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Psicologia Fenomenológica (7º Semestre Psicologia 2020) Conteúdo Online UNIP

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Prévia do material em texto

Psicologia Fenomenológica 
 
Apresentação da Disciplina (Módulo 0)
 
Organização do material:
 
Nesta disciplina, você entrará em contato a Psic
ologia Fenomenológica, com ênfase nas possibil
idades abertas pelo pensamento desenvolvido p
elo filósofo Martin Heidegger (1989 –
 1976) para a Psicologia. Apoiado na Fenomenol
ogia de Edmund Husserl (1959 –
 1938), ele questionou a ontologia metafísica e a 
tentativa de determinação substancial do ser da 
existência humana. Destacaremos sua compree
nsão da existência humana, denominada Dasein
 (ser-aí).
 
Através dessa quebra do paradigma metafísico, 
Heidegger abre caminho para novas perspectiva
s de compreensão dos fenômenos humanos. Bu
scaremos compreender o projeto da Fenomenol
ogia de Husserl, ‘aplicado’ por Heidegger na inv
estigação da existência humana. Em seguida, es
tudaremos as implicações da compreensão da e
xistência humana como Dasein para a Psicologi
a. Com isso, entraremos em contato com a com
preensão dos fenômenos psicológicos a partir d
o enfoque da fenomenologia-
existencial, na direção de compreender o lugar e
 as possibilidades de intervenção do psicólogo n
essa abordagem.
 
A descrição da existência realizada por Heidegg
er torna-
se fundamento da psicopatologia e da psicotera
pia chamada Daseinsanalyse, primeiramente por
 Ludwig Binswanger (1881 –
 1966), depois por Medard Boss (1903 – 1990). 
 
Será nosso objetivo nesta disciplina conhecer e 
compreender os pressupostos epistemológicos 
e ontológicos do pensamento fenomenológico-
existencial para promover a identificação deste 
método e da concepção de homem que lhe é pe
rtinente com o lugar e a função do psicólogo no 
trato com o fenômeno psicológico e na promoçã
o de saúde.
 
Este material poderá ser utilizado como orientaç
ão para seu estudo e como complemento das at
ividades realizadas nas aulas presenciais.
 
O programa da disciplina está distribuído em 8 
módulos, que devem ser estudados ao longo do
 semestre letivo. Os módulos 1 a 4 serão objeto 
de avaliação na NP1 e os 5 a 8 serão avaliados 
na NP2. 
 
 
Módulo 1: Introdução à Fenomenologia de Edmu
nd Husserl
Apresentação dos dados biográficos de Edmund
 Husserl
Introdução ao método fenomenológico e à cons
ciência intencional
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e
 a Fenomenologia”. A existência para além do su
jeito, pg. 25-34.
 
 
Módulo 2: Introdução à Fenomenologia Existenci
al de Martin Heidegger e à Analítica Existencial
O projeto fenomenológico de Heidegger
A constituição ontológica da existência (Dasein)
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P.
 (2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, 
cap.I.B., pg.34-56
 
 
Módulo 3: A condição humana descrita pela fen
omenologia existencial
Temporalidade do Dasein.
Angústia e finitude do Dasein
Bibliografia obrigatória: SAPIENZA, B. (2015) En
contro com a Daseinsanalyse, pg. 48-95.
 
 
Módulo 4: Fenomenologia Existencial da História
 Pessoal
A concepção de história pessoal (historiobiografi
a) de Dulce Critelli
Historiobiografia e Sentido da Vida na fenomenol
ogia existencial
Bibliografia básica: CRITELLI, D. (2012) História 
Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia.
 
 
Módulo 5: A Daseinsanalyse de Ludwig Binswan
ger
Apresentação dos dados biográficos de L. Bins
wanger 
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Binswa
nger
Bibliografia básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P.
 (2015) “A obra fundadora de Ludwig Binswange
r (1881-1966)”, cap. II.A, pg.64-101
 
 
Módulo 6: A Daseinsanalyse de Medard Boss
Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida p
or Medard Boss
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
Bibliografia Básica: EVANGELISTA, P. (2011) A D
aseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELIST
A, P. (org.) Psicologia fenomenológico-
existencial, pp. 139-158.
 
 
Módulo 7: Compreensão e Ação clínica 
Concepção de Psicoterapia daseinsanalítica
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-
existencial
Bibliografia básica: JARDIM, L.E. Ação e Compr
eensão na clínica fenomenológico-
existencial. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia
 fenomenológico-existencial, pp. 45 – 76.
Bibliografia complementar: POMPÉIA, J. & SAPI
ENZA, B. “A terapia e a era da técnica”. In: POM
PÉIA, J. & SAPIENZA, B. Os dos nascimentos d
o homem, pg. 123-140.
 
 
Módulo 8: Processos psicoterapêuticos daseins
analítico
Compreensão dos fenômenos clínicos atuais
Psicoterapia infantil fenomenológica existencial
Bibliografia básica: FEIJOÓ, A. (2011) A clínica p
sicológica na tonalidade do temor, cap. 3.3.2, pg
. 155-195.
Bibliografia complementar: FEIJOÓ, A. (2011) A 
clínica psicológica com crianças, cap.
3.1,4 p. 108-133.
 
 
Em cada um dos módulos, haverá uma breve ap
resentação do assunto, indicação de material pa
ra leitura, atividades de estudo e exercícios de v
erificação da aprendizagem. Lembre-
se que a mera realização dos exercícios não per
mitirá a aprendizagem dos temas. É imprescindí
vel que você realize todas as atividades descrita
s em cada módulo.
 
O presente conteúdo, por se tratar da apresenta
ção do curso, não inclui exercícios. 
 
 
Bibliografia
 
A Bibliografia apresentada a seguir relaciona as 
obras consideradas importantes para o estudo d
os temas. Em cada módulo, serão indicados os t
rechos específicos que devem ser lidos.
 
BÁSICA
 
DASTUR, F. & CABESTAN, P. Daseinsanalyse: Fe
nomenologia e Psicanálise. 1ª ed. Rio de Janeiro
: Via Verita, 2015.
 
EVANGELISTA, P. (org) Psicologia fenomenológic
o-existencial –
 Possibilidades da atitude clínica fenomenológic
a. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Via Verita, 2015.
 
FEIJOÓ, A. M. L. C. A existência para além do s
ujeito: A crise da subjetividade moderna e suas r
epercussões para a possibilidade de uma clínica
 psicológica com fundamentos fenomenológico-
existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011.
 
COMPLEMENTAR
 
CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida 
– Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
 
POMPÉIA, J. A. & SAPIENZA, B. T. Na Presença 
do Sentido: Uma aproximação fenomenológica a
 questões existenciais básicas. 2ª ed. São Paulo:
 EDUC, 2013.
 
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Os dois nasci
mentos do homem: Escritos sobre terapia e edu
cação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Verit
a, 2011.
 
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança: Das
einsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007.
 
SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse
: A obra Ser e tempo, de Heidegger, com funda
mento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Es
cuta, 2015.
 
 
 
Além destas referências, é desejável que você re
corra a outras fontes, caso queira se aprofundar 
em algum tópico específico do programa. É imp
ortante que, em sua pesquisa, você recorra a fo
ntes confiáveis. Indicamos a seguir alguns ender
eços eletrônicos cuja consulta é recomendada:
 
 
 
PEPSIC –
 PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA 
- http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
 
PERIÓDICOS CAPES -
 www.periodicos.capes.gov.br
 
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE – BVS –
 http://www.bvs-psi.org.br
 
BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇ
ÕES (USP) - http://www.teses.usp.br/
 
SITE DO CENTRO DE FORMAÇÃO E COORDEN
AÇÃO DE GRUPOS EM PSICOLOGIA – http://
www.fenoegrupos.com
 
SITE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DASEIN
SANALYSE – http://www.daseinsanalyse.org/
 
 
Se você necessitar de informações adicionais pa
ra ampliar seus conhecimentos, solicite-
as do professor, nas aulas presenciais. 
 
Módulo 1: Introdução à Fenomenologia de Edmun
d Husserl
Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husse
rl
  
Introdução ao método fenomenológico e à consciência
 intencional
  
 
  
 
  
Apresentação dos dados biográficos de Edmund H
usserl
  
 
  
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a 
Fenomenologia” A existência para além do sujeito. 
Rio de Janeiro: Via Verita, pg. 25-34.  
             Edmund Husserl nasce em Prossnitz, na Morá
via; atual Prostejov, República Tcheca, em 8 de abril d
e 1859, filho de comerciantesjudeus. Em 1876, inicia 
seus estudos universitários em Leipzig. Concentra-
se na matemática, mas estuda também física, astrono
mia, filosofia e psicologia com W. Wundt. Em 1882, d
outora-
se na Universidade de Viena com a tese O Cálculo das
 Variações. Em 1887, pouco antes de casar-
se, defende a tese de habilitação Sobre o Conceito de 
Número: análise psicológica, na cidade de Halle. 
Essa trajetória culmina na Psicologia. Nessa época, a 
Psicologia era o estudo das faculdades mentais do ho
mem. Até bem pouco tempo, era disciplina especulati
va, filosófica. Quando Wundt funda o laboratório de p
sicologia científica em 1879, começa sua trajetória de 
ciência aplicada. Husserl acompanhou de perto essa tr
ansformação.
            A filosofia do fim do século XIX dividia-
se entre duas vertentes: aqueles que defendiam uma ba
se objetiva para o conhecimento e aqueles que o funda
mentavam nas faculdades mentais.
            Os Naturalistas defendiam que a objetividade 
do conhecimento está na realidade objetiva, externa, “
fora” do sujeito. Conhecer a natureza significa saber 
mensurá-
la, a fim de revelar suas leis universais. Essas leis univ
ersais, as verdades universais, só são acessíveis atravé
s de hipóteses. Para isso, esse modelo de conheciment
o dispõe da metodologia de observação, mensuração e
 classificação.
            Como toda a realidade é objetiva, física, també
m a consciência, da qual fala a Psicologia, deve ser fís
ica. Husserl, como grande pensador, leva ao limite as 
bases desse pensamento para expor sua contradição: s
e tudo pode ser reduzido à natureza física, também a c
oncepção de que tudo pode ser reduzido à natureza fís
ica é apenas mais um processo físico, incapaz de suste
ntar-se como verdade universal.
            Do outro lado, os Psicologistas defendiam a m
ente como fundamento último de todo conhecimento. 
Para eles, a objetividade é dada pelo sujeito “puro” ab
strato. As leis objetivas, o real, são convenções subjeti
vas explicáveis pelo psicólogo. Levando às últimas co
nsequências essa fundamentação, também a Psicologi
a mina o conhecimento objetivo e científico-
natural, pois, para ela, tudo é processo psicológico. As
 ciências, como a matemática, tornam-se relativas.
            O pensamento de Husserl recebe impulso dess
a “crise” insuperável, na tentativa de encontrar soluçã
o. Para fundamentar o conhecimento verdadeiro –
 tarefa da filosofia –
 Husserl não poderá se apoiar nem no Naturalismo, ne
m no Psicologismo. A Fenomenologia surge como crít
ica à pretensão de cientificidade plena das ciências, ao
 recurso à dedução e à inferência como método de con
hecimento (modelo hipotético) e à determinação psico
física atribuída ao seu sujeito do conhecimento. (Feijo
ó, 2011)
 Atividades recomendadas
  
1. Leia atentamente o texto indicado como bibliografia
 básica.
  
2. Faça uma pesquisa bibliográfica sobre a vida e a ob
ra de Edmund Husserl.
  
3. Acompanhe o exercício abaixo:
  
  
  
Husserl (1859 –
 1938) foi o iniciador da fenomenologia. Sua formaçã
o acadêmica iniciou-
se na matemática, passou pela psicologia filosófica e 
desembocou na filosofia. A fenomenologia é filosofia. 
Sobre a fenomenologia elaborada por Husserl, está c
orreto afirmar:
  
 I –
 Busca um fundamento seguro para as ciências human
as, as ciências naturais e a filosofia.
    
 II –
 Tem como lema o retorno “às coisas mesmas”, que si
gnifica um retorno à pesquisa empírica e à experiment
ação.
  
 III –
 A palavra “fenomenologia” é composta por “fenôme
no”, que significa “aquilo que aparece”, e “logos”, q
ue significa “sentido imanente”.
  
 IV –
 Foi formulada desde 1900 como um modelo de atendi
mento psicoterápico, que visa a compreensão do outro
.
  
 V –
 Concebe o mundo como existindo em si mesmo e con
cebe um método (“método fenomenológico”) para co
nhecer a realidade que se esconde por trás das aparê
ncias.
  
Estão corretas apenas as afirmações:
    
 
  
A) I, II, III, IV e V.
  
B) I, II, IV e V.
  
C) I e III.
  
D) II, IV.
  
E) I e III.
  
 
Se você leu atentamente os textos e compreendeu o im
pulso husserliano à Fenomenologia, foi capaz de ident
ificar a alternativa E como correta. A afirmação II indi
ca como “retorno às coisas mesmas” o retorno à empir
ia, por isso está incorreta. A proposta da fenomenologi
a é retornar aos fenômenos no seu aparecer na correla
ção intencional, isto é, na relação consciência-
objeto. A afirmação IV apresenta a fenomenologia co
mo um método psicoterápico, o que está errado, pois s
urgiu como filosofia primeira, no esforço de fundamen
tação de todas as ciências. A afirmação V fala de uma 
“realidade por trás da aparência”. Para a fenomenologi
a, o que aparece é o que é tal como é.
 
Introdução ao método fenomenológico e à consciên
cia intencional
  
Bibliografia Básica: FEIJOÓ, A. (2011) “Husserl e a 
Fenomenologia” A existência para além do sujeito. 
Rio de Janeiro: Via Verita, pg. 25-34.
    
 
  
            A ascensão das Ciências Humanas amplia a cri
se das ciências. Qual seria a validade (verdade univers
al) das descobertas da antropologia, da sociologia ou 
mesmo da psicologia? A psicologia, num esforço para
 assegurar a verdade de suas afirmações, recorre ao mé
todo científico-
natural de investigação. O teste de medição de inteligê
ncia desenvolvido por Alfred Binet (1857 -1911) é um
 exemplo disso; determina-
se a inteligência como mensurável e cria-
se um instrumento para a medir.
            Husserl, por outro lado, identifica a carência d
e fundamentos das ciências-
naturais. É o Naturalismo, descrito anteriormente. Seu
 objetivo é, então, inaugurar um novo fundamento par
a a lógica, para a teoria do conhecimento e para a psic
ologia: uma ciência originária, primeira.
             A chave para a fenomenologia vem dos estud
os com Franz Brentano (1838 – 1917). Opondo-
se a Wundt, Brentano propõe que os atos mentais são 
experienciáveis, de modo que a psicologia, através da 
intuição (observação), é ciência empírica.
            Brentano apresenta os atos psíquicos como int
encionais. Resgata esse conceito da filosofia de Aristót
eles. Na tradução latina da filosofia aristotélica, intenti
o significa dirigir-
se a... (Devemos tomar muito cuidado para não confu
ndir este conceito com a ideia comum de “intenção”, q
ue significa desejo, motivação, etc.) Desta ideia, Huss
erl desenvolve o a priori da correlação: consciência é 
consciência de... e todo objeto só é enquanto visado p
or uma consciência. Intencionalidade significa que tod
a consciência é de algo e todo algo só é enquanto refer
ido à consciência que se tem dele.
            Nessa formulação, Husserl lança mão de um as
pecto da Psicologia de Brentano que será característic
o da fenomenologia e de toda psicologia fenomenológ
ica que nela se inspira: consciência é ato, não é um rec
eptáculo.  
            Com o conceito de intencionalidade, Husserl s
upera o Psicologismo, que prioriza o Sujeito na relaçã
o Sujeito-
Objeto, e o Logicismo e Naturalismo, que priorizam o
 mundo objetivo e natural, o Objeto na relação Sujeito
-
Objeto. Para a fenomenologia, Sujeito e Objeto são int
imamente relacionados, indissolúveis. Por isso, Feijoó
 (2011) afirma que
 
Com a noção de intencionalidade, portanto, escapa-
se das articulações metafísicas a partir da fenomenol
ogia e encontram-
se possibilidades outras de se tratar o fenômeno psíqu
ico, sem perder a possibilidade de se falar em sentido
s e significados psíquicos de maneira rigorosa. (p.33)
            A Fenomenologia surge como tentativa de elab
oração de uma ciência rigorosa, capaz de fundamentar
 as várias ciências. Por isso, Husserl a chama de Ciênc
ia Primeira. O princípio de intencionalidade da consci
ência rege que toda consciência é consciência de algo 
e que todo algo só é tal como aparece na consciência. 
“Consciência”, entretanto, não é um recipiente vazio q
ue se preenche; é um ato. O objeto ao qual se dirige e 
que surge na relação intencional é sempre significativo.
            Entretanto, nós não experienciamos essa relaçã
o íntima entre o nosso ver e a coisa vista, entre nosso s
entir e a coisa sentida, entre nosso perceber e a coisa p
ercebida. Husserl chama de atitude natural a nossa pos
tura cotidiana de encontrar objetos “fora”, no mundo, 
como se existissem em si mesmos. A atitude natural p
ode ser descrita como aquela que consiste em pensar q
ue o sujeito está no mundo como algo que o contém o
u como uma coisa entre as demais. As ciências naturai
s operam sobre essa crença de que existem objetos em
 si no exterior, que podem ser observados, investigado
s e descritos a partir de suas propriedades imanentes. 
A atitude natural é a atitude ingênua.
            A fenomenologia busca superar a atitude ingên
ua suspendendo a crença na realidade da existência e
m si do mundo exterior, resgatando a consciência com
o condição de aparição do mundo. Essa etapa do méto
do fenomenológico chama-
se epoché e pode ser caracterizada como a colocação e
ntre parênteses da realidade independente da consciên
cia, para que a investigação fenomenológica se volte p
ara a fenomenalização dos fenômenos, isto é, seu apar
ecer na correlação intencional. Pela redução fenomeno
lógica, a consciência se mostra consciência constituint
e de mundo.
Atividades recomendadas
  
  
  
1. Leia atentamente o texto indicado.
  
2. Procure artigos de Psicologia Fenomenológica em r
evistas científicas que apresentem as bases filosóficas 
fenomenológicas. Preste atenção a como as ideias filos
óficas são “aplicadas” na pesquisa e
3. Acompanhe o exercício abaixo:
Leia atentamente a seguinte afirmação de Husserl:
  
 
Mostra-
se, pois, por toda a parte, esta admirável correlação e
ntre o fenômeno do conhecimento e o objeto de conhe
cimento. Advertimos agora que a tarefa da fenomenol
ogia, ou antes, o campo das suas tarefas e investigaçõ
es, não é uma coisa tão trivial como se apenas houves
se que olhar, simplesmente abrir os olhos. (Husserl, 1
907/1990, p.33)
    
[Referência bibliográfica: Husserl, E. A Ideia da Fen
omenologia. Trad.: Artur Morão. 1a ed. 1907. Lisboa:
 Edições 70, 1990.]
    
 
  
Sobre esta citação está correto afirmar:
  
 
  
I –
 A passagem se refere à intencionalidade da consciênc
ia, que pode ser descrita como a propriedade de toda 
consciência ser referida a um objeto e todo objeto só s
er enquanto referido a uma consciência.
  
II –
 Através desta concepção, sujeito cognoscente e objet
o conhecido deixam de ser entidades separadas e se r
evelam co-originários.
  
III –
 A fenomenologia é uma tarefa pois exige que se saia 
da atitude natural em relação ao mundo para poder c
onhecer sua constituição.
  
 IV –
 O fenomenólogo precisa do método fenomenológico p
ara conhecer as intenções da consciência, isto é, o qu
e a motiva.
  
 
  
Estão corretas:
  
 
  
A) I, II e IV, apenas.
  
B) I e II, apenas.
  
C) II, III e IV, apenas.
  
D) I, II e III, apenas.
  
E) II e III, apenas.
  
 
Se você leu os textos indicados e compreendeu os con
ceitos apresentados, foi capaz de identificar que as afir
mações I, II e III apresentam corretamente a intencion
alidade da consciência, a correlação intencional (que s
upera a dualidade Sujeito-
Objeto) e a fenomenologia como tarefa, respectivame
nte. A afirmação IV está incorreta, pois define intencio
nalidade (intentio) como motivação, deturpando o sent
ido desse termo na fenomenologia, que é “dirigir-
se a...”.
 
  
Módulo 2: Introdução à Fenomenologia Existencial
 de Martin Heidegger e à Analítica Existencial
  
O projeto fenomenológico de Heidegger
A constituição ontológica da existência (Dasein)
  
 
  
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. 
(2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, cap.I.
B., pg.34-56
 
  
            O livro de Heidegger, Ser e Tempo, publicado 
em 1927, tem como tarefa a elaboração da fenomenol
ogia como filosofia. E filosofia é, para ele, perguntar p
elo SER, isto é, o que é a realidade?, quem somos nós
?, tal como feito por toda a história ocidental. O métod
o fenomenológico exige que se suspendam os pressup
ostos. Assim, Heidegger “coloca entre parênteses” as 
definições de SER legadas pela tradição filosófica. Pre
cisa perguntar ao SER mesmo o que é. Para isso, com
eça seu perguntar pelo “ente que compreende ser”, qu
e é o homem. Isto é, a existência é por ele assumida nã
o como animal racional, nem como psiquismo, mas co
mo abertura para coisas, si mesmo e outros serem. So
mente o homem pergunta o que é o mundo?, o que são
 as coisas?, o que sou eu? 
    
A tradição filosófica também deixou definições sobre 
o que é o homem. As várias abordagens psicológicas s
ão exemplos disso; todas elas definem o que é o huma
no. Mas a fenomenologia é obrigada a colocar todas e
ssas definições em suspensão. 
  
Com isso, Heidegger pergunta ao homem pelo seu ser,
 que seria o primeiro passo na colocação da pergunta p
elo sentido de SER em geral. O livro Ser e Tempo torn
a -
se, assim, uma analítica existencial. Heidegger reserva
  a   este   o   termo  Dasein,   “ser-aí”,   para   diferenciá-
lo dos demais entes.
  
            Traduzindo ao pé da letra, Da significa aí. Sein
 significa Ser. Dasein é ser-aí.
  
            Mas, Heidegger visa descrever não os homens 
concretos, mas o ser dos homens. Daí a distinção da fe
nomenologia   existencial   entre   ôntico   –
 que é dos entes históricos, “concretos” (“existenciário
” )   –
 e ontológico, que se refere ao ser dos entes (“existenc
ial”). (DASTUR & CABESTAN, 2015, p.40). 
  
A analítica do Dasein (ou “analítica existencial”) é um
a descrição de aspectos essenciais da existência huma
na. Heidegger chama esses aspectos de “existenciais”,
 para diferenciar da palavra “categorias”, usada na filo
sofia para descrever as propriedades do ser de tudo o q
ue não é humano. 
  
            Ser e Tempo defende que o humano não é com
o as demais coisas do mundo, pois 1) seu ser está sem
pre em jogo (ou seja, é uma questão em aberto) e 2) D
asein compreende ser (ou seja, é abertura para ser de c
oisas, outros e si mesmo). 
  
            Medard Boss e Ludwig Binswanger, que desen
volvem a Daseinsanalyse, fundamentam os fenômenos
 encontrados na clínica nos “existenciais” descritos po
r Heidegger em Ser e Tempo.
  


 Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atenta
ndo para a apresentação da obra de Heidegger e sua i
mportância para a Psicologia.
  
2) A partir da leitura, considere as relações possíveis e
ntre a filosofia e a psicologia.
  
3) Diferencie a análise existenciária da análise existen
cial no contexto fenomenológico-existencial. 
  
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
  
 
  
Sobre o Dasein, Heidegger escreve que “é próprio des
te ente que seu ser se lhe abra e manifeste com e por 
meio do seu próprio ser, isto é, sendo. A compreensão 
do ser é em si mesma uma determinação do ser do Da
sein. O privilégio ôntico que distingue o Dasein está e
m ser ele ontológico.” (1927, p.38) 
  
Nessa afirmação estão presentes dois conceitos essenc
iais   para   a   compreensão   da   fenomenologia-
existencial e para a implicação das descrições de Hei
degger para as ciências do homem. A saber, tratam-
se dos conceitos de “ontológico” e “ôntico”, que sign
ificam, respectivamente: 
  
a) “ontológico” é a constituição do aparelho psíquico
  d o   s e r -
aí, enquanto “ôntico” se refere às representações que 
o preenchem.  

 b)  “ontológico”  é  a  constituição  essencial  do  ser-
a í ,   e n q u a n t o   ô n t i c o   r e f e r e -
se aos modos concretos possíveis em que essa constitu
ição se manifesta cotidianamente. 

 c) “ontológico” significa que se refere ao ser do ser-
aí, enquanto “ôntico” ao ser dos objetos. 

 d) “ontológico” significa a possibilidade de conscien
t i z a ç ã o   d o   s e r -
aí sobre si mesmo, enquanto “ôntico”, ao modo irrefle
tido em que as pessoas vivem. 

 e) “ontológico” é sinônimo de “fenomenológico”, en
quanto   “ôntico”se   refere   às   abordagens   não-
fenomenológicas.
  
 Se você leu os textos e compreendeu a diferença entre
 ôntico e ontológico, assinalou a resposta B como a co
rreta, pois nela está expresso que “ontológico” se refer
e à constituição essencial do Dasein, enquanto “ôntico
” se refere aos modos concretos de ser. Assim, dizemo
s   que   o   ser-no-mundo   é   ontológico   –
  c o n s t i t u t i v o   d e   t o d o   s e r - n o -
mundo –, enquanto ser um existente neste contexto his
tórico-social, nesta família, etc., é ôntico.
  
 
  
A constituição ontológica da existência (Dasein)
  
 
Bibliografia Básica: DASTUR, F. & CABESTAN, P. 
(2015) “Analítica existencial e Daseinsanalyse”, cap.I.
B., pg.34-56
  
             O conceito de Dasein se refere à constituição 
ontológica do ser que nós somos, costumeiramente ch
amados de “humanos”. Porém, Heidegger não utiliza 
o termo “ser humano” ou “homem” pois são termos q
ue carregam significados não fenomenológicos acumu
lados ao longo da história do Ocidente. “Humano”, po
r exemplo, deriva de “húmus”, terra fértil, articulando-
s e   c o m   a   t r a d i ç ã o   j u d a i c o -
cristã de definição de homem. Por isso, Heidegger res
erva o termo Dasein para indicar o ser que somos. (Cf.
 DASTUR & CABESTAN, 2015, p.34)
             No §9 de Ser e Tempo Heidegger escreve: “O 
ente que temos a tarefa de analisar somos nós mesmos
. O ser deste ente é sempre cada vez meu. Em seu ser, 
isto é, sendo, este ente se comporta com o seu ser.” (1
9 2 7 ,   p .
77) Isso significa que não há uma “essência” ou “natur
eza” para além dos modos concretos de existência. O l
ivro Ser e Tempo é uma descrição fenomenológica –
  l i v r e   d e   p r e s s u p o s t o s   –
 da constituição ontológica do Dasein. Essa constituiç
ão é formada pelos “existenciais”, que são os caracter
es ontológicos do Dasein.
           Resumindo a concepção de Dasein de Ser e Te
mpo, podemos afirmar que o homem é um ser que é aí
,   n o   m u n d o   ( s e r - n o -
mundo). E ser no mundo significa ser sempre uma rela
ção significativa consigo mesmo, com os outros e com
 coisas (mesmo que essas relações estejam implícitas).
 A analítica do Dasein revela que o homem é ontologi
c a m e n t e   n o - m u n d o   e   c o m - o s -
outros. Ser e Tempo não se detém nas descrições dos d
iversos modos concretos em que nos relacionamos co
m os outros, pois não é essa a tarefa de Heidegger. 
             Sendo inacabado, o Dasein é ontologicamente
 possibilidade, ele se realiza em possibilidades. Isso si
gnifica que ninguém nasce pronto, mas precisa se reali
zar. Heidegger chama esse existencial de cura ou cuid
ado   (Sorge,   em   alemão).   O   “realizar-
se” é sempre situado em relação aos demais e à signifi
catividade compartilhada. Não sendo pronto e acabad
o,   o   Dasein   precisa   sempre   realizar-
se como uma possibilidade; ao Dasein sempre está falt
ando algo. Heidegger diz que ele é sempre culpado. 
             A palavra culpa, em alemão, é Schuld, que sig
nifica também débito. Sendo inacabado, a existência e
stá   sempre   em   dívida   consigo  mesma   de   realizar-
se. A única possibilidade que encerra a culpa e que só 
pode ser vivida por cada qual singularmente é sua pró
pria morte. O Dasein se relaciona constantemente com
 essa sua própria possibilidade. Entretanto, essa possib
ilidade nunca é vivenciada por cada um, pois, quando 
acontece, não estamos mais aí para vivenciá-la.
      
 
  
Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, ate
ntando para a concepção de Dasein neles presente.
  
2) Responda: Essa concepção de existência (Dasein) p
ode fundamentar uma compreensão de fenômenos des
cobertos no trabalho do psicólogo? Justifique sua resp
osta.
  
3) Acompanhe o exercício a seguir:
  
 
  
Escreve o daseinsanalista Pompeia (2004):
  
 
  
Poder existir é uma oportunidade que se renova a cad
a instante. Pode ser que vivamos só este momento ou 
por mais alguns dias, anos, até mais de cem anos. Po
de, não tem de ser assim, apenas pode. A vida não é u
m direito nosso, pois pode ser arrebatada a qualquer 
momento; não é um dever nosso, pois não nos é dada 
como condição de necessidade, mas é uma contingênc
ia. 
  
Assim, existir emerge como projeto. A partir desse con
texto, a afirmação correta abaixo é:
    
A) O determinismo encontra-se aí na condição de ser-
para-a-morte.
 B) A experiência humana da vida é, originariamente, 
fixada num dado tempo e num dado espaço.
 C) A relação entre o homem e sua existência depende
 do modo como ele enfrenta sua condição de mortal.
 D) A existência só pode ser compreendida a partir de
 uma análise cronológica dos eventos que permeiam a
 vida de cada homem.
 E) O horizonte existencial do homem é infinito e indet
erminado.
    
A   afirmação   A   apresenta   o   ser-para-a-
morte como uma condição determinística. Está incorre
ta, pois embora a morte seja uma possibilidade certa, e
la não impõe determinação alguma à existência. Como
 cada qual lida com a mortalidade (e não com a morte 
em si) é uma questão pessoal, social e cultural e possí
vel, indeterminada.
  
A afirmação B está incorreta, pois não é possível fixar 
um tempo ou espaço para a vida. Essas questões perm
anecem   em   aberto   –   possíveis   –
 enquanto a existência existir.
  
Na afirmação C lemos que a relação de cada um com s
ua existência depende de como enfrenta sua condição 
de mortal. Devemos lembrar que enfrentar a condição 
de mortal é sinônimo de enfrentar a própria existência.
 Assim, como cada qual lida com sua vida está, sim, re
lacionado com como cada qual lida com a possibilidad
e de sua impossibilidade. E isso a cada instante. É a al
ternativa correta. Vejamos por que as demais estão inc
orretas.
A afirmação D apresenta que devemos fazer uma análi
se cronológica dos eventos da vida para compreender 
a existência. Está errado, pois a cronologia é secundári
a para o Dasein. Os eventos passados adquirem sentid
o a partir do projeto em que o Dasein está lançado. Iss
o ficará mais claro quando estudarmos a temporalidad
e do Dasein.
A afirmação E apresenta que o horizonte existencial c
omo infinito. Está errada, pois o horizonte existencial 
de todos nós é a morte, que é um acontecimento certo 
com data incerta. Cada Dasein lida com a possibilidad
e   de   sua   impossibilidade   –   horizonte   finito   –
 à sua maneira.
      


 4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dú
vidas que surgirem durante a resolução. Busque respo
stas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou atravé
s de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas
  p e r s i s t a m ,   a p r e s e n t e -
as ao professor nas aulas presenciais.
 
Módulo 3: A condição humana descrita pela fenom
enologia existencial
Temporalidade do Dasein.
  
Angústia e finitude do Dasein
Temporalidade do Dasein.
Bibliografia básica: SAPIENZA, B.T. Encontro com
 a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger,
 como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Pa
ulo: Escuta, 2015, Pg. 48-95.
            O conceito de temporalidade é um conceito-
chave na fenomenologia existencial. Heidegger escolh
e-o para diferenciá-
lo do conceito de tempo, que na tradição filosófica e n
o nosso uso comum já ficou associado ao tempo crono
lógico, o tempo do relógio. O tempo cronológico é um
a sequência linear e infinita de “agoras”, que se inicia 
no passado e caminha em direção ao futuro. A modo d
e ser temporal do Dasein é outro.
  
            Heidegger se depara com essa questão quando 
se pergunta pela possibilidade de ser todo do Dasein. 
Ser todo significa: como o Dasein se completa? Dasei
n se completa quando realizou todas as suas possibilid
ades. Neste caso, o Dasein só seria todo quando deixa 
de ser. Porém, deixando de ser, não realiza essa possib
ilidade. O Dasein que somos pode, por outro lado, exp
erimentar-
se como ser finito. É o que Heidegger chama de “decis
ão antecipadora” da morte. Devemos tomar cuidado c
om estaideia, pois não significa que o Dasein imagina
 a sua morte, menos ainda que a procure. Significa que
 o Dasein se assume como um ser finito, isto é, que nã
o pode tudo e que "tem" um tempo limitado para ser. 
Ao fazer isso, abre-
se para sua facticidade, isto é, para o ente intramundan
o junto ao qual já se encontra. Numa interpretação mai
s livre, podemos dizer que o Dasein reconhece a singu
laridade e finitude da situação na qual se encontra.
  
            O Dasein existe, então, sendo em relação com 
o que ele ainda não é, mas pode ser. Um sapateiro, por
 exemplo, encontra seus instrumentos como instrumen
tos para o conserto do sapato, que ainda não está cons
ertado, mas “pode” estar. Do mesmo modo, o ser-no-
mundo se compreende a partir de possibilidades (futur
as) próprias. Antecipa-se a si mesmo. Ao antecipar-
se (futuro) presentifica seu mundo, no qual já estava. 
Um sapateiro, antecipando o consertar e antecipando-
se como sapateiro, encontra-
se com seu mundo naquela situação. Porvir (o termo q
ue Heidegger usa para se referir ao futuro, protegendo
-o das significações já cristalizadas), ser-
sido (o termo que Heidegger usa para se referir ao pas
sado, pelo mesmo motivo) e presentificação acontece
m juntos; não há separação entre passado, presente e f
uturo.
  
            Por isso, a analítica do Dasein distinguirá dois 
modos de temporalização do Dasein: o próprio e o im
próprio. Resumidamente, na temporalização imprópria
 o ser-no-mundo “vem a si”, compreende-
se, a partir do que lhe acontecerá. Dessa forma, esquiv
a-se do peso do ter-que-
ser, que a antecipação da morte desvela, esperando alg
o. Na temporalização própria, Dasein vem a si mesmo
 como ser finito, lançado e responsável por ser.   
  
 
  
Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, ate
ntando para a questão da temporalidade do Dasein.
  
2) Responda: a questão da temporalidade do Dasein é 
importante para a psicologia? Justifique sua resposta.
  
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
  
 
  
Leia atentamente o trecho extraído do livro DUBOIS, 
C. Heidegger: Introdução a uma Leitura. (Rio de Jane
iro: Jorge Zahar Ed, 2004) e o poema XIX de Mario Q
uintana, publicado no livro A Rua dos Cataventos (19
40), e considere as afirmações abaixo.
  
 
             
  
 
  
I   –
 Ambos os textos se referem à antecipação da morte. 
Heidegger   utiliza   o   conceito   ser-para-a-
morte,   enquanto   Quintana   refere-
se a ela como “a Prometida”.
  
II   –   Com   o   conceito   de   ser-para-a-
morte, Heidegger se refere à condição mortal do hom
em.
  
I I I   –
 A finitude do Dasein é o que desvela para si que é su
bstituível na sua existência.
  
I V   –
 No poema de Mario Quintana, a morte é apresentada
 como “a Prometida”, o que, do ponto de vista da fen
omenologia existencial, revela uma tendência suicida 
latente de seu Dasein.
  
 
  
Estão corretas:
  
a) I e II, apenas.
  
b) II e III, apenas.
  
c) III e IV, apenas.
  
d) I, II e IV, apenas.
  
e) I, II e III, apenas.
  
 
  
     Se você leu atentamente a bibliografia indicada, pô
de reconhecer que a afirmação I está correta, pois, de a
cordo com a citação de Dubois, a antecipação da mort
e revela o ser-para-a-
morte constitutivo da existência. No poema de Mario 
Quintana essa ideia é expressada, em linguagem poéti
ca, como a Prometida, uma possibilidade que o acomp
anha desde sua infância e que um dia acontecerá. Para
 Heidegger, desde que lançado na existência, o Dasein
 é ser-para-a-
morte. Assim, a afirmação II também está correta.
  
     Em Ser e Tempo, a possibilidade da morte aparece 
como a única na qual ninguém pode ser substituído po
r outrem. A antecipação da morte singulariza o Dasein
, portanto, revelando que sua existência está sob seu e
ncargo exclusivamente.  A afirmação III vai de encont
ro com essa ideia, pois sugere que o ser-para-a-
morte revela que cada um é substituível na sua existên
cia.
  
     Equivocada também está a afirmação IV. A fenome
nologia-
existencial trabalha com fenômenos, buscando encontr
ar neles seu sentido. A ideia de tendências latentes é u
ma hipótese teórica, que não condiz com o fenômeno. 
O fenomenólogo não tem base fenomenológica para ta
l inferência. Pelo contrário, pois no poema Mario Qui
ntana transmite um júbilo por reconhecer sua finitude, 
que torna os momentos de sua vida únicos e irrepetíve
is.
  
Angústia e finitude do Dasein
  
Bibliografia básica: SAPIENZA, B.T. Encontro com
 a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heidegger,
 como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Pa
ulo: Escuta, 2015, Pg. 48-95.
  
      
  
          As considerações de Heidegger acerca da tempo
ralidade se desdobram na finitude do Dasein. Como vi
mos, a finitude não coincide com a morte. “Antecipaç
ão da morte” não significa imaginar-
se morrendo. Até o contrário. Antecipação da morte si
gnifica assumir-
se como um ser único, insubstituível, destinado a ser. 
Existir é tarefa. Essa ideia de Heidegger se faz present
e no Existencialismo de Sartre através da ideia de que 
o homem é condenado a ser livre.
  
            O conceito de temporalidade, como já vimos, e
xpressa o modo mais originário da existência de lidar 
com tempo; mais precisamente, de lidar com o próprio
 tempo.  Embora Dasein lide cotidianamente com o te
mpo como uma sequência infinita de agoras (tempo cr
onológico), seu tempo mais original é aquele que reco
nhece sua finitude. Lançada na facticidade, a existênci
a é um intervalo entre dois nadas.
  
            O nada se manifesta na angústia. É a dissoluçã
o do mundo, que revela ao Dasein seu ser como cuida
do. Como cuidado, existir é tarefa que só se completa 
quando o Dasein realiza sua derradeira possibilidade. 
Heidegger lembra que a possibilidade da impossibilid
ade não pode ser confundida com a morte biológica. N
uma passagem de Ser e Tempo, comenta que a morte b
iológica pode interromper possibilidades, assim como 
tardar a chegar.
  
            A temporalidade do Dasein traz muitas implica
ções para a compreensão dos fenômenos que interessa
m ao psicólogo. A primeira e mais radical é de que a e
xistência humana não pode ser compreendida como u
m desenvolvimento linear do passado em direção ao f
uturo. Isto abre um forte debate com as psicologias ex
plicativas. O pensamento natural-
científico faz coincidir o sentido do fenômeno com su
a causação temporalmente anterior. Ao observar um fe
nômeno psicológico, não se interessa por o que ele rev
ela (seu sentido), mas imediatamente pergunta por que
 se dá dessa maneira, buscando sua resposta na sequen
cia temporal. 
  
Se for preciso indicar uma ênfase na temporalidade pa
ra a fenomenologia existencial, será o futuro, que Hei
degger chama de porvir exatamente para diferenciar d
as significações já cristalizadas de futuro.
  
            O porvir é uma possibilidade de ser si mesmo 
que o Dasein assume como sua. A partir dessa possibil
idade advém a si a sua história e os entes pertinentes. 
Em outras palavras, eu sou o que posso ser. É por isso 
que as psicologias humanistas, que se inspiram na fen
omenologia-
existencial (Não confundamos Psicologia Humanista c
om Daseinsanalyse!!!), enfatizam os projetos do ser h
umano, ao invés de buscar explicações em seu passad
o.
  
            O conceito de temporalidade traz grandes repe
rcussões na psicopatologia. Os primeiros psicopatolog
istas fenomenológicos (Jaspers, Minkowski) elaborara
m descrições das vivências psicopatológicas tendo em
 vista a temporalidade. Por exemplo, a depressão é um
 encurtamento no porvir, de modo que para o deprimid
o vem a ser apenas a perpetuação da dor e da tristeza.
  
            Talvez a mais importante implicação seja a no
va ênfase dada aos conceitos de angústia e morte na pr
ática clínica. A Daseinsanalyse coloca esses conceitos 
como centro de sua preocupação, reconhecendo nos fe
nômenos “psicológicos” modos de lidar com a própriafinitude, antecipada, e com a angústia, enquanto perd
a de mundo e de si mesmo.
  
 
  
Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atenta
ndo para a questão da finitude do Dasein.
  
2) A partir das leituras, como você articula finitude e s
ingularização?
  
3) A angústia é frequentemente entendida como um se
ntimento. Confronte a noção vulgar de angústia com a
 noção heideggeriana.
  
4) Responda: a questão da finitude do Dasein é import
ante para a psicologia? Por que?
  
5) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
  
 
  
Leia o trecho de Kierkegaard, que inspira a compreen
s ã o   f e n o m e n o l ó g i c o -
existencial sobre a angústia desenvolvida por Heidegg
er em Ser e Tempo, e responda.
 
A angústia é a possibilidade da liberdad
e, só esta angústia é, pela fé, absolutame
nte formadora, na medida em que conso
me todas as coisas finitas, descobre toda
s as ilusões. E nenhum Grange Inquisido
r dispõe de tão horripilantes tormentos c
omo a angústia, e nenhum espião sabe i
nvestir sobre o suspeito com tanta astúci
a, justo no momento em que está mais de
bilitado, ou sabe preparar armadilhas, e
m que este ficará preso, tão insidiosame
nte como a angústia, e nenhum juiz saga
z   consegue   examinar,   sim,   ‘ex-
animar’ [desalentar], o acusado como a
 angústia, que não o deixa escapar jama
is, nem nas diversões, nem no barulho, n
em no trabalho, nem de dia nem de noite
. (p.164)
  
 
  
[Referência bibliográfica: KIERKEGAA
RD, S. (1944/2011) O Conceito de Angú
stia. Petrópolis, RJ: Vozes.]
  
 
  
Sobre a angústia na Fenomenologia Existencial é corr
eto afirmar:
  
I   –
 Assim como na citação, Heidegger afirma que não há
 como escapar da angústia, nem mesmo “nas diversõe
s, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem d
e noite” pois a angústia é constitutiva do Dasein (ont
ológica).
  
I I   –
 A angústia rompe com a familiaridade do mundo, pro
duzindo  estranhamento.  A   fenomenologia  existencial 
busca reconduzir quem vivencia essa estranheza a alg
uma familiaridade.
  
I I I   –
 Para a fenomenologia existencial, a psicoterapia aux
ilia na profilaxia da angústia, evitando que ela irromp
a.
  
 
  
Estão corretas somente:
  
 
  
A) I, apenas.
  
B) II, apenas.
  
C) III, apenas.
  
D) I e II, apenas.
  
E) II e III, apenas.
  
     Se você leu atentamente os textos indicados na bibl
iografia, não deve ter tido dificuldades para compreen
der a citação de Kierkegaard. Ele escreve sobre o mes
mo fenômeno da angústia, descrito por Heidegger, por
ém, com outra linguagem. Tanto para Kierkegaard qua
nto   para   a   Heidegger,   a   angústia   –
 que é o rompimento com a familiaridade com o mund
o   –
 é uma possibilidade intrínseca à existência. Portanto, 
não há como escapar dela. Portanto, as afirmações I e 
II estão corretas. A afirmação III sugere que há um mo
do de fugir da angústia; no caso, a psicoterapia. Dado 
que é uma possibilidade intrínseca, não há como a evit
ar. Também não há porque a evitar, dado que a angústi
a revela a cada um que sua existência está sob sua res
ponsabilidade.
Módulo 4: Fenomenologia Existencial da História 
Pessoal
A concepção de história pessoal (historiobiografia) de 
Dulce Critelli
  
Historiobiografia e Sentido da Vida
A concepção de história pessoal (historiobiografia) 
de Dulce Critelli
Bibliografia básica: CRITELLI, D. História Pessoal 
e Sentido da Vida –
 Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
            A filósofa Dulce Critelli fundamenta suas refle
xões nas filosofias de Martin Heidegger e Hannah Are
ndt, que, por sua vez, fornecem importantes compreen
sões para psicologia fenomenológica existencial. Para 
a autora, ambos os pensadores são complementares, m
as há uma diferença notável entre eles no que tange ao
 sentido da filosofia. Enquanto para Heidegger a filoso
fia exige descomprometimento com a vida cotidiana, p
ara a ex-
aluna de Heidegger radicada nos EUA, a filosofia é a c
apacidade de avaliar a vida e de modificá-
la. Para Arendt, a filosofia mantém uma relação íntima
 com a ação. Segundo Critelli (2012), “Quando pensa
mos, transformamos nossas crenças e, consequenteme
nte, transformamos nosso jeito de viver.” (p.17)
  
            Por ação, Arendt se refere à condição humana. 
Existir é ser iniciador. Fiel ao princípio fenomenológic
o existencial de suspensão radical de quaisquer a prior
i que substancializam a existência, Arendt concebe o s
er-no-mundo-com-os-
outros como ação e palavras. A ação inicia algo novo 
mundo. Seu sentido vai se desvelando nas repercussõe
s, consequências e desdobramentos. Por isso, o sentid
o de todo gesto humano depende dos outros. Nas pala
vras de Critelli (2013),
  
Nossos atos e palavras não são autosignificant
es. Se eles ganham impulso nas nossas intenç
ões, raramente as realizam. De um lado, porq
ue à medida que se destinam aos outros (por c
ondição humana, iniciadores como nós), eles 
podem interferir neles e modificar seu sentido
. De outro lado, porque o sentido e o significa
do de nossos atos e palavras sé se completam 
pelos efeitos e consequências que provocam. 
(p.36)
            Assim, a existência, que é concomitantemente 
singular (eu sou) e plural (no mundo com os outros), p
ode perder a autoria de sua história. Como atora dos p
róprios gestos, seus significados podem ser transforma
dos pelos outros. A fala é a capacidade de explicitar o 
sentido intencionado, preservando a autoria da ação.
  
            Essas reflexões são muito importantes para a p
sicologia fenomenológica existencial, pois esta suspen
de as noções de psiquismo, sujeito e indivíduo, reconh
ecendo o outro como existência singular e plural, no 
mundo com os outros, constitutivamente estando em j
ogo a autoria de sua biografia.
  
 
  
 
  
 
  
Atividades Recomendadas
1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a h
istória da fenomenologia e da fenomenologia-
existencial nos contextos clínicos.
2. A Historiobiografia é uma “abordagem terapêutico-
pedagógica” (CRITELLI, 2012, p.
12) Por que? Responda recorrendo ao livro. Há relaçõ
es possíveis entre a prática psicológica e tal abordage
m? Se sim, quais? Indique-as.
3. Logo no começo do livro, Critelli (2012, p.
11) indica três questões fundamentais: “Quem sou eu?
”, “Qual é o sentido da vida?”, “Que sentido eu faço n
ela?” Reflita sobre como a Psicologia tem lidado com 
essas questões.
4. Acompanhe o exercício abaixo:
  
 
  
Leia as duas frases de Critelli e, considerando a relaç
ão entre elas, indique a alternativa correta:
  
“Os homens experimentam uma necessidade ontológi
ca de compartilhar seus conhecimentos, suas descobe
rtas, seus sentimentos e pensamentos"
POIS,
"para os homens, tudo o que chamamos de real é aber
to e sustentado pelo viver em conjunto.” (p.26)
  
Assinale a alternativa correta:
A) As duas asserções são verdadeiras e a segunda é u
ma justificativa correta da primeira.
  
B) As duas asserções são verdadeiras e a segunda não
 é uma justificativa correta da primeira.
  
C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira 
e a segunda, uma proposição falsa.
  
D) A primeira asserção é uma proposição falsa e a se
gunda, uma proposição verdadeira.
  
E) Tanto a primeira como a segunda são proposições f
alsas.
  
 
Se você acompanhou o texto acima e leu o texto indic
ado pôde compreender que a existência humana é coe
xistência, isto é, acontece com-os-outros-no-
mundo. Terá assinalado a alternativa A como correta. 
Para Arendt o existir é político. Sendo assim, ser-
aí e mundo são dois polos do mesmo fenômeno, que é 
o existir com outros. Portanto, ambas as afirmações es
tão corretas e a segunda é uma justificativa correta da 
primeira.  
Historiobiografia e Sentido da Vida
Bibliografia básica: CRITELLI, D. História Pessoal 
e Sentido da Vida –
 Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
  
 
  
            A filósofa Dulce Critelli nomeia Historiobiogr
afia a “abordagemterapêutico-
pedagógica que tem por intenção a redescoberta do se
ntido da vida através da compreensão da história pess
oal.” (p.
12) Esse termo é composto por história e biografia, ap
ontando para dois aspectos fundamentais do existir hu
mano.
  
            História significa tanto o “conjunto de conheci
mentos relativos ao passado da humanidade” (HOUAI
SS, 2013), quanto uma narrativa. Esses dois sentidos d
e articulam na existência humana. Somos seres históri
cos, isto é, lançados em contextos significativos histór
icos compartilhados já dados, e biográficos, isto é, que
 constituímos nossa história pessoal ao longo do existi
r. Por isso, quem é alguém só pode ser dito quando já f
oi; a todo momento nossas ações podem inaugurar no
vos sentidos, que reverberam no já vivido.
  
            A todo o momento é possível uma reflexão sob
re a história que está em andamento. Isso é necessário,
 pois existir é estar em risco de perder o próprio ser (a 
autoria da própria vida) nas interpretações do senso co
mum. Também é fundamental para cuidar das possibil
idades porvindouras, realizando a possibilidade huma
na de lançar-
se em direção ao que ainda não é, mas pode ser (POM
PEIA, 2012), cuidando para que a vida seja melhor.
  
            Critelli (2012) indica três “guias de viver”: 1) 
Relatos, 2) Historietas e 3) Histórias. Diferenciam-
se pela abrangência temporal e pela complexidade de 
cada um. A identidade pessoal se costura pelos fios de
ssas formas de narrativa.
Referências Bibliográficas
CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida –
 Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.
  
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Os dos nascime
ntos do homem: Escritos sobre terapia e educação na 
era da técnica. Rio de Janeiro: Via Vérita, 2011.
Atividades Recomendadas
  
 
  
1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a h
istória da fenomenologia e da fenomenologia-
existencial nos contextos clínicos.
2. Critelli (2012) indica três “guias de viver” no livro 
História Pessoal e Sentido da Vida –
 Historiobiografia. Pesquise oque significa cada um de
sses termos?
3. Referindo-
se à sua biografia, recolha um relato, uma historieta e 
uma história pessoais.
 
4. Acompanhe o exercício abaixo:
  
Uma psicóloga fenomenológica atendia em seu consul
tório uma menina. A menina enrolou uma massinha at
é formar uma cobra. No momento seguinte, pega um i
nstrumento e começa a cortar a cobra em vários peda
ços. Sua primeira reação foi de interpretar à luz das c
oncepções psicanalíticas. Mas, antes disso, perguntou
 à menina, que lhe respondeu: “a cobra estava se sent
indo sozinha, então estou lhe dando amigos.” (situaçã
o adaptada de FORGHIERI, 2000)  Considerando a c
ompreensão da condição humana desenvolvida por C
ritelli (2012) e a Historiobriografia está correto afirm
ar:
  
 
  
[Referência bibliográfica: FORGHIERI, Y. C. Psicolo
gia Fenomenológica: fundamentos, método e pesquisa
. São Paulo: Ed. Pioneira Thomson, 2000.]
  
 
  
A) O senso comum fundamenta e referenda a compree
nsão dessa psicóloga.
  
B) Os atos são autossignificantes. O fenomenólogo pr
ecisa ir às coisas mesmas, isto é, à observação dos at
os da menina.
  
C) A palavra é a possibilidade de explicitar as intençõ
es. A menina pôde, ao dizer o que fazia, explicitar o se
ntido do cortar.
  
D) O desvelamento do verdadeiro sentido do cortar de
pende da reflexão da psicóloga. A reflexão (termo que 
recebe um significado específico na Historiobiografia)
 é a capacidade de articular o que aparece com as int
erpretações teóricas.
  
E) A psicóloga precisa realizar uma Historiobiografia
 da menina, isto é, pedir que ela conte de sua história 
e de sua biografia.
  
 
  
Se você leu atentamente os textos indicados, pôde ver 
que a alternativa correta é a C. Para responder esta qu
estão, é necessário ter clareza sobre o que é a Historio
biografia desenvolvida por Critelli, que mostra que as 
alternativas D e E estão erradas. A alternativa A está i
ncorreta, pois a interpretação inicial da psicóloga esta
va (de acordo como enunciado!) fundamentada na psi
canálise. A alternativa B está errada pois “ir às coisas 
mesmas” é desvelar o sentido dos fenômenos. Para iss
o, é necessário articular os significados das ações da m
enina com a enunciação de suas intenções.
 
Módulo 5: A Daseinsanalyse de Ludwig Binsw
anger
  
Apresentação dos dados biográficos de L. Binsw
anger 
  
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Binswa
nger
  
Bibliografia básica: DASTUR, F. & CABESTAN,
 P. (2015) “A obra fundadora de Ludwig Binswan
ger (1881-1966)”, cap. II.A, pg.64-101
 
Apresentação dos dados biográficos de L. Bi
nswanger 
  
 Ludwig Binswanger (1881 –
 1966) é da terceira geração de psiquiatras em s
ua família responsáveis pelo sanatório de Bellev
ue. Após formar-
se em medicina, faz residência psiquiátrica na clí
nica de Burghözli, chefiada por Eugen Bleuler (q
ue cunha a esquizofrenia), sob supervisão de Ca
rl Jung. 
  
A psiquiatria dessa época era ou organicista, ou 
psicanalítica (Freud). Em Burghözli, a psicanálise
 florecia, sendo Bleuler um importante dissemina
dor das ideias de Freud e Jung, então, important
e entusiasta. Durante a residência Binswanger a
profunda seus estudos na psicanálise, o que o le
va a iniciar correspondência com Freud que perd
ura até falecimento deste. Mas o interesse pela p
sicanálise e a proximidade com seu fundador nã
o impedem que Binswanger, desde cedo, questio
ne o naturalismo da psicanálise. Encontra funda
mentação para sua crítica primeiro na fenomenol
ogia de Husserl e sua concepção de consciência
 intencional e, em seguida, na descrição da exist
ência empreendida por Heidegger em Ser e tem
po. Daí a ser o primeiro a desenvolver uma Dase
insanalyse voltada para o sofrimento existencial (
não “psíquico”) manifesto na psicopatologia.
  
Da analítica existencial, Binswanger recolhe a no
ção de ser-no-
mundo, a fim de buscar uma compreensão dos 
modos de ser psicopatológico como modificação 
nessa estrutura. Ou seja, na experiência psicopa
tológica, mundo estrutura-
se diferentemente que na experiência saudável.
  
O início da influência de Heidegger em sua obra 
se faz notar a partir de 1930, quando publica o ar
tigo Sonho e Existência. Esse artigo, cuja traduç
ão para o francês foi prefaciada por Michel Fouc
ault, encontra-
se traduzido para o português1. Nele, Binswange
r discute a experiência onírica, tema tão caro à p
sicanálise, contrapondo à hipótese freudiana gen
ética e simbólica a ideia de que o sonhar é um m
odo de existir. Cabe ao investigador fenomenólo
go compreender a experiência manifesta no son
ho e, principalmente, o “espaço afinado” que nel
e se apresenta. Isto é, o sonho revela o mundo e
spacial e temporal peculiar ao sonhador. Como a
firmam DASTUR & CABESTAN (2015, p.
72), “É o tema que o Dasein se dá no sonho que 
é importante, não o que ele simboliza, e é, então 
o conteúdo desse drama, dessa ação que é o so
nho, que constitui seu elemento decisivo.” O son
ho não é produzido por uma subjetividade, como 
propunha Freud, mas um acontecimento, uma vi
sitação; “vem a mim um sonho”. 
  
Do filósofo pré-
socrático Heráclito Binswanger retoma a oposiçã
o entre mundo privado (idion) e mundo comum (k
oinon). Em vigília, a existência compartilha com 
os demais um mesmo mundo (koinon), ao passo 
que dormindo, está solitário (idios). Essa oposiçã
o se articula à compreensão de Binswanger da e
xperiência psicopatológica como envolvimento c
om o mundo próprio em detrimento da experiênci
a compartilhada. 
  
Ao contato cotidiano com o sofrimento psicopatol
ógico, Binswanger acrescenta uma preocupação 
epistemológica e metodológica com a psiquiatria,
 que deveria, na sua concepção, fundamentar-
se numa visão clara e correta sobre a existência,
 que o discurso científico não é capaz de fornece
r. 
Nota de rodapé 
  
1. BINSWANGER, Ludwig. O sonho e a existênci
a. Nat. hum., São Paulo , v. 4, n. 2, p. 417-449, 
dez. 2002 .Disponível em <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1517-243020020002000
07&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 jan. 2016
.
Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, a
tentando para a questão do sonhar na Daseinsa
nalyse de Binswanger.
  
2) Lembre de um sonho seu, transcreva-
o e a n a l i s e -
o de acordo com a proposta de Binswanger. Ou 
seja, preste atenção ao que se manifesta, à tonal
idade afetiva do mundo manifesto e à ação dese
mpenhada no sonho.
  
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Explicam DASTUR & CABESTAN (2015):
Ludwig Binswanger foi o primeiro entre os psiqui
atras a se interessar pela fenomenologia. É na cr
ítica ao psicologismo à qual se dedica Husserl no
 primeiro tomo de suas Investigações Lógicas, p
ublicadas em 1900, e em sua definição da consci
ência em termos de intencionalidade e de sentid
o, que ele encontrou pela primeira vez os motivo
s de se opor ao naturalismo e ao biologismo de F
reud. (p.64)
Sobre esse contexto de surgimento da Daseinsa
nalyse de Binswanger está correto afirmar:
  
 
  
I –
 De Husserl, Binswanger recolhe a noção de que
 consciência e objeto são um todo indivisível, ou 
seja, a existência e seu mundo formam uma total
idade indissociável.
  
II –
 Binswanger critica a falta de fundamentação epi
stemológica da psiquiatria de sua época, que se 
apoiava na biologia e/ou na psicanálise.
  
III –
 Binswanger visa complementar a psicanálise fre
udiana com aquilo que ela carece: a descrição d
a corporeidade da existência.
 
Estão corretas:
  
 
  
A) I, somente.
  
B) II, somente.
  
C) III, somente.
  
D) I e II, somente.
  
E) II e III, somente.
  
 
  
Se você leu atentamente o texto indicado e a apr
esentação neste módulo pôde identificar que a af
irmação I apresenta corretamente a influência da
 fenomenologia de Husserl de Binswanger. Huss
erl apresenta a consciência como intencional, ist
o é, os atos de consciência são sempre referidos
 e complementados pelo objeto intencional que o
s completa e realiza. As bases epistemológicas d
a psiquiatria da época cindem sujeito e objeto, d
e modo a procurar a causa da experiência psicop
atológica na natureza (biologismo) ou no psiquis
mo (psicologismo). É disso que trata a afirmação
 II, que está, portanto, correta. A afirmação III est
á incorreta, pois a Daseinsanalyse de Binswange
r não assume como objetivo a complementação 
da psicanálise freudiana. Seu objetivo é, outrossi
m, fornecer bases epistemológicas sólidas para 
a psiquiatria, que ele ele encontra nas fenomenol
ogias de Husserl e Heidegger.
Noções básicas da Daseinsanalyse de L. Bins
wanger
 A primeira fase daseinsanalítica da psiqui
atria de Binswanger apoia-
se na analítica existencial de Ser e tempo, de He
idegger, conforme discutido acima. O primeiro m
arco desse trabalho é o artigo “Sonho e Existênci
a”, que discute os fenômenos de ascensão e que
da como modos de a existência especializar-se. 
  
 Em 1942 o psiquiatra publica sua principa
l obra, Formas fundamentais e conhecimento do 
Dasein, na qual enuncia sua “visão de homem”. 
Recorre à analítica existencial de Heidegger, ma
s substitui o cuidado como essência do Dasein p
ela relação dual Eu-
Tu (descrita por Martin Buber).
1 Elabora, assim, uma fenomenologia do amor, q
ue, a seu ver, é o fundamento do ser si-
mesmo do Dasein. Explicam Dastur & Cabestan 
(2015):
Encontram-
se repetidas vezes alusões a essa difere
nça fundamental de ponto de vista, send
o o ponto de partida da análise existencia
l de Heidegger a Jemeingkeit, a qualidad
e do que é sempre a cada vez meu, ao p
asso qie o da antropologia biswanguerian
a é a Ursrigkeit, a nostridade. (p.80)
  
 
  
 Em razão dessa diferença, o pensamento
 de Binswanger distancia-
se de Heidegger e retorna à fenomenologia de H
usserl, mais precisamente à questão da consciên
cia interna do tempo.
  
 A análise fenomenológica da consciência 
do tempo empreendida por Husserl mostra que t
empo não é algo objetivo, cronológico, externo à 
consciência. A consciência do tempo diz respeito
 à articulação a cada momento do que já foi objet
o da consciência (e permanece como retido –
 “retenção”) e o que é antecipado (“protenção”). 
Dito em termos menos precisos, passado e futur
o estão presentes a cada momento. Binswanger 
retoma essa análise husserliana para considerar 
modificações estruturais na consciência de temp
o na psicopatologia. Por exemplo, no melancólic
o o futuro é vivenciado como já vivido; “a proteçã
o está infiltrada de momentos retentivos.” (DAST
UR & CABESTAN, 2015, p.
92). No maníaco, retenções e protenções cedem
 lugar ao instante atual, de modo a vivenciar som
ente o presente, a momentaneidade. No esquizof
rênico, a estrutura temporal esfalece-
se, aniquilando a experiência vivida. 
  
 Binswanger é fenomenológico na concep
ção de realidade que subjaz às análises da psico
patologia. Para ele, “o mundo real reside apenas 
na pressuposição constantemente prescrita de q
ue a experiência continuará constantemente a se
 desenrolar segundo o mesmo estilo constitutivo.
” (BINSWANGER, 1993, apud DASTUR & CABE
STAN, 2015, p.
90) Ou seja, mundo é uma trama de sentido que 
tende a permanecer a mesma. Mas, na experiên
cia psicopatológica, esse apoio se perde. 
Notas de rodapé
  
1. Sobre o cuidado, ver o Módulo 3 e sua respect
iva bibliografia: SAPIENZA, B.T. Encontro com 
a Daseinsanalyse: A obra Ser e tempo, de Heid
egger, como fundamento da terapia daseinsanalí
tica. São Paulo: Escuta, 2015, Pg. 48-95.
  
 
  
Atividades recomendadas:
  
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, a
tentando para a questão do sonhar na Daseinsa
nalyse de Binswanger.
  
2) Procure em revistas científicas artigos que rec
orram à psicopatologia de Binswanger. 
  
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
João é estagiário num hospital psiquiátrico e part
icipa do acolhimento de uma paciente que acaba
 de ser internada, Ana. Ela está muito abatida e v
isivelmente muito triste. João pergunta a respeito
 dela, que lhe responde que a tristeza que está s
entindo nunca cessará. “Eu tinha que feito as pa
zes com minha mãe antes de ela morrer”, diz, “a
gora ela nunca vai me perdoar. Nem eu vou me 
perdoar.” Ao longo da anamnese que segue Joã
o descobre que a mãe de Ana morreu há 8 anos.
  
Recorrendo ao pensamento de Binswanger para 
compreender o sofrimento dessa paciente, João i
dentifica que:
A) Trata-
se de um caso de psicopatologia, pois o sofrimen
to de Ana está desproporcional ao fato que o cau
sa.
  
B) Trata-
se de um caso de psicopatologia, pois Ana está s
ofrendo por algo que aconteceu há muito tempo.
  
C) É necessário identificar a culpa inconsciente q
ue causa esta tristeza por meio do método livre a
ssociativo.
  
D) Para a fenomenologia, não existe melancolia, 
nem melancólicos.
  
E) O futuro de Ana está tingido por uma vivência 
passada. 
  
Se você estudou a bibliografia indicada e leu o te
xto acima, terá identificado que as análises de Bi
nswanger buscam descrever a experiência temp
oral psicopatológica. É um modo de temporalizar
-
se que configura a experiência psicopatológica. 
No caso acima, o futuro de Ana é vivenciado co
mo já determinado que seu sentimento não mud
ará, pois ela sente que nunca se perdoará. Trata-
se de um modo de constituição temporal da reali
dade que antecipa o futuro com vivências passa
das. A alternativa que exprime essa compreensã
o é a E. 
 
Módulo 6: A Daseinsanalyse de Medard Boss
Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida por 
Medard Boss
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
 
Bibliografia Básica: EVANGELISTA, P. A 
Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, 
P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 
139 – 158.
 
 
 
Medard Boss (1903 – 1990) é o psiquiatra suíço que 
realizará mais plenamente a interlocução entre a 
analítica existencial (ontológica)de Heidegger e a 
prática clínica. Ele se forma médico em Zurique e 
logo inicia análise didática com Freud (1925) para se 
tornar psiquiatra psicanalista. Faz residência na clínica 
de Bulghözli, chefiada então por Eugen Bleuler (que 
conceitua a esquizofrenia, cunhando esse termo), na 
mesma época em que Carl Jung trabalha lá. É nessa 
clínica que ele entra em contato com o pensamento de 
Binswanger, que vai ao encontro de sua própria 
sensação de que as ciências do homem erram ao 
pressupor uma cisão entre existência e mundo (sujeito 
e objeto). Como já visto, isso era para Binswanger “o 
verdadeiro câncer da ciência”.
A II Guerra é ocasião para Boss ler Ser e tempo, de 
Heidegger, e iniciar troca de correspondências que 
levará a uma amizade pessoal. As cartas, assim como 
protocolos dos encontros realizados na casa de Boss 
em Zollikon foram publicados sob o título Seminários 
de Zollikon (Petrópolis: Vozes, 2009) e fornecem ao 
estudioso da psicologia fenomenológico-existencial 
referências muito importantes. Segundo Boss, 
Heidegger viu no contato com o psiquiatra a 
possibilidade de que a fenomenologia da condição 
humana pudesse contribuir para as formas de cuidado 
com a existência.
Apoiando-se na ontologia fundamental de Ser e 
tempo, Boss assume como tarefa entender o que e 
como acontece a relação psicoterapêutica sem recorrer 
a hipótese. Ou seja, assume da fenomenologia a 
suspensão (epoché) como passo necessário para que 
os fenômenos se mostrem tal como são. Como Boss é 
psiquiatra e psicanalista, ele suspende os pressupostos 
médicos e psicanalíticos a fim de conhecer a relação 
que se estabelece entre médico/psicanalista e paciente. 
É disso que tratam suas principais obras, como 
Psicanálise e Daseinsanalyse (1957), Fundamentos 
Existenciais da Medicina e da Psicologia (1971): uma 
refundação na fenomenologia existencial dos 
fenômenos clínicos e dos modos de ser-sadio e 
adoecer da existência.
 
Atividades Recomendadas
 1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a 
história da fenomenologia e da fenomenologia-
existencial nos contextos clínicos.
 2. Pesquise na bibliografia e pela internet sobre os 
autores Binswagner e Boss. Descreva a abordagem 
aos fenômenos psicológicos chamada de 
Daseinsanalyse.
 3. Acompanhe o exercício abaixo:
 
A fenomenologia-existencial inicia-se em 1927, com a 
publicação de Ser e Tempo. Surge como filosofia, mas 
tem enorme repercussão nas ciências humanas, 
tornando-se fundamento para a compreensão dos 
fenômenos humanos. Na psicologia, essa influência se 
verifica em:
 
a) A ênfase na descrição da vivência do outro.
b) Uma nova formulação de aparelho psíquico.
c) Um novo método de mensuração do 
comportamento humano.
d) Um método de explicação da relação da 
consciência com o inconsciente.
e) O aperfeiçoamento do método científico-natural de 
pesquisa na psicologia.
 
Se você leu atentamente os textos e compreendeu a 
contribuição da obra de Heidegger para a psicologia, 
pôde reconhecer a alternativa A como correta. A 
alternativa B propõe que a fenomenologia-existencial 
realiza uma nova formulação do aparelho psíquico. 
Isso está incorreto, pois esta abordagem compreende 
os fenômenos psicológicos à luz do conceito de 
existência como ser-no-mundo. O mesmo vale para a 
afirmação D, pois a compreensão da existência como 
ser-no-mundo torna desnecessários os conceitos de 
consciente e inconsciente teorizados por Freud. A 
afirmação C está incorreta, pois considera a 
mensuração dos comportamentos como influenciada 
pela fenomenologia. A idéia da mensuração como 
garantia da certeza do conhecimento está presente nas 
ciências naturais, de modo que há psicologias que 
mensuram o comportamento. Por esse mesmo motivo, 
a afirmação E está incorreta.
 
 
Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
 
Bibliografia Básica: EVANGELISTA, P. A 
Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, 
P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 
139 – 158.
 
            A descrição fenomenológica da existência 
como ser-no-mundo possível é o fundamento da 
psicologia fenomenológico-existencial 
(Daseinsanalyse). O psicólogo que fundamenta o seu 
trabalho nesta abordagem está interessado em 
compreender junto ao(s) outro(s) como é seu mundo e 
como se lança nesse que é o seu mundo, resgatando 
sua condição ontológica de ser-possível.
Assim, Boss recorre a processos psicoterapêuticos 
próprios e de supervisionandos para pesquisar o que 
acontece na relação entre terapeuta e paciente 
costumeiramente chamado de “cura”. Esse termo tem 
forte viés médico e significa, nesse contexto, remissão 
de sintomas. Na Daseinsanalyse, “cura” significa o 
resgate da liberdade para dispor de si, podendo aceitar 
e recusar solicitações dos entes que vêm ao encontro. 
Ou seja, os modos de ser-doente são momentos de 
restrição na vida da existência, nos quais se encontra 
impedida de assumir possibilidades existenciais.
Exemplos disso são os chamados sintomas histéricos 
tão discutidos pela psicanálise. Enquanto a teoria de 
Freud os explica como resultantes do acúmulo de 
energia sexual e consequente descarga, a 
fenomenologia existencial não pode recorrer a uma 
explicação que hipotetize o funcionamento psíquico 
como um aparelho hidráulico. Assim, pergunta quais 
são os modos de ser, as possibilidades existenciais que 
se realizam e como se realizam nesses chamados 
sintomas histéricos. Uma mulher que, andando na rua, 
vê um homem a quem se sente atraída e suas pernas se 
paralisam é alguém que sente, ao mesmo tempo, 
atração e repulsa, isto é, motivação para aproximar-se 
e distanciar-se. A paralisaria é o modo como realiza 
esses movimentos opostos simultaneamente. Incapaz 
de assumir seu desejo, pois em seu mundo o que é do 
âmbito do sensual e do sexual é vivido como 
pecaminoso, não deixa essas possibilidades 
existenciais serem.
Vale lembrar que os sintomas não são interpretados 
como entidades diferentes que se instalam no 
paciente. São modos de ser, isto é, modos de realizar 
possibilidades existenciais, com a especificidade de 
que tais possibilidades não são abertamente assumidas 
como próprias.
Para tecer suas análises, Boss recorre à descrição 
fenomenológica da existência realizada em Ser e 
tempo por Heidegger, que apresenta os existenciais, 
ou seja, a constituição ontológica da existência. Os 
existenciais indicam modos de a existência acontecer, 
sendo que se dão no mundo, à luz de possibilidades 
concretas. Em outras palavras, Heidegger descreve a 
existência como ser-no-mundo, ser-com-outros, 
finitude, espacialidade, temporalidade, etc., conforme 
já visto no livro de SAPIENZA (2015). Como cada 
existência é com outros, como especializa-se, como 
são seus mundos varia para cada um.
Com análises assim, Boss cuida para que a 
experiência do paciente possa se manifestar sem o 
recurso a teorias hipotéticas, cumprindo, assim, o 
imperativo fenomenológico de voltar às coisas 
mesmas.
 
 
1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a 
história da daseinsanalyse e como fundamenta o 
trabalho do psicólogo.
 2. Pesquise na bibliografia e pela internet artigos 
escritos na abordagem fenomenológico-existencial.
 3. Acompanhe o exercício abaixo:
 Leia o trecho abaixo, extraído do 
livro Psychoanalysis and Daseinsanalysis, de Medard 
Boss.
 
Há boas razões para supor que a ‘análise do dasein’ 
de Martin Heidegger é mais apropriada para uma 
compreensão do homem do que os conceitos que as 
ciências naturais introduziram na medicina e na 
psicoterapia. [...] Se o pensamento daseinsanalítico 
de fato se aproximar mais da realidade humana do 
que o pensamento científico natural, poderemos 
encontrar algo que até hoje não encontramos na 
teoria sobre a psicoterapia: uma compreensão do que 
estamos realmente fazendo (e por que estamos o 
fazendo dessa maneira) quando tratamos um paciente 
psicanaliticamente, estando tal compreensão baseada 
em intuições sobre a essência do ser humano. (Boss,p.29)
 
A compreensão de homem “mais apropriada” à qual 
Boss faz menção é a descrita por Heidegger através 
dos “existenciais”. Os “existenciais” são:
 
a) os aspectos co-originários do ser-aí, tais como ser-
no-mundo, ser-com-os-outros, cuidado, abertura, 
clareira, ser-para-a-morte. São determinações 
ontológicas.
b) os momentos em que o ser-aí se sente angustiado 
por saber que vai morrer,
c) as situações em que o ser-aí descobre sua finitude, 
o que o leva a tomar decisões.
d) os aspectos concretos que determinam cada 
situação fáctica do ser-aí.
e) os momentos em que o dasein se apercebe de si 
mesmo como abertura para a significância.
 
Se você leu atentamente os textos, pôde compreender 
o que são os existenciais descritos por Heidegger e 
como aparecem na psicologia fenomenológico-
existencial. São os aspectos constitutivos co-
originários da existência. Identificou, portanto, a 
alternativa A como a correta. A afirmação B associa os 
existenciais com momentos de angústia e a C, com 
momentos de possível singularização do ser-aí. Estão 
incorretas. A alternativa D identifica os existenciais a 
‘aspectos concretos’, como se fossem exteriores ao 
ser-no-mundo, determinando-o. A alternativa E 
também está incorreta, pois associa os existenciais a 
‘momentos’.
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as 
dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas 
dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas 
bibliográficas, na tentativa de saná-las.  Caso elas 
persistam, apresente-as ao professor, nas aulas 
presenciais.
 
 
Módulo 7: Compreensão e Ação clínica na perspect
iva fenomenológico-existencial
Concepção de Psicoterapia daseinsanalítica
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-
existencial
 
 
Concepção de uma Psicoterapia daseinsanalítica
 
Bibliografia básica: JARDIM, L.E. Ação e 
Compreensão na clínica fenomenológico-existencial. 
In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia 
fenomenológico-existencial, pp. 45 – 76.
Bibliografia complementar: POMPÉIA, J. & 
SAPIENZA, B. “A terapia e a era da técnica”. In: 
POMPÉIA, J. & SAPIENZA, B. Os dos nascimentos 
do homem, pg. 123-140.
 
            Do ponto de vista dos procedimentos, a 
psicoterapia daseinsanalítica acontece como aquela 
que a inspirou, a psicanalítica. Medard Boss defende o 
uso do divã, a análise de sonhos, a relação terapêutica 
como foco do processo. (Evangelista, 2015) Mas a 
fundamentação é outra. A Daseinsanalyse assume que 
terapeuta e paciente são existências e que o paciente, 
que procura o psicólogo, encontra-se restrito na 
liberdade para assumir certas possibilidades 
existenciais. Tais restrições manifestam-se como 
modos de ser que incomodam o paciente, pois ele não 
se reconhece neles. Ademais, considera-os 
“sintomas”, “problemas”, “desajustamentos” e espera 
que o psicólogo possa os eliminar, restaurando os 
modos de ser anteriores ao surgimento dos mesmos.
No modelo científico-natural, causal, de pensamento, 
caberia ao psicólogo investigar a etiologia dos 
incômodos para, de posse das causas, planejar e 
implementar uma intervenção. Esse é o modo de 
proceder da Era da Técnica, que visa a produção no 
menor tempo possível. Uma psicoterapia que 
correspondesse a esse modo de ser produziria efeitos 
planejados pelo terapeuta, isto é, conduziria o paciente 
ao modo de ser concebido pelo psicólogo como o 
melhor para ele. O paciente, por sua vez, coloca-se 
passivo nesse processo, no sentido de que recebe 
orientações e, enfim, o tratamento. Pompeia & 
Sapienza explicam que, numa época em que toda 
experiência é controlada, o que o paciente espera é 
conseguir controlar, dominar, o sofrimento que o está 
controlando e dominando. (Pompeia & Sapienza, 
2011)
Não é esse objetivo do processo psicoterapêutico. A 
ação do psicólogo deve ser pensada como ação 
clínica. Ação clínica aproxima-se do sentido 
etimológico de técnica (tekhné), que significa o deixar 
vir à luz algo que permanecia oculto. Ou seja, a ação 
clínica não conta antecipadamente com resultados, 
pois o futuro não pode ser controlado pela existência. 
A ação clínica como tekhné propicia o surgimento de 
algo que pode ou não vir a acontecer, cria um terreno 
fértil em que pode ou não vir à luz novo modo de ser 
da existência. Que modos podem vir à luz? Cada 
existência precisa ouvir-se, aproximar-se do que o 
incomoda, ao invés de tentar eliminá-lo a todo custo, 
dominando-o. Pompeia & Sapienza (2011) jogam com 
o sentido etiológico de “dominar”, que é o termo em 
latim domus, que significa casa. Ao invés de dominar 
o que aflige, o convite da terapia daseinsanalítica é 
aproximar-se, deixar-se sentir em casa, com o o que 
aflige, a fim de escutar seu sentido e, quiçá, 
experimentar novos modos de ser mais livres. Isso 
ocorre por meio da compreensão.
Aproximando-se do mundo do paciente, este e o 
psicoterapeuta buscam compreender o sentido do que 
se passa consigo. Essa compreensão já é a ação 
clínica, pois é a experiência de aproximar-se de si e 
deixar o sentido, que permanece oculto, aparecer.
 
Atividades recomendadas
 
1. Leia os textos indicados.
2. Pesquisa na internet artigos que se referem à prática 
do psicólogo como ação clínica. Verifique que nesta 
disciplina falamos de ação clínica na psicoterapia, mas 
esse modo de estar com o outro ocorre em outras 
modalidades de prática do psicólogo.
3. Acompanhe o exercício abaixo:
 
Ana é encaminhada à psicoterapia após passar por um 
clínico geral, que hipotetiza que suas queixas 
somáticas são de fundo “emocional”. Ela queixa-se de 
dores no abdome e afirma ter certeza de que um tumor 
aí cresce, mas os exames clínicos nada revelam.
O psicoterapeuta que a atende é daseinsanalista. 
Sendo assim, sobre esse processo psicoterapêutico 
está correto afirmar que:
 
I – O sentido do processo é libertação, no sentido do 
verbo grego analysein, que significa desamarrar, 
destecer tramas, soltar. A principal meta da terapia de 
Ana, como de todo paciente, é reconduzi-la à 
capacidade de amar e confiar.
II – O processo terapêutico é conduzido por livre 
associação, o que significa pedir que Ana fale 
livremente sobre seus sentimentos de culpa e angústia. 
Estes temas existenciais são o foco da Daseinsanalyse.
III – A situação terapêutica (terapia individual) é de 
encontro de dois Dasein (ser-aí), estabelecendo um aí 
compartilhado de um ser-aí (Ana) com outro 
(terapeuta), onde Ana e os entes de seu mundo podem 
vir à luz.
IV – As intervenções do terapeuta são ação clínica, ou 
seja, objetivam que o paciente confronte seus medos e 
angústias.
 
Estão corretas somente:
A) I, II e III.
B) II, III e IV.
C) III e IV.
D) I e III.
E) I, II, III e IV.
 
Se você leu atentamente os textos indicados e a 
apresentação acima terá identificado que a afirmação I 
está correta, pois o sentido da psicoterapia 
daseinsanalítica é resgate da liberdade. Cabe ao 
psicoterapeuta atitude de ação clínica, que significa 
estar com o paciente de modo a desobstruir a 
compreensão do que se passa consigo, propiciando 
aproximação do sentido do existir. A afirmação II está 
incorreta, pois a Daseinsanalyse não indica focos 
temáticos do processo psicoterapêutico. A afirmação 
III está correta, pois, segundo Jardim (2015), terapeuta 
e paciente compartilham um “aí”, uma clareira de 
mundo em que os entes dos mundos do paciente 
podem vir à luz e serem indagados quanto aos seus 
significados. A afirmação IV está incorreta, pois ação 
clínica significa agir abrindo possibilidades, não 
produzindo efeitos de antemão determinados. 
Portanto, a alternativa correta é D.
Ação e compreensão na clínica fenomenológico-
existencial
 
A partir da caracterização de psicoterapia acima, a 
concepção de fenomenologia enquanto um arcabouço 
teórico não se sustenta e esta passa a ser entendida 
como uma postura do terapeuta que favorece ao 
paciente revelar-se como fenômeno.
A postura do terapeuta exige, portanto, a escuta atenta 
e um demorar-se nas situações relatadas, visando

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