetivada em 04/03/2016, tendo o ex-Presidente sido levado para prestar 
interrogatório em uma sala no aeroporto de Congonhas. 
Confira a explicação de Vladimir Aras para a condução coercitiva: 
“A condução coercitiva autônoma – que não depende de prévia intimação da pessoa 
conduzida – pode ser decretada pelo juiz criminal competente, quando não cabível a 
prisão preventiva (arts. 312 e 313 do CPP), ou quando desnecessária ou excessiva a 
prisão temporária, sempre que for indispensável reter por algumas horas o suspeito, a 
vítima ou uma testemunha, para obter elementos probatórios fundamentais para a 
elucidação da autoria e/ou da materialidade do fato tido como ilícito. 
Assim, quando inadequadas ou desproporcionais a prisão preventiva ou a temporária, 
nada obsta que a autoridade judiciária mande expedir mandados de condução 
coercitiva, que devem ser cumpridos por agentes policiais sem qualquer exposição 
pública do conduzido, para que prestem declarações à Polícia ou ao Ministério Público, 
imediatamente após a condução do declarante ao local do depoimento. Tal medida deve 
ser executada no mesmo dia da deflagração de operações policiais complexas, as 
chamadas megaoperações. 
Em regra, para viabilizar a condução coercitiva será necessário demonstrar que estão 
presentes os requisitos para a decretação da prisão temporária, mas sem a limitação 
do rol fechado (numerus clausus) do art. 1º da Lei 7.960/89. A medida de condução 
debaixo de vara justifica-se em virtude da necessidade de acautelar a coleta probatória 
durante a deflagração de uma determinada operação policial ou permitir a conclusão de 
uma certa investigação criminal urgente. 
Diante das circunstâncias do caso concreto, a prisão temporária pode ser substituída 
por outra medida menos gravosa, a partir do poder geral de cautela do Poder Judiciário, 
previsto no art. 798 do CPC e aplicável ao processo penal com base no art. 3º do CPP. 
Tal medida cautelar extranumerária ao rol do art. 319 do CPP reduz a coerção do Estado 
sobre o indivíduo, limitando-a ao tempo estritamente necessário para a preservação 
probatória, durante a fase executiva da persecução policial. 
De fato, a condução coercitiva dos suspeitos sempre será mais branda que a prisão 
temporária; a medida restringe de modo mais suave a liberdade pessoal, somente 
enquanto as providências urgentes de produção de provas (cumprimento de mandados 
de buscas, por exemplo) estiverem em curso. 
Se o legislador permite a prisão temporária por (até) 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias 
nos crimes comuns, a condução coercitiva resolve-se em um dia ou menos que isto, em 
algumas horas, mediante a retenção do suspeito e sua apresentação à autoridade 
 
 27 
policial para interrogatório sob custódia, enquanto as buscas têm lugar. Ou seja, a 
condução sob vara deve durar apenas o tempo necessário à instrução preliminar de 
urgência, não devendo persistir por prazo igual superior a 24 horas, caso em que se 
trasveste em temporária. 
Sendo menos prolongada que as prisões cautelares, a condução coercitiva guarda 
ainda as mesmas vantagens que a custódia temporária, pois permite que a Polícia 
interrogue todos os envolvidos no mesmo momento, visando a evitar, pela surpresa, as 
versões “combinadas” ou que um suspeito oriente as declarações de uma testemunha 
ou a pressione, na fase da apuração preliminar, ou que documentos ou ativos sejam 
suprimidos, destruídos ou desviados.” (ARAS, Vladimir. Debaixo de vara: a condução 
coercitiva como cautelar pessoal autônoma. Disponível em: 
https://vladimiraras.blog/2013/07/16/a-conducao-coercitiva-como-cautelar-pessoal-
autonoma/>; acesso em 27 ago. 2018. 
 
Inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório 
 
O STF, recentemente, decidiu que não é válida a condução coercitiva do investigado ou 
do réu para interrogatório no âmbito da investigação ou da ação penal. 
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: 
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento 
ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá 
mandar conduzi-lo à sua presença. 
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não 
foi recepcionada pela Constituição Federal. 
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para 
interrogatório, tal conduta poderá ensejar: 
• a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade 
• a ilicitude das provas obtidas 
• a responsabilidade civil do Estado. 
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 
13 e 14/6/2018 (Info 906). 
 
 
ANÁLISE DO TIPO PENAL DO ART. 10 
 
Em que consiste o delito: 
CONDUÇÃO COERCITIVA E ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 10 DA LEI) 
Decretar 
condução 
coercitiva 
de... 
• testemunha ou 
• investigado 
1) de forma manifestamente descabida; ou 
2) sem que a testemunha ou investigado tenham 
sido previamente intimados para comparecerem 
espontaneamente ao juízo. 
 
Perceba, portanto, que existem duas hipóteses em que haverá abuso de autoridade na 
condução coercitiva: 
1) quando ela for manifestamente descabida; ou 
2) quando a autoridade judicial não der oportunidade para que a testemunha ou o 
investigado compareçam espontaneamente ao juízo. 
 
A primeira hipótese abrange a segunda. Isso porque se a testemunha ou o investigado 
não foram previamente intimados para comparecerem espontaneamente, essa 
condução coercitiva é abusiva, desproporcional, ou seja, é manifestamente descabida 
já que não houve recusa. 
 
 
 28 
Sujeito ativo 
Se o intérprete fizer uma leitura apressada do art. 10 poderá defender a ideia de que 
apenas o magistrado é sujeito ativo deste delito. Isso porque a parte final do tipo penal 
fala em “comparecimento ao juízo”. 
Essa, contudo, não é a melhor intepretação. 
Conforme explicado acima, existem duas hipóteses em que a decretação da condução 
coercitiva poderá ensejar a responsabilização criminal pelo art. 10: 
1) quando a condução coercitiva for manifestamente descabida ou 
2) quando a condução coercitiva for decretada sem prévia intimação de 
comparecimento ao juízo. 
 
A segunda hipótese é, de fato, restrita às autoridades judiciais, ou seja, apenas o 
magistrado poderá praticar considerando que somente ele pode determinar o 
comparecimento da testemunha ou investigado ao juízo. 
Contudo, a primeira hipótese pode ser praticada por outras autoridades, como é o caso 
do Delegado de Polícia, do membro do Ministério Público e do presidente de CPI. 
Assim, se o Delegado de Polícia decretar condução coercitiva manifestamente 
descabida, poderá ser responsabilizado pelo crime do art. 10 da Lei. 
 
Juiz que decreta condução coercitiva do investigado na deflagração de operações 
policiais 
Se o juiz decretar condução coercitiva do investigado para interrogatório em desacordocom o que decidiu o STF nas ADPF 395 e 444: comete o crime do art. 10. Isso porque 
o STF já afirmou que não cabe condução coercitiva nesses casos. 
 
Sujeito passivo 
É possível identificar duas vítimas: 
• a Administração da Justiça; 
• a testemunha ou o investigado que submetido ao constrangimento de ser objeto de 
condução coercitiva indevida. 
 
Prévia intimação de comparecimento 
A intimação prévia da testemunha ou do investigado deve ser pessoal. 
 
Elemento subjetivo 
Dolo acrescido do elemento subjetivo especial (finalidade específica de prejudicar 
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou 
satisfação pessoal). 
Não se pune a conduta culposa. Ex: juiz expediu o mandado de intimação prévia; 
testemunha não compareceu; magistrado determinou a condução coercitiva e depois se 
atestou que a testemunha não havia recebido a intimação anterior; mesmo que fique 
demonstrado que o juiz foi negligente por não ter conferido o efetivo cumprimento do 
mandado, não haverá crime. 
 
Só haverá crime em caso de testemunha ou investigado 
Se o juiz determinou a condução coercitiva do perito ou do ofendido, não haverá o crime 
do art. 10 mesmo que essa condução tenha sido manifestamente descabida ou sem 
prévia intimação dos destinatários. Isso porque o tipo penal fala apenas em testemunha 
ou investigado. 
 
“Investigado” abrange também o réu? 
Penso que o STJ responderá que sim. Isso porque existem precedentes daquele 
Tribunal analisando o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 e dizendo que a 
palavra “investigação” não se limita à fase do inquérito policial. A “investigação” da 
infração penal se prolonga durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o 
 
 29 
inquérito policial quanto a ação penal iniciada com o recebimento da denúncia. Nesse 
sentido, confira trecho da ementa do julgado mencionado do STJ: 
(...) 3. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/13 
cinge-se à fase do inquérito, não deve prosperar, eis que as investigações se prolongam 
durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação 
penal deflagrada pelo recebimento da denúncia. Com efeito, não havendo o legislador 
inserido no tipo a expressão estrita "inquérito policial", compreende-se ter conferido à 
investigação de infração penal o sentido de persecução penal, até porque carece de 
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do 
que a obstrução da ação penal. Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no 
âmbito policial possuem o contraditório diferido, de tal sorte que não é possível tratar 
inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente independentes da 
persecução penal. (...) 
STJ. 5ª Turma. HC 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019. 
 
Não apenas processos criminais 
Vale ressaltar que a condução coercitiva pode ser decretada não apenas em 
investigações ou processos criminais. É possível que isso ocorra em outros casos, 
como, por exemplo: 
• em inquérito civil; 
• em procedimentos do ECA; 
• em processos cíveis; 
• em processos trabalhistas. 
 
Consumação 
O crime se consuma com a decretação, ou seja, com a prolação da decisão 
determinando a condução coercitiva, ainda que ela não se consuma. 
Trata-se, portanto, de crime formal, que não depende da produção de resultado 
naturalístico. 
Desse modo, imagine que o juiz decreta a condução coercitiva do investigado mesmo 
sendo manifestamente descabida. Antes que a providência seja cumprida, o investigado 
consegue do Tribunal uma ordem em habeas corpus cassando a decisão de 1ª 
instância. Em tese, o crime estará consumado mesmo não tendo havido a efetiva 
condução coercitiva. 
 
Suspensão condicional do processo 
Como a pena mínima é igual a 1 ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89 
da Lei nº 9.099/95). 
 
Competência 
A competência para julgamento deste crime dependerá das funções desempenhadas 
pela autoridade que determinou a condução coercitiva. 
Ex: se a condução coercitiva for decretada pelo magistrado que estiver atuando em 
função judicante de natureza federal, a competência será da Justiça Federal. É o caso, 
por exemplo, de um Juiz Federal, de um Juiz do Trabalho, de um Juiz Militar ou mesmo 
de um Juiz de Direito atuando em processo de competência delega (ex: causas 
previdenciárias – art. 109, § 3º, da CF/88). 
Em caso contrário, a competência será da Justiça Estadual. 
 
Art. 11. (VETADO). 
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade 
judiciária no prazo legal: 
 
 30 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
I – deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou 
preventiva à autoridade judiciária que a decretou; 
II – deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local 
onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; 
III – deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de 
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor 
e das testemunhas; 
IV – prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de 
prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem 
motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente 
após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo 
judicial ou legal. 
O sujeito ativo é o agente público nos termos definidos no art. 2.º da nova Lei de Abuso 
de Autoridade, especialmente aquele responsável por realizar as comunicações da 
prisão em flagrante, no caso, o delegado de polícia, autoridade policial competente. 
 Classifica-se, portanto, como crime próprio, porque somente pode ser cometido por 
agente público. O sujeito passivo imediato é a pessoa presa, cuja garantia individual 
fundamental de comunicação da sua prisão foi violada pelo agente público. O sujeito 
passivo mediato é o Estado, porque há o interesse público de controle de legalidade 
das prisões em flagrante, preventiva e temporária. Desta forma, por ter sujeito passivo 
imediato e mediato, classifica-se doutrinariamente como delito de dupla subjetividade 
passiva. 
O bem jurídico tutelado é a garantia individual fundamental de toda pessoa de ter sua 
prisão comunicada imediatamente ao juiz e à sua família ou pessoa indicada. Em outros 
termos, tutela-se a garantia constitucional inserta no inc. LXII do art. 5.º da CF/88. 
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de deixar injustificadamente de 
comunicar imediatamente prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal, ou 
ainda deixar de comunicar imediatamente a execução de prisão temporária preventiva 
à autoridade judiciária que a decretou. Acrescente-se ao dolo do agente público o 
elemento subjetivo do injusto “com a finalidade específica de prejudicar outrem ou 
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.” 
Este fim especial é necessário, caso contrário, não haverá dolo. 
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou 
redução de sua capacidade de resistência, a: 
I – exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; 
II – submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; 
III – (VETADO). 
 
 31 
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena 
cominada à violência. 
O sujeito ativo é o agente público nos termos definidos no art. 2.º da Nova Lei de Abuso 
de Autoridade, especificamente o responsável pelo constrangimento ilegal de presos e 
detentos, submetidos a condições vexatórias e degradantes da sua honra, da sua 
imagem e da sua dignidade, como se fossem objetos (e não sujeitos de direitos!) de 
espetáculos populistas irracionais. Classifica-se, portanto, como crime próprio, porque 
somente

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