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teoria-geral-do-crime-desistencia-voluntaria-e-arrependimento-eficaz 2

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Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ 
 
São hipóteses denominadas de tentativa qualificada. Nestes casos o agente, 
após iniciada a execução do delito, ou a interrompe voluntariamente ou, a 
exaurindo, impede a consumação do crime, também voluntariamente, 
gerando a denominada tentativa abandonada. Esta é tratada pelo CP pátrio, 
no artigo 15, como fato atípico, do ponto de vista do conatus, respondendo o 
agente pelos atos anteriormente praticados, caso tenham sido ensejadores 
de delito. 
Em ambos os casos a lei penal exige apenas voluntariedade, Não havendo 
necessidade da existência de espontaneidade. Basta para a configuração da 
tentativa qualificada que o agente não tenha sido coagido, moral ou 
fisicamente, a paralisar a execução ou impedir a consumação do delito. 
 
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA 
 
A desistência voluntária, prevista na 1ª parte do art. 15 do Código Penal, se 
dá quando o agente simplesmente cessa a prática dos atos executórios, 
voluntariamente, ainda que pudesse continuar. Exemplos: “A”, com animus 
necanti vontade de matar), saca de um revólver e aponta para “B”. Após 
disparar uma vez e não atingir a vítima, apesar de tê-la sob a mira e possuir 
outros projéteis, muda de idéia e guarda a arma, paralisando voluntariamente 
a execução. Neste caso não responde pela tentativa de homicídio, mas pelo 
delito de perigo para a vida ou a saúde, previsto no artigo 132, do CP. “A” 
ingressa na residência de “B” para subtrair objetos que ali se encontram. 
Dentro da casa, acometido de forte dor de cabeça, resolve paralisar a 
execução, que se encontrava em curso, para sanar a dor que o incomodava, 
tencionando depois voltar, e se retira do interior da residência. Não responde 
por tentativa de furto, mas responde por violação de domicilio, previsto no 
artigo 150, do CP, na forma preconizada pelo artigo 15 do Estatuto 
Repressivo. 
 
ARREPENDIMENTO EFICAZ 
 
O arrependimento eficaz, previsto na 2ª parte do art. 15 do Código Penal, se 
dá quando o agente, após praticar todos os atos executórios para a 
consumação do crime a impede voluntariamente. Ou seja, o agente, após 
exaurir a ação, no sentido de alcançar a realização do delito, desenvolve um 
segundo comportamento, visando impedir a produção do resultado típico. 
Exemplos: “A”, com animus necandi, dispara em direção a “B” os 05 (cinco) 
tiros que havia no tambor do seu revólver, vindo a atingir a vítima. Após, de 
forma voluntária, “A” leva “B” para um hospital e impede, com tal ação, a 
morte do ofendido. Não responde por tentativa de homicídio, mas por lesão 
corporal, leve ou grave, conforme o caso, segundo o contido no artigo 15 do 
Código Penal. “A”, com animus necanti, ministra uma dose de veneno a “B”, 
antes do resultado morte sobrevir, “A”, voluntariamente, dá um antídoto a “B”, 
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o qual, graças a essa segunda intervenção do agente não vem a morrer. “A” 
não responde por tentativa de homicídio, mas sim lesão corporal, caso esta 
tenha se configurado. 
 
DIFERENÇA ENTRE DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO 
EFICAZ 
 
A diferença entre desistência voluntária e arrependimento eficaz é que na 
primeira o agente simplesmente deixa de praticar atos de execução, 
enquanto no segundo o agente exaure a ação e desenvolve uma segunda 
ação tendente a anular os efeitos da primeira. 
Para a caracterização da desistência voluntária e do arrependimento eficaz, 
portanto, basta que tenha havido a voluntariedade do agente quando da 
paralisação da execução ou da ação vedadora do resultado típico, sendo 
irrelevante haja sido a conduta determinada por motivo bom ou nobre. 
 
 
 
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DIFERENÇA ENTRE ARREPENDIMENTO POSTERIOR E 
ARREPENDIMENTO EFICAZ 
 
No arrependimento posterior o resultado já foi produzido, enquanto no 
arrependimento eficaz o agente impede a sua produção. 
No arrependimento posterior há uma redução obrigatória da pena, no 
arrependimento eficaz o agente só responde pelos atos já praticados, ficando 
afastada, portanto, a punição pela tentativa da infração penal cuja execução 
havia sido iniciada. 
 
CRIME IMPOSSÍVEL 
 
Consoante os termos do artigo 17 do Estatuto Penal, diz-se o crime 
impossível quando por absoluta ineficiência do meio empregado ou 
impropriedade do objeto visando, é de todo impossível a consumação do 
delito. Ou seja, ocorre crime impossível quando a conduta do agente jamais 
poderia levar o crime à consumação, quer pela impropriedade absoluta do 
meio, quer pela impropriedade absoluta do objeto. 
O crime impossível também é denominado de quase-crime, tentativa inidônea 
ou inadequada, uma vez que a redação do artigo supra citado está expresso 
que não se pune a tentativa, e somente podemos falar em tentativa quando o 
agente, nos termos do art. 14, II, do Código Penal, já dera início aos de 
execução objetivando alcançar a consumação do crime por ele pretendido. 
 
MEIO INIDÔNEO 
 
Meio inidôneo é aquele que, no caso concreto, é incapaz de produzir o 
resultado típico. É a escolha de um meio de execução que jamais levará o 
crime à consumação. O conceito é relativo e não absoluto, pois o açúcar 
pode ser empregado para a prática do homicídio, em relação ao diabético. 
Não se reconhece a inidoneidade do meio empregado na hipótese da 
consumação se verificar impossível pela cautela tomada pela vítima. Por 
exemplo, o uso de colete à prova de balas ou de vidro blindado. Ex.: 
falsificação grosseira de documento, que nunca enganará o destinatário. 
 
OBJETO IMPRÓPRIO 
 
Objeto impróprio é aquele que não existe, para dar ensejo ao delito, ou que 
se encontre em situação em que seja possível a consumação. Por exemplo, 
quando a mulher ingere substância abortiva não estando grávida ou quando 
uma pessoa pretende matar outra, que já se encontrava morta, desfechando 
tiros contra o cadáver dessa. 
 
TEORIAS SOBRE O CRIME IMPOSSÍVEL 
 
São conhecidas três teorias. 
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1- Teoria sintomática: diz que o importante no crime impossível é a 
verificação da periculosidade do agente, que se manifestada com a prática da 
ação, ensejando a aplicação a ele de medida de segurança. 2- Teoria 
subjetiva: afirma que a intenção do agente, manifesta na conduta por ele 
praticada, deve gerar apenação idêntica à da tentativa. 
3- Teoria objetiva: aduz que o quase-crime não gera a tentativa e, portanto, 
qualquer punição, pois a imputação de um fato possui elementos objetivos e 
subjetivos e sem a concorrência do primeiro não se pode falar em conatus. 
Esta teoria se divide em duas, chamadas de pura e temperada. 
 3.1- Teoria objetiva pura: não há tentativa em caso 
algum, não importando se a inidoneidade dos meios ou a impropriedade dos 
objetos for absoluta ou relativa. 
 3.2- Teoria objetiva temperada: os meios devem ser 
absolutamente inidôneos e os objetivos absolutamente impróprios para a 
existência do quase-crime, porquanto, em caso de inidoneidade relativa, há 
tentativa. O legislador brasileiro acolheu essa última teoria. 
Ex.: tentar matar alguém com arma e projéteis verdadeiros que, entretanto, 
não detonam por estarem velho A ineficácia do meio é acidental e existe a 
tentativa de homicídio, também, há tentativa punível quando alguém ministra 
ao diabético açúcar; quando alguém ministra, a quem antes ingerira, sal de 
cozinha; quando alguém emprega a palavra para alcançar a morte de outrem, 
etc. 
Também não é punível, por derradeiro, a denominada tentativa irreal ou 
supersticiosa, que é aquela que ocorre quando o agente intenta alcançar um 
objeto utilizando-se de meios mágicos e outros similares para provocar o 
resultado, como por exemplo, desejar matar uma pessoa conjurando ao 
diabo.

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