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FENÔMENOS DE TRANSPORTES CCE0187 Engenharia Civil 2015/2 Prof. Paulo Cesar Martins Penteado Fenômenos de Transporte CCE 0187 2 FENÔMENOS DE TRANSPORTES CCE0187 Aula 1 Ementa: Fundamentos de Hidrostática: Propriedades dos fluidos Densidade e pressão Pressão hidrostática Teorema de Stevin Princípio de Pascal Princípio de Arquimedes Fundamentos de Hidrodinâmica Definição de Hidrodinâmica Linhas de corrente Equação de continuidade (Euler) Tipos de escoamento e suas classificações segundo o critério de Reynolds Equação de Bernoulli Tensões em fluidos Processos de Propagação e Transmissão de Calor Definição de calor e seus modos de propagação Propagação do calor por condução Propagação do calor por convecção Propagação do calor por irradiação Bibliografia Básica: Hallyday, R.. Fundamentos de Física vol 2 . 8 ed. São Paulo: LTC, 2009. Çengel, Y. A. et al. Mecânica dos fluidos: Fundamentos e Aplicações 1 ed.. AMGH, 2008. Assy, T. M.- Mecânica dos Fluidos: Fundamentos e Aplicações- 1 ed- Rio de Janeiro: LTC, 2004. Bibliografia Complementar Munson, B. R. et al- Introdução à Engenharia de Sistemas Térmicos- 1 ed- Rio de Janeiro: LTC, 2005. McDonald, A.T.- Introdução à Mecânica dos Fluidos: Fundamentos e Aplicações- 6 ed- Rio de Janeiro: LTC, 2006. Cutnell, J. D.- Física vol 1: Fundamentos e Aplicações- 6 ed- Rio de Janeiro: LTC, 2006. Tipler, P. A.- Física para cientistas e Engenheiros vol 1- 6 ed- Rio de Janeiro: LTC, 2009. Serway, R. A.- Princípios de Física vol 2- 1 ed- Rio de Janeiro: Cangage Learning, 2004 Horário das aulas: Aulas às sextas-feiras, das 21:00 às 22:40 Data das avaliações (presenciais): AV1 em 25/SET AV2 em 27/NOV AV3 em 11/DEZ Fenômenos de Transporte CCE 0187 3 Cronograma das aulas (presenciais): Data Atividade 07/AGO Aula 1 INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTES 14/AGO Aula 2 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS E CONVERSÃO DE UNIDADES 21/AGO Aula 3 FUNDAMENTOS DE HIDROSTÁTICA E TEOREMA DE STEVIN 28/AGO Aula 4 PRINCÍPIO DE PASCAL E SUAS APLICACÕES 04/SET Aula 5 TEOREMA DE ARQUIMEDES E SUAS APLICACÕES 11/SET Aula 6 HIDRODINÂMICA - REGIMES DE ESCOAMENTO 18/SET Aula 7 ANÁLISE DE VAZÕES E PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE I 25/SET AVALIAÇÃO PRESENCIAL AV1 02/OUT Aula 8 ANÁLISE DE VAZÕES E PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE II 09/OUT Aula 9 TEOREMA DE BERNOULLI 16/OUT Aula 10 APLICAÇÕES DO TEOREMA DE BERNOULLI 23/OUT Aula 11 EQUAÇÃO DA ENERGIA E MÁQUINAS HIDRÁULICAS 30/OUT Aula 12 TRANSMISSÃO DE CALOR: CONDUÇÃO I 06/NOV Aula 13 TRANSMISSÃO DE CALOR: CONDUÇÃO II 13/NOV Aula 14 TRANSMISSÃO DE CALOR: CONVECÇÃO I 20/NOV Aula 15 TRANSMISSÃO DE CALOR: CONVECÇÃO II 27/NOV AVALIAÇÃO PRESENCIAL AV2 04/DEZ Aula 16 TRANSMISSÃO DE CALOR: RADIAÇÃO 11/DEZ AVALIAÇÃO PRESENCIAL AV3 Conteúdo das aulas Aula 1 - INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTES Introdução à disciplina e suas principais aplicações cotidianas e industriais; Apresentação dos tópicos de aula gerais; Critério de avaliação e condições para aprovação na disciplina; Aula 2 - PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS FLUÍDOS E CONVERSÃO DE UNIDADES Definição de fluido; Apresentação das principais propriedades de um fluído (densidade, tensão superficial, capilaridade, viscosidade, etc.); Apresentação de métodos de conversão das principais unidades utilizadas ao longo do curso (comprimento, área, volume, massa, energia, pressão, etc.). Aula 3 - FUNDAMENTOS DE HIDROSTÁTICA E TEOREMA DE STEVIN Introdução à Hidrostática: principais conceitos e aplicações; Conceito de densidade de uma substância e densidade de misturas; Conceito de pressão normal, pressão hidrostática e pressão efetiva; Apresentação do teorema de Stevin e suas principais aplicações. Aula 4 - HIDROSTÁTICA- PRINCÍPIO DE PASCAL E SUAS PRINCIPAIS APLICACÕES Definição do Princípio de Pascal e apresentação do seu equacionamento; Principais aplicações do Princípio de Pascal. Aula 5 - HIDROSTÁTICA- TEOREMA DE ARQUIMEDES E SUAS PRINCIPAIS APLICACÕES Definição de Empuxo; Apresentação do teorema de Arquimedes; Conceito de peso aparente e peso real; Aplicações do teorema de Arquimedes. Aula 6 - INTRODUÇÃO À HIDRODINÂMICA E A REGIMES DE ESCOAMENTO Introdução à Hidrodinâmica e seus principais fundamentos e aplicações; Fenômenos de Transporte CCE 0187 4 Conceito de linhas de corrente e escoamento de fluidos; Apresentação dos principais tipos de escoamento existentes e suas características; Aula 7 - ANÁLISE DE VAZÕES Conceito de vazão; Apresentação das principais unidades de vazão e suas conversões; Cálculo de vazões em condutos abertos e forçados. Aula 8 - CÁLCULO DE VAZÕES E APLICACÕES DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE Conceito de vazão e metodologia de cálculo; Apresentação da Equação de Euler da continuidade e suas principais aplicações; Aula 9 - EQUACÃO DE BERNOULLI E SUAS APLICAÇÕES Conceito de perda de carga; Apresentação da equação de Bernoulli; Aplicações da equação de Bernoulli; Aula 10 - ESTUDO DE CASOS ESPECIAIS DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI Apresentação dos casos especiais da Equação de Bernoulli; Buracos em tanques de água; Medidores de Venturi Tubo de Pitot; Dimensionamento de asas de aviões. Aula 11 - ESTUDO DOS ESCOAMENTOS E CLASSIFICAÇÕES SEGUNDO O CRITÉRIO DE REYNOLDS Definição do número de Reynolds e sua importância na análise dos escoamentos; Classificação dos regimes de escoamento segundo o critério de Reynolds. Conceito e cálculo de perdas de carga. Aula 12 - PRINCIPAIS PROCESSOS DE TRANSMISSÃO DE CALOR E SUAS EQUAÇÕES Conceito de condução de calor; Processos de transmissão de calor; Transmissão de calor por condução (Lei de Fourier); Aula 13 - PRINCIPAIS PROCESSOS DE TRANSMISSÃO DE CALOR E SUAS EQUAÇÕES II Conceito de convecção térmica; Modelo de visualização da convecção térmica num líquido em aquecimento; Fenômenos climáticos relacionados ao processo de convecção térmica. Aula 14 - PRINCIPAIS PROCESSOS DE TRANSMISSÃO DE CALOR E SUAS EQUAÇÕES III Conceito de irradiação térmica; Apresentação da Lei de Stefan- Boltzmann para cálculo de poder emissivo e suas principais aplicações. Aula 15 - APRESENTAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE NAVIER-STOKES E SUAS APLICAÇÕES Equações de Navier-Stokes; Aplicações práticas das equações de Navier-Stokes. Aula 16 - REVISÃO GERAL Tópicos de Hidrostática Tópicos de Hidrodinâmica Processos de condução de calor Este texto, uma seleção de tópicos e exercícios de diferentes fontes, tem por objetivo oferecer aos acadêmicos um breve resumo dos conceitos, leis e princípios a serem desenvolvidos durante o curso de Fenômenos de Transporte. Longe de pretender ser original, tem por objetivo apenas facilitar o estudo do acadêmico. É também importante Fenômenos de Transporte CCE 0187 5 destacar que o acadêmico deve ter sempre em mente que a consulta aos originais citados nas Referências Bibliográficas, além de outros, é imprescindível para a evolução de seus estudos. Aula 2 Introdução A mecânica dos fluidos é a parte da mecânica aplicada que se dedica à análise do comportamento dos líquidos e gases, tanto em equilíbrio como em movimento. Obviamente, o campo de estudo da mecânica dos fluidos abrange um vasto conjunto de problemas. Por exemplo, estes podem variar do estudo do escoamento de sangue nos capilares (que apresentam diâmetro da ordem de poucos mícrons) até o escoamento de petróleo através de um oleoduto (alguns com diâmetro igual a 1,2 m e comprimento de mais de 1000 km). Os princípios da mecânica dos fluidos são necessários para explicar porque o voo dos aviões com formato aerodinâmico e com superfícies lisas é mais eficiente e também porque a superfície das bolas de golfe deve ser rugosa. Muitas questões interessantes podem ser respondidas se utilizarmos modelos simples da mecânica dos fluidos. Porexemplo: Como um foguete gera empuxo no espaço exterior (na ausência de ar para empurrá-lo)? Por que você não escuta o ruído de um avião supersônico até que ele passe por cima de você? Por que um rio escoa com uma velocidade significativa apesar do declive da superfície ser pequeno (o desnível não é detectado com um nível comum)? Como as informações obtidas num modelo de avião podem ser utilizadas no projeto de um avião real? Por que a superfície externa do escoamento de água numa torneira às vezes parece ser lisa e em outras vezes parece ser rugosa? Qual é a economia de combustível que pode ser obtida melhorando-se o projeto aerodinâmico dos automóveis e caminhões? A lista das possíveis aplicações práticas, e também das perguntas envolvidas, é infindável. Mas, todas elas têm um ponto em comum – a mecânica dos fluidos. É muito provável que, durante a sua carreira de engenheiro, você utilizará vários conceitos da mecânica dos fluidos na análise e no projeto dos mais diversos equipamentos e sistemas. Assim, torna-se muito importante que você tenha um bom conhecimento desta disciplina. Nós esperamos que este texto lhe proporcione uma base dos aspectos fundamentais da mecânica dos fluidos. Algumas características dos fluidos Uma das primeiras questões que temos de explorar é ‒ o que é um fluido? Outra pergunta pertinente é ‒ quais são as diferenças entre um sólido e um fluido? Todas as pessoas, no mínimo, tem uma vaga ideia destas diferenças. Um sólido é “duro” e não é fácil deformá- lo enquanto um fluido é “mole” e é muito fácil deformá-lo. Estas observações sobre as diferenças entre sólidos e fluidos, apesar de serem um tanto descritivas, não são satisfatórias do ponto de vista científico ou da engenharia. As análises da estrutura molecular dos materiais revelam que as moléculas de um material dito sólido (aço, concreto, etc.) são pouco espaçadas e stão sujeitas a forças intermoleculares intensas e coesivas. Esta configuração permite ao sólido manter sua forma e lhe confere a propriedade de não ser deformado facilmente. Entretanto, num material dito líquido (água, óleo, etc.), o espaçamento entre as moléculas é maior e as forças intermoleculares são fracas (em relação àquelas dos sólidos). Por estes motivos, as moléculas de um líquido apresentam maior liberdade de movimento e, assim, os líquidos podem ser facilmente deformados (mas não comprimidos), ser vertidos em Fenômenos de Transporte CCE 0187 6 reservatórios ou forçados a escoar em tubulações. Os gases (ar, oxigênio, etc.) apresentam espaços intermoleculares ainda maiores e as forças intermoleculares são desprezíveis (a liberdade de movimento das moléculas é ainda maior do que àquela dos líquidos). As consequências destas características são: os gases podem ser facilmente deformados (e comprimidos) e sempre ocuparão totalmente o volume de qualquer reservatório que os armazene. Apesar da estrutura molecular dos fluidos ser importante para distinguir um fluido de outro, não é possível descrever o comportamento dos fluidos, em equilíbrio ou em movimento, a partir da dinâmica individual de suas moléculas. Mais precisamente, nós caracterizaremos o comportamento dos fluidos considerando os valores médios, ou macroscópicos, das quantidades de interesse. Note que esta média deve ser avaliada em um volume pequeno, mas que ainda contém um número muito grande de moléculas. Assim, quando afirmamos que a velocidade num ponto do escoamento tem certo valor, na verdade, nós estamos indicando a velocidade média das moléculas que ocupam um pequeno volume que envolve o ponto. Este volume deve ser pequeno em relação às dimensões físicas do sistema que estamos analisando, mas deve ser grande quando comparado com a distância média intermolecular. Resumindo, fluidos são substâncias sem forma própria, isto é, adaptam-se à forma do recipiente que os contém. Ao ser confinado, o fluido reage aos esforços que as paredes do recipiente exercem sobre ele, obrigando-o a assumir a mesma forma delas; essa reação sobre as paredes do recipiente se traduz pela pressão exercida pelo fluido, grandeza que será estudada neste capítulo. Dimensões, Homogeneidade Dimensional e Unidades O estudo da mecânica os fluidos envolve uma variedade de grandezas. Assim, torna-se necessário desenvolver um sistema para descrevê-las de modo qualitativo e quantitativo. O aspecto qualitativo serve para identificar a natureza, ou tipo, da grandeza (como comprimento, tempo, massa, velocidade) enquanto o aspecto quantitativo fornece uma medida numérica para a grandeza. A descrição quantitativa requer tanto um número quanto um padrão para que as várias quantidades possam ser comparadas. O conjunto de padrões é denominado sistema de unidades. A descrição qualitativa é convenientemente realizada quando utilizamos certas quantidades (como o comprimento L, a massa M, o tempo T e a temperatura ) ditas grandezas fundamentais. Estas grandezas fundamentais podem ser combinadas e utilizadas para descrever, qualitativamente, outras quantidades ditas grandezas derivadas, por exemplo: [área] = L2; [velocidade] = LT‒1; [massa específica] = ML‒3. Os coclchetes [ ] são utilizados para indicar a dimensão da grandeza derivada em função das dimensões das grandezas fundamentais. É importante ressaltar que são necessárias apenas três grandezas fundamentais (M, L e T) para descrevr um grande número de grandezas derivadas da mecânica dos fluidos. Nós também podemos utilizar um sistema com grandezas fundamentais composto por L, T e F, em que F é a dimensão da força. Isto é possível porque a 2ª lei de Newton estabelece que a força é igual ao produto da massa pela aceleração. Assim, podemos descrever qualitativamente uma força como: [força] = MLT‒2 = F A descrição qualitativa de uma grandeza derivada é denominada equação dimensional da respectiva grandeza. Neste curso de Fenômenos de Transporte usaremos, principalmente, o Sistema Internacional de Unidades (SI), adotado oficialmente no Brasil. O SI, adota 7 grandezas fundamentais e 2 grandezas suplementares de caráter geométrico. O esquema abaixo mostras essas grandezas. Fenômenos de Transporte CCE 0187 7 Visando facilitar ainda mais a notação das grandezas, é bastante comum a utilização de prefixos representando as potências de dez. A tabela a seguir traz a denominação dos principais prefixos de acordo com regulamentação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Neste ponto, é importante destacar que, ao longo de nosso estudo, faremos uso de um grande número de grandezas físicas e muitas delas serão simbolizadas por letras minúsculas ou maiúsculas do alfabeto grego. ALFABETO GREGO Fenômenos de Transporte CCE 0187 8 Principais propriedades dos fluidos Densidade A densidade ρ de um fluido, por definição, é dada pela relação entre sua massa m e o correspondente voluma V ocupado pelo fluido. Assim: V m No SI, a unidade de medida da densidade é o kg/m3. Para a água, a 4 °C e sob pressão de 1 atm: 3 água kg/m1000 Quando a densidade se refere a um corpo homogêneo, líquido, gasoso ou sólido, usa-se também o termo massa específica, em vez de densidade. Densidade relativa A densidade relativa (SG specific gravity) de um dado material é a grandeza adimensional dada pela relação entre a massa específica do material e a massa específica da água. Então: C4aágua SG É importante destacar que o valor da densidade relativa não depende do sistema de unidades utilizado. Peso específico O peso específico, representado pela letra grega é, por definição, a relação entre o peso do corpo e seu volume. Temos, então: g V m V gm g No SI, o peso específico é medido em N/m3. Tensão superficial A tensão superficial é um efeito físico que faz com que a camada superficial de um líquido venha a se comportar comouma membrana elástica. Este efeito é causado pelas forças de coesão entre moléculas semelhantes, cuja resultante vetorial é diferente na superfície. Enquanto as moléculas situadas no interior de um líquido são atraídas em Fenômenos de Transporte CCE 0187 9 todas as direções pelas moléculas vizinhas, as moléculas da superfície do líquido sofrem apenas atrações laterais e internas. Este desbalanço de forças de atração que faz a interface se comportar como uma película elástica como um látex. Devido à tensão superficial, alguns objetos mais densos que o líquido podem flutuar na superfície, caso estes se mantenham secos sobre a interface. Este efeito permite, por exemplo, que alguns insetos caminhem sobre a superfície da água, como mostrado na foto ao lado. Capilaridade A tensão superficial também é responsável pelo efeito de capilaridade. A capilaridade é a propriedade física que permite aos fluidos subirem ou descerem em tubos extremamente finos. Quando um líquido entra em contacto com uma superfície sólida, o líquido fica sujeito a dois tipos de forças que atuam em sentidos contrários: a força de adesão e a força de coesão. A força de adesão é a atração entre moléculas diferentes, ou seja, a afinidade das moléculas do líquido com as moléculas da superfície sólida. Atua no sentido de o líquido molhar o sólido. A força de coesão é a atração intermolecular entre moléculas semelhantes, ou seja, a afinidade entre as moléculas do líquido. Atua no sentido de manter o líquido em sua forma original. Se a força de adesão for superior à de coesão, o líquido vai interagir favoravelmente com o sólido, molhando-o, e formando um menisco. Se a superfície sólida for um tubo de raio pequeno, como um capilar de vidro, a afinidade com o sólido é tão grande que líquido sobe pelo capilar. No caso do mercúrio, acontece o contrário, pois este não tem afinidade com o vidro (a força de coesão é maior). Viscosidade A viscosidade é uma medida da resistência interna de um fluido (gás ou líquido) ao fluxo, ou seja, é a resistência oferecida pelo líquido quando uma camada se move em relação a uma camada vizinha. Quanto maior a viscosidade, maior é a resistência ao movimento e menor é sua capacidade de escoar (fluir). Assim, um líquido como o mel, que resiste grandemente ao movimento, possui elevada viscosidade, ao contrário da água, na qual a viscosidade é muito menor, o que torna menor a sua resistência ao movimento. Em outras Fenômenos de Transporte CCE 0187 10 palavras, a viscosidade de um fluido é a propriedade que determina o valor de sua resistência ao cisalhamento. É a propriedade principal de um lubrificante, pois está diretamente relacionada com a capacidade de suportar cargas. Para definir quantitativamente a viscosidade, vamos considerar um líquido preenchendo o espaço entre duas placas planas paralelas de área A cada uma e separadas por uma distância h. Supondo a placa inferior fixa, então é necessária uma força F para mover a placa superior, paralelamente à inferior, com velocidade U. Sob certas condições, pode-se obter uma distribuição linear de velocidades u dos pontos do líquido, como mostrado na figura a seguir. Neste caso, a força por unidade de área necessária para mover a placa, isto é, a tensão de cisalhamento (medida em N/m2 = Pa) é diretamente proporcional a U e inversamente proporcional a h. Usando uma constante de proporcionalidade μ, isto pode ser escrito como: h U A F A constante de proporcionalidade μ é denominada viscosidade absoluta (ou viscosidade dinâmica). A dimensão da viscosidade absoluta é [M·L-1·T-1] e, no SI, a unidade de medida da viscosidade é o kg/(m·s) = Pa·s. Também se usa o conceito de viscosidade cinemática, 𝝂, que é a razão entre a viscosidade absoluta e a densidade: . A dimensão da viscosidade cinemática é [L2/T]. No SI, a unidade de viscosidade cinemática é, portanto, m2/s. Exercícios 1. Determine a equação dimensional das grandezas físicas relacionadas abaixo e a correspondente unidade de medida no SI. a) Área b) Volume c) Velocidade d) Aceleração e) Vazão (em volume) f) Vazão (em massa) g) Força h) Massa específica i) Peso específico j) Pressão k) Energia l) Potência 2. Se p é uma pressão, V uma velocidade e ρ a massa específica de um fluido, quais serão, no sistema MLT, as dimensões de: a) p/ρ b) p·V·ρ c) p/(ρ·V2) Fenômenos de Transporte CCE 0187 11 3. A equação usualmente utilizada para determinar a vazão em volume, Q, do escoamento líquido através de um orifício localizado na lateral de um tanque é hgAQ 20,61 em que A é a área do orifício, g é a aceleração da gravidade e h é a altura da superfície livre do líquido em relação ao orifício. Verifique a homogeneidade desta equação. 4. Uma joia feita com platina pura (ρ = 21,5 g/cm3) tem 50 g de massa. a) Determine o volume dessa joia. b) Se uma joia idêntica fosse feita de prata (ρ = 10,5 g/cm3), qual seria sua massa? 5. Dois cilindros são aparentemente iguais, com 10 cm2 de área na base e 5,0 cm de altura. Entretanto, enquanto um deles é de ouro maciço (ρ = 19,3 g/cm3), o outro tem o interior vazio, tendo apenas as paredes de ouro, correspondendo a 10% de seu volume total. a) Compare percentualmente as massas dos dois cilindros. b) Calcule a densidade do segundo cilindro. 6. a) Misturam-se 400 mL de um líquido A, de massa específica 1,50 g/cm3, com 300 mL de outro líquido B, de massa específica 0,80 g/cm3. Determine a densidade (média) da mistura assim obtida. b) Qual deve ser o volume de líquido B a ser misturado com 400 mL do líquido A, para que a mistura tenha densidade igual a 1,00 g/cm3? Aula 3 Pressão Segure entre as mãos uma caneta esferográfica, das que têm a tampa mais afunilada, devidamente tampada, como mostra a figura ao lado. A seguir, aperte-a levemente entre as mãos. Não use muita força. Ao apertar a caneta, você perceberá que a extremidade mais afunilada deforma mais a palma da mão com a qual está em contato. A força que a caneta exerce em cada uma das palmas das mãos é a mesma. Entretanto, na extremidade afunilada essa força se distribui por uma superfície de área menor. Dizemos, então, que aí a pressão é maior que na outra extremidade. Podemos definir pressão (p) como a razão entre a intensidade de um diferencial de força dF que age perpendicularmente sobre uma superfície e um infinitésimo de área dA dessa superfície na qual a força se distribui: A F p d d Sendo dada pela relação entre a intensidade de uma força, cuja unidade no SI é o newton (N), e a área de uma superfície, cuja unidade no SI é o metro quadrado (m2), a pressão tem como unidade o newton por metro quadrado (N/m2), unidade que recebe o nome de pascal (Pa), em homenagem ao matemático, físico e filósofo francês Blaise Pascal (1623- 1662). Fenômenos de Transporte CCE 0187 12 Portanto: Pa1 m N 1 2 . É importante ressaltar que a pressão sempre atua perpendicularmente às superfícies. Relação de Stevin Sabemos intuitivamente que a pressão no interior de um líquido aumenta com a profundidade. Isto pode ser imediatamente percebido por aqueles que praticam mergulho. A lei fundamental da fluidostática foi elaborada pelo matemático, físico e engenheiro flamengo Simon Stevin (1548-1620). Esta lei permite calcular a diferença de pressão entre dois pontos de um fluido em equilíbrio. Para demonstrar esta lei, consideremos um líquido, de densidade ρ, em equilíbrio em um recipiente e, no interior do líquido, um cilindro desse mesmo líquido com altura h e área da base A, como mostra a figura a seguir. Seja um ponto 1 na base superior e um ponto 2 na base inferior. Devido à pressão exercida pelo líquido, as paredes do cilindro estarão submetidas a forças perpendiculares às superfícies. Na base superior do cilindro atua uma força Fsup = p1·A, verticalpara baixo, e em sua base inferior a força Finf = p2·A, vertical para cima. Observe que na superfície lateral do cilindro as forças de pressão se anulam, pois atuam diametralmente em sentidos opostos. O peso P do cilindro de líquido é dado por: ghAPgVPgmP Para o equilíbrio do cilindro devemos ter: 0 yF Então: ghAApApPFF 12supinf hhgpp 12 Esta relação que fornece a diferença de pressão entre dois pontos de um líquido em equilíbrio é conhecida como relação de Stevin. Observações Pontos situados em um mesmo líquido e em um mesmo nível (mesma horizontal) estarão submetidos a uma mesma pressão. A diferença de pressão entre dois pontos no interior do líquido depende apenas da natureza do líquido (de sua densidade ρ ou de seu peso específico = ρ·g) e do desnível (h) entre os pontos. Essa diferença de pressão, devida apenas à coluna de líquido entre os pontos é denominada pressão hidrostática ou pressão relativa. Para a pressão hidrostática p = ρ·g·h = ·h. A grandeza p h costuma ser chamada de carga de pressão. Se tivéssemos considerado a base superior do cilindro coincidente com a superfície do líquido, então a pressão nesta base seria igual à pressão exercida pelo fluido em contato com ela. Se o fluido for o ar atmosférico, então esta pressão seria a pressão atmosférica, patm, e a pressão em um ponto à profundidade h seria: hgpp atm . Fenômenos de Transporte CCE 0187 13 A soma da pressão atmosférica e da pressão relativa, ou seja, a pressão total é denominada pressão absoluta: relativaatmabs ppp . A experiência de Torricelli Quem, pela primeira vez, percebeu que o ar exercia pressão e propôs uma experiência para medir a pressão atmosférica foi o físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647). Torricelli encheu com mercúrio um tubo de vidro com cerca de 1 m de comprimento. Tampou com o dedo sua extremidade aberta e inverteu-o no interior de um recipiente contendo mercúrio. Verificou que, no local em que fez o experimento, a coluna de mercúrio desceu até se manter a 76 cm do nível de mercúrio no recipiente. Concluiu, daí, que a pressão exercida pelo ar, isto é, a pressão atmosférica no ponto A (pA), equivalia à pressão exercida no ponto B (pB) por uma coluna de mercúrio com 76 cm de altura. Podemos usar a relação de Stevin para calcular o valor numérico da pressão atmosférica. Como os pontos A e B estão em um mesmo líquido e numa mesma horizontal, então, estão submetidos à mesma pressão. Mas, a pressão em A é a pressão atmosférica e a pressão em B é a pressão hidrostática da coluna de mercúrio, pois a pressão do vapor de mercúrio a baixa pressão é desprezível. Então: ghppp atmBA Hg Considerando ρHg = 13,6·10 3 kg/m3 e g = 9,8 m/s2, vem: Pa101,013259,80,761013,6 53 atmatm pp Unidades práticas de pressão Existem algumas unidades práticas de pressão, derivadas da pressão hidrostática phidr exercida por colunas de líquido. As mais importantes derivam da clássica experiência de Torricelli. Conforme foi visto, uma coluna de mercúrio com 76 cm de altura equilibra a pressão atmosférica patm ao nível do mar. Podemos dizer, então, que a pressão atmosférica ao nível do mar vale uma atmosfera (1 atm) ou 76 centímetros de mercúrio (76 cmHg) ou ainda 760 milímetros de mercúrio (760 mmHg). Essas unidades podem ser assim definidas: atmosfera (atm): pressão que exerce na sua base uma coluna de mercúrio de 76 cm de altura, a 0 °C e num local onde g = 9,8 m/s2. centímetro de mercúrio (cmHg): pressão que exerce na sua base uma coluna de mercúrio de 1 cm de altura, a 0 °C e num local onde g = 9,8 m/s2. Fenômenos de Transporte CCE 0187 14 milímetro de mercúrio (mmHg): pressão que exerce na sua base uma coluna de mercúrio de 1 mm de altura, a 0 °C e num local onde g = 9,8 m/s2. Essa unidade é denominada torricelli (Torr) e vale 133,322 Pa. Usa-se também uma unidade de pressão denominada bar (símbolo bar) tal que: 1 bar = 0,1 MPa = 105 Pa No sistema britânico, a unidade de medida da pressão é o psi (pounds per square inch, ou libra-força/polegada2). Nesse sistema: 1 atm ≈ 14,696 psi. Podemos ainda, de forma geral, medir pressões em quilograma-força por centímetro quadrado (kgf/cm2). Neste caso: 1 atm = 1,033 kgf/cm² Força atuante em uma superfície plana submersa Nós sempre detectamos a presença de forças nas superfícies dos corpos que estão submersos nos fluidos. A determinação destas forças é importante no projeto de tanques para armazenamento de fluidos, navios, barragens e de outras estruturas hidráulicas. Também sabemos que o fluido, quando está em repouso, exerce uma fora perpendicular nas superfícies submersas, pois as tensões de cisalhamento não estão presentes, e que a pressão varia linearmente com a profundidade se o fluido se comportar como incompressível. Vamos apresentar agora o desenvolvimento de uma interpretação gráfica da força desenvolvida por um fluido numa superfície plana. Considere a distribuição de pressão ao longo da parede vertical de um tanque com largura b e que contém um líquido de peso específico . Podemos representar a distribuição de pressão do modo mostrado na figura a seguir porque a pressão varia linearmente com a profundidade. Note que a pressão relativa é nula na superfície livre do líquido, igual a ·h na superfície inferior do líquido e que a pressão média ocorre num plano com profundidade h/2. Assim, a força resultante que atua na área retangular A = b·h é: b h Fhb h FApF RRmédR 22 2 . Fenômenos de Transporte CCE 0187 15 A distribuição de pressão da figura anterior é adequada para toda a superfíce vertical e, então, podemos representar tridimensionalmente a distribuição de pressão do modo mostrado na figura ao lado. A base deste “volume” no espaço pressão- área é a superfície plana que estamos analisando e a altura em cada ponto é dada pela pressão. Este “volume” é denominado prisma das pressões e é claro que o módulo da força resultante que atua na superfície vertical é igual ao volume deste prisma: b h Fb hh FF RRR 2 pressõesdasprismadovolume"" 2N 2 Observe que a linha de ação da força resultante precisa passar pelo centroide do prisma de pressões. O centroide do prisma mostrado acima está localizado no eixo vertical de simetria da superfície vertical e dista h/3 da base, pois o centroide de um triângulo está localizado a h/3 de sua base. O ponto de aplicação da força resultante é denominado centro de pressão (CP). A mesma abordagem gráfica pode ser utilizada nos casos onde a superfície plana está totalmente submersa, como mostrado na figura ao lado. Nestes casos, a seção transversal do prisma das pressões é um trapézio. Entretanto, o módulo da força resultante que atua sobre a superfície ainda é igual ao volume do prisma das pressões e sua linha de ação passa pelo centroide do volume. A figura ao lado mostra que o módulo da força resultante pode ser obtido decompondo o prisma das pressões em duas partes (ABDE e BCD). Deste modo: FR = F1 + F2 E estas componentes podem ser determinadas facilmente. A localização da linha de ação de FR pode ser determinada a partir da soma de seus momentos em relação a algum eixo conveniente. Por exemplo, se considerarmos o eixo que passa pelo ponto A: FR· yA = F1 ·y1 + F2 · y2 O prisma das pressões também pode ser desenvolvido para superfície planas inclinadas e, geralmente, a seção transversal do prisma será um trapézio, como mostrado na figura ao lado. Apesar de ser conveniente medir as distãncias ao longo da superfície inclinada, a pressão que atua na superfície é função da distância vertical entre o ponto que está sendo analisado e a superfície livre do líquido. Fenômenos de Transporte CCE 0187 16 A teoria desenvolvida até este ponto é muito útil quandoa superfície plana submersa é retangular, pois o volume do prisma das pressões e a posição de seu centroide podem ser facilmente encontrados. Entretanto, quando o formato da superfície não é retangular, a determinação do volume e a localização do centroide podem ser realizadas por meio de integrações. Exercícios 1. Para impedir que a pressão interna de uma panela de pressão ultrapasse certo valor, em sua tampa há um dispositivo formado por um pino acoplado a um tubo cilíndrico, como esquematizado na figura ao lado. Enquanto a força resultante sobre o pino for dirigida para baixo, a panela está perfeitamente vedada. Considere o diâmetro interno do tubo cilíndrico igual a 4 mm e a massa do pino igual a 48 g. Adotando g = 10 m/s2; = 3 e 1 atm = 1·105 Pa, determine a pressão absoluta máxima no interior da panela, em atm, na situação em que apenas a força gravitacional, a pressão atmosférica e a exercida pelos gases na panela atuam no pino. 2. O tubo em U da figura ao lado contém, no trecho destacado na ramificação da esquerda, uma coluna de óleo de 200 mm de altura e uma coluna de água de 120 mm. Determine a altura da coluna de água na ramificação direita do tubo. Dados: g = 9,8 m/s2; ρágua = 1,0·10 3 kg/m3; ρóleo = 8,0·10 2 kg/m3. 3. A pressão em um reservatório de gás é medida por um tubo em U contendo mercúrio (Hg),manômetro de mercúrio. Considerando as medidas da figura ao lado e que a pressão atmosférica local é patm = 700 mmHg, determine a pressão do gás em: a) mmHg; b) Pa 4. O tubo em U da figura ao lado contém água a uma distância de 12 cm de sua extremidade na parte superior. Colocando óleo na ramificação esquerda até seu limite máximo, determine a altura da coluna de óleo no final do preenchimento. Considere ρágua = 1,0·10 3 kg/m3 e ρóleo = 8,0·10 2 kg/m3. Fenômenos de Transporte CCE 0187 17 5. Um tubo em U está parcialmente cheio de água. Outro líquido que não se mistura com a água é colocado em um dos ramos do tubo até que sua superfície livre esteja a uma distância d acima do nível livre da água, no outro ramo, que, por sua vez, elevou- se de uma altura L em relação ao seu nível primitivo, conforme a figura. Determine a densidade relativa do líquido em relação à água. 6. Um tanque fechado, esboçado na figura ao lado, contém ar comprimido e um óleo que apresenta densidade 0,9 g/cm3. O fluido manométrico utilizado no manômetro em U, conectado ao tanque, é mercúrio (densidade igual a 13,6 g/cm3). Se h1 = 914 mm; h2 = 152 mm e h3 = 229 mm, determine a leitura da pressão absoluta no manômetro localizado no topo do tanque. Adote: g = 9,81 m/s2. 7. A figura abaixo mostra o esboço de um dispositivo utilizado para medir a vazão em volume em tubos, Q, assunto que estudaremos adiante. O bocal convergente cria uma queda de pressão pA ‒ pB no escoamento que está relacionada com a vazão em volume através da equção Q = K·( pA ‒ pB) 1/2, em que K é uma constante que é função das dimensões do bocal e do tubo. A queda de pressão normalmente é medida com um manômetro em U do tipo ilustrado na figura. a) Determine uma equação para pA ‒ pB em função do peso específico do fluido que escoa 1, do peso específico do fluido manométrico, 2, e das várias alturas indicadas na figura. b) Determine a queda de pressão se 1 = 9,80 kN/m 3; 2 = 15,6 kN/m 3; h1 = 1,0 m e h2 = 0,5 m. Sugestão: Tente relacionar pA e pB com as pressões nos pontos destacados (1), (2), (3), (4) e (5). 8. A face vertical de uma barragem retém água à altura D, como mostra a figura abaixo. Seja W a largura da barragem. a) Determine a força resultante exercida pela água na barragem e o momento desta força em relação a O. b) Qual é a linha de ação desta força? Fenômenos de Transporte CCE 0187 18 9. A figura ao lado mostra o esboço de um tanque pressurizado que contém óleo (densidade 0,9 g/cm3). A plca de inspeção instalada no tanque é quadrada e apresenta largura igual a 0,6 m. Qual é o módulo, e a localização da linha de ação, da força resultante que atua na placa quando a pressão relativa no topo do tanque é igual a 50 kPa? Admita que o tanque esteja exposto à pressão atmosférica e adote g = 9,81 m/s2. 10. A figura ao lado mostra uma comporta rígida OAB, articulada em O, e que repousa sobre um suporte B. Qual é o módulo da mínima força horizontal P necessária para manter a comporta fechada? Admita que a largura da comporta é igual a 3 m e despreze tanto o peso da comporta quanto o atrito na articulação. Observe que a superfície externa da comporta está exposta à atmosfera. Considere: água = 10 kN/m 3. Aula 4 O princípio de Pascal O princípio de Pascal é uma lei física elaborada pelo físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês Blaise Pascal (1623-1662). Em Física, Pascal estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli, além de aperfeiçoar seu barômetro. Um dos seus tratados sobre hidrostática, Traité de l'équilibre des liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte (1663). Pascal também esclareceu os princípios barométricos da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. De acordo com o princípio de Pascal O acréscimo de pressão produzido num líquido em equilíbrio transmite-se integralmente a todos os pontos do líquido e às paredes do recipiente que o contém. Este princípio é a base para o funcionamento do freio hidráulico, do macaco hidráulico e da prensa hidráulica. Prensa hidráulica O dispositivo denominado prensa hidráulica tem seu funcionamento explicado pelo princípio de Pascal. Ele consta de dois recipientes com diâmetros diferentes ligados por sua parte inferior, formando assim um sistema de vasos comunicantes. Dentro dele é colocado um líquido e sobre as superfícies de cada lado são colocados êmbolos ou pistões. Fenômenos de Transporte CCE 0187 19 Sendo A1 a área do êmbolo menor e A2 a área do êmbolo maior, se aplicarmos uma força de intensidade F1 no primeiro êmbolo, o outro ficará sujeito a uma força de intensidade F2, como mostrado na figura ao lado. A variação de pressão Δp será a mesma nos dois lados, em vista do princípio de Pascal. Então: 1 1 A F p e 2 2 A F p Igualando, vem: 2 2 1 1 A F A F Dessa forma, na prensa hidráulica, a intensidade da força é diretamente proporcional à área do êmbolo. Por isso diz-se que a prensa hidráulica é um multiplicador de força, pois a intensidade da força transmitida ao segundo êmbolo será tantas vezes maior quantas vezes maior for a área deste. Essa propriedade é muito utilizada em postos de serviços automotivos, no elevador hidráulico, pois, exercendo-se uma força de pequena intensidade no êmbolo menor, consegue-se no outro êmbolo força de intensidade suficiente para levantar um automóvel. Observe, entretanto, que, ao deslocar o êmbolo menor para baixo, estaremos transferindo um determinado volume líquido para o cilindro maior e, consequentemente, o êmbolo maior terá que subir. Os deslocamentos dos dois êmbolos da prensa hidráulica serão iguais? Vejamos. Da igualdade dos volumes transferidos, temos: 221121 hAhAVV 1 2 2 1 A A h h Dessa relação, concluímos que os deslocamentos dos êmbolos são inversamente proporcionais às suas áreas, ou seja, o êmbolo de maior área sofre um deslocamento menor. Por exemplo, se o êmbolo maior tiver uma área 100 vezes maior que a do êmbolo menor, seu deslocamento será 100 vezes menor. Podemos, portanto, concluir que a prensa hidráulica, apesar de ser uma multiplicadora de força, não multiplica trabalho. Exercícios 1. Uma aplicação sempre citada do “Princípio de Pascal” é o elevador hidráulico (figura abaixo). Fenômenos de Transporte CCE 0187 20 Considerando que o carro do desenho tenha1200 kg (correspondente a 1200 kgf) de massa e que a área sob o carro seja 15 vezes a área do êmbolo de acionamento do elevador, determine a força, em kgf, necessária para acionar o elevador. 2. A figura abaixo mostra, de forma simplificada, o sistema de freios a disco de um automóvel. Ao se pressionar o pedal do freio, este empurra o êmbolo de um primeiro pistão que, por sua vez, através do óleo do circuito hidráulico, empurra um segundo pistão. O segundo pistão pressiona uma pastilha de freio contra um disco metálico preso à roda, fazendo com que ela diminua sua velocidade angular. Considerando o diâmetro d2 do segundo pistão duas vezes maior que o diâmetro d1 do primeiro, qual a razão entre a força aplicada ao pedal de freio pelo pé do motorista e a força aplicada à pastilha de freio? 3. O esquema ilustra uma prensa hidráulica, operada manualmente, constituída de um sistema de vasos comunicantes 1 e 2, com êmbolos de áreas de seção transversal respectivas S1 e S2. O sistema é preenchido com um líquido homogêneo e viscoso. O êmbolo 2 é ligado a uma alavanca inter-resistente articulada em sua extremidade A. O operador aplica forças verticais F na extremidade B da alavanca para transmitir forças F1 através do êmbolo 1. Determine a intensidade da força F, em função de F1, S1, S2, AB e AC, que permite obter vantagem mecânica. 4. Um pistão de pequena área a da seção transversal é usado em prensa hidráulica, para exercer uma força f no líquido contido na prensa. Um tubo faz a ligação deste líquido com outro pistão, de área A maior, como mostra a figura. Fenômenos de Transporte CCE 0187 21 a) Que força F suportará o pistão de maior diâmetro? b) Se o pistão menor tem diâmetro de 4,0 cm e o maior de 50 cm, qual é a massa deve ser colocada sobre o menor para suportar 2,0 toneladas colocadas sobre o pistão maior? 5. A figura representa uma prensa hidráulica rudimentar de uma pequena empresa rural, usada para compactar fardos de algodão. Por meio de uma alavanca, o operador exerce uma força de intensidade igual a 100 N no êmbolo menor da máquina, cuja área é de 400 cm2. Cada fardo é prensado por meio de um êmbolo de área seis vezes maior. a) Qual é a intensidade da força exercida sobre um fardo na sua prensagem? b) Qual é a variação de pressão que se transmite pelo fluido do dispositivo em cada operação? Aula 5 Introdução Você já deve ter reparado que, quando está flutuando na água de uma piscina, você se sente mais leve. Ou você pode ter se perguntado como um grande navio de aço, com algumas dezenas de toneladas, pode flutuar na água enquanto uma moedinha, quando colocada na água, simplesmente afunda. Qualquer pessoa que já tenha erguido uma grande pedra submersa para fora d’água deve ter percebido que essa é uma tarefa relativamente fácil enquanto a rocha estiver abaixo da superfície. Entretanto, quando erguida acima da superfície, a força requerida para erguê-la aumenta consideravelmente. O que provoca essa aparente mudança no peso da pedra? A resposta para essas perguntas está relacionada à pressão que os fluidos exercem nos corpos neles imersos. Empuxo – Teorema de Arquimedes Conta a história que, no século III a.C., Heron, rei da antiga cidade grega de Siracusa, mandou uma certa quantidade de ouro a um ourives da Corte para que lhe fizesse uma coroa. Ao receber a coroa já pronta, o rei Heron desconfiou que o ourives substituíra parte do ouro por prata. Pediu então a Arquimedes (298 a.C. -212 a.C.), um dos maiores matemáticos de todos os tempos, para verificar se tal fato tinha realmente acontecido. Arquimedes resolveu o problema durante um banho quando, submerso na água, sentiu-se mais leve. Teria saído nu pelas ruas de Siracusa gritando “Eureka, eureka!” (“Encontrei, encontrei!”). Arquimedes havia encontrado a sua lei de flutuação dos corpos: “Quando um corpo é mergulhado em água ele perde, em peso, uma quantidade que corresponde ao peso do volume de água que foi deslocado pela imersão do corpo.” Isso se deve a uma resultante das forças de pressão que o líquido aplica no corpo. Esse mesmo tipo de força é a responsável pela flutuação de um grande navio de aço ou pela ascensão de um balão de ar quente. O teorema de Arquimedes, como enunciado hoje, estabelece que: Fenômenos de Transporte CCE 0187 22 Um corpo, total ou parcialmente, imerso em um fluido em equilíbrio recebe desse fluido uma força, vertical, de baixo para cima e com intensidade igual ao peso do fluido deslocado pela imersão do corpo, chamada EMPUXO. Vamos agora determinar como podemos calcular a intensidade da força empuxo. Para isso, consideremos um recipiente qualquer completamente preenchido por um líquido em equilíbrio. No interior desse líquido consideremos, ainda, uma porção do mesmo fluido, de formato cilíndrico e com eixo vertical, como mostrado na figura ao lado. Logicamente esse último corpo cilíndrico, dentro do líquido, também estará em equilíbrio. As forças devido à pressão exercida pelo restante do líquido e que agem horizontalmente sobre a porção cilíndrica que estamos considerando se equilibram, duas a duas, como podemos observar na figura ao lado. Na direção vertical, três forças atuam sobre o cilindro: 1F na base inferior e 2F na base superior, devidas à pressão do líquido, além, é claro, do peso fluidoP do corpo cilíndrico. Pfluido F1 F2 Como tal corpo se encontra em equilíbrio, devemos ter: F1 = F2 + Pfluido A diferença entre as forças hidrostáticas (F1 – F2) é a força empuxo, que representaremos por E. Assim: gmEPEPFF fluidofluidofluido21 Mas, m = ρ · V Então, finalmente, obtemos: gVE deslocado fluidofluido É claro que se substituirmos o corpo cilíndrico de fluido por outro corpo sólido de mesmo formato e dimensões, o restante do fluido continuará a atuar sobre o corpo sólido com as mesmas forças hidrostáticas 1F e 2F , cuja resultante é o empuxo E . Nesse novo corpo atuam, então, o empuxo, E , e o peso próprio do corpo, P . Observe que o empuxo que atua em um corpo depende apenas da densidade do fluido e do volume de fluido que o corpo desloca. O empuxo não depende da massa do corpo e nem da profundidade em que o corpo é colocado no interior do fluido. Para comparar a intensidade do empuxo com a do peso do corpo, podemos expressar esse peso em função da densidade e do volume do corpo: P = ρcorpo · Vcorpo · g. Para um corpo totalmente imerso em fluido devemos ter: Vcorpo = Vfluido deslocado. Então, se: EPfluidocorpo a força resultante sobre o corpo é dirigida para baixo e, por esse motivo, o corpo afundará. Tal força resultante R é, geralmente, denominada peso aparente e dada por R = P – E. EPfluidocorpo a força resultante sobre o corpo é nula e o corpo permanecerá em equilíbrio em qualquer posição quando abandonado no interior do fluido. EPfluidocorpo a força resultante R, denominada força ascensional e dada por R = E – P, é dirigida para cima e, devido a essa força ascensional o corpo subirá até atingir o equilíbrio, quando passará a flutuar, parcialmente imerso, na superfície do fluido. Fenômenos de Transporte CCE 0187 23 Peso aparente Considere um corpo cujo peso seja medido com um dinamômetro e obtém-se o valor P. Se este corpo for, agora, imerso em um líquido, a nova leitura de seu peso será menor que P, pois o corpo está sujeito agora a um empuxo E. Define-se peso aparente (Pap), para um corpo to- talmente mergulhado em um fluido, como a di- ferença entre as intensidades do peso do corpo e do empuxo recebido. Então: EPPap Dessa forma, a leitura do dinamômetro, para o corpo totalmente submerso, corresponderá ao peso aparente do corpo: Exercícios 1. Um balão cheio de hidrogênio, de peso igual a 600 N, está preso por um fio vertical e encontra-se em equilíbrio estático.Seu volume é igual a 80,0 m3. Adote g =10 m/s2, ρar = 1,25 kg/m 3 e determine: a) o empuxo sofrido pelo balão; b) a intensidade da força tensora no fio que prende o balão. 2. Um cilindro rola e cai dentro de uma pequena piscina, onde permanece flutuando, com 30% de seu volume fora d'água. Se o volume d'água, na piscina, aumentou 2 m3, qual a massa do cilindro, em toneladas? Dados: massa específica da água = 1 g/cm3, aceleração da gravidade = 10 m/s2. 3. Um navio de carga tem uma seção reta longitudinal de área igual a 3000 m2 na linha d'água quando o calado é de 9 m. Supondo o peso específico da água igual a 10 kN/m3, qual a massa de carga que pode ser colocada no navio antes que o calado atinja o valor de 9,2 m? Observação: Calado de um navio é a distância vertical entre a superfície da água e a parte inferior do casco. 4. Um corpo homogêneo de massa m e volume 75 cm3 flutua no óleo com 1/5 de seu volume submerso (figura A). Um bloco de chumbo é colocado sobre o corpo, de modo que este fique com a metade de seu volume submerso (figura B). Considere a massa específica do óleo igual a 0,80 g/cm3 e a aceleração da gravidade 10 m/s2. Calcule o valor da massa do bloco de chumbo. figura A figura B Fenômenos de Transporte CCE 0187 24 5. Um cubo de aresta a, feito de material homogêneo, possui uma cavidade prismática, de base quadrada de lado b e altura c. Quando a cavidade está totalmente preenchida com um determinado líquido, o cubo flutua em equilíbrio num recipiente que contém esse mesmo líquido, de tal maneira que a face superior do cubo fica ao nível da superfície livre do líquido do recipiente. Retirando-se o líquido da cavidade o cubo aflora, flutuando com sua face superior a uma altura x dessa superfície. Determine x. a a b c x 6. Duas esferas A e B ligadas por um fio inextensível de massa e volume desprezíveis encontram-se em equilíbrio, imersas na água contida num recipiente conforme ilustra a figura. A esfera A possui volume de 20 cm3 e densidade igual a 5,0 g/cm3. A esfera B possui massa de 120 g e densidade igual a 0,60 g/cm3. Sendo de 1,0 g/cm3 a densidade da água, determine: a) o empuxo sobre a esfera B; b) a tração no fio que liga as esferas. A B Água 7. Deseja-se que um corpo formado de madeira e aço fique flutuando em equilíbrio quando totalmente imerso em água. Sabendo-se que as massas específicas da madeira, água e aço são, respectivamente, 0,25 g/cm3, 1 g/cm3 e 8 g/cm3, calcule a relação entre o volume de madeira V1 e o volume de aço V2 do corpo, de modo que ocorra o equilíbrio. 8. Um conjunto formado por dois cilindros impermeáveis, de mesma seção reta, colados base a base, é colocado na água, ficando 2 cm de sua altura fora da água. O cilindro que serve de lastro tem 1 cm de altura e foi construído com um material de massa específica igual a 8,6 g/cm3. O outro cilindro é de madeira maciça de massa específica igual a 0,8 g/cm3. Com base nesses dados, e considerando que a massa específica da água é 1 g/cm3 e a aceleração da gravidade 10 m/s2, calcule a altura do cilindro de madeira. Aula 6 Introdução Até este ponto do nosso curso de Fenômenos de Transporte temos estudado apenas o equilíbrio estático dos fluidos, denominado fluidostática ou hidrostática. Na hidrostática são discutidos, principalmente, os conceitos de pressão em um ponto no interior de um líquido em equilíbrio e o empuxo exercido em um corpo imerso em um fluido em repouso. Iremos agora fazer um estudo mais complexo, os fluidos em movimento. Nesse ramo da Física, denominado hidrodinâmica, muitos aspectos dos movimentos dos fluidos ainda estão sendo objeto de estudo. Entretanto, supondo algumas simplificações, podemos ter um bom entendimento sobre o assunto. Tipos de escoamento Para começar, vamos fazer uma rápida classificação dos diferentes tipos de escoamento de um fluido. Dizemos que um fluido escoa em regime estacionário (ou em regime permanente) quando a velocidade das partículas de fluido que passam em um ponto qualquer não Fenômenos de Transporte CCE 0187 25 varia com o passar do tempo. Assim, no regime permanente, em qualquer ponto, a velocidade, a pressão e a densidade do fluido permanecem constantes. O esquema a seguir ilustra uma situação prática de escoamento em regime permanente. Nesse esquema, o nível da água permanece constante, no reservatório, apesar da saída de água pelas tubulações 1 e 2. Por outro lado, se a velocidade das partículas, em um dado ponto do escoamento, variar com o passar do tempo, teremos um escoamento em regime variado (ou em regime transitório). Mais uma vez, o esquema a seguir ilustra uma situação prática de escoamento em regime transitório. Observe que, neste exemplo, o nível de água no reservatório varia com o passar do tempo. Outra classificação a respeito do escoamento pode ser feita se observarmos, por exemplo, água, na qual estão dispersas partículas coloridas, fluindo através de um tubo de vidro. Podemos perceber que, de modo bastante frequente, o fluido não se move em linhas paralelas às paredes do tubo, mas de uma maneira bastante irregular. Além do movimento ao longo do eixo do tubo, podemos observar que ocorrem movimentos na direção perpendicular ao eixo do tubo. Nesse caso, o fluxo é denominado fluxo turbulento. Entretanto, quando a velocidade de escoamento do fluido diminui abaixo de certo valor, que depende de uma série de fatores, as partículas do fluido passam a se movimentar em trajetórias paralelas às paredes do tubo. Nesse caso, o fluxo de fluido é suave e passa a ser denominado fluxo laminar. Em 1883, o físico irlandês Osborne Reynolds (1842-1912) identificou experimentalmente estes dois tipos de escoamento levando em consideração o efeito da viscosidade do fluido. Reynolds utilizou a montagem mostrada a seguir. Fenômenos de Transporte CCE 0187 26 Para identificar o tipo de escoamento, Reynolds estabeleceu uma grandeza adimensional, atualmente conhecida como número de Reynolds, dada por: dV Re ou dV Re Nessa relação, Re é o número de Reynolds (adimensional), V é a velocidade do fluido (m/s), é a viscosidade cinemática do fluido (m2/s), ρ é a massa específica (kg/m3), μ é a viscosidade dinâmica (Pa·s) e d é o diâmetro do tubo (m). Lembre-se que a viscosidade cinemática está relacionada à viscosidade dinâmica μ e à massa específica ρ: O parâmetro com dimensão de comprimento no número de Reynolds depende da geometria do sistema. Teremos, então, de acordo com o número de Reynolds: Re ≤ 2000 (Escoamento laminar) 2000 < Re < 2400 (Escoamento de transição) Re ≥ 2400 (Escoamento turbulento) O número de Reynolds pode ser interpretado como uma relação entre as forças de inércia e as forças viscosas existentes no escoamento. Num escoamento laminar, que ocorre para números de Reynolds baixos, tem-se que a turbulência é amortecida pelos efeitos viscosos. Linhas de corrente Na hidrodinâmica, visando facilitar a visualização do fluxo de um fluido, é útil o conceito de linha de corrente. Fenômenos de Transporte CCE 0187 27 Qualquer que seja o tipo de fluxo, a velocidade de uma partícula do fluido é uma quantidade vetorial, ou seja, apresenta módulo, direção e sentido. Assim, quando a partícula muda de posição, ela segue uma trajetória particular cujo formato é definido pela velocidade da partícula. A localização da partícula o longo da trajetória depende da posição ocupada pela partícula no instante inicial e de sua velocidade ao longo da trajetória. Se o escoamento é em regime permanente, isto é, se nada mudar ao longo do tempo em todo o escoamento, então, todas as partículas que passam num dado ponto P seguirão uma mesma trajetória. Para estes casos, a trajetória é uma linha fixa. As partículas vizinhas, que passam nas vizinhanças imediatas do ponto P, seguem outrastrajetórias que podem apresentar formatos diferentes daquele relativo às partículas que passam por P. A trajetória seguida pelas partículas do fluido recebe o nome de linha de corrente. Portanto, a linha de corrente é, por definição, a curva cuja direção em cada ponto é tangente ao vetor velocidade do fluido. Dessa maneira, a partir das linhas de corrente podemos visualizar o comportamento do fluido durante seu movimento. A figura abaixo mostra as linhas de corrente de um fluxo de fluido (por exemplo, ar) ao redor de um corpo (por exemplo, um aerofólio). Observe o comportamento das linhas de corrente no fluxo laminar e compare com o fluxo turbulento. É importante destacar que duas linhas de corrente nunca podem se cruzar, pois elas são linhas tangentes ao vetor velocidade das partículas em cada ponto do escoamento. A visualização das linhas de corrente em um escoamento geralmente é obtida com o auxílio de um fluido colorido, como mostrado na foto abaixo. Exercícios 1. Conceitue escoamento laminar e escoamento turbulento. 2. Descreva a experiência de Reynolds. Fenômenos de Transporte CCE 0187 28 3. Conceitue linha de corrente. 4. A viscosidade da água a 20 °C é, aproximadamente, = 1,01·10‒6 m2/s. Em um experimento, água deverá fluir através de uma tubulação de diâmetro 1 polegada (2,54 cm) em regime laminar. Determine a máxima velocidade do fluxo de água para que este tipo de regime de escoamento seja estabelecido. 5. Um fluido, que apresenta viscosidade dinâmica igual a 0,38 N·s/m2 e densidade relativa 0,91, escoa num tubo de 25 mm de diâmetro interno. Sabendo que a velocidade média do escoamento é de 2,6 m/s, determine o valor do número de Reynolds e classifique o escoamento. 6. O reservatório da figura seguinte é abastecido com água por uma tubulação com diâmetro de 25 mm. A velocidade do fluxo é de 0,3 m/s.. A viscosidade cinemática da água a 20 °C é 1,0·10‒6 m2/s. Determine o tipo de escoamento. 7. Calcular a velocidade máxima que um fluido pode escoar através de um duto de 30 cm de diâmetro quando ainda se encontra em regime laminar. Sabe-se que a viscosidade do fluído é 2·10‒3 Pa·s e a massa específica é de 800 kg/m3. Aula 7 / Aula 8 Vazão Em um escoamento, denomina-se vazão à grandeza que indica a quantidade de fluido que passa por uma seção de um conduto, livre ou forçado, na unidade de tempo. Assim, se considerarmos o volume de fluido, teremos a vazão volumétrica, Q, dada por: t V Q No SI, ΔV é medido em m3, Δt medido em s e Q medido em m3/s. Consideremos, então, um fluido escoando, com velocidade constante v, por uma tubulação de seção transversal constante, com área A, como esquematizado a seguir. Observe que o volume de fluido que passa por uma dada seção, em um determinado intervalo de tempo é constante. Como V = A·Δx, teremos, então: t xA Q t V Q . Fenômenos de Transporte CCE 0187 29 Mas, a relação t x é a velocidade v do escoamento. Portanto: vAQ A vazão também pode ser medida em termos de massa de fluido que passa pela seção. Nesse caso, a vazão correspondente passa a ser chamada de fluxo de massa, m , dada por: t m m No SI, o fluxo de massa é medido em kg/s. A equação da continuidade A equação da continuidade é a equação que mostra a conservação da massa de líquido no conduto, ao longo de todo o escoamento. Pela condição de escoamento em regime permanente, podemos afirmar que entre as seções (1) e (2), não ocorre nem acúmulo, nem falta de massa: m1 = m2 = m = cte. Consideremos um fluido em um fluxo laminar estacionário no interior de um tubo de diâmetro variável como o mostrado na figura a seguir. Vamos calcular o fluxo de massa do fluido através da secção transversal de área A1. Observe que o volume de fluido que passa através dessa secção transversal, no intervalo de tempo Δt é dado por A1·Δx1, em que Δx1 é a distância percorrida pelo fluido no intervalo de tempo Δt. Então, sendo ρ1 a densidade do fluido nessa região do tubo temos: 111 11111 vAρ Δt ΔxAρ Δt ΔVρ Δt Δm De maneira análoga, na região do tubo onde a secção transversal tem área A2, teremos: 222 22222 vAρ Δt ΔxAρ Δt ΔVρ Δt Δm Observe que a massa de fluido que passa por uma dada secção transversal do tubo, em um dado intervalo de tempo, é a mesma, qualquer que seja a posição do tubo em que a secção é considerada. Fenômenos de Transporte CCE 0187 30 Portanto, como o fluxo de massa é constante ao longo do tubo devemos ter: 222111 vAvA (Equação da continuidade) Se o fluido é incompressível, o que é uma excelente aproximação no caso dos líquidos na maioria das situações (e algumas vezes até mesmo para os gases), então ρ1 = ρ2 e a equação da continuidade torna-se mais simples: 2211 vAvA (quando ρ1 = ρ2) A partir dessa relação simplificada, podemos concluir que se o diâmetro do tubo diminuir, então a velocidade de escoamento do fluido no interior do tubo deverá aumentar e vice- versa. Isso faz sentido e pode ser observado no escoamento das águas de um rio. Nas regiões em que o rio é largo, a correnteza é mansa e a água flui calmamente. Entretanto, quando o rio se estreita e as margens estão mais próximas, a correnteza atinge velocidades bem maiores e a água flui de maneira turbulenta. Portanto, a equação da continuidade impõe que a vazão em volume através da tubulação é constante em qualquer secção transversal que se considere. Exercícios 1. O raio da aorta é cerca de 1,0 cm e o sangue flui através dela com velocidade de 30,0 cm/s. Calcule a velocidade média do sangue nos capilares dado que, cada capilar tem um diâmetro interno de cerca de 8·10-4 cm, e que existem literalmente bilhões deles, de modo que a área de secção transversal total dos capilares é de cerca de 2.000 cm2. 2. Um líquido incompressível escoa através de uma mangueira cilíndrica de raio r e enche um recipiente de volume V em um intervalo de tempo Δt. A velocidade média de escoamento do líquido é: a) tr V c) tr V 2 e) t rV 2 b) tr V 2 d) trV 2 3. Uma mangueira, com diâmetro interno de 8,0 cm, é usada para encher uma piscina circular com diâmetro de 2,4 m. A água flui através da mangueira com uma velocidade média de 0,5 m/s. Por quanto tempo essa mangueira deverá ser usada até a água na piscina atingir a profundidade de 0,6 m? 4. Uma mangueira com diâmetro de 2 cm é usada para encher um balde de 20 litros. a) Se leva 1 minuto para encher o balde. Qual é a velocidade com que a água passa pela mangueira? b) Um brincalhão aperta a saída da mangueira até ela ficar com um diâmetro de 5 mm, e acerta o vizinho com água. Qual é a velocidade com que a água sai da mangueira? 5. Considere duas regiões distintas do leito de um rio: uma larga A, com 200,0 m2 de área na secção transversal, onde a velocidade média da água é de 1,0 m/s; outra estreita B, com 40,0 m2 de área na secção transversal. Calcule: a) a vazão volumétrica do rio, em m3/s; Fenômenos de Transporte CCE 0187 31 b) a velocidade média da água do rio, em m/s, na região estreita B. 6. Uma mangueira de jardim tem diâmetro interno de 1,8 cm e está ligada a um irrigador que consiste apenas de um recipiente com 24 orifícios, cada um com diâmetro de 0,12 cm. Se a velocidade da água na mangueira é de 0,90 m/s, qual sua velocidade ao sair dos orifícios? 7. A figura abaixo mostra dois riachos, A e B, que se unem para formar um rio. O riacho A tem largura de 2,0 m, profundidade 0,50 m e a água flui com velocidade de 4,0 m/s. O riacho B tem largura 3,0 m, profundidade 1,0 m e, nesse riacho, a água flui a 2,0 m/s. Determine a profundidade do rio, sabendo-se que sua largura é de 5,0 m e que a velocidade de suas águas é de 2,5 m/s. 8. Qual deveráser a área de secção transversal de uma tubulação, em que ar se move a 3,0 m/s, de modo a permitir a renovação do ar, a cada 15 minutos, em um quarto com 300 m3 de volume? Admita que a densidade do ar permaneça constante. 9. Um duto circular, com raio de 15 cm, é usado para renovar o ar em uma sala, com dimensões 10 m × 5,0 m × 4,5 m, a cada 10 minutos. Qual deverá ser a velocidade média do fluxo de ar através do duto para que a renovação de ar ocorra conforme desejado? Aula 9 Introdução Você já deve ter se perguntado como um grande avião, com muitas toneladas, pode permanecer no ar apesar de todo o seu peso? Ou como funciona um aerofólio de um carro de Fórmula 1? A resposta a essas perguntas está em um teorema estabelecido, em 1738, por Daniel Bernoulli (1700-1782), matemático e físico suíço e publicado em sua obra Hydrodynamica. O teorema de Bernoulli, em essência, estabelece que a energia, em um fluxo estacionário, é constante ao longo do caminho descrito pelo fluido. Este teorema não é, portanto, um princípio novo, mas uma relação obtida a partir das leis básicas da Mecânica Clássica. O teorema de Bernoulli pode ser deduzido a partir do teorema da energia cinética: "O trabalho da resultante das forças agentes em um corpo entre dois instantes é igual à variação da energia cinética experimentada pelo corpo naquele intervalo de tempo." A figura a seguir mostra um fluido escoando no interior de uma tubulação que se eleva gradualmente desde uma altura h1 até uma altura h2, medidas em relação a um plano horizontal de referência. Na região mais baixa, o tubo tem área de secção transversal A1, e na mais alta, área A2. A pressão do fluido na região inferior do tubo é p1 e na superior, p2. Fenômenos de Transporte CCE 0187 32 Consideremos, então, o deslocamento da porção sombreada de fluido desde a região mais baixa do tubo até a região mais alta. Nesse deslocamento, a porção de fluido assinalada com hachuras tracejadas permanece invariável. O trabalho realizado pela força resultante sobre a porção sombreada de fluido é calculado considerando-se que: o trabalho realizado sobre a porção de fluido pela força de pressão p1·S1 é p1·S1·Δx1; o trabalho realizado sobre a porção de fluido pela força de pressão p2·S2 é – p2·S2·Δx2 (negativo, pois a força de pressão tem sentido oposto ao do deslocamento da porção fluida); o trabalho realizado pela força peso para elevar o fluido desde a altura h1 até a altura h2 é igual a – m·g·(h2 – h1) (negativo pois o deslocamento ocorre em sentido contrário ao da força peso). O trabalho resultante realizado sobre o sistema é dado pela soma dos três termos considerados. Assim, temos: )(tan 12222111 hhgmxApxApteresul Mas, observe que A1·Δx1 (= A2·Δx2) corresponde ao volume da porção de fluido considerado e pode ser expresso como a relação entre a massa de fluido e a sua densidade m , em que ρ, a densidade do fluido, é suposta constante. Observe também que estamos considerando que o fluido seja incompressível, pois admitimos que A1·Δx1 = A2·Δx2 . Assim, o trabalho da força resultante sobre o sistema pode ser escrito como: )(resultante 1221 hhgm m pp A variação da energia cinética do sistema é dada por: 22 2 1 2 2 vmvmEc O teorema da energia cinética estabelece que o trabalho resultante realizado sobre o sistema deve ser igual à variação de sua energia cinética. Temos, então: 22 2 1 2 2 1221 vmvm hhgm m pp )( Multiplicando-se todos os termos da expressão por m e rearranjando-se as parcelas teremos, finalmente: Fenômenos de Transporte CCE 0187 33 2 2 2 21 2 1 1 hg v phg v p 22 (Teorema de Bernoulli) Como os índices 1 e 2 referem-se a duas posições quaisquer do fluido no tubo podemos suprimi-los e escrever, para qualquer ponto do fluido, que: constante 2 hg v p 2 Essa relação nos mostra –principalmente– que, em uma canalização horizontal, um estrangulamento implica –pela equação da continuidade– em um aumento na velocidade do fluxo e, consequentemente, em uma diminuição de pressão. Nessa relação, a soma hgp é denominada pressão estática, já estudada anteriormente, enquanto o termo 2 2v é a pressão dinâmica, exercida pelo fluido em movimento. É importante ressaltar que a correta utilização da equação de Bernoulli está baseada nas hipóteses usadas em sua obtenção: o fluido é incompressível; o escoamento ocorre em regime uniforme e permanente; o escoamento é invíscido, isto é, fluido sem viscosidade; não há trocas de calor, ou seja, o escoamento é adiabático; não existem máquinas –bombas ou turbinas- no trecho considerado. aplicável a pontos em uma mesma linha de corrente. Observação: Se dividirmos a última equação de Bernoulli, obtida acima, pelo peso específico, = ρ·g, do fluido, chegamos a: Hh vp g2 2 Nessa relação, a constante H, denominada carga total, é, como veremos adiante, a energia total por unidade de peso do fluido. Exercícios 1. Água quente circula pela tubulação de um sistema de aquecimento em uma casa. Se a água é bombeada, no térreo, com velocidade de 0,50 m/s através de um cano com 4,0 cm de diâmetro sob pressão de 3,0 atm, determine a velocidade de escoamento e a pressão da água em um cano com 2,6 cm de diâmetro, localizado no andar superior, 5 m acima do térreo. Considere: g = 10 m/s2, ρ = 1,0.103 kg/m3 e 1 atm = 1,0·105 N/m2. 2. Determinar a velocidade média e a pressão na seção (2) de uma tubulação circular e horizontal, pela qual escoa um fluido incompressível e ideal em regime permanente. Fenômenos de Transporte CCE 0187 34 Dados: D1 = 15 cm; D2 = 10 cm; p1 = 50.000 N/m 2; V1 = 3 m/s; fluido=10.000 N/m 3 ; g = 10 m/s2. 3. Um tanque contém água até a altura H; faz- se um orifício na sua parede lateral, à profundidade h abaixo da superfície da água. Determine: a) a velocidade v com que a água emerge pelo orifício; b) o alcance horizontal x do jato d'água ao atingir o piso. 4. Água, cuja densidade é 103 kg/m3, escoa através de um tubo horizontal, com velocidade de 2 m/s, sob pressão de 2·105 N/m2. Em certo ponto, o tubo apresenta um estreitamento pelo qual a água flui à velocidade de 8 m/s. A pressão, nesse ponto, em N/m2, é: a) 0,5·105 c) 1,7·105 e) 8,0·105 b) 1,0·105 d) 4,2·105 5. Um galpão é coberto por um telhado com área de 400 m2. Um vento forte sopra a 72 km/h sobre esse telhado. O ar dentro do galpão está em repouso e sob pressão de 1 atm. Considere que a densidade do ar seja ρ = 1,29 kg/m3 e adote 1 atm = 1,0·105 N/m2. Determine: a) a diferença de pressão do ar que circunda o telhado; b) a força resultante que atua sobre ele. 6. Um tanque, com área de secção transversal S = 0,07 m2, contém água (ρ = 103 kg/m3). Um êmbolo, com massa total m = 10 kg, repousa sobre a superfície da água. Um orifício circular, com diâmetro 1,5 cm é aberto na parede lateral do reservatório a uma profundidade de 60 cm abaixo da superfície da água. Qual é a vazão inicial de água, em litros/s, através do orifício? Adote: g = 10 m/s2. 7. A figura abaixo representa um grande reservatório de água de uma represa, com uma canalização nele acoplada, cujas áreas das secções são 900 cm2 em 1 e 600 cm2 em 2. Admita que a água possa ser considerada um fluido ideal e que escoe em regime permanente. Sabendo-se que a aceleração da gravidade vale 10 m/s2 e que a pressão atmosférica é igual a 105 N/m2, pede-se: Fenômenos de Transporte CCE 0187 35 a) a velocidade, em m/s, com que a água flui no ponto 2; b) a vazão, em m3/s, da água; c) a pressão, em N/m2, no ponto 1. Aula 10 Aplicações do Teorema de Bernoulli O teorema de Bernoulli pode ser aplicado a um grande número de situações práticas. A seguir,analisaremos as principais aplicações desse teorema em situações do nosso dia- a-dia e também em situações mais técnicas. O Tubo de Venturi O Tubo de Venturi é um medidor de vazão formado por 3 partes importantes: o cone de entrada, a garganta e o cone de saída. Ele deve ser inserido em uma canalização de secção transversal A para se medir a velocidade de escoamento v1 de um fluido incompressível, de massa específica ρ, através dela. Um manômetro tem uma de suas extremidades inserida num estrangulamento, com área de secção transversal a, e a outra extremidade na canalização de área A. Seja ρm a densidade do líquido manométrico (mercúrio, por exemplo). Por simplificação, vamos considerar que a tubulação é horizontal. Pelo teorema de Bernoulli, devemos ter: 22 2 2 2 2 1 1 v p v p (I) Mas, pela equação da continuidade: a A vvvavA 1221 (II) Então, substituindo (II) em (I) teremos: 2 222 1 21 22 1 21 2 1 2 221 1 a aAv pp a Av ppvvpp 222 (III) A relação de Stevin, da hidrostática, permite obter: hgpphghHgpHgp mm 2121 (IV) Finalmente, substituindo (III) em (IV), chegamos a: 221 aA hg av m 2 Os modelos industriais, como o da foto ao lado, são normalizados pela ISO 5167 sendo conhecidos como Venturi Clássico, tendo os seguintes tipos: Tubo Venturi Clássico com cone convergente fundido (aplicação em tubulações de 100 a 800 mm); Tubo Venturi Clássico com cone convergente usinado (aplicação em tubulações de 50 a 250 mm); Tubo Venturi Clássico com cone convergente em chapa Fenômenos de Transporte CCE 0187 36 soldada (aplicação em tubulações de 200 a 1200 mm). Existem outros tipos de Tubo Venturi normalizados: o Venturi Excêntrico, o Venturi Truncado e os de Perfil Retangular. O tubo de Pitot O tubo de Pitot é um dispositivo utilizado para medir a velocidade de escoamento de um gás –ar, por exemplo. Tal dispositivo está ilustrado na figura abaixo. As aberturas a são paralelas à direção de escoamento do ar e bastante afastadas da parte posterior para que a velocidade v do fluxo de ar e a pressão fora dela não sejam perturbadas pelo tubo. Seja pa a pressão estática do ar no ramo esquerdo do manômetro, que está ligado a essas aberturas. A abertura do ramo direito do manômetro é perpendicular à corrente e, em b, a velocidade reduz-se a zero; logo, nessa região a pressão total do ar é pb (maior que pa, como nos mostra a figura). O teorema de Bernoulli fornece, então: ba p v p 2 2 (I) A relação de Stevin, aplicada ao líquido do manômetro, fornece: bma phgp (II) Comparando (I) e (II), obtemos:. hg v m 2 2 hg v m 2 O tubo de Pitot pode ser convenientemente calibrado de modo a fornecer o valor da velocidade v diretamente. Nesse caso, o tubo de Pitot torna-se um velocímetro e seu uso é bastante comum em aviões. Geralmente, o tubo de Pitot é colocado sob as asas do avião. A bomba spray O esquema ao lado ilustra uma bomba spray (atomizador) do tipo utilizada em frascos de perfume. A bomba de borracha ao ser comprimida expele o ar, contido em seu interior, a uma alta velocidade. De acordo com o teorema de Bernoulli, a pressão do ar fluindo a alta velocidade através da região superior do tubo vertical é menor que a pressão atmosférica normal atuando na superfície do líquido contido no frasco. Dessa maneira, o líquido é empurrado tubo acima devido à diferença de pressão. Ao atingir o topo do tubo, a coluna líquida é fragmentada em pequenas gotículas (spray). Atualmente, existem diversos modelos de bomba spray para uso com produtos cotidianos, como perfumes, remédios, produtos de limpeza, etc. Fenômenos de Transporte CCE 0187 37 O empuxo dinâmico em uma asa O empuxo dinâmico é a força exercida sobre um corpo devida ao movimento desse corpo em um fluido. Uma superfície aerodinâmica –como uma asa de avião ou um aerofólio de carro de corrida, ou mesmo as aletas de uma lancha– é desenhada de tal maneira que, ao se movimentar através de um fluido perturba-o de tal maneira que, em algumas regiões as linhas de corrente são mais próximas e em outras regiões elas não são afetadas. A figura abaixo mostra as linhas de corrente de um fluxo de ar nas proximidades de uma asa de avião, mostrada em corte. Observe que acima da asa as linhas de corrente estão mais comprimidas, indicando que nessa região a velocidade do fluido é maior. Assim, pelo teorema de Bernoulli constante 2 2v p , a pressão na região acima da asa deve ser menor e, portanto, existirá uma força resultante dirigida para cima (empuxo dinâmico). Esse empuxo dinâmico é, geralmente, chamado de sustentação. O empuxo dinâmico em uma bola girante O empuxo dinâmico também pode ser observado numa bola girante. Tal efeito é bastante explorado no mundo esportivo, principalmente no tênis, no golfe e no futebol. É muito comum no futebol, na cobrança de uma falta com bola parada, a bola, depois de chutada, descrever uma curva e enganar o goleiro. A figura seguinte mostra as linhas de corrente de um fluido em torno de uma bola que translada sem girar (I), as linhas de corrente em torno de uma bola que apenas gira (II) e a superposição dos dois movimentos (III). Note que o empuxo dinâmico, mostrado em (III), faz com que a bola seja desviada de sua direção original. O empuxo dinâmico em uma vela O teorema de Bernoulli também pode explicar como um veleiro pode se deslocar quase que contra o vento. Para melhor entender como isso acontece, observe a figura abaixo. Fenômenos de Transporte CCE 0187 38 Quando navegando contra o vento, a vela mestra deve ser posicionada a meio ângulo entre a direção do vento e o eixo do barco (linha da quilha). Assim, a pressão atmosférica normal atrás da vela mestra é maior que a pressão à sua frente, onde a velocidade do fluxo de ar é maior devido ao estreitamento entre a bujarrona e a vela mestra, e isso origina uma força Fvento, conforme mostrado na figura, que impulsiona o barco. A força resultante no barco, devido ao vento e ao efeito de Bernoulli, atua quase que na perpendicular à vela e isso tenderia a deslocar o barco lateralmente se não houvesse uma porção da quilha estendendo-se verticalmente abaixo da linha d'água, a bolina. A água exerce, então, uma força quase que perpendicular à bolina (Fágua) , ou seja, quase perpendicular à quilha do barco. A resultante dessas duas forças, a força Fres, é quase que diretamente dirigida para a frente do barco, de modo que o barco desloca-se contra o vento. Observação: Deve-se ressaltar que o empuxo dinâmico é diferente do empuxo estático. O empuxo estático corresponde a uma força vertical e dirigida para cima, com intensidade igual ao peso de fluido deslocado e que atua em um corpo imerso em um fluido em repouso, como em um balão por exemplo. O empuxo dinâmico está sempre associado ao movimento relativo entre um corpo –uma asa de avião, um aerofólio, uma vela ou uma bola girante– e um fluido. Exercícios 1. Em 5 minutos, um carro tanque descarrega 5.000 litros de gasolina, através de um mangote cuja seção transversal tem área igual a 0,00267 m2 (ver figura ao lado). Pergunta-se: a) Qual a vazão volumétrica média desse escoamento, em litros/segundo? b) Considerando os dados indicados na figura e g = 9,8 m/s2 , qual a vazão volumétrica, em litros/segundo, no início do processo de descarga do combustível, quando o nível de líquido no tanque está no ponto A? c) O valor obtido no item b deve ser maior, menor ou igual ao do item a? Fenômenos de Transporte CCE 0187 39 2. Uma bomba de recalque é usada para bombear água para fora de um navio. A mangueira da bomba tem um
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