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Metodologias comparadas: ensino tradicional e ensino de investigação científica. Aureiza Cavalcante Varjão, Luís Guilherme Barbosa da Silva. Projeto de Prática de Ensino de Física I - 2019.2 Resumo Este estudo propõe avaliar e comparar o desempenho e aprendizado dos alunos no ensino de física a partir do método expositivo de ensino tradicional e da metodologia ativa de investigação científica. Divididas as aulas em duas etapas, seguindo as respectivas metodologias, três turmas de primeiro ano obtiveram em duas semanas aulas com o mesmo conteúdo, porém com metodologias de ensino diferentes. A partir dos registros dos alunos e pesquisadores, há o comparativo, culminando na discussão a cerca de conveniências e inconveniências de ambos métodos, pontos fracos e fortes, e eficiência em solidificar o saber físico e suas aplicações no cotidiano. Palavras-chave: Ensino de física, habilidades, metodologias ativas, comparativo. Introdução Dentre as áreas deficitárias em desempenho na educação brasileira, uma das mais destacadas é a área das ciências naturais. Segundo o exame internacional PISA, em 2018, na área de ciências, de 63° melhor colocado, entre 79 países, o Brasil desceu à 66° posição. O desempenho na área de matemática foi ainda mais acusatório, da 65°, o país desceu à 70° posição. (Vieira) As dificuldades encontradas no ensino destas áreas somam-se quando a ciência natural que se está ensinando é a que mais exige uma “alfabetização” matemática: a Física. 1 Os problemas no ensino de física não são exclusivos do Brasil, e em geral, tampouco são diferentes dos problemas de ensino encontrados em países emergentes e subdesenvolvidos. Em artigo de 2011, Hussain et al enunciam dificuldades que são comuns ao cotidiano da pedagogia de física do Brasil: desempenho ruim na área de resolução estreita de problemas, e ainda pior quando se trata de integrar os saberes da matéria no dia a dia do aluno; precariedade em materiais de ensino; falta de noção, por parte do governo e opinião pública, da relevância da área, entre outros. Neste cenário, uma das soluções para minimizar os problemas no ensino de física a que o professor pode recorrer é a escolha adequada da metodologia de ensino. A metodologia de investigação científica, exposta em Diante disso, a abordagem de conceitos físicos pode ser reformulada, contando sempre com o ensino tradicional, mas utilizando outros métodos que buscam uma educação mais ativa por parte do aluno, porém ainda assim lhe guiando e incentivando-o a investigar sobre o conteúdo, abordando problemas práticos que trazem o saber físico para o cotidiano do aluno, valorizando a capacidade dele de interagir em sala de aula, com conceitos e ideias, pois os estudantes que possuem conceitos bem abordados com nitidez tem um desempenho melhor, mostrando clareza diante do conteúdo e habilidades favoráveis para a resolução de problemas em sala. Revisão da Literatura Hussain et al conduziram em 2011 um experimento prático no qual o desempenho de alunos pareados, com base em parâmetros socioeconômicos, com metodologias diferentes para o ensino de física era verificado. Através de métodos estatísticos, obteve-se o resultado de que há diferença expressiva entre as variações da metodologia de investigação científica e o ensino tradicional, com dados favoráveis á investigação científica. Dentro do espectro da aula expositiva, problemas históricos há muito já caracterizados e discutidos ainda são recorrentes, como o apego excessivo e quase servil ao livro texto. Outro problema encontra-se ainda nas sugestões recorrentes de novos projetos de educação, que muitas vezes dedicam-se exaustivamente ao modo de ensinar física, e pouco ou nada tratam de como se aprende esta física (MOREIRA) Não é de se estranhar que neste cenário os alunos sintam-se perdidos tanto durante a aula quanto no estudo individual. A responsabilidade é entregue quase que completamente ao professor, numa tentativa de tornar mais leve sobre as costas do aluno o peso de aprender física, mas a consequência disto, como 2 explicitado no artigo de Moreira, é justamente oposta à intenção: por discutir-se excessivamente sobre como o professor deve ensinar, e pouco falar-se sobre como o aluno deve fazer para aprender, este, e não aquele, é quem sai prejudicado. Deste modo, as metodologias ativas surgem como uma alternativa a ser considerada pois incentivam o aluno a exercitar seu próprio modo de aprender e desenvolvê-lo, tornando-o numa ferramenta que lhe seja eficaz para corresponder em desempenho ao que o professor espera dele. Metodologia A pesquisa foi realizada com três turmas de física do primeiro ano do ensino médio do colégio Luís Eduardo Magalhães, sem distinção de parâmetros entre as turmas tampouco qualquer tipo de pareamento. Neste procedimento nós utilizamos a abordagem de ensino tradicional e o ensino de investigação científica respectivamente durante a primeira e segunda semana de aula com as turmas. Os assuntos tratados foram Trabalho, Conceito e Conservação de Energia, Potência, Geração de Energia, entre outros assuntos tangentes. Durante as aulas com método tradicional, evitou-se utilizar o livro-texto oferecido como guia e “oráculo” da aula. Ao contrário, o plano de aula foi feito de modo a trabalhar oralmente com conceitos dentro da sala, desde a formulação do mais simples conceito de energia até as consequências cotidianas de sua conservação, por exemplo, cabendo ouvir os alunos para um direcionamento mais eficaz levando em conta suas dúvidas e lacunas na formação matemática e física. Durante a segunda parte das aulas expositivas, foi ordenado aos alunos que fizessem uma atividade elaborando uma questão de física em dupla na sala de aula. Esse tempo da atividade foi proveitoso pois os pesquisadores puderam sanar dúvidas e esclarecer o assunto quase que individualmente para todos os estudantes que apresentavam dúvidas e confusões mas não as enunciavam durante a aula. Na segunda semana de aulas utilizamos o método de ensino por investigação científica guiada, i.e, em sala de aula chegamos com uma pergunta concernente ao fundamento teórico do assunto, mas também tangível pela experiência cotidiana do estudante, e propomos meios de resolver a questão durante a aula com a turma. Conforme a aula e o plano ia se desenvolvendo,os experimentos eram utilizados como ilustrações de casos parecidos ao que queríamos desvendar, até que a resposta da pergunta fosse encontrada. Então, uma nova pergunta era feita, e outros experimentos eram utilizados. Os experimentos eram divididos entre aqueles que foram elaborados exclusivamente para a aula e aqueles que 3 já existiam mas foram reaproveitadas para a aula devido ao seu princípio físico de funcionamento. No primeiro grupo, constam: - uma base de madeira em forma de “L” caído com uma mola colada à tábua vertical, na qual um carrinho de brinquedo era empurrado contra a mola e depois solto; - uma ladeira com anteparo no pé, na qual no topo era posta uma bola de gude, que descia arrastando o anteparo por uma distância medida com uma régua cuja marca 0 estava no pé da ladeira; - uma caixa de leite de formato cilíndrico dentro da qual havia uma armação de elásticos, que eram estendidos caso se rolasse a caixa, e ao voltar ao equilíbrio, traziam a caixa para o mesmo ponto de partida. No segundo grupo, encaixam-se: -a bola de gude do exemplo anterior considerada sozinha, ao explicar-se o impulso dado na bola ao jogar como análogo de energia elástica; - um brinquedo “bate a bate”, explicado por sí, e também utilizado como um pêndulo de Newton. Ao término das duas semanas de aula, um questionário foi passado aos alunos, em que estes podiam externar suas impressões quanto aos métodos de ensino utilizados. Resultados e Discussão O questionário passado em sala, foi dividido em 3 perguntas, onde 36 alunos responderam-o marcando entre três alternativas. A primeira questão que estava no formulário passado aos alunos perguntava-os se a explicação e a compreensão dos conteúdos abordados em sala foi maior entre a abordagem do conteúdo em aula normal, vulgo, ensino tradicional ou foi com a abordagem mais prática utilizando experimentos junto com a explicação, deste modo, cerca de 63,9% dos alunos disseram que entenderam melhor com a segunda abordagem, onde foi utilizado o método de investigação científica, e com a utilização do método tradicional de ensino, cerca de 30,6% dos alunos disseram satisfeitos com esta abordagem, logo, os 5,5% restante dos alunos disseram que não sabiam opinar, ou não entenderam, optando por nenhuma das opções. Na segunda questão, foi perguntado aos alunos o que eles achavam do ensino de física no método normal do ensino tradicional, dando três alternativas, dentre elas estava entre, ótimo, regular e ruim. Cerca de 55,5% dos alunos, acharam ótimo, pois para eles é um ensino eficaz e essencial, 33,3% optaram pela a alternativa regular, onde consideraram o ensino bom, porém nem tanto, e cerca de 11,2% consideraram o método tradicional como um ensino ruim. Logo, na terceira e última questão foi perguntado o que eles achavam do ensino da física com uma metodologia ativa, implementando experimentos em 4 sala, contendo a mesma estratégia de resposta adotada pela segunda questão, deste modo, cerca de 80,5% disseram que o ensino da física com a investigação científica é ótimo, 16,7% dos alunos consideram como regular e 2,7% consideram o ensino ruim. Com isto, podemos então encontrar uma possível solução para propor melhorias no ensino de física, adotando a prática mais viável e completa para o entendimento do aluno. Nesse contexto, é importante ressaltar que o ensino de física não deve ficar preso em apenas uma prática de ensino, pois isto não proporciona novas visões sobre o conteúdo então abordado, tendo um conhecimento que a intervenção ativa no ensino é melhor pois busca uma ampla compreensão de entendimentos, mas diante a isto devemos ter uma noção que a construção de ensinamentos depende do modo conceitual da discussão e interpretação de dados, onde seria adotado o ensino tradicional, mas dando ênfase ao ensino de investigação científica, buscando uma interação entre os métodos de ensino, corroborando com o entendimento do aluno e a sua busca por conhecimento. Assim como Bizzo (2002, p. 75) descreve que o ensino a partir da utilização de experimentos por si só, não garante tudo, pois ele não é suficiente para a aprendizagem do aluno, deve haver pesquisa, investigação, abordagem do professor, com isso podemos entender que além do exercício prático devemos participar juntamente com o aluno, incentivar em sala, propor o conteúdo e demonstrar o que se passa diante dele, trazer a sua realidade para a sala de aula. O ensino tradicional vem demonstrando grande importância com o passar dos anos, mas mediante ao ensino de física em geral ele deve ser reformulado, buscando estímulo para o estudo e o entendimento, neste contexto a teoria que é abordada pelo ensino tradicional deve ser considerado como um suporte para a precisão dos resultados esperados. Conclusão: Os dados obtidos demonstram que os alunos sentem melhor proveito durante as aulas quando o método utilizado é o de investigação científica aliado ao uso de experimentos. Por parte dos pesquisadores isto também pareceu bastante claro, vez que o engajamento e participação do estudantes foram notadamente maiores durante o uso de experimentos, com mais perguntas sendo feitas por eles na tentativa de entender melhor o conteúdo. O método de investigação científica apresenta alguns entraves consideráveis, principalmente devido aos experimentos serem de baixo custo e os assuntos obrigarem os alunos a fazer abstrações que podem enfraquecer a construção da aula, uma vez que pretendidamente eles deveriam acompanhar algo próximo de uma demonstração científica. Por exemplo, deve-se considerar nula a perda de energia por atrito, considerar o corpo 5 como se estivesse no vácuo, para desprezar a resistência do ar, etc. A aula com o método tradicional e acompanhamento individual nas atividades não demonstrou ser ruim ao ponto de ser desconsiderada como método de ensino, pelo contrário, sendo a aula expositiva, quando o que era exposto tinha algum sentido para o aluno ou chamava sua atenção, o entendimento geral de parte do conteúdo também era notável. De fato, o resultado da pesquisa pode ter sido bastante influenciado pelo próprio fascínio dos alunos com umametodologia nova, diferente do que já viram, contudo, se foi isso o que lhe fizeram prestar mais atenção na aula, não há desmerecimento da metodologia, pois ela própria pretende-se inovadora e mais chamativa. Referencias: ● HUSSAIN, ASHIQ; AZEEM, MUHAMMAD; SHAKOOR, AZRA.Physics Teaching Methods: Scientific Inquiry Vs Traditional Lecture. International Journal of Humanities and Social Science, 2011. Disponível em: http://www.ijhssnet.com/journals/V ol_1_No_19_December_2011/28.pd f. Acesso em: 27 set. 2019. ● VIEIRA, Maria Clara. Pisa 2018: o Brasil está na turma do fundão. De novo. Revista Veja. Editora Abril.3 dez 2019. Disponível em:< https://veja.abril.com.br/educaca o/pisa-2018-o-brasil-esta-na-turma- do-fundao-de-novo/ 2019. ● MOREIRA, Marco Antônio. Ensino de Física no Brasil: retrospectiva e perspectivas. Revista Brasileira de Ensino de Física. Vol 22 no 1 mar 2000. ● CADOSSINA, ALESSANDRA DE SOUZA. A EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE CIÊNCIAS: importância das aulas práticas no processo de ensino aprendizagem, 2013. Disponivel em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br /jspui/bitstream/1/4718/1/MD_EDU MTE_II_2012_20.pdf> Acesso em, 09 dez. 2019. ● ALVES, EDILENE MORAIS. A EXPERIMENTAÇÃO COMO METODOLOGIA FACILITADORA DA ● APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS, 2014. Disponivel em: <http://www.diaadiaeducacao.pr. gov.br/portals/cadernospde/pdeb usca/producoes_pde/2014/2014_u enp_cien_artigo_edilene_alves_mo rais.pdf> Acesso em, 10 dez. 2019. 6 http://www.ijhssnet.com/journals/Vol_1_No_19_December_2011/28.pdf http://www.ijhssnet.com/journals/Vol_1_No_19_December_2011/28.pdf http://www.ijhssnet.com/journals/Vol_1_No_19_December_2011/28.pdf http://www.ijhssnet.com/journals/Vol_1_No_19_December_2011/28.pdf https://veja.abril.com.br/educacao/pisa-2018-o-brasil-esta-na-turma-do-fundao-de-novo/ https://veja.abril.com.br/educacao/pisa-2018-o-brasil-esta-na-turma-do-fundao-de-novo/ https://veja.abril.com.br/educacao/pisa-2018-o-brasil-esta-na-turma-do-fundao-de-novo/ https://veja.abril.com.br/educacao/pisa-2018-o-brasil-esta-na-turma-do-fundao-de-novo/ http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4718/1/MD_EDUMTE_II_2012_20.pdf http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4718/1/MD_EDUMTE_II_2012_20.pdf http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4718/1/MD_EDUMTE_II_2012_20.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_edilene_alves_morais.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_edilene_alves_morais.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_edilene_alves_morais.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_edilene_alves_morais.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_edilene_alves_morais.pdf
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