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Semiologia Pediátrica Doenças exantemáticas: Grupo de doenças infecciosas e agudas, que geralmente acompanham febre e exantema (erupção avermelhada da pele que aparece devido à dilatação vascular ou inflamação). Observação: enanema – lesão localizada em mucosa São comuns na pediatria e tem alto risco de contágio, podendo evoluir com complicações. 1. Sarampo: - trata-se de uma doença que está em “surto” atualmente no Brasil – em 2016, o brasil havia recebido certificado de eliminação do vírus: desde o início de 2018 até janeiro de 2019, o Brasil registrou 10.274 casos confirmados de sarampo este ano, de 21/09/2019: 5346 casos confirmados - é uma doença exantemática intensa, aguda e grave, causada pelo gênero Morbilivírus e com transmissão aérea (por meio de gotículas – tosse, espirros, fala) - período de incubação: 8-12 dias - período de contagio: 2-6 dias antes do início dos pródromos, até 4 dias após o aparecimento do exantema - isolamento respiratório: máscara durante período de contágio - o quadro clínico prodrômico (dura 3-4 dias) e é característico por febre, cefaleia e prostração intensa (queda do estado geral): febre elevada atingindo seu auge na época do surgimento do exantema tosse seca e intensa, coriza abundante, secreção hialina que evolui para purulenta (acometimento de vias aéreas superiores) hiperemia ocular, fotofobia, lacrimejamento e edema bipalpebral o exantema do sarampo é iniciado atrás do pavilhão auricular, disseminando para o pescoço, face e tronco e atingindo os membros no 3º dia de evolução o eritema maculopapular mobiliforme – máculas e pápulas eritematosas 3-10mm) podendo confluir manchas de Koplik: manchas branco-azuladas localizadas na região oposta aos dentes molares, de cerca de 1mm (diagnóstico diferencial para candidíase) - apresenta pior prognóstico em crianças desnutridas <1 ano - causa importante de morbimortalidade em <5 anos - as complicações do sarampo incluem o comprometimento do sistema imunológico: facilita a ocorrência de superinfecção viral/bacteriana laringite, traqueobronquite, otite, miocardite (mais raro), pneumonia, ceratoconjuntivite menores de 1 ano é causa não desprezível de óbito - o diagnóstico é clínico (sintomas e sinais clássicos), porém é confirmado através da pesquisa de anticorpos da classe IgM (fase aguda – a partir do 6º dia de exantema) e dosagem de anticorpos IgG (anticorpo de memória – caso haja aumento do título após 2-3 semanas, detecta-se o sarampo). Observação: pode-se realizar o isolamento viral pode detecção do RNA viral - não há tratamento/antiviral específico, o que se realiza é oferta abundante de líquidos, antitérmicos (febre), soro fisiológico para limpeza ocular, vitA (prevenção de cegueira) e antibióticos se houver infecções secundárias (como pneumonia, otite bacteriana) - a profilaxia é através da vacinação (tríplice viral) com 2 doses: 12 meses e 15 meses Observação: aos 15 meses, faz-se a tetraviral Observação: dose zero – devido ao aumento de casos de sarampo em alguns estados, todas as crianças de 6 meses a menores de 1 ano devem ser vacinadas – dose extra. Por se tratar de uma vacina com o vírus atenuado (vivo), não se realiza em crianças abaixo de 6 meses, uma vez que o bebê é considerado imunossuprimido. Antes de 1 ano, a vacina não apresenta sua melhor imunização; porém, em casos de surto, é indicado. Em adultos, caso tenha tomado apenas uma dose até os 29 anos, recomenda-se completar o esquema vacinal com a segunda dose da vacina 1 a 29 anos: são necessárias duas doses 30 a 49 anos: apenas uma dose Quem comprova as duas doses da vacina não precisa se vacinar novamente em casos de surto. - contraindicação de vacina: casos suspeitos de sarampo, gestante (pode se realizar a imunoglobulina), menores de 6 meses e imunocomprometidos - profilaxia primária (pré-exposição vacinação) e secundária (pós-exposição vacina em imunocompetentes até 72h após contato ou imunoglobulina em grávidas e lactentes <6meses) 2. Rubéola: - doença mais branda, pouco provável de complicação e sem risco de óbito - é causada pelo Rubivírus e transmitida por via aérea (perdigotos) - período de incubação: 14-21 dias - período de transmissibilidade: 2-3 dias antes, até 5-7 dias depois da erupção - isolamento respiratório e contato para casos pós-parto, até 7 dias após o exantema - o quadro clínico é mais brando, 2-3 dias antes do exantema exantema iniciada na face, evoluindo para pescoço, tronco e membros em 24 horas maculo papular ósseo, duração de até 3 dias sinal de Forscheimer: lesões petéquias no palato mole adenomegalia em gânglio cervical e retroauricular: precede até 7 dias a exantema 50% pode apresentar esplenomegalia discreta - o diagnóstico é por sorologia – IgM e IgG; ou por isolamento do vírus (nasofaringe e urina) - prevenção consiste na vacina aplicada com 12 meses e reforço com 15 meses 3. Exantema súbito (roséola infantil): - conhecido como “sarampinho” – altamente predominante na sociedade - causado pelo Herpes vírus 6 e 7, com transmissão por via aérea (perdigotos) - período de incubação: 5-15 dias - período de transmissibilidade: durante a fase de viremia, sobretudo no período febril - medida de prevenção contactantes: observação - isolamento é desnecessário - acomete principalmente crianças entre 6 meses e 6 anos de idade – normalmente crianças pequenas (8 meses), com quadro clínico de febre, recusa alimentar e prostração Observação: todas as crianças em idade escolar estão imunes - o quadro clínico apresenta início súbito, febre alta e contínua; irritabilidade e hiporexia; linfonodomegalia cervical e hiperemia de orofaringe a febre dura 3-4 dias, cessando abruptamente e antecedendo o aparecimento dos exantemas o exantema é progresso ao desaparecimento da febre = sintomas não são simultâneos; e apresenta curta duração: até 2-3 dias - o diagnóstico é apenas a presença do vírus em sangue periférico – sorologia específica deve ser analisada com cuidado, em razão da possibilidade de infecções crônicas com reativações 4. Eritema infeccioso: - causado por um Parvovírus B19 – parvovirose – e transmitido por via aérea (perdigotos) - periodo de incubação: 4-14 dias - periodo de transmissibilidade e tempo de contágio: desconhecido - medidas de prevenção para contactantes: observação (especialmente pessoas com hemoglobinopatias); o isolamento é desnecessário - apresenta tropismo pelas células embrionárias do sistema imunológico - no quadro clínico não há prodrómos, o exantema é o primeiro sinal. É iniciado na face como máculas e pápulas, que se confluem, tornando-se uma placa vermelha-rubra, concentrada na região da bochecha aspecto “asa de borboleta” Observação: poupa região perioral, testa e nariz Após 4 dias, o exantema evolui para os MMII e MMSS, com aspecto rendilhado. Persiste por até 10 dias, exacerbado pela exposição do sol, exercício e mudança de temperatura. Observação: o eritema infeccioso não causa febre - é afebril, associada a artrite e artralgia, com hemograma indicando leucocitose e eosinofilia - diagnóstico é através da detecção de IgM e IgG - complicação em mulheres grávidas: aborto, parto prematuro e hidropsia fetal 5. Mononucleose infecciosa: - trata-se de uma síndrome clínica causada pelo vírus Epstein-Barr (responsável por 80% dos casos) - altamente prevalente – 90% dos adultos são soropositivos para este vírus - o vírus é transmissível pela saliva e troca de outras secreções, transfusão sanguínea ou transplante de órgãos, contato sexual e via transplacentária - quadro clínico caracteriza-se por: febre alta (80% dos casos) esplenomegalia e hepatomegalia (eventualmente dolorosa) exantema (variável, máculo-papular), mas podem ocorrer erupções petequiais, papulovesiculares, escarlatiniformes ou urticariformes faringoamigdalite (simples eritema até a presença de um exsudato branco acinzentado nas amígdalas) sinal de Hoagland: edema palpebral bilateral Observação: o diagnóstico diferencial para amigdaliteé a presença de adenomegalias generalizadas – surgem de 80-100% dos casos e costumam aparecer no final da 1ª semana da doença. Os gânglios cervicais, principalmente os posteriores, são os mais acometidos; seguido pelos axilares e inguinais. - o diagnóstico é através de hemograma com leucocitose e provas de função hepática alterada. Os testes sorológicos consistem na pesquisa de anticorpos heterofilos (elevam-se na 1ª semana da doença, atingindo títulos máximos entre 2-3 semanas e desaparece em 6-8 semanas) ou IgM e IgG 6. Doença de Kawasaki: - inflamação das artérias de médio calibre, principalmente as coronárias – vasculite aguda e sistêmica sem etiologia definida e que pode causar exantema aspecto de língua em framboesa - característica clínica: doença febril autolimitada - característica epidemiológica: sazonalidade e caráter epidêmico características clínica e epidemiológica favorecem a hipótese de um agente infeccioso ser o determinante causal - comprometimento coronariano é o mais temido e ocorre 15-25% dos pacientes não tratados - o pior prognóstico é a consequência da doença: cardiopatia adquirida e IAM - a maioria dos casos ocorre em crianças pequenas e com predominância por menino de origem asiática 75% casos: abaixo de 5 anos 50% dos casos: abaixo de 2 anos - o diagnóstico é clínico: o critério obrigatório é febre por pelo menos 5 dias, sem causa definida associada a 4 ou mais dos seguintes critérios: alterações nas extremidades: eritema e edema de mãos e pés exantema polimorfo e inespecífico hiperemia conjuntival bilateral não purulenta alterações de lábios e orofaringe: eritema e fissuras labiais, hiperemia de mucosa orofaringea e língua em framboesa linfodonomegalia cervical maior que 1,5cm de diâmetro e unilateral - a doença é dividida em 3 fases: aguda, subaguda e covalescença aguda: 1-2 semanas, compreende febre e os demais critérios diagnósticos subaguda: inicia-se quando a febre, o rash e a linfadenopatia apresentam resolução. Nessa fase, ocorrem descamação periungueal, trombocitose (nº total de plaquetas), formação de aneurismas coronarianas, e o risco de morte súbita é maior. O problema é a sequela da vasculite. convalescença: quanto todos os sinais clínicos desaparecem até a normalização da VHS, durando, de 6-8 semanas após o início do quadro febril - o monitoramento cardiovascular por meio de exames de imagem é imprescindível na da fase subaguda (3-4 semanas de doença): ecocardiograma e angiografia – acometimento das coronárias e função cardíaca - tratamento para prevenção de aneurismas: corticoide e anti-inflamatória - -globulina endovenosa, ácido acetilsalicílico. Observação: se alterações coronárias, AAS por toda a vida 7. Varicela e Herpes Zoster: - trata-se de um vírus Varicela Zoster (VVZ), o qual pode causar duas doenças: varicela (primo-infecção) e herpes zoster (reativação da primo-infecção devido à latência viral) Varicela: - doença infecciosa primária, altamente contagiosa, geralmente benigna e autolimitada. É mais frequente em crianças e com incidência no fim do inverno e início da primavera. - a principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas que se apresentam nas diversas formas evolutivas: máculas, pápulas, vesícula, pústulas e crostas – acompanhadas de prurido. Observação: varicela = coceira intensa. - altamente transmissível de pessoa a pessoa, através do contato direto ou de secreções respiratórias e, raramente, através do contato com lesões de pele - período de incubação: 4-16 dias - a transmissão se dá entre 1-2 dias antes do aparecimento das lesões e até 6 dias depois, quando todas as lesões estiverem na fase de crostas Importante: deve-se afastar a criança da creche ou escola por 7 dias, a partir do aparecimento da lesões. - pode haver período prodrômico: inicia-se com febre baixa, cefaleia, anorexia e vômitos, podendo durar de horas até 3 dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Período exantemático – lesões comumente aparecem em surtos sucessivos de máculos que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas (distribuição centrípeta). O aparecimento das lesões em surto e a rápida evolução conferem ao exantema o polimorfimo característico da varicela: lesões em diversos estágios em uma mesma área. - nos adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito, principalmente devido à pneumonia primária. Observação: varicela e síndrome de Reye – associada ao uso de AAS durante a fase aguda da doença em crianças e adolescentes. Apresenta-se com quadros de vômitos, irritabilidade e agitação após os pródromos virais com diminuição progressiva do nível de consciência e edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é resultado do comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. É contra-indicado o uso de AAS por pacientes com varicela. - o diagnóstico da varicela é clínico; os testes sorológicos podem ser utilizados para confirmação (ELISA, aglutinação pelo látex ou imunofluorescência indireta). O PCR do vírus é considerado o padrão ouro para diagnóstico. - o tratamento consiste em: analgésicos, antitérmicos e anti-histamínicos evitar contato com as vesículas e as crostas não devem ser retiradas (unhas devem ser cortadas) para pessoas sem risco de agravamento, o tratamento deve ser sintomático havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos, em especial para combate de Streptococcos do grupo A e Staphylococcos. O tratamento específico somente é indicado para pessoas com risco de agravamento, através da administração do antiviral Aciclovir. Quando administrado por via IV, nas primeiras 24h após o início dos sintomas, tem demonstrado redução de morbimortalidade em pacientes com comprometimento imunológico. Observação: o Aciclovir também pode ser usado via oral em pacientes maiores de 12 anos, portadores de doença dermatológica crônica, pneumopatias crônicas ou em uso de AAS ou corticoides por longo tempo. - a prevenção consiste na vacinação aos 15 meses (tetra-viral) e com reforço somente para varicela aos 4 anos. Para imunossuprimido, faz-se VZIG. Além disso, ao contato com pacientes com varicela, deve-se: lavar as mãos após tocar as lesões isolamento de crianças com varicela não complicada (principalmente em escolar) pacientes internados devem ter isolamento de contato e respiratório até a fase de crosta desinfecção de objetos contaminados com secreções nasofaríngeas imunoprofilaxia em surtos de ambiente hospitalar Herpes zóster: - reincidiva do vírus, com lesões vesiculares, principalmente na fase adulta ou em pessoas com comprometimento imunológico, portadores de doença crônicas, câncer, Aids e transplantados - excepcionalmente, há pacientes que desenvolver herpes zoster após contato com doentes de varicela e, até mesmo, com outro doente de zoster, o que indica a possibilidade de uma reinfecção em paciente já previamente imunizado Observação: é possível uma criança adquirir varicela por contato com doente de zoster - surge de modo gradual e leva 2-4 dias para se estabelecer. Quando não ocorre infecção secundária, as vesiculares se dissecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em 2-4 semanas - clínica do herpes consiste em: dores nevrálgicas, parestesias, ardência e prurido locais, febre, dor de cabeça e mal estar. A erupção é unilateral, raramente ultrapassa a linha mediada e segue o trajeto de um nervo - as regiões mais acometidas são: torácica (53% dos casos) cervical (20%) correspondente ao trajeto do nervo trigêmeo Lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo, com possível comprometimento ocular. lombossacral - o envolvimento do VII par craniano (facial), leva à combinação da paralisiafacial periférica e rash do pavilhão auditivo síndrome de Hawsay-Hurt (prognóstico de recuperação pouco provável) - o acometimento do nervo facial (síndrome de Bell) apresenta a característica de distorção da face - o tratamento dos sintomáticos consiste em antitérmico, analgésico não salicilato e anti-histamínico sistêmico. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos. Além disso, deve-se priorizar a higiene da pele com água e sabonete, com o adequado corte das unhas. Rayane Araujo Cavadas
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