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Mikaelle Teixeira Mendes – MED 33 Ginecologia e Obstetrícia Mamas Anatomia: • Limites � fica na parte ântero-superior do tórax, sobre os músculos peitorais, na altura dos 3° e 4° arcos costais, entre a linha para-esternal e a linha axilar • Embriologia � vem do espessamento da epiderme (crista mamária), no embrião de 7 semanas o Remanescentes de brotos mamários: podem até secretar leite • Estrutura morfológica � pele + tecido celular subcutâneo (estroma) + parênquima epitelial + glândulas + tecido adiposo o Parênquima epitelial: formado por 20 ou mais lobos, que se subdividem em lóbulos (unidade funcional), que são formados por ácinos (produz as proteínas do leite) Exame clínico: • Anamnese: o Antecedentes pessoais � telarca o Antecedentes familiares � CA de mama • Sinais e sintomas: os 3 principais são relacionados a mastopatias: 1. Nódulo mamário: • Queixa mais frequente em relação às mamas • Deve-se investigar: o Localização (uni ou bilateral) o Crescimento (rápido, progressivo, estacionário) o Relação com o CM o Consistência, mobilidade e sensibilidade 2. Dor: • Mastalgia • Periodicidade � relação com o CM • Relação com movimentos torácicos ou dos MMSS o Indica alterações nos músculos, ossos, cartilagens 3. Secreção/ derrame papilar: • Se é espontâneo; uni ou bilateral • Relação com o CM • Se apareceu na gestação, aborto ou lactação • Antecedentes de amenorréia • Antecedentes de traumatismos/cirurgias sobre a mama • Uso de medicamentos Exame físico: O exame físico das mamas tem as seguintes etapas: 1. Inspeção estática 2. Inspeção dinâmica 3. Palpação: total � por quadrante � palpação digital 4. Expressão papilar 5. Palpação dos linfonodos à Inspeção estática: • Posicionamento: paciente sentada, com os membros superiores paralelos ao tronco. Examinador à frente, palpando cada mama com a mão contralateral; o braço ipsilateral é usado para levantar o braço da paciente. • Devem ser pesquisados: o Pele o Volume, forma, contorno e simetria o Aréolas (investigam-se abaulamentos, retrações, edema e soluções de continuidade) o Aspecto da papila o Presença de abaulamentos ou retrações o Circulação venosa e presença de sinais flogísticos (edema e rubor). o A pele pode conter poros anormalmente dilatados, indicando edema da pele; esse achado é conhecido como pele em casca de laranja e é um sinal clínico de malignidade. à Inspeção dinâmica: • Manobras adotadas: I. Solicitar que o paciente levante os braços, para aumentar a tensão dos ligamentos de Cooper; II. Contração dos músculos peitorais • Devem ser pesquisados: visa-se acentuar eventuais achados, pouco visíveis ou não vistos na inspeção estática. Os principais achados são: retração da pele, retração e/ou desvio de papila e abaulamentos. Em caso de câncer, pode-se constatar uma redução ou mesmo ausência de mobilidade da mama, o que indica adesão aos planos profundos (fáscia peitoral e gradil costal). à Palpação: atenção especial às áreas com alguma alteração percebidas à inspeção. • Posicionamento: paciente deitada com as mãos atrás da cabeça e os braços bem abertos. Deve-se adotar a seguinte sistematização: região subareolar � paraesternal � infraclavicular � axilar • Semiotécnica: o Palpação total: a fim de pesquisar alterações mais grosseiras da mama, como alterações de simetria, sensibilidade etc; o Palpação por quadrante: para delimitar melhor o Manobra de Bloodgood: palpação digital da mama, semelhante a “tocar piano” sobre o parênquima mamário. • Devem ser pesquisados: volume do panículo adiposo e seu possível comprometimento (neoplasia, inflamação), quantidade de parênquima mamário e eventuais alterações, elasticidade da papila, presença de secreção papilar, temperatura da pele sobrejacente. Alterações que podem estar presentes são as condensações (estrutura de consistência bem firme em relação ao parênquima circunjacente, o nódulo dominante) e os nódulos. Mikaelle Teixeira Mendes – MED 33 ↪ Quanto a esses nódulos e massas palpáveis, devem ser pesquisados: limites, consistência, mobilidade, fixação nas estruturas circunjacentes e diâmetro. Caracterização das principais massas e nódulos mamários: a. Cistos: ocorrem mais cedo (30-60 anos), regridem após a menopausa (exceto se for feita terapia hormonal), são únicos ou múltiplos, arredondados, geralmente elásticos, bem delimitados, móveis, sensíveis à palpação e sem sinais de retração; b. Fibroadenomas: “tumor benigno”, ocorrem da puberdade ate os 55 anos, são geralmente únicos, arredondados ou lobulares, bem delimitados, firmes, móveis, indolores e sem sinais de retração; c. Câncer: ocorre dos 30 aos 90 anos (+ em meia idade e idosas), são geralmente únicos, irregulares, mal delimitados, firmes e duros, fixos à pele e tecidos adjacentes, indolores e podem ter sinais de retração. OBS: durante o período menstrual, é normal encontrar certa irregularidade à palpação; OBS²: No período pré-menstrual, as mamas podem sofrer aumento de volume e sensibilidade. Há, também, aumento da modularidade. Descrição de nódulos mamários: • Localização/Limites: QSE, QSI, QIE, QII, região sub-areolar (no mamilo), limites imprecisos ou irregulares o Podem estar na intersecção de 2 quadrantes o Raio � medido de acordo com as horas (relógio) o Distância do mamilo � medido em cm • Diâmetro: orientar o estadiamento o Calcular pelas polpas digitais, em cm o Ex.: nódulo localizado no QSI da mama E, no raio de 11h, a 4cm do mamilo, medindo 1 cm • Consistência: firme/elástica ou dura o Obs.: duro, fixo e irregular = malignidade • Mobilidade: ampla, diminuída ou ausente à Expressão papilar: • Semiotécnica: Realizar delicada pressão ao nível da aréola e papila. Qualquer secreção deve ser analisada, desde que a paciente não esteja gravida ou lactante. Quanto à secreção, deve-se investigar se ela é proveniente de um único conduto ou vários, se o óstio ductal é periférico (ducto superficial) ou central (ducto profundo), a localização, aspecto da secreção (sanguíneo, seroso, claro, purulento, leitoso ou semelhante ao colostro, pastoso, esverdeado ou acastanhado). # O que perguntar na anamnese? caráter (espontâneo, recorrente ou intermitente), localização (uni ou bilateral), relação com o ciclo menstrual (nem sempre está relacionada), relação com eventos toco-ginecológicos (gestação, abortamento ou lactação recente, antecedentes de amenorreia), antecedentes de traumatismo, intervenção cirúrgica ou estímulos locais, uso de medicamentos (ex. anovulatórios, clorpromozina, fenotiazina, reserpina, sulpiride e metildopa). OBS: A galactorreia é a secreção de leite ou colostro fora do ciclo gravídico-puerperal. Pode surgir espontaneamente ou à expressão papilar; pode ser provocada por medicamentos (ex. opioides, antidepressivos tricíclicos, metoclopramida, verapamil, fenotiazina, alfametildopa, isoniazida, estrogênios, sulpirida e butirofenonas). ↪ Quando relacionada à amenorreia, obriga à investigação de possíveis neoplasias hipofisárias produtoras de prolactina. à Palpação dos linfonodos: • Posicionamento: paciente sentada em frente ao examinador. As fossas supraclaviculares e a axila são palpadas com as pontas dos dedos; • Dados a serem investigados: localização, numero, maior diâmetro transverso, consistência, coalescência e fixação a estruturas vizinhas. ↪ Linfonodos axilares aumentados indicam infecção das mãos ou braços, pode fazer parte da linfadenopatia generalizada ou levantam suspeita para câncer de mama. Câncer de mama: à Epidemiologia: � Câncer mais comum entre as mulheres (após pele não melanoma) � principal causa de morbimortalidade oncológica entre elas ↪ A chance de uma mulher saudável ter câncer de mama durante a vida é de 12 a 13%; ↪ Risco estimado de 56 casos a cada 100mil mulheres (depende do acesso à saúde de cada região do país � Representa29% dos novos casos a cada ano; � Estimativa de novos casos 2018/19: 59.700 (INCA) – mais de 12.000 mortes em 2016; � Mais de 30% dos tumores é descoberto já em estágio avançado, o que diminui a chance de cura (diagnóstico precoce �95% as chances de cura); � Um tumor leva, em média, 10 anos para alcançar 1,0 cm, porém dobra de tamanho a cada 6 meses; � Raro entre homens. à Fatores de risco: o Modificáveis: � Obesidade (risco proporcional ao IMC [>22,5kg/m²]) � Dieta com alta ingestão de gordura; � Sedentarismo (recomendado 150min/ semana/ moderada e 60 a 70min/semana/rigorosa); � Alcoolismo (�estrógeno e atv da aromatase); � Uso de anticoncepcionais (levíssimo aumento de risco de CA de mama) � �risco de CA de ovário, endométrio e colorretal; � Terapia de reposição hormonal � Exposição à radiação (irradiação torácica <20 anos); o Não modificáveis: � Idade (+ em >50a e raro <35a) e sexo feminino (99%); � Mulheres brancas não hispânicas e negras; � História familiar: Parentes 1º grau <50 anos; CA ovário; CA mama bilateral; CA em homens; mutações genéticas; judeus Ashkenazi; � Atipias (HDA; HLA) �4x e carcinoma insitu �8x (CDIS); � Mutações genéticas de alta penetrância: BRCA1 (�55-65%); BRCA2 (�45-47%); TP53; PTEN; STK11; CDH1; o Fatores reprodutivos e hormonais: >tempo de exposição ao estrogênio � Menarca precoce � Menopausa tardia � Primeira gravidez >30 anos (primípara idosa) � Nuliparidade � Características do ciclo (ciclo curto � menstrua mais) � Não amamentar (modificável) Mikaelle Teixeira Mendes – MED 33 à Clínica: Nódulo palpável Assimetria Retração papilar Aumento de vascularização Abaulamento Endurecimento da mama Retração cutânea Ulceração Hiperemia cutânea Descarga papilar Edema cutâneo (casca de laranja) Sangramento à Rastreamento: • Princípios básicos para rastreamento populacional da OMS: � A doença deve ser um problema de saúde importante; � Deve haver tratamento para a doença; � Deve haver locais disponíveis para diagnóstico e tratamento; � A doença deve ter um estágio latente; � Exame deve ser aceitável para a população; � História natural da doença deve ser adequadamente compreendida; � Deve haver consenso sobre quem deve ser tratado; � Custo de encontrar um caso deve ser considerado em relação ao gasto médico total. • Rastreamento: a meta da OMS é rastrear 70% da população alvo, no Brasil, em 2017, só 24% passaram pelo rastreamento. o Mamografia de rastreamento: pacientes assintomáticas; o Mamografia diagnóstica: pacientes que tem sinais e sintomas Risco habitual: Diretrizes do INCA/MS: ↪ Método: mamografia ↪ População: mulheres 50-69 anos*; ↪ Frequência: bienal*; ↪ Exame clínico: anual >40 anos (pode detectar tumor >1cm) Diretrizes SBM/ CBR/ FEBRASGO: ↪ Método: mamografia (preferencialmente digital) ↪ População: mulheres 40-74 anos; ↪ Frequência: anual; ↪ USG: mamas densas � adjunta mamografia ↪ >75 anos: avaliar expectativa de vida (>7 anos) ↪ Não há recomendação para uso geral da USG em mulheres com risco habitual. Alto risco: o Mutação BRCA1/ BRCA2/ parentes de 1º grau com mutação comprovada (Angelina Jolie): ↪ MMG (a partir de 30 anos) + RMN anual a partir de 25 anos o Mulheres com risco ao longo da vida >20%: modelo de Gail, Tyrer Cuzick e BRCApro; ↪ MMG (>30 anos) + RMN (>25) anual 10 anos antes do diagnóstico da parente mais jovem o Mulheres com irradiação torácica entre 10 e 30 anos: ↪ MMG (>30a) + RMN (>25) anual 8 anos após o tratamento o Mutação com história pessoal de: HLA, CLIS, HDA, CDIS ou carcinoma invasor (biópsias com essas alterações) ↪ MMG (>30a) + RMN (>25) anual a partir do diagnóstico o Mulheres com diagnóstico de síndromes genéticas (Li- Fraumeni [TP53], Cowden [PTEN] e outras) ou parentes de 1º grau acometidos ↪ MMG (>30) + RMN (>25) anual a partir do diagnóstico ǃ Há estudos que demonstram que a combinação MMG + RMN conferem maior sensibilidade e acurácia; ǃ USG: deve ser utilizada como substituta a RMN para mulheres que não puderem realiza-la; ǃ INCA/MS: exame clínico anual + MMG anual >35 anos. o Descrição de nódulo mamário deve abordar: � Delimitação (bem circunscritos, irregulares); � Consistência (amolecida, elástica, firme, dura) � Mobilidade (com referencia a pele e tecidos subjacentes) à BI-Rads: é uma padronização da descrição das imagens de MMG, USG e RMN, classificadas de 0 a 6. à Diagnóstico: detalhes incompletos; • Ultrassonografia: o Usada pra classificação de BIRADS US que classifica o potencial de malignidade; o Gás e gordura não são bons meios para propagação do som, logo, mamas grandes serão de difícil avaliação; o Visualização de nódulos císticos (conteúdo líquido) e sólidos que dão a característica do potencial de malignidade o Os nódulos císticos, em sua maioria, na mama têm baixo potencial de malignidade, porém existem alguns fatores que podem indicar esse potencial ↪ Maior eixo contrário ao plano tangencial de superfície da pele � cistos simples: conteúdo anecóico, homogêneo, paredes lisas e bem definidas � benigno � cistos complexos: podem apresentar septos, vegetações � potencial de malignidade � cistos mistos: presença de vegetações em seu interior � mistura de materiais líquidos e sólidos • Biópsia: o Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) � é um procedimento não cirúrgico em que se utiliza uma agulha para recolher amostras de células do nódulo mamário, com uma agulha simples em movimentos de “vai e vem” ↪ Não identifica o tipo de carcinoma Autoexame não é estratégia de rastreamento e USG é um método complementar Mikaelle Teixeira Mendes – MED 33 o Biópsia com agulha grossa: � Core biópsia � extraída sem procedimento cirúrgico. A posição da agulha de biopsia poderá ser guiada por mamografia digital estereotáxica ou ultrassom. De forma oposta à PAAF, o material colhido na core é submetido a análise histológica, permitindo a diferenciação in situ, invasiva e a realização de imunohistoquímica. Usado em lesões impalpáveis (menores que 1cm). Anestesia. � Biopsia a vácuo (mamotomia) � agulha acoplada a um sistema a vácuo que possui corte rotatório, conectado a uma cânula que permite a sucção do tecido mamário. Agulha mais grossa que a usada na core biopsia e o procedimento requer anestesia local. o Biopsia cirúrgica: raramente em CA mama � Incisional; � Excisional: sob anestesia local e incisão periareolar, sempre que possível, com retirada da área de tecido mamário ao redor do gancho (para identificação do tipo do tumor à Estadiamento: novo, da AJCC (8ª edição de 2018) • Estadiamento anatômico (TNM): • Estadiamento prognóstico clinico: TNM e resultado da biopsia • Estadiamento prognóstico patológico: considera o resultado histopatológico após a cirurgia (sem terapia neoadjuvante) à Tratamento: O tratamento do câncer de mama, à exceção de alguns casos iniciais, é realizado de forma multidisciplinar, englobando a cirurgia, radioterapia, quimioterapia antineoplásica, endocrinoterapia e, em muitos casos, a psicoterapia o Cirurgia � todos (M0): A cirurgia consiste na retirada da lesão neoplásica e no restante da mama, incluindo, na maioria das vezes, a retirada de linfonodos axilares (esvaziamento axilar). A retirada da mama e dos linfonodos axilares consiste na mastectoma radical. Existe ainda quadrantectomia. ↪ Mama (conservadora ou mastectomia) ↪ Axila (só faz linfadenectomia axilar se for + por punção aspirativa ou core biópsia) o Radioterapia � a radioterapia do câncer de mama está geralmente associada aos demais procedimentos terapêuticos, estando indicada após a cirurgia conservadora da mama (5000 cGy em cinco semanas). Está indicada também nos casos avançados, com finalidade paliativa e antálgica, e nas metástases ósseas e cerebrais.o Quimioterapia � TN, HER2+, doença avançada ↪ Adjuvante, neoadjuvante e antineoplásica o Hormonioterapia � (RH+) pode ser ablativa ou aditiva, adjuvante ou para tratamento de doença metastática. É indicada principalmente para aqueles tumores que ainda apresentam receptores de estrógeno e progesterona (avaliados pela imunohistoquímica), isto é, receptores hormonais positivos. o Tratamento por anti-corpos monoclonais: 20% dos casos de câncer de mama apresentam células neoplásicas que expressam uma proteína de membrana que serve como um sinalizador tumoral denominado cerbB2. Esta proteína, quando presente, sinaliza ao núcleo um estímulo de replicação celular, o que significa que, pacientes que expressam esta proteína têm uma tendência maior ao crescimento do tumor. Hoje em dia, são disponibilizados tratamentos com anticorpos monoclonais que agem sobre essas proteínas e diminuem a sua expressão, melhorando o prognóstico desses pacientes. Há também medicamentos como o avastrim que age sobre a angiogênese, diminuindo a formação de novos vasos no local da lesão neoplásica. OBS: Tratamento da doença localmente avançada: � Tumores operáveis: mastectomia com esvaziamento axilar para depois fazer uso de quimioterapia adjuvante. � Tumores inoperáveis: quimioterapia neoadjuvante e, só depois, a cirurgia .
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