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1 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina Dor crônica, lombocitalgia e hérnia discal (Tutoria 02 – módulo 01) OBJETIVO 01: Definir dor crônica Ministério da saúde: De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP), dor é uma sensação ou experiência emocional desagradável, associada com dano tecidual real ou potencial. A dor pode ser aguda (duração inferior a 30 dias) ou crônica (duração superior a 30 dias) sendo classificada segundo seu mecanismo fisiopatológico em três tipos: a) dor de predomínio nociceptivo, b) dor de predomínio neuropático e c) dor mista. A dor de predomínio nociceptivo, ou simplesmente dor nociceptiva, ocorre por ativação fisiológica de receptores de dor e está relacionada à lesão de tecidos ósseos, musculares ou ligamentares e geralmente responde bem ao tratamento sintomático com analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides (AINES). Já a dor neuropática é definida como dor iniciada por lesão ou disfunção do sistema nervoso, sendo mais bem compreendida como resultado da ativação anormal da via da dor ou nociceptiva. Contrariamente à dor nociceptiva, a dor neuropática responde pobremente aos analgésicos usuais (paracetamol, dipirona, AINES, opioides fracos). DEFINIÇÃO A dor nociceptiva é a dor na qual há dano tecidual demonstrável (osteoartrose, artrite reumatoide, fratura e rigidez muscular na dor lombar inespecífica, etc.). Na escala de dor LANSS, esse tipo de dor corresponde a escores inferiores a 8 pontos. A dor neuropática é a dor em que existe lesão ou disfunção de estruturas do sistema nervoso periférico ou central. Para esse tipo de dor são fundamentais a presença de descritores verbais característicos (queimação, agulhadas, dormências), uma distribuição anatômica plausível e uma condição de base predisponente, como diabetes ou quimioterapia. Na escala de dor LANSS, os escores são superiores a 16 pontos. A dor mista é a dor com escore entre 8 e 16 pontos na escala de dor LANSS, indicando lesão simultânea de nervos e tecidos adjacentes, como ocorre na gênese da dor oncológica, dor ciática e síndrome do túnel do carpo. A síndrome da dor miofascial é uma condição caracterizada pela presença de ponto-gatilho, com uma prevalência de cerca de 30% em pacientes ambulatoriais. Acredita-se ser causada pela atividade dos pontosgatilho distribuídos ao longo de músculos vulneráveis. O diagnóstico da síndrome miofascial é estabelecido com base em pelo menos um dos seguintes critérios: a) sensibilidade aumentada sobre um ponto de espessamento muscular, b) resposta muscular local à manipulação do ponto-gatilho, c) dor referida, d) reprodução da dor usual, e) restrição de amplitude de movimento, f) fraqueza sem atrofia ou g) sintomas autonômicos associados. A fibromialgia é uma condição que se estima ocorrer em 8% na população geral e é marcada por dor crônica disseminada e sintomas múltiplos, tais como fadiga, distúrbio do sono, disfunção cognitiva e episódios DOR CRÔNICA depressivos. O diagnóstico deve ser considerado quando houver 11 dos 18 locais esperados de pontos musculares dolorosos (região suboccipital, cervical lateral, ponto médio da borda superior do trapézio, região supraescapular, junção condrocostal da segunda costela, epicôndilo lateral, região glútea laterossuperior, região do trocânter maior e região medial acima do joelho) e outras condições clínicas forem excluídas, tais como doenças reumáticas e distúrbios primários do sono. Síndrome da fadiga crônica, síndrome do cólon irritável ou bexiga irritável, cistite intersticial e disfunção da articulação temporomandibular são transtornos que comumente acompanham pacientes fibromiálgicos. Em função da maior ocorrência em mulheres, acredita-se haver mecanismos hormonais envolvidos na fisiopatologia da doença. OBJETIVO 02: Entender a fisiopatologia da dor crônica relacionada a lombocitalgia e o quadro clínico FISIOPATOLOGIA 1. Protrusão discal - Cerca de 90% dos casos de ciatalgia lombar estão relacionados a um processo inflamatório sobre a raiz nervosa causada pela reação inflamatória consequente a aumento de pressão intradiscal e protrusão do disco intervertebral no interior do canal vertebral. 2. Hérnia de disco - Condição em que além do processo inflamatório sobre a raiz nervosa há uma compressão mecânica dessa raiz pelo disco intervertebral, com prevalência de 5%. Tal condição tem maior incidência entre a terceira e quarta décadas de vida. Isso, pois nessa fase da vida o processo degenerativo do disco intervertebral encontra-se em um momento em que ainda há pressão no interior do núcleo pulposo, porém o ânulo fibroso já apresenta redução de sua capacidade de resistir a essa pressão interna. Com isso ocorrem rupturas no ânulo fibroso e consequente compressão de uma raiz nervosa no interior do canal vertebral ou no forâmen intervertebral. 3. Estenose de canal vertebral - Condição que pode ser congênita, na minoria dos casos e degenerativa, na maioria, em que o diâmetro do canal vertebral está entre 10 e 12mm secundário ao espessamento ósseo das lâminas e facetas articulares, hipertrofia do ligamento amarelo, ossificação do ligamento longitudinal posterior e hiperlordose. Tal condição 2 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina está relacionada à compressão nervosa mecânica e também a insuficiência vascular e isquemia relativa. 4. Síndrome pós-laminectomia - Cerca de 10 a 40% dos pacientes que são submetidos a cirurgia de coluna lombar para alívio de dor, independente da técnica cirúrgica utilizada, evoluem com dor crônica neuropática no membro inferior que é responsável por perda da QV. Tal condição tem etiologia multifatorial e está relacionada a eventos pré, intra e pós- operatórios. 5. Síndrome do piriforme - Cerca de 6% dos casos de ciatalgia lombar podem ser relacionados à síndrome do piriforme. Tal condição está relacionada à compressão do nervo ciático pelo músculo piriforme ou mesmo pelo tendão desse músculo no assoalho pélvico. Isso ocorre quando há hipertrofia, inflamação ou variação anatômica do músculo. QUADRO CLÍNICO Hiperalgesia: dor exagerada (desproporcional) a um estímulo habitualmente doloroso; Hiperpatia: reação exagerada aos estímulos álgicos intensos ou repetitivos aplicados em regiões hipoestésicas; Alodínea: dor devido a um estímulo que normalmente não provoca dor Na lombalgia é comum a dor não apresentar irradiação importante, enquanto na lombociatalgia ela irradia para a nádega e face posterior da coxa A intensidade de dor varia A movimentação da coluna geralmente agrava a dor Quase sempre há transtorno funcional, impedindo o paciente de trabalhar, por exemplo Em alguns casos, há completo bloquei- Paciente em posição rígida, sem condições de exercer qualquer atividade Comum a presença de rigidez matinal que melhora com a movimentação Mudanças de posição, o ato de sentar, deambular, tossem espirros e pequenos esforços podem provocar dor Limitação na mobilidade da coluna Dor à palpação da região lombar A compressão da região lombar pode despertar dor pelo trajeto do nervo ciático Parestesia do local ou do membro ou membros inferiores e pés Dores durante o repouso e em movimento Hipotrofia e hipotonia Arco de movimento incompleto, incapacidade de movimento devido a dor Alteração da biomecânica da coluna lombar, aparecimento de outras patologias OBJETIVO 03: Identificar as principais complicações da hérnia discal FISIOPATOLOGIA A formação da hérnia inicia-se com a diminuição no conteúdo dos proteoglicanos (responsáveis pela hidratação do núcleo pulposo) levando ao surgimento de fissuras no anel fibroso, por onde o conteúdo gelatinoso nuclear pulposo infiltra, acometendo as raízes nervosasespinhais de diferentes formas e graus. Nesse processo, pode haver desde o abaulamento do disco, até o rompimento da parede discal com extravasamento do conteúdo nuclear para o canal medular, o que chamamos respectivamente de protrusão e extrusão com sequestro. Estes eventos podem ocorrer em quatro zonas do disco - central, póstero lateral, foraminal ou extraforaminal - e, dessa forma, provocar apresentações clínicas distintas. Os danos às raízes nervosas podem ocorrer de duas formas principais, seja através da compressão mecânica direta, seja através da irritação nervosa pela ação de mediadores inflamatórios liberados durante este processo. Essa patologia tem caráter multifatorial e dentre os fatores que aceleram e contribuem para o seu processo de formação podemos destacar: a herança genética, o envelhecimento natural dos discos vertebrais e o sedentarismo. Outros fatores que agregam um risco adicional ao seu desenvolvimento são tabagismo, excesso de peso, má postura ao transportar cargas e a prática de movimentos incorretos. SINAIS E SINTOMAS Algumas herniações dos discos vertebrais cursam assintomáticas, porém a grande maioria comporta inúmeros sintomas característicos dos locais específicos de compressão ou irritação nervosa. Geralmente os pacientes surgem com queixas de dor intensa com irradiação para o membro cuja raiz nervosa é afetada, com fraqueza muscular seguida de parestesia e/ou paresia do membro acometido. Outros sintomas são rigidez de nuca e parestesias em pés e mãos. Na região cervical, a dor inicia no pescoço e geralmente irradia para os membros superiores, enquanto na região lombo-sacra, a dor tem início em região lombar, podendo se irradiar para nádega, coxa e joelhos. A dor pode ser aguda com piora ao esforço físico, geralmente em jovens, ou permanente de fraca intensidade, mais comumente em idosos. COMPLICAÇÕES Dor ciática Lombalgia Rigidez das costas Imobilidade Paralisia 3 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina Insensibilidade da área inervada pelo nervo afetado, caso haja compressão desse, ou até disfunção dos órgãos inervados por tal nervo (Como problemas no intestino e bexiga). OBJETIVO 04: Descrever a rotina semiológica para diagnóstico da lombocitalgia com as manobras específicas, citar rotina de exames complementares para coluna cervical e lombossacra SEMIOLOGIA O exame físico deve incluir inspeção estática e dinâmica, marcha, manobras especiais provocativas, palpação (partes ósseas e partes moles), além da avaliação de pontos-gatilho (PG) miofasciais. Os PG estão presentes em 85% dos pacientes avaliados em centros de dor e é uma das principais causas de dores crônicas. O exame neurológico deve avaliar motricidade, sensibilidade (tátil, dolorosa, térmica e vibratória) e reflexos tendíneos profundos no tendão patelar (L4) e Aquileu (S1). A manobra provocativa mais utilizada é o teste da elevação da perna estendida, que é considerada positiva para comprometimento do nervo ciático quando reproduz os sintomas radiculares em uma elevação entre 35º e 70º. Flexão e extensão da coluna lombar O aumento da pressão intradiscal durante a flexão da coluna lombar impele o disco para trás, no sentido ântero posterior, piorando a dor na hérnia de disco. Há melhora ao deitar, posição onde a pressão intradiscal vai quase a zero. No estreitamento artrósico do canal raquidiano a dor piora com a extensão. Manobra de Valsalva Na compressão radicular a manobra provoca exacerbação da dor ou irradiação dela até o pé, que não acontecia antes. Manobra de Lasègue E geralmente considerada positiva quando a dor se irradia, ou se exarceba, no trajeto do dermátomo de L4-L5, ou L5.-S1, quando a elevação do membro inferior faz um ângulo de 35° a 70° com o plano horizontal. Sua positividade a 60° comprova compressão radicular. Manobra de Romberg E considerada anormal, se o movimento compensatório do corpo for necessário para manter os pés fixos no mesmo lugar. Este sinal costuma ser positivo na estenose do canal. Sinal das pontas Não se consegue andar com um dos calcanhares: compressão da raiz L5. Não se consegue andar com uma das pontas dos pés: compressão da raiz S1. Sinal do arco de corda Levanta-se a perna do paciente, como na manobra de Lasègue, até que a dor apareça; nesse momento, faz-se uma flexão do joelho. Havendo redução e/ou desaparecimento da dor, o sinal é considerado positivo para o diagnóstico de hérnia discal. Sinais não-orgânicos de lombalgias psicossomáticas Há simulação de dor lombar ao se fazer compressão axial no topo do crânio ou fazendo rotação da pelve e ombros, evitando movimentar a coluna, e discrepâncias no sinal de Lasègue, quando pesquisado sentado ou deitado. SINAIS DE ALERTA Sinais ou sintomas apresentados pelo paciente que possam ser devidos a outras enfermidades sistêmicas que não à lombalgia aguda mecânica. De tumor ou Infecção: idade acima de 50 ou abaixo de 20; história de câncer; sintomas como febre, calafrios, perda de peso, sem outra explicação convincente; Infecção bacteriana recente, dependentes químicos, imunossuprimidos; dor com piora noturna; dor com piora em decúbito dorsal. De fratura: trauma maior; trauma menor em idosos ou osteoporóticos. De síndrome de cauda eqüina: anestesia em sela; disfunção de bexiga; déficit neurológico progressivo ou grave em membros inferiores EXAMES COMPLEMENTARES Os dados da anamnese e do exame físico devem formular hipóteses diagnósticas, que devem ser confirmadas com os exames complementares quando necessário. Os red flags são indicadores de investigação por meio de exames de imagem e devem ser considerados para tentar excluir casos de fraturas, infecções, tumores e a síndrome da cauda equina. Atualmente os exames complementares têm sido amplamente utilizados para justificar as dores dos pacientes, no entanto alterações nos exames nem sempre têm relação com a etiologia da dor, já que alterações degenerativas são comuns mesmo em pacientes assintomáticos. Contudo, devem ser indicados de acordo com a anamnese/exame físico e valorizados se forem compatíveis com o quadro clínico. Protrusão discal e hérnia de disco - A tomografia computadorizada (TC) pode demonstrar a protrusão do disco intervertebral ao interior do canal vertebral, porém o padrão- ouro é a ressonância nuclear magnética (RNM) que demonstra o processo degenerativo do disco intervertebral, além de rupturas do ânulo fibroso e fragmentos do núcleo pulposo migrado. 4 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina Estenose do canal vertebral - A radiografia de coluna vertebral e a TC demonstram a hipertrofia óssea. Ela também demonstra o estreitamento do canal vertebral. Já a RNM adiciona informações relativas as partes moles como hipertrofia ligamenta.. Síndrome pós-laminectomia - A radiografia, TC e RNM pós-operatórias podem não demonstrar anormalidades. Anormalidades possíveis: são descompressão insuficiente, hematomas, infecção, instabilidade vertebral, posicionamento inadequado de órteses e fraturas vertebrais21. Síndrome do piriforme - RNM da pelve demonstra o músculo piriforme e sua relação com o nervo ciático OBJETIVO 05: Explicar tratamentos medicamentosos e não medicamentosos para dor crônica e hérnia de disco Para os três tipos de dor crônica duas estratégias de tratamento são propostas: “Degraus da Dor Nociceptiva e Mista” e “Dor Neuropática”. Adicionalmente será abordado o tratamento de outras duas causas de dor de alta prevalência e impacto no sistema de saúde: dor miofascial e dor fibromiálgica, ambas de fisiopatologia ainda pouco conhecida. TRATAMENTO ADJUVANTE Antidepressivos Os pacientes com dor crônica frequentemente sofrem de depressão esta condição deveser prontamente tratada. Relaxantes Musculares Os fármacos relaxantes musculares podem ser utilizados apenas por curto período em casos de dor crônica agudizada. O uso crônico é, portanto, desaconselhado. Diazepam, por exemplo, foi igualmente eficaz à acupuntura no tratamento da dor aguda de pacientes com osteoartrose. Em relevante meta-análise, foram reunidos 30 ensaios clínicos randomizados, dos quais 23 apresentavam excelente qualidade, incluindo relaxantes musculares benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos no tratamento da lombalgia aguda. Ao final, os autores concluíram que todos os tipos de relaxantes musculares foram superiores ao placebo no alívio agudo da lombalgia, apresentando um risco relativo para ocorrência de dor para eficácia global. No entanto, os efeitos adversos foram frequentes, especialmente sonolência e tontura, inviabilizando seu uso por longo prazo. Consequentemente, relaxantes musculares são desaconselhados nos casos de dor crônica. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO A maioria dos pacientes com dor nociceptiva e fibromialgia beneficia-se da prática regular de exercícios físicos, conforme ensaios clínicos bem conduzidos. Uma meta-análise concluiu que terapia cognitiva DOR CRÔNICA comportamental, massagem, reabilitação e calor local são alternativas eficazes no tratamento de dores musculares ou nociceptivas. Com relação à dor neuropática, há evidência sugerindo benefício da atividade física em pacientes pré-diabéticos. Nos casos de dor miofascial, apesar de haver ensaios clínicos preconizando o uso de AINES e relaxantes musculares, a prática de acupuntura e agulhamento a seco sobre os pontos-gatilho é eficaz, além da atividade física regular já comentada anteriormente. Outras condições que, conforme meta-análises, se beneficiam com a prática de acupuntura são osteoartrite e dor muscular crônica. Nesta última condição, portanto, os analgésicos comuns e os AINES estão indicados somente em casos de dor crônica agudizada, não como tratamento de manutenção. Assim, atividade física regular, terapia cognitiva comportamental, terapia com calor local ou fisioterapia podem ser utilizadas em pacientes com todos os tipos de dor (nociceptiva, neuropática ou mista) conforme a capacidade física do doente e sob supervisão de profissional habilitado. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O tratamento das dores nociceptiva e mista deve respeitar a proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de escalonamento (Degraus da Escada Analgésica, a seguir), que inclui analgésicos, antiinflamatórios, fármacos adjuvantes e opióides (fracos e fortes). Dentro de uma mesma classe inexiste superioridade de um fármaco sobre o outro. Em algumas situações de dor oncológica, caso haja lesão concomitante de estruturas do sistema nervoso (por exemplo, o plexo braquial) e escores elevados na escala de dor LANSS (dor mista ou neuropática), medicamentos para dor neuropática podem ser utilizados. DEGRAU FÁRMACOS 1 Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes* 2 Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes* + opióides fracos 3 Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes* + opióides fortes OBSERVAÇÃO: O tratamento será considerado ineficaz, ou seja, haverá passagem para o degrau seguinte, caso os analgésicos não atenuem os sintomas de forma esperada após uma semana com a associação utilizada na dose máxima preconizada. A base do tratamento da dor neuropática envolve o uso de medicamentos antidepressivos tricíclicos e antiepilépticos na maioria dos casos, sendo os opioides reservados somente a pacientes com dor a eles refratária. A primeira escolha, portanto, para os casos de dor neuropática, são os medicamentos antidepressivos tricíclicos, não havendo diferença em termos de eficácia entre os representantes do grupo. Se não houver resposta ao tratamento, devem ser http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-00132016000500063&lng=en&nrm=iso&tlng=pt#B21 5 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina associados antiepilépticos tradicionais (como a gabapentina) e morfina, obedecendo à seguinte sequência: 1 Antidepressivos tricíclicos 2 Antidepressivos tricíclicos + antiepilépticos tradicionais 3 Antidepressivos tricíclicos + gabapentina 4 Antidepressivos tricíclicos + gabapentina + morfina Inexiste tratamento medicamentoso significativamente eficaz para fibromialgia, apenas atividade física regular. Contudo, alguns pacientes se beneficiam do uso de tratamento das comorbidades, tais como ansiedade e depressão. A pregabalina foi apontada como alternativa medicamentosa para esses pacientes. No entanto, o estudo mais importante que avaliou o papel deste medicamento nessa doença teve apenas 6 meses de seguimento, com 17% de abandono por ocorrência de efeitos colaterais, tais como sonolência e problemas cognitivos decorrentes do uso do medicamento. Outro estudo observou muita ocorrência de disfunção cognitiva relacionada às doses usualmente prescritas para pacientes com fibromialgia , não recomendando seu uso. Uma vez que o medicamento não foi comparado com práticas não medicamentosas sabidamente eficazes, este Protocolo não recomenda tratamento medicamentoso específico para pacientes com fibromialgia. As recomendações de tratamento não medicamentoso da fibromialgia aplicam-se a pacientes com síndrome miofascial. ANALGÉSICOS A dipirona é um analgésico eficaz no tratamento de dores miofasciais e viscerais agudas, tais como dor pósoperatória, cólica renal e dor de cabeça, conforme meta- análises. Cabe salientar que em nenhum dos estudos incluídos nessas meta-análises houve relato de agranulocitose, motivo de proibição do uso da dipirona em alguns países. Dois estudos avaliaram o papel deste medicamento no controle da dor oncológica. No primeiro deles, os autores compararam o uso de dipirona em doses distintas (1 e 2 g) de 8/8 h versus morfina (10 mg) de 4/4 h em um ensaio clínico randomizado e duplo-cego. Cento e vinte e um pacientes foram alocados para 7 dias de tratamento. Ao final do estudo, não houve diferença de eficácia entre os três grupos, embora tenha havido melhor tolerabilidade no grupo de dipirona 1 g 3x/dia. Mais recentemente, um estudo brasileiro, por meio de delineamento cruzado, comparou dois grupos de pacientes com dor oncológica: morfina (10mg) de 4/4 h mais dipirona (500mg) de 6/6 h versus morfina (10mg) de 4/4 h mais placebo. Após 48 horas, os autores concluíram haver benefício do uso de dipirona como adjuvante à morfina. O paracetamol pode ser utilizado para a analgesia da maior parte das síndromes dolorosas. Várias metaanálises têm sido produzidas nos últimos anos, ressaltando o papel deste fármaco no alívio da dor devida a osteoartrite. Ele é eficaz nas dores pós-operatórias, especialmente quando associado a AINES. No entanto, não há evidência significativa de seu papel no alívio da dor lombar inespecífica ou da dor neuropática. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES (AINES) Todos os AINES são igualmente eficazes no alívio da dor lombar crônica, sendo em geral superiores ao paracetamol no tratamento da dor devida a osteoartrose. Conforme meta-análise envolvendo 42 ensaios clínicos e 3.084 pacientes , a dor oncológica também é eficazmente tratada com AINES. Nas dores nociceptivas crônicas em geral, o ibuprofeno é tão ou mais eficaz do que paracetamol. Evidências científicas de excelente qualidade afirmam grande eficácia do fármaco (200-400 mg/dia) no controle da dor pós- operatória. Uma meta-análise envolvendo 1.545 pacientes concluiu não haver diferença de eficácia analgésica entre o ácido acetilsalicílico (AAS) e três diferentes AINES nos pacientes com dor oncológica. Neste mesmo documento, foi observada a equivalência entre AAS e opioides fracosem alguns dos estudos selecionados. ANTIDEPRESSIVOS TRICICLICOS O mecanismo de ação comum aos antidepressivos tricíclicos em nível pré-sináptico é o bloqueio de recaptura de monoaminas, principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT), em menor proporção dopamina (DA). Aminas terciárias inibem preferencialmente a recaptura de 5-HT e secundárias a de NE. Atualmente se considera não haver diferenças significativas quanto à seletividade do bloqueio de recaptura pré-sináptico.3 A atividade pós-sináptica varia de acordo com o sistema neurotransmissor envolvido e geralmente é responsável pelos efeitos colaterais. Os ADTs bloqueiam receptores muscarínicos (colinérgicos), histaminérgicos de tipo 1, a2 e b-adrenérgicos, serotonérgicos diversos e mais raramente dopaminérgicos. Essas ações não se correlacionam necessariamente com efeito antidepressivo, mas com efeitos colaterais. O bloqueio do receptor 5-HT1 contribuiria para o efeito terapêutico ANTIEPILÉPTICOS OPIÓIDES Opioides são fármacos analgésicos potentes e de boa eficácia no tratamento prolongado de pacientes com dor oncológica, mista ou neuropática, sendo superiores a antidepressivos tricíclicos e a AINES. O uso de opioides, independentemente da potência, por tempo prolongado não é recomendado para pacientes com dor nociceptiva (osteoartrose, artrite reumatoide e lombalgia entre outros), 6 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina pois, além dos efeitos adversos limitantes, tais como retenção urinária, constipação e sonolência, não existem evidências convincentes de seus benefícios nessa população. Nas dores nociceptivas, o uso de opioides deve ser reservado apenas para os casos de agudização, por curto período, e que sejam refratários aos demais medicamentos previstos nos Degraus do Tratamento da Dor da OMS (2011). Porém, o uso crônico de opioide em pacientes com osteoartrose e dor no joelho não é recomendado, conforme recente meta-análise abordando a questão. De todos os opioides disponíveis, a melhor evidência de eficácia na dor é a da morfina, tanto nas dores oncológicas quanto nas neuropáticas. Opióides fracos: codeína, tramadol. O grupo do tramadol apresentou maior incidência de efeitos adversos em comparação com os demais opioides (vômitos, tontura, perda de apetite e fraqueza). Com o objetivo de avaliar a eficácia de paracetamol versus paracetamol mais codeína, foi efetuada uma meta- análise com 24 ensaios clínicos, englobando vários tipos de dores nociceptivas. De forma esperada, a combinação de paracetamol mais codeína apresentou maior eficácia, apesar de maior taxa de efeitos adversos em comparação com o grupo do paracetamol isolado Opióides fortes: morfina, oxicodona, metadona, fentanila, hidromorfona. A morfina é um opioide de eficácia reconhecida no tratamento das dores oncológicas, neuropáticas e nociceptivas agudas ou crônicas agudizadas. A segurança e a experiência do uso de morfina ao longo de décadas fazem com que esse fármaco seja o mais representativo da classe dos opioides. Apesar de eficaz na dor neuropática, a oxicodona não foi comparada com opioides tradicionais, sabidamente eficazes como tratamento adjuvante desse tipo de dor. Na dor oncológica, por sua vez, a oxicodona não apresenta vantagens em termos de eficácia e segurança quando comparada com morfina oral, segundo recente meta-análise. Comparando-se a metadona com a morfina verificou-se superioridade da morfina em termos de segurança. Apesar dos estudos serem controversos, a metadona possui amplo uso, dados de segurança comprovados na prática clínica e pode ser considerada uma alternativa em casos de não resposta à morfina. Vários estudos compararam a eficácia analgésica da fentanila (oral e transdérmica) versus morfina oral em diversas condições clínicas. Nenhum deles, entretanto, evidenciou superioridade da fentanila sobre morfina em termos de eficácia. Portanto, seu uso, tanto na forma oral quanto na transdérmica, não está preconizado neste Protocolo. TRATAMENTO PARA HERNIA DE DISCO A finalidade do tratamento da hérnia de disco é o alívio da dor, a recuperação neurológica e o aumento da capacidade funcional. A primeira escolha para os quadros sintomáticos de hérnia discal são as opções não cirúrgicas, tendo em vista a história natural geralmente benigna desta patologia, já que em 60-90% dos casos ocorre a resolução espontânea dos sintomas nas primeiras 6-12 semanas. O tratamento conservador se dá em etapas, iniciando-se com medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINE’s). Os relaxantes musculares podem ser úteis no manejo dos espasmos e da dor. Um curso limitado de corticosteroides por via oral também produz alívio dos sintomas. Os opioides são utilizados com maior parcimônia e por tempo reduzido, devido ao alto índice de efeitos adversos com seu uso. A fisioterapia pode ser tentada nos pacientes que consigam realizar exercícios físicos. Programa de exercício físico associado ao tratamento clínico resulta em melhora da dor ciática aguda e da incapacidade funcional. O bloqueio da raiz afetada com injeções de anestésico local e corticosteroide é uma alternativa eficaz no alívio da dor. Tratamento Cirúrgico O objetivo principal do tratamento cirúrgico da hérnia de disco é o alívio rápido dos sintomas resultantes da inflamação ou da compressão das raízes nervosas afetadas, a partir da remoção de parte ou da totalidade do disco herniado. São indicações absolutas do tratamento cirúrgico: síndrome da cauda equina ou paresia importante. Como indicações relativas temos: ciatalgia não responsiva ao tratamento conservador por pelo menos seis semanas, déficit motor superior a grau 3, ou dor radicular associada à estenose óssea foraminal. Várias técnicas estão disponíveis para o tratamento da hérnia de disco lombar: discectomia aberta tradicional, microdiscectomia, técnicas minimamente invasivas. Atualmente, a microdiscectomia é o procedimento de escolha para a correção da hérnia de disco lombar devido tanto aos seus resultados favoráveis em curto prazo - tempo de cirurgia, sangramento, alívio da dor, complicações pós-operatórias -, quanto no longo prazo. O benefício do procedimento cirúrgico no tratamento da radiculopatia cervical em decorrência da hérnia de disco não está claramente estabelecido. A cirurgia é indicada somente para os pacientes que preencham todos os critérios a seguir: sinais e sintomas de radiculopatia cervical; evidência de compressão de raiz nervosa cervical em exame de imagem que explique os sinais e sintomas clínicos; persistência da dor radicular apesar de tratamento conservador por 6-12 semanas, ou déficit motor progressivo com prejuízo funcional 7 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina OBJETIVO 06: Conhecer os mecanismsos de ação dos corticóides e seus efeitos adversos MECANISMO DE AÇÃO Por serem lipofílicos os GC cruzam rapidamente a membrana celular e entram no citoplasma, onde se ligam ao receptor específico e, desta forma, atingem o núcleo celular, interagindo com o DNA e regulando a ativação e supressão de diferentes genes de alguns mediadores da inflamação como as citocinas, de enzimas indutíveis durante o processo inflamatório como a COX-2 e de moléculas de adesão (que recrutam células inflamatórias como neutrófilos, eosinófilos e linfócitos T da circulação, para os locais da inflamação). Acredita-se que estes sejam os principais mecanismos responsáveis pela potente ação antiinflamatória destas medicações, o que as coloca como a primeira opção no tratamento da maioria das doenças do colágeno. Quanto à duração de ação, são classificados como de curta, média ou longa ação, de acordo com o tempo de supressão do ACTH após uma única dose equivalente a 50 mg de prednisona. A potência relativados GC vai depender da sua afinidade pelo receptor plasmático. Entretanto, a medida dessa potência se baseia não apenas na potência biológica intrínsica mas, também, na duração da ação. a) Ação curta: cortisona, hidrocortisona (suprimem o ACTH por 8 a 12 horas). b) Ação média: prednisona, prednisolona, metilprednisolona e triancinolona (suprimem o ACTH por 12 a 36 horas). c) Ação longa: dexametasona e betametasona (suprimem ACTH por 36 a 72 horas). Todos os GC atualmente utilizados são obtidos por síntese ou por oxidação microbiológica de esteróides de origem natural. Quanto aos efeitos sobre a função imunológica e processos inflamatórios, observa-se que os GC: Interferem na circulação das células imunes, produzindo uma redução drástica no número de linfócitos periféricos, especialmente das células T; produzem também granulocitose, mas inibem o acúmulo de neutrófilos no local da inflamação. Promovem apoptose das células linfóides (morte celular programada). Inibem a síntese linfocitária de uma variedade de citocinas. Modulam direta e indiretamente a função das células B. Inibem a resposta proliferativa dos monócitos ao fator de estimulação de colônias e sua diferenciação em macrófagos e também inibem suas funções fagocítica e citotóxica. Inibem o movimento de células e fluidos a partir do compartimento intravascular, impedindo a resposta inflamatória local. Inibem a ação da histamina, a síntese de prostaglandinas e a ação dos ativadores do plasminogênio. Além disso os GC promovem um catabolismo. Eles bloqueiam a entrada de glicose para os tecidos, aumentam a quebra protéica e induzem uma menor síntese protéica na musculatura, na pele, no osso, no tecido conjuntivo, na gordura e nos tecidos linfóides. EFEITOS COLATERAIS Durante o tratamento a longo prazo com os GC devemos ficar atentos para as possíveis perdas de massa óssea, as quais poderão predispor estes pacientes a fraturas freqüentes. São importantes a monitorização anual da densidade mineral óssea bem como a administração de cálcio e vitamina D concomitantes. O crescimento longitudinal destas crianças também poderá ser bastante comprometido e devemos, na medida do possível, utilizar todos os recursos para minimizá-lo, como: dose única matinal; menor tempo de tratamento; associação de outras medicações ou mesmo da pulsoterapia com metilprednisolona para o controle da doença, no sentido de podermos reduzir ou retirar o GC oral, especialmente durante a puberdade. A menor ingesta de sódio e uma dieta adequada poderão ser úteis no controle da pressão arterial, das estrias cutâneas e da hipercolesterolemia. Avaliação oftalmológica pelo risco de catarata subcapsular ou glaucoma e da glicemia deverá ser lembrada. É importante que no início do tratamento de crianças com doença reumática haja um esclarecimento para a família e para o próprio paciente, muitas vezes adolescente, sobre a possibilidade de efeitos colaterais indesejáveis, como evitá- 8 Aluna: Mariana Makalu S. de Oliveira UNIT - Medicina los ou reduzi-los, ressaltando seus benefícios e a necessidade do mesmo, pois em muitos casos a sobrevida e a qualidade de vida dependerão dele. Para finalizar, gostaríamos de lembrar que os GC só deverão ser indicados para os pacientes com diagnóstico definido. Nos casos duvidosos seu uso não deve ser preconizado para não se mascarar doenças graves, dificultando seu diagnóstico e terapêutica precoces, como nos casos de leucoses e infecções, colocando em risco a vida do paciente.
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