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TÓPICOS ESPECIAIS EM ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO AULA 2 Prof. Luciano Frontino de Medeiros 2 CONVERSA INICIAL Esta aula terá o objetivo de mostrar as diferenças principais entre a computação quântica e a computação clássica. Vamos apresentar inicialmente as portas quânticas. Da mesma forma como as portas lógicas atuam sobre os bits, alterando seus valores, as portas quânticas modificam os estados de maneira a obter algum resultado desejado. Vamos estudar as portas de 1 q-bit e a porta CNOT, que atua sobre dois q-bits. Ao final, apresentaremos um breve histórico da computação quântica, apresentando alguns cientistas que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento da área. TEMA 1 – COMPARAÇÃO ENTRE COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E COMPUTAÇÃO CLÁSSICA A computação quântica difere em vários aspectos do paradigma da computação clássica. Um dos aspectos mais importantes está relacionado com o poder de computação. Para sistemas com 𝑛 q-bits, os estados possíveis serão descritos por |𝒙𝟏𝒙𝟐 …𝒙𝒏⟩. Portanto, o estado quântico de um sistema com 𝑛 q- bits irá conter 𝟐^𝒏 estados. No caso de 𝑛=𝟓𝟎𝟎, o número 2500 é uma quantidade maior do que a estimativa da quantidade de átomos no Universo! É impossível, portanto, conceber fisicamente um computador clássico que tenha condições de armazenar tal quantidade de informação. Entretanto, a natureza é capaz de manipular esta grande quantidade de variáveis e fazer evoluir o estado de tal sistema quântico (Nielsen; Chuang, 2005). O Quadro 1 traz um comparativo entre os dois tipos. 3 Quadro 1 – Comparação entre computação clássica e quântica Item Computação Clássica Computação Quântica Elemento básico de representação Bit Q-bit Domínio de valores Apenas dois estados lógicos (0 e 1) Domínio contínuo de estados com coeficientes complexos. Superposição Não existe, os valores assumidos são bem definidos O q-bit, enquanto não observado, pode assumir uma superposição de estados quânticos. Determinismo Os estados lógicos são assumidos com certeza total Antes da medição, o estado quântico evolui de forma determinística. O estado de um q-bit é probabilístico, após o ato da medição. Emaranhamento Os estados lógicos de um bit são independentes Os estados quânticos de um q-bit podem estar correlacionados, de forma que a mudança de estado em um q-bit pode alterar o estado de outro q-bit. Medida A medida de um determinado estado lógico não altera o estado de outros bits do sistema A medida do estado quântico de um q- bit altera o estado final, isolado ou correlacionado com outros q-bits. Cópia de um Estado Informacional Um bit pode ser perfeitamente copiado de um registrador para outro Um q-bit não pode ser copiado, não há como duplicar um estado quântico a partir de outro existente, apenas teleportado. Reversibilidade Um bit resultante da operação de dois bits não pode ser revertido ao seu estado inicial O estado de um q-bit, antes da medida, é reversível, sendo possível retornar ao estado quântico anterior após uma operação quântica. TEMA 2 – PORTAS QUÂNTICAS DE 1 Q-BIT: X, Z E Y A manipulação de estados dos q-bits em um circuito quântico deve ser feita através de portas quânticas. Na computação clássica, existem portas digitais para manipular bits em um circuito, tal como uma porta NOT que inverte um bit na sua entrada, ou a porta AND, que só produz o bit 1 na saída se, e somente se, os dois bits de entrada forem 1 (Figura 1). Da mesma forma, uma porta quântica deve atuar sobre o estado de um q-bit, transformando a sua saída para outro estado (Nielsen; Chuang, 2005). 4 Figura 1 – Exemplos de portas clássicas As portas quânticas básicas são aquelas que atuam sobre um único q-bit. Na mecânica quântica, existem os operadores de Pauli1, que fornecem a base para as portas de um q-bit utilizadas na computação quântica, denotadas pelos símbolos 𝑋, 𝑍 e 𝑌. O Quadro 2 ilustra a operação que cada porta faz com um vetor estado de entrada |. Quadro 2 – Portas quânticas dos operadores de Paulo Símbolo Representação Operador Resultado sobre |=|0+|1 X ou x 0 1 1 0 |’=|0+|1 Z ou z 1 0 0 1 |’=|0-|1 Y ou y 0 0 i i |’=-i |0+i |1 A representação é o símbolo utilizado no design do circuito quântico. A porta X funciona como uma porta inversora, trocando os coeficientes dos estados quânticos. A porta Z faz com que o estado |1 seja transformado em –|1. A porta Y muda os coeficientes para o eixo complexo. De acordo com o formalismo do espaço vetorial de Hilbert, uma porta quântica funciona na verdade como um operador linear, e o novo estado do q-bit é obtido multiplicando-se este operador 1 Wolfgang Pauli (1900-1958), que atuou na elaboração da teoria do spin do elétron, formulou o princípio da exclusão, segundo o qual um elétron não pode estar no mesmo estado quântico de outro elétron no átomo. 5 pelo estado atual do q-bit. A atuação da porta X sobre o estado | pode ser vista como a seguinte operação matricial: 0 1 | 1 0 X Exemplo 1: Aplique a porta X sobre o estado quântico |ψ0⟩ = 1 √2⁄ |0⟩ − 1 √2⁄ |1⟩. Este estado quântico, na formal matricial, é representado pelo vetor coluna: |𝜓0⟩ = [ 1 √2 − 1 √2] = 1 √2 [ 1 −1 ] Assim, deve-se obter um novo estado quântico |𝜓1⟩, a partir da aplicação da porta 𝑋 sobre o estado |𝜓0⟩. Essa aplicação pode ser efetuada multiplicando- se a matriz que representa o operador sobre o estado |𝜓0⟩:: |𝜓1⟩ = 𝑋|𝜓0⟩ = [ 0 1 1 0 ] . 1 √2 [ 1 −1 ] = 1 √2 [ −1 1 ] = −1 √2⁄ |0⟩ + 1 √2⁄ |1⟩ Como se pode notar, a porta 𝑋 inverteu as amplitudes do estado inicial |𝜓0⟩. Pode-se simplificar a operação deixando o termo de normalização fora do vetor coluna. Exemplo 2: Aplique a porta Z sobre o estado quântico |ψ0⟩ = 1 √2⁄ |0⟩ + 1 √2⁄ |1⟩. Aqui, deve-se obter então um novo estado quântico, a partir da aplicação da porta 𝑋 sobre o estado.|𝜓0⟩. Fazendo a multiplicação matricial: |𝜓1⟩ = 𝑍|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 −1 ] . 1 √2 [ 1 1 ] = 1 √2 [ 1 −1 ] = 1 √2 |0⟩ − 1 √2 |1⟩ Nota-se que a porta Z aplicada à superposição de estados em |𝜓0⟩ inverteu o sinal da segunda amplitude. Exemplo 3: Aplique a porta Y sobre o estado quântico |ψ0⟩ = 1/√2 |0⟩ − 1 √2⁄ |1⟩. A porta 𝑌 perfaz uma rotação, colocando as amplitudes do estado no espaço complexo: |𝜓1⟩ = 𝑌|𝜓0⟩ = [ 0 −𝑖 𝑖 0 ] . 1 √2 [ 1 −1 ] = 1 √2 [ 𝑖 𝑖 ] = 𝑖 √2 (|0⟩ + |1⟩) As portas de um q-bit podem ser aplicadas continuamente sobre um estado inicial em sequência. Exemplo 4: Aplique a porta X sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |0⟩, e sobre o estado resultante, aplique a porta Z. Pode-se gerar um estado após o outro: 6 |𝜓1⟩ = 𝑋|𝜓0⟩ = [ 0 1 1 0 ] . [ 1 0 ] = [ 0 1 ] = |1⟩ |𝜓2⟩ = 𝑍|𝜓1⟩ = [ 1 0 0 −1 ] . [ 0 1 ] = [ 0 −1 ] = −|1⟩ Ou aplicar ao mesmo tempo: |𝜓1⟩ = 𝑍𝑋|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 −1 ] . [ 0 1 1 0 ] . [ 1 0 ] = [ 1 0 0 −1 ] . [ 0 1 ] = [ 0 −1 ] = −|1⟩ Note que a ordem de aplicação das portas 𝑋 e 𝑍 é invertida, na notação de Dirac. TEMA 3 – PORTAS QUÂNTICAS DE 1 Q-BIT: H, S E T No Quadro 3, estão representadas as portas H, S e T. A porta H é denominada porta Hadamard, e sua aplicação em um estado puro, |0 ou |1, produz uma superposição de estados para o vetor resultante. Por exemplo, aplicando-se a porta H sobre o vetor |0, 1 1 1 11 1 | 0 |1 | 0 1 1 0 12 2 2 H Quadro 3 – Operadores das portas H, S e T Símbolo Representação Operador Resultado sobre |=|0+|1 H 1 11 1 12 | 0 |1 | 0 |1 | ' 2 2 S 1 0 0 i |’=|0+i |1 T / 4 1 0 0 ie |’ =|0+ei/4 |1 A porta 𝑺 também é denominada porta de fase. A porta 𝑻 é denominada também porta /8. A porta 𝑆 perfaz um giro no sentido anti-horário do estado quântico de 90 graus no espaço complexo, enquanto que a porta T rotacional o estado quântico no sentido anti-horário em 45 graus. Exemplo 5: Aplique a porta H sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |1⟩. A porta 𝐻 colocará o estado |𝜓0⟩ em uma superposição: |𝜓1⟩ = 1 √2 [ 1 1 1 −1 ] . [ 0 1 ] = 1 √2 [ 1 −1 ] = 1 √2 |0⟩ − 1 √2 |1⟩ 7 Exemplo 6: Aplique a porta S sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |1⟩. A porta S aplica uma rotação de 90 graus sobre o estado. O coeficiente i presente na matriz pode ser visto como uma potência complexa i = eiπ/2 = cos π 2⁄ + i sin π 2⁄ = 0 + 𝑖. 1 = 𝑖. |𝜓1⟩ = 𝑆|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 𝑖 ] . [ 0 1 ] = [ 0 𝑖 ] = 𝑖|1⟩ Exemplo 7: Aplique a porta T sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |1⟩. A porta T perfaz um giro de 45 graus sobre o estado inicial. Assim, |𝜓1⟩ = 𝑇|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 𝑒𝑖𝜋 4⁄ ] . [ 0 1 ] = [ 0 𝑒𝑖𝜋 4⁄ ] = 𝑒𝑖𝜋 4⁄ |1⟩ A amplitude como potência complexa de e deve ser colocada como coeficiente do estado quântico. Exemplo 8: Aplique a porta T duas vezes sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |1⟩. A aplicação em sequência duas vezes da porta 𝑇 resultará: |𝜓1⟩ = 𝑇𝑇|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 𝑒 𝑖𝜋 4⁄ ] . [ 1 0 0 𝑒 𝑖𝜋 4⁄ ] . [ 0 1 ] = [ 1 0 0 𝑒 𝑖𝜋 4⁄ ] . [ 0 𝑒 𝑖𝜋 4⁄ ] = [ 0 𝑒𝑖𝜋 2⁄ ] = 𝑒𝑖𝜋 2⁄ |1⟩ Como eiπ 2⁄ = 𝑖, tem-se: |𝜓1⟩ = 𝑖|1⟩ Compare o resultado com o Exemplo 6. A aplicação da porta T duas vezes equivale à uma vez a porta S. Na Figura 2, pode ser visualizada geometricamente a representação de um estado quântico sobre o espaço complexo, em ângulos múltiplos de 45 graus (𝜋 4⁄ radianos). Figura 2 – Ilustração de rotações de um vetor sobre o espaço complexo, mostrando em destaque as potências complexas para ângulos múltiplos de 45 graus 8 As portas quânticas, visualizadas como matrizes, estão sujeitas a algumas propriedades peculiares. A matriz adjunta é interpretada como a matriz conjugada transposta. Como os elementos da matriz pertencem a , o conjunto dos números complexos, eles admitem valores conjugados: *( ) ( )a bi a bi Assim, uma matriz A é dita adjunta caso tenha seus elementos dispostos da seguinte forma * T * * * * a b a c c d b d Ou seja: * TA A As portas X, Z, Y e H são iguais às suas adjuntas, e por isso são também denominadas de hermitianas. As portas S e T possuem adjuntas diferentes, estando as mesmas representadas no Quadro 4. Diz-se que tais matrizes são conjugadas das portas originais. Quadro 4 – Operadores adjuntos das portas S e T Símbolo Representação Operador Resultado sobre |=|0+|1 S 1 0 0 i |’=|0-i |1 T / 4 1 0 0 ie |’ =|0+e-i/4 |1 Exemplo 9: Aplique a porta S sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |1⟩, e logo a seguir a porta S† sobre o estado resultante. |𝜓1⟩ = 𝑆 †𝑆|𝜓0⟩ = [ 1 0 0 −𝑖 ] . [ 1 0 0 𝑖 ] . [ 0 1 ] = [ 1 0 0 −𝑖 ] [ 0 𝑖 ] = [ 0 −𝑖2 ] = [ 0 1 ] = |1⟩ A aplicação da porta conjugada S† após a porta S retorna o estado quântico ao estado original. Pode-se demonstrar que é o mesmo que aplicar a matriz identidade sobre o estado quântico. 9 TEMA 4 – PORTA CNOT OU NOT CONTROLADO Portas quânticas também podem atuar sobre dois q-bits ou mais. A porta quântica de dois q-bits mais utilizada é a porta CNOT, ou NOT-controlado, ou ainda raiz quadrada de NOT (Ekert; Hayden; Inamori, 2000; Nielsen; Chuang, 2005). A porta CNOT utiliza um q-bit de alvo mais um q-bit de controle. A regra é simples: quando o q-bit de controle assume o valor |1, o estado do q-bit alvo é invertido. O Quadro 5 mostra a operação CNOT sobre q-bits. Note que, para dois q-bits, o operador linear é uma matriz 4x4. A representação do vetor no estado final mostra os dois q-bits combinados na forma |a|b, com |a sendo o q-bit de controle, e |b o q-bit alvo. Outra forma de representar a saída da operação CNOT é utilizar a operação de OU-exclusivo ou adição de módulo 2 () entre os q-bits de controle e alvo (0 0 = 0; 0 1 = 1; 1 0 = 1; 1 1 = 0). Quadro 5 – Operador CNOT Símbolo Representação Operador |=|a|b |a|b a a = q-bit de controle b = q-bit alvo CNOT 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 |00 |00 |01 |01 |10 |11 |11 |10 A porta 𝐶𝑁𝑂𝑇, em conjunto com as portas de um q-bit, constitui um conjunto universal de portas quânticas, devido ao fato de que qualquer circuito quântico pode ser simulado utilizando-se este conjunto universal (Barenco et al., 1995). Quando um dos operadores de Pauli ou a porta Hadamard é aplicado novamente em um circuito onde já exista um operador igual, produz como saída a matriz identidade, ou seja: | | |XX I A porta 𝐶𝑁𝑂𝑇, utilizando dois q-bits, também apresenta esta propriedade, porém de maneira controlada. A aplicação dupla equivale à inversão de direção na evolução do circuito, mostrando o aspecto da reversibilidade dos circuitos quânticos. 10 Para facilitar a representação em circuitos quânticos, adotamos a notação 𝐶𝑁𝑂𝑇𝑎𝑏, em que o subíndice 𝑎 é o q-bit alvo, e o subíndice 𝑏 é o q-bit de controle. Exemplo 10: Aplique a porta CNOT sobre o estado quântico |ψ0⟩ = |11⟩, com o primeiro q-bit sendo o alvo e o segundo q-bit o de controle. Lembrando que o estado quântico |11⟩ é obtido do produto tensorial dos estados quânticos de 1 q-bit cada: |11⟩ = |1⟩ ⊗ |1⟩ = [ 0 1 ] ⊗ [ 0 1 ] = [ 0 0 0 1 ] A porta 𝐶𝑁𝑂𝑇 é aplicada sobre o estado quântico de dois q-bits. Assim, o operador será representado por 𝐶𝑁𝑂𝑇12. Utilizando a multiplicação matricial: |𝜓1⟩ = 𝐶𝑁𝑂𝑇12|𝜓0⟩ = 𝐶𝑁𝑂𝑇12|11⟩ = [ 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 ] . [ 0 0 0 1 ] = [ 0 0 1 0 ] = |10⟩ As portas quânticas apresentam a propriedade de reversibilidade. Quando um dos operadores de Pauli (𝑋, 𝑍 ou 𝑌), a porta Hadamard ou a porta CNOT, são aplicados novamente em um circuito em que já exista um operador igual, produzem como saída a matriz identidade. A aplicação dupla equivale à inversão de direção na evolução do circuito: 𝑋𝑋|𝜓⟩| = 𝐼|𝜓⟩ = |𝜓⟩ 𝐻𝐻|𝜓⟩| = 𝐼|𝜓⟩ = |𝜓⟩ 𝐶𝑁𝑂𝑇. 𝐶𝑁𝑂𝑇. |𝜓⟩| = 𝐼|𝜓⟩ = |𝜓⟩ Exemplo 11: Combinação de portas: Sobre o estado quântico de dois q-bits |ψ0⟩ = |00⟩, aplique primeiro a porta Hadamard sobre o segundo q-bit, e depois aplique a porta CNOT, considerando o primeiro q-bit como o alvo e o segundo q-bit como controle. A operação conjunta com a porta Hadamard e a porta CNOT é utilizada para a geração de estados emaranhados de Bell. Para o estado inicial considerado, a operação irá criar o estado simbolizado como 𝛽00. O estado inicial |00⟩ é um estado gerado a partir do produto tensorial de dois q-bits: |00⟩ = |0⟩ ⊗ |0⟩ = [ 1 0 ] ⊗ [ 1 0 ] = [ 1 0 0 0 ] 11 Antes de proceder com o cálculo, deve-se analisar a aplicação de uma porta de 1 q-bit para um estado quântico contemplando 2 q-bits. A porta será aplicada ou em um q-bit ou no outro. De qualquer forma, o resultado será diferente em ambos os casos. Assim, como se considera um estado de 2 q-bits gerado a partir do produto tensorial de dois estados de um q-bit, pode-se “adequar” a porta para que seja aplicada aos dois q-bits. Desta forma, a porta Hadamard precisa ser adaptada de forma a contemplar a operação com dois q-bits. Procede-se então ao produto tensorial entre a porta Hadamard e a matriz identidade 𝐼: 𝐻2 = 𝐻 ⊗ 𝐼 = 1 √2 [ 1 1 1 −1 ] ⊗ [ 1 0 0 1 ] = 1 √2 [ 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 −1 0 0 −1 ] Note que a ordem demonstra a aplicação da matriz identidade no primeiro q-bit e a porta Hadamard no segundo q-bit. Utiliza-se a notação 𝐻2 para mostrar que a porta Hadamard é aplicada sobre o segundo q-bit. Agora, é possível fazer a operação de multiplicação matricial da porta Hadamard no segundo q-bit: |𝜓1⟩ = 𝐻2|𝜓0⟩ = 1 √2 [ 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 −1 0 0 −1 ] . [ 1 0 0 0 ] = 1 √2 [ 1 0 1 0 ] = 1 √2 (|00⟩ + |10⟩) A operação pode ser aplicada agora ao estado |𝜓1⟩: |𝜓2⟩ = 𝐶𝑁𝑂𝑇12|𝜓1⟩ = [ 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 ] . 1 √2 [ 1 0 1 0 ] = 1 √2 [ 1 0 0 1 ] = 1 √2 (|00⟩ + |11⟩) = 𝛽00 Este é o estado de Bell 𝛽00, que pode ser utilizado, por exemplo, no teleporte quântico. Este é um típico estado emaranhado, que não pode ser decomposto em um produto tensorial de estados de um q-bit cada. A medição deste estado indicará que, se obtermos 0 no primeiro q-bit, iremos obter também 0 no segundo q-bit. Caso obtenhamos 1 no primeiro q-bit, o segundo q-bit também será um. TEMA 5 – BREVE HISTÓRICO DA COMPUTAÇÃO QUÂNTICA Apesar da estreita relação com a mecânica quântica, cujos estudos datam de 1900 com a publicação de Max Planck sobre a radiação do corpo negro, a computação quântica começa a seguir uma trilha própria como área de pesquisa a partir da década de 1980. A seguir, apresentamos alguns dos cientistas que 12 contribuíram para o desenvolvimento da área da computação quântica como um campo prolífico de pesquisa. 5.1 Paul Benioff (1930-) Um dos pioneiros da computação quântica. A partir do seu artigo publicado em 1980, foi o primeiro a expressar ideias relacionando a mecânica quântica à computação. Traz a possibilidade de existir máquinas de Turing que pudessem ser simuladas explorando modelos de hamiltonianos da mecânica quântica, que são matrizes de estados de energia que explicam a evolução de um sistema quântico, de acordo com a equação de Schröedinger. 5.2 Richard Feynman (1928-1988) Físico renomado, criador da teoria de integrais de linha na mecânica quântica. Questionava se os computadores clássicos poderiam efetivamente simular os eventos físicos. Afirmava que, mesmo com simulação probabilística, o computador clássico ainda não teria condições de fazer simulação quântica. Efeitos não locais no mundo quântico não poderiam ser simulados por um computador clássico local. 13 5.3 Charles H. Bennett (1943-) Ainda na década de 1970, já havia explorado a possibilidade de uma máquina de Turing que fizesse computação utilizando processos reversíveis. Propôs o teleporte quântico como forma de se transportar um estado quântico desconhecido utilizando a propriedade do emaranhamento. Participou do desenvolvimento do primeiro protocolo de criptografia quântica, BB84. Um dos principais cientistas que pesquisam a interrelação entre física e informação. 5.4 David Deutsch (1953-) Primeiro a explorar as possibilidades de fazer computação com sistemas de mecânica quântica, propondo um análogo à máquina de Turing denominado computador quântico universal. Propôs a primeira versão do que hoje é denominado algoritmo de Deutsch, abrindo caminho para o desenvolvimento de algoritmos mais complexos. As operações simples utilizadas por ele no algoritmo são denominadas agora de portas quânticas. Deutsch se baseou no princípio da superposição quântica em seu algoritmo. 14 5.5 Peter Shor (1953-) Descreveu um algoritmo que não era apenas eficiente em um computador quântico, mas envolvia um problema fundamental em ciência da computação, a fatoração de números primos muito grandes. Demonstrou que um computador quântico contendo um número suficiente de q-bits tornaria possível a descoberta da chave privada do sistema RSA; mesmo sendo probabilístico, o algoritmo é eficiente. 5.6 Lov Kumar Grover (1961-) Desenvolveu um algoritmo quântico de busca utilizando a superposição e interferência quântica. Grover mostrou que a busca de um item num conjunto de elementos não ordenados poderia ser feita com complexidade menor do que num algoritmo clássico. Mais tarde, foi demonstrado que o algoritmo de Grover perfaz uma busca ótima. FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos inicialmente as principais diferenças entre os dois paradigmas de computação: a computação quântica e a computação 15 clássica. Também trabalhamos o conceito de porta quântica, como um operador que modifica o estado dos q-bits, com operações baseadas na multiplicação matricial com estados quânticos representados como vetores. Na sequência, vamos apresentar outra forma matemática de aplicar os operadores sobre estados quânticos, utilizando-se de forma mais intensiva a notação de Dirac. Tralhamos as portas de 1 q-bit, X, Z, Y, H, S e T, junto com a porta de dois q-bits CNOT. Tais portas são consideradas um conjunto universal, pois qualquer operação quântica pode ser representada a partir desse conjunto. Por fim, em um breve histórico, estudamos alguns cientistas proeminentes da computação quântica – aqui, os principais algoritmos levam os nomes de seus descobridores, e serão estudados em aulas subsequentes. 16 REFERÊNCIAS BARENCO, A. et al. Elementary gates for quantum computation. Phys. Rev. A, v. 52, p. 3457–3467, 1995. EKERT, A.; HAYDEN, P.; INAMORI, H. Basic concepts in quantum computation. Cite Base, 2000. Disponível em: <http://www.citebase.org/abstract?id=oai:arXiv .org:quant-ph/0011013>. Acesso em: 29 set. 2019. NIELSEN, M. A.; CHUANG, I. L. Computação quântica e informação quântica. Porto Alegre-RS: Bookman, 2005.
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