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POPULAÇÃO E POVO Conceito de população Todas as pessoas presentes no território do Estado, num determinado momento, inclusive estrangeiros e apátridas, fazem parte da população. É, por conseguinte a população sob esse aspecto um dado essencialmente quantitativo, que independe de qualquer laço jurídico de sujeição ao poder estatal. O fato de alguém se incluir na população de um Estado nada revela quanto ao vínculo jurídico entre a pessoa e o Estado, não sendo necessária a constituição de uma vinculação jurídica especial para que alguém se inclua na população. Assim, essa expressão não tem sentido jurídico e não pode ser usada como sinônima de povo. Do ponto de vista econômico, a população tanto pode significar fator de pujança, poderio e engrandecimento como também causa de debilidade para o ordenamento estatal. Desafio do fantasma malthusiano ao Estado moderno Malthus afirmava que a população crescia muito mais que a capacidade dos países de produzir alimentos, e que quando se chegasse a níveis insustentáveis, existiriam as guerras, as revoluções, as epidemias, as fomes devastadoras, para restaurarem o equilíbrio rompido, ou seja, uma fatalidade social. Surgiram os críticos a esta tese, tentando professar doutrina contrária, porém, mesmo com a tecnologia hoje existente, ainda o problema da fome está distante de ser eliminado. O questionamento é inevitável, os avanços tecnológicos, as novas acepções de governo, poderão afastar efetivamente uma tese do final do século XVIII que continua a apavorar? A explosão demográfica ameaça o futuro da humanidade Atualmente não é somente a escassez de alimentos que preocupa os cientistas sociais, mas de conhece e prever a natureza ou média do padrão de vida que aguardará a sociedade humana, principalmente os povos subdesenvolvidos, em razão da explosão populacional na idade da industrialização. Estamos em presença de um crescimento sem paradeiro, principalmente nos países subdesenvolvidos. O Professor Eynern, da Universidade de Berlim, distinguiu quatro fases dessa impressionante crise. A primeira fase é que nascem e morrem em média 35 ou 45 pessoas por 1.000 habitantes anualmente. A segunda fase com todos os avanços da medicina caiu para 20 o número de mortos. Na terceira fase a taxa de nascimento continua em declínio, segundo o Professor, em razão de uma limitação racional do número de filhos no casamento. Na quarta fase se tem a reaproximação das duas taxas, ao número de 10/1000, restaurando assim uma situação que se assemelha à da primeira fase e que significará decerto a travessia vitoriosa da crise. Na quarta fase se encontram os países desenvolvidos, na terceira fase ainda não ingressou nenhum país subdesenvolvido. Dos países, onde o problema é maior, somente o Japão entrou na terceira fase. Na segunda fase se encontram os países da Ásia, África e a maior parte da América Latina. O pesadelo dos subdesenvolvidos O problema dos países subdesenvolvidos é o aumento da produção econômica não acompanha o crescimento veloz população. As conseqüências dolorosas são o rebaixamento contínuo das condições de vida dos países subdesenvolvidos, impotentes para fazer as necessidades primárias de pão, roupa e teto, do mesmo passo que as necessidades secundárias do conforto proporcionado pela tecnologia ficam para eles como uma esperança cada vez mais remota. Enquanto os governos se insistem na infra-estrutura-onerosa, o que faz fútil todo o esforço de elevar o conforto e bem-estar da população, a realidade é o descaso com um crescimento populacional desenfreado, ou seja, todos os investimentos do governo ainda não são suficientes para satisfazer as necessidades de uma superpopulação. O pessimismo das estatísticas Se nos anos 70 os números já eram assustadores, no ano 2000 o quadro se tornou ainda pior, hoje temos 6,6 bilhões de seres humanos sobre a Terra, 5,4 bilhões são de países subdesenvolvidos, mais de 80% da humanidade. (Dados da ONU). A posição privilegiada dos países desenvolvidos Nestes, acontece o contrário, o aumento da população é inferior ao aumento da produção econômica, o que gera distância ainda maior dos países subdesenvolvidos em relação a estes. Os povos desenvolvidos dispõem não só de um know-how superior no domínio tecnológico. Investindo maciçamente na pesquisa científica, rasgam horizontes novos de prosperidade material e preparam uma civilização de conforto que a elevadíssima renda per capita lhes proporcionará. Todavia, o clima de apreensão já domina hoje o sentimento das elites ocidentais, conscientes da tempestade que o futuro vai aparelhando, regimes totalitários de países subdesenvolvidos podem ameaçar o conforto daqueles em nome de uma desigualdade hoje existente. Conceito político de povo “Povo é aquela parte da população capaz de participar, através de eleições, do processo democrático, dentro de um sistema variável de limitações, que depende de cada país e de cada época’”. Conceito jurídico Segundo Giancarlo Ospitali, povo é “o conjunto de pessoas que pertencem ao Estado pela relação de cidadania”. Três sistemas determinam a cidadania: o jus sanguinis (determinação da cidadania pela relação pessoal), o jus soli (a cidadania se determina pelo vínculo territorial) e o sistema misto (admite ambos os vínculos). Na terminologia do direito constitucional brasileiro ao invés da palavra cidadania, que tem uma acepção mais restrita, emprega-se com o mesmo sentido o vocábulo nacionalidade. A matéria se acha regulada no artigo da Constituição Federal, que define que é brasileiro e por conseguinte, em face das nossas leis, quem constitui o nosso povo. Conceito sociológico Desse ponto de visto, o sociológico, há equivalência de povo com nação. O povo é compreendido como toda a continuidade do elemento humano, projetado historicamente no decurso de várias gerações e dotados de valores e aspirações comuns. Considerações sobre povo Verifica-se que o povo é elemento essencial do Estado, continua a ser componente ativo mesmo depois que o Estado foi constituído. O povo é o elemento que dá condições ao Estado para formar e externar uma vontade. Deve-se compreender como povo o conjunto de indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. Todos os que se integram no Estado, através da vinculação jurídica permanente, fixada no momento jurídico da unificação e da constituição do Estado, adquirem a condição de cidadãos, podendo-se, assim conceituar povo como o conjunto de cidadãos do Estado. Desta forma, o indivíduo, que no momento mesmo de seu nascimento atende aos requisitos fixados pelo Estado para considerar-se integrado nele, é, desde logo, cidadão. Bibliografia: BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 12 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.