1 Semiologia de Oftalmologia, Otorrinolaringologia, e Cirurgia da Cabeça e Pescoço – RCG 0314 Coordenador da disciplina da Oftalmologia - Prof. Dr. Jayter Silva de Paula Coordenador de Graduação da Oftalmologia – Prof. Dr. Jayter Silva de Paula Coordenador do Serviço de Oftalmologia – Prof. Dr. Eduardo Melani Rocha Roteiro para Avaliação oftalmológica Anamnese dirigida Identificação Nome: Idade: Gênero: Profissão: Procedência: Queixa e duração Caracterizar os sintomas: forma de aparecimento (agudo/insidioso), duração e evolução Perda visual: uni/bilateral, escurecimento, embaçamento, perda de campo Dor/hiperemia ocular: localização, associação com o piscar, ou com a perda visual Cefaléia: associação com a perda visual, período do dia, áurea, localização, etc. Antecedentes Investigar antecedentes com possível repercussão direta no quadro clínico Uso de óculos / lente de contato (paciente ou familiares) Cirurgias / traumas / doenças oculares Diabetes Mellitus/ Hipertensão arterial / outras doenças sistêmicas Glaucoma ou cegueira na família Exame oftalmológico Exame funcional da visão Acuidade visual: Com tabela de medida, a 5 m: mono-ocular, com correção óptica. Com cartela de medida para perto: mono/bi-ocular, com e sem correção óptica. 2 Campo visual de confrontação A aproximadamente 1 m, mono-ocular, testar a detecção dos dedos do examinador durante a exposição nos quatro quadrantes do campo visual, mantendo fixação olho do examinador – olho do paciente (anotação em quadrantes). Reflexos pupilares Em sala escura, com lanterna: testar reflexos diretos, consensuais e alternados. Em sala clara, com tampa de caneta, testar reflexo de aproximação. Exame ocular Anexos oculares: Pálpebras: posição, simetria, movimentação (ptose, medir a MRD) Cílios: posição, secreções, contato com o globo (triquíase) Vias lacrimais: inspeção do ponto lacrimal (oclusões, secreções) Simetria e posição do globo na órbita (proptose, enoftalmo, desvios) Globo ocular Conjuntiva: hiperemia, secreção, corpos estranhos Córnea: brilho, transparência, coloração com fluoresceína Câmera anterior: profundidade, transparência, regularidade pupilar Teste do reflexo vermelho, com oftalmoscópio direto, a 30cm de distância. Verificar o reflexo da retina pela pupila bilateralmente (documentar diminuição do reflexo e/ou manchas ou opacidades). Motilidade ocular Provocar ducções e versões e documentar suas amplitudes e simetria. Investigar presença de desvio ocular durante fixação (longe e perto) com teste de Hirschberg. Documentar diplopia e em quais posições do olhar. Fundo de olho Com oftalmoscópio direto em midríase: identificar o nervo óptico, vasos e mácula (documentar a visibilidade e simetria dos achados): Nervo óptico: coloração, presença ou não de hemorragias/lesões Vasos: Tortuosidade, presença de hemorragias/exsudatos/lesões Mácula: Brilho, coloração Média periferia: detecção de lesões na retina 3 Conteúdo I) Exame ocular externo dos anexos oculares II) Exame ocular externo bulbar III) Exame da pupila IV) Exame elementar do sentido visual e do equilíbrio oculomotor I) Exame ocular externo dos anexos oculares Anexos oculares são as estruturas que estão relacionadas ao olho sem fazerem parte do bulbo ou globo ocular propriamente dito. Os principais anexos são: pálpebras, todo o conteúdo orbitário e as vias lacrimais. Teoricamente a conjuntiva bulbar é um anexo, mas o exame dessa estrutura é comumente feito no exame externo bulbar. O exame externo anexial envolve a avaliação de vários músculos faciais, listados na tabela abaixo. Tabela: Principais músculos faciais avaliados no exame externo dos anexos oculares Músculo Ação Inervação Frontal Eleva os supercílios VII nervo (facial Corrugador Deprime e medializa a cabeça do supercílio VII nervo (facial Piramidal ou Procerus Deprime a cabeça do supercílio VII nervo (facial Dlevador (levantador) da pálpebra superior Elevação da pálpebra superior III nervo (oculomotor) Müller Elevação da pálpebra superior Simpático Cervical Tarsal inferior Retração da pálpebra inferior Simpático Cervical 4 1) EXAME ANEXIAL ESTÁTICO a) Fenda palpebral - A fenda palpebral é definida como o espaço formado pelas duas pálpebras quando o indivíduo está em estado de alerta e fixando algo em frente (posição primária do olhar). A fenda normalmente tem uma pequena angulação com o canto externo sendo cerca de 4 a 5 mm mais alto que o interno (Figura 1). Figura 1- Fenda palpebral normal: notar angulação do canto externo em relação ao interno, posição da palpebral superior e inferior, sulco palpebral superior Angulações inversas (canto externo mais baixo) são anômalas e denominadas de "anti-mongolóide". A dimensão horizontal da fenda é de 25 a 30 mm. Aumento da distância entre os dois cantos internos devido a anomalias do tendão cantal medial caracteriza o telecanto (Figura 2). O telecanto deve ser diferenciado do hipertelorismo que traduz o aumento entre as duas órbitas. É comum nos telecantos a presença de uma prega que partindo da pálpebra dirige-se para a superior cobrindo parcialmente o canto interno. Ë o epicanto.Enquanto que no telecanto a estrutura óssea orbitária é normal, no hipertelorismo 5 o arcabouço ósseo da órbita é anormal havendo um afastamento anômalo entre as paredes mediais (Figura 3). Figura 2- Telecanto e epicanto em criança com a síndrome da blefarofimose. Notar a ptose, orientação anômala da fenda e arqueamento de supercílios (ver abaixo) Figura 3- Encefalocele frontal e grande hipertelorismo (distância anômala entre as paredes mediais da órbita) a) Supercílio: Elevação uni ou bilateral indica hiperação frontal, mecanismo comum de compensação de ptoses palpebrais. Supercílios rebaixados sugerem paralisia do ramo fronto-temporal do nervo facial. b) Pálpebra superior. Modernamente, a posição da pálpebra superior é medida em relação 6 ao centro da pupila (Figura 4). Como o centro pupila pode ser clinicamente evidenciado solicitando-se ao paciente que fixe uma luz e observando-se a posição do reflexo corneano da luz, essa medida é denominada na literatura americana de Margin Reflex Distance ou MRD. Usa-se uma régua e registra-se o resultado em milímetros. Os valores normais variam de 2.5 a 5.0mm. Valores menores que 2.5mm caracterizam as ptoses e maiores que 5.0mm as retrações. MRD Figura 4 - Medida do posicionamento palpebral superior As anomalias do posicionamento palpebral superior incluem as blefaroptoses (ou simplesmente ptoses) (Figura 5) e as retrações palpebrais, das quais a mais comum é a da orbitopatia de Graves (Figura 6). 7 Figura 5- Ptose congênita bilateral, assimétrica (maior à esquerda). Notar a hiperação do músculo frontal com elevação compensatória dos supercílios Figura 6- Retração palpebral superior bilateral assimétrica (maior à direita), na orbitopatia de Graves. Notar hiperação do músculo corrugador (sulco vertical entre os supercílios) comum nessa condição c) Pálpebra inferior. Procede-se da mesma maneira. Valores normais variam de 5.5 a 7.0mm. Não é usual o termo ptose para a pálpebra inferior. Já o termo retração inferior é usado para designar valores maiores que 7.0mm (ou assimétricos) (Figura 7). As causas mais freqüentes de retração palpebral inferior são: orbitopatia de Graves, traumas e pós- operatórios de blefaroplastia inferior. Figura 7- Retração palpebral inferior na orbitopatia de Graves. De novo, notar a grande hiperação do músculo corrugador 8 d) Margem palpebrais - Normalmente estão sobre o olho de maneira que os cílios dirigem- se para fora sem tocar a superfície