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#costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 1 Fontes: Resumo da Magistratura Federal do TRF1 e Manual de Direito Ambiental do Frederico Amado de 2017, conjugado com meus conhecimentos e atualizações jurisprudenciais do Buscador Dizer o Direito. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS........................................................................ 1 1. FEDERALISMO DE COOPERAÇÃO ....................................................................................... 1 2. COMPETÊNCIAS MATERIAIS .............................................................................................. 2 2.1. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO........................................................................................... 3 2.2. COMPETÊNCIAS MATERIAIS DOS ESTADOS .................................................................................... 5 2.3. COMPETÊNCIAS MATERIAIS DOS MUNICÍPIOS – SUPLETIVA ............................................................... 5 3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS .......................................................................................... 5 3.1. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DOS ESTADOS .................................................................................... 5 3.2. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DOS MUNICÍPIOS ................................................................................ 5 4. LEI COMPLEMENTAR 140/2011 – REGULAMENTAÇÃO DA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM MATÉRIA AMBIENTAL ............................................................. 8 4.1. ESTRUTURA DA LC 140 ............................................................................................................ 9 4.2. COMPETÊNCIA DA UNIÃO ....................................................................................................... 10 4.3. COMPETÊNCIA DOS ESTADOS ................................................................................................... 12 4.4. COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS .............................................................................................. 12 4.5. COMPETÊNCIA DO DISTRITO FEDERAL ........................................................................................ 13 4.6. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES .................................................................................................. 13 4.7. OUTROS DESTAQUES DO CAPÍTULO ........................................................................................... 14 4.8. DISPOSIÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 15 4.9. CRITÉRIOS DEFINIDOS PELO STF PARA FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA AMBIENTAL (ANTES DA LC 140, MAS AINDA VÁLIDAS) 15 4.10. PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI EM RELAÇÃO AO REGIME ANTERIOR ......................... 16 4.11. MAIORES MÉRITOS DA LC 140: ........................................................................................... 20 5. QUADRO DE COMPETÊNCIAS EM ÂMBITO JUDICIAL ....................................................... 20 6. JURISPRUDÊNCIAS DO DIZER O DIREITO ......................................................................... 22 Observação: quando formos tratar de licenciamento ambiental eu irei falar novamente sobre a LC 140, inclusive repetir o que já foi dito aqui em relação às competências administrativas previstas na LC 1. Federalismo de cooperação O Brasil adotou um federalismo de cooperação tricotômico (União, Estados/DF e Municípios), conforme o artigo 18, tratando-se de núcleo intangível (cláusula pétrea). As competências materiais previstas foram exclusivas e comuns, e legislativas foram privativas e concorrente. Em que pese inexistir hierarquia entre os entes, sendo todos autônomos, a União concentrou em suas mãos a maioria das competências legislativas e administrativas. Em regra, a técnica utilizada pelo constituinte consiste na enumeração das competências da União e dos Municípios, deixando as remanescentes aos Estados e Distrito Federal (competência residual). #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 2 O que norteia a repartição de competências é a predominância do interesse, segundo o qual caberá à União aquelas matérias de predominante interesse geral, nacional ou regional (quando ultrapassem mais de um Estado), ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de predominante interesse regional (rectius: estadual), e aos Municípios os predominantes interesses locais. A Constituição brasileira, à semelhança do sistema alemão, adota um sistema complexo que busca realizar o equilíbrio federativo, por meio de uma repartição de competências que se fundamenta na técnica da enumeração dos poderes da União (artigos 21 e 22), com poderes remanescentes para os Estados (art. 25, § 1º) e poderes definidos indicativamente para os Municípios (artigo 30). 2. Competências materiais Competência material é a competência administrativa propriamente dita, que atribui a uma esfera de poder o direito de fiscalizar e impor sanções em caso de descumprimento da lei. Em matéria ambiental, a todas as entidades políticas compete proteger o meio ambiente, sendo uma atribuição administrativa comum, prevista de maneira detalhada no artigo 23 da CF. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural; VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios. Parágrafo único. Lei complementar fixará normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. A referida Lei Complementar citada no parágrafo único do artigo 23 foi editada em 2011, tratando-se da LC 140/2011, e fixa as normas para cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas (materiais) decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. As competências comuns ambientais devem ser reguladas por lei complementar, sendo considerada pelo STF inconstitucional norma estadual que transfere competência aos municípios, por se tratar de dever irrenunciável do Estado membro da federação, que não poderá se demitir do seu dever constitucional, sobrecarregando, indevidamente, os municípios, devendo ter uma ação conjunta. Conforme a lei complementar mencionada, o artigo 3º dispõe sobre objetivos, dentre os quais uma gestão descentralizada e harmonização das políticas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuição. As entidades políticas poderão se valer dos instrumentos de cooperação administrativa previstos na LC 140/2011, para atuar conjuntamente na proteção ambiental, como os consórcios públicos, os convênios, e os acordos de cooperação técnica, que podem ser #costurandoatoga DireitoAmbiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 3 firmados por prazo indeterminado, entre outros previstos na legislação ambiental. Vimos essa matéria em direito administrativo: é só ir lá no site e verificar a natureza de cada um desses institutos e suas características. Os consórcios públicos são contratos celebrados pelas entidades políticas a fim de realizar os seus objetivos de interesse comum, como a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Os convênios são ajustes celebrados entre pessoas jurídicas de direito público ou entre estas e particulares, visando realizar o interesse público, por meio de interesses convergentes, não criando novas pessoas jurídicas, sendo bastante similares aos acordos de cooperação técnica. Há ainda fundos públicos e privados, como o Fundo Nacional do Meio Ambiente, que objetiva desenvolver os projetos que visem ao uso racional e sustentável de recursos naturais, incluindo a manutenção, melhoria ou recuperação da qualidade ambiental no sentido de elevar a qualidade de vida da população brasileira. Ainda, como regra geral, as pessoas políticas PODERÃO DELEGAR as suas atribuições ambientais a outras, ou a mera execução de ações administrativas, por meio de convênios, desde que o ente destinatário disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas e de Conselho de Meio Ambiente, assim considerado aquele que possui técnicos próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das ações administrativas a serem delegadas. Ainda, a lei previu Comissões que possuem poderes para deliberar sobre a competência para a promoção do licenciamento ambiental, em hipóteses previstas na LC 140/2011, também arroladas como instrumento de cooperação institucional. São elas: Comissão Tripartite Nacional: formada paritariamente por representantes do Executivo da União, dos Estados e DF e dos Municípios. Comissões Tripartites Estaduais: formada paritariamente por representantes do Executivo da União, dos Estados e dos Municípios. Comissão Bipartite do Distrito Federal: formada paritariamente por representantes da União e do Distrito Federal. Em relação à LC 140/2011, suas disposições serão aplicadas tão somente aos processos de licenciamento e autorização ambiental iniciados a partir da sua vigência, não tendo eficácia retroativa. 2.1. Competência exclusiva da União A Constituição Federal, artigo 21, incisos IX, XVIII, XIX, XX e XXIII traz as competências materiais exclusivas da União. Percebam que essas competências sempre falam em planos regionais, diretrizes, sistema nacional, e todo assunto sobre energia nuclear. Art. 21. Compete à União: IX – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; XV – organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX – instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 4 XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; XXII – executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional; b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas; c) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa. XXV – estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. Os recursos minerais pertencem à União, e não ao proprietário do solo, cabendo, portanto, à administração federal, autorizar a sua exploração. O mesmo pode ser sustentado em relação à pesquisa e à lavra das jazidas de petróleo. Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra. § 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. § 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei. § 3º - A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente. § 4º - Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial de energia renovável de capacidade reduzida. Art. 177. Constituem monopólio da União: I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal. § 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei. Com relação às atividades nucleares, pela importância e gravidade da matéria, pelos riscos decorrentes da má administração e pela responsabilidade do Brasil, não apenas para com os seus cidadãos, mas também com os demais Estados, a União exerce o monopólio da sua exploração. #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 5 2.2. Competências materiais dos Estados Deixando aos Estados a matéria remanescente, a CF tornou de menor interesse a competência material privativa das unidades da Federação. Nos termos do art.25, § 2º, da CF/88: Art. 25 § 1º. São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 2º. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. Cumpre observar, porém, que os Estados têm competência material para agir administrativamente, mesmo nos casos em que a legislação tenha sido editada pela União ou por Municípios. 2.3. Competências materiais dos municípios – supletiva A competência administrativa dos Municípios em matéria ambiental apresenta-se de forma reduzida ou de forma difusa (“interesse local”). Exemplo de fiscalização privativa seria um bem tombado de interesse histórico exclusivo do Município. Ademais, os Municípios também são proprietários de bens ambientais (como parques e praças), pelo que podem (e devem) criar guardas ambientais destinadas a zelar por eles. 3. Competências legislativas A CF atribuiu competência legislativa concorrente sobre assunto do meio ambiente. Assim, todas as entidades políticas têm competência para legislar concorrentemente sobre meio ambiente, cabendo à União editar normas gerais, a serem especificadas pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, de acordo com interesse regional e local, respectivamente, conforme o artigo 24 da Constituição Federal. Na competência concorrente, se a União não editar a norma geral, os Estados e DF poderão fazê-lo de maneira suplementar, exercendo a competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades, por expressa autorização do §3º do artigo 24 da CF, sendo que a ulterior edição de norma geral pela União terá o condão de suspender a eficácia (e não invalidar) a lei estadual no que lhe for contrária. 3.1. Competência legislativa dos estados Os Estados e o Distrito Federal legislam concorrentemente sobre as matérias consignadas no já transcrito art. 24 da CF. Tais entes federados não possuem competência enumerada, sendo identificada por exclusão – quando não for privativa na União e dos Municípios – ou por se tratar de competência concorrente – quando possuir competência em conjunto com a União. As normas gerais da União limitam-se a estabelecer postulados fundamentais. Não podem, em tese, especificar situações que, por sua natureza, são campo reservado aos Estados- membros, perpassando o escopo de coordenação e uniformização. É concorrente, por exemplo, a competência para legislar sobre florestas. O Código Florestal passou a ser considerado norma geral depois da vigência da CF/88. Seus dispositivos, a partir de então, foram elevados à condição de princípios gerais obrigatórios, podendo os Estados legislar sobre florestas até onde não exista confronto com as regras genéricas. 3.2. Competência legislativa dos municípios No que concerne à competência dos municípios para legislar sobre direito ambiental, sua competência não decorre da competência concorrente do artigo 24, mas sim do artigo 30, I e II #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 6 da CF, cabendo a eles legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação estadual e federal no que couber. Trata-se da competência suplementar supletiva. Poderia se afirmar que os municípios não possuem a faculdade de editar normas relacionadas ao meio ambiente, tendo em vista o que dispõe o inciso IX do artigo 30. Contudo, predomina na doutrina o entendimento de que os municípios também detêm competência no que se refere à matéria ambiental. A base constitucional para a elaboração da lei municipal encontra-se no art. 30, I e II da Carta Magna. Embora o inciso I não seja específico para o meio ambiente, a matéria encontra-se nele incluída, conforme se observa na expressão “assuntos de interesse local”. Igualmente, pode-se verificar, a partir do inciso II, a possibilidade de o Município suplementar, no que couber, a legislação federal e estadual. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...) IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. A matéria está disciplinada no § 2º do art. 6º da Lei nº 6.938/81, que subordina a legislação municipal sobre o meio ambiente aos preceitos contidos nas leis estaduais existentes. Art. 6º § 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA. § 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. Quando, não obstante existentes os interesses nacional e estadual, não houver legislação editada por tais entes, os Municípios podem livremente atuar no campo do interesse local. Existindo leis estaduais e federais, porém, há nítida inconstitucionalidade da lei municipal se for mais concessiva que aquelas. Sendo, no entanto, mais restritiva, ela em nada afronta os textos dos demais entes políticos. O Ministério do Meio Ambiente elaborou um roteiro básico elencando matérias que considera incluídas entre os “assuntos de interesse local”, passíveis de tratamento por lei municipal: a) licenciamento ambiental; 2) plano diretor do Município; 3) lei do uso e ocupação do solo; 4) Código de Obras; 5) Código de posturas municipais; 6) legislação tributária municipal; g) Lei do orçamento do município. Em suma: À União cabe a fixação de pisos mínimos de proteção ao meio ambiente, enquanto aos Estados, DF e Municípios, atendendo aos interesses regionais e locais, a de um “teto” de proteção. Assim, em regra, os Estados, DF e Municípios JAMAIS PODERÃO LEGISLAR DE MODO A OFERECER MENOS PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DO QUE A UNIÃO, nas normas que forem nacionais, e não nas federais. Assim, de acordo com o STJ, aos municípios cumpre a observância das normas editadas pela União e pelos Estados, como as referentes à proteção das paisagens naturais notáveis e ao meio ambiente, não podendo contrariá-las, mas legislar tão somente em circunstâncias remanescentes. O mesmo pode-se dizer do STF. Ainda, em relação aos Estados, o STF diz que “o espaço de possibilidade de regramento pela legislação estadual, em casos de competência concorrente, abre-se: (1) toda vez que não haja #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 7 legislação federal, quando então, mesmo sobre princípios gerais, poderá a legislação federal dispor; (2) quando, existente legislação federal, que fixe os princípios gerais, caiba complementação ou suplementação para o preenchimento de lacunas, para aquilo que não corresponda à generalidade; ou ainda, para definição de peculiaridades regionais. Recentemente o STF confirmou a competência municipal e do DF para legislar sobre a ocupação e parcelamento do solo urbano, admitindo a validade dos loteamentos fechados. Asseverou que nem toda matéria urbanística relativa às formas de parcelamento, ao uso ou à ocupação do solo deveria estar inteiramente regrada no plano diretor. Enfatizou que determinados modos de aproveitamento do solo urbano, pelas suas singularidades, poderiam receber disciplina jurídica autônoma, desde que compatível com o plano diretor. Ainda, o STF decidiu que é válida lei que controle a poluição de veículo, de modo que Municípios podem criar leis que apliquem multas aos proprietários de carros que emitam fumaça acima dos padrões aceitáveis. No que concerne ao meio ambiente do trabalho, o STF se manifestouno sentido de que o meio ambiente do trabalho está fora da competência legislativa concorrente, muito menos a ponto de chegar-se à fiscalização do local por autoridade estadual, com imposição de multa. Ainda, o STF considerou inconstitucional lei Estadual sobre transgênicos, que mandou observar a legislação federal em matéria de sua competência, o que importou em quebra da autonomia estadual. A regra é que os entes federativos tratem sobre assuntos de sua esfera legiferante. Assim, em caso de conflito entre leis de diferentes esferas, caso não seja a hipótese de aplicabilidade do Princípio da Especialidade, será solucionado pela delimitação pontual do que é considerado como norma geral sobre meio ambiente e o que é disposição que verse sobre peculiaridades regionais ou locais. A regra geral é que os Municípios e Estados-membros podem ampliar a proteção, estabelecendo novas restrições e condições ao exercício da atividade, bem como regras de segurança e fiscalização mais exigentes, desde que não sejam incompatíveis com a norma geral. O que se deve observar, portanto, caso a caso, é se as normas gerais editadas pela União dão margem (liberdade) para que os Municípios e Estados-membros possam prever um tratamento mais rigoroso. Uma coisa, no entanto, é certa: os Municípios e Estados-membros não têm competência legislativa para proibir uma atividade que foi expressamente autorizada pela norma geral da União. Nesse sentido, é importante trazer à baila o julgamento sobre a extração do amianto, recentemente realizado pelo STF. Havia uma lei federal que autorizava o uso de amianto, e várias leis Estaduais mais restritivas, proibindo o uso. Ocorre que STF considerou que o art. 2º da Lei nº 9.055/95 não é, atualmente, compatível com a CF/88. Nos dias atuais, existe um consenso científico dos órgãos nacionais e internacionais de proteção à saúde geral e saúde do trabalhador no sentido de que a crisotila (espécie de amianto permitida pelo art. 2º da Lei nº 9.055/95) é altamente cancerígena, não se podendo falar que exista a possibilidade de seu uso seguro. Dessa forma, pode-se dizer que o art. 2º da Lei federal nº 9.055/1995 passou por um processo de inconstitucionalização e, no momento atual, não mais se compatibiliza com a Constituição de 1988. Algumas vezes pode acontecer de uma lei que antes era reconhecida como constitucional agora ser considerada incompatível com a Constituição As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais. O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de amianto), é inconstitucional. Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº 9.055/95, por #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 8 ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88). Com isso, é proibida a utilização de qualquer forma de amianto. STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/8/2017 (Info 874). STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886). Excepcionalmente, no que concerne às águas, energias, jazidas, minas e outros recursos minerais, bem como atividades nucleares de qualquer natureza, cabe privativamente à União legislar sobre o assunto. Em relação às águas os Estados e o Distrito Federal têm competência para legislar sobre o gerenciamento de suas águas, pois precisam regular seu uso, podendo editar leis que disponham sobre o poder de polícia sobre os seus recursos hídricos. Em síntese: 4. Lei complementar 140/2011 – Regulamentação da repartição de competências administrativas em matéria ambiental A Lei Complementar 140, consagrando o federalismo cooperativo, em atendimento ao disposto no parágrafo único do art. 23 da CF/88, veio fixar normas, para ações administrativas #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 9 decorrentes do exercício da competência comum de todos os entes da federação, relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora (são alguns dos incisos do art. 23 que tratam de matéria ambiental). Há muito essa Lei era esperada, justamente por ser o tema certamente o mais controvertido e gerador de conflitos no Dir. ambiental, pelas razões já expostas no início do resumo. Importante ressaltar que referida LC está sendo impugnada por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF – ADI 4757 – proposta em abril de 2012 e pendente de julgamento. Eis os principais argumentos da ADI: - A LC deveria apenas prever mecanismos de cooperação, nos termos do parágrafo único do art. 23 da CF, mas, ao invés, estabeleceu competências privativas, impedindo a atuação dos órgãos federais, que antes era irrestrita. - A segregação das atribuições seria tão grande que afetaria a própria competência comum. Assim, agride o art. 225, CF, que impõe que a proteção do meio ambiente é dever do Poder Público (o que abrangeria todos os entes). - Atribuem-se poderes normativos irrestritos à Comissão Tripartite, que poderá impor obrigações e deveres por meio de “proposição”, fixando direitos e deveres sem previsão legal, violando o art. 5º e inc. II e art. 37 da CF. A titularidade da ADI é da Associação dos Servidores do IBAMA. As atribuições do CONAMA foram reduzidas substancialmente, tendo esse Conselho perdido poder. Surge, assumindo parte de suas atribuições, a Comissão Tripartite Nacional. 4.1. Estrutura da LC 140 A Lei Complementar que disciplina a atuação dos entes federados é composta de 22 artigos e está divida em quatro capítulos: - Capítulo I: DISPOSIÇÕES GERAIS – trata da finalidade da Lei, de conceitos-chave e dos objetivos a serem perseguidos pelos entes federados na atuação administrativa relativa às questões ambientais; - Capítulo II: DOS INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO – disciplina os meios e institutos através dos quais se dará a cooperação entre União, Estados, DF e Municípios; - Capítulo III: DAS AÇÕES DE COOPERAÇÃO – fixa, principalmente, a competência de cada ente federado na atuação administrativa em matéria ambiental. - Capítulo IV: DISPOSIÇÕES FINAIS – basicamente traz regras de direito intertemporal para os processos de licenciamento em curso quando da entrada em vigor da lei e altera o art. 10 da Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – esse artigo era o que previa a atuação suplementar do IBAMA, sempre). II - DISPOSIÇÕES GERAIS a) Fundamentos da LC 140 (art. 1º): - proteger o meio ambiente; - proteger paisagens naturais notáveis; - combater a poluição; - preservar fauna e flora. #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 10 b) Objetivos da LC 140 (art. 3º): - promover gestão descentralizada, democrática e eficiente; - desenvolvimento sustentável, com ênfase na dignidade da pessoa humana, erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais; - harmonizar políticas e ações, evitando sobreposição de ações e conflitos de atribuições; - uniformizar política ambiental no país, respeitando peculiaridades regionais e locais. c) Conceitos trazidos pela LC 140 (art. 2º): I - LICENCIAMENTO AMBIENTAL: o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursosambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental; II - ATUAÇÃO SUPLETIVA: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar; III - ATUAÇÃO SUBSIDIÁRIA: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar. III - INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO São instrumentos de cooperação institucional: consórcios públicos, convênios, acordos de cooperação técnica, Comissões (Tripartites e Bipartite), fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos, delegação de atribuições e de ações administrativas de um ente a outro. Observações: - convênios podem ser firmados por tempo indeterminado, sendo exceção, portanto, à regra máxima de 60 meses estabelecida pela Lei 8.666/93; - a Comissão Tripartite Nacional e as Estaduais são formadas, paritariamente, por representantes das três esferas de poder; a do DF é Bipartite, já que este ente não se divide em Municípios. - só poderá haver delegação se o ente delegatário dispor de órgão ambiental capacitado e conselho de meio ambiente. Considera-se capacitado o órgão que possui técnicos em quantidade compatível com a demanda. IV - AÇÕES DE COOPERAÇÃO Nesse capítulo são descritas as diversas ações administrativas (competências) pertencentes aos diversos entes da Federação, tratando o art. 7º das atribuições da União, o 8º das do Estado e o 9º das dos Municípios. 4.2. Competência da União “(...) Em relação à competência da União, mais especificamente da sua Autarquia Federal com competência licenciatória (Ibama), a nova Lei dispensou qualquer outro requisito, além daqueles especificados nas alíneas do inciso XIV do art. 7º, acima transcrito. Diante disso, haverá competência do Ibama, caso a atividade ou empreendimento, a ser licenciado, localize-se ou se desenvolva conjuntamente no Brasil e em país limítrofe, no mar territorial, na plataforma #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 11 continental, na zona econômica exclusiva, em terra indígena, em 2 (dois) ou mais Estados, e em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Além da definição da competência federal, unicamente pela localização do empreendimento, haverá atribuição do Ibama para licenciar empreendimentos com características especiais, quais sejam, os de caráter militar, aqueles que manipulem materiais radiativos ou utilizem energia nuclear ou que atendam a tipologia, a ser estabelecida por ato do Poder Executivo, considerando critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento. Sobre esse último critério, que se pode dizer aberto, inexiste, até o presente momento, definição da tipologia utilizada, bem como se desconhece ter havido a formação da Comissão Tripartite Nacional, a quem competirá propô-la. Assim, não há que se falar ainda na utilização do referido dispositivo, enfatizando-se que, conforme definido na própria LC nº 140/2011. (http://jus.com.br/artigos/26147/divisao-de-competencia-entre-os-entes-federativos-para- emissao-de-licenciamento-ambiental#ixzz39AyZNNnI) Várias ações estão atribuídas à União, estando a maioria delas relacionadas, em nível nacional, à Política Nacional do Meio Ambiente, no que diz respeito ao planejamento, execução, diretrizes, orientação técnica, articulação entre os entes, conscientização pública, gestão de seus recursos ambientais, estudos, controles de âmbito nacional etc. 1) Promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades: a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva; c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados; f) de caráter militar, salvo os previstos no preparo e emprego das Forças Armadas g) os relativos à material radioativo ou energia nuclear; ou h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento (ou seja, licenciar o que for determinado por ato do Poder Executivo, por proposição da Comissão Tripartite Nacional). 2) aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: a) florestas públicas federais, terras devolutas federais ou unidades de conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e b) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pela União; http://jus.com.br/artigos/26147/divisao-de-competencia-entre-os-entes-federativos-para-emissao-de-licenciamento-ambiental#ixzz39AyZNNnI http://jus.com.br/artigos/26147/divisao-de-competencia-entre-os-entes-federativos-para-emissao-de-licenciamento-ambiental#ixzz39AyZNNnI #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 12 4.3. Competência dos Estados “(...) Analisados os termos de vigência da legislação recém editada, cumpre adentrar no seu mérito. Na citada Lei Complementar, estabeleceu-se a competência dos Estados de “promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º (inciso XIV do art. 8º). A regra atual, portanto, atribui aos órgãos ambientais dos Estados a competência para licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais. Excetuarão a competência licenciatória estadual as atividades que causem impactos meramente locais, em que a competência será dos órgãos municipais, e aquelas que possuam determinadas características especiais, seja em razão da sua localização, seja pelo caráter da atividade licenciada. Os casos, portanto, que atrairão competência da União ou dos Municípios, estão expressamente previstos nos arts. 7º (inciso XIV) e 9º (inciso XIV) da LC nº 140/2011 (...)”. (http://jus.com.br/artigos/26147/divisao-de-competencia-entre-os-entes-federativos-para- emissao-de-licenciamento-ambiental#ixzz39AvLXZVM) Basicamente, são dos Estados as mesmas competências da União, inclusive em relação à Política Nacional do Meio (exceto formular essa Política, que compete à União), só que em âmbito Estadual, e ainda formular, executar e fazer cumprir a Política Estadual do Meio Ambiente. A competência para licenciamento pelo Estado é RESIDUAL, cabendo-lhe aquilo que não for conferido à União ou ao Município (art. 8º, XIV), in verbis: Cabe, ainda, ao Estado: 1. Promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); 2. Aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: a) florestas públicas estaduais ou unidades de conservação do Estado, exceto em APAs; b) imóveis rurais, excetuados os casos conferidos à União c) atividades ou empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Estado; 4.4. Competênciados Municípios Basicamente, a competência é a mesma da União e Estados, só que em âmbito municipal, incluindo-se a formulação, execução e imposição da Política Municipal do Meio Ambiente e mais o seguinte: 1. Promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 13 b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); 2. Observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas na Lei Complementar, aprovar: a) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras em florestas públicas municipais e unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); e b) a supressão e o manejo de vegetação, de florestas e formações sucessoras em empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Município. 4.5. Competência do Distrito Federal Cabe ao DF exatamente as mesmas competências atribuídas aos Estados e Municípios. 4.6. Observações importantes 1. Para o licenciamento federal, há um critério geral, que é o da localização geográfica do empreendimento ou atividade (e não mais do impacto ambiental), e dois critérios suplementares: o da atividade (militar ou nuclear/radioativa) e o do ente instituidor da unidade de conservação – instituída pela União, o licenciamento é de competência desse ente (o art. 12 da LC nomeia expressamente esse critério, dizendo não se aplicar às APAs). 2. Para o licenciamento estadual há dois critérios: o residual, que deve ser orientado pela regra geral da lei, qual seja, o da localização geográfica do empreendimento ou atividade, e o do ente instituidor da unidade de conservação – se instituída pelo Estado, é desse ente o licenciamento na área (que não se aplica às APAs); 3. Para o licenciamento municipal há dois critérios: permanece o do impacto ambiental local e o do ente instituidor das unidades de conservação (que não se aplica às APAs); 4. Notem que, segundo a LC 140, quem vai definir o que é “impacto de âmbito local”, para fins de licenciamento, é o Conselho Estadual de Meio Ambiente. Para Paulo de Bessa Antunes (em palestra proferida no Recife em agosto/2012), isso é inconstitucional, pois órgão administrativo do Estado estaria definindo competências municipais, o que viola a Constituição (definição de competências no Estado Federal é atribuição da Constituição e não órgãos administrativos de um único ente). 5. Observem que, ao estabelecer o critério da abrangência do impacto para o município, a LC, implicitamente, admite a utilização desse critério para o Estado, já que, se o impacto superar área do município, competirá ao Estado o licenciamento da atividade. 6. O licenciamento que compreenda, concomitantemente, área terrestre e marítima da zona costeira só será atribuição da União se ato do Poder Executivo o definir, a partir de #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 14 proposição da Comissão Tripartite (União não quer se ocupar com pequenos empreendimentos, a exemplo de pequenas barracas e aluguéis de bananas boat); 7. Em relação às APAs, temos uma regra diversa da do ente instituidor, que é a regra para as unidades de conservação. A regra da LC 140 diz que quem institui a unidade de conservação deve licenciar os empreendimentos na área, excetuando-se as APAs. No caso das APAs, o critério é a regra geral da Lei Complementar para as demais atividades, ou seja, o da localização geográfica do empreendimento ou atividade: no limite do município o impacto é local; em se limitando ao estado a competência é estadual; em mais de um estado é federal. Lembre-se, entretanto, que isso não exclui a competência da União em relação aos casos de sua exclusividade (APA em país fronteira com país limítrofe, APA em terra indígena, mar territorial, zona econômica exclusiva, atividades nucleares em APA...) 8. Segundo o Novo Cód. Florestal, o licenciamento em APPs cabe ao órgão estadual do meio ambiente (arts. 10, 11-A, III e 26). 4.7. Outros destaques do capítulo Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar. §1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental. §2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador. §3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente federativo. Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação dos processos de licenciamento. §1º As exigências de complementação oriundas da análise do empreendimento ou atividade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma única vez ao empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos. §2º As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos feitas pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a fluir após o seu atendimento integral pelo empreendedor. §3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15. §4º A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo (SUBSTITUINDO O ENTE ORIGINÁRIO) nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 15 II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos (AUXILIANDO O ENTE ORIGINÁRIO) dar-se-á por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei Complementar. Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo paraa apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. § 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. § 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis. § 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput. 4.8. Disposições finais A Lei Complementar aplica-se apenas aos processos de licenciamento e autorização ambiental iniciados a partir de sua vigência (que se deu na data da publicação: 08/12/11). “(...) Parece razoável entender que processo já iniciado é aquele cujo pedido de licenciamento ambiental ou de regularização foi apresentado ao órgão ambiental, à época competente, até a data de 08/12/2011. Portanto, o interesse do empreendedor na obtenção de licenciamento ou regularização ambiental manifestado, ao órgão ambiental, a partir do dia 09/12/2011 deverá se submeter às novas regras de competência, trazidas pela LC nº 140/2011”. (http://jus.com.br/artigos/26147/divisao-de-competencia-entre-os-entes-federativos-para- emissao-de-licenciamento-ambiental#ixzz39Axoirz4) Até a criação das Comissões Tripartites e Bipartite, bem como até a definição das tipologias fixadas para os respectivos licenciamentos ambientais por tais Comissões, aplica-se a legislação anterior. O manejo e a supressão de vegetação em situações ou áreas não previstas nesta Lei Complementar dar-se-ão nos termos da legislação em vigor. 4.9. Critérios definidos pelo stf para fixação da competência ambiental (antes da LC 140, mas ainda válidas) Min. Celso de Mello, em medida liminar na AC 1255, publicada no Informativo STF 432: #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 16 Conflito de atribuições material comum: a) Critério da preponderância do interesse; b) Critério da colaboração entre as pessoas políticas; c) Privilegiar a norma que atenda de forma mais efetiva ao interesse comum; d) Interesses da União são mais abrangentes e devem, ordinariamente, ter precedência. e) Não há hierarquia de pessoas políticas, mas de interesses 4.10. Principais modificações trazidas pela lei em relação ao regime anterior A LC 140 traz considerável mudança em relação ao licenciamento ambiental. Vejamos. O art. 10 da Lei 6.938/81 estabelecia de forma ampla e irrestrita a atuação do IBAMA, mesmo indicando em alguns pontos que essa atuação seria supletiva. Essa atuação supletiva era mais entendida como “complementar” do que suplementar. Ou seja, os agentes do Instituto sempre entenderam que cabia ao IBAMA, órgão licenciador federal, complementar a atuação estadual ou municipal em matéria de licenciamento ambiental sempre que se entendesse necessário ou conveniente. Ademais, previa o § 2º do citado artigo que o CONAMA poderia fixar as hipóteses em que o licenciamento dos demais órgãos estaria sujeito à homologação da Autarquia Federal. Já o §1º do art. 11 previa que a fiscalização e controle da qualidade ambiental seriam exercidos pelo IBAMA, em caráter supletivo da atuação do órgão estadual e municipal competentes. Tais disposições faziam com que o órgão federal fosse visto por muitos como Corregedor dos demais órgãos ambientais, o que não se pode mais deduzir depois das mudanças perpetradas pela Lei Complementar. A LC 140, dando nova redação ao art. 10 da Lei 6.938/81, retirou toda e qualquer menção ao IBAMA e sua atuação supletiva. Além disso, conceituou ação supletiva como aquela que SUBSTITUI o ente competente, dispondo, ainda, que só caberá essa ação supletiva no caso de inexistência ou incapacidade técnica do órgão ambiental competente, inexistência do conselho de meio ambiente no ente federado ou decurso do prazo de licenciamento sem a expedição da licença pelo ente competente (arts. 14 e 15 da LC 140). Ressaltou, ainda, a nova legislação, que o licenciamento ambiental será feito apenas por um único ente federativo. Ou seja, há o claro intuito de “desfederalizar” em muitos casos o licenciamento ambiental. Por outro lado, o §4º do art. 10 da Lei 6.938/81 previa a competência do IBAMA para licenciar sempre que as atividades e obras tivessem significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. O licenciamento ambiental seguia a lógica da predominância do interesse. Tal critério mudou, com a revogação do §4º. Segundo a Orientação Jurídica Normativa (OJN) nº 33/2012, da Procuradoria Federal do IBAMA, de 26/04/2012, a LC 140 acolheu, em regra, a LOCALIZAÇÃO como critério para definição do órgão competente. Assim, se os impactos ambientais de um empreendimento ultrapassar os limites estaduais, mas o empreendimento estiver localizado integralmente no interior de um único Estado, seu licenciamento ambiental será de competência do órgão estadual, e não do IBAMA, como acontecia anteriormente. Ao lado do critério geográfico, em relação à União, temos ainda o critério da atividade (para atividade militar e com energia nuclear) e uma via aberta, que é a definição por ato do Poder Executivo Federal segundo proposta do Conselho Tripartite. #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 17 Dessa forma, o critério que era subjetivo (abrangência do impacto ambiental) passou a ser, via de regra, objetivo (localização do empreendimento ou atividade). O aumento da segurança jurídica sobre o tema foi significativo. O Ibama não terá mais competência para licenciar empreendimento apenas em razão da abrangência do seu impacto ambiental. No momento, ainda que atividade tenha potencial poluidor de âmbito nacional ou regional, o Ibama não será competente para licenciar, a não ser que esteja configurada uma das hipóteses previstas nas alíneas do inciso XIV do art. 7º, que estabelece apenas critério de localização e de tipo de atividade. Para o licenciamento ambiental, ao lado do critério da predominância do interesse, que era informado pelo critério da abrangência do impacto ambiental (se o impacto era local, o interesse também o seria, e assim sucessivamente...), havia também, segundo alguns autores, o critério da dominialidade do bem (se bem federal, seria do IBAMA a competência para licenciar) e, ainda, o critério supletivo, previsto apenas para a entidade federal. Como vimos, desapareceu o critério genérico da predominância do interesse pela abrangência do impacto (apenas se pode considerar objetivamente os casos dispostos no art. 7º da LC, que, em sua maioria, são informados pela localização geográfica do empreendimento). Em relação ao critério da dominialidade, acreditamos que ele não foi adotado em nenhum momento, conforme julgados citados abaixo mais adiante (na verdade, doutrina minoritária defendia esse critério). No que se refere à supletividade, veremos que houve a restrição da atuação supletiva, reservada apenas para os casos expressamente previstos. Nada impede, porém, que ato do poder executivo federal, por proposta da Comissão Tripartite,adote os mesmos ou outros critérios para atividades não previstas expressamente na LC, adotando, por exemplo, o critério da predominância do interesse para outras atividades. Por fim, o STJ e alguns regionais já se manifestaram no sentido de que a dominialidade (titularidade do bem) não é critério definidor da competência para o licenciamento ambiental (STJ, Resp. 2003/0159754-SC; TRF5, AC 327.022; TRF1, AG 2007.01.00.000782-5/BA). Contudo, em matéria de impugnação judicial de licenciamento por outro ente, o critério da dominialidade é utilizado como parâmetro para definição da legitimidade ativa da União e do IBAMA, notadamente em ações civis públicas que possuem como fundamento possíveis ilegalidades no licenciamento ambiental, insuficiência da atuação do órgão estadual de meio ambiente ou dano a bem de domínio da União (REsp 769753 / SC) Referida Lei modifica também o entendimento que vinha sendo adotado acerca da imposição de multas. Pelo art. 70, §§1º e 3º, da Lei 9.605/98, todos os entes federados seriam competentes para lavrar autos de infração em matéria ambiental. Para evitar a duplicidade de punição pelo mesmo fato (já que todos eram considerados competentes para lavrar o auto) e eventual conflito de atribuições entre os entes, existiam alguns dispositivos que estabeleciam regras definidoras de competência, entre os quais o art. 14, I e § 2º da Lei 6.938/81 e art. 76 da Lei 9.605/98. Este último artigo reza que o pagamento da multa imposta pelos Estados, Municípios ou DF substitui a multa federal. Agora não é mais assim: prevalece, em caso de dupla lavratura de auto de infração, a multa do órgão ambiental competente. Cabe observar uma distinção dentro da competência material realizada pela doutrina e jurisprudência entre (1) competência de licenciar e (2) competência de fiscalizar. A LC adotou essa sistemática. Notícia veiculada no Informativo 392 do STJ explica a diferença: #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 18 “IBAMA. FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO. ORGÃO ESTADUAL. O nosso pacto federativo atribuiu competência aos entes da Federação para a proteção do meio ambiente, o que se dá mediante o poder de polícia administrativa (art. 78 do CTN). Esse poder envolve vários aspectos, entre eles, o poder de permitir o desempenho de certa atividade (desde que acorde com as determinações normativas) e de sancionar as condutas contrárias à norma. Anote-se que a contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorga da licença, portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada àquele ato administrativo. Isso posto, não há que se confundir a competência do Ibama de licenciar (caput do art. 10 da Lei n. 6.938/1981) com sua competência para fiscalizar (§ 3º do mesmo artigo). Assim, diante da omissão do órgão estadual de fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o Ibama pode exercer seu poder de polícia administrativa, quanto mais se a atividade desenvolvida pode causar dano ambiental em bem da União. Precedente citado: REsp 588.022- SC, DJ 5/4/2004. AgRg no REsp 711.405-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2009.” Ou seja, apenas o competente tem a atribuição de lavrar o auto, mas todos podem fiscalizar. Entretanto, havendo perigo iminente ou atual ao meio ambiente os demais entes federados estão autorizados a agir cautelarmente e/ou existindo omissão e inércia do ente originalmente atribuído da competência para licenciar, fica o ente diverso autorizado a agir com base no poder de polícia, fiscalizando o particular e tomando medidas cabíveis (a lei não estabelece que medidas seriam essas). Contudo, existe uma questão que tem intrigado quem se debruça sobre a LC 140. O caput do art. 17 diz que só o ente competente pode lavrar auto de infração (para aplicação de multa, por exemplo). Porém, o §3° do mesmo artigo afirma que todos os entes podem fiscalizar e, em caso de dupla multa, prevalecerá o auto de infração lavrado pelo órgão que detenha a atribuição de licenciar. Quer dizer, ao disciplinar que todos podem fiscalizar e que prevalecerá o auto do ente competente, está admitindo a possibilidade de dupla lavratura de auto. “(...)Acerca da competência supletiva do IBAMA para fiscalizar atos que causam dano ambiental, ressalto que essa autarquia federal possui atribuição de polícia administrativa diante da degradação ambiental, inclusive supletivamente quando os demais entes/órgãos são omissos conforme estabelece o artigo 2°, incisos I a 111, d a Lei n. 7.735/1989. Com efeito, no direito ambiental brasileiro não há competências compartimentadas, que decorrem das próprias características do federalismo cooperativo e se deduz da competência administrativa comum para preservar o meio ambiente (artigo 23, inciso VI, da CR) e da competência concorrente/(artigo 24, inciso VI, da CR). As diretrizes ambientais são traçadas, em âmbito nacional, pela Lei 6.938/1981, sendo que, ao se delegar atribuições aos órgãos de fiscalização ambiental estaduais e/ou municipais, não se exclui a prerrogativa de exercício deste poder pela autarquia federal, inclusive para bem avaliar a efetividade dessa providência Ademais, merece destaque, o disposto no art. 17, da LC N. 140/2011 que, ao mesmo tempo em que estipula no caput competir "ao órgão responsável pelo licenciamento ou automação, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental", também estabelece em seu parágrafo 3° que "O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput." Portanto, observa-se que o IBAMA não está impedido de atuar quando constatar indícios de cometimento de infração ambiental. Apenas ocorrerá que, se a autora sofre autuação ou bloqueio pelo órgão #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 19 estadual em virtude do mesmo fato, prevalecerá este último em detrimento do primeiro, se houver originariamente licenciamento deferido pela unidade federada. (...)Entendo que a decisão deve ser mantida por seus próprios fundamentos. Com efeitlo, o Colendo Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que havendo omissão do órgão ambiental, mesmo que outorgante da licença, pode o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBMMA exercer o seu poder de polícia administrativa, tendo em vista que não se pode confundir competência para licenciar com competência para fiscalizar”. (Decisão Monocrática. DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ AMILCAR MACHADO, Publicação 04/02/2014). Com a nova disciplina dada pela LC 140/11, houve a ampliação da mens legis do art. 76 da Lei 9.605/98 e do parágrafo único do art. 12 do Decreto 6.514/08, prevalecendo para a mesma infração ambiental todo o auto de infração do ente competente, abarcando quaisquer sanções previstas no art. 72 da Lei 9.605/98 e não apenas a sanção única da multa estadual ou municipal (o art. 76 só dizia que o pagamento da multa municipal ou estadual substituía a multa Federal). Eis as demais infrações possíveis, que agora podem ser substituídas de acordo com auto de infração do ente competente: “Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária;IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X - (VETADO) XI - restritiva de direitos.” Igualmente, houve a previsão de situação não abarcada pela literalidade do aludido art. 76: a possibilidade de um auto federal posterior substituir um auto estadual ou municipal, desde que o ente competente para o licenciamento ambiental seja a União Federal. Havia também entendimentos que afirmam que o pagamento da multa municipal ou estadual, sendo menor que a federal, não impedia a cobrança da diferença em relação à multa federal. De todo modo, a LC 140/11 veio a disciplinar o assunto de uma forma mais técnica, corrigindo lacunas nas diversas leis, decretos e resoluções, sepultando de vez a tese de que a multa estadual apenas substituiria a federal até o limite de seu valor. Assim, mesmo que a multa federal seja maior, se o ente competente para licenciar for estadual ou mesmo municipal, a multa desses últimos prevalecerá mesmo que menor, não cabendo a cobrança de quaisquer diferenças em relação à multa federal. Por outro lado, previu a possibilidade de atuação do órgão federal no caso de incapacidade técnica do Município e, concomitantemente, do Estado, bem como o poder de fiscalizar e tomar “outras medidas”. Como visto, a LC só se aplica para empreendimento futuros. Entretanto, havendo necessidade de licenciamento corretivo, em caso de mudança da titularidade da competência, o órgão competente doravante é quem cuidará do licenciamento. #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 20 Observação final: a Lei fala ainda que a competência para fiscalizar e controlar a atividade é do ente a quem for cometida a atribuição de licenciar ou autorizar. O licenciamento envolve estudo de impacto ambiental, enquanto que a autorização é para atividades simples como, por exemplo, o corte de uma árvore. 4.11. Maiores méritos da LC 140: - Enfim, após 23 anos da CF/88 instituiu a repartição de competências ambientais. - Procura, conforme objetivo expresso da lei, harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente; - Estabeleceu que as atividades e empreendimentos serão licenciados por apenas um ente federativo. - Sepultou de vez entendimento de parte da doutrina que afirmava não ter o município competência para licenciar (tal posição era fruto da interpretação do art. 10 da Lei 6.938/81, que tornou obrigatório o licenciamento ambiental, que previa apenas o licenciamento por órgãos estaduais e federais – outra parte da doutrina justifica a não previsão à época, da competência municipal, em razão de o município só ter sido alçado à condição de ente federativo em 1988) 5. Quadro de competências em âmbito judicial Competência Cível Autores como Álvaro Mirra, Hugo Nigro Mazzilli e Édis Milaré afirmam a Competência da Justiça Estadual, mesmo quando o dano ultrapassa um Estado. Mazzilli reconhece ser a competência da Justiça Federal a melhor solução, muito embora a considere viável somente a título de proposta de lege ferenda. Motivo: ausência de norma constitucional expressa. O STJ tem pronunciamento diverso, admitindo a competência da Justiça Federal quando o dano transcende os limites de um Estado-membro, especialmente quando um legitimado previsto no art. 109 I CF é parte. Paulo de Bessa Antunes ressalta que a Justiça do Trabalho pode também ser um importante instrumento de proteção ambiental (meio ambiente do trabalho). O STF vem defendendo, desde há muito, que existe competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações civis públicas. Foro competente – Local do dano (art. 2º). Aplicando-se o micro sistema da Tutela Coletiva, o art. 93 do CDC determina que deverá ser no foro da capital do Estado ou no DF em casos de danos de âmbito regional ou nacional, aplicando-se as regras do CPC nos casos de competência concorrente (em especial, valerá a prevenção). O Superior Tribunal de Justiça tem o pacífico entendimento de que o art. 93, II, da Lei n. 8.078/1990 - Código de Defesa do Consumidor não atrai a competência exclusiva da justiça federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, quando o dano for #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 21 de âmbito regional ou nacional. Conforme a jurisprudência do STJ, nos casos de danos de âmbito regional ou nacional, cumpre ao autor optar pela Seção Judiciária que deverá ingressar com ação. Precedentes: CC 26842/DF, Rel. Ministro Waldemar Zveiter, Rel. p/ Acórdão Ministro Cesar Asfor Rocha, Segunda Seção, DJ 05/08/2002; CC 112.235/DF, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, DJe 16/02/2011. Competência Criminal Regra: Competência Estadual, ainda que: 1. Em área de Patrimônio Nacional (Floresta Amazônica, Serra do Mar, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira); 2 Tenha sido feita a apreensão pelo IBAMA. Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra. O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si só, a competência da Justiça Federal. Isto porque para sua responsabilização não basta que a entidade figure como financeira. É necessário que ela tenha atuado na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e da higidez da obra. STJ. 3ª Seção.CC 139197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615). Será Competência Federal: 1. Animais em Extinção (interesse da União de preservar); 2. Área de propriedade da União e seu entorno, inclusive Terras Indígenas; 3. Obra de arte tombada pelo IPHAN (interesse da União de preservar) - a competência depende da entidade que tombou; 4. Impacto Regional (2 ou mais Estados) ou Nacional (abrangência supeiror a uma região ou ultrapasse as fronteiras nacionais); 5. Rio que banha mais de um Estado, ainda que a poluição seja em apenas um (pois é bem da União). 6. Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPF´s) falsas, já que a infração penal atinge direta e particularmente os serviços do IBAMA. Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral) (Info 853) Obs.: Para fixar competência federal, a violação deve ser direta e específica a interesse primário ou serviço da União. O fato do IBAMA lavrar auto de infração por conta de seu dever geral de fiscalização não implica, per si, a fixação da competência da JF, visto que o órgão atua, conforme o caso, diretamente ou supletivamente em matéria ambiental. #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 22 STJ - 3aS Embora a mata atlântica integre o patrimônio nacional, não se enquadra na definição de bem da União e, por isso, não atrai automaticamente a competência da Justiça Federal. Sendo assim, é preciso analisarse a atuação repercutiu diretamente em bens da União1. STJ - 3aS O desmatamento da floresta amazônica em terreno objeto de propriedade particular enseja competência do juízo de Direito, e não da Justiça Federal, ao entendimento de que não há que confundir patrimônio nacional com bem da União. STF - 1aT É de competência da justiça federal a ação cujo objeto versa sobre poluição em rio que banhe mais de um estado, ainda que os danos se dêem em apenas um deles, posto que se trata de bem da União a invocar a atração de competência posta no art. 109 IV CF. STJ - 3aS Compete ao juizado especial federal processar e julgar crime ambiental (art. 39 da Lei n. 9.605/1998) decorrente do corte de árvores (palmito) em floresta de preservação permanente sem autorização do IBAMA, que administra o Parque Nacional de Itatiaia, por ser área particular vizinha à unidade de conservação. STJ 5aT Tratando-se de fatos ocorridos em área limítrofe a Unidade de Conservação Federal, e tendo ocorrido danos à referida Unidade, evidencia-se a competência da Justiça Federal para processar e julgar a causa, ex vi do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, na medida em que o pretenso delito atenta contra bem e interesses da União. STJ - 1aT A Lei n. 9.605/1998 confere a todos os funcionários dos órgãos ambientais integrantes do sistema nacional do meio ambiente (Sisnama) o poder de lavrar autos de infração e instaurar processos administrativos, desde que designados para as atividades de fiscalização. A Lei n. 11.516/2007 acrescenta: desde que precedido de ato de designação próprio da autoridade ambiental. 6. Jurisprudências do Dizer o Direito Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o 1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AO MEIO AMBIENTE. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. MATA ATLÂNTICA. BENS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DAS SEGUINTES MATÉRIAS: PATRIMÔNIO NACIONAL, VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL, FATOS INOVADORES, PRECLUSÃO DA QUESTÃO SOBRE A INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO E MISSÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SÚMULA 282/STF. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL. PREVENÇÃO COM OUTRA AÇÃO CIVIL. MATÉRIA TRATADA NO CC Nº 98.565/PR. I - Em autos de ação civil pública movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra a PETROBRÁS visando à apuração de dano ambiental consubstanciado no derramamento de 57.000 litros de óleo diesel na Serra do Mar, componente da Mata Atlântica, o juízo federal declinou da competência para o juízo estadual, local do dano, tendo o autor interposto recurso de agravo de instrumento. II - O agravo foi provido, reformando o entendimento a quo, sob o fundamento de que tal derramamento se deu em área de Mata Atlântica, com repercussão em áreas consideradas como bens públicos da União, evidenciando-se a competência Federal para o processamento do feito. III - As matérias relativas à discussão sobre: a Mata Atlântica ser ou não patrimônio nacional; violação do princípio do juiz natural; fatos inovadores trazidos pelo recorrente no agravo de instrumento;preclusão da questão sobre a inexistência de interesse da União e que a missão institucional do Ministério Público não se dirige à proteção de bens da União, não foram debatidas na instância ordinária, ensejando a incidência da Súmula 282/STF. IV - Nem cabe argumentar que o Tribunal deveria ter discutido todas aquelas matérias no âmbito dos embargos declaratórios opostos, pois "(...)o magistrado não é obrigado a se manifestar sobre todas as teses suscitadas pelas partes, ademais quando já houver encontrado solução para o deslinde da controvérsia e o julgado apresentar-se devidamente fundamentado" (REsp nº 848.618/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ de 23.04.07, p. 305). Essa é exatamente a hipótese dos autos, na qual o aresto recorrido considerou primordial o fato de que o dano ambiental em questão ocorreu em área de Mata Atlântica, com repercussão evidente em bens públicos da União. V - A competência para a presente demanda é realmente do Juízo Federal, em razão da natureza dos bens a serem tutelados. Precedentes: REsp nº 530.813/SC, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ de 28.04.2006, REsp nº 440.002/SE, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, DJ de 06.12.2004.vVI - Não procede a tese de prevenção com ação ajuizada no Juízo de Direito da Vara Cível de Morretes/PR, salientando que nos autos do CC nº 98.565/PR restou decidido pela inexistência do invocado conflito positivo considerando: a inexistência de manifestação dos juízes envolvidos acerca da reunião dos processos; que já teria havido a decisão sobre a competência nestes autos pelo TRF da 4ª Região, e, por fim, determinou-se que ambos os feitos não ficassem sobrestados (DJe de 27.02.09). VII - Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido. (REsp 1100698/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/05/2009, DJe 20/05/2009) #costurandoatoga Direito Ambiental Competências ambientais Apostila 02 Dia: 27/04/2018 ________________________________________________________________________ 23 emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas. Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo. Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98. STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776). Normas municipais podem prever multas para os proprietários de veículos que emitem fumaça acima dos padrões aceitáveis É constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões considerados aceitáveis. O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de interesse local. STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/6/2017 (Info 870).
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