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PSICODIAGNÓSTICO EM DIVERSAS ABORDAGENS COL. CLÍNICA DE PSICOLOGIA PARA RECÉM-FORMADOS Miguel Antônio de Mello Silva (org.) DIREITOS AUTORAIS DO TEXTO ORIGINAL © 2016 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS ISBN-13 : 978-1540764584 ISBN-10 :1540764583 “O fato é que não tem como saber se aquilo que a pessoa acredita ser reside no íntimo do ser. Seria você uma garota decente com o potencial de, um dia, se tornar um monstro malvado, ou um monstro malvado que acredita ser uma garota decente?” Derek Lendy, em Death Bringer Agradecimentos Este livro é o resultado de esforços coordenados de várias pessoas, sem as quais, ele não teria sido possível. Primeiramente, gostaria de agradecer a todos os autores pelo empenho costumeiro em responder às solicitações feitas pelo editorial. Sem dúvida, o empenho da Dra. Iara Maria Telles que, com dedicação e paciência, procedeu a revisão e a correção sempre necessária dos textos, é algo digno de nota e agradecimento. Também quero agradecer à Ms. Gláucia Telles Sales, uma das autoras, pela revisão técnica ad hoc do meu capítulo. Quase sempre somos melhores para revisar a escrita dos outros do que a nossa própria. Aos artistas Juliana Buglia e Renato Nozaki, pela concepção e desenvolvimento artístico da capa do livro. Com cada um desses esforços que a editoração e os cuidados finais me foram possíveis, transformando um projeto de publicação na realidade concreta de um livro sobre psicodiagnóstico. Apresentação As ciências humanas se consolidam a partir de interesses que define as suas diferentes ramificações como, por exemplo, as ciências do comportamento, ramificação da qual a Psicologia faria parte. Mas, seria a Psicologia uma ciência restrita ao comportamento? Com certeza não. E teria a palavra “comportamento” muitas definições? Com certeza sim! Só pelas dificuldades que irrompem ao se redigir tão poucas linhas, pode-se notar o grau de dificuldade em se organizar um tema como o do psicodiagnóstico porque, afinal, tudo o que há para ser dito – inclusive esse assunto – está organizado em sistemas de ideias e teorias, com pressupostos diferenciados, que configuram a Psicologia como um campo de diversidade e de algumas convergências. O aluno que termina o curso de Psicologia, o psicólogo recém- formado, certamente não domina a maioria dessas diferenças e nem vislumbra conexões de convergências mesmo em razão de nem sempre elas serem possíveis. Tudo o que ele traz são algumas práticas que adotou ao longo do curto período de atendimento na clínica-escola, às vezes aprendidas, às vezes treinadas e muitas vezes não-refletidas. Não deu tempo. O curto calendário escolar não comporta o desenvolvimento de uma assimilação crítica e é muito mais uma sequência de atividades que o aluno deve desempenhar e se sair bem academicamente. Ele salta das disciplinas teóricas que trazem alguns trabalhos práticos que tiveram que se encaixar em uma carga horária já reduzida demais já para a teoria, para o contexto de atendimento de pacientes em psicodiagnóstico. Às vezes feito em dupla! Dois aprendizes sozinhos. Seria para ver quem grita mais alto de desespero? Talvez para dar conta da demanda externa de pacientes atendidos na clínica mantendo a carga horária e os custos operacionais reduzidos, as escolas de formação valorizam a ideia de psicodiagnóstico interventivo que, explicando de maneira bem prática sobre como funciona para o aluno, é mais ou menos assim: ele não sabia nem como direcionar a sua observação, nem compor uma compreensão da sua vivência com o paciente, muito menos redigir um relatório que tenha a ver com o quadro do paciente; agora, ele tem que fazer tudo isso e realizar a psicoterapia do paciente ao mesmo tempo! Agora sabemos porque fazer em dois: para haver gritos de desespero que sejam emitidos de forma bem alta e alternada... às vezes com os do paciente juntos! Convenhamos: é muito difícil adequadamente remeter uma observação rudimentar a um arcabouço teórico ainda não assimilado, contando com apenas alguns minutos por semana do supervisor que tem que dividir a sua atenção para atender outros e muitos alunos, e que ainda tem remuneração menor do que a de um professor em sala de aula! Por isso é um fato afirmar que nenhum aluno aprendeu a fazer psicodiagnóstico e muito menos diagnóstico interventivo. Mas, foi percebendo esse contexto e as necessidades que ele cria, que surgiu este livro sobre psicodiagnóstico. Este livro tem por objetivo focar nas necessidades do psicólogo recém-formado, levantando temas-chaves que eles necessitam para realizar psicodiagnóstico. O livro não tem a pretensão de ser um manual, mesmo porque, o leitor poderá observar com a leitura dos capítulos, tais manuais substitutos de bom raciocínio clínico e discernimento de contextos, situações e histórias-de-vida não existem. É possível notar que a atividade de psicodiagnóstico se estrutura, como metodologia de intervenção, a partir da teoria ou abordagem do profissional. Isso foi verificado na organização das ideias feita pelos autores: eles organizaram os seus argumentos sobre como desempenhar o psicodiagnóstico a partir da abordagem que cada um segue. Embora uma divisão do livro, mediante teorias, não tenha sido prevista no planejamento inicial desta obra, ela é uma decorrência natural dos posicionamentos dos autores e uma necessidade de direcionamento dos leitores, para uma consulta e manuseio mais fáceis. Assim, o livro está dividido nas seguintes abordagens: psicanalítica, comportamental, humanista, existencial-humanista e social. Na abordagem psicanalítica, trago a minha contribuição seguida das contribuições de Gláucia Telles Sales, Josiane Cristine Ramos e Rita Aparecida Nicioli Cerioni. Sendo que faço parte da abordagem psicanalítica, a fim de evitar eventual sobreposição, propositadamente redigi o meu capítulo depois de ter recebido os materiais da mesma abordagem que a minha. Assim, como forma de contribuição, trouxe uma pequena discussão sobre as atitudes mais comuns frente ao sujeito, à doença e à saúde no psicodiagnóstico e o lugar das classificações de doenças, estando ambos os assuntos gravitando ao redor do eixo teórico proposto por Donald Woods Winnicott, especificamente as contribuições que ele deu ao psicodiagnóstico, a partir da teoria do amadurecimento. Já Gláucia discorreu sobre a experiência que vivenciou com os alunos que optaram pela psicanálise de Winnicott na aprendizagem do psicodiagnóstico em uma clínica-escola enfocando, principalmente, os desafios que lhes são apresentados, o papel da supervisora na superação deles e a sequência dessa experiência dos alunos nos estágios clínicos subsequentes. Diferentemente, Josiane trouxe o entendimento de Winnicott sobre o psicodiagnóstico infantil, a partir do "jogo do rabisco" que ele criou, útil para compreender o paciente. Também aborda o manejo winnicottiano com o paciente e, no caso da criança, os seus pais ou cuidadores. Interessante foi a contribuição de Rita Cerioni, com um capítulo sobre o lugar dos pais no processo psicodiagnóstico de referencial psicanalítico e de como olhar para eles pode significar um ato interventivo e de transformação. Na abordagem comportamental, temos as contribuições de Denise Rosolen Sanson e Gabriel Fachini. Em um capítulo Denise valoriza a análise funcional do comportamento no psicodiagnóstico, desde a visão geral da teoria analítico comportamental que partiu de Skinner e adentrou a análise funcional, incluindo o seu procedimento. Foi também a sua preocupação desmistificar a noção de que a terapia analítico comportamental tem uma visão parcial e rasa do ser humano. Já Gabriel discute a visão da análise do comportamento sobre o psicodiagnóstico, como são as suas etapas e algumas diferenças dela em relação a outras abordagens psicológicas. Priscila faz uma contextualização da origem do psicodiagnóstico frente às propostas humanistas da Abordagem Centrada na Pessoa e como isso se concretiza na prática psicodiagnóstica da ACP. Na abordagem fenomenológica,